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Medindo o nível do sinal de redes sem fio

Adelson Portela1, Adyson Moreira1, Daiane Miranda1, Elias Marinho1, Cristiele Pimentel1
1
Universidade Federal do Oeste do Pará – Santarém-PA
{Adelson.m.portela, adyson_sm, danemiranda_stm, Elias_marinho, cristiele_pimentel}@hotmail.com

Resumo. Este estudo de caso visa demonstrar uma análise da rede sem fio da LBA (The
Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia), no campus Sede da UFOPA
(Universidade Federal do Oeste do Pará). A análise do sinal da rede será feito através de
software específico para monitoramento de nível de sinal Wi-Fi (Wireless Fidelity), o
WirelessMon. O ambiente de estudo de propagação da onda eletromagnética é bastante
adverso. Observam-se diversos obstáculos, como: árvores, sombra, paredes e outros fatores
que dificultam a transmissão do sinal sem fio. Ao final deste artigo será mostrada a
variação do nível de transmissão de acordo com a distância do receptor para o ponto de
acesso (AP), a variação causada no tempo de resposta e a perda de pacotes para uma
requisição ping, assim como resultados da potência e taxa de transmissão em diferentes
pontos da área de alcance da rede.

1. Introdução
As redes sem fio baseadas no padrão 802.11 da IEEE (Institute of Electrical and Electronic
Engineers), também conhecidas com WI-FI, estão cada vez mais presentes, nos mais diversos locais
como empresas, faculdades, lanchonetes, aeroportos e residências. O rápido aumento em sua
utilização é resultado de diversos fatores, dentre eles, o baixo custo na aquisição de equipamento,
tanto para instalação da rede quanto de acesso móvel. Outro fator é a mobilidade e flexibilidade que
estas redes proporcionam para os dispositivos de acesso móvel, evitando o uso de cabos e alterações
na estrutura do ambiente, furos nas paredes.
A popularização das redes Wi-Fi trouxe consigo preocupações e problemas, principalmente
quanto à interferência no sinal de transmissão. Devido à facilidade de aquisição e configuração de
pontos de acesso para redes sem fio, muitas pessoas passaram a utilizar esse tipo de rede, até
mesmo nas suas residências. Com esse grande aumento no número de redes sem fio a faixa de
freqüência considerada livre acabou por se tornar pequena e as redes acabam por interferir umas nas
outras. A interferência entre as redes se agrava ainda mais devido usuários que não tem os
conhecimentos necessários nesse assunto e configuram uma faixa de freqüência que já está sendo
utilizada próxima ao seu AP.
Um ponto que vale destacar ao aderir à rede sem fio é a dependência do ambiente em que a
onda eletromagnética, irá se propagar. Esse tipo de rede possui muitas variações na transmissão,
dependendo dos obstáculos e das interferências que o sinal de transmissão pode encontrar entre o
ponto de acesso (AP - Access Point) e o usuário da rede.
Neste artigo será apresentada uma breve descrição sobre redes sem fio Wi-Fi, assim como
seus padrões, faixas de freqüência e principais obstáculos que causam interferência na transmissão
do sinal na rede, além dos resultados encontrados na análise da rede sem fio da LBA.

2. Redes sem fio


As redes sem fio também conhecidas como WLAN estão tornando-se cada vez mais populares por
permitirem, principalmente, a mobilidade. O padrão mais difundido de redes sem fio é o 802.11,
também chamado de Wi-Fi, desenvolvido pela IEEE, a qual se constitui por um conjunto de normas
e protocolos. As normas da IEEE para redes sem fio definem freqüência e outros fatores.
Sabe-se que o meio de propagação da onda eletromagnética é o ar, e não diferente de outras
redes de computadores, a transmissão da informação encontra em seu caminho obstáculos que
podem dificultar a propagação do sinal. Os obstáculos são diversos, pode ser simplesmente uma
pessoa no caminho entre o AP e um utilizador da rede, outra rede na mesma freqüência, árvores,
intempéries dentre outros.

2.1. Padrões e Freqüência


A ANATEL é responsável no loteamento das faixas de freqüência, quanto sua necessidade de
licença ou não [7]. Faixas autorizadas ao uso WLAN não necessitam de licença, denomina-se para
esta de bandas ISM (Industrial Scientifical and Medical). Nestas faixas operam sistemas com
tecnologia de espalhamento espectral ou OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing). A
Figura 1 abaixo representa as faixas onde operam os principais sistemas sem fios.

