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Projeto

3º WORKSHOP - 2015
Relação Mais Produtiva
Agricultura e Apicultura
EDITORIAL

Estimular o diálogo para a relação mais


produtiva entre agricultura e apicultura.

Com este norte, em novembro de 2015,


realizamos a terceira edição do workshop,
enriquecendo nosso conhecimento sobre
o tema e, principalmente, procurando
alternativas que fomentem a produtividade
sustentável dessas duas atividades do país.

Nesta edição, o Sindiveg assume a liderança


do evento e o seu papel nessa integração da
apicultura e da agricultura para uma relação
mais produtiva no Brasil.

Resultado da evolução dos encontros anteriores, o encontro foi marcado pela


Esta publicação retrata os pontos mais relevantes do que foi abertura das diferentes partes relacionadas ao tema para uma comunicação mais
discutido entre os especialistas convidados nos painéis de diálogos eficaz e que torne possível a colaboração entre os diversos atores a partir da
promovidos nos dois dias da terceira edição do workshop, com base
compreensão de diferentes perspectivas.
nas transcrições das gravações realizadas durante o evento.

Nosso objetivo com esse evento é estimular o diálogo entre os setores da Agricultura,
Apicultura, Defensivos Agrícolas, Governo e Academia.

Nós acreditamos que a colaboração é o melhor caminho para a construção de uma


relação mais produtiva protegendo as abelhas e o meio ambiente porque colaborar é
construir juntos ao assumirmos uma atitude proativa diante do desafio.

Boa leitura!

Sílvia Fagnani
3º. Workshop Relação Mais Produtiva Agricultura-Apicultura. 2015. Realização: Sindicato Nacional Vice-Presidente Sindiveg
da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg). Projeto Editorial da Publicação, Redação e
Infográficos: Facto Estratégia e Comunicação. 102 páginas. Versão digital disponível para download
www.projetocolmeiaviva.org.br.
ÍNDICE APRESENTAÇÃO
WORKSHOP 2015
WORKSHOP 2015 .............................................................................................................
05
PAINEL1 - BIODIVERSIDADE E AGRICULTURA .....................................................
08
PAINEL 2 - INTERAÇÃO DAS CULTURAS AGRÍCOLAS
E DA POLINIZAÇÃO POR ABELHAS ..................................................... 29
PAINEL 3 - DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SUA RELAÇÃO
COM A AGRICULTURA E APICULTURA ............................................... 48
PROJETO COLMEIA VIVA .................................................................................................
78
PAINEL 4 - PRINCIPAIS CONCLUSÕES
E DESAFIOS ............................................................................................... 82
MANIFESTO ........................................................................................................................
96
SESSÃO DE FOTOS ...........................................................................................................
100 Um convite ao diálogo: esse foi o tom do terceiro workshop para a relação mais
produtiva entre agricultura e apicultura. O encontro aconteceu nos dias 05 e 06 de
novembro, em Campinas, com realização do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos
para Defesa Vegetal, (Sindiveg), com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), que é ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), além
da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Nacional de Defesa Vegetal
(Andef) e do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).
IDEALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Workshop 2015 A fim de compartilhar mais as diferentes visões e perspectivas, o workshop foi
organizado no formato de painéis de diálogo, de forma a abordar os temas específicos e
relevantes para melhorar a convivência entre os dois setores e buscar alternativas para
beneficiar a produtividade nas duas atividades,
bem como a biodiversidade.

www.factocomunica.com.br
Cada painel contou um mediador e especialistas, profissionais e acadêmicos renomados
Facto Estratégia e Comunicação para os temas em discussão, representando diferentes pontos de vista sobre os temas
Daniela Reis | Graziela Mota | Juliana Rodrigues | Carolina Denardi | Gisele Lupiani em debate, contribuindo para o enriquecimento dos diálogos e, principalmente, uma
visão ampliada e sistêmica sobre a relação entre agricultura e apicultura.

Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura 5


PROGRAMAÇÃO FUNCIONAMENTO DAS DINÂMICAS DOS
DO EVENTO PAINÉIS DE DIÁLOGO DURANTE O WORKSHOP

Dia 05/11, quinta, das 13h00 às 18h30

DIÁLOGO 1- BIODIVERSIDADE E AGRICULTURA


Mediador: Claudia Inês da Silva - Universidade Federal do Ceará
Especialistas convidados:
• Karina de Oliveira Cham, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) QUATRO PAINÉIS DE DIÁLOGO
• Augusto Luís Billi, Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
• José Soares de Aragão Brito, Confederação Brasileira da Apicultura (CBA)
• Rodrigo Justus de Brito, Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

DIÁLOGO 2- INTERAÇÃO DAS CULTURAS AGRÍCOLAS E  DA POLINIZAÇÃO POR ABELHAS


Mediador: Breno Magalhães Freitas - Universidade Federal do Ceará MEDIADOR ESPECIALISTAS
Especialistas convidados:
• Marcelo Miranda, Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus)
• Nésio Fernandes de Medeiros, Câmara Setorial Federal do Mel e Produtos das Abelhas AQUECIMENTO
• Cristiano Menezes, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
O mediador fez uma introdução ao painel e cada
• Tom Prado, presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação Nacional de
Agricultura (CNA) especialista teve até 15 minutos para levantar temas e
pontos de vista relevantes para a discussão
Dia 06/11, sexta, das 8h00 às 12h30

DIÁLOGO 3- DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SUA RELAÇÃOCOM A AGRICULTURA E


MESA DE DIÁLOGO
APICULTURA
Os especialistas tiveram em média uma hora
Mediador: Roberta Cornélio Ferreira Nocelli - UFSCar/Araras
Especialistas convidados: para discutir sobre o tema do painel com a
• Marcio Rosa Rodrigues de Freitas, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos condução técnica do mediador
Naturais Renováveis (Ibama)
• Júlio Sérgio de Britto, Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
• Lidia Maria Ruv Carelli Barreto, Confederação Brasileira da Apicultura (CBA) PARTICIPAÇÃO
• Ulisses Rocha Antuniassi, Unesp/Botucatu
Para que todos pudessem participar, uma ficha foi entregue
• Paula Arigoni, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg)
• Osmar Malaspina, Unesp/Rio Claro a todos num caderno de anotações do evento. Tanto as
considerações quanto as perguntas foram incluídas nos
DIÁLOGO FINAL- PRINCIPAIS CONCLUSÕES E DESAFIOS painéis de diálogos
Mediador: Décio Gazzoni, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Especialistas Convidados:
ENCERRAMENTO
Mediadores dos painéis de diálogos
• Cláudia Inês da Silva, Universidade Federal do Ceará As considerações recebidas da plateia foram encaminhadas
• Breno Magalhães Freitas, Universidade Federal d  o Ceará para a mesa de diálogo e os especialistas tiveram entre
• Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, UFSCar/Araras 20 e 30 minutos para encaminhamentos no final do painel
• Derli Dossa, Universidade Federal do Paraná
• Silvia Fagnani, Sindicato Nacional da Indústria d
 e Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg)

6 Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura 7
1

Temos o entendimento hoje de que podemos


preservar e aumentar a produção de alimentos
concomitantemente.
Augusto Billi, do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A relação entre agricultura e desenvolvimento de soluções positivas


biodiversidade foi o tema central do e integradoras. Apesar de muitas vezes
primeiro painel, mediado pela professora serem tratados como temas separados,
Claudia Inês da Silva, da Universidade até mesmo conflitantes, a visão ampla

1
Federal do Ceará. Um diálogo aberto e e sistêmica do cenário possibilita
bastante consciente sobre os desafios perceber que a relação entre agricultura
e a complexidade do tema, contando e biodiversidade é mais produtiva
com a participação de diferentes atores se for vista sob uma perspectiva de

BIODIVERSIDADE envolvidos na questão: Karina Cham,


especialista do Instituto Brasileiro do
parceria e complementariedade. “Temos
o entendimento hoje de que podemos
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais preservar e aumentar a produção de
E AGRICULTURA Renováveis (Ibama), Augusto Luís alimentos concomitantemente”, reforçou
Billi, representante do Ministério da Augusto Billi, do Ministério da Agricultura.
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), José Soares de Aragão Brito, Ambas são de fundamental importância
presidente da Confederação Brasileira para o desenvolvimento sustentável
de Apicultura (CBA) e Rodrigo Justus de da humanidade – a biodiversidade
Brito, presidente da Comissão de Meio para a manutenção do ecossistema
Ambiente da Confederação da Agricultura e a agricultura para a alimentação da
e Pecuária do Brasil (CNA). população mundial.

Os participantes trouxeram importantes As soluções de integração passam,


dados para que o público entendesse fundamentalmente, por um entendimento
o contexto dessa relação e seus dos ecossistemas e da paisagem dentro
desdobramentos na realidade brasileira do contexto agrícola, da convivência de
e na população deabelhas, reforçando diferentes alternativas e possibilidades
a importância do diálogo para o de produção, tanto agrícola quanto

8 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 9


apícola, e, principalmente, pela informação Diversidade Biológica (CDB), que é um
Iniciativas Internacionais e Nacionais para a
e conscientização para o uso racional e Tratado da Organização das Nações
estruturado das tecnologias de produção, Unidas, estabelecida durante a ECO- preservação da biodiversidade e o desenvolvimento
como os defensivos agrícolas, mas também 92. Conheça mais sobre os objetivos da sustentável
sobre os polinizadores. Torna-se, então, Convenção e como se relacionam com a
A Convenção de Diversidade Biológica (CDB), estabelecida
urgente a produção de conhecimento discussão realizada no painel no quadro na
durante a ECO-92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio
aplicado à realidade nacional. página 11. Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de
Janeiro em junho de 1992, está estruturada sobre três pilares
principais: a conservação da diversidade biológica, o uso
Dessa forma, será possível a criação
sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa
de alternativas adequadas e viáveis ao dos benefícios provenientes da utilização dos recursos
estímulo do potencial agrícola do Brasil genéticos.
como “um dos principais players mundiais na
Em 2010, a Convenção começou a ser implementada com
produção de alimento”, como afirmou Billi,
mais intensidade, por meio do estabelecimento de um planejamento estratégico envolvendo cinco
e à preservação da riqueza biológica do objetivos estratégicos e as 20 metas de Aichi, nomeadas assim em menção à cidade sede do acordo
“país mais megabiodiverso do mundo”, assinado em Nagoya (Japão). Algumas metas apresentam grande conexão com o tema, reforçando a
importância do diálogo entre os setores.
conforme ressalta Karina, do Ibama.
• OBJETIVO ESTRATÉGICO A: tratar das causas fundamentais de perda de biodiversidade fazendo
O primeiro passo é a compreensão sobre com que preocupações com biodiversidade permeiem governo e sociedade
a biodiversidade, entendida como • META 1: Até 2020, no mais tardar, as pessoas terão conhecimento dos valores da biodiversidade
e das medidas que poderão tomar para conservá-la e utilizá-la de forma sustentável.
“a variabilidade de organismos vivos de
• META 4: Até 2020, no mais tardar, Governos, o setor privado e grupos de interesse em todos os
todas as origens, compreendendo, dentre níveis terão tomado medidas ou implementarão planos para produção e consumo sustentáveis e
outros, os ecossistemas terrestres, marinhos terão conseguido restringir os impactos da utilização de recursos naturais claramente dentro de
limites ecológicos seguros.
e outros ecossistemas aquáticos e os
complexos ecológicos de que fazem parte; Utilizamos • OBJETIVO ESTRATÉGICO B: reduzir as pressões diretas sobre biodiversidade e promover o uso
compreendendo ainda a diversidade dentro muitos dados e sustentável.
de espécies, entre espécies e de ecossistemas” • META 7: Até 2020, áreas sob agricultura, aquicultura e exploração florestal serão manejadas de
conforme a Convenção sobre Diversidade
muitas informações forma sustentável, assegurando a conservação de biodiversidade.

Biológica (CDB). de pesquisas A recente criação da Plataforma Intergovernamental de Serviços Ecossistêmicos e Biodiversidade
relacionadas aos (IPBES) reforça as iniciativas internacionais na avaliação do estado da biodiversidade do planeta, seus
ecossistemas e os serviços essenciais que fornecem à sociedade. “Está previsto para sair até fevereiro de
Como explicou Karina, “a diversidade
biológica sustenta o funcionamento dos
Estados Unidos, 2016 um primeiro diagnóstico sobre o estado de conservação e uso da biodiversidade no mundo todo”, conta
Karina Cham, incluindo o tema de polinizadores, polinização e produção de alimentos.
ecossistemas, a prestação de serviços à União Europeia,
ecossistêmicos que são essenciais para o ser à países que têm O Brasil possui algumas iniciativas direcionadas para a sustentabilidade, como Plano ABC (Agricultura
de Baixa Emissão de Carbono) que surgiu na COP 15 (em Copenhagen), com o foco nas mudanças
humano”. Dessa forma, contribuem para a
própria atividade agrícola.
clima diferente, solo climáticas, apresentado por Billi, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A meta
do Brasil é reduzir emissão de gases do efeito estufa em 43% até 2030. Para tanto, o Plano ABC difunde
diferente, condição tecnologias com objetivo de sequestrar carbono, incluindo a integração lavoura-pecuária-floresta e os
sistemas agroflorestais que favorecem a biodiversidade, além do fomento à pesquisa para a adaptação
Trata-se de um tema importante não biológica diferente. às mudanças climáticas e o aquecimento global.
apenas em âmbito nacional, mas um
desafio global, sendo objeto de acordos Rodrigo Brito, da CNA Ainda no escopo de conservação da biodiversidade, as indicações geográficas também têm favorecido
internacionais, como a Convenção de o controle e o Ministério da Agricultura incentiva e estimula o registro de indicações geográficas e
registro de proveniência das produções.

1 0 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 1 1


AGRICULTURA AGRICULTURA

População
(milhões habitantes)
1960

70,0
2015

205,0
EVOLUÇÃO (%)

193%
Área Plantada (milhões
Presente no mundo há aproximadamente otimização das áreas. Nos últimos 55 ha) 22,0 58,0 163%
10 mil anos, a agricultura possibilita a anos, houve o aumento de 12 vezes na Produção (milhões de
toneladas) 17,2 209,5 1.118%
organização social e a sobrevivência produção. O aumento na produtividade Produtividade (kg/ha)
783 3.612 361%
das pessoas. Mas, como toda atividade foi acima de 360%, utilizando a produção
SE O BRASIL MANTIVESSE A MESMA TECNOLOGIA DE 1960,
humana, gera impactos no ecossistema. de grãos como referência. “O Brasil tem TERIA DE OCUPAR MAIS 210 MILHÕES DE HECTARES DE TERRA.

Porém, ela pode, e deve, ser vista de uma essa condição de escala, mecanização, duas Fonte: Apresentação do Mapa
maneira mais amigável, como parte do safras no ano sem irrigação e isso é uma
sistema atual e mais um componente da capacidade comparativa maravilhosa”, Ministério do Meio Ambiente, buscam O setor apícola, representado por Aragão,
biodiversidade. “É preciso repensar nossa elogia Billi. incentivar novas alternativas de produção da CBA, também reforçou a importância
paisagem dentro do contexto agrícola, e favorecer a biodiversidade, bem como das abelhas para a produção de
recuperar as áreas degradadas, discutir “A produtividade evitou que avançássemos o aproveitamento de seus serviços e alimentos, uma vez que, “como segmento
sobre o impacto das espécies invasoras para a produção atual em mais de 500 benefícios. apícola desse país já está provado o ganho
e do efeito dos agrotóxicos”, reforçou a milhões de hectares de área. Significa de produtividade só pela presença das
professora Claudia Inês. que, hoje, o Brasil usa apenas 30% do seu A agricultura também pode se beneficiar abelhas”.
território para toda a produção e pode da biodiversidade, por exemplo, pelo
Se a agricultura é fundamental no mundo, ainda aumentar essa produção com a serviço de polinização realizado pelas “Precisamos falar sobre o impacto do
é ainda uma das principais atividades mesma área, considerando que temos 80 abelhas e outros agentes polinizadores. declínio das abelhas na agricultura, como
econômicas do Brasil, com alto potencial milhões de hectares de pecuária de baixa lidar com esse conflito, pois uma coisa
de crescimento, previsão de continuidade produtividade”, analisou o presidente da As abelhas são importantes polinizadores depende da outra”, corroborou Claudia
no aumento das exportações, além Comissão de Meio Ambiente da da CNA, sendo que mais de 70% das plantas Inês.
do mercado interno como fator de Rodrigo Brito. dependem, diretamente ou indiretamente,
crescimento, como prevê prevê Billi, do do serviço de polinização, segundo dados No entanto, ainda há desconhecimento
Mapa. “O mundo vai exigir cada vez mais Além da agricultura, é importante também apresentados pela professora Cláudia sobre como a polinização por abelhas
alimento, cada vez mais fibra, cada vez mais destacar a riqueza da diversidade Inês. “As áreas cultivadas próximas às áreas pode ser efetivamente aplicada na
energia e o Brasil tem essa aptidão natural”, biológica e natureza do país. “Temos a naturais têm um aumento significativo agricultura. “A maioria dos produtores rurais
ressaltou Billi. “Estima-se que até 2030 maior extensão de florestas utilizadas de na sua produção. Devemos melhorar a é ciente sim dos benefícios da polinização,
o mundo precise de 40% mais alimento, modo sustentável – oito milhões de hectares”, nossa paisagem agrícola para beneficiar os embora nem todos estejam devidamente
enquanto a gente olha no globo terrestre destacou Billi. polinizadores e aumentar a produtividade preparados”, afirmou Rodrigo Brito.
não existe outro país com essa condição sem ter que aumentar as áreas cultivadas.
de solo, de clima, de pessoas, de tecnologia Essa extensão também é promovida Isso é possível”, ressaltou.
para suprir essa necessidade de alimento no pela agricultura, por meio das áreas de
mundo”, reforça. preservação mantidas nas propriedades.
Iniciativas de integração de sistemas
Os dados trazidos pelo Mapa mostram agroflorestais – sistemas que agregam
a vocação do país para a produção atividades de agricultura, pecuária
agrícola e a evolução da produção em e espécies arbóreas (frutíferas e/
função do uso de novas tecnologias e ou madeireiras) –, incentivadas pelo

1 2 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 1 3


ABELHAS As abelhas
na visão
Abelhas

do Projeto
As abelhas fazem parte da biodiversidade, Como ressaltou a professora, desafios Colmeia Viva
*
assim como outras espécies da flora e da
fauna.
de regulamentação em sistemas de
polinização assistida dificultam sua Bandeira 2
+3000
implantação. “Alguns entraves políticos
espécies
A abelha no âmbito
Apesar de estar no imaginário popular não nos permitem criar outras espécies da agricultura, do no Brasil
defensivo agrícola
apenas um tipo de abelha, normalmente em larga escala, como é criada a Apis e da biodiversidade.
associada a uma espécie social específica, mellifera. Na Europa, por exemplo, existe 4

a Apis e suas colmeias, existe uma grande uma indústria bilionária que já cria e vende COMERCIAIS (Criadas) SILVESTRES

variedade de abelhas. Bombus para ser usada em polinização


2
assistida”, informou. EXÓTICAS SILVESTRES
São quase três mil espécies descritas no Principal função:
Polinização de
Brasil e 20 mil no mundo, diretamente O quadro se agrava em função do pouco áreas naturais e
agroecossistemas
relacionadas com a manutenção da conhecimento sobre as outras espécies.
biodiversidade e com o funcionamento “Pouco se sabe ainda sobre as espécies 3

do agroecossistema. No entanto, o nativas – onde elas vivem, o que elas


Produtos: Serviço de Polinização Produtos: Serviço de Polinização
conhecimento sobre a diversidade de comem, o papel funcional delas e o efeito Mel, cera, própolis, na Agricultura Mel e cera na Agricultura
abelhas ainda é muito escasso no Brasil, direto e indireto na população humana”, pólen, geleia real,
apiterapia
tanto na população em geral quanto na explicou Claudia Inês. Ex:
própria formação dos profissionais de Meliponídeos
1
campo. Ex: Apis Aluguel de Criação de
mellifera colmeia ninhos

A professora Claudia Inês explicou que


existem as abelhas criadas, normalmente Projet o
destinadas a algum tipo de atividade
Ex: Melipona sp Ex: Bombus sp e Xylocopa sp
comercial e produtiva, e as abelhas
silvestres, que ajudam a compor
a biodiversidade. Apis mellifera Silvestres criadas Exemplos de silvestres criadas
para serviço de polinização
Originárias de cruzamento entre espécies africanas e europeias Origem brasileira
Melipona sp: Serviço de polinização para lavoura de tomate
Na atividade comercial, predominam Abelhas com ferrão Abelhas sem ferrão
Tetragonisca sp: Serviço de polinização para lavoura de morango
Exploração regulamentada no Brasil Exploração regulamentada em alguns estados brasileiros
as abelhas da espécie Apis mellifera, Serviço de polinização: Comumente implantada em Menos conhecimento científico Bombus sp: Serviço de polinização para lavoura de beringela e maracujá
lavouras de maçã e melão
espécie estrangeira introduzida no Brasil Espécie em que o CCD é relatado em outros países. No Brasil não há
Vivem em colmeias (sociais)

Em comparação à Apis mellifera


e hoje predominante na população casos de CCD cientificamente comprovados Abelhas silvestres
Mais conhecimento científico e prático Especialista: Efetividade superior de polinização
de abelhas. Tentativas de incorporar Baixa produtividade em mel A maioria das abelhas silvestres são solitárias, não vivem em colmeias
2
Mais importância na polinização de áreas naturais e biodiversidade em
espécies nativas no uso de sistemas de Em comparação às silvestres criadas: comparação às abelhas comerciais (criadas)
Generalista: Baixa efetividade de polinização
polinização aplicada, por exemplo, com as Alta produtividade de mel

meliponinis, podem trazer vantagens na


produção. Mais detalhes: www.projetocolmeiaviva.org.br
(*) Fonseca, V. L. I. Polinizadores no Brasil: Contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. Fotos: Fototeca Cristiano Menezes, FCM. Atualizado em Mar/16. Material em aprofundamento.

