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GIAO DE POPPER SOBRE A pee jd ideias de Popper representam o mais importante As iC ento na filosofia do século XX; uma realizagio na geno ao nivel — de Hume, Kant ou Whewell. Pessoalmente, ig vida comele é incomensurdvel: mais do que qualquer minh ele modificou a minha vida. Tinha perto de quarenta ote SS entre no campo magnético do seu intelecto. A sua 0S fia ajudou-me 2 fazer um corte final com a perspectiva ee que tinha defendido durante cerca de vinte anos ('). E, ese portant ainda, proporcionou-me uma série de problemas a samente fértil, na realidade, um auténtico programa de iv etigagao. O trabalho num programa de investigacao é, eviden- temente, UMA questdo critica, € nao éde admirar que o meu trabalho sobre 0S P roblemas popperianos me tenha conduzido com frequén- cjaaentrar em conflito com as préprias solugGes de Popper @). No presente comentério, esbocarei a minha posigao sobre 0 queo proprio Popper: referia com frequéncia como os dois principais problemas da sua ja classica Logik der Forschung: 0 problema da demarca¢ao e 0 problema da indugado. Popper comegou por oferecer (#) Este ensaio foi escrito em 1970-1 e foi pela primeira vez publicado em inglés em Lakatos [1974c]. 151 HALAIFICACAO fl METODOLOGIA DOR FROORAMAN DILINVENTIGAL AG, uma solugdo do problema da demarcayde ©, em xeguida, fen. asseverado que "6 problema da indugho ¢ apenar tin ean on facet do problema da demarcagho", aplican oxen eritérlo de demreayag Aresoliydo do problema di indugéo (9. Do men ponte de viata, a soluydo de Popper do problema da demarcagae 6 wine Hands Foalizagao max pode set melhorada, ¢ ald meno na wun forma Melhorada (oma avesstvein numeronon problomar até AKOFA NAD forxolvidor Max ou pono que problema da indugde 6 Hitidamente Mair do que apenar um “evo on faceta” do problema da domarcayao, Popper, na nua princita Hloxofin, apresctiton critic cn docinivas do soluydes primitivan do problema on anten probletnas da indugio, © sugeriy uma wolugho tolalineate Nexatlva, A win filosofia posterior (baxcada na idein de contedde de vordade a Veroximilhanga) envolvia uma alteragfio do problomac tambén una sohigho poxitiva do probloma altorado; imax, a meu ver, elo nlndn no se apercobou da toralidade dax implicagden da xu Préprin realizagao, A posicio de Popper sobre a domarcagio @) O jogo popperiano da ciéncia. A “légica da dexcoberta cientifica” de Popper (ou “metodo- logia” ou “sistema do Apreciagdex" ou “critério de demnrengiio"ou “dofinigho de ciéncia”) (*) é uma teorin da ruc ionalidade cient{fica; mais especificamente, um conjunto de padr6es para teoring cientificas. A principio as Pessoas tinhamesperado que umi logicn da descoberta” thes fornecesse um Conjunto de regras mecAnicas Para a resolugio de problemas, Esta esperanga foi abandonuda: para Popper a logica da descoberta ou “metodologia” consiste apenus ‘num conjunto de regras (com cardcter experimental longe de screm mecfinicas) para a apreciagio de teorias previamente urticuludas. Tudo o resto é para cle objecto de uma Psicologia empfrica da descoberta, fora do dominio normativo da l6gica du descoberta, Isto representa uma alterasio muito importante no problema da 152 panty Aer Ot ONATM NONE A Lit AMC AEM A SHH Ay A dwevaneti nortiativa, O ferme “normutive" td. nqu ye defers pra eheKar A MAUGOER, HAE APENAS A UFlEnIGAes parnn rea de selugove 14 presents. Alyuty (lecie: nitude ny amen deol Aen probtectiiins (5) . jen da deacobertts de Popper contény “sug vihine”, A Iu anh 1 INUIT FT Yue LANA eur devetsn yer Mn enn quiet Hind CAPONE NCH CHIL pedi He fab tonal eebida contr eli) RObIE O Morente err que sree de fact, ae ner tejaitada (em que for chusmbads pot urn tout Oe clalh Alégica da deacoberta de Mappess ateitan, peta exprtiorelt o no contexte de ui programa de Mivestigagag Oe il i fnportanite, ain HOVE Papel DeaperPne ier ene eqn (fficas nile se baasinm, 180 si estabetesidas cn a tools ie por factor", mas antes climinadin por estes Harn x Sa consiste mint Confrontagio revoluctonarin Porter ¢ contin de teorias especulativas © arrojadin ¢ ins gos que poder ser repelidis, c na subsequente eliminagio a rea teorins derrotadia J nétodo de tentutiva e erro é um a para ellininar teorlas falsas por intermédio de cnunciados dagbsorvayiio" (", "As conjecturax [sfo) audaciona mente expostin ajulgamento, para screm climinadas sc estiverem em desacordo com observagoes" (7). Deste modo, a histéria da ciéncta 6 vista como uma séric de duelos entre teoria © experimontagio, duclos om que x6 ax experiéncias podem alcangar vitérias dec oO (edrico propde uma tcoria cicntffica, alguns enunciados basicus contradizem-na; xe umn deles for “accite” (*), a teoria é “refutuda”’ & deve ser rejeitada ¢ substitufda por uma nova, “O que ne fim de contas decide o destino de uma teoria é 0 resultado de um teste, isto €, um acordo sobre cnuncindos basicos” (”). Popper tem consciéncia, evidentemente, de que textamox sempre, de preferéncia, gnindes sistems de teorinx ¢ nfo teorius isoladan. Mas nfo considera ‘Mo como uma dificuldade insuperdvel: sugere que deverfumos conjecturar ~¢, de fucto, concordar- subre qual a parte de um tal sisterna que é responsdvel pela refutagdo (isto é, «jual a parte que se deve considerar como fulsa), possivelmente auxiliados por testes independents de alguns bocados do sistema, Este tipo de conjecturt pofit st eqn ve 153 FALSIFICACAO B MBTODOLOCHA DOS PROGRAMAS DR INVESTIGACAO @ adsulutanronte idispensivel no seig da flosatia de Papper: se fasse pernuticty atribuir segue a tesponsabilidade das reltagdes AS condigdes iniciais, nenhuna teoria importante necessitaria alguna vor ce ser rejoitada, Blo nao esta satisfeita com os testes, Qe lo concehidas para testar grandes sistemas: convida o cientista, Aespecificar, antecipadamente, aquelas oxperiéncias que, 80 0 sou resultado for negative, condusirao a falsificagao do préprio Amago, do sistema (""), Exige que o cientista especifique com antecedancia, sob que condigdes experimentais ele abandonaria as suas suposi¢des: mais bdsicas (\'). Este, de facto, 6 0 aspect essencial do “critério de demarcagdo” de Popper ou, para usar um termo mais adequado, da sua definigdo de cigncia ("). A definig&o de ciéncia de Popper pode ser apresentada em termos de “convengdes” ou “regras" que imperam sobre 0 “jogo da ciéncia® ("). A abertura deve ser uma Aipétese falsificdvel, consistente; isto 6, uma hipotese consistente que apresenta falsificadores potenciais que retinem acordo. Um falsificador potencial é um “enunciado b&sico” cujo valor de verdade é decidivel com o auxflio das técnicas experimentais utilizadas época. O juiri cientifico deve concordar unanimemenie com a existéncia de uma técnica experimental que the permitiré atribuir um valor de verdade ao “enunciado basco”. (A unanimidade pode, evidentemente, ser atingida pela expulsdo da minoria enquanto pseudocientistas ou excéntricos ('*),) A jogada seguinte consiste na execug4o repetida do teste numa experiéncia controlada (“) e a segunda decisiio do juri refere-se ao valor de verdade efectivo (verdade ou falsidade) a atribuir ao falsificador potencial. (Se esta segunda decisio nao é undnime. podem seguir-se duas jogadas poss{veis: ou a posicdo de “falsi- ficador potencial” deve ser retirada e, a menos que seja encontrado um substituto, cancelada a abertura, ou, em alternativa, a minoria discordante deve ser declarada excéntrica e expulsa do juiri ('*).) Se o segundo veredicto é negativo, ¢ 0 falsificador potencial é rejeitado, entdo a hipdtese € declarada “corroborada”, 0 que apenas significa que ela convida a ulteriores reptos. Se o segundo veredicto € positivo, ¢ 0 falsificador potencial é aceite, entio a hipétese é 154 A pONIGAO