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01 - Introdução À Neuroanatomia PDF
01 - Introdução À Neuroanatomia PDF
NEUROANATOMIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.
O sistema nervoso (SN) é um aparelho único do ponto de vista funcional: ele, em conjunto com o sistema
endócrino, controla as funções do corpo praticamente sozinho. Além das funções comportamentais e motoras, o sistema
nervoso recebe milhões de estímulos a partir dos diferentes órgãos sensoriais e, então, integra-os, para determinar
respostas a serem dadas pelo corpo, permitindo ao indivíduo a percepção e interação com o mundo externo e com o
próprio organismo.
De fato, o sistema nervoso é basicamente composto por células especializadas, cuja função é receber os
estímulos sensoriais e transmiti-los para os órgãos efetores, tanto musculares como glandulares. Os estímulos
sensoriais que se originam no exterior ou no interior do corpo são correlacionados dentro do sistema nervoso, e os
impulsos eferentes são coordenados, de modo que os órgãos efetores atuam harmoniosamente em conjunto para o bem
estar do indivíduo. Ainda mais, o sistema nervoso das espécies superiores tem a capacidade de armazenar as
informações sensoriais recebidas durante as experiências anteriores.
Em resumo, dentre as principais funções do sistema nervoso, podemos destacar:
Receber informações do meio interno e externo (função sensorial)
Associar e interpretar informações diversas (função cognitiva)
Ordenar ações e respostas (função motora)
Controle do meio interno (devido a sua relação com o sistema endócrino)
Memória e aprendizado (função cognitiva avançada)
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1.1.1.2. Diencéfalo: área localizada na transição entre o tronco encefálico e o telencéfalo, sendo
subdividido em hipotálamo, tálamo, epitálamo e subtálamo. Todas as mensagens sensoriais, com exceção
das provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tálamo (e metatálamo) antes de atingir o córtex
cerebral.
Tálamo: é uma massa ovoide predominantemente composta por substância cinzenta localizada no diencéfalo e
que corresponde à maior parte das paredes laterais do terceiro ventrículo encefálico. O tálamo atua como estação
retransmissora de impulsos nervosos para o córtex cerebral.
Hipotálamo: também constituído por substância cinzenta, é o principal centro integrador das atividades dos órgãos
viscerais (sistema nervoso autônomo), sendo um dos principais responsáveis pela homeostase corporal. Ele faz
ligação entre o sistema nervoso/límbico e o sistema endócrino/visceral, atuando na ativação de diversas glândulas
endócrinas.
Epitálamo: constitui a parede posterior do terceiro ventrículo e nele, está localizada a glândula pineal.
1.1.2. Cerebelo: situado posteriormente ao tronco encefálico e inferiormente ao lobo occipital, o cerebelo é,
primariamente, um centro responsável pelo controle e aprimoramento (coordenação) dos movimentos
planejados e iniciados pelo córtex motor (o cerebelo estabelece inúmeras conexões com o córtex motor e
com a medula espinhal). Assim, o cerebelo relaciona-se com os ajustes dos movimentos, equilíbrio,
postura, tônus muscular e, sobretudo, coordenação motora. O cerebelo, fundamentalmente, apresenta as
seguintes estruturas fundamentais: núcleos cerebelares profundos e córtex cerebelar.
1.1.3. Tronco encefálico: o tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se
ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais: (1) recebe informações sensitivas de estruturas
cranianas e controla a maioria das funções motoras e viscerais referentes a estruturas da cabeça; (2)
contém circuitos nervosos que transmitem informações da medula espinhal até outras regiões encefálicas
e, em direção contrária, do encéfalo para a medula espinhal (lado esquerdo do cérebro controla os
movimentos do lado direito do corpo e vice-versa); (3) regula a atenção, função esta que é mediada pela
formação reticular (agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes,
separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico). Além destas
três funções gerais, as várias divisões do tronco encefálico desempenham funções motoras e sensitivas
específicas. O tronco encefálico é subdividido em bulbo, ponte e mesencéfalo.
1.2. Medula Espinal: corresponde à porção alongada do sistema nervoso central, estabelecendo as maiores
ligações entre o SNC e o SNP. Está alojada no interior da coluna vertebral, ao longo do canal vertebral,
dispondo-se no eixo crânio-caudal. Ela se inicia ao nível do forame magno e termina na altura entre a
primeira e segunda vértebra lombar no adulto, atingindo entre 44 e 46 cm de comprimento, possuindo
duas intumescências, uma cervical e outra lombar (que marcam a localização dos grandes plexos
nervosos: braquial e lombossacral).