Figura 1: faixas de freqüência de padrões de rede sem fio, WiMAX e Wi-Fi.


As redes WLAN são caracterizadas por operarem na faixa entre 2,4 GHz e 5 GHz. A IEEE
criou padrões de protocolos, definindo um conjunto de normas para redes sem fio da família IEEE
802.11, cada padrão trabalha em determinada freqüência, com características próprias. A seguir é
apresentado o Quadro 01, comparando os principais padrões e suas características [6]:

Padrão Taxa de Bits Alcance interno Frequência Compatibilidade Tecnologia

802.11 Até 2 Mbps 100 metros 2.4GHz 802.11 DSS-OFMD

802.11a Até 54 Mbps 25 a 100 metros 5GHz 802.11a OFDM

802.11b Até 11 Mbps 100 a 150 metros 2.4GHz 802.11g DSSS

802.11g Até 54 Mbps 100 a 150 metros 2.4GHZ 802.11b DSS-OFMD

Tabela 1: padrões de redes sem fio da IEEE

Devido o enfoque deste trabalho ser redes 802.11b e 802.11g, os outros padrões não serão
detalhados neste artigo.
• IEEE 802. 11b
Essa camada utiliza espalhamento espectral por seqüência direta usando transmissão aberta
(broadcast) de radio. No Brasil, opera na freqüência de 2,4000 à 2,4835 GHz no total de 14 canais,
sendo 11 canais distintos e 3 sem sobreposição [6].
• IEEE 802. 11g
Totalmente compatível com padrão IEEE 802. 11b, opera na mesma faixa de freqüência 2.4
GHz e possui a mesma quantidade de canais. Sendo usada modulação “Orthogonal Frequency
Division Multipexing” – OFDM [6].

2.2. Propagação
A propagação é um modo de transmissão de energia ao longo do meio. Há quatro fenômenos
básicos de propagação, que ocorre tanto em ambientes abertos quanto fechados [2].
• Reflexão - Ocorre quando as ondas eletromagnéticas encontram obstáculos maiores que seu
comprimento de onda, os raios podem interferir com o raio direto construtivamente ou
destrutivamente no receptor.
• Difração - Acontece quando a onda eletromagnética é obstruída por uma barreira, impedindo
a passagem de transmissão de sinal entre transmissor e receptor.
• Dispersão ou espalhamento - Existe quando a onda eletromagnética depara-se com
obstáculos com mesma ordem de grandeza ou menores, obedecendo ao mesmo princípio
físico da difração espalhando atenuação do sinal de transmissão em diversas direções.
• Refração – Atmosfera tem propriedades de causar uma atenuação em sinal devido à presença
de gases e micro partículas de água. Além disso, é responsável modificações de direção de
propagação, provocadas pela variação do seu índice reflexão.

2.3. Ambientes de propagação e interferências


O ambiente de propagação esta relacionado com tipo de construção e com mobiliária, por exemplo: se
em uma sala há diversas janelas, paredes de alvenaria ou madeira, se existem outras redes sem fio, se há
interferências gerada devido outros equipamentos – microondas, celulares. A existência de vegetação
no caminho das ondas também é uma preocupação do ambiente de propagação. Abaixo o Quadro 01
mostra atenuação de obstáculos de microondas de 2,4GHz.

Obstáculos Atenuação
Parede de madeira sólida 6 dB
Divisoria de escritório com janela de vidro 4 dB
“Tijolo 3,5” 6 dB
“Parede de concreto 18” 18 dB
Corpo humano 13dB
Quadro 1: obstáculos e suas respectivas atenuações do sinal
Além da construção e outros fatores de ambiente que causam interferência e perda de
pacotes, também existem, atualmente, diversos aparelhos que utilizam a freqüência de 2.4 GHz que
é a mesma freqüência dos padrões 802.11 b, g e n de redes Wi-Fi da IEEE.
Quando se utiliza diversos aparelhos que transmitem sinais na mesma faixa de freqüência o
risco de que um aparelho atrapalhe na transmissão de sinal do outro é notável, fazendo com que
nenhum deles funcione corretamente.
Em redes sem fio o problema de interferência é extremante comum, devido à faixa 2.4 GHz
ser muito usada, pois além de aparelhos como telefones sem fio as redes podem causar interferência
umas nas outras se não estiverem bem configuradas. Fazendo uma analogia com trânsito, essa
situação poderia ser entendida como uma via de mão única que começa a receber um enorme fluxo
de carros, alguns veículos podem até chegar ao destino mais uma grande parte, dependendo do
fluxo, acaba sofrendo acidentes, ou seja, perda de dados.