1 4 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 1 5


APICULTURA
O impacto da introdução de espécies invasoras
na biodiversidade
A introdução de espécies invasoras é uma das ameaças na diversidade das abelhas
nativas, como demonstrou um estudo na Argentina, apresentado pela professora
Claudia Inês, com a brusca redução das espécies nativas substituídas pela espécie
introduzida, além dos riscos de novas doenças e competição.

O estudo mencionado, “Rapid ecological


replacement of a native bumble bee by
invasive species”, publicado na Front Ecol
Environment em 2013, documenta a
abrangência e a velocidade de invasão
de duas espécies de abelhas Bombus
introduzidas no sul da Argentina, As espécies de abelhas variam ainda no pequeno produtor, ou seja, uma
mostrando que o invasor mais recente conforme sua sociabilidade, contrariando apicultura inclusiva. Representa cerca
a chegar à região da Patagônia, Bombus a ilustração atrelada somente às colônias de 350 mil apicultores, envolvendo um
terrestris, tornou-se rapidamente a (colmeias). Cerca de 85% de todas as milhão de pessoas, 16 mil empregos
espécie mais abundante e generalizada, espécies de abelhas que existem no na indústria e um mercado avaliado
em parte substituindo não apenas o mundo são solitárias – classificadas assim em R$ 796 milhões, com expressivo
Bombus dahlbomii nativa, mas também porque as fêmeas não têm contato com crescimento nos últimos anos (dados
Bombus ruderatus, espécie introduzida suas crias, construindo seus ninhos da apresentação da CBA realizada no
anteriormente. sozinhas e edificações em cavidades evento). “Em 1995 nós tínhamos uma
Professora Claudia Inês da Silva, preexistentes no solo em barrancos. produção de 18 mil toneladas de mel,
da Universidade Federal do Ceará. “Embora elas não construam colônias chegando, nos últimos dados de 2013, a
numerosas e não sejam tão conhecidas, 35 mil, mas já estamos na faixa de 45 mil
No Brasil, a grande dependência da Apis mellifera e sua competição por recursos com elas têm um papel fundamental na toneladas” afirma Aragão, da CBA.
as espécies nativas devem ser estudadas com atenção. A espécie, também manutenção de áreas naturais e de áreas
introduzida, é hoje a mais abundante em nossos biomas, com população muito cultivadas”, explicou Claudia Inês. “Mais Porém, ainda há o desafio de aumentar
superior às espécies nativas originais. “A Apis é a única espécie manejada em grande de 85% das plantas no cerrado dependem a produtividade das colmeias,
escala, ou seja, somos completamente dependentes de Apis”, afirma a professora Claudia primariamente ou secundariamente de especialmente a partir da adoção de
Inês. Vale destacar que a maior parte dos produtos apícolas atuais, quase todos, são polinização por abelhas e as solitárias têm novas tecnologias e formação do
provenientes da espécie Apis. Porém, no que tange à polinização, ela não é a mais um papel fundamental”, afirmou. apicultor. “Nós temos uma produtividade
eficiente para todas as culturas agrícolas, podendo até causar danos em algumas baixíssima em torno de 16 quilos colmeia/
culturas. “Por isso, a importância de consorciar as espécies nativas com a Apis mellifera”, O segmento apícola, representado no ano, podemos atingir perfeitamente no
reforça Claudia Inês. evento pelo presidente da CBA, tem o seu mínimo 40 quilos”, reforçou Aragão.
desenvolvimento focado principalmente

1 6 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 1 7


BIODIVERSIDADE E AGRICULTURA
O IMPACTO DA ATIVIDADE Abelhas na visão sistêmica para a
AGRÍCOLA NA DIVERSIDADE manutenção da biodiversidade

DAS ABELHAS
“Toda vez que nós substituímos uma área a polinização, não ocorre a formação
natural por uma área de cultivo, seja de frutos e, consequentemente, não tem 02 03
monocultura, integração lavoura-pecuária- reposição de plantas nas áreas do entorno Redução drástica da
cobertura vegetal Ciclo de água e
floresta, vamos ter a substituição também dos cultivos”, explica Claudia Inês. biogeoquímico
das populações de insetos e outros animais
que existem nessa área”, reforçou Brito, Outro ponto importante, ressaltou a
representante do setor agrícola do painel, professora, está relacionado à qualidade
04
pela CNA, entidade com um 1,5 milhão de das áreas próximas aos apiários, 01 Mudanças nos
produtores filiados no sistema nas meliponários e áreas cultivadas. ciclos de chuvas
Desmatamento
27 federações e 2.200 sindicatos. “As plantas têm determinadas substâncias
que as abelhas necessitam no processo
Como especificou Claudia Inês, ao de desintoxicação, imunidade e no seu
substituir uma área inativa por uma metabolismo para se desenvolverem. 07 05
área cultivada são geradas mudanças Se tiver alguma deficiência, haverá uma Desacoplamento Mudanças na
fenológico entre as flores temperatura e
na cobertura vegetal e no período de mortalidade alta nas abelhas. É um efeito
florescimento das plantas. Além disso, cascata”, afirma. A diversidade na dieta
e seus polinizadores
06 umidade relativa
do ar

ocorrem alterações no ciclo da água balanceada é muito importante para Mudanças na


fenologia das plantas
e da chuva, no ciclo biogeoquímico e manter as abelhas. (daquelas que sobreviveram
Comprometimento ao desmatamento) Afeta o
na temperatura, interferindo nas fases na reprodução das comportamento
plantas das abelhas
das culturas e, consequentemente, na
Mudanças na dieta
dieta das abelhas. Todo esse processo das abelhas
Mudanças na dieta
provoca um desacoplamento, isto é, o das abelhas
desencontro desencontro das abelhas
com a fase reprodutiva da flor.
Fonte: Apresentação Claudia Inês

“Têm abelhas solitárias que só nascem


quando uma planta começa a florescer.
Se essa planta floresce em períodos
diferentes do período reprodutivo dela,
existe um desacoplamento e não ocorre

1 8 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura


Biodiversidade realizado pelo Fundo setor produtivo, um deles com foco na
Brasileiro para a Biodiversidade), por avaliação de risco ambiental para
exemplo, “levantaram a necessidade de se polinizadores e o outro grupo voltado à
aprimorar assistência técnica e extensão discussão para organismos aquáticos.
rural naquelas comunidades de populações Karina lidera o Grupo de Avaliação de
que fazem o uso do produto sem o devido Risco de Defensivos Agrícolas para
conhecimento da extensão no que se refere Abelhas.
a boas práticas, horário de aplicação”,
ressaltou Rodrigo Brito. “Embora não A primeira etapa do trabalho do grupo
conheçamos a biodiversidade, temos concentra-se em definir os objetivos de
condição técnica de saber o que não se deve proteção para abelhas, proposta que está
fazer”, alertou o representante da CNA. em avaliação para futura implantação,
sendo: proteger os polinizadores e sua
Para entender o cenário de forma biodiversidade e garantir os serviços
Entre os diversos fatores da atividade agroquímicos e precisa-se melhorar essa mais ampla no Brasil, o Ibama lidera ecossistêmicos prestados por eles,
agrícola que impactam a biodiversidade, performance de forma que tenhamos uma uma frente de trabalho responsável incluindo o serviço de polinização, a
como a fragmentação e alteração no uniformização da qualidade de uso desses pela avaliação de risco ambiental dos produção de produtos da colônia (mel,
habitat, conforme apontou Claudia Inês, produtos”, ressaltou Rodrigo Brito, da defensivos agrícolas. “Até 2010, os própolis, cera, etc.) e a provisão de
o uso de defensivos agrícolas é um deles. CNA. “Defendemos que o produtor deve produtos eram apenas classificados quanto recursos genéticos.
sempre agir dentro da legalidade, utilizando a sua toxicidade para o meio ambiente”,
A aplicação excessiva dos defensivos todas as normas técnicas e toda a legislação conta Karina. Desde então, foram Como objetivo específico, o grupo
agrícolas é uma das principais pertinente no que se refere às boas práticas formados dois grupos de trabalho trabalha na questão da aplicação dos
preocupações do setor apícola, como agrícolas e todas aquelas que tenham com a participação de acadêmicos e do procedimentos e critérios de avaliação
explicou Aragão. “Um dos casos que mais relação com a proteção do meio ambiente, de risco (incluindo não só toxicidade,
nos aflige hoje é a questão dos agrotóxicos, tendo em vista que somos dependentes do mas exposição) para fins de registro de
nós estaremos presentes aqui para que equilíbrio ecológico para que tenhamos defensivos agrícolas no Brasil. “A questão
possamos abrir o diálogo”, reforça. sucesso nas nossas atividades”, reforçou de proteção de polinizadores e proteção de
Brito. abelhas é muito mais ampla e não envolve
“Embora exista impacto sobre os apenas essa questão de agrotóxicos”,
polinizadores, as condições legais existentes “As boas práticas são essenciais ao sucesso relembra Karina Cham, justificando
e a condição ambiental tropical do Brasil da atividade e que o produtor cumpra o o foco do grupo no estudo dos defensivos
ela é favorável sim ao desenvolvimento da seu papel socioambiental”, ressaltou o agrícolas em função da competência legal
apicultura”, reconhece Rodrigo Brito, da representante da agricultura. da sua coordenação.
CNA.
Alguns estudos já conduzidos pelo A próxima etapa do trabalho do grupo
Para o representante do setor agrícola, Ministério do Meio Ambiente em envolve os procedimentos de avaliação
existe uma diferença de nível tecnológico relação à questão dos polinizadores e de risco ambiental e os procedimentos
de conhecimento do produtor, que da recuperação e restauração do que práticos, incluindo normas, exigências e
pode levar a equívocos na aplicação. se refere aos polinizadores, através do critérios de decisão.
“nem todos os produtores têm informação PROBIO/FUNBIO (Projeto Nacional de José Soares de Aragão Brito, presidente da
Confederação Brasileira de Apicultura (CBA)
suficiente para o manejo adequado dos Ações Integradas Público-Privadas para

2 0 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 2 1


Diagrama Conceitual: hipóteses de exposição da abelha na aplicação
de defensivo nas produções agrícolas.

INGREDIENTE ATIVO
A questão EXTRESSOR
APLICADO POR
PULVERIZAÇÃO TERRESTRE
TRATAMENTO
DE SEMENTES

de proteção de (FASE 1) - ÁREA TRATADA

polinizadores e
proteção de abelhas poeira

é muito mais ampla DEPOSIÇÃO DEPOSIÇÃO Deposição na


FONTE/ROTA Deposição
e não envolve apenas TRANSPORTE
SOBRE AS
ABELHAS
SOBRE AS
PLANTAS
no solo
superfície
da água

essa questão de
agrotóxicos. 4
translocação
4
translocação
Karina Cham, Ibama

contato
FONTE/ROTA 1 RESÍDUOS NA RESÍDUOS RESÍDUOS
MEIO DE RESÍDUOS
SUPERFÍCIE DAS SOBRE/EM PÓLEN EM ÁGUA
NO SOLO
EXPOSIÇÃO PLANTAS E NÉCTAR SUPERFICIAL

to
nta
co 2 3 6
es tão
1 ing NINHADA
Os estudos iniciais conduzidos pelo grupo informações, testes e estudos para
ABELHAS ABELHAS DA
RECEPTORES
no Ibama levaram a elaboração de um averiguar essas hipóteses. FORRAGEADORAS COLÔNIA ingestão/contato
(cera, própolis, geléia real)
diagrama conceitual (veja página 23) que
ingestão/contato pelo
evidencia as hipóteses de exposição da As boas práticas no cultivo constituem processamento
5 RAINHA
abelha na aplicação do defensivo nas também o foco de uma das iniciativas
produções agrícolas. do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento para a integração do
ALTERAÇÕES DE REDUÇÃO DA
No exemplo dado pela especialista, desenvolvimento agrícola e a preservação EFEITOS COMPORTAMENTO REDUÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA,
DIRETOS REDUÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA CRESCIMENTO E
no caso de uma pulverização terrestre, da biodiversidade e sustentabilidade. SOBREVIVÊNCIA REPRODUÇÃO

a abelha forrageadora, aquela que está


no campo e que leva o pólen e/ou néctar Trata-se da criação de um plano de
para dentro da colônia, pode ter uma certificação, a Produção Integrada,
7 7
TAMANHO DA
exposição por contato no momento ainda em planejamento e sem previsão EFEITOS POPULAÇÃO E
ESTABILIDADE DA
da aplicação ou exposição oral pelo anunciada de lançamento. INDIRETOS
COLÔNIA
consumo de néctar contaminado. Dessa
forma, expõe também as abelhas da “É bem interessante porque é uma garantia Testes necessários para avaliar cada exposição:
colônia no seu retorno. para produtor, varejista e consumidores 1. Teste de toxicidade para contato (DL50) do produto para avaliar exposição pela via sistêmica
que aquele produto foi produzido com boas formulado (PF) 4. Testes de resíduos (realizados com o produto formulado
2. Teste de resíduo em folhas (PF), em condição de campo, na maior dose indicada)
A partir desse quadro de hipóteses, práticas agropecuárias”, contou Billi, do 3. Testes de toxicidade oral (DL50) do produto formulado 5. Testes de toxicidade crônica (produto formulado — PF)
(PF) para avaliar exposição direta e do produto técnico (PT) 6. Testes com larvas (com o produto técnico — PT)
o grupo trabalha na solicitação de Mapa.
Fonte: Apresentação Karina Cham, Ibama

2 2 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 2 3


Conclusões
A relação entre os temas tratados neste
painel não é bidirecional, mas sistêmica.
Torna-se muito difícil isolar um ou outro A integração entre os setores é vista
fator como responsável pela alteração na como fundamental para estabelecer a
biodiversidade. De fato, a ação do relação mais produtiva entre agricultura
homem vem há milênios causando e apicultura, promovendo a preservação
impactos no ecossistema. da biodiversidade e a produção agrícola.
“Sabemos perfeitamente que o mundo não
Hoje enfrentamos novos desafios vai deixar de produzir agroquímico, temos
advindos do próprio desenvolvimento ciência disso (...) por isso nós estamos aqui
agrícola: conciliar a produção de para conversar para discutir, vamos ter que
alimentos com a biodiversidade numa buscar maneiras próprias de minimizar esse

Conhecimento aplicado aos desafios locais relação sistêmica, que inclua a abelha e
a apicultura. Isto é, trazer a abelha para
impacto que está acontecendo para que
a gente não tenha problemas maiores no
Ampliar o conhecimento sobre as abelhas e polinização é uma necessidade apontada a agenda da agricultura, tanto nos seus futuro” afirma Aragão, da CBA.
por todos os participantes do painel como fundamental para o desenvolvimento de aspectos de biodiversidade quanto como
soluções que possibilitem o desenvolvimento da agricultura e da apicultura, favorecendo atividade econômica, e a valorização da
a manutenção da biodiversidade. “Temos que melhorar a nossa produção científica de polinização é um grande caminho.
modo que os achismos e as notícias de blogs e mídias sociais não venham a fazer com que a
tomada de decisão, muitas vezes equivocada, possa prejudicar um sistema econômico e não
trazer nenhum ganho ambiental efetivo”, ressaltou Rodrigo Brito, da CNA.

É preciso compreender a diversidade de tipos e a contribuição específica de cada


um para a agricultura (a abelha certa para a cultura certa) e para a biodiversidade.
É fundamental para avançar no desenho de alternativas e investir na formação de
profissionais da agricultura e na aplicação desses conhecimentos. “Produzimos muito
conhecimento, mas muito do conhecimento que produzimos não chega a ser aplicado, então
a gente precisa pensar numa nova forma também de transcrever todo esse conhecimento que
é produzido para uma linguagem mais acessível para que ela chegue a quem está aplicando
no campo”, Claudia Inês.

Para tanto, é fundamental “melhorar e reciclar nossos profissionais, a assistência técnica


para que eles deem orientação adequada ao produtor” reconheceu a CNA. “Temos que investir
na pesquisa e temos que ter a participação conjunta de todos, fortalecer a assistência técnica,
reciclar parte dos nossos profissionais, nem sempre adequados. Nossas soluções dependem de
diagnósticos precisos e experimentação a campo, pesquisa aplicada para todas as culturas”,
Rodrigo Brito, da CNA.