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Existem 31 pares de nervos espinhais aos quais correspondem 31 segmentos medulares assim distribuídos: 8
cervicais (existe oito nervos cervicais mas apenas sete vértebras pois o primeiro par cervical se origina entre a 1ª
vértebra cervical e o osso occipital), 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo.
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OBS4: Na realidade, são 33 pares de Nn. Espinhais se forem considerados os dois pares de nervos coccígeos
vestigiais, justapostos ao filamento terminal da medula.
I. Nervo Olfatório: se origina no teto da cavidade nasal e traz estímulos olfatórios para o bulbo olfatório e trato olfatório.
II. Nervo Óptico: seus axônios se originam de prolongamentos das células ganglionares da camada mais interna da retina e
partem para a parte posterior do globo ocular, levando impulsos relacionados com a visão até o corpo geniculado lateral e,
daí, até o lobo occipital.
III. Nervo Oculomotor: inerva a maioria dos músculos extrínsecos do olho (Mm. oblíquo inferior, reto medial, reto superior, reto
inferior e levantador da pálpebra) e intrínsecos do olho (M. ciliar e esfíncter da pupila). Indivíduos com paralisia no III par não
movem a pálpebra, que cai sobre o olho, além de apresentar outros sintomas relacionados com a motricidade do olho, como
estrabismo divergente (olho voltado lateralmente).
IV. Nervo Troclear: inerva o músculo oblíquo superior, que põe os olhos pra baixo e para dentro (ao mesmo tempo), como no
olhar feito ao se descer uma escada. Suas fibras, ao se originarem no seu núcleo (ao nível do colículo inferior do
mesencéfalo), cruzam o plano mediano (ainda no mesencéfalo) e partem para inervar os Mm. oblíquos superiores do olho,
sendo do lado oposto em relação à sua origem. Além disso, é o único par de nervos cranianos que se origina na parte dorsal
do tronco encefálico (logo abaixo dos colículos inferiores).
V. Nervo Trigêmeo: apresenta uma grande função sensitiva (por meio de seus componentes oftálmico, maxilar e mandibular) e
função motora (inervação dos músculos da mastigação por ação do nervo mandibular). É responsável ainda pela inervação
exteroceptiva da língua (térmica e dolorosa) e proprioceptiva.
VI. Nervo Abducente: Inerva o músculo reto lateral do olho, capaz de abduzir o olho (olhar para o lado), como o próprio nome
do nervo sugere. Lesões do nervo abducente podem gerar estrabismo convergente (olho voltado medialmente).
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VII. Nervo Facial: toda inervação dos músculos da mímica da face. Paralisia de um nervo facial trará paralisia dos músculos da
face do mesmo lado (inclusive, incapacidade de fechar o olho), predominando a ação dos músculos com inervação normal,
puxando-os anormalmente. O nervo intermédio, componente do próprio nervo facial, é responsável por inervar as glândulas
submandibular, sublingual e lacrimal, além de inervar a sensibilidade gustativa dos 2/3 anteriores da língua.
VIII. Nervo Vestíbulo-coclear: sua porção coclear traz impulsos gerados na cóclea (relacionados com a audição) e sua porção
vestibular traz impulsos gerados nos canais semicirculares do órgão vestibular (relacionados com o equilíbrio).
IX. Nervo Glossofaríngeo: responsável por inervar a glândula parótida, além de fornecer sensibilidade gustativa para o 1/3
posterior da língua. Realiza, também, a motricidade dos músculos da deglutição.
X. Nervo Vago: maior nervo do corpo, que se origina no sulco lateral posterior do bulbo e se estende até o abdome. Está
relacionado com a inervação de quase todos os órgãos torácicos e abdominais. Traz fibras aferentes do pavilhão e do canal
auditivo externo.
XI. Nervo Acessório: inerva os Mm. esternocleidomastoideo e trapézio, sendo importante também devido as suas conexões
com núcleos dos nervos oculomotor e vestíbulo-coclear, por meio do fascículo longitudinal medial, o que garante um
equilíbrio do movimento dos olhos com relação à cabeça. Na verdade, a parte do nervo acessório que inerva esses músculos
é apenas o seu componente espinhal (5 primeiros segmentos medulares). O componente bulbar do acessório pega apenas
uma “carona” para se unir com o vago, formando em seguida o nervo laríngeo recorrente.
