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Mente de Entretenimento
De acordo com a psicologia budista, a distração é
classificada, juntamente com coisas tal como preguiça e
falta de atenção, como um dos vinte fatores
desestabilizadores da mente. Em sânscrito, esse fator é
chamado vikshepa. Ela surge quando o fluxo natural das
perceções sensoriais se mistura e contamina-se com as
nossas emoções. Em outras palavras, a distração é
alimentada pelos suspeitos de costume: apego, rejeição e
negação. Então distração não é apenas um tique mental. É
altamente emocional.
Embora vikshepa seja muitas vezes traduzido como
“distração” ou “vagueio mental”, refere-se mais
especificamente à mente vagueante sendo atraída para
objetos que causam a perda da sua capacidade de se manter
exclusivamente focada na virtude. Portanto, este termo
aponta para um tipo específico de distração – distração por
não manter sua atenção no que é importante, o que é
genuíno e virtuoso.
Aprender a puxar a nossa mente quando está vagueando é
uma abordagem reativa: nós estamos aprendendo a como
responder às distrações. Mas à medida que mais facilmente
respondemos às distrações externas, descobrimos uma
ainda mais gigantesca montanha de distração interna.
Começamos a perceber que não é apenas uma questão de
reação a algo fora de nós – nós próprios estamos
continuamente criando distrações. Nós achamos que
precisamos de distrações, pelo que continuamente as
cozinhamos e alimentamos. Elas são as nossas
companheiras, os nossos animais de estimação.
Chögyam Trungpa Rinpoche chamou à nossa contínua
distração interna de “fofocas do subconsciente”, uma
espécie de contínuo zumbido de fragmentos e opiniões do
pensamento. Com isso, ele falou sobre o que ele chamou de
“mente de entretenimento.” Esta mente de entretenimento
precisa ser alimentada constantemente. Se não tiver
distrações imediatas, ela vai fabricar novas distrações na
hora. Por isso, estamos empenhados num projeto contínuo
de distração, mantendo as distrações e entretenimentos
fluindo sem interrupção. Há um ar de desespero acerca
desses rios de distração que criamos.
A nossa esperança é que se mantivermos a distração
fluindo, não teremos de olhar para quem somos, não
teremos que sentir o que sentimos, não teremos que ver o
que vemos. Mas o caminho espiritual é um dos removedores
destas cortinas de fumaça para aceitação dos fatos. É um
processo de desmascaramento. É muito assustador perceber
como somos tão dependentes em todo este esquema, e ainda
mais assustador quando percebemos que este contínuo
projeto de distração pode entrar em colapso a qualquer
momento.
A distração é alimentada pela nossa luta constante para nos
garantirmos em relação aos outros e ao ambiente. Esse
projeto, por sua vez é alimentado pelo nosso medo de deixar
ir e pela nossa falta de confiança em nós mesmos. É como se
estivéssemos em guarda o tempo todo, com medo de perder
a oportunidade de atacar e continuamente atentos a
potenciais ameaças ou ataques. Com base nessas emoções,
nossa mente é puxada para lá e para cá. Para lidar com este
nível de distração, precisamos não só domar a mente
vagueante, mas também diminuir o seu fornecimento de
combustível: o vai e vem de emoções.