2 4 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 2 5


• Funcionamento dos
ecossistemas Investimento
Compreensão
• Serviços ecossistêmicos em formação e
do conceito de Produção de
• Visão sistêmica Biodiversidade pesquisa
reciclagem de MAPA GRÁFICO DAS
Extensão profissionais
e conhecimento com
aplicação prática e
rural DISCUSSÕES DO PAINEL 1
acessível

Informações atuais
baseadas em EUA e
União Européia
Fortalecimento da
Difere em: clima, assistência técnica MMA/Ibama:
solo, condições Avaliação de Risco Convenções e • Impacto na população de
biológicas Ambiental para Tratados: ECO92, abelhas: dieta alimentar,
Perfil: pequenos CONHECIMENTO E polinizadores desacoplamento,
Nagoya 2010,
EDUCAÇÃO
produtores COP 2015 metabolismo e imunidade
• Manutenção da paisagem,
recuperação de áreas
Produção em degradadas e habitat
crescimento IPBES fragmentado
PRODUÇÃO ASPECTOS Plataforma • Diversidade e qualidade das
APÍCOLA REGULATÓRIOS áreas de entorno
Intergovernamental
de Serviços • Impacto em: cobertura
Ecossistêmicos e vegetal, florescimento,
Espécies ciclo água-chuva, ciclo
• Substituem as nativas invasoras Biodiversidade
• Competição por MAPA biogeoquímico, fenologia das
alimentos Certificação de plantas
• Impacto negativo na Produção
biodiversidade BIODIVERSIDADE E Integrada em Ecossistemas
• Transmissão de doenças Preocupação com AGRICULTURA desenvolvimento naturais X
manejo de agrossistemas
Baixa defensivos
produtividade:
demanda de MEGABIODIVERSIDADE
tecnologias, DO BRASIL
formação e Grande extensão
reciclagem de florestas utilizada
profissional Visão USO DE TECNOLOGIA de forma
de sustentável na
complementariedade agricultura
Abelhas
defensivo-
silvestres: • Reserva legal:
polinização- prática exclusiva
abelhas importante
instrumento na no Brasil
BRASIL E A PRODUÇÃO MMA incentiva
manutenção da
• Assistência • Ampliar DE ALIMENTOS
biodiversidade integração dos
técnica conhecimemento no sistemas
• Extensão rural manejo adequado agroflorestais
• Relevância para o
Defensivos
• Boas práticas • Avaliação de risco Polinização PIB: crescimento das
agrícolas
ambiental de exportações e do
defensivos para consumo interno
abelhas, incluindo • Conhecimento técnico:
rotas de exposição Vocação para a • Atributos naturais mecanização, múltiplas
• Apis é a mais conhecida agricultura • Conhecimento técnico safras, irrigação,
porém generalista na • Falta conhecimento sobre a diversidade de abelhas Problemas • Alta produtividade rotação de culturas,
polinização • Desafios de regulamentação de nativas estruturais na • Otimização de áreas defensivos
• Silvestres: 85% das abelhas • Benefícios / maior produtividade agrícola e otimização de agricultura cultivadas • Alta produtividade e
e as mais importantes para áreas cultivadas otimização de áreas
manutenção de áreas naturais • Serviço de polinização na agricultura / falta conhecimento plantadas
e cultivadas prático • Atributos naturais

2 6 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 2 7


2

É plenamente possível conciliar as duas coisas (uso de


defensivo e polinização) tendo o bom senso de utilizar um
defensivo apenas quando necessário, da maneira recomendada,
nas dosagens recomendadas, usando as carências recomendadas,
evitando a pulverização quando a cultura está em flor sempre que
possível, por exemplo.
Breno Magalhães Freitas - Universidade Federal do Ceará

2 Com foco na interação das culturas


agrícolas e da polinização por abelhas,
o segundo painel, mediado pelo
Representando o setor apícola, o painel
teve a participação de Nésio Fernandes
de Medeiros, atual presidente da Câmara
Interação das Culturas professor Breno Magalhães Freitas, da Setorial Federal do Mel e Produtos das
Universidade Federal do Ceará, discutiu Abelhas no Mapa, vice-presidente da

Agrícolas e da Polinização os impactos positivos da polinização na


agricultura, incluindo casos de sucesso
Confederação Brasileira de Apicultura
(CBA) e presidente da Federação
nessa interação. das Associações de Apicultores e
por Abelhas Meliponicultores de Santa Catarina.
O diálogo contou com os exemplos
do Fundo de Defesa da Citricultura, Logo no início da apresentação, o
o Fundecitrus, apresentado pelo professor Breno Freitas explicou que a
engenheiro agrônomo e pesquisador polinização “é um serviço ecossistêmico
Marcelo Pedreira de Miranda, e essencial para a reprodução e manutenção
o caso de Itaueira Agropecuária da diversidade de espécies de plantas, além
apresentado por Tom Prado, diretor de fornecer alimentos para humanos e
da empresa e também presidente da animais”, tanto na agricultura quanto nos
Comissão Nacional de Fruticultura da sistemas naturais.
Confederação Nacional de Agricultura
(CNA), além do biólogo e pesquisador da Existem diversos polinizadores, entre
EMBRAPA Amazônia Oriental na área de eles várias abelhas. “As abelhas são os
meliponicultura, Cristiano Menezes. principais polinizadores porque têm um

2 8 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 2 9
AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE CULTURAS
COM A POLINIZAÇÃO PELAS ABELHAS

NOME COMUM NOME CIENTÍFICO AUMENTO DE PRODUTIVIDADE (%)

Abóbora Curcubita máxima 76,9%

Café Coffea arábica 39,2%

Cebola Allium cepa 89,3%

Maçã Pirus malus (Wealthy) 75%

Pêssego Prunus persica 94%

Laranja Citrus sinensis (Hamilin) 36,3%

Fonte: Apresentação Nésio Fernandes

realizar esse serviço, como pontuou o “Quando falta polinização no morango,


professor Breno, é importante garantir a eles ficam deformados”, mostrou Menezes
sobrevivência e saúde das abelhas. em sua apresentação. Como explicou o
especialista, “quando há falta de abelhas
De acordo com Breno Freitas, se há o nessas lavouras, o fruto fica deformado.
número adequado de polinizadores,
grande número de espécies”, explicou Segundo o professor, esse trabalho
haverá visitação às flores, transferindo Nas culturas de morango, cerca de 20%
Breno Freitas. Nem todos os cultivos na cultura de soja foi citado pela
o pólen e aumentando a capacidade dos frutos de morango produzidos pelos
dependem diretamente da polinização, comunidade europeia em função
de “vingamento” da planta. Entre os agricultores são deformados. Um fruto
mas há um impacto positivo de da correlação com o aumento de
exemplos de benefícios estão a qualidade cresceria em média 43% em peso se ele
produtividade e na qualidade do fruto. produtividade sem a necessidade de ter
do produto, como o aumento da fosse bem polinizado, ou seja, o produtor
“Mesmo culturas agrícolas capazes de um maior impacto no meio ambiente.
concentração de óleos em sementes de está perdendo dinheiro por falta de abelha
autopolinização ou polinizadas pelo vento
girassol, canola e mamona, bem como na agricultura”.
podem alcançar maior produtividade de A polinização é defendida, inclusive, como
a diminuição de custos de colheita, por
frutos e sementes quando polinizadas pelas um dos principais serviços da atividade
exemplo, pelo encurtamento do ciclo
abelhas”, reforçou Freitas. O impacto na apícola. Como ressaltou Nésio Fernandes,
da cultura de melão e melancia, ou pela
produtividade pode acontecer inclusive “quando se fala em abelhas, se fala em mel,
uniformidade na altura das plantas,
em cultivos já bastante lucrativos. em própolis, em pólen, isso é secundário.
por exemplo, soja e gergelim, que
O grande papel das abelhas é polinização.”
proporcionam melhor uso da colheita
Culturas que podem aumentar
mecanizada e diminuição de perdas.
a produtividade. “Um trabalho
desenvolvido na cultura de soja com a Falar de abelhas não é falar só de Apis
Cristiano Menezes, da Embrapa,
introdução de polinizadores aumentou em melífera. Segundo Nésio, por exemplo,
também citou o exemplo da deficiência
18% a produtividade”, pontuou Breno. 90% do valor comercial da cultura
de polinização no morango no Brasil.
de maçã depende das abelhas. Para

3 0 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 3 1
Relação da polinização Mas a conclusão do painel ficou por
conta do impacto no volume produzido
e a produção de alimentos de um cultivo. Tom Prado simplificou o
raciocínio, “as [culturas agrícolas] que não
dependem não vão acabar. As [culturas
agrícolas] que dependem vão acabar”.
Como afirmou Nésio Fernandes “Elas vão
reduzir, vai haver um declínio, acabar
imagino que não, mas elas poderão reduzir
em volume produzido”.

Trata-se de aumentar o potencial


produtivo de uma cultura agrícola
e melhorar a qualidade do fruto ou
semente. Como explicou o professor
Breno, quando se fala em dependência
da polinização na agricultura, não é que
todas as culturas não vão produzir se
não houver abelha. “Na verdade, terão
quebras da produtividade”, explicou.

A questão sobre a dependência da polinização na agricultura para a produção de Mesmo as culturas


alimentos, quando se trata de maximizar a produção de frutos e sementes, fez parte
que as Apis
do painel. Afinal, ainda existe bastante confusão entre a ideia de uma cultura ter sua
existência comprometida e o conceito de redução do potencial produtivo de frutos e polinizam quando se
sementes em função da falta de polinização realizada por abelhas. Essa confusão se dá tem uma diversidade
em parte porque a dependência está atrelada, na maioria das vezes, ao quanto uma
de visitação de
cultura agrícola poderá deixar de produzir, de ser produtiva, se não houver a polinização.
outras abelhas, se
Como exemplificou o professor, “a soja
Não se trata necessariamente de um impacto na base da
tem trabalhos mostrando que a introdução
tem um aumento de
nossa alimentação já que “cereais, como arroz, milho, aveia,
das abelhas não aumenta o número de produtividade porque
trigo, de uma maneira geral, são polinizados pelo vento e não
por abelhas”, como explicou o professor Breno. Mas é preciso
vagens, mas aumenta o número de vagens elas têm funções
com três sementes dentro, aumentando o
incluir a variedade de alimentos para uma dieta balanceada
peso e, portanto, a produtividade é maior”.
específicas.
“porque as plantas que dão o balanço nutricional em vitaminas
e minerais na nossa alimentação geralmente são frutas, são Breno Magalhães Freitas -
Universidade Federal do Ceará
legumes que dependem das abelhas para polinização”.

3 2 Painel 2
1 - IBni o
t edri a
v çe ãr so i d
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colas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas P
Aag irní ce ol l1a s- e
B i do ad iPv oe lrisni idzaadç eã oe pAogrr iAcbuel tl h
uar as 3 3
gente fala tanto em biodiversidade mesmo O desconhecimento levou já a
AS ABELHAS COMO dentro da área agrícola”, reforçou. experiências mal sucedidas, como
as citadas pelo professor Breno. “Na

POLINIZADORES Cristiano Menezes reforça a importância


da diversidade ao mencionar o trabalho
verdade, as pessoas botavam abelha, mas
não sabiam o que estavam fazendo para
de um colega pesquisador inglês que integrar a polinização. Torna-se importante
“O que nós temos que discutir é como Apis no Brasil interfere na polinização
realizou sua pesquisa de doutorado planejar a integração da polinização - seja
é que vamos continuar mantendo nossas direta, pois, como ressaltou o professor,
sobre polinizadores em plantação por abelhas nativas, seja pela criação
abelhas polinizando, essa é a questão. “se descobriu que Apis não polinizam o
de maçã na Inglaterra avaliando a de espécies - e garantir as condições que
A importância eu acho que todos aqui maracujá, a acerola”. Veja mais sobre as
maior produtividade entre produtores permitam a sobrevivência e circulação das
estão conscientes disso, todos, não tem um abelhas na visão do setor na página 15.
que alugavam Apis, produtores que abelhas.”
que não esteja consciente da importância
compravam colônias de Bombus ou
da polinização”. A frase de Nésio reflete “É preciso outras abelhas porque as Apis
Mamangavas, e outros que tinham só o A polinização precisa ser incorporada
a discussão. Para isso, a visão ampliada não polinizam tudo”. Além disso, há
manejo natural do entorno sem o aluguel como fator de produção, “do mesmo
da integração das práticas e tecnologias impacto nos benefícios da presença de
ou a compra ativa de abelhas. “Ele não jeito que a irrigação, a seleção de mudas,
de cultivo e o olhar sistêmico sobre as polinizadores, uma vez que “mesmo nas
encontrou uma relação de aumento de a correção do solo, a adubação e os
abelhas tornam-se fundamentais. culturas que as Apis polinizam, quando
produtividade com os agricultores que tratos culturais são fatores de produção,
“Isso ocorreu na Europa no início da se tem uma diversidade de visitação de
alugavam ou manejavam abelhas, mas a polinização também”, como explicou o
década de 80 quando descobriram que outras abelhas, se tem um aumento de
ele encontrou um aumento muito grande professor Breno.
(as abelhas) Bombus e Mamangavas eram produtividade porque elas têm funções
em produtores que tinham uma área
importantes para a produção de tomate, os específicas”, como explicou o professor.
mais conservada onde tinha uma abelha Casos no Brasil também podem servir de
próprios produtores saíram correndo atrás “Há uma complementação quando tem
solitária que nidificava (fazia ninho) no exemplo. Marcelo Miranda citou o caso
de abelha para melhorar a produtividade uma diversidade maior, por isso, que a
chão”, esclareceu. do citricultor Edmundo, presidente da
deles. Quatro anos depois disso ser
descoberto, 100% dos produtores de
tomate da Holanda já usavam abelhas na
produção. Quem não usava abelhas, sequer
conseguia vender o seu tomate por causa
da diferença de produtividade da qualidade
do fruto que tinha em relação a um fruto
bem polinizado”, acrescentou Cristiano
Menezes.

A diversidade das abelhas é um


ponto importante para a polinização.
“A apicultura é um termo específico de
Apis mellifera e, na verdade, quando se
fala em polinização agrícola, temos vários
polinizadores e as várias abelhas que
contribuem”, ressaltou o professor Breno.
A concentração de abelhas da espécie

3 4 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 3 5


matas dentro das propriedades, ajudando No caso específico do morango, nos que hoje no Brasil está avançando bastante
a conservar os insetos e as outras primeiros testes, essa espécie de abelha a passos largos. Nos últimos dez anos, várias
espécies de abelhas. não se mostrou uma polinizadora muito empresas surgiram no setor pra apoiar a
eficiente, porém estão testando essas agricultura e dar alternativa, mas também
A parceria da Embrapa com a Promip, abelhas em outras culturas como café, levando em consideração que em muitos
empresa de controle biológico, para o macadâmia e lichia, que são culturas casos os produtos químicos são essenciais
desenvolvimento pela primeira vez no importantes na região de São Paulo para manter a produtividade”, declarou
Brasil de um sistema de criação de abelha e com um desempenho excepcional, Menezes.
sem ferrão visando a polinização agrícola especialmente no café com uma taxa de
torna-se outro exemplo. visitação altíssima. “A avaliação agora é de
quanto essa visitação causou um incremento
“Ao longo dos últimos doze anos, tenho na produtividade”, explicou.
Nada mais que o estudado a biologia dessas abelhas sem
correto é que os ferrão, mas também desenvolvendo A terceira parte do projeto é a própria
dois setores conversem técnicas de manejo para poder usá-las compatibilidade dessas abelhas
e tentem encontrar um comercialmente”, declarou Menezes, da especificamente com os principais
ponto em comum, cada Embrapa. Entre os principais avanços produtos usados nessas culturas,
um consiga desenvolver mencionados pelo especialista, o possibilitando uma melhor integração da
suas atividades, e, por primeiro desafio foi a criação de rainhas criação de abelhas e das práticas agrícolas,
consequência disso, as em laboratório, com cerca de 90% de favorecendo a polinização. “Nos sistemas
abelhas nativas também sobrevivência e em quantidades grandes, de polinização que já existem no mundo,
serão beneficiadas. o suficiente para atender a demanda. especialmente das mamangavas na Europa
quando a pessoa compra uma caixa de
Marcelo Miranda, do Fundecitrus “Para poder fazer um melhoramento abelha ou aluga, ela já sabe exatamente
genético dessas abelhas e também poder qual o produto que ela não pode aplicar ou
usá-las para a produção de colônias”, se precisar aplicar o que deve fazer com essa
Associação de Santa Cruz de Rio Pardo da explicou. “Temos desenvolvido alimentos colmeia”, explicou Menezes.
região sudoeste do Estado de São Paulo. artificiais para substituir o pólen, substituir
Ao longo dos últimos
o mel. A partir do momento em que não “A ideia do projeto é desenvolver uma lista de
recomendações de produtos compatíveis e
doze anos, tenho
Edmundo, além do cultivo de laranja, precisa do pólen natural, se pode criar essas
é também apicultor e possui diversas abelhas numa escala maior”. incompatíveis com essas espécies de abelhas. estudado a biologia dessas
colmeias e recomendou a utilização de Temos pelo menos oito produtos testados abelhas sem ferrão, mas
plantas nativas melíferas plantadas nessas São colônias incubadas em sistemas de em aplicação tópica sobre essas abelhas, também desenvolvendo
áreas de reserva legal justamente para criação bastante desenvolvidos e com com respostas diferentes ao que já se sabe técnicas de manejo
dar mais opções também para as abelhas. temperatura controlada. “Controle de para Apis mellifera”, afirmou. “Já estamos
para poder usá-las
“Ele diz que quer mais que a laranja vá pragas adequado onde possa criar pequenas avançando para poder oferecer um serviço
unidades de colônias e fazer elas crescerem de polinização adequada”. A iniciativa da
comercialmente.
muito bem, pois assim o apicultor também
se manterá bem, então é um bom exemplo”. com uma incubadora mesmo”, declarou. Embrapa nesse projeto é justamente
Cristiano Menezes,
Como explicou Miranda, o rigor requerido Outra parte do projeto refere-se à estimular a inovação. “É um convívio entre o da EMBRAPA Amazônia Oriental
para o manejo da citricultura e a definição avaliação do desempenho dessas sistema de polinização, o controle de pragas
de reservas legais resultam em muitas abelhas em campo para a polinização. utilizando ferramentas de controle biológico

3 6 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 3 7
As abelhas estão desaparecendo?
RELAÇÃO MAIS
O professor Breno Freitas explicou durante o painel que ainda há muito
desconhecimento e mal entendidos sobre esse fenômeno. “Eu sou agrônomo. Fiz meu
PhD no Reino Unido, há 24 anos, com John Frie, que era o maior especialista na época e
PRODUTIVA ENTRE
referência mundial em polinização agrícola, e desde então, o desafio nesses 20 anos tem sido
integrar as abelhas junto com a agricultura, envolvendo indústria, setor apícola e diversos
AGRICULTURA E APICULTURA
segmentos da sociedade”.
A busca por soluções que tragam grande preocupação”, complementou.
A opinião pública faz uma confusão sobre o desaparecimento de benefícios tanto para os cultivos quanto “Alguns casos já têm convívio e outros casos
abelhas. O CCD é um problema específico de Apis. Não existe CCD em para a atividade apícola já são vistos no ainda são competitivos, precisamos fazer
abelha solitária, não existe CCD em meliponini, não que se saiba pelo Brasil. ajustes”. O reconhecimento do valor da
menos até o momento. O desaparecimento das abelhas é global. “São polinização na produtividade é um dos
as abelhas de uma maneira geral que estão reduzindo, já foi dito aqui por Como afirmou Nésio Medeiros, “são principais mecanismos de conscientização
uma série de fatores não especificamente um ou outro em particular”. assuntos divergentes? são, mas nós não do produtor agrícola. “O agricultor, desde
podemos nos colocar em trincheiras o pequeno, deve entender o serviço de
contrárias, nós temos que estar ao lado polinização como um fator de produção”,
O caso Fundecitrus: integração apicultura e conversando e buscando solução para as refletiu o professor Breno.
questões que atingem os agroquímicos
citricultura numa relação mais produtiva. e os polinizadores”. Ele complementa a No cultivo agrícola, a integração de
A citricultura é bastante beneficiada pela polinização por abelhas. “Em alguns casos questão ao responder uma pergunta da práticas e tecnologias produtivas inclui o
pode aumentar até 35% a produção”, ponderou Miranda. A relação é mútua, plateia se a relação entre polinização e o uso consciente dos defensivos agrícolas.
pois a citricultura é muito benéfica para a apicultura também, servindo de uso de defensivos é complementar ou de Como exemplificou Medeiros, existem
fonte de alimentos para as colônias. “Nada mais que o correto é que os dois competição.“Hoje ainda há uma relação de ainda alternativas como o controle
setores conversem e tentem encontrar um ponto em comum, cada um consiga competição, no nosso entendimento. biológico e a questão do MIP (manejo
desenvolver suas atividades, e, por consequência disso, as abelhas nativas
Em alguns casos dos citrus, da maçã, integrado de pragas). “Então nós temos que
também serão beneficiadas”, avaliou Miranda.
melão já há uma relação amistosa de fugir um pouco dessa linha dos agrotóxicos
Fruto de uma iniciativa de diálogo entre representantes da citricultura,
convívio, mas regra geral ainda é uma dar tarrafada geral”, afirmou Medeiros.
apicultura e a Unesp, foi lançado um manual de boas práticas de interação
com os apicultores e também as boas práticas de pulverização. Entre algumas
práticas recomendadas no manual, a questão do cuidado de não pulverizar durante a floração.
“Estar informado sobre os defensivos agrícolas que está utilizando e de forma correta”, explicou “A busca contínua das indústrias do setor de defensivos agrícolas é
o pesquisador. “E por parte dos apicultores também a conversa com os citricultores e algumas por produtos cada vez menos tóxicos tanto ao meio ambiente como
informações, avisar quando vai colocar as colmeias. A gente teve alguns problemas no passado ao ser humano. O desenvolvimento de um novo produto ocorre
também de trabalhadores rurais que tiveram problemas com as abelhas. As duas partes conversando entre 15 a 20 anos desde a concepção até a entrada no mercado.
resolve mais de 90% dos problemas”, declarou. A implementação dessa medida requer o Especialistas trabalham com adaptação dos produtos existentes e
conhecimento mais aplicado da realidade do campo: entender o que significa a floração e como
desenvolvimento de novos produtos, novas moléculas e, claro, cada
identificar o período que considera todos os estágios de flor aberta e a porcentagem de floração.
vez mais específicos para determinadas pragas e, consequentemente,
“Quando for maior ou igual a 10% de flores abertas, nossa recomendação aos citricultores é que não
para culturas agrícolas distintas.”
apliquem defensivos que afetem as abelhas”, explicou (acesse o manual de boas praticas entre
Fabio Kagi da Andef,
citricultura e apicultura no site do Fundecitrus).
em resposta à colocação de Nésio

3 8 Painel 2
1 - IBni o
t edri a
v çe ãr so i d
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colas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 3 9
Melão e Melancia: o manejo integrado
de pragas a favor do cultivo e das abelhas

O horário de abertura das flores masculinas e hermafroditas é


registrado por volta das 5h00 da manhã. É proibido pulverizar
depois das 4h00 da manhã. Pulveriza a noite até as 4h00, ou para
uma hora antes de ter qualquer abelha no campo. Qualquer abelha
saindo da colmeia, já não tem mais aplicação de nada.
Tom Prado,
produtor de frutas e apicultor

Tom Prado apresentou o exemplo de sua plantação de melão e melancia, dependentes da polinização por
abelhas, e que apresenta um case de bastante integração entre a atividade apícola e agricultura.
“Se não tiver abelha não tem nem melão nem melancia para comer”, declarou. Como explicou Prado,
o meloeiro não produz frutos por autopolinização nem por partenocarpia (formação de frutos sem a
fertilização de óvulos) necessitando, obrigatoriamente, da transferência de pólen realizada por vetores
bióticos, no caso as abelhas. “Para a formação de frutos com características comerciais são necessárias de 10 a
15 visitas de abelhas, então eu dependo delas e quanto mais visitas eu tiver, melhor vai ser o produto comercial”.