XII. Nervo Hipoglosso: inerva os músculos da língua.
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O SNA pode ser subdividido em duas partes: o SNA simpático e o SNA parassimpático, e em ambas existem
fibras nervosas aferentes e eferentes. As atividades da parte simpática do SNA preparam o corpo para as emergências
(luta e fuga). As atividades da parte parassimpática do SNA são voltadas para a conservação e a restauração das
energias (repouso e digestão).
2.1 Sistema Nervoso Autonômico Simpático: prepara o corpo para respostas de “lutar ou fugir” por meio da
liberação de neurotransmissores como a adrenalina e noradrenalina. É responsável, por exemplo, pelo aumento
da pressão arterial, do trabalho e da potencia do músculo cardíaco. Desta forma, o fluxo sanguíneo aumenta para
os músculos esqueléticos e ocorre inibição das funções digestivas. Anatomicamente, sua fibra pré-ganglionar é
curta, enquanto que a pós-ganglionar é longa.
2.2 Sistema Nervoso Autonômico Parassimpático: prepara o corpo, de uma maneira geral, para o repouso e
digestão, acomodando o corpo para manter e conservar energia metabólica: diminui o trabalho cardíaco, a
respiração e a pressão sanguínea. Sua fibra pré-ganglionar é longa, enquanto que a pós-ganglionar é curta, de
modo que o gânglio parassimpático localiza-se próximo ou dentro da víscera que ele inerva (como no trato
digestivo, existem os plexos de Meissner e Auerbach).
NEURÔNIOS
Os neurônios são as células responsáveis pela
recepção e retransmissão dos estímulos do meio (interno e
externo), possibilitando ao organismo a execução de respostas
adequadas para a manutenção da homeostase. Seu
funcionamento depende, exclusivamente, da glicólise
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(metabolismo aeróbio; ver OBS ).
Para exercerem tais funções, contam com duas
propriedades fundamentais: a irritabilidade (também
denominada excitabilidade ou responsividade) e a
condutibilidade. Irritabilidade é a capacidade que permite a
uma célula responder a estímulos, seja eles internos ou
externos. Portanto, irritabilidade não é uma resposta, mas a
propriedade que torna a célula apta a responder. Essa
propriedade é inerente aos vários tipos celulares do organismo.
No entanto, as respostas emitidas pelos tipos celulares distintos também diferem umas das outras. A resposta
emitida pelos neurônios assemelha-se a uma corrente elétrica transmitida ao longo de um fio condutor: uma vez
excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem essa onda de excitação - chamada de impulso nervoso - por toda
a sua extensão em grande velocidade e em um curto espaço de tempo. Este fenômeno deve-se à propriedade de
condutibilidade.
Partindo de uma classificação funcional, têm-se três tipos de neurônios:
Sensorial ou aferente: propaga o potencial de ação para o SNC
Motor ou eferente: prapaga o potencial de ação a partir do SNC
Interneurônios ou neurônios de associação: funcionam dentro do SNC, conectanto um neurônio a outro.
CÉLULAS DA GLIA
ASTRÓCITOS
Os astrócitos são as celulas da neuróglia que possuem as maiores dimensões. Existem dois tipos de
astrócitos: os protoplasmasticos (predominantes na substância cinzenta) e os fibrosos (predominantes na substância
branca). Estas células desempenham funções muito importantes, como a sustentação e a nutrição dos neurônios.
Outras funções que desempenham são:
Preenchimento dos espaços entre os neurônios.
Regulação da concentração de diversas substâncias com potencial para interferir nas funções neuronais normais
(ex.: concentrações extracelulares de potássio).
Regulação dos neurotransmissores (restringem a difusão de neurotransmissores liberados e possuem proteínas
especiais em suas membranas que removem os neurotransmissores da fenda sináptica)
Regulam a composição extracelular do fluído cerebral
Promovem tight junctions para formar a barreira hemato-encefálica (BHE): sua membrana emite pseudópodes
que revestem o capilar sanguíneo, associando as membranas das células endoteliais e dos astrócitos,
determinando a BHE, criando uma resistência para penetração de substâncias tóxicas através do parênquima
cerebral. Quanto mais hidrofóbica (mais lipídica e menos polar) for a substância que alcançar a circulação
cerebral, mais fácil será sua difusão através da BHE.