DE POPPRR SONRE A DEMARCACAD R AINDUCAD shart vsfatnitlendla", oque significa queé refelnula, derubad" . panctonnals enterrada com honras militares (im 1960, me jntrodvziy UMA NOVA Tegra: a pompa militar 4 pode ser ae caida a ua hipstexe eliminada, xe, antow da yun falsificagto, a pelo qnenos WmA Ve# ~ NUMA experiencia diferente — corroborada Soa do enterro & encorajada uma nova hipétese. Esta nova pipstese deve, contudo, explicar o bxito parcial, se este existir, da redecessora, & também algo mais, Uma hipétese, por mais rn be que seja Nos seus aspectos intuitivos, ndo seré aceite, a ee que apresente novo contetido empfrico adicional quando Seared com a sua predecessorn, Se niio apresentr esse contetido adicional, 0 arbitro declard-la-4 “ad hoc’ ¢ fard. com que o autor da posta & abandone. Se a nova hipétese nio for ad hoc, o edimento-padriio para hipdteses falsificdveis, tal como foi descrito atrés, 6 seguido para a nova hipstese (""), Este “jogo cientffico”, se correctamente jogado, “progrediri” no sentido de que as teorias subsequentemente propostas apresentariio uma generalidade (ou “contetido empirico”) crescente; colocariio questées cada vez mais profundas sobre o universo (”). Assim como as regras do xadrez no explicam porque motivo algumas pessoas jogam 0 jogo e, na realidade, The devotam as suas vidas, as regras da ciéncia ndo explicam o motivo porque algumas pessoas jogam o jogo da ciéncia ¢, de facto, the dedicam as suas vidas. As regras decidem se uma jogada Particular € “apropriada’ (ou “cientffica”) ou nfo, mas permanecem silenciosas quando se trata de saber se 0 jogo na sua toralidade € “apropriado” (ou “racional”) ou nao. As regras nada dizem sobre os motivos {psicolégicos) dos jogadores ou sobre a finalidade (racional) do jogo. Pode evidentemente jogar-se 0 jogo pelo seu cardcter ae sem preocupacées relativas ao seu objectivo ou sem que s€ este} consciente dos motivos envolvidos. ; Jose Nota, Mantive discussdes intermindveis com mies jos " jentificagtio de Popper ¢ “Popper, (0 meus [19680] ¢ [1970] a minha vida pro} amigos popperianos sobre a ide falsificacionista metodolégico ingénuo) nos © nesta secgtio. Gostaria de dizer que nunca ni 155 ———— eileen FALSIFICAGAO R METOROLOGIA DOH PROGRAMAS DH INVRSTIOAC AG, experimented fo vivamente ov eaforgos do historiador senfio newta, Andlixe. O mou [196Rc}, especialmente pags. 384 © weg. mostra que hessa altura ou identificaya Popper com a meu "Popper,", a falsificacioninta metodatégico sofisticado. No meu |196Kb) alterei a minha posigioe sugeri entao que Papper conjugava as duas posicbes, Defendi a mesma posigdo no texto do meu [1970) mas, no apéndice, idemtifiquei Popper essencialmente com Popper, 0 falsificacionista metadoldgico ingénuo (ver este volume, capitulo 1), Continuo a Sustontar esta posigio no meu presente ensaio, mas com a grave desconfianga de que possa ter-me escapado um ingredicnte vital no conjunto da andlise, Serd que o problema da The Logic of Scientific Discovery era diferente daquele que cu reconstruf? Sera a minha separaglio de Popper em Popper, ¢ Popper, um resultado da minha alleragtio de probemas? Sem duvida, as citag6es popperianas, mais caracteristicas ocorrem nas obras de Popper, Poverty of Historicism ¢ Open Society. Nho serio estas nada mais do que exageros ocasio- nais que ocorrem apenas na sua condenac&o apaixonada das pseudo- ciéncias sociais? Mas o prdprio Popper descreve sem diivida o scu problema original como consistindo no modo como demarcar a ciéncia da pseudociéncia: confesso que neste momento me encontro, enquanto excgeta, atrapalhado, e s6 espero que a réplica de Popper venha a dissipar a minha atrapalhaco. (b) Como criticar as regras do jogo cientifico? As regras do jogo so convengées, ¢ podem ser formuladas em termos de uma definigao (?'). Como se poderd criticar uma defini¢io, em particular, se ela for interpretada nominalisticamente? (7) Uma definigo € nesse caso uma mera abreviagdo, uma tautologia. O que € que se pode criticar numa tautologia? Popper reivindica que a sua definigao de ciéncia é “fecunda”; “que um grande ntimero de Pontos pode ser clarificado e explicado com 0 seu auxilio”. Ele cita Menger: “As definigdes s4o dogmas; s6 as conclusées que delas extrafmos nos podem permitir uma nova compreensio” (*3). Mas como pode uma definigao ter poder explicativo ou permitir novas 156 A POKIGAG Di POPPER SOBKE A DIMAMCAG AG HA IHD Ac reemndicn!) A resposta de Popper é 4 seguinte “f; afectuas conn ye 18 consequéncian dit ininhs definigaa de ciénei empinicas, « goin base nas decindes metodolagicus que dependern desta definigAo, que 0 exentintia sera capi de ver até que Ponte elas ve japta A su ideia intuitiva do objective dos seus esturgas” (4) fista renposta obedece & posigin geral de Popper sepundo ua) aK conyengoes podem ser Casta Ts discutindo a sua neonveniéncia” relativamente 4 um fim: No que respeius & eonveniéncia de uma convengio, as opinides podem divergir; c uma discunso aceitdvel destas quest6es apenas é possivel entre pessoas que partilham um fim comum, A escolha desse fim... est4 para além de qualquer discussdo racional" ("). Mas Popper, ia sua Logik der Forschung, nunca especifica um fim do jogo da ci€ncia que ultrapasse o que est4 contido nas suas regras. A ideia de queo alva daciéncia é a verdade, aparece nos seus escritos pela primeira vez em 1957 (**), Na sua Logik der Forschung, a busca da verdade pode ser uma motivagdo psicolégica dos cientistas — nao € um fim racional da ciéncia (7). Mesmo nos escritos mais recentes de Popper nao encontramos qualquer sugestao sobre como apreciar um conjunto consistente de regras (ou critério de demarcagdo) enquanto conducente, com maior éxito que outro, & verdade (4). De facto, a tese segundo a qual um argumento desse tipo relacionando método e éxito é impossivel, tem sido uma pedra angular da filosofia de Popper: de 19204 1970. Assim tiro como conclusao de que Popper nunca apresentou uma eoria de critica racional das convengées consistentes (*). Nao responde & questi: “Sob que condigaes abandonariao seu critério de demarcagao?” (*) Masa ean pode obter uma resposta. Apresentarei ome Tespostaem dois estddios: em primeiro lugar uma resposta Ings “ © em seguida uma mais sofisticada. Comego por relembrar 0 roe como Popper, de acordo com a sua propria descricio, chegou itéri do seu tempo, seucritério. Ele pensava, como os melhores cientistas ee que a teoria de Newton, embora refutada, era uma a caus fica maravilhosa: que a teoria de Einstein ainda S se as 4 astrologia, o freudismo e o marxismo do sécul 157 BALSIRCACAOE METODOLOGIA DOS PROGRAMAS DE INVESTIGACAO, pseudocientificos. O seu problema consistia em encontrar uma, definigde de cigneia a partir da qual estes “Juizas duisicos™ respei- tantes a cada uma destas tearias se pudessem conchuir; ¢ apresentoy uma nova solugae. Ora aceitemas provisuriamente o meta-critério segundo o qual uma teoria da racionalidade - ou critério de demarcacdo ~ deve ser rejeitado se for inconsistente com “Juizos de valor bisices”, da comunidade cientifica aceites ("), De facto, esta regra metametodoligica pareceria corresponder & regra metodoligica de Popper segundo a qual uma teoria cientifica deve ser rejeitada se for inconsistente com UM enunciado bdsico (Cempirico”) unanimemente aceite pela comunidiade cientifica, A. metodologia de Popper no seu Conjunto sssenta na discordia relative Z existencia de enunciadus singulures (relativamente) sobre cujo, valor de verkade os cientistas podem alcangar um acordo undnime; Semp um tal acorde surgiria um “nova Babel" ¢ “o ambiciosy edificio de cigncia em breve se emcontraria em ruinas” (5). Mas, mesmo. existinds aconde sobre enunciados “bdsicos™, se ndo existisse qualquer acorde