3. Metodologia e ferramenta
Para a elaboração deste trabalho foi analisado a WLAN da LBA, denominada LBA-NavegaPara. O
sinal desta rede é transmitido por um roteador TP-Link modelo TL-WR642G, com uma antena de 5
dbi e força de 17 dbm, localizado dentro de uma sala com paredes de concreto e janela de vidro, que
permanentemente encontra-se fechada. Para captura do sinal foi utilizado um laptop HP Pavilion
modelo dv6917cl, com uma placa de rede Atheros AR5006x.
De acordo com o fabricante o alcance do ponto de acesso pode chegar à até 300 metros em
campo aberto. Apesar da distancia que o sinal pode alcançar em campo aberto, foi decido que a
distância entre os pontos seria de 10 ou 20 metros por haver muitos obstáculos no local.
Na análise do nível de sinal foi utilizada a ferramenta WirelessMon, em sua versão trial, que
é uma ferramenta muito poderosa no monitoramento de redes sem fio. Como o objetivo deste
trabalho não é falar sobre o WirelessMon, não iremos nos concentrar no software, e sim nos
resultados obtidos através dele.

Figura 02: imagem do software de monitoramento de redes WirelessMon

Para analisar as alterações no nível do sinal foram demarcados 12 pontos em três diferentes
direções. Vale ressaltar que entre os pontos 6 e 7 a distância é de 20 metros por não haver
possibilidade de utilizar a metodologia padrão. Na avaliação de perda de pacotes e o atraso na
transmissão foi utilizado o comando ping –n 100 64.233.163.104, que envia 100 pacotes de ping, de
32 bytes cada, para a página 64.233.163.104. O estudo foi tido em horários e datas diferentes,
tabelas 3 e 4, retirando assim uma média nos dados. Vale ressaltar que a área estudada é um bosque
com muitas árvores altas, porém não apresenta vegetação de baixa ou média altura. A figura 2
mostra um esboço do mapa do local em que o estudo foi realizado.

Figura 03: Figura ilustrativa do local e dos pontos Analisados

4. Resultados
A primeira análise foi realizada na sexta-feira, dia 14 de maio de 2010, com início as 12h:00min e
término 12h:35min . Os resultados do primeiro estudo estão apresentados na tabela 02. Os números
apresentados na coluna Ponto das tabelas 3 e 4 se referem aos pontos mostrados no mapa. A coluna
Distância das tabelas mostra a distância entre o AP e o laptop. As últimas colunas mostram o
percentual de pacotes perdidos, ou seja, que não tiveram a confirmação de recebimento, o nível do
sinal em decibéis e seu percentual. O gráfico 01 apresenta os atrasos de resposta mínimo, médio e
máximo, medidos em milissegundos, dos pacotes enviados pelo comando ping, onde o eixo y
mostra o atraso e o eixo x mostra os pontos da medição.
Ponto Distância Perda de pacotes Nível do Sinal em Nível do Sinal em
(%) (dbm) (%)

1 10 m 11 -42 55
2 20 m 3 -61 33
3 30 m 10 -67 29
4 40 m 15 -75 18
5 10 m 9 -53 46
6 20 m 6 -67 29
7 40 m 3 -74 20
8 10 m 8 -55 43
9 20 m 1 -60 37
10 30 m 6 -70 25
11 40 m 7 -75 18
12 50 m 2 -80 12
Tabela 02: Resultados da primeira análise da rede LBA-NavegaPara

Gráfico 01: gráfico relativo aos atrasos de respostas de cada ponto da tabela 02

Os resultados conseguidos com a primeira análise nos permitiram chegar a algumas


conclusões. Primeiramente, pode ser observado que a partir de distâncias acima de 40 metros do
ponto de acesso o percentual do nível do sinal fica abaixo de 20%, o que para algumas placas de
redes sem fio não permitiria mais a conectividade. Foi possível notar que alguns pontos
apresentaram taxas de atraso e perda de pacotes, muito altas em comparação com outros, o que
mostra que esses pontos devem sofrer maiores interferências.
Para garantir a confiabilidade dos resultados obtidos na primeira análise tornou-se
necessário uma segunda avaliação. O resultado dessa segunda análise da rede está apresentado na
tabela 4. A segunda análise foi realizada no domingo, dia 16 de maio de 2010, ás 17 horas, com
duração de 30 minutos.