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MICRÓGLIA
Os microgliócitos ou micróglia são as menores células da neuróglia, mas sendo muito ramificadas. Possuem
poder fagocitário e desenvolvem, no tecido nervoso, um papel semelhante ao dos macrófagos.
OLIGODENDRÓCITOS
Os oligodendrócitos (ou oligodendróglia) são as células da neuróglia responsáveis pela formação e
manutenção das bainhas de mielina dos axônios dentro do SNC, função executada pelas células de Schwann no SNP
(só que apenas um oligodendrócito contribui para formação de mielina em varios neurônios, ao contrario da célula de
Schwann, que mieliniza apenas parte de um axônio).
CÉLULAS DE SCHWANN
Células semelhantes aos oligodendrócitos, mas que se envolvem em torno de uma porção de um axônio de
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neurônios do SNP, formando a bainha de mielina nesta divisão do SN (ver OBS ).
CÉLULAS SATÉLITES
Encontradas eventualmente no SNP envolvendo o corpo celular de neurônios nos gânglios, para fornecer
suporte estrutural e nutricional.
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OBS : Os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos. Em
toda sua extensão de alguns neurônios, o axônio é envolvido por um tipo
celular denominado célula de Schwann. Em muitos axônios, as células de
Schwann determinam a formação da bainha de mielina - invólucro lipídico
que atua como isolante elétrico e facilita a transmissão do impulso nervoso.
Entre uma célula de Schwann e outra, existe uma região de descontinuidade
da bainha de mielina, que acarreta a existência de uma constrição
(estrangulamento) denominada nódulo de Ranvier. A parte celular da
bainha de mielina, onde estão o citoplasma e o núcleo da célula de
Schwann, constitui o neurilema. Por tanto, os axônios podem ser
mielinizados (a mielina protege e isola os axônios) e amielinizados.
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OBS : Por vezes, o axônio sofre degeneração, mas pode realizar regeneração. O crescimento do neurônio se dá de
forma caudal: na extremidade axônica, existe uma secreção de fatores de crescimento (hormônios como o NCAM) que
estimulam a diferenciação dessa região, partindo então do soma (corpo) em direção à extremidade do axônio. Os
axônios periféricos têm capacidade regenerativa relativamente maior que os corticais. A neuroexcitotoxicidade é um
caso de excitação exacerbada no crescimento do axônio, havendo então uma destruição dessa extremidade axônica.
Isso acontece porque, nestes casos, há uma diminuição do pH na extremidade do axônio.
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OBS : Como o SNC depende exclusivamente do metabolismo aeróbico, quando o neurônio realiza glicólise por
metabolismo anaeróbico, produz grandes concentrações de ácido láctico. Por esta razão, ocorre degeneração ácida das
células nervosas, diminuindo a capacidade de regeneração do axônio. Isso exemplifica os quadros de sequelas por falta
de oxigenação cerebral.
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OBS : Caso a degeneração seja em nível de gânglios, a regeneração passa a ser mais precária, uma vez que se trata
de uma região com alta concentração de corpos neuronais, região de maior complexidade da célula.
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OBS : A oximetria é um parâmetro fundamental para o SNC, uma vez que suas células principais realizam quase que
exclusivamente o metabolismo aeróbico da glicose, ou seja, via Ciclo de Krebs. Essa é a explicação do fato de os
neurônios possuírem grandes quantidades de mitocôndrias. Para que o Ciclo de Krebs (CK) funcione adequadamente e
o SNC produza ATP em quantidade ideal, é necessária uma grande quantidade de O 2, uma vez que o CK produz uma
grande quantidade de coenzimas reduzidas que necessitam do oxigênio para aceptar seus elétrons e, só assim,
oxidarem novamente para participarem de um novo CK. Isso explica o fato de um êmbolo na corrente sanguínea
cerebral (causando um acidente vascular cerebral) poder prejudicar diretamente a funcionalidade de uma determinada
região: o CK tende a parar devido a carência de O 2 para restaurar as coenzimas. A única maneira que a célula teria de
renovar as coenzimas nessa situação seria transformar piruvato em ácido láctico, realizando, assim, glicólise anaeróbica,
o que é uma situação de risco para o SNC.