sobre como avabur a tealtragdo cieatifica retariva esta “base empirica™. ndg se encontraria igualmente em breve em rafgas © ambicieso edificio da cgncia? Nao bi Givida que sim. Embers tenia side pouca a concocdiincia respeitante a um erin universal do canicter Geanfice de temas. em sido considenivel, Gaminn: us duis titimes séculos, 2 coacordincia respeitante 2 wealiaasGes puracudires. Empminno no nem existide um acordo gerud pespexcinte a uma atoria du racwoulidads cientfica, © acorde respeitumns 2 caueaiiciade Ge um pusso purcicudir no jose em side comsdemivel — isso foi cennifica ce excesmce? Uma defini, genal de cic dewe assim rocomsinair comme “cic anificas” 0s FOEOS pecomberadumenn: anchores ¢ os gambinos muis sprockudos: st odo econsegur fuer deve ser reject Propenitumnos em: sopunds 2 wbelo experimemed que. se oat erinirti die Beemacrciasdie Ree Cia SEN OL OAS SPRL ES BSITES Be eine enotiinn devwrd ser cnoadsand> (°) Esme metres Bora snpends geis oropma descraghs de Popper do sre probiessd enqemmni. + pei> sem prdpras ope de Seiaificaracansms meecdoGEN mms, deve scoonuilin, pode ancmm-se 0 falsaticaceonssmec ds Popper cs a APOSIGAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAO R AINDUCKO no entanto rejeitar este meta-falsificacionismo). Ce aplicarv0s este meta-critério (que rejeitarei mais freee = ge demarcagdo de Popper — isto & as regras do jogo da cigncia de Poppet - fern de ser rejeitado (*), (c) Uma falsificagdo “quase polanyiana” do critério de demarcacdo de Popper. Ocritério de demarcagio de Popper pode de facto ser facilmente “alsificado” utilizando o meta-critério proposto na secyao anterior, isto mostrando que. a sua luz, as melhores realizagdes cientificas ndo foram cientificas ¢ que os melhores cientistas, nos seus melhores. momentos, quebriram as regras do jogo da cigncia de Popper. A regra bilsica de Popper ¢ a de que 0 cientista deve especificar anuecipadamente sob que condi¢des experimentuis whndonari até mesma) GS Sucks Suposicdes mais duisicus: “Os critérios de refuracao tém de ser estabalecidos antecipa- damente: deve ser odjecto de acomdo quais as situaydes cbserviveis que. se realmente observadas. significam que uma tora s¢ encontra refatada. Mas que tipo de respostas clinicas refunina satisfazendo: completamente o analista ndv so am digemisice clawice perncalir mas & propria psicumifise? E terio até mesmo esses ctitérius sho. edyecte de discussie ou de acando para us analistas?” (*). Nocase da psicandlise. Popper nha rari: nie surgn qualquer respost. Os freudianos ficaram desonentados com o repr bis de Popper respeitante & honestidaie cientifiva. De few, revasunm “Sa especificu as condi xperimenciis sob-as quais abandeor Ham gs suas suposiates bisicas. Pura Popper. este é o rayy asninve Gt saa desonestxdade ineelectail. Maso gut wontererd st coc Tos 8 questo de Popper 20 cientsta Dew ELEN Quidco cbservagle gos refunuria, sucisfanende completemenne ¢ TERECETARS ade apenas uma explicasdo new toniuns partular. US JS OPT s Snicnaca ¢ teora gravitaciona! new toakunss” E t2the S885 HENS ands discundos oe sade cbysote de acordo poe pute dos aes SORES O meetwanino, desgrazadimente, dificiimense sera capuz Sr Te eel —eaeowor ACAD uma resposta positiva (°*). Mas, nesse caso, sc os psicanalj de ser condenados como desonestos de acordo com os Padrdes de Popper, nfio deveriio identicamente os newtonianos ser condenndos? Stas tm Popper pode certamente remover 0 seu famoso Teplocexigir ya falsibilidade — ¢ a rejeiciio com base na falsificagio ~ apenas Para sistemas de tcorias, incluindo as condig6es inicinis ¢ todos og tipos de teorias observacionais ¢ auxiliares, Isto representa uM Fecuo considerdvel, visto que permite que o cientista imaginativo salve a sua teoria de estimagilo recorrendo a alteragdes afortunadas ¢ adequadas num qualquer canto pouco vulgar do labirinto te6rico, Mas até mesmo a regra mitigada de Popper tormard a vida impossfvel para o mais brilhante cientista, porque em grandes Programas de investigagiio existem sempre anomalias conhecidas, Normalmente, © investigador péc-as de lado ¢ segue heurfsticu positiva do programa (””). Em geral, ele concentra a sua atenclio nfio nas anomn- lias perturbadoras mas antes na heurfstica positiva, ¢ espera que as “instfncias recalcitrantes” se transformem em instdncias confirmadoras ) medida que o programa progride, Nos termos de Popper, até mesmo os grandes cientistas utilizam gambitos proibidos, estratagemas ad hoc: em vez de considerarem 0 peridlio anémalo de Mercurio como uma falsificagdo da teoria newtoniana do nosso sistema planctério e, por consequéncia, como uma raziio para a sua rejeigho, a maior parte deles p6-lo de lado como uma instincia problemética a ser resolvida num estédio ulterior — ou apresentou solugdes ad hoc. Esta atitude metodolégica de considerar como anomalias o que Popper consideraria como. contra-exemplos €geralmente aceite pelos melhores cientistas. Alguns dos programas de investigagio actualmente tidos na mais alta estima pela Comunidade cientifica progrediram num oceano de anomalias (""). Arejeigio por Popper, como irracional “acrftico”, de um tal trabalho, implica - pelo menos de acordo com o nosso meta-critério virtualmente polanyita — uma. falsificagao da sua definigao. Além disso, para Popper, um sistema inconsistente nfio profbe qualquer estado de coisas observavel € o trabalho com base nele deve invariavelmente considerar-se como irracional: “um sistema Autocontradit6rio deve ser rejeitado.... [porque] nao é informativo... 160 {APOSICAO DE POPPER SOBREA DEMARCACAO 8 AtNDUChc SS — ahum enunciado ¢ escolhido, .. visto que todos aio detivaveis" Ne Mas alguns dos mais importantes programas de investigagio jent(fica progrediram com base cm fundamentos inconsistentes ” De facto, em tais casos a melhor regra do cientista € com tquéncias “Allez en avant ee Ia foi vous viendra”, Esta repra antipopperiana garantiu um re igio para o clculo infinitesimal rseguido pelo Bispo Berkeley, © para a tcoria ingénua dos conjuntos no perfodo dos primeiros paradoxos. Na realidude, se 0 jogo da ciéncia tivesse sido jogado de ucordo com a cantitha de regras de Popper. © ensaio de Bohr de 1913 nunca teria sido publicado atendendo a que se encontrava inconsistentemente enxertado na teoria de Maxwell, ¢ us fungdes delta de Dirac teriam sido ocultadus até Schwartz, Lm geral, Popper atribui tcimosamente um valor excesnivo & surpreendente forga imediatu da critica puramente negative, "Uma vez detectndo um erro ou uma contradi¢do, nfo pode haver quilquer evasiva verbal; pode ser comprovado, ¢ pronto” ("), E deste modo que algumus das apreciagdcs “basicus”* da dlite cientffica “falsificam” as definigdes de ciéncia c élica cientifica de Popper. Nota, Nao defendo na realidade 0 meta-critério descrita na sec- ¢do (b) e apticado na seccdo (0), Negurei as teres de ambas as sec (des no que se segue. Apenas escolho este modo dialéctico socritico- -popperinno de desenvolver a minha posictio poryic penso scr esta a melhor maneira de desenvolver um argumento complexo: culocan- do uma questfio simples, dando uma resposta simples ¢ em seguida criticando a resposta (c possivelmente a questo), sendo deste mode, conduzido n questdes mais sofisticadas a yolugdes mais sofistica- das, Esta abordagem sugere também que a disléctica ndo termina numa “solugito final", (d) Um critério de demarcaga&o methorado. sea definigdo de cidncia de Poppet i Ir Ren aes Pode facilmente melhorat Te essencias da citncit de modo a que niio volte a excluir gambit 161 problema if séries historicas de teorias. de ea ¢ pela alteragao das regras de Popper para a de teorias (“). primeiro lugar, ym aceitar-se Como convengées nao sé Em primeira ee unciados universats: de facto