Você está na página 1de 6

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

HISTÓRICO E CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES (aula 1/2)

1. Histórico das Constituições ................................................................................................ 2


1.1 Resumo ........................................................................................................................ 5
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

1. HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES

Quando se fala em Constituição, o que tem que se ter em mente é o ponto de corte a
partir de onde começou a se pensar na figura de uma lei que pudesse ter a capacidade de
envolver todas as outras leis e ao mesmo tempo representar um contrato social e também um
controle sobre a sociedade como um todo.
O primeiro grande teórico é John Locke. Em sua obra “Segundo Tratado acerca do
Governo Civil na Inglaterra”, o autor apresenta a base do constitucionalismo. A produção foi
escrita a partir do Século XVII (1650). No trabalho, Locke apresenta uma Lei Fundamental –
capaz de gerar o controle sob todo o ordenamento jurídico e, ao mesmo tempo, que tenha alguns
elementos para organizar a sociedade. Essa lei fundamental representaria um conjunto de direitos
dados à sociedade. Seria uma lei resultado do significado efetivo de toda a luta na Inglaterra
(Magna Carta - 1215; Atos sobre os o Habeas Corpus - 1679; Bill of Rights – 1689). Todos os
direitos estariam presentes dentro da Lei Fundamental. Além disso, essa Lei Fundamental deveria
trazer a organização do Estado, apresentando como o Estado deveria se estruturar a partir das
suas funções básicas de controle, de monopólio da violência e de controle da soberania.
Dentro dessa organização do Estado, Locke é o primeiro a apresentar uma divisão
tripartite de poderes do Estado – Poder Executivo, Poder Legislativo e Judiciário – com poderes
harmônicos e independentes entre si.
John Locke é o primeiro autor a construir o caminho do Constitucionalismo.
Em que pese Montesquieu, em “O Espírito das Leis”, trabalhar com a tese de dois
poderes e uma função, entendendo existir o Poder Executivo, o Poder Judiciário e a função
legislativa. De certa forma, Montesquieu copia a doutrina de Locke com algumas
modificações/adaptações.
. Mais tarde, a figura da Lei Fundamental passou a ser chamada de Commom Low,
nascendo no Século XVIII a partir do trabalho desse autor inglês.
A Constituição traz a ideia da figura do Liberalismo  Thomas Hobbes
O Liberalismo buscará em Hobbes a ideia da governamentabilidade, sendo a marca
do governo inglês.
A partir dos Séculos XVIII e XIX, a preocupação com os direitos fundamentais ficam
mais evidentes. O liberalismo juntamente com a figura da Revolução Industrial vai montar a
gênese do direito constitucional tanto na Inglaterra, como fora da Inglaterra na Europa Continental.

2
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

A Revolução Industrial tem duas fases. A primeira vai de 1750-1850. A segunda fase
vai de 1850-1945.
A Revolução Industrial tem importante papel para o processo do constitucionalismo. A
primeira fase é o chamado Capitalismo Selvagem – nessa fase, todas as ideias de Locke
naufragaram. O objetivo era o lucro e, em seu nome, se rasgou direitos fundamentais de qualquer
pessoa.
Os valores de Locke só começaram a ser recuperadas na Segunda Fase da Revolução
Industrial. Nascem os sindicatos, unindo a mão-de-obra trabalhadora e gerando a força do
trabalhador frente ao empresariado. Da mesma forma, o nascimento do Marxismo em 1848,
através do Manifesto Comunista, leva a Inglaterra a ressuscitar o direito constitucional e a lei
fundamental traçados por Locke. Esse livro traz as identificações da luta de classe, do proletariado
contra a burguesia, da figura do burguês em relação ao estado e ao direito e propõe um método,
o chamado materialismo dialético. Através desse método, Marx apresenta a saída para
enfrentar a Revolução Industrial. No momento em que a revolução começa a ser discutida pelo
trabalhador, o Estado Inglês vai ressuscitar toda a tese do direito fundamental. Busca convencer
que o trabalhador é igual ao empregador, se dentro da lei, ele constituir um representante para
acionar judicialmente o seu empregador, resolvendo as diferenças entre empregado e
empregador frente a lei.
A Lei Fundamental passa a ter o nome definitivo de Constituição. É nesse período que
surge a primeira dimensão de direitos.
O segundo elemento histórico que contribui para o processo de formação da
Constituição é a Revolução Francesa.
Durante o processo da Revolução Francesa (1789-1800), os franceses trouxeram para
dentro do conceito de constituição, o conceito de cidadania. Por seu turno, o conceito de cidadania
abre outros três conceitos de igualdade, de fraternidade e de liberdade.
Esses três conceitos são a base do constitucionalismo francês. A Constituição passa,
com os franceses, a ter a figura do Contrato Social. Discutida na figura jusnaturalista – Bodin,
Hobbes, Locke, Rousseau.
No “Contrato Social” de Rousseau surge a figura da vontade geral, elemento que vai
dar à cidadania as condições de igualdade, fraternidade e liberdade. A vontade geral não é a
soma de vontades individuais, mas reconhece a si mesma como resultado dessas vontades
individuais sem que essas vontades aflorem, a definam ou a determinem. Ela paira sob a