Ponto Distância Perda de pacotes Nível do Sinal em Nível do Sinal em


(%) dbm (%)
1 10 m 11 -55 43
2 20 m 4 -62 35
3 30 m 1 -69 26
4 40 m 2 -75 18
5 10 m 4 -58 40
6 20 m 5 -70 25
7 40 m 6 -75 18
8 10 m 3 -57 41
9 20 m 2 -63 33
10 30 m 3 -63 35
11 40 m 4 -77 36
12 50 m 2 -72 22
Tabela 03: Resultados da segunda análise da rede LBA-NavegaPara

Gráfico 02: gráfico que apresenta os atrasos de resposta de cada ponto da tabela 03
Após as duas análises constatou-se que mesmo perto do ponto de acesso o atraso de resposta
e a perda de pacotes são considerados altos, em comparação com outros pontos definidos nesse
trabalho, que estão mais distantes do AP.
Outro ponto que pode ser destacado através da comparação entre as duas tabelas e os dois
graficos é que na analise realizada na sexta-feira, durante um período de funcionamento da
universidade, houve mais perda de pacotes e atrasos que a realizada no domingo, quando não à
expediente. A partir dessa avaliação nota-se que tanto as pessoas que transitam no local quanto
outros equipamentos que estão conectados há rede podem interferir no sinal.

Conclusão
Após a elaboração deste artigo tornou-se possível perceber os erros causados por redes sem fio mal
configuradas e administradas. Foi possível entender que existem diversos fatores que podem causar
interferência em redes sem fio.
As duas análises apresentam resultados parecidos, demonstrando que apesar do aumento da
distância entre o AP e o laptop, não houve grandes aumentos no atraso e perda de pacotes. Ao
utilizar o software é possível perceber que esse fator ocorre por haver outro ponto de acesso
próximo, geograficamente, ao AP da LBA. Essa outra rede utiliza a mesma freqüência e o mesmo
canal da rede LBA-NavegaPara. Os primeiros pontos estavam próximo aos dois AP`s, dessa forma
o nível de sinal das duas rede era maior, causando maior interferência e perda de pacotes.
A partir desse artigo foi possível entender que mesmo sendo fáceis de configurar uma rede
sem fio, é necessário levar em conta os diversos fatores do ambiente, tanto os objetos que estão no
caminho do sinal quanto a outros aparelhos e redes que utilizam a mesma freqüência. Pois mesmo
que o AP possa transmitir o sinal até 300 metros em campo aberto, no ambiente apresentado esse
sinal chegava à 40 ou 50 metros com um nível considerado muito baixo.

Referências

[1] MORAIS, Milton Roberto, Mecanismo de Identificação Dinâmica da 1


Atenuação de Obstáculos para Localiza de Estações em Redes sem Fios IEEE 802.11.
Disponível em <http://guaiba.ulbra.tche.br/si/content/tcc/tccI_2007_2/trabalho_milton.pdf> Acesso
em 17 maio de 2010.

[2] FREIXO, Paulo Cezar da Cruz, Modelos e Planeamento para WLAN. Disponível em
<http://www.deetc.isel.ipl.pt/sistemastele/Projecto/2003_2004/WLAN/Relat
%C3%B3rio_Paulo_Freixo.pdf> Acesso em 17 de maio de 2010.

[3] TANEMBAUM, Andrew S. Redes de Computadores São Paulo: Makron 2003.

[4] SOARES, Luiz Fernando G. Redes de Computadores: Lans, Man, Wans, as redes ATM/
Luiz Fernando Gomes Soares, Guido Lemos e Sérgio Colcher- 2 Ed. Rav. e aplicada – Rio de
Janeiro- Canaus, 1995.

[5] KUROSE, James F. Redes de computadores e a internet: uma abordagem top-


down. 3.ed. São Paulo: Pearson, 2006.

[6] Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE). IEEE Std 802.11 (ISO/IEC
802.11: 1999).

Disponível em: <http://standards.ieee.org./> Acesso em 17 de maio de 2010.

[7] Disponível em < http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do>


Acesso em 17 de maio de 2010

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