ntinuidade do crescimento cientifico (©). A unidade basica de apreciagao nao deve ser uma teoria ou conjungao de teorias isolada mas antes um programa de investigagéo, com um niicleo firme convencionalmente aceite (e, oa, wirefutdvel” por decisio temporaria) ¢ com uma que define problemas, prevé anomalias ¢ as transforma vitoriosamente em exemplos de sucesso de acordo com um plano pré-concebido. Ocientista regista anomalias, mas, desde que o seu programa de investigacdo aguente 0 seu fmpeto, ignora- as. A escolha dos seus problemas é ditada essencialmente pela heurtstica positiva do seu programa ¢ ndo pelas anomalias (“), Pode prestar-se mais atengao as anomalias apenas quando a for¢a motriz da heuristica positiva enfraquece. (A metodologia dos explicar deste modo a relativa programas de investigarao pode autonomia da ciéncia tedrica; as cadeias, sem ligagdo, de conjecturas ¢ refutagdes de Popper nao © podem fazer.) A apreciagdo de grandes unidades como os programas de investigaco é num sentido muito mais liberal e noutro muito mais severa do que a apreciaco de teorias de Popper. Esta nova apreciagao é mais tolerante no sentido de que permite a um programa de investigacao libertar-se das doen¢as infantis, tais como fundamentos inconsistentes ¢ jogadas ad hoc ocasionais. As anomalias, as inconsisténcias, os estratagemas ad hoc podem ser consistentes com 0 progress. O velho sonho racionalista de um método mecénico, semimeciinico ou, pelo menos, de ac¢Zio rapida paraexpor a falsidade, a falta de comprovacio, as tolices sem sentido sau nenna neva irracional, tem de ser abandonado. Apreciar alee investigaclio leva muito tempo: a corujade Minerva ‘crepdsculo. Mas esta nova apreciagio ¢ também mais severa heuristica positiva 162 APOSICAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAOE 4 INDUCAO ; 1c exige nao s6 que um programa de investi en peer predizer novos factos, mas também eae tor das suas hipéteses auxiliares seja largamente construido de acordo com uma ideia unificadora pré-concebida, estabelecida ani jo na heuristica positiva do programa de investigacao (“). £ muito dificil decidir, especialmente se 0 progresso em cada asso singular ndo é exigido, quando € que um programa de investigasao degenerou irremediavelmente; ou quando um de dots P rivais atingiu uma vantagem decisiva sobre 0 outro. Nao existe qualquer “racionalidade imediata”. Nem a demonstragdo de inconsisténcia do légico nem o veredicto de anomalia do cientista experimental podem derrotar dum 56 golpe um programa de investiga¢ao. Apenas se pode ser “sensato” depois do acontecimento. A natureza pode bradar NAO, mas 0 engenho. humano ~ contrariamente a Weyl e Popper (““) ~ pode ser sempre capaz de bradar mais alto. Com o suficiente brilho, ¢ alguma sorte, qualquer teoria, mesmo sendo falsa, pode ser “progressivamente™ defendida por um longo perfodo de tempo. Mas em que momento devem ser rejeitados, uma teoria particular ou um programa de investigagdo completo? Reivindico que apenas se existir outro melhor para 0 substituir (7). Deste modo separo a““falsificagao” € a“rejeigio” popperianas, cuja reunifo veio aser a principal fraqueza do seu “falsificacionisno ingénuo” (“). A minha modificagao, portanto, apresenta um quadro do jogo da ciéncia muito diferente do de Popper. O melhor gambito de abertura é, ndo uma hipétese falsificavel (e, por conseguinte. consistente), mas um programa de investigagao. As meras “falsificagdes” (isto €, anomalias) so registadas mas ndo seguidas. As “experiéncias cruciais” no sentido de Popper nio existem: no melhor dos casos elas so titulos honorificos atribuidos a certas anomalias muito depois do acontecimento, quando um programa foi derrotado por outro. Para Popper, uma experiéncia crucial € descrita por um enunciado basico aceite que € inconsistente com uma teoria. Eu defendo, entre outras coisas, que nenhum enunciado bisico aceite nos autoriza, sé por si, @ rejeitar uma teoria. Um tal choque pode representar um problema (maior ou menor), mas em 163 en rr ae cae - cao € METOOOLOGI DOS FROGRAMAS PE VESTC ACh y" i i «“yit6ria”. Nenhuma experiénci: > nenhuma circunstancia uma vi perigncia ¢ erica na altura em que € realizada (excepto talvez psicologica. mente). O modelo popperiano de “conjecturas € refutagdes”, isto ¢ potese seguida pelo erro-revelado-pela o modelo da tentativa-por-hipdtese TO-f -experiéncia falha (). Uma teora s6 pode ser eliminada por uma teoria melhor, isto , por uma teoria que comparativamente eee predecessoras apresente um conteddo empfrico adicional, parte do qual é posteriormente confirmado. E para esta substituicao de uma teoria por uma melhor, a primeira teoria nem sequer necesita de ser “falsificada” no sentido dado a este termo por Popper (*). Assim assinalado nao por instancias falsificadoras (*') mas antes por instncias verificadoras do contetido adicional, ¢ a “falsi- ficagiio” ¢ a “rejeigdo” tomam-se logicamente independentes (), Popper afirma explicitamente que “antes de uma teoria ter sido refutada nunca podemos saber de que maneira ela tem de ser modificada” (°). Do meu ponto de vista as coisas passam-se exactamente ao contrério: antes da modificagao nZo sabemos de que maneira a teoria foi “refutada” (se € que 0 foi), ¢ algumas das mais interessantes modificagdes so motivadas pela “heurfstica positiva” do programa de investigagao e nao pelas anomalias (*). © progresso € (e) Um meta-critério melhorado. Um opositor poderia reivindicar que a falsificago do meu critério nao € muito mais dificil do que a do de Popper. O que se passa com o impacto imediato das grandes experiéncias cruciais, como da falsificacdo do princfpio de paridade? Ou com os longos vulgares procedimentos de tentativa e erro que ocasionalmente precedem a proclamagao de um programa de investigagao mais importante? Nao se opord o julgamento da élite cientifica 4s minhas regras universais? . Gostaria de apresentar a minha resposta em dois est4dios. Em primeiro lugar, gostaria de corrigir: ligeiramente o meu meta-critério tempordrio anteriormente anunciado (5) e, em seguida, substitui-lo ha sua totalidade por um melhor. 164 APOSIGAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAQ E A INDUGAO Em primeiro lugar, a ligeira correcgao. Se uma regra universal choca com um “juizo basico normativo” particular dever-se-ia conceder algum tempo comunidade cientffica para reflectir sobre ‘ochoque: podem abandonar 0 seu juizo particular e submeterem-se aregra geral (*). Estas falsificag6es de “segunda ordem” nao devem ser apressadas. Em s¢ gundo lugar, se abandonamos o falsificacionismo ingénuo como método, porque nao o abandonamos como meta- -método? Podemos facilmente dispor de uma metodologia de programas de investigacao cientifica de segunda ordem. Embora defendendo que uma teoria da racionalidade tem de tentar organizar oS jufzos de valor basicos em estruturas coerentes euniversais, ndo temos de rejeitar imediatamente uma tal estrutura apenas por causa de algumas anomalias ou outras inconsisténcias. Por outro lado, uma boa teoria da racionalidade deve prever niteriores jufzos de valor basicos, inesperados a luz das suas ecessoras ou até conduzindo a revisdo de juizos de valor basicos anteriormente defendidos (7). Apenas rejeitamos uma teoria da racionalidade quando dispomos de uma teoria melhor, que, neste sentido quase empiric, representa uma mudanga progressiva. Deste modo, este novo — € mais suave — meta-critério permite-nos comparar I6gicas da descoberta rivais e discernir o desenvolvimento no conhecimento “meta-cientifico”. Por exemplo, a teoria da racionalidade cientifica de Popper ndo necessita de ser considerada como “falsificada” apenas porque écontréria a alguns jufzos basicos actuais de cientistas eminentes. De