3
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

sociedade, constituindo as bases de cidadania igual, fraterna e livre. Esses elementos vão emergir
na Revolução Francesa, se incorporando as ideias à Constituição.
Rousseau não é um democrata. A base da vontade geral será a base do totalitarismo
soviético e do totalitarismo alemão nazista.
1793-1795 – Período de terror – efetivamente os Jacobinos vão tomar o poder e aplicar
literalmente a vontade geral.
O terceiro elemento que contribui para o processo de formação da Constituição é a é
a Independência Americana, em 4 de julho de 1776.
A Declaração da Virginia traz elementos novos à ideia do Locke e às ideias da
Revolução Francesa.
A independência americana trouxe a democracia calcada num presidencialismo,
definido por um voto secreto e universal a partir do reconhecimento da figura do sufrágio.
Mulheres e negros estão excluídos da possibilidade de constituírem o seu mandatário.
Esses elementos americanos, somados ao elemento cidadania, oriundo da França,
junto com a ideia da vontade geral e a figura liberal, de John Locke, advinda a Inglaterra,
compõem e se constituem no cerne originário da Constituição, como lei Fundamental, estando
numa condição privilegiada.
Em 1803 os Estados Unidos apresenta o seu controle de constitucionalidade difuso,
para defender o papel da Constituição.
A Constituição vai ser afirmada durante as consequências da Independência
Americana, somadas à Revolução Francesa e fortalecida no processo da Segunda Fase da
Revolução Industrial.
A Constituição passa a ser chamada de Lei Fundamental, Lei Fundante ou Lei
Originária. A lei na qual todas as outras irão buscar elementos para se constituir como base da
sua própria legitimidade.

Elementos formadores da norma jurídica (Tércio Sampaio Ferraz Junior /Hugo Brito)
Existência – define a norma a partir do poder competente para criar a norma obedecendo as
regras do momento;
Vigência – período do tempo em que essa lei vai ter força para determinar a nossa obediência,
transformação do fato humano em fato jurídico;
Eficácia - é a força. É a capacidade que a norma tem para determinar o seu cumprimento.
Validade – válida é a norma que se submete aos princípios de uma Constituição.

4
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

RESUMO:

Quando se fala no histórico do Direito Constitucional, três elementos se destacam


como fatos gênese do surgimento da Constituição: a) o papel do Locke e da Revolução Industrial
na Inglaterra; b) a Revolução Francesa; e, c) a Independência Americana.
Quando se fala da Inglaterra, é fundamental destacar que a ideia de uma Constituição
é o resultado da soma de um conjunto de elementos que se desenvolveram naquele país,
permitindo o desenvolvimento de uma cultura em torno do Direito Constitucional (a Magna Carta
- 1215, os Atos sobre Habeas Corpus - 1679, o Bill of Rights - 1688 e a Revolução Gloriosa -
1689). A soma destes elementos cria um direito de natureza difusa, fundamentado em
precedentes que geram um conflito generalizado obrigando ao sistema jurídico inglês constituir
uma lei capaz de regulamentar e harmonizar este ordenamento jurídico. Quem compreendeu este
processo foi um jusnaturalista, no século XVII, chamado John Locke que no livro “Segundo
Tratado acerca do governo civil na Inglaterra” cunhou a expressão “Lei Fundamental” ao qual ele
definiu como: “uma lei abrangente, essencialmente marcada por princípios gerais que de alguma
forma realize uma autoridade sobre todas as outras leis e alcance alguma legitimidade sobre os
indivíduos, livres e iguais”1

Teoria Tridimensional do Direito – Miguel Reale


Miguel Reale, na Teoria Tridimensional do Direito, coloca que uma norma jurídica, sem dúvida, é
uma norma, traz a figura do fato e fundamentalmente tem que ter o valor.
A Constituição é esse sistema que monta o tripé norma-fato-valor.
O valor dá para a norma a legitimidade; o valor dá para o fato humano a moral e a ética; ao mesmo
tempo, o fato em relação ao valor dá a sua existência; e a norma, em relação ao valor, dá
legalidade.

Norma

Fato Valor

1
LOCKE, John. Segundo Tratado acerca do governo civil na Inglaterra. p.189

5
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Material de Apoio
DIREITO CONSTITUCIONAL

Esta Lei Fundamental tem uma natureza essencialmente material. Locke, quando
pensou a Constituição, objetivava tratar sobre direitos das pessoas e organização do Estado.
Outro tipo de Constituição seria a Constituição Formal – aquela que fala quais tipos de lei aceita
dentro dela.
A Constituição Brasileira de 1988 tem natureza híbrida, tendo tanto a parte formal
quanto a parte material.
Esta Constituição deveria apresentar uma capacidade de flexibilidade para ir ao
encontro da sociedade. Contudo, importa afirmar que a sociedade para a qual Locke escreve é
uma sociedade infinitamente limitada e quantitativamente diminuta, pois ele não é contra a
escravidão e os que são escravos estão fora da Constituição.

Você também pode gostar