Com propriedades no Ceará, na Bahia e no Piauí, a empresa faz rotação de produção ao longo do ano
Como também refletiu Miranda, No entanto, é fundamental entender em função das estações de chuva. A produção se beneficia tanto de abelhas da florada natural quanto de
colmeias criadas. Recém-terminada a estação de chuvas, a florada natural possibilita a polinização.
é fundamental ter boas práticas de como o impacto dos diferentes fatores nas “Você ainda tem uma vegetação em volta que tem a florada natural, tem abelha natural. Se você quiser produzir
utilizar o defensivo. “Se o agricultor usar abelhas e colmeias, inclusive para melão com essa florada natural aí no começo da estação, você produz tranquilo”, explicou. Já os produtores
um defensivo que não seja muito danoso à encaminhar soluções factíveis e eficazes de colmeia, para não correrem o risco de perderem as abelhas, precisam migrar para essas regiões ao
longo do ano. “Os produtores de mel do Nordeste são migratórios, eles têm que pegar as colmeias deles e tirar
abelha, mas usar de forma incorreta, para a preservação e potencialização do obrigatoriamente da região seca e levar para uma região que tenha umidade, que tenha chuva, porque senão
é a questão de aplicação, pois a polinização uso de polinizadores. naturalmente ele vai perder 100% das colmeias. Não precisa fazer nada, não precisa aplicar nenhum produto.
vai depender muito de como esse defensivo é Elas vão embora”, explicou Prado.

utilizado”, enfatiza. Além da aplicação de defensivos, a relação Integrando teoria e prática, por meio de pesquisas, a empresa detectou que as flores hermafroditas/
com outros fatores que influenciam as femininas do meloeiro se fecham à noite, o que coincidia com as práticas de aplicação dos defensivos
O principal ponto é o uso racional e populações de abelhas, como a água, agrícolas, que já eram realizadas no período noturno. “A gente usa todos os produtos e não tem problema”.
Conforme Prado, “o horário de abertura das flores masculinas e hermafroditas é registrado por volta das 5h00
consciente da tecnologia. “É plenamente disponibilidade de alimento, entre outros. da manhã. É proibido pulverizar depois das 4h00 da manhã. Pulveriza a noite até as 4h00, ou para uma hora
possível você conciliar as duas coisas (uso Como o exemplo dado por Tom Prado, antes de ter qualquer abelha no campo. Qualquer abelha saindo da colmeia, já não tem mais aplicação de
de defensivo e polinização) lógico que com o caso do Melão e Melancia, muitas nada”.

tendo o bom senso de utilizar um defensivo vezes por desconhecimento dos diversos Outra questão importante é a seca, como disse Prado, “o maior problema da região”, que impacta a
apenas quando necessário, da maneira fatores, “a resposta mais fácil para dar agricultura e a apicultura. “Na estatística do mel, a queda da produção do mel ao longo dos anos no Nordeste é
recomendada, nas dosagens recomendadas, quando tem um problema na colmeia é que a seca. Estamos no quinto ano de seca. Naturalmente vai ter perda de colônia. É inevitável”, declarou.
Isso demanda pesquisa e uma diferente forma de gestão das colmeias. Como Prado também é apicultor,
usando as carências recomendadas, evitando foi o inseticida, sai fácil da boca – ele contou um pouco da sua experiência envolvendo gestão apícola, genética, nutrição, manejo,
a pulverização quando a cultura está em flor foi o inseticida”, como explicou Prado. polinização, escrituração zootécnica, acompanhamento. Por meio de uma parceria com o professor
sempre que possível, por exemplo”, afirmou “Em nenhum dos casos foi o inseticida, foi a Malaspina da Unesp, eles estão acompanhando as colmeias também para documentar cientificamente a
prática.
o professor Breno. falta de água, a seca, ou o alimento”.

4 0 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 4 1
A COMUNICAÇÃO
COMO CHAVE PARA A
RELAÇÃO MAIS PRODUTIVA
Alimento ruim também é prejudicial para a abelha

No caso citado pelo produtor, foi deste evento, com a participação do


possível identificar outros impactos, por professor Osmar Malaspina, da Unesp,
exemplo, na tentativa de substituição de resultando no manual impresso sobre
ingredientes utilizados na elaboração do boas práticas da integração apicultura
xarope que serve de alimento para as e agricultura. “A gente tentou colocar esse
abelhas. “O começo do desenvolvimento manual numa linguagem simples e reunir
da alimentação para as abelhas se dava alguns bons exemplos para os citricultores
o xarope feito com açúcar. Então ao invés e para os apicultores: o que poderia ser
de fazer com o açúcar, que é caro, faz com feito para tentar mitigar os problemas que
melaço. Mas tem que saber fazer porque vinham acontecendo na citricultura e a
acha que está morrendo por conta de um troca de acusações entre um setor e outro”,
problema fitossanitário, mas é o alimento explicou Miranda, do Fundecitrus.
Uma das conclusões importantes agricultores, eu acho que é a solução para
ruim. O alimento que fermentou porque
deste painel é que a comunicação é a andar nesse sentido da convivência entre a
não foi feito corretamente”, analisou Tom Também foi mencionado o projeto do
solução para os principais desafios para apicultura e a agricultura”, complementou
Prado. Ele menciona outros fatores Ministério do Meio Ambiente com a FAO
a implantação de uma relação mais Nésio Medeiros. Como afirmou Prado, é
como a falta de água ou de alimento e o Banco Mundial, que encerrou em
produtiva entre a agricultura de uma importante integrar os diferentes atores,
adequado, ou ainda pragas e doenças julho/2015, produziu manuais de boas
maneira geral. “na medida em que você consiga levar esse
desconhecidas. “Aí vira e mexe a gente práticas para sete culturas que estavam
conhecimento através das associações dos
estava lá com os apicultores e eles dizendo – envolvidas no processo – culturas como
Uma comunicação que também leve produtores”.
o que está acontecendo que as abelhas estão a castanha do Brasil, melão, caju, canola,
conhecimento para o campo. Como disse
morrendo? Vamos atrás dos especialistas, algodão, maçã e tomate.
Prado, “a ciência é fundamental”, mas “não As práticas apresentadas por Marcelo
ia lá e descobria que era uma doença que
adianta você fazer uma pesquisa, publicar Miranda, por exemplo, evidenciam a
já tinha uma solução de ácido oxálico”, O caso emblemático do cultivo de melão
um paper e guardar na gaveta”, declara integração da apicultura com as práticas da
comentou ao mencionar o manejo apícola. e melancia, apresentado por Tom Padro,
Marcelo Miranda. agricultura. “A gente conseguiu provar para
demonstra que é possível encontrar
o citricultor que ele poderia controlar com
O manual de boas práticas entre soluções, principalmente que trazem
A pesquisa tem que chegar ao público a mesma eficácia esse inseto reduzindo até
apicultura e citricultura, publicado pela benefícios práticos e resultados tanto para
interessado. “Então trabalhar essa 70% a quantidade de inseticida por hectare”,
Fundecitrus, por exemplo, é fruto de uma o produtor agrícola quanto apícola.
informação e entregar isso de forma declarou Miranda ao citar a pesquisa sobre
interação realizada na primeira edição
palatável principalmente para os a Diaforina Citri, Psilídeo, vetor da principal

4 2 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 4 3
doença em citrus e responsável pelo sobre o comportamento e a biologia das se preocupa em relação a fungicidas e
aumento de pulverizações na cultura. Há abelhas. Ao mesmo tempo, o grande bactericidas porque existe uma relação E-Book A.B.E.L.H.A:
hoje.um sistema de alerta fitossanitário desafio é discutir quais informações de simbiose muito próxima entre Agricultura e Polinizadores
que monitora a cada quinze dias a são realmente importantes para que microrganismos e abelhas. Tanto a Apis
população de diaforina no Estado de São uma agricultura saudável não afete os mellifera quanto as abelhas sem ferrão,
Paulo. polinizadores e o controle as pragas, o alimento delas passa por uma série
como exemplificou Cristiano Menezes ao de processos de fermentação. O pólen,
O citricultor na região que sabe como compartilhar a recente experiência ao por exemplo, que é estocado, passa por
está a população do inseto vetor e vai encontrar um fungo branco que aparecia um processo de fermentação e até hoje
fazer o controle no momento correto. na criação das abelhas rainha a gente não sabe muito bem quais os
“Não vai fazer aplicações desnecessárias, em laboratório. mecanismos que ocorrem nesse processo e
o que possibilita a redução do número de qual a importância dele para a saúde das
pulverizações”, afirma. Para tanto, é preciso Descobriu-se que o fungo, contrariando abelhas”, Cristiano Menezes. Disponível para download em PDF pelo
continuar investindo na pesquisa sobre a hipótese inicial, é inclusive importante site da entidade A.B.E.L.H.A (Associação
os defensivos. Outro exemplo também para a sobrevivência das abelhas porque Dessa forma, aliar diálogo é Brasileira de Estudos de Abelhas), a
se refere à integração das colmeias ao serve de alimento das larvas em formação. responsabilidade de todos os lados. publicação lançada recentemente reúne
cultivo agrícola. No caso da Itaueira, como “Teste em laboratório mostrou que a taxa de assuntos que promovem a construção
explicou Prado, eles descobriram, em sobrevivência das larvas passou de 7% para da coexistência da produção agrícola e a
parceria com o professor Breno, que se mais de 70% quando ela comia o fungo”. preservação da biodiversidade.
tivessem mais caixas de colmeias por
hectare haveria um aumento de produção. Esse tipo de informação traz mais Desenvolvido por seis pesquisadores,
“Daí foi ampliando o interesse e a busca elementos para a integração das práticas o trabalho tem como proposta
por respostas para melhoria do manejo”, de cultivo e aplicação das tecnologias de estimular o diálogo e o intercâmbio de
contou. produção, por exemplo, na aplicação de conhecimento e, ao mesmo tempo,
Além disso, é fundamental entender mais fungicidas. “De uma forma geral a gente contribuir para fortalecer o país no
crescimento e na produção das riquezas,
manter o olhar sobre a proteção
ambiental e a harmonia entre os setores.
Entre os principais temas da publicação,
estão: o papel dos polinizadores na
Eu acho que o
produção agrícola do Brasil, o valor
aplicador de
econômico dos serviços de polinização
agrotóxico tem que ter
em alguns cultivos no país, a importância
responsabilidade e o
da paisagem agrícola no serviço de
apicultor também tem que
polinização das abelhas, o impacto
ter responsabilidade.
da agricultura sobre a população e a
Nésio Fernandes de Medeiros, diversidade de polinizadores, e formas
presidente da Câmara de mitigação de seus efeitos.
Setorial Federal do Mel e
Produtos de Abelhas.
Vale a pena a leitura.

4 4 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas


• A diversificação traz maior efetividade em polinização
MAPA GRÁFICO DAS • A Apis é generalista: não é ideal para qualquer cultura
Afinidade: para • Embrapa-PROMIP: criação de abelhas sem ferrão
DISCUSSÕES DO PAINEL 2 cada cultura para polinização agrícola
um tipo específico • Necessidade de planejamento para garantir
Consorciamento:
de abelha sobrevivências das abelhas
diversificação
(manejadas ou
no uso de abelhas
silvestres)
em serviço da
• Abelhas são os principais Valorização polinização
polinizadores
do serviço de
polinização em
sistemas naturais
e agrossistemas
Impacto na
diversidade de CCD X mortalidade
sistemas naturais DIVERSIDADE DE Falta entendimento
ABELHAS

• Não há dados oficiais


sobre declínio das
populações silvestres,
POLINIZAÇÃO DECLÍNIO DE Falta de dados somente de manejadas
ABELHAS sobre população (Apis)
Otimização no uso
de área agrícola

INTERAÇÃO DAS Causas


• Mais qualidade Cultivos agrícolas CULTURAS E DA multifatoriais
• Maior concentração de beneficiados pela POLINIZAÇÃO POR
óleos (oleaginosas) polinização ABELHAS • Clima, falta de alimento, manejo
• Menores custos de colheita incorreto, uso incorreto de defensivos,
• Mais resistentes à pragas pragas, doenças, seca
• Maior capacidade de vingar
• Maior produtividade

Polinização como
tecnologia
PRODUÇÃO e fator de produção
DE ALIMENTOS agrícola • Controle biológico
• Conhecimento e educação
aplicada: comportamento
Os alimentos não PRÁTICAS MAIS Conservação de e biologia das abelhas,
vão acabar PRODUTIVAS
matas nativas, linguagem acessível,
atendimento a capilaridade via associações
reservas legais e • Valorização da polinização na
Cultivos plantio de plantas formação de agrônomos
Desafio:
manutenção da
dependentes de melíferas • Compatibilidade no uso
polinização X cultivos de defensivos versus
variedade
beneficiados pela especificidades de abelhas
de alimento
polinização • Minor Crops: investimento e
Boas práticas no incentivo a novos registros
Complementariedade
uso de defensivos
Defensivo
e Polinização

4 6 Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas Painel 2 - Interação das Culturas Agrícolas e da Polinização por Abelhas 4 7
3

...é falar com o apicultor, com a fazenda, com o produtor


agrícola e com a associação a que ele pertença e tentar fazer

3
uma discussão de como resolver a situação. O primeiro objetivo é
evitar que novos casos aconteçam nessa situação.
Osmar Malaspina, UNESP Campus Rio Claro

Defensivos Agrícolas
e sua Relação com a
Na manhã do dia 06 de novembro professor da UNESP Campus Botucatu,

Agricultura e Apicultura aconteceu o terceiro painel sobre os


defensivos agrícolas e sua relação
Paula Arigoni, coordenadora de Assuntos
Regulatórios do Sindiveg, e Osmar
com a agricultura e a apicultura, sob a Malaspina, professor e pesquisador da
mediação da professora Roberta Cornélio UNESP Campus Rio Claro.
Ferreira Nocelli, pesquisadora bióloga e
professora do Centro de Ciências Agrárias O uso de defensivos agrícolas é uma
UFSCar, com foco em buscar soluções importante tecnologia de produção
de integração. Esse foi o tom do diálogo aplicada à agricultura. Deve ser utilizada
que envolveu Marcio Rosa Rodrigues de com racionalidade e consciência para
Freitas, coordenador geral de Avaliação obter os melhores resultados de sua
e Controle de Substâncias Químicas, da aplicação e proteger a biodiversidade,
Diretoria de Qualidade Ambiental, do entendida tanto de maneira mais ampla,
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e quanto nas diferentes espécies de
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), abelhas. “As pessoas precisam ter uma
Júlio Sérgio de Britto, coordenador geral visão da importância de todas essas coisas
de Agrotóxicos e Afins do Ministério da da diversidade e não só das abelhas, da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento nossa mega biodiversidade e também da
(Mapa), Lídia Maria Ruv Carelli Barreto, questão da agricultura
presidente da Comissão Técnico Científica que às vezes não é bem
da Confederação Brasileira de Apicultura entendida também pela
(CBA) e professora da Universidade população que faz uso
de Taubaté, Ulisses Rocha Antuniassi, dela”, declarou Roberta.

4 8 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 4 9
Afinal, como disse a professora, “qualquer “Na apicultura tudo está por fazer. O maior desenvolvimento. No nosso caso aqui, da
ação humana causa impactos”, mas é patrimônio sendo destruído, baixos índices expansão da fronteira agrícola e do uso
preciso compreendê-los para estabelecer de formalização, faixa etária avançada, mais intensivo de agrotóxicos e os seus
soluções. baixos índices nos processos sucessórios, impactos sobre a biodiversidade”, afirmou
parque tecnológico reduzido, tecnologia Marcio Freitas.
Ao entender o complexo sistema de rudimentar”, declarou Lídia Barreto.
atores envolvidos, é fundamental buscar Lídia, representante do setor apícola,
a integração. “Todos esses atores têm Soluções que devem, então, ser reforça a importância de planejamento
necessidades, mas também têm que assumir estendidas aos pequenos e médios e foco para a legislação apícola. “Que
suas responsabilidades”, refletiu Roberta. produtores responsáveis por grande parte tal investir em um sistema nacional de
“Cada um dos atores precisa assumir suas da produção apícola do país. “Pequenos Lídia Maria Ruv Carelli Barreto, vigilância com notificação compulsória
responsabilidades e assumir o seu papel produtores que também precisam ter Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) para as mortes de abelhas a partir de
para encontrar essa solução”, declarou. acesso e precisam entrar e participar dessa diagnósticos clínicos, não só laboratoriais;
Por exemplo, um dos principais passos discussão”, afirmou a professora Roberta. elemento da visão de futuro para a aumento de fiscais com treinamentos
é a conscientização dos agricultores, apicultura no Brasil, “Por isso que foi o específicos; laboratório nacional para os
grandes e pequenos produtores, sobre a Uma das iniciativas do setor apícola desafio de montar cursos, com tecnólogos, diagnósticos das moléculas presentes no
importância das abelhas e a importância envolve, justamente, a formação a pós-graduação e também uma forma de envenenamento?”, questionou Lídia.
da nossa diversidade independente da para a atuação no setor, tendo a aprender a dialogar”, contou a professora
polinização. “Aqueles que são beneficiados profissionalização como principal Lídia. Dessa forma, representantes da
pela polinização têm um olhar diferente para academia, pesquisadores, professores de
as abelhas, mas precisamos estender esse universidades também podem contribuir
olhar pra todos os agricultores” ponderou bastante para o cenário, tanto no setor
Roberta. Os diversos segmentos da agrícola quanto apícola, em especial
indústria voltada para a produção agrícola, nessa integração. “Esse retorno depende de
como defensivos agrícolas, também têm produção de conhecimento que a gente quer
um papel fundamental no diálogo e na fazer e uma produção de conhecimento que
busca por soluções. também precisa sair de dentro dos nossos
laboratórios e chegar para todo mundo”,
Da mesma maneira, “os apicultores criam como refletiu Roberta.
suas abelhas e também querem sobreviver
disso, ter rendimento. Eles também precisam “O governo tem a difícil tarefa de coordenar
ser assistidos, mas também precisam Cada um dos atores a legislação e ter a aplicação das leis, de
entender como a relação com as abelhas precisa assumir suas como funciona, de fiscalizar.
nativas e a relação com a agricultura pode É um compromisso do Governo Federal
responsabilidades e assumir o
ter convivência de uma maneira menos ter políticas públicas que possam
seu papel para encontrar essa organizar e tornar essa relação melhor”,
problemática do que registrado nos últimos
anos” avaliou a professora Roberta. solução. disse a professora Roberta. Afinal, é
O setor apícola reconhece o desafio de um cenário complexo com diversos
fortalecimento do setor. Roberta C. Ferreira Nocelli, UFSCar interesses envolvidos e o Estado tem o
papel como “regulador desses interesses
e mediador desses conflitos resultantes do

5 0 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 5 1
A representante do setor apícola reforçou a necessidade de desenvolver novas
TECNOLOGIA AGRÍCOLA a importância do MIP como mecanismo de
escolha das tecnologias utilizadas e maior
tecnologias para controle e a preocupação
com as espécies exóticas invasoras.

PARA A PRODUTIVIDADE precisão da utilização dos defensivos,


incluindo ações de conscientização, como “Existe uma preocupação muito séria em
“MIP nas recomendações técnicas, nas termos de novas introduções e novas pragas
rotulagens, nas embalagens dos defensivos” e e doenças no mercado brasileiro”, afirmou
“campanhas e treinamentos aos empresários Brito. “São preocupações que temos que
agrícolas”, entre outros. controlar. A grande fronteira agrícola,
terrestre e marítima, e ficar de olho nos
A eficácia dos produtos deve, então, ser pontos de possíveis internalizações ou de
analisada e acompanhada, como declara entrada dessas pragas diante da extensão
o Ministério da Agricultura, culminando territorial do Brasil, que é muito grande”,
no processo de registro e também avaliou Britto.
reavaliação de produtos registrados
autorizados. Além da busca por novas
tecnologias para controle de pragas.
O uso das tecnologias é um importante tecnologias produtivas, é fundamental,
“A busca de defensivos biológicos, que são
aliado da atividade produtiva agrícola, apresentando expressivo desenvolvimento
defensivos naturais, é uma demanda muito
fundamental para a economia do país da agricultura brasileira nos últimos 38
forte também da sociedade não só brasileira,
e também necessária para a crescente anos e possibilitando economia de novas
mas mundial em busca de tecnologias que
população mundial. Como foi dito durante áreas que deveriam ser ampliadas para
sejam menos agressivas que sejam menos
o evento por Julio Britto, ”o mundo vai chegar a esse nível de produção.
problemáticas quando se compara com
ter que produzir 20% a mais, vai ter que “Isso permite que a gente tenha um
as substâncias químicas dos agrotóxicos”,
ter um incremento de 20% na produção diferencial e tenha um aumento de
afirmou Britto.
de alimentos para atender uma demanda produtividade e isso aumenta mais ainda
mundial de alimentação”. a produtividade relativa em termos de área
O “investimento em controle biológico” e
plantada”, afirmou Britto.
“moléculas mais especializadas em pragas”
O Brasil é um dos principais players
também foi defendido por Lídia da
e fundamental nessa previsão. “Para Os defensivos agrícolas têm um papel
CBA. De acordo com as informações do É preciso resgatar
atender essa demanda de 20%, o Brasil fundamental no controle de pragas e
tem que crescer 40% na sua produção de doenças. “Devido ao controle que se faz de
Ministério da Agricultura, “o número de essa técnica (MIP)
registros de produtos naturais, produtos
alimentos para atender essa demanda toda pragas e doenças com o uso de tecnologia, que não é recente,
biológicos têm crescido bastante. Em 2015,
porque a maioria dos produtores, Canadá, impedimos a redução de cerca de 50%
registramos 25 produtos, sendo 20 produtos mas precisamos
Estados Unidos, Austrália, China, parte da produção agrícola brasileira”, afirmou
da Rússia e União Europeia, não atingem Britto. Nesse sentido, o Manejo Integrado
biológicos e para agricultura orgânica e mais repensar e aplicá-la
cinco produtos biológicos”, informou Britto.
essa necessidade de incrementar em 20% de Pragas (MIP) é fundamental. “É preciso efetivamente
para atender uma demanda mundial resgatar essa técnica (MIP) que não é
De acordo com o especialista do Ministério
de alimentação, ou seja, nós temos que recente, mas precisamos repensar e aplicá-la Júlio Sergio Britto, Mapa
da Agricultura, também há preocupações
continuar crescendo”, avaliou Britto. efetivamente”, afirmou Britto.
para a atividade produtiva agrícola como
Como avaliou o especialista, o uso de

5 2 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 5 3
AVALIAÇÃO DOS PROCESSO DE
DEFENSIVOS AGRÍCOLAS REAVALIAÇÃO AMBIENTAL
Durante o painel, foi apresentado o alvo ou as ocorrências não intencionais ao
processo de reavaliação ambiental meio ambiente do uso de agrotóxico, como
dos defensivos agrícolas, em especial contaminação do solo, contaminação da
neonicotinóides e pirazol, e as lições água, perda de biodiversidade”, explicou o
aprendidas. O processo de avaliação especialista da Instituição Marcio Freitas.
ambiental faz parte do processo de O Departamento de Avaliação e Controle
registro dos defensivos. Como explicou de Substâncias Químicas, da Diretoria
Marcio Freitas, esse processo envolve três de Qualidade Ambiental, tem como foco
órgãos governamentais – o Mapa, a Anvisa a avaliação ambiental de defensivos
e o Ibama –, com a avaliação agronômica, agrícolas. “O Ibama tem várias áreas e vários
toxicológica e ambiental respectivamente. enfoques em cada uma das diretorias (...).
Na diretoria de qualidade ambiental,
“O registro é um ato complexo avaliado cuidando de substância química, o nosso
pelos três órgãos para que se estabeleçam foco é o agrotóxico. A nossa missão é avaliar
medidas de mitigação do ponto de vista o agrotóxico e seu efeito sobre organismos
toxicológico, ambiental e agronômico, não-alvos (abelha, por exemplo) e sobre o Conduzido pelo Ibama, o processo de que levam à identificação do grau de
quais são as autorizações e quais são as meio ambiente como um todo. O foco não é reavaliação ambiental é um processo risco a que os organismos não-alvos
possibilidades de uso desses produtos”, a abelha”, explicou Márcio Freitas. técnico, envolvendo uma série de estudos estão sendo expostos, especificamente a
explicou Britto, do Mapa. analíticos – 54 estudos para produto questão da perda de polinização. “Embora
O processo também envolve os governos técnico e 25 para produto formulado, a gente não esteja estudando a perda de
“Pela determinação da lei de agrotóxicos, o estaduais, “responsáveis pela fiscalização incluindo a avaliação de toxicidade para polinização, nós não estamos monitorando
Ministério da Agricultura tem a competência do comércio, transporte e armazenamento organismos não-alvo dos produtos. se está morrendo mais abelha ou menos
de fiscalizar a fabricação, a importação e desses produtos”, complementou Britto, “Temos uma série de testes em organismos abelha e não é esse o nosso objetivo”,
exportação e realizar o registro do agrotóxico do Mapa. Para isso, eles devem cadastrar que vão definir o grau de toxicidade do uso acrescentou Marcio Freitas.
juntamente com a Anvisa e Ibama”, como e controlar esses produtos e são dos do produto. Trabalhávamos com avaliação
explicou Júlio Britto, do Mapa. O papel do Conselhos Regionais de Engenharia e de perigo dos produtos e classificávamos os No caso dos neonicotinóides passou a se
Ibama, por exemplo, é avaliar e verificar Agronomia a fiscalização do exercício produtos em função dessa periculosidade. verificar no mundo inteiro efeitos que não
quais são os efeitos dos agrotóxicos, profissional. Hoje já estamos ampliando um pouco para haviam sido identificados na avaliação do
classificando e restringindo os usos em incluir a avaliação de risco”, explicou Marcio Ibama. “Isso motiva por lei o processo de
função de riscos identificados durante a Freitas. reavaliação ambiental”, informou Marcio
avaliação ambiental. Freitas. “Passamos a colocar em reavaliação
O processo de reavaliação ambiental ambiental os três dos neonicotinóides mais
“O papel do Ibama é regular para evitar que busca estudar os efeitos crônicos utilizados”, declarou. Também está prevista
o uso de substâncias usadas na agricultura e subletais, além dos resíduos, a reavaliação do pirazol (fipronil).
traga problemas aos organismos não- fundamentalmente em néctar e pólen,

5 4 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 5 5
O histórico do processo de avaliação ambiental dos a perda de polinização, os diversos efeitos sobre essa perda do serviço de polinização,
perda de habitat, defensivos agrícolas, entre outros. “Fomos buscar essas pesquisas no
defensivos agrícolas Brasil para iniciar o processo de reavaliação ambiental e termos fundamento nele”, afirmou
Marcio Freitas.

Trata-se de um tema complexo e que envolve diversas perspectivas. “Quando começou


em junho de 2012 foi anunciado o processo de reavaliação ambiental e houve uma grande
crise”, pontou Marcio Freitas. “A grande crítica que sofríamos era a falta de fundamentação
naquilo que a gente estava propondo”, refletiu. “Teve uma crise com a equipe técnica
que estava convicta da fundamentação da proibição. Crítica dos apicultores e crítica de
alguns setores do agronegócio também”, pontuou. O caminho para conduzir a questão
encontrada pelo órgão envolve “uma postura proativa no sentido de discutir com os setores
e destas discussões, destas crises do início do processo, conseguimos encontrar soluções
conjuntas”, como afirmou o especialista do Ibama.

“Esse processo trouxe a mobilização dos atores envolvidos. Motivou eventos, discussões e
provocou pesquisadores, tanto da academia quanto da Embrapa, e de uma série de outras
entidades de governo no sentido de que o Ibama esclarecesse e trouxesse à luz o que tinha por
trás dos fenômenos que estavam acontecendo. Isso deu alguma visibilidade internacional e
passamos a ser chamados em vários eventos internacionais que discutem esse tema”, refletiu
Marcio Freitas.

Em parceira com o Mapa foi realizada uma série de trabalhos e estudos. Surgiram
Como contou Marcio Freitas, o processo de reavaliação ambiental começou no Ibama em
Instruções Normativas (INCs) conjuntas do Ministério da Agricultura e do IBAMA, como
2009-2010, com a criação da equipe de reavaliação ambiental. “Durante o ano de 2010,
INC 01/2012, 30/2013 e 01/2014, que dispõem sobre a aplicação dos ingredientes ativos
a equipe de reavaliação ambiental partiu essencialmente de uma motivação técnica.
Imidacloprido, Clotianidina, Tiametoxam e Fipronil​.
A equipe passou por uma série de procedimentos de capacitação. Mas, antes de desencadear
o processo de reavaliação ambiental, buscamos informações sobre ocorrências de perda de
polinização que já estavam ocorrendo no restante do mundo e os efeitos, os procedimentos
em outros países, levantamentos de consumo e importância destes produtos.”, ressaltou.

“Um exaustivo levantamento de ocorrência de perdas de colmeia, a apresentação prévia do


problema ao Mapa, à Anvisa e à direção do Ibama (antes houve discussões na CTA (Comitê
Técnico de Assessoramento de Agrotóxicos) formada pelos representantes indicados pelos
Ministros da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente para assessorar a concessão do registro
de agrotóxicos) para um respaldo ao processo de reavaliação ambiental, uma vez que já se
sabia que traria, como trouxe, uma série de conflitos e a busca de apoio junto à comunidade
cientifica”.

O processo envolveu contato com especialistas, por meio de projetos que já existiam
no Ministério do Meio Ambiente como um projeto de polinizadores que já investigava

5 6 Painel 3
1 - D
B ieof d
e invsei rvsoisd aAdg er í e
c oAl a
g sr i e
c usl u
tua r Ra e l a ç ã o c o m A g r i c u l t u r a e A p i c u l t u r a Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura 5 7
Como explicou Marcio Freitas, ainda há
uma confusão muito grande em relação
ao processo de reavaliação ambiental dos
produtos, “como se o objetivo do Ibama
fosse investigar a ocorrência do colapso do
distúrbio de colmeias no Brasil ou se isso
estava diretamente relacionado com
o colapso, o fenômeno do colapso,
o CCD”. De acordo com o especialista, o
que motivou a reavaliação ambiental
“não é o fenômeno e sim os efeitos agudos
e crônicos sobre o desenvolvimento de
sobrevivência das colônias de abelhas”.
Ele complementou que tal objetivo
também leva o órgão a “investigar o
efeito sobre larvas e os riscos em doses
Em função da subletais que são os problemas, alguns deles
motivação também relacionados com o fenômeno de CCD, mas
obviamente não é o foco estudar CCD”.
da reavaliação
ambiental, está se “A avaliação de risco foi a ferramenta
discutindo muito novas utilizada para embasar boa parte das
decisões que tomamos da reavaliação
práticas agrícolas,
ambiental. É uma ferramenta fundamental
formas de aplicação, para incorporar no processo de regulação
de alerta, medidas de mitigação de risco mecanismos de produção já estabelecidos,
alternativas de manejo, de agrotóxico justamente pela possibilidade
aos polinizadores e mais conhecimento”, o que demanda ampla comunicação e
de gerenciar o risco e não ficar só no perigo
de certificação de acrescentou Marcio Freitas demonstrando educação de todos os atores envolvidos.
intrínseco da substância”, avaliou. “Novas
aplicadores, medidas metodologias de uso dos produtos que
que o foco é a aplicabilidade do processo “Boa parte de vocês nem fica sabendo que
por meio da avaliação criteriosa, mas houve a proibição da aplicação aérea de
de monitoramento tragam mais segurança, no nosso caso aqui,
também o olhar para as diversas um produto que está em avaliação
segurança ambiental.
de sistemas de perspectivas envolvidas na questão. (ambiental) porque esse produto já vai para
alerta, medidas de Esta é inclusive uma das preocupações
o mercado com essa proibição.
Uma das questões delicadas do processo Agora, se colocamos no mercado um
mitigação de risco aos no processo de reavaliação ambiental
de reavaliação ambiental é justamente produto com uma determinada condição
dos produtos. “Em função da motivação
polinizadores e mais a alteração de condições de produtos já de uso e depois retiramos, tirando um
também da reavaliação ambiental, está se
conhecimento”. discutindo muito novas práticas agrícolas,
existentes do mercado. direito adquirido, e isto do ponto de vista
de qualquer ação de governo, é conflito na
formas de aplicação, alternativas de
Marcio Freitas, Ibama Sua realização é fundamental do ponto certa”, como explicou Marcio Freitas.
manejo, de certificação de aplicadores,
de vista de desenvolvimento dos sistemas
medidas de monitoramento de sistemas
de aplicação, no entanto, também altera

5 8 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 5 9
a mortalidade de abelhas com um
OS IMPACTOS mapeamento inédito dos fatores que
contribuem para a perda de colmeias

NA APICULTURA e abelhas no Estado de São Paulo. Tem


como foco entender os fatores que
contribuem para a perda de colmeias
como primeiro passo para fazer a
diferença para uma relação mais produtiva
entre agricultura e apicultura (veja mais na
página 78).

Com base nos casos de perda de colmeia


identificados por meio do contato
de apicultores ao telefone 0800, são
O início deste investigadas as causas de perda da
processo é falar com colmeia. Porém, como pontuou Malaspina,
o tempo de notificação é uma das
o apicultor, com a fazenda,
questões críticas para a pesquisa.
com o produtor agrícola
e com a associação “O apicultor não vai todo dia ao seu apiário.
a que ele pertença e que às vezes está a 60, 80 km, 100 km
tentar fazer uma discussão de distância e vai lá a cada 15, 30 dias.
Quando ele chega lá, às vezes, as abelhas
de como resolver a
já morreram e aí já passou o tempo. Ele
situação. O primeiro tem uma dificuldade de identificação e
objetivo é evitar que nós (no projeto) temos que entender que
novos casos aconteçam infelizmente grande parte dos nossos
A aplicação de tecnologias de produção uso incorreto de defensivos nas práticas apicultores também tem uma dificuldade
nessa situação.
agrícola pode ter impacto no entorno. agrícolas, estão entre as causas que de acesso principalmente às informações
O impacto dos defensivos agrícolas nas interferem na saúde das abelhas. Por isso, Osmar Malaspina, via internet. Eles precisam recorrer ao filho,
abelhas também é uma das preocupações. entender os fatores que contribuem para UNESP Rio Claro ao neto, então têm várias dessas questões
Como apresentou Paula Arigoni, muitos a perda das colmeias também é prioridade de acessibilidade do nosso apicultor”,
fatores interferem na saúde das abelhas, do setor de defensivos agrícolas. apontou o professor. Isso traz impacto
como doenças originadas por parasitas dos agroquímicos eram comprovados nessa ao estudo, pois se “a coleta não foi feita
como a Nosema, o ácaro Varroa e O professor Osmar Malaspina apresentou questão ou não”, refletiu Malaspina. adequadamente e já tiver passado as 24
infecções bacterianas, suscetibilidade alguns dados preliminares do projeto horas, a abelha já não estiver mais em
das espécies, melhoramento genético, de pesquisa que está sendo conduzido Apresentado por Paula Arigoni, o Projeto condições de análise, já estiverem secas ou
falhas na nutrição, problemas sanitários nesse sentido. “A gente precisava de um Colmeia Viva - Mapeamento de Colmeia podres. Às vezes choveu, lavou o material.
da prática da apicultura, desmatamento, programa que pudesse comprovar essas Participativo é uma iniciativa do Sindiveg Então, tem toda essa dificuldade também”,
queimadas, condições climáticas, além de informações e mostrando até onde os efeitos com a participação da UNESP e UFSCar refletiu o professor.
e prevê o levantamento de dados sobre

6 0 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 6 1
Estudos de perdas de colmeias Após a identificação, uma equipe técnica apresentado pelo professor. “Às vezes o
visita o local para o levantamento apiário está realmente na reserva ou bem
estruturado de informações. Envolve a no limite da parte da cultura. Isso facilita
O professor Malaspina da Unesp participa de diversas pesquisas voltadas para a investigação
“questão da paisagem do entorno como muito ao apicultor na hora de colher o
dos impactos nas abelhas. Sua motivação se deve pelo fato de ter um histórico de relatos
que está essa situação, a distância dos mel, na hora de fazer o seu manejo porque
de apicultores que tiveram mortalidade de abelhas em seus apiários desde 2005, mas sem
apiários, os dados possíveis de intoxicação está bem do lado. Alguns casos estão
comprovação que realmente teria sido um agroquímico.
de mortalidade, se o apicultor percebeu mais dentro da mata”, declarou Osmar
se houve aplicação aérea ou terrestre de Malaspina.
O Projeto Colmeia Viva - Mapeamento de Abelhas Participativo
defensivo agrícola ou se não tem nada
(Map) é um dos projetos do qual o professor integra a equipe
no entorno”, como explicou o professor O processo de reavaliação ambiental dos
científica. Alguns dados foram apresentados no evento, mas
Malaspina. “O início deste processo é falar neonicotinóides conduzido pelo Ibama
será publicado um relatório prévio com os primeiros resultados
com o apicultor, com a fazenda, com o ainda não está concluído, como afirmou
do projeto. O grupo de trabalho responsável pelo projeto de
produtor agrícola e com a associação a que Marcio Freitas. Como resultado preliminar
pesquisa produziu um relatório prévio que, apesar de ainda baixa
ele pertença e tentar fazer uma discussão já foi possível identificar uma relação.
significância estatística para a consolidação da pesquisa, dá um
de como resolver a situação. O primeiro “Não temos muita dúvida de que há um
breve cenário qualitativo da situação no campo e, principalmente,
objetivo é evitar que novos casos aconteçam efeito e um residual tóxico para abelhas em
traz elementos para os ajustes necessários no processo de melhoria
nessa situação”. néctar e em pólen e que nós vamos ter que
contínua do projeto.
tomar medidas de mitigação desse risco”,
A pesquisa dos casos busca observar afirmou Marcio Freitas. “Isso quer dizer
É importante ressaltar que o projeto efetua o agendamento de visita ao campo apenas quando
diversas variáveis que podem interferir na que nós vamos ter que partir para medidas
há mortalidade de abelhas nas últimas 24 horas de, no mínimo, 20% das colmeias tenham
sobrevivência das abelhas. Por exemplo, a de mitigação desse risco em relação ao uso
perdido abelhas. Com isso, o recorte do levantamento traz uma análise da relação mais direta da
proximidade de localização das colmeias desses produtos em algumas culturas. Isso
aplicação de defensivos agrícolas na relação da agricultura e apicultura (veja mais na página 78).
na área de cultivo. Não exatamente não é para todas as culturas e também
na reserva legal onde é o local mais práticas de manejo diferenciadas”.
Além de agricultores e criadores de abelhas, o projeto tem recebido “pessoas pedindo para
indicado para sua permanência, como foi
retirar colmeias de residências ou de postes.”, ressalta Malaspina. “Houve também quem procurou
para reclamar, dizer ele não consegue conversar com o dono da usina ou com o responsável da usina
para tentar fazer uma conversa mais amigável ou ainda para dizer que avisou a prefeitura e ninguém
tomou providencia nenhuma”, exemplificou o professor.