acordo com onosso novo critério, pelo contrario, ela representa progresso sobre as suas antecessoras justificacionistas. Porquanto, contrariamente a estas antecessoras, reabilitou a categoria cientifica de teorias falsificadas como a teoria do flogistico, invertendo deste modo um jufzo de valor que tinha expulsoestada historia da ciéncia propriamente dita para a hist6ria das crengas irracionais. Inverteu igualmente a apreciagao da estrela em decadéncia da década de vinte: a teoria de Bohr-Kramers-Slater (*). A luz da maior parte das teorias justificacionistas da racionalidade, a histéria daciéncia & no melhor dos casos, uma histéria de preliidios pré-cientificos a 165 —<=—=——-=Ss> FALSIFICAGAO E METODOLOGIA DOS PROGRAMAS DE INVESTIGACAg, ‘uma histéria fitura da ciéncia (”). A metodologia de Popper permitia ao historiador interpretar, como racionais, uma maior quantidade dos juizos de valor bésicos presentes na hist6ria da ciéncia: isso constitufa progresso. . Por ple Jado, espero que a minha modificagdo da légica da descoberta de Popper seja encarada, por sua vez — com base no critério que especifiquei -. como constituindo um outro passo em frente. Porquanto ela parece oferecer, come racionais, uma descrigdo coerente de jufzos de valor bésicos isolados ¢ mais antigos; de facto, ela conduziu a novos e, pelo menos para o justificacionista ou para © falsificacionista ingénuo, surpreendentes juizos de valor bésicos, Por exemplo, com base na teoria de Popper, torna-se irracional manter e elaborar ulteriormente a teoria gravitacional de Newton depois da descoberta do periélio anémalo de Merctirio; ou toma-se irracional desenvolver a velha teoria dos quanta de Bohr baseada em fundamentos inconsistentes. Do meu ponto de vista, estes foram desenvolvimentos perfeitamente racionais. A minha tcoria, 20 contrario da de Popper. explica algumas escara-mucas de retaguarda, por programas derrotados, como perfeita-mente racionais, ¢ conduz, assim a inversio dos jufzos historio-graficos-padraio que levaram ao desaparecimento de muitas destas escaramugas dos compéndios de hist6ria da ciéncia (“), Estas escaramugas de retaguarda foram anteriormente climinadas pelas histérias indutivista e falsificacionista ingénua. O progresso na teoria da racionalidade é assim assinalado pelas descobertas hist6ricas: pela reconstrugio como racional de um volume crescente de histéria impregnada de valor (1), Esta ideia pode considerar-se como uma auto-aplicagdo da minha teoria dos programas de investigagao cientifica a um programa de investigagao (nao cicntffica) respeitante a apreciagSes cientfficas (*). Eu Posso, é certo, responder facilmente 4 questio relativa a quando estaria disposto a abandonaro meu critério de demarcagao: que for Proposto outro que com base no meu meta-critério seja vee sande nao Tespondi a questo relativa a saber sob que dincias abandonarei o meu meta-critério; mas € sempre necessArio que se pare nalgum lado (*).) 166, APOSICAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAO EA INDUCAO Finalmente elaborarei um pouco mais desenvotvidamente duas caractertsticas da minha metodologia ¢ meta-metodologia. Em primeiro lugar, advogo uma perspectiva cssencialmente quase empfricacomo alternativa a Perspectiva aprioristica de Popper ‘a alribuigdo de leis 4 ciéncia (“). Eu no estabeleco regras gerais do jogo a priori, de tal modo que, se a histéria da ciéncia vier a violar as regras, tenha de comegar tudo de novo. A lei deve terem conta, para no, dizer que deve ter como base, 0 veredicto do joni cientffico. De acordo coma doutrina conservadorade Oakeshott a polanyi, apenas deve cxistit 0 jtri liberto da influéncia da lei escrita, De acordo com Popper nao € suficiente - mesmo com o direito consuetudindrio ~ apenas o jiéri. Deve existir a autoridade do decreto parlamentar para distinguir entre a boa ¢ a m4 ciénciae para orienta’ 0 jUri em perfodos em que uma boa tradicao se encontra em perigo de degenerescéncia ou quando emergem novas e mas tradiges (*). Mas, do meu ponto de vista, deve existir um sistema duplo de autoridade, porque 0 discernimento do jiiri cientffico nao foi, e nfo pode ser, completamente articulado pela fei do filésofo. ‘As leis necessitam de intérpretes com autoridade. E por esse motivo que, em assuntos de autonomia académica ¢ da autoridade da tradigdo, eu me situo, se bem que apenas ligeiramente, a “dircita” de Popper, mais “liberal”, que, segundo a minha maneira de ver as coisas, tem uma confianca bastante ingénua no poder da sua Ici (justa) do comportamento cientifico, ¢ esquece que alé ao presente todas as “leis” propostas pelos filésofos da ciéneia vieram a revelar- -se como interpretagdes generalizadoras falsas dos veredictos dos melhores cientistas. Até ao momento presente o principal padrao de medida das leis universais do filésofo tem sido constitufdo pelas normas cient{ficas tal como sdo instintivamente uplicadas pela élite cientifica em casos particulares. O progresso metodoldgico ainda se encontra atrasado relativamente aos veredictos cient/ficos instintivos no sentido de que © principal problema consiste em encontrar, se possfvel, uma teoria da racionalidade que em ver. de ser responsdvel pela interferéncia legislativa da filosofia da ciéncia sobre as ci@ncias mais avangadas antes explicaria a efectiva racionalidade cientifica (“). 167 FAL SIFICACAD E METODOLOGIA DOS PROGRAMAS DE INVESTICNC Ac, Em sepundo lager dclendo get + fowls d2 citacia fencions ‘mums Como gums para 0 festorxador da cabmcrs Gn que para n Ceemtegta Uma vez gue ce pemsc que 20 filowias da racwmalidate op encostram. mewmo boye em ds2. atrasadas relativamente 5 racsonaddade cocetifinca. comnder deficd compariithar por comple; opemeuer, de Papper para qacm wma melbor fdenofia da cibacia cometenseré wera peda comuuderdvel pata 6 cucntiva (>, embena ely potas wom Osta xandar - ¢ 2 fiends de Popper tem agdadry ~ weeien prendies crates ony, palgaerents, oertficns tn detormadss peta anfotaces te. fibcahias MEU REA € Sarees Tard. sean lev ana orn: grande aérncr:, he prcbletras Wire vetoes quewian mapenanien a, page 6a mac dade, at ate equilfbne omer a lei & piri. an mecamene: da modangs Comirtucumsl, enqpams, wplactven 2 cibmcia A cukncia meistecvmalizada phe & demrcran petucepede ‘comme: 14 parcuom pensar alpane cvtucernen, semadore: american ¢ membnn do Varlaments: betsncoy A Gecmks: cararifica noes prede beseatae ne vise: da mavens Mae Geverts cathe ver paiada poly deepetsime exclarecida”? A Commarentiate Cw nca ¢ wet ve veatie ~ aber la”, Conn 0 comers Popper, im lermacta’. omen, 4 cmmuders FeAanys ¢ Kalen’ & qual hevera wx, Ean ve7 Ge tne debiecar man whee este camge, de problemas, onde 2 tern de Kate € presemiememe & cemto de diwuteso, deoven-me-n para © problema da inden be € 2 nea tetagho tran o prubherns Ga Gesnatt abt, Scluches negatives « poditives gars o prothems da induche: Coie ¢ ahi (a) O jogo da ciéncia ¢ a busca da verdade. Lime Vagrs 4a descrheria” ws settsde peapperiatets, whe é, wi pealeree Ge myer sate, te termi Cuertificas, detone “tagras Str yrgo coentiheco” ("; bates regres Gemaecann » ciéncin da mbir-cibmeee & om parncolar da premicibrcc. Aerecende aseem wm crittric de CE APOSICAD DE FOPTER SOBRE A DEM ABCA AG & 4 a Oe A ALD Mas, ROM pont, este critérie de do ape 2 maser pare don créivn maton tne a aun pare: dos cries anteriores estabelectam com fim da cibncia a descoberta do proyenis dn univers: Cada “dewshena” om potaga deste preyect, deste reads) cada pases de, ere int coma om paaso cm Girecyde 2am firs Mas cpeal o fim 40 “yg cuensifica’” de Popper’ So indarisnn.s pay estava nye netenie rdacemada com 0 whordinado an Fim Sa tikadia de bop cata begagSn parece let-se romp As regres do ygs, ares drga, euuicriamnyse aM proptias mas sem qualouer wetentieite fibaificn Faas estar aes & fr2g3) O pecilems da induydy, tal wate Pgyet ate latte tin @ menus. fia aiymarianetic tain as pod lets dat ra «40 On yostshicacvanctas vitenbmatatn rigrarnatiette astryre do yan 20 fon da cibricia, 3 dew tdena be props Ys cons eeties att pase go pga ciemilfinss eta wberpiates, uarette ve (eke conmpetraide tpoe cle fa wri pases ha fecunin, es, Brite pruysti tm. Chaves tas tarde many madertarnente revsinde. ater, w firme comprireude por era wen panel, Caprese nen hevat até che 195” ptireGret) Maa Hoppe pe evtady? snital da cua fibowd ra, alteron ts contre de praritade da prbhe tra de Aectraat ak & Mpattay +i the par dleeiss Ba stake, be) Ve wohee rains ts piithetts tha derrnatc ain vein jostibicet 1s pauls ws berdenandy, 0 a uin objer ive tinal. € ern equa fev stsber Ut tolwe vaca, ne gativatne nie (at, aides. vayriinedos pradeina da pada ie, Ble waertias esta G)litiee $e) she ae Ate 8 Ut ay ae aanerybe de que 0 pan 6 aulinnme, yr tinny yale 6 tty & eceniben, comprar quan yarn tralietsn wugiek 1 Wier ay ay ven firm, apenas te peal eaperar paresar yn ane Aclécswe bogth der Boru hung, te brace & ! 6 jogo dha tabncia que Me yt sumplevenenie ft aaguiks ag ‘ Bandentrrrente, & runes clare que a respents imstintiod oe Fegget fen que e Sin da ciencsa ore ee Gacy a tte da ¥ jonni mendes, arc ins sha teens a cemsn padi 4 Mo ‘ a em er ips che penseas tyr halla pia fared a nar ort a ue me peruse cautelera, qc, a sina feanrinla ats 6 Ne a era imertarcrie chpiv.a a cobtene peste tee macited demtenie 1a 1 ————— NS" iat Sa FALSIRCACAO E MBTODOLOGIA DOS PROGRAMAS DE INVESTIGACAO. _AIDSIGAO DE FOFPER SOBRE ADEMARCACKO ADU re a coerce eres ICAO. tentativamente — detectar 0 erro, Ele observou orgulhosamente que publicagao da Logik der Forschung, Mas, quando isso acont eceu, modificou radicalmente o tom geral da filosofia da cigncia d ncia de “na sua Wigica da ciéncia € posstvel evitar a utilizagao dos conceitos : popper. Estimulou Popper a completar a sua Iégica da di ta, ‘verdadeiro” ¢ ‘falso™ (7'), Se a ciéncia era vitoriosa, era-o na rejeigdo de teorias refutadas ¢ na aceitagdo proviséria de teorias com a sua propria teoria da verosimilhanga e da aproxi corroboradas (7), O “€xito” da ciéncia no era mais do que o yerdade. uma realizagdo maravilhosa tanto na sua sim nee . desmascarar de alegados &xitos: de facto, “os que so relutantes Gomo no seu poder para solucionar problemas (), Toros em expor as suas ideias ao risco da refutagdo no tomam parte no possfvel, pela primeira vez, definir progresso até mesmo. ca real jogo cientifico” (), Se uma teoria resiste a testes severos, & \ sequéncia de teorias falsas: tal sequéncia constitui Berets galardoada com o titulo honorifico de “corroborada™. Mas a tintca seu conterido de verdade, ou, como o props Popper, a sua cae . funcio da corroboragio elevada é a de desafiar o cientista ambicioso ‘hang (eontesido de verdade menos comteide de falsidade) aumenta, a derrubar a teoria (7). O “progresso” cientifico nao é Mas isto nao & suficiente: temos de reconhecer o progresso. Isto desenvolvimento do conhecimento mas antes consciéncia acrescida pode ser facilmente feito recorrendo a um principio indutivo que da ignorincia. E “aprender” sem jamais conhecer. relaciona a metafisica realista com as apreciagdes metodoldgicas. (Popper parece nio ter compreendido completamente que, a verosimilhanga com a corroboragio, que reinterpreta as regras do dentro dos limites da sua Logik der Forschung, ele nem sequer “jogo cientifico” como uma teoria ~ conjectural - sobre os sinais A questo, “O que se pode aprender no jogo da do desenvolvimento do conhecimento, isto & sobre os sinais da ciéncia?” Nao se pode aprender algo acerca do mundo mesmo a verosimilhanga crescente das nossas teorias cientificas (”). As partir dos préprios “erros™, nao se pode detectar o erro “yegras” de Popper j nao sio, por conseguinte, perseguidas por epistemolégico genuino &@ menos que se disponha de uma teoria da aquilo que sao: as vitérias daciéncia ja nao sao, pois, apenas vitérias verdade ¢ de uma teoria sobre como reconhecer 0 acnéscimo ou 0 num jogo; sdo até mesmo mais do que meras detecgées do erro € deeréscimo do conteiido de verdade. Um “falsificacionista substituigdes de teorias erréneas por erros cada vez mais dogmstico” pode. evidentemente. aprender algo acerca do mundo compreensivos: tornam-se em vez disso marcos reputados na a partir dos seus errs: um “falsificacionista metodol6gico” nao, aproximagio A verdade. (A famosa “terccira exigéncia” de Popper. como procurarei demonstrar mais tarde, sem invocar qualquer introduzida precisamente neste ensaio, pode também ser vista contra Principio da indugso (*). este pano de fundo: nao sfo as detecgdes permanentes do insucesso Expressando-me mais nitidamente: 0 critério de demarcagdo mas antes as corroboragées de teorias mais importantes que st de Popper nada tem a ver com a epistemologia. Nao nos diz nada tomam postes de sinalizagao do sucesso. sobre 0 valor epistemoligico do jogo cientifico (7°). Pode decerto, ' Como consequéncia, o tom da discussio de Popper do independentemente da légica da descoberta aceite, acreditar-se que cepticismo modificou-se nitidamente desde 1960. Antes de 1969, omundo yexteno existe, que existem leis naturais e até mesmo que ele nada disse contra o cepticismo nem distinguit 0 cepticismo do © jogo cientifico produz proposigées sempre mais préximas da falibilismo. Mas, desde 1960, Popper modificou a sua posigdo \Verdade: mas nada hé de racional acerca destas crengas metafisicas; tendendo para o optimismo epistemolégico. Separa Presentermente elas sio meras crengas animais. Nada existe na Logik der Forschung de modo consistente 0 cepticismo e 0 falibilismo.e. na tealidade, ° com . Loe : .céptico mais radical precise de discordar. seu célebre primeiro apéndice & quartaedicao da sua Open Society ae rae da teoria da correspondéncia da consiste quase inteiramente numa exortasao contra 0 cepticisne aoe jjecto da aten¢io de Popper depois da Embora na sua metodologia as decisdes desempenhem 0m papel 170 71 vital (}, ele é agora firme ¢ explicitamente COntrario & 44, interpretaco como “passos dados as cegas”. Uma tal j _ Seria “um exagero¢ uma: ns préprios; e embora sejamos falfveis, verificamos today} 08 nossos poderes de compreensio s40, surpreendente: ta que n Mente, quase adequados para a tarefa - mais do que alguma vez 0 podertamog sonhar ("). Para alguns dos estudiosos de Popper, tudo isto que a traig3o a tudo o que Popper tinha defendido; parecia ser uma Parecia como compreendemos por que motivo Popper nao tinha apresentado uma solucdo positiva para a indugéo em 1934. A realizacho mais importante da sua Logik der Forschung foi a de mostrar que o problema da demarcagio se pode resolver sem estar envolvido qualquer “princfpio indutivo”, que, por seu lado, 86 poderia assentar numa teoria da verdade satisfatéria. Esta foi uma realizacdo muito importante. Mas, depois da resolugao desta maneira auténoma do problema da demarcacio, a ligacdo entre 0 jogo da ciéncia, por um lado, e 0 desenvolvimento do conhecimento, por outro, tem de ser reestabelecida. Admitindo que uma vez. que se aceite a alteragdo de problemas de Popper, a demarcagdo e a “indugio” se tornam Problemas separados, a solucdo do segundo tomnar-se-4 um corolério Possivelmente trivial da solugo do primeiro. Mas o reverso no deve ser esquecido. A solugio positiva do problema da indu¢io consiste no facto de 0 jogo cientffico, tal como é& jogado pelos grandes cientistas, ser a melhor maneira existente de aumentar a verosimilhan¢a do nosso conhecimento, de Ppermitir a aproximagao a verdade; 0 sinal da verosimilhanga acrescida € 0 grau