O projeto de pesquisa teve uma fase piloto no período de agosto de 2014 a junho de 2015
para o desenvolvimento do processo de atendimento com base nas informações obtidas pela
imprensa e pela equipe de campo de parceiros e associados. Os casos atendidos nesse período
contaram com 17 atendimentos, sendo 11 com visita local para realizar coleta de amostras para
análise.

LANÇAMENTO OFICIAL EM 2015


A partir de junho de 2015, com o lançamento oficial do projeto, houve mais atendimentos.
Até o evento foram sete casos com atendimento, sendo cinco com coleta de material em fase
de análise. Mais informações no relatório prévio que será disponibilizado no site do projeto.

6 2 Painel 3
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ofertado tenha um controle e uma utilização de pragas e como esse manejo deve ser
BOAS PRÁTICAS adequada”, como complementou Júlio
Britto, do Mapa.
efetuado, trabalhado, na questão do manejo
de resistência de pragas para implementação

DE APLICAÇÃO O Manejo Integrado de Pragas (MIP) torna-


do Manejo Integrado de Pragas (MIP)”,
avaliou Britto.
entre os participantes do painel. se um poderoso aliado, ampliando o olhar
Durante o processo de reavaliação dos defensivos, mas para todas as técnicas Um exemplo de foco de estudo é a
ambiental, foi possível identificar, então, de cultivo, como explicou Britto. “É adotar questão da aplicação aérea, técnica
que a busca por soluções integradoras todas as práticas prévias, não é só partir bastante utilizada no Brasil, por ser
deve ir além da análise de toxicidade para o controle químico e controlar a praga bastante aderente à realidade e condições
isolada. “O registro de agrotóxico é uma ou doença, mas adotar a prática de rotação locais. “Nós vivemos no Brasil numa
das poucas coisas que está razoavelmente de culturas, o manejo inicial, a necessidade agricultura tropical que tem características
estruturado dentro do processo de de utilizar variedades resistentes, controle específicas e muito diferentes de outros
regulação. O registro de agrotóxico não cultural, controle biológico e o controle países. Então se discute muito – ah, mas a
vai resolver o problema do manejo de químico é a última ferramenta para ter um aplicação aérea é proibida na Europa.
agrotóxico”, avaliou Marcio Freitas. Então controle de praga. Então é nesse sentido que Bom, mas na Europa não precisa de
é preciso, como refletiu Marcio Freitas, tem essa visão de dar um maior incentivo”, aplicação aérea no mesmo modelo que
“políticas mais amplas sobre a gestão, o uso afirmou Britto. Nessa linha, um ponto a gente utiliza aqui”, como explicou
O registro de e o manejo de agrotóxicos e não discutir importante apontado pelo especialista o professor Antuniassi, especialista
agrotóxico é uma somente a questão na hora do registro”. é que os rótulos dos agrotóxicos não em tecnologia de aplicação. Como
“O registro é pré, é antes de o produto ir têm nenhuma informação com relação apresentou Marcio Freitas, a aplicação
das poucas coisas que
para o mercado, é antes de o produto ser ao manejo integrado de pragas. “É uma aérea, por exemplo, envolve diferentes
está razoavelmente utilizado. O problema é durante e depois. exigência ter nas indicações e nas bulas visões e conflitos sobre o tema e um
estruturado dentro do Nós precisamos ter instrumentos também de dos produtos. No rótulo evidentemente não processo turbulento, porém, ao mesmo
uma política nesse sentido”, afirmou Marcio cabe por não ter espaço, mas ter na bula tempo, repleto de aprendizados sobre a
processo de regulação.
Freitas. de todos os agrotóxicos as informações das importância da investigação e da busca
O registro de agrotóxico necessidades de adoção de manejo integrado de diálogo para a resolução de questões
não vai resolver o “Com relação ao uso também é importante
frisar que as ações de fiscalização nas
problema do manejo de
propriedades agrícolas foram, em 2014, 20
agrotóxico. mil ações de fiscalização. Nos últimos sete
a oito anos foram mais de 100 mil ações
Marcio Freitas, Ibama
de fiscalização em propriedades rurais
para também evitar o uso de produtos
falsificados, vencidos e contrabandeados,
Como toda tecnologia, a forma como é mais controle do receituário agronômico,
utilizada determina muito de sua eficácia. evitar o uso de produtos não autorizados
O caso dos defensivos agrícolas segue na cultura e garantir a segurança do
a mesma premissa, sendo que as boas produto que chega à mesa do consumidor,
práticas de aplicação foi unanimidade ou seja, que esse produto que está sendo

6 4 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 6 5
complexas. “Vamos ver qual é o problema Como explicou o especialista, a aplicações. A certificação já se tornou
da aplicação aérea, qual é o problema do certificação é uma ação voluntária dentro pré-requisito para a contratação de
agricultor, qual o problema da indústria e do mercado de aviação agrícola, gerida serviços pelo produtor no setor de cana
vamos tentar compatibilizar isso”, contou por uma fundação sem fins lucrativos, de açúcar.
Marcio. de forma que não seja uma atividade
comercial.
No entanto, como apontou o professor CAS Nível I: 28
Certificação prestadoras
Antuniassi, é fundamental entender as Coordenada por três universidades legal da operação de serviços
características e necessidades da região, públicas, com o apoio da Andef
bem como compreender a utilidade da (Associação Nacional de Defesa Vegetal) 43
A gente tem um
aplicação aérea. “As agriculturas mais e Sindag (Sindicato das Empresas de CAS Nível II: prestadoras
competentes e desenvolvidas no mundo que contexto da agricultura Aplicação Agrícola), o CAS é um programa Certificação de serviços e
da qualificação
se utilizam da aplicação aérea são aquelas que precisa ser muito bem 100% privado sem a participação nem tecnológica da empresa 1
operador privado
aonde o sistema de aplicação é necessário diferenciado de nichos de financiamento público. “O enfoque
e dá suporte para que esses países tenham primário é atender as empresas privadas
o seu desenvolvimento tecnológico dentro
mercado de agricultura e os operadores privados no sentido
CAS Nível III:
Certificação da 6
de todo contexto de sustentabilidade”, bastante restrita do ponto de dar suporte para que eles atendam conformidade de prestadoras
equipamentos, instalações de serviços
comentou. O professor citou o exemplo de vista de condições de as demandas atuais com relação à e procedimentos
do Canadá, um dos países mais restritivos, responsabilidade e sustentabilidade das
trabalho e de área, por
mas que permite diversos tipos de aplicações, principalmente com relação
aplicação aérea, além de Estados Unidos, exemplo, em países da ao risco de impacto ambiental. O grande
Austrália, Argentina. “A gente tem um
contexto da agricultura que precisa ser muito
Europa. questionamento é a deriva, que vai desde
discussões acadêmicas até programas
Deriva
bem diferenciado de nichos de mercado de Ulisses Antuniassi, UNESP Botucatu de televisão. O enfoque da certificação é
Termo utilizado para a quantidade
agricultura bastante restrita do ponto de abordar de maneira correta, justa e séria
do defensivo agrícola aplicado (seja
vista de condições de trabalho e de área, por essa questão”, explicou Antuniassi.
na pulverização aérea ou terrestre)
exemplo, em países da Europa”, afirmou. a competitividade dentro do processo
que não atinge o alvo de controle
produtivo em nível mundial, senão o Brasil De acordo com os dados apresentados,
das pragas para a proteção de
É importante ressaltar, como explicou o estaria na idade das trevas. Vamos pensar de o setor de aviação agrícola conta com
cultivos.
professor Antuniassi, “algumas culturas maneira bem colocada dentro do contexto 232 empresas. Em pouco mais de um
têm áreas expressivas sendo pulverizadas da realidade do país”, refletiu. ano do programa de certificação, já foram
Os principais fatores que podem
com aplicação aérea e isso hoje representa atendidas 78 empresas certificadas,
ocasionar a deriva ficam por conta
um mercado bastante importante dentro O treinamento e a fiscalização se tornam, representando 34% do mercado.
do tamanho (diâmetro) e peso das
do contexto do tratamento fitossanitário”. dessa maneira, fundamentais, para
gotas, vento, temperatura, umidade
Hoje em dia, “praticamente 25% de todas garantir as melhores práticas de uso. A primeira empresa privada com avião
Relativa do ar. Na pulverização
as aplicações são realizadas com avião”. “O setor de aviação agrícola já clamava para uso próprio também já está dentro
área, turbulência do ar e altura do
“É uma parte que tem que ser feita com para um processo de certificação porque do processo de certificação e tem seis
voo (a partir da qual as gotas são
aplicação aérea senão inviabiliza o processo obviamente a certificação é uma forma de prestadores de serviço que já estão
lançadas) também são fatores que
produtivo”, explicou o professor. “Usa competitividade”, comentou o professor no nível III e faz todo esse processo de
interferem na deriva.
porque precisa e porque de fato confere Antuniassi. boas práticas desde o início das suas

6 6 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura


As etapas da Certificação
Aeroagrícola Sustentável (CAS)
CAS NÍVEL III:
O principal objetivo do programa de certificação é a capacitação e a qualificação
do setor aeroagrícola (empresas de prestação de serviços e operadores privados).
Certificação da conformidade de equipamentos,
Como apresentou Antuniassi, tem como enfoques primários a responsabilidade e
instalações, processos e procedimentos para a
sustentabilidade das operações, melhorias na qualidade das pulverizações e redução de
auditoria de boas práticas
riscos de impacto ambiental das aplicações, com especial foco no questionamento da
deriva.
“Neste nível, o pessoal tem que passar por uma série de requisitos que inclui as
suas instalações, seus equipamentos e todo o suporte técnico tanto de gestão do
A certificação acontece em três etapas principais, entendidos como níveis a serem
processo quanto de equipamento”, explicou.
alcançados:

O processo de boas práticas envolve a disponibilidade técnica dos


mecanismos no processo produtivo, analisando o tipo de equipamento
CAS NÍVEL I: utilizado na aplicação, na geração dos dados, na localização GPS utilizada
para geração das informações e os mapas. “Passa a poder caracterizar nos
Certificação legal da operação seus relatórios de trabalho as áreas do entorno para que se possa saber quando
e exatamente aonde aplicou e o que tinha em volta, pois ajuda nas análises de
risco de deriva e de risco de impacto ao ambiente”, explica.

Ainda nessa terceira fase do processo de certificação, existe a demarcação


em ordens de serviço de direção do vento, de informações climáticas
atualizadas, das próprias faixas de segurança para que se tenha uma
segurança de entender aonde essa aplicação foi feita e o que tinha em
CAS NÍVEL II: volta. “Eles têm que preencher um formulário que faz uma análise de risco de
deriva que não existe na legislação, mas que traz uma segurança a mais e faz o
Certificação da qualificação
operador pensar no risco antes de ele causar qualquer tipo de problema”, avaliou
tecnológica da empresa
Antuniassi.

Nessa etapa, acontecem ainda cursos de


“A partir de 2017, quando tiver equipamentos homologados para as aeronaves
capacitação e atualização dos profissionais. “muito deste pessoal passa por
aqui no Brasil, a certificação exigirá a rastreabilidade das aeronaves com controle
treinamento em técnicas de aplicação e treinamento de informação agrícola
24 horas da posição dela em termos geográficos, sistemas automatizados de
quando eles se qualificam como pilotos agrícolas, por exemplo, ou como
aplicação. Na aviação, a gente diz que o melhor piloto é o automático porque ele
técnicos executores ou coordenadores no início de suas carreiras, mas essa
não tem falha, então a gente tem condição de trabalhar restrição de aplicação
tecnologia é muito dinâmica”, afirmou o professor. Nessas ocasiões, discute-
em áreas que não podem ser aplicadas e o controle da aplicação nas áreas onde
se tanto a questão da qualidade da aplicação, como forma de reciclar os
ela de fato deve ocorrer”, complementou.
conhecimentos, quantos conceitos novos e recentes de responsabilidade
ambiental.

6 8 Painel 3
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“O processo tem sido muito feliz em dar essa estão espalhadas por todo o Brasil, e em A importância da adequação das Marcio Freitas ressaltou ainda que há um
resposta à sociedade e ao setor ambiental quase todos os Estados que têm agricultura tecnologias e das técnicas à realidade marco regulatório no país. “Ele pode não
daquilo que pode ser feito do ponto de vista importante têm empresas certificadas. nacional extrapola a questão da aplicação. ser bom, pode não ser suficiente, mas a gente
real dentro do conceito de que a aplicação Nas regiões importantes do agronegócio tem um marco nosso (brasileiro). Não tem
aérea precisa ser feita em algumas culturas como Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio A própria permissão de uso do produto, muito sentido ficar importando situações de
porque não tem outra opção e o Brasil Grande do Sul já tem empresas no nível como avaliou o representante do outros países”, afirmou.
perderá esse mercado. Alguns segmentos que máximo de certificação, ou seja, operando Ministério da Agricultura. “Não é porque o
precisam adotar um processo para mobilizar com todo o controle das suas condições de produto foi banido no país de origem que ele Da mesma forma, não são aceitos os
o setor técnico dentro da tecnologia de risco de deriva”, declarou Antuniassi. deva ser banido aqui”, afirmou Britto. registros no País apenas porque o produto
aplicação aérea. Hoje essas empresas “Proibir o uso no Brasil porque ele está é registrado em outro país. “Temos uma
proibido no país de origem não é aceitável regra que tem um método de avaliação, que
sob o ponto de vista da necessidade de determina se o produto deve ser banido aqui
utilizar porque muitas vezes o produto ou se pode ser aceito aqui. Então, se for o
pode até ter sido desenvolvido na Suíça ou caso, vamos aperfeiçoar a nossa legislação,
Alemanha de grandes empresas, ou mesmo mas não comprar a legislação de outro país
Estados Unidos, e ele é fundamentalmente de graça”, complementou.
utilizado, um exemplo, na cultura do café”,
exemplificou Britto. “Então não vamos
perder produto, a tecnologia, que tem a sua
base e o seu controle de pragas em culturas
tropicais e subtropicais. O Ministério da
Agricultura não aceita essa origem (para
banimento). Temos que estudar, analisar,
avaliar e controlar os potenciais riscos de uso
destes produtos para determinadas culturas
e mitigar esses riscos”.

7 0 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 7 1
informação muito fraca ainda do ponto de amplos que abranjam não só a questão
VISÃO SISTÊMICA E vista da atividade econômica do apicultor.
Fica difícil identificar perdas e mais ainda
do uso de agrotóxico, mas todos os outros
fatores que determinam a perda do serviço

APLICABILIDADE SÃO OS identificar relação entre o porquê que as


perdas estão ocorrendo. A gente sabe que
de polinização”, avaliou Marcio Freitas.

PRINCIPAIS ALIADOS sempre tem a ver com perda de alimentação,


com perda de habitat, com seca e com uso
de agrotóxicos, a gente sabe que essas são
as maiores causas, mas exatamente fazer
esse nexo causal (relação de causalidade) é
muito complicado”, disse Marcio Freitas.

A legalidade dos produtos e sua aplicação


é outro ponto crítico para o bom uso dos
defensivos agrícolas.

Como explicou Britto, é importante “evitar


a venda de produtos falsificados e vencidos
e o contrabando, evitar a venda sem receita
agronômica, evitar o uso de produtos não
autorizados na cultura, coibir a venda por
estabelecimentos não registrados para essa
finalidade e garantir a idoneidade desses
insumos dos agrotóxicos para o uso dos
agricultores”.

O uso de produtos alternativos também


requer mais estudo e análise. Como
O processo envolve necessidades de dos defensivos agrícolas, não apenas as explicou Marcio Freitas, é uma dificuldade
produção que são fundamentais para instruções e restrições de uso. “A questão hoje ter um bom mapeamento dos
a atividade agrícola e apícola. “Teríamos das deficiências e ausência de programas produtos alternativos substitutos em
que pensar numa decisão que envolvesse de monitoramento, os dados limitados função das dimensões continentais do
outros atores que pudesse considerar sobre áreas onde espécies locais requerem Brasil. “Temos peculiaridades regionais que
outros fatores: o fator econômico, o fator mais proteção. Os dados limitados sobre não estão bem mapeadas para identificar
social, fatores que estão dentro da grade a sensibilidade das diversas espécies (as quais são as alternativas de manejo, se
da matriz de avaliação de risco, mas que abelhas) nativas em relação à Apis mellifera. tem produtos substitutos, que alternativas
não necessariamente são considerados”, A ausência de um sistema de notificação de para proteção, medidas de monitoramento
complementou Marcio Freitas. Outro ocorrência de mortalidade e de agravos, a e sistemas de alerta, mais conhecimentos
ponto fundamental é a conscientização e questão do serviço de polinização e mesmo sobre espécies nativas (de abelhas) e seu
educação sobre as condições de aplicação para a apicultura, quer dizer, temos uma hábitos e programas de proteção mais

7 2 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 7 3
CAMINHO PARA É interessante essa forma
O DIÁLOGO de trabalhar que é incentivar
o diálogo e é possível, através
de uma mediação e um
acompanhamento, colocar
agricultor e apicultor para
conversar.
Paula Arigoni, Sindiveg

É importante que sejam buscadas construído junto”, como explicou o


soluções integradoras e sustentáveis. professor Malaspina.
“Temos já alguns levantamentos feitos
nos Estados Unidos que as indenizações O Projeto Colmeia Viva, como explicou
pura e simples do apicultor não resolveu o Paula Arigoni, é uma das iniciativas nesse
caso nos Estados Unidos. Eles tiveram que sentido. “É interessante essa forma de
abortar essa situação nos Estados Unidos, trabalhar que é incentivar o diálogo e é
então eu não sei se essa é a melhor solução. possível, através de uma mediação e um
Eu não tenho essa resposta. Isso precisa acompanhamento, colocar agricultor e
ser assim, como nós estamos construindo apicultor para conversar”, afirmou.
um projeto juntos aqui. Isso precisa ser

“O próprio histórico deste evento aqui por ela como uma oportunidade de “todo
mostra a evolução. Quem esteve no primeiro mundo se reunir para que a gente possa
evento, em 2013, lembra que a situação ter uma solução que possa ser a melhor
de conflito era muito maior, as discussões possível para todos para que não haja uma
eram mais apaixonadas e a gente vê agora solução boa para um em detrimento de
uma integração maior e uma participação outros”. Diálogo voltado para soluções
mais ampla do setor agrícola, da indústria, práticas e viáveis. “Essas conversas têm que
da apicultura e do próprio governo. Isso resultar numa situação e num cenário em
mostra um pouco a evolução”, afirmou que isso não seja mais preciso – indenizar
Marcio Freitas. ou pensar no prejuízo do apicultor e do
meliponicultor”, afirmou a professora
A necessidade do diálogo foi ressaltada Roberta.
também pela professora Roberta, vista

7 4 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 7 5
MAPA GRÁFICO DAS
DISCUSSÕES DO PAINEL 3 Faltam
Expansão da
Visão sistêmica fronteira agrícola informações
e aplicabilidade sobre Apicultura
Valorização e (identificação
estruturação do nexo causal da
serviço de mortalidade)
Baixa tecnologia e polinização
envelhecimento do
segmento

Mortalidade: saber
identificar diferentes Influência da
causas e prevenir Apicultura nas Uso racional de
abelhas silvestres defensivos

INTEGRAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO
APICULTORES
Necessidade de Melhoria
• Defensivos naturais/
formalização e biológicos
contínua e
profissionalização inovação em
• Moléculas mais seletivas
produtos
• CCD e
mortalidade Fiscalização,
DEFENSIVOS E A RELAÇÃO
não são Desafio: regulação e políticas
COM A AGRICULTURA E • Manejo e consumo de:
focos de alteração das públicas
APICULTURA - Falsificados
análise condições
- Vencidos
regulatórias de
- Contrabandeados
produtos
Foco: - Sem receituário
efeitos nas - Uso não autorizado
abelhas e resíduos
de produtos
• Hierarquia de técnicas
CONSCIENTIZAÇÃO: • Recomendação em rótulos
PEQUENOS E
REAVALIAÇÃO GRANDES • Campanhas e treinamentos
AMBIENTAL IBAMA MIP:
PRODUTORES
repensar e usar
Motivação: efetivamente
status da
polinização, efeitos
em abelhas e
declínio em outros
países • Produção pelo viés da polinização
(beneficiadas e/ou dependentes)
Avaliação de risco Adequação de
Polinização • Nivelar níveis de conhecimento
ambiental (inclui tecnologias à
como fator de • Como aplicar na prática
produção agrícola
• Novas tecnologias mais seguras exposição) realidade nacional
ambientalmente Boas práticas na
• Manejo e práticas agrícolas alternativas aplicação e uso de
• Aplicação defensivos: novas formas, defensivos
certificação e monitoramento • Sem defensivos: redução de 50% da produção agrícola
• Medidas de mitigação • Controle de pragas exóticas
• Certificação de produção integrada (Mapa) • Demanda: aumento na produção de alimentos

7 6 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 7 7
esta iniciativa inédita”, ressalta Silvia Fagnani vice-presidente
executiva do Sindiveg. O defensivo agrícola contribui na

COLMEIA VIVA proteção de cultivos, e para tanto, atende uma série de


exigências dos órgãos regulatórios brasileiros nas áreas de
saúde, meio ambiente e agricultura.
O Movimento Colmeia Viva é uma iniciativa do setor
de defensivos agrícolas que tem por objetivo incentivar
O sucesso do Projeto depende da participação ativa dos
o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas para
agricultores, criadores de abelhas e suas associações, contatando no número 0800.
que juntos possamos encontrar caminhos para uma relação que valorize a
Os agricultores participam quando encontrarem colmeias não identificadas em sua
proteção racional dos cultivos, o serviço de polinização realizado por abelhas,
propriedade; em caso de dúvida na ocorrência de um incidente por aplicação de
a proteção das abelhas e do meio ambiente e o respeito à Apicultura.
defensivo agrícola e se precisarem de orientação sobre boas práticas de convivências
entre as atividades agrícola e apícola. Já os criadores de abelhas, quando verificarem
Lançado em junho de 2015, o Colmeia Viva – Mapeamento de Colmeia
perdas de colmeias e abelhas em seus apiários; se necessitarem de suporte no
Participativo é um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Sindiveg
entendimento das causas de perda de colmeias; sobre o que fazer em caso de possível
(Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal)
incidente com abelhas e também se necessitarem de orientação sobre boas práticas de
com a participação da UNESP – Universidade do Estado de São Paulo – e
convivência entre agricultura e apicultura.
UFSCar – Universidade Federal de São Carlos.

A visita ao campo é realizada por profissionais especializados em abelhas, que dentre


Baseado na relação mais produtiva entre o agricultor e o apicultor, o Colmeia
outros itens, analisam o estado das colmeias e abelhas, e tipos de cultivo no local e
Viva - MAP tem por objetivo dar origem a um plano nacional de boas práticas
nas redondezas, com possibilidade de coleta de amostras para análise em laboratório
entre Agricultura e Apicultura, por meio do esclarecimento dos fatores que
competente e acreditado segundo a ISO 17025. Aos agricultores, o Sindiveg orienta que
interferem na perda de colmeias no País.
mantenham contato com as associações de apicultores e meliponicultores da sua região.
Assim, quando houver aplicações aéreas de defensivos agrícolas, é possível avisá-los
O estudo abrange o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas
com antecedência. No caso de apicultores e meliponicultores, a dica é que colaborem
com um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de
com a identificação e localização de apiários e fiquem atentos aos comunicados da sua
colmeias e abelhas no Estado de São Paulo, construindo um banco de dados
associação ou de agricultores da região para proteger suas abelhas.
com informações sólidas e realistas. A missão é promover o uso correto de
defensivos agrícolas na agricultura brasileira para proteger os cultivos e
contribuir na garantia do direito básico de alimentação das pessoas,
respeitando a apicultura, protegendo as abelhas e o meio ambiente.
BENEFÍCIOS AO CRIADOR DE ABELHAS E AO AGRICULTOR

• Ajuda na identificação do que está acontecendo com as abelhas


Muitos fatores interferem na saúde das abelhas, como doenças originadas por parasitas • Possível esclarecimento para a perda de abelhas
como a Nosema, o ácaro Varroa, infecções bacterianas, suscetibilidade das espécies, • Acesso ao laboratório reconhecido pelo Inmetro capaz de identificar mais
melhoramento genético, falhas na nutrição, problemas sanitários da prática da de um resíduo de defensivo agrícola nas abelhas, sem custos ao apicultor e
apicultura, desmatamento, queimadas, condições climáticas, além de uso incorreto de ao agricultor
defensivos nas práticas agrícolas. Por isso, entender os fatores que contribuem para a • Participação em um projeto que trará um mapeamento inédito dos fatores
perda de colmeias é o primeiro passo para fazer a diferença na relação mais produtiva que contribuem para a perda das abelhas e colaborar na construção de
entre agricultura e apicultura. “Quanto mais pessoas no campo tiverem acesso ao número uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura
do 0800 e participarem do Projeto, maior será a abrangência do mapeamento almejado por

7 8 Painel 3
1 - D
B ieof d
e invsei rvsoisd aAdg er í e
c oAl a
g sr i e
c usl u
tua r Ra e l a ç ã o c o m A g r i c u l t u r a e A p i c u l t u r a Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 7 9
7 A EQUIPE TÉCNICA
RESPONSÁVEL RECEBE
AS INFORMAÇÕES DO
LABORATÓRIO PARA

1 O PARTICIPANTE
RECEBE O KIT COLMEIA
COMPLEMENTAR A
ANÁLISE FEITA EM
VIVA COM A ANÁLISE, CAMPO E PREPARAM
RECOMENDAÇÕES GERAIS O KIT COLMEIA VIVA.
AGRICULTORES E DE BOAS PRÁTICAS. ESSE

6
LOCALIZAM COLMEIAS PROCESSO PODE LEVAR
EM SUAS PLANTAÇÕES CERCA DE 60 DIAS.

COMO FUNCIONA O APICULTORES 5


COLMEIA VIVA NO E MELIPONICULTORES

ESTADO DE
VERIFICAM PERDAS ANÁLISE DAS
NAS COLMEIAS ABELHAS
SÃO PAULO NOS CASOS EM QUE NÃO
FOR POSSÍVEL REALIZAR
As abelhas coletadas são
enviadas para laboratório
reconhecido pelo Inmetro e
VISITA AO CAMPO E COLETA especializado em identificar
DE ABELHAS, A EQUIPE DO
2
vários tipos de resíduos
PROJETO DARÁ INSTRUÇÕES, de defensivos agrícolas
A iniciativa conta com um canal exclusivo, nas abelhas.
no Estado de São Paulo, para agricultores, LIGAM NO 0800 E FALAM
AUXÍLIO E ORIENTAÇÕES
COM A EQUIPE DO PROJETO. AO PARTICIPANTE.
apicultores (criador de abelhas com
A LIGAÇÃO É GRATUITA.
ferrão – Apis mellifera) e meliponicultores
(criador de abelhas sem ferrão), e suas
0800 O QUE ACONTECE

771 8000
associações. Acesso a Cartilha com NA VISITA
informações passo a passo do Projeto, Análise da condição das
colmeias, estado das abelhas,
disponível na versão impressa e online, tipos de cultivos no local e
Horário de funcionamento:
com download, através do link de acesso Das 07h00 às 19h00, todos os dias nas redondezas. As abelhas
da semana (incluindo sábados, serão coletadas somente
www.projetocolmeiaviva.org.br domingos e feriados). se estiverem ainda em
condições de análise.

4
PARA O AGENDAMENTO
DA VISITA É PRECISO QUE:
PASSAM POR UM

24 HORAS
As abelhas
O PROJETO É REALIZADO CADASTRO E CONTAM tenham morrido
O QUE ACONTECEU. nas últimas VISITA AO CAMPO
NO ESTADO DE SÃO PAULO.
3 A ATENDENTE ANALISA
O CASO, DÁ INSTRUÇÕES MAIS
DE 20% das colmeias tenham
perdido abelhas
PROFISSIONAIS
ESPECIALIZADOS EM
ABELHAS SÃO ENVIADOS
E ORIENTAÇÕES E
AGENDA A VISITA AO LOCAL PARA ANÁLISE
AO CAMPO. NO CASO DO AGRICULTOR: DA SITUAÇÃO
as colmeias tenham sido encontradas dentro NO CAMPO.
da propriedade do agricultor que fez o contato

8 0 Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura Painel 3 - Defensivos Agrícolas e sua Relação com Agricultura e Apicultura 8 1
4

Temos realmente possibilidades de integração,


de mitigação, de encontrar caminhos futuros.
Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa

4
Principais Quais as conclusões e desafios?
Como fomentar o diálogo entre agricultura e apicultura?
Conclusões e Desafios
Para encerrar o evento, Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mediou o último painel com a participação dos
mediadores dos diálogos anteriores, além de Silvia Fagnani, vice-presidente executiva do
Sindiveg e Derli Dossa, professor da Universidade Federal do Paraná.

No início do diálogo, cada mediador fez um resumo da discussão dos painéis,


ressaltando alguns pontos de destaque na discussão.

8 2 Painel 1 - Biodiversidade e Agricultura Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 8 3


e no mundo, pode ser uma fragilidade, O Painel 2 também reforçou a importância
Painel 1 pois deixa o sistema completamente Painel 2 do diálogo e a possibilidade de
pela professora Claudia Inês da Silva. dependente de uma única espécie. pelo professor Breno Magalhães Freitas. integração entre agricultura e apicultura.
Apesar dessa aparente disputa ou das
Abre-se, então um campo vasto para declarações de que a agricultura traz
pesquisa e conhecimento de novas possíveis danos para os polinizadores,
espécies que podem ser manejadas é possível conciliar e beneficiar os dois
e criadas também para a polinização, Interação das lados dentro do processo, desde que haja
Biodiversidade (ver figura página 15). Levar e traduzir o Culturas Agrícolas adequação em função de cada cultura e
e Agricultura conhecimento produzido na ciência em e da Polinização de cada sistema de cultivo.
uma linguagem mais acessível e prática
por Abelhas
é, então, um desafio e uma necessidade. Uma proposta realizada inclusive
Esse conhecimento precisa chegar até o durante o debate foi para a criação de
produtor seja na forma de manejo dos manuais de boas práticas para as várias
polinizadores, no manejo da paisagem do culturas. O projeto do Ministério do
entorno para manter esses polinizadores, Meio Ambiente com a FAO e o Banco
O Brasil, conhecido como o celeiro no manejo das colônias e no manejo do Existe esta variação do nível de Mundial, que encerrou em julho/2015,
do mundo, tem uma vocação para solo. dependência da agricultura dos produziu manuais de boas práticas para
a produção agrícola comprovada polinizadores, mais especificamente sete culturas que estavam envolvidas no
pelos dados apresentados pelo das abelhas, conforme função em processo – culturas como a castanha do
Mapa (ver página 13). O uso de novas cada cultura. Algumas culturas são Brasil, melão, caju, maçã, canola, tomate e
tecnologias otimizou as áreas de cultivo, extremamente dependentes, somente algodão.
demonstrando o potencial do país em viáveis se realmente houver o
maximizar a produção sem ter que polinizador, como os casos da maçã
aumentar as áreas de cultivo e do e do melão. Outras culturas, por outro
desenvolvimento da agricultura de uma lado, não são dependentes, mas se
maneira mais sustentável. beneficiam dos polinizadores, mesmo
polinizadores manejados (criados),
A possibilidade de agregar conhecimento tornando o sistema mais amigável
dentro de uma visão multidisciplinar O painel 1 trouxe alguns caminhos também para a atração dos polinizadores
torna-se um ponto de destaque, a fim possíveis de integração entre agricultura nativos e que ocorrem nas redondezas.
de conciliar a produção de alimentos e apicultura. Um importante fator é
com a biodiversidade, ponto bastante a questão da ecologia de paisagem. Outra importante conclusão do painel Outro ponto bastante comentado
discutido. Durante o painel, falou-se Outro ponto de destaque é o manejo é de que o alimento não vai acabar também neste diálogo refere-se à
sobre a importância da biodiversidade e integrado de pragas (MIP) e a sugestão da no mundo pela falta de polinizadores. importância, não apenas da geração
seu impacto na produção de alimentos professora para a proposição do manejo O desafio é que não haja perda na de novos conhecimentos, mas também
no Brasil. No que tange as abelhas, a integrado de polinizadores. produtividade nem consequências do na necessidade da difusão dos
diversidade pode ser bastante benéfica ponto de vista nutricional em culturas conhecimentos que já existem sobre
para a polinização, além de ser um Além disso, avaliar a qualidade dos agrícolas que fornecem os minerais, as como conciliar essa agricultura de
elemento da própria biodiversidade. entornos da manutenção não somente vitaminas e micronutrientes essenciais alta produção com uma polinização
O foco na Apis mellifera, abelha exótica das abelhas nativas, mas também da Apis ao bem-estar humano. Isso porque esses sustentável seja ela por polinizadores
introduzida e que hoje responde pela mellifera que explora os recursos nesses alimentos proveem também plantas ou nativos, seja por polinizadores manejados.
polinização na produção agrícola no Brasil entornos. culturas beneficiadas por polinizadores. Há uma grande gama de conhecimentos

8 4 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 8 5


gerados no Brasil, mas, infelizmente, São dois tópicos extremamente conciliação, conservação, negociação...
esses dados não permeiam os diversos importantes para o país, sendo que os Painel 4 Mas são palavras proativas que mostram
públicos envolvidos, culminando em diferentes atores – não apenas o governo, pelo pesquisador Décio Gazzoni. que nós estamos buscando um caminho
diferentes níveis de conhecimento mas as diversas partes envolvidas de integração, de harmonização, de ação
independente de ser pequeno produtor – têm diferentes necessidades e entre dois processos que são perfeitamente
ou pertencer à academia ou ao setor responsabilidades. integráveis”, refletiu.
produtivo.
A compreensão sobre as diferentes
“Os cases apresentados mostram que temos
São grandes os desafios para conciliar perspectivas atrelada ao conhecimento Conclusões
realmente possibilidades de integração, de
a agricultura com a polinização. Cada de como cada questão funciona é e Desafios mitigação, de encontrar caminhos futuros”,
situação é específica e, por isso, este talvez fundamental para a difícil tarefa de
complementou Décio. Como refletiu Silvia,
seja o maior desafio a enfrentar, uma vez estabelecer políticas públicas e
“todos que estiveram aqui no primeiro e
que cada produtor deve buscar a melhor regulamentação. Foram apresentadas
solução para o processo, dentro da sua diversas iniciativas no caminho da no segundo workshop puderam avaliar
realidade, da sua escala de produção, do integração. A partir do momento em como as discussões amadureceram, a
seu sistema, do ecossistema onde ele está que as iniciativas de cada parte são gente começou o primeiro Workshop
O Painel foi finalizado com um diálogo numa posição de embate. Estávamos
inserido. conhecidas, é possível buscar formas de
se trabalhar juntos. entre os participantes, a fim de fomentar cada um de um lado e agora eu vejo que
os caminhos para uma relação mais estamos todos construindo um diálogo
Mas é importante avançar um pouco mais produtiva entre agricultura e apicultura, e estamos todos caminhando para o
Painel 3 e incluir outras abelhas no discurso. com foco especialmente em proposições mesmo lado, fomentando o diálogo”.
pela professora Roberta C. Ferreira Nocelli. A apicultura tem uma importância muito para a integração.
grande, tanto na questão dos produtos Ações que podem ocorrer na prática
quanto para a polinização. e com o envolvimento de diferentes
atores na questão. Há inúmeros
caminhos, que precisam ser avaliados e
Defensivos Agrícolas discutidos, ampliando a visão dicotômica
e sua Relação com a de alternativas e buscando soluções
Agricultura e Apicultura inovadoras e integradoras. Por exemplo,
uma das proposições discutidas durante o
painel foi a possibilidade de ações técnicas
para a preservação nas áreas adjacentes
às estradas e rodovias, considerando
o que está no Código Florestal em
O desafio é buscar o objetivo comum para Porém, grande parte da polinização relação às APPs (áreas de preservação
a promoção de um diálogo. assistida é baseada na Apis mellifera, mas Como refletiu Décio Gazzoni, avaliando a permanentes) e reserva legal.
não representa a conservação da nossa evolução da discussão até mesmo pelo
O país tem duas vocações natas: biodiversidade. É importante incluir todas desenvolvimento das três edições do Essas soluções, sejam em áreas de
a biodiversidade e a produção agrícola. as espécies de abelhas nos estudos e na evento, é possível encontrar caminhos e cultivo agrícola, sejam no entorno de
Não há condições de dispensar uma ou discussão. cursos para a integração. “Eu ouvi muitas outras localidades, devem levar em conta
outra, não é esse o objetivo. palavras importantes e todas terminadas em os pontos cruciais para a relação mais
‘ão’: educação, conscientização, capacitação,

8 6 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 8 7


“Precisamos tomar cuidado com esse tipo de não tem a cultura ou a praga naquele país
informação de que é banido e aqui é usado. que precisa de determinado produto. Mesmo
É, claro que também não queremos que se quando falamos de situações extremas
tenha produtos que tragam problema para o como banimento é importante considerar
meio ambiente ou para a saúde. A indústria que a agricultura é diferente, as condições
vem pesquisando continuamente para trazer de aplicação são bastante diferentes.
para o mercado cada vez produtos menos Países muito pequenos, com propriedades
tóxicos e mais ambientalmente amigáveis”, muito pequenas, que só tem aplicação por
declarou Silvia. pulverizador costal, não se pode comparar
com uma propriedade como temos no
Como mostram dados da Andef, cerrado, no Centro-Oeste em que temos
produtiva entre agricultura e apicultura, do que o próprio agrotóxico em si”, explicou
citados por Silvia, existe também uma aplicações sem o menor contato com o
bem como a preservação ambiental tão Décio. Dessa forma, é possível destacar
complexidade no desenvolvimento aplicador. Então são realidades diferentes
importante para a biodiversidade e a que, em relação aos defensivos agrícolas,
de novos produtos. “há 30/40 anos se e não podem ser comparadas como já foi
sociedade. Avaliar a questão por meio a discussão deve ocorrer em dois âmbitos:
descobria-se muito mais moléculas, existiam falado pelos representantes do Ibama e do
de conhecimento técnico é fundamental, a composição do defensivo agrícola e
mais produtos para serem descobertos Mapa”, reforçou. A executiva reconhece o
observando, por exemplo, a questão da as técnicas de aplicação. No entanto,
e disponíveis e hoje é muito mais difícil. atraso na aprovação de novos produtos
variedade de plantas que compõem a observando as condições e necessidades
Para se desenvolver uma nova molécula, no Brasil novos produtos no Brasil diante
alimentação das abelhas. Como explicou locais.
atualmente se gasta aproximadamente da morosidade no processo regulatório.
a professora Claudia Inês, com base em
300 milhões de dólares no desenvolvimento Situação que se complica em função da
anos de estudos e pesquisas nas regiões Como pontuou Décio, o “clamour por
de uma molécula e leva-se dez anos. É burocracia, segundo a executiva, não
de cerrado, caatinga e mata atlântica, “tem inseticidas mais seletivos, mais específicos,
muito difícil ter uma molécula nova, apesar pelo conteúdo do processo de avaliação.
plantas chaves para serem mantidas nestas mais dirigidos” é parte da solução que a
das indústrias estarem continuamente “Temos absoluta certeza da importância
áreas de entorno, de cultivo ou de apiário ou indústria está ciente. No entanto, essa
pesquisando e esta pesquisa sempre vem da participação da Agricultura, da Anvisa
de meliponário e isto esta sendo feito não só avaliação deve ser criteriosa e pautada em
em busca de uma maior seletividade, de e do Ibama com essa visão toxicológica,
para as abelhas sociais, mas também para conhecimentos, um dos pontos sensíveis
menor toxicidade, de redução de aplicações”, ambiental ou agronômica do processo
abelhas solitárias. A gente tem descoberto que refletem nos exemplos que muitas
explicou Silvia. regulatório, mas o fato de termos que entrar
e entendido a dependência da interação da vezes permeiam as discussões sobre
em três guichês e filas diferentes, acaba
planta com os polinizadores”. os defensivos. “É importante diferenciar
Para a indústria que investe em pesquisa atrasando muito a aprovação de novos
o produto banido, do produto proibido,
e desenvolvimento, o rigor nos registros produtos”.
Essa relação traz impactos para o uso das do produto suspenso e do produto não
do produto e da aplicação da ciência são
tecnologias de produção e dos defensivos registrado”, reforçou Silvia, ao abordar
pontos chave de efetividade. “É importante
agrícolas, numa atividade extremamente a questão entre dos produtos banidos
que uma nova legislação seja tão ou mais
importante que é a agricultura. “A espécie fora do País e que são permitidos aqui
rigorosa do que a atual e que leve em
humana não sobrevive sem agricultura”, no Brasil, segundo a representante
consideração a avaliação de risco”, declarou
avaliou Claudia Inês. do Sindiveg, muitas vezes baseada no
Silvia, ao mencionar o movimento por um
desconhecimento sobre o tema.
novo marco regulatório.
“Na relação agricultura e apicultura, não
temos apenas o agrotóxico, mas a forma A questão da evolução, qualidade e
“Muitas vezes não se tem o produto
de colocá-lo. A tecnologia da aplicação por saudabilidade dos produtos é uma das
registrado num determinado país porque
vezes é muito mais importante e mais crítica grandes prioridades da própria indústria.