de corroboracao acrescido. Tenho poucas ditvidas de que se a teoria da verdade de Tarski tivesse surgido em 1925 (e se Popper tivesse chegado & sua ideia de contetido de verdade e verosimilhanga por 172 volta de 1930), Popper teria inici ee com esta soluco positiva do fee a at er Forsch : a ideia de verdade se encontrava em desordern . gee cle no sabia da existéncia dos resu}y des Be ving forrmlou as “re gras” da citncia unicamente nog Tarski a Gpcca, de rejeigdo € aceitacZo. Fé-lo de mode tio ene pes PEMicon que tentaram mostrar que a sua ideia ori insinvaeeat se deve realmente encontrar af como nar cat, + Popper conseguiu ata ihaneing eaactitabilidade, (as suas apreciacies ae ; a si préprias € tornou-as logicamente independentes ds aceitabilidade, ("*). Mas, filosoficamente, como © afirmei anteriormente, essa situagao era frégil sem 0 Sustentéculo de uma metafisica “indutiva” conjectural subjacente, As apreciacdes metodol6gicas de Popper sao interessantes essencialmente por causa da suposi¢do indutiva oculta que, se elas forem respeitadas, a5 possibilidades de aproximacdo a verdade sero maiores. O valor da correboragao adicional consiste no facto de cla indicar que os cientistas podem eslar a aproximar-se da verdade, tal como o voo dos passaros sobre a nave de Colombo consistia no facto de estes indicarem que os descobridores podiam estar a aproximar-se de terra (*). Assim, uma vez que dispomos de uma teoria da verosimilhanca. podemos correlacionar as apreciagées metodoldgicas com as apreciagdes epistemoldgicas genufnas. As apreciacdes metodol6- gicas sio analfticas; mas, sem uma interpretagao sintética, permanecem despidas de qualquer significado epistemolégico genufno, permanecem como parte de um puro. JOg0. Deve fornecet- -Se, Com 0 auxilio de um princfpio indutivo, uma interpretagao nova ¢ sintética as apreciag6es metodoldgicas de Poppe deve existir uma “aceitagao,” baseada na “aceitagao,” ena tn io ‘$6 uma solugo positiva deste tipo para problema as ee Pode separar o falibilismo construtivo do ceria eae : suas péssimas consequéncias, tais como 0 ea ats irracionalismo ¢ 0 misticismo. Todavia, Popper. é¢Po: 173 enema _—_—UlUlUmlmC~™” PALSHACAC KOR METIOLOGTA DOS DROGRAMAS DE INVESTIOAC AG. farmecado ay forTATRENTAS PNET uma suhigdo positiva esse tipo sob a forma da sua teoria da vennermilbanga, TARE Se ‘Rlativamente a war cruncandy clare cQplene de urna sotugdo positiva do prodlenia tpoppenano! da induyto, isto & do problema do vator episte. mokigno da sua Kigkta da investigayao. (b) Um repto a Popper por uma Infada de “indutivismo™, Popper no exptorou por completo as Possibilidades abertas, pela sua viragem tarskiana, Embora fale hoje em dia livremente sobre as ideias metafisicas de verdade ¢ falsidade, nao serd ainda capaz de afirmar inequivecamente que as apreciacdes positivas no seu jogo cientifico podem ser consideradas como um sinal — conjectural - do crescimento do conhecimento conjectural; de que a corroboraclo é uma medida sinzética — embora conjectural - da verosimilhanca. Ele ainda acentua que “a ciéncia erra frequentemente ¢ que a pseudociéncia pode ocasionalmente topar com a verdade” ("). Embora fazendo fortes prédicas optimistas em louvor de conhecimento humano (*), quando chega a altura de um. enunciado preciso restringe 0 seu “optimismo” a uma tese céptica elfssica: “sou um realista metafisico, ¢ um optimista epistemolégico ‘no sentido de que defendo que a veracidade (“verosimilhanga”) das nossas teorias cientfficas pode aumentar: € deste modo que aumenta 0 nosso conhecimento” (*), Um céptico pode, evidentemente, defender crengas realistas; mas do enunciado de que “a verosimilhanga das nossas teorias cientificas pode aumentar”, ‘apenas se segue que “o nosso conhecimento pode aumentar — mas sem que o saibamos”. Assim sendo, até mesmo o recém-descoberio falibilismo de Popper nada mais é do que o cepticismo em conjunto com um panegtrico do jogo da ciéncia. A teoria da verosimilhanga de Popper permanece uma teoria Iégica-metafisica que nada tem & ver com a epistemologia. . Nio € de admirar, por conseguinte, como o diz Watkins, que ‘na discussfo critica da epistemologia de Popper [encontramos Seralmente] a suspeita de que, longe de resolver o problema da 174, oe AWVSICAO DETOPPIR SOORK A DEAMARCACKOR tan - UEAD ecolla rac ional entre hipsteses em compet es undue aun copricismo rematida” (*), we Aresposta de Watkins € excepeionatmente Nicida, Val na MiteyRe UNA Passage: edo, a sta Metodologia ; le a pena ital “Muitos filésofos que abandonaram a. espeninga de que quai dos nossos enunciados empiricas sobre o mundo externa, se)am ee manténa-se fidis Us Mais tenazmente desperanya te ‘Que pelo menos alguns deles scjam menos incertos do que outns, Esses fildsefas, tendem a caracterizar como cepticismo a tese de que tadas vs enunciados empiticos acerca do mundo externo sdo igualmente incertos, Usarei ST1 como uma abreviatura para esta (primeira) tese ‘eaptica’. Ora a filosofia de Popper é ‘eXptica’ no sentido de STI: mas neste caso o “cepticistio” neste sentido parece-me ser inevitdvels (*), Em seguida Watkins continua: Os fildsofos que depositam as suas esperangas, no nas certe- zas, quer absolutas quer relativas, mas na discussfo racional ¢ na critica, preferirio caracterizar como cepticismo a tese segundo aqual nunca dispomos de uma boa raza para preferir em detrimento de outro enunciado empirico sobre o mundo externo. Usarei ST2 como uma abreviatura para esta segunda tese céptica. STI ¢ ST2 ndo so. de modo nenhum equivalentes. ST2 implica ST1 (partindo da supo- sigho de que, s¢ uma hipdtese fosse menos incerta que outra, isso constituiria, em igualdade de condigdes, uma razo para a preferi). Mas ST1 nao implica ST2: podem existir razdes que nada tém a ver com acerteza relativa para preferir uma hipétese a outra. Os cientis- tas empiricos ndo podem esperar ter boas razdes para preferir ua hipdtese explicativa particular a todas as possiveis (em mtimero infi- nito) alternativas a ela. Mas. frequentemente, cles tém boas razdes para preferir uma de entre varias hipdteses em competigao que fo- ram realmente propostas. A metodologia de Popper diz respeito ® como uma hip6tese pode ser racionalmente apreciada rome a melhor que outras hipsteses sujeitas a discussio € ao que seria ne cessério a uma hipétese futura para ser melhor que esta” (C)- 175 a ALSTICACAO R MIETODOLOCIA DOS PROTRAMAS DR INVRENAC AG Mas ay boas rardes para prefers um enunciado. emMpiticn tobre © Mund exter, em detrimento do out, so. eatabelecidas ne omerio de demarcagao de Dapper, nas suas rogtas do ogy da cing Apreferdnem ¢ apenas um conceit prigmaticn, dentin doe an, iene deste jogo Usta preferéncia apenas pode aaumir um MEM ads epttemoligico com o autho de um principio indutive (Ou, se 46 Prefer, quare indutive) sintétion adictonal que de algum mx in afirmana a supenondade epistemolégica da cién sobre a proudociénci Um tal principio indutvo deve basear-s, ec Au expec ie de corrlagdo entre © “grau de coroborag do” ¢ 9 tai Veroumilhanga” Max tanto a posiyho de Popper comoa de Watkins sho ambiguas no que respeita a saber seo grau de Corrobotacio pode ser interprctado sintetrcamente, Por exemplo, Watkins assevera. “podemos ter boas rarées para defender que uma hipitere particular h2 estd ma perto da vendade do que uma hipstese rival AI"). Mas isto contradiz a sua afirmagao anterior de que hl eh? Sho ambas igualmente incertas, a menos que ele utilize Os termas “igualmente incertas” ¢ “mais perto da verdade” no sentido pickwickiano de que podemoy ter boas razdes para sustentar quc h2 estd mais perto da verdade do que hl, embora ambas sejam tgualmente incertas (*), Mas tais paradoxos so inevitdveis Para os filésofos que pretendem 0 Impossivel: combater a pseudociéncia Partindo de uma posic¢lo céptica, De facto, Popper tende recentemente aqueinar se de que alguns dos seus criticos acreditam que cle € um mero “negativista”, que ole € “superficial sobre a Procura da verdade, ¢ se dedica A critica estéril e destrutivac & Proposta de pontos de Vista que so claramente Paradoxais" (**), A resposta de Popper tem tanto de belo como de Pouce convincente: APONIQAO DR PorrrR SOREL be MARI Ay AU PAU Ate as, que. embora cejainas falfveiy, PU aren erro Papenan a lesa da verte ue wissen ' te las err de TGA eae tonal Hat seen ' We O14 Bonetyrt 4 a 5 tactonal 10 ¢, wltsc sedi cits «pein atany 0 a Piton som a MONE DN EL ae apewsimatne 09 ta verstate Asain, « Mie leladeg nt Mea be ery ec falitulidade cnvrlve naleuade aia vera byes ty 0 pa ORO peat) de que pantemos ter falta (I neste sentity Sie a telong dhe tama idea regatadora) 4 Ne weritate 4 AEE Hh Os een a¢ria de eliminate tantor quant ani Nada se clue nesta paysageny robre come re que revelam a aproximaydy a verdade, nad. assergdu de que devemon jogar teriamente a experancasde nos aproximannios§ verlade Mas terds Pinan « Hana ido alguma coma contra ser nO" OU ler “esperang ay”) De modo a chiificar mais todo o Problema, analsarer com brevidade a eritica di indug ie de Popper A reputaydo de Popper é adequatamente a de ser 0 tagelo da indugdo. Mas, tal comp o assinaler anterrormente, win de se distinguir cundadosumente (pelo menos) tres questdes logicamente independentes na campanha anti-indutivista de Papper. () Em prmeiro lugar, existe a campanha contra a lagna indutvista da descoberta, Esta & a doutrina bacomana de aconta com a qual uma descoberta & cientitica somente se é ertennida pelos factos € ndo € mal orientuda pela teona, O crentsta deve comeyar por remover da sua mente ay teortas (ou antes precion- ceitos), a natureza tomar-se-4 entio para ele um livre abette (7) Esta doutrina ja sofreu a oposiy ao dos ractonalistas come Descartes Kant, mas até mesmo estes demurcaram mis teunas fumecende uma ma onentayio de bons prneipios a prion que a intuig.e pe feconhecer como verdadeiros. O metodo de conjesturas hvres ¢ Cnlativas ¢ testes empineus desenvolvido apenas cm eytidsiy a paftt de Whewell, Bernard. através de Pouce ¢, tinalinente, pelos bergsonianos, até abcangar clareza ¢ fury unicas no “entero de demarcay do" de Popper, que demarcavace ste etude de dew beta € Progresso crentifico tanto da colceydo de factos imatutivista sire combecer on nai Mt Ne ulttapaase WHO Gentitcn, na i spina ho E METODOLOGIA DOS PROGRATSS DE DSESTONCAO metafisica. Nesta campanha. Popper alcancou Lago plano intelectual, mas a nth mente; pelo menos entre filésofos da ciéncia sociopsicoloetrmg€ toad a séio pelos mais provincianos ¢ jletrados. Nesta linha, ele propés também uma Soria positive sabre papel da especularo ¢ da experiéacia no desenvolvimento da oi (7), mas isto nao constitu a tiltima palavra sobre © assuntg 20s axiomas do cAicalo de probabilidades. O cora¢ao deste programa é aconstrugao de ume metaciéncia a priori (definindo uma fun¢ao de distribuico acerca de um mémero finito ou enumeravelmente jnfinizo de estados possiveis do universo) que permita a computacio de fancies de confirmacdo. Assim acerteza € transferida da ciéncia do real para 2 metacigacia do possivel, a qual, por sua vez. fornece ums teoria d2 confirmacao comprovada para a ciéncia. Este programs foi iniciado par filésotes de Cambridge (Johnson. Broad. ‘Keynes)e os sews proponentes mais persistentes ¢ inflnentes vieram 2 ser Hans Reichenbach ¢ em seguida Rudolf Camap ("). Popper dicancen também nesta campenka um vitdria completa, embora a “Weica mdutiwa" exibenco todas 2s caracteristicas de um programa de invesigacic degeaerativo seja ainda — sociologicamente — uma i Sepera (Uma fragneze deste segende paste d2 campanha anti-indati- visti de Popper fot 2 saz determinacdo de alcancar uma vitéria clare ¢ decimtive com @as Gmico golpe; quer mostrando que a pecupectiva de Carnap era mcomsistents. quer mostrando que, s¢ 2 liggea mdoee foue possivel. entéo 2 virtmde de uma teoria CAIRO io ne see protebiidade, mas antes na sua improbabi- Fite adie 2 eoidinrse Ele alo se aperceben de que o combate a um povprinu: de srecitizac3o ~ meste caso um programa nio 1% —Sr”—~—~—“‘_ A POSICAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAO E A INDUCAO. empirico — mostrando a sua degenerescéncia ¢ desenvolvendo um programa rival. nao pode ser um processo répido: espero também ‘o meu desenvolvimento desta segunda leva da sua campanha contribua para a clarificagao de alguns dos seus pontos). Mas a segunda frente da campanha anti-indutivista de Popper pode interpretar-se num sentido ainda mais forte. Pode ser considerada como tendo sido dirigida contra qualquer principio indutivo metafisico a priori ¢ infalivel, quer ele seja probabil(stico ou nao probabilistico, que serviria para atribuir uma métrica comprovada ao campo dos enunciados cientificos ("®). ‘As Iégicas da confirmacdo no probabilfsticas ainda sio produzidas —algumas com grande engenho— por ilésofos da ciéncia que compreenderam os argumentos de Popper contra a légica probabilistica. mas no compreenderam esta mensagem de cardcter mais geral (‘*). (IID) A terceira leva da campanha anti-indutivista de Popper € menos facilmente discemivel. Consiste numa recusa Cicita mas obstinada em aceitar qualquer principio indutivo sinrético ligando as apreciacées de teorias analiticas (como o contetido ¢ a corroborag0) com a verosimilhanga (=). Mas porque motivo se deveria excluir da racionalidade um principio indutivo conjectural? Porqué relegar 2 aplicagdo da ciéncia para a sua fun¢ao “animal”, “piolégica™? (=) O argumento dominante de Popper contra um principio da induce justificacionista (a saber. que ele conduz quer 2 regress3o infinita quer ao apriorismo (4). n306, neste caso, vilido: 0 poderoso argumento de Popper apenas se aplica a um principio que serviria como premissa a uma fungao de medida comprovada de verosimithanea (espaciotemporalmente local. semelhante 20s grans de corroboracdo de Popper). Um principio indutive conjectural 86 seria odioso para o dogmatico-céptico (°*), para quem a combinacSo da total falta de comprovagio e da forte concordincia indicam wma mera crenca animal. Para o céptico pessimist humeano, isto é o fim do caminho. para o optimists, dezmitico kcantiano, é um ~escandalo da filosofta” a ser aplanado. Mas para o falibilista popperiano, para quem 3 metafisica conjectural pode see. pelo menos em principio, racionalmente aprecisda. n3o deveria set 179 AMAS DEINVESTIGACAD | ca:nem para O.apriorisma (!"), rye nem par ESeTIGH? ST igando a coaboragio ¢ Sp urna motafisiea O70 Papper dos oéptions ¢ demonstrar cameron See Lamon om y e Rant). episemstgis de Pom Popper Sobre eas quests Mantive longas ars veito dessas discussdes, Mas fiquei com em 1960-7, tired MENsO PIO respeita a0 que chamo “a terceira leva a impress de que no que APT as nunca concord. indutivista” poderem: lar di sun CAPA a reside no facto de a nassa discordincia se isn faco de ela sermuto pequena. diferenga eaves tial 0 falbilsmo modesto €tBo pequena que ee ‘nos sentimos envolvidos num mero equivoco = ‘0 “principio indutivo", que advogo ('"), deveria ser tado como uma “especulacio Tacional . que poderia até mesmo considerar-se como fracamente Sethees ou deveria apresentar-se como uma perfeita “crenga animal’ condicionada pela luta pela sobrevivéncia darwiniana? Acrescentei no final do meu “Changes in the Problem of Inductive Logic” uma breve secgiio de trés pdginas sobre a oposi¢io de Popper a “aceitabilidade,” (ver volume2, capitulo 8). Receio que essa sec¢fo seja trivial. Pois, embora na minha enfadonha e pedante discussio da “aceital dade,