8 8 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 8 9


Na integração entre a agricultura e
apicultura, o conhecimento sobre os
polinizadores seria uma grande evolução
ao processo. “O primeiro problema
que temos hoje é exatamente a falta de
qualificação tanto dos nossos produtores
agrícolas, nesse aspecto da polinização,
quanto do apicultor. Os apicultores
brasileiros falam que as abelhas são
importantes polinizadores e pronto. Conta-
Nossa ideia é estar cada se talvez no dedo o que saiba um pouco
vez mais perto e é o além disso. Muitos, na verdade, também
carecem de técnicas para trabalhar com as
papel da entidade aproximar
Segundo a executiva, pela lei, o tempo e seus avanços podem ser bastante colmeias”, avaliou Breno. “É necessário que
de aprovação de registro de um benéficos para o bom uso da tecnologia,
agricultura incluindo os o próprio produtor inclua isso (a polinização)
produto levaria em torno de 120 dias. para a integração com outras atividades, setores de insumo e a indústria dentro do seu sistema de produção. Se
No entanto, pela fila de produtos em como a apicultura, e para o ecossistema de defensivos agrícolas, aquela abelha que poliniza bem a cultura,
aprovação de registro, tem levado de 5 como um todo. fizer ninho no solo e evitar revolver o
a apicultura, o governo,
a 7 anos hoje em dia, mas esse prazo solo desnecessariamente, o produtor vai
especialmente neste assunto fazer todas as medidas e as boas práticas
pode aumentar. Por isso, a executiva Como apontou o professor Décio Gazzoni,
alerta para a necessidade de revisão e “os avanços possíveis com tecnologia de o Ministério da Agricultura e o amigáveis para aquele polinizador”.
atualização do sistema de registro, pois controle, tecnologia embarcada, Ibama, e também a academia “Por outro lado, nosso apicultor teria que se
esse prazo poderia aumentar muito se a possibilidade de acompanhar todo porque a gente defende que qualificar também porque polinização não
não houver mudanças que facilitem o trajeto do avião o tempo todo por GPS e é chegar lá e colocar só as abelhas, tem que
sempre a ciência venha para
processo. “Num cálculo bastante simplista, mapas permite um controle muito grande”, fazer o manejo adequado”, ressaltou.
a ANVISA tem capacidade de analisar em exemplificando apenas algumas das
discussão e é importante
torno 130 pedidos de aprovação por ano. alternativas para uma melhor gestão que todas as avaliações e A conscientização de todos os atores e a
Neste sentido, levando-se em consideração que possibilite a relação mais produtiva. reavaliações sejam baseadas abertura para diálogo são cruciais para
o número de processos na fila, um pedido “A tecnologia embarcada vai fazer nos construir essa relação mais produtiva.
em ciência.
de aprovação que entra hoje sairia daqui a próximos anos, o quanto a gente pode “Nossa ideia é estar cada vez mais perto e é
Silvia Fagnani, Sindiveg o papel da entidade aproximar agricultura
17 anos. Portanto, o sindicato e as nossas reduzir de perigo e de risco nas aplicações”,
entidades parceiras vem trabalhando em refletiu Décio. “Todos esses processos, incluindo os setores de insumo e a indústria
busca de um aprimoramento da legislação, inclusive a importância de mitigação, podem de defensivos agrícolas, a apicultura, o
que já é bastante rigorosa, e não queremos ser resolvidos justamente por melhorias fundamental para garantir o melhor uso governo, especialmente neste assunto o
tirar esse rigor. O que nós temos buscado é tecnológicas na tecnologia de aplicação”, da tecnologia. “O nosso desafio é fazer com Ministério da Agricultura e o Ibama, e
uma simplificação do processo”, declarou complementou. o que seja produzido ou toda solução que também a academia porque a gente defende
Silvia. seja encontrada possa alcançar todo mundo que sempre a ciência venha para discussão
A conscientização e capacitação das de todas as áreas envolvidas”, declarou a e é importante que todas as avaliações e
O foco não deve ser apenas o produto em pessoas no campo para as boas práticas professora Roberta. reavaliações sejam baseadas em ciência”,
si, mas também na tecnologia de aplicação no campo constituiu um elemento f concluiu Silvia.

9 0 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 9 1


O crescimento e a eficiência da agricultura brasileira vem da conjunção de fatores, como mostra

O mundo rural brasileiro – o que mudou? a análise das variáveis envolvidas na produtividade, apresentada pelo professor.

Uma síntese dos desafios da agricultura. VARIÁVEIS 1995/96 (%) 2006 (%)
Derli Dossa, professor da Universidade do Paraná TRABALHO 31,3 22,3
TERRA 18,1 9,6
TECNOLOGIA 50,6 68,1
TOTAL 100,0 100,0

Nesse sentido, é importante observar o tamanho crescente do destino de exportações do Brasil,


considerando países da Ásia, como China e Japão, e Oriente Médio. Considerando o superávit na
balança comercial de agricultura (em bilhões).
Entre 1995 e 1996, o fator “trabalho”
correspondia por 31%. Já em 2006 22%. “Isso
aqui é o êxodo rural, o trabalho não tem mais
importância porque ninguém fica no campo”.
O fator “terra” de 18% cai para 9.6%. “Isso em
Segundo o professor, a redução de preços da cesta básica de alimentos no Brasil no período
2006, avançando isso é mais preocupante , pois
de 75 anos é uma consequência do modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira.
no censo 2006 tínhamos 14.6% da população no
Em um período de 75 anos, o preço da cesta básica de alimentos no Brasil reduziu 52% (segundo
campo”, avaliou. “Em contra partida, a tecnologia
os dados do DIEESE até 2010). Essa redução de preços, segundo o especialista, é consequência
sai de 50 para 68%”, evidenciou o professor
do modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira implementada.
em relação ao papel das técnicas para a
produtividade dentro da realidade brasileira.
A agricultura brasileira exporta para aproximadamente 200 países do mundo, sendo de
“Os 46 centros de pesquisas da Embrapa mais
fundamental importância para a economia do País. Por isso, torna-se fundamental compreender
as 18 unidades estaduais de pesquisa como o
o cenário e os desafios que estão pela frente. “A agricultura brasileira é tão importante quanto a
Instituto Agronômico de Campinas - IAC, por
FIFA hoje a nível internacional, e a agricultura brasileira tem mercado (...) dependendo do produto o
exemplo, tem uma grande chance de continuar
Brasil é primeiro produtor, segundo produtor dos principais produtos”, declarou Dossa.
Derli Dossa, fazendo o desenvolvimento”, reforçou a
“A rentabilidade das exportações brasileiras é positiva porque o Brasil foi competente”, complementou. professor da Universidade do Paraná
integração de diversas fontes de conhecimento.

“A balança comercial brasileira tem a tendência de continuar crescendo”, acredita o professor.


Nesse sentido, o professor também vê a apicultura como aliada, pois pode ajudar a otimizar a
Com base em dados da FAO, o Brasil hoje é o quarto produtor mundial de alimentos, mas é o
produtividade. “Por isso, eu aposto mais, por exemplo, na produção da apicultura porque você pode
segundo exportador. “Em 2030, pelas projeções, o Brasil será o primeiro exportador mundial de
produzir mesmo em uma pequena área desde que utilize os fatores de produção convenientemente
alimentos. e então, é irreversível esta tendência e temos que considerar isso neste equilíbrio técnico,
você tem renda”, explicou. “Tem que ter tecnologia, tem que ter competência, tem que ter capacitação,
econômico e ambiental”, afirmou. “O Brasil do ponto de vista de agricultura é altamente eficiente”,
tem que ter treinamento, mas precisamos de pessoas que tenham fundamentalmente capacidade de
afirmou. O Brasil tem um mercado futuro muito grande e nós temos área disponível sim”.
gerir o novo modelo que está aí. O Brasil esta destinado realmente no futuro a ser o celeiro do mundo”,
concluiu.
O desafio é “desenvolver tecnologia para continuar fazendo o manejo integrado de pragas, diante das
algumas adversidades, por exemplo: a monetarização no campo, o êxodo rural, a concentração de
renda e de produção e, consequentemente, a importância dos recursos financeiros que sustentem mais
pessoas no campo”, explicou. Observação: Conteúdo elaborado com base na apresentação do especialista durante o evento.

9 2 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 9 3


MAPA GRÁFICO DAS Complementariedade
DISCUSSÕES DO PAINEL 4 Aplicação:
do defensivo e da
polinização
tecnologias de
Formalização dos controle e
apicultores capacitação

MANEJO INTEGRADO
DE PRAGAS (MIP)
Importância
da qualidade dos Qualificação de
entornos com foco apicultores Melhoria contínua
em abelhas em produto
manejadas e
silvestres
PROFISSIONALIZAÇÃO
DO MANEJO DE
POLINIZADORES

Equiparação
• Corredores verdes USO RACIONAL
entre composição
• Plantas melíferas DE DEFENSIVOS
do produto,
• Estradas e vias marginais VERSUS CONDIÇÕES E
NECESSIDADES LOCAIS cultura, ambiente
• Código Florestal e APPs e abelhas
VISÃO SISTÊMICA DE
BIODIVERSIDADE

Educação e
conscientização
RELAÇÃO MAIS
PRODUTIVA
Manejo AGRICULTURA-
da polinização APICULTURA

Manejo de
paisagem
de entorno
DIFUSÃO DE
CONHECIMENTO INCLUSÃO DA
SOBRE POLINIZAÇÃO APICULTURA NA
E ABELHAS CADEIA DE VALOR
AGRICOLA Polinização como
fator de produção
agrícola

Manejo MECANISMOS DE
de colônias REGULAMENTAÇÃO
Diversificação
no uso de abelhas
em serviço de
polinização Valorização
Conhecimento das abelhas e
Adequação do teórico aplicado polinização nas
manejo agrícola e práticas agrícolas
apícola a culturas e uso de
beneficiadas ou defensivos
dependentes • Consorciamento:
Desenvolvimento de
conhecimento sobre
espécies e aplicabilidade
às culturas

9 4 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 9 5


SINDIVEG LANÇA MANIFESTO
PARA A INTEGRAÇÃO ENTRE
MANIFESTO
INTEGRAÇÃO
AGRICULTURA E APICULTURA AGRICULTURA
APICULTURA

Durante a terceira edição do workshop agricultura-apicultura, o Sindiveg lançou o


Manifesto para a Integração entre agricultura e apicultura. Ao reconhecer seu papel na
construção de uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura e em proteger
as abelhas, o Sindiveg quer ser reconhecido como incentivador do diálogo entre
agricultores e apicultores, visto que introduz no campo um produto que deve ser usado
para proteger as culturas.

Lançar este manifesto é o ato simbólico de declarar seu papel de incentivador do diálogo
como caminho mais efetivo para a colaboração e construção de soluções para uma
relação mais produtiva.

O workshop já é um passo inicial nessa direção, pois busca estabelecer um diálogo entre
Silvia Fagnani, Sindiveg, lança Manifesto. as partes. O manifesto representa, então, uma carta de intenções e um convite para
que todos os envolvidos participem do diálogo, compartilhem do mesmo objetivo e se
Colocar as intenções no papel e registrar nosso objetivo de estimular o diálogo tornem parceiros nessa construção coletiva e da busca por soluções integradoras.
entre os setores de agricultura, apicultura, defensivos agrícolas, governo e
academia. Nosso manifesto é a declaração pública da nossa crença de que A missão é promover o uso correto de defensivos agrícolas na agricultura brasileira
a colaboração é o melhor caminho para a construção de uma relação mais para proteger os cultivos e contribuir na garantia do direito básico de alimentação das
produtiva, protegendo as abelhas e o meio ambiente. pessoas, respeitando a apicultura, protegendo as abelhas e o meio ambiente.

Porque colaborar é construir juntos ao assumirmos uma atitude proativa diante


do desafio. Mais do que colocar argumentos em oposição, é procurar pontos de
convergências e alternativas viáveis para as partes envolvidas.

É suspender o julgamento para criar pontes de empatia, apresentando o seu


ponto de vista e entendendo a perspectiva do outro. É ampliar a compreensão
das circunstâncias e das necessidades para buscar alternativas comuns,
pois acreditamos que o resultado da soma dos nossos esforços será muito maior
do que posições opostas. A colaboração nos leva a buscar novas formas de diálogo
e convivência para construir soluções que, com certeza, serão muito melhores e
mais produtivas.

9 6 Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios


OS ESFORÇOS, DECISÕES E AÇÕES DECLARADOS NO MANIFESTO SÃO PARA ALCANÇAR ESSE PROPÓSITO,
NORTEADAS POR CINCO PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE BALIZAM NOSSA ESTABELECEMOS CINCO BANDEIRAS DE
CONDUTA E LEGITIMAM NOSSAS INTENÇÕES: PRIORIDADES, QUE DARÃO FOCO
À NOSSAS AÇÕES:

1
Acreditamosnacomplementariedadeentreatecnologiadedefesaagrícolaeapolinização

1
realizadapelasabelhasparagarantiraqualidadedofrutoeobeneficiamentodaprodutividade
agrícola.Acreditamosqueépossívelconciliardesenvolvimentoagrícolacompreservaçãoda
Relação Mais Produtiva entre Agricultura e Apicultura: Consolidar a importância da
biodiversidade.
agriculturaparaaapicultura*evice-versa,pormeiodaconstruçãodeumarelaçãoganha-
ganhaentreagricultoreapicultor*,valorizandoapolinizaçãorealizadaporabelhaseosserviços

2
comerciais de polinização.
Defendemosousoracional,corretoeresponsáveldosdefensivosagrícolasdemodoagarantira
eficáciadosnossosprodutosnaproteçãodasculturasagrícolassemcausaraperdadeabelhas

2
ecolmeias.Ousoincorretodedefensivosagrícolasdevesercombatidoporqueconfiguraum
risconãosóàsabelhas,masparaasegurançadepessoasedomeioambiente.
A abelha no âmbito da agricultura, do defensivo agrícola e da biodiversidade: Desenvolver
edisseminarconhecimentoprofundosobreainteraçãoentreasabelhas,aagriculturaeouso

3
de defensivos agrícolas.

AcreditamosqueoonevoicedosetorsedánasaçõescombinadasentreoentreoSindivegeas
ações individuais de suas associadas.

3 Complementariedade entre a tecnologia de defesa agrícola e a polinização realizada


pelasabelhas:Criarmecanismoscustomizadosdeproteçãodasabelhas,deacordocomataxa

4
de dependência e polinização das culturas agrícolas.
Acreditamosquepodemosservirdeestímuloemtodaacadeiaprodutiva,envolvendo
distribuidores,revendasecooperativas,demodoquecadaumtambémreconheçaaimportância
desuasaçõesnopropósitodeprotegerasculturasagrícolassemcausarprejuízosàsabelhas.

4
Conscientização da cadeia produtiva da importância da integração agricultura-apicultura:
Engajaracadeiaprodutiva(envolvendoequipesdemarketingevendas,distribuidores,revenda

5
ecooperativas)paragarantiraorientaçãoparaaaplicaçãocorreta,minimizandodanosà
Acreditamosqueasaçõesmaisbemsucedidas,tantodeconscientizaçãoquantodediálogo,
polinização e às abelhas.
devemsemprealiaroterritóriocomumentredefensivosagrícolas,agriculturaeapicultura,
bemcomoteoriaepráticaporqueassimsãomaiscríveiseúteis,trazendoganhosreaispara
todas as partes envolvidas.

5
Transparência e proatividade na relação com o Governo em prol do uso correto de
defensivosagrícolasedeproteçãodasabelhas:Colaborarnacriaçãodemecanismosde
regulamentaçãoparaaproteçãoesegurançadaspessoas,domeioambienteedasabelhas.

*OProjetoColmeiaVivaconsideraaApiculturacomotodaatividadeemanejodeabelhasnativaseexóticas,
incluindo a Apis mellifera bem como a Meliponicultura.

Painel 4 - Principais Conclusões e Desafios 9 9


SESSÃO DE
GT COLMEIA VIVA

Ana Paula Gomes (Basf), Adriana Ricci (Bayer)


e Comunicação Sindiveg (Mariana Custódio e
FOTOS PAINEL 1

Juliana Cruz) José Aragão (CBA), Augusto Billi (Mapa), Silvia Fagnani (Sindiveg), Claudia Inês da Silva
(Universidade Federal do Ceará), Karina Cham (Ibama) e Rodrigo Brito (CNA).

Rodrigo Pifano (Basf), Fabio Kagi (Andef), Claudia


Barreto (Arysta), Luiz Dinnouti (Syngenta), Silvia Fagnani
(Sindiveg), Mariana Custódio (Sindiveg), Claudia
Quaglierini (Bayer), Osmar Malaspina (Unesp/Rio
Claro), Elaine Basso (Sindiveg), Juliana Cruz (Sindiveg),
Roberta Nocelli (UFSCar), Edmur Figueiredo (Sindiveg),
Paula Arigoni (Sindiveg), Lidia Santos (Sindiveg), Rafael
Ferreira (Syngenta), Ana Paula Gomes (Basf).

PAINEL 2

Marcelo Miranda (Fundecitrus), Nésio Fernandes (Câmara Setorial do Mel e FAASC), Silvia
GT COLMEIA VIVA GT COLMEIA VIVA Fagnani (Sindiveg), Breno Freitas (Universidade Federal do Ceará), Cristiano Menezes
(Embrapa) e Tom Prado (produtor de frutas e criador de abelhas Apis).

1 0 0 Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura 1 0 1
PAINEL 3

Lidia Barreto (CBA), Julio Britto (Mapa), Osmar Malaspina (Unesp/Rio Claro), Silvia
Projeto
Fagnani (Sindiveg), Ulisses Antuniassi (Unesp/Botucatu), Paula Arigoni (Sindiveg),
Marcio Freitas (Ibama) e Roberta Nocelli (UFSCar).

www.projetocolmeiaviva.org.br

PAINEL 4

Silvia Fagnani (Sindiveg), Décio Gazzoni (Embrapa), mediador do Painel 4, e os mediadores


dos paineis anteriores Claudia Inês (Universidade Federal do Ceará), Breno Freitas
(Universidade Federal do Paraná), Roberta Nocelli (UFSCar) e Derli Dossa (Universidade
Federal do Paraná).

1 02 Relação mais produtiva - Agricultura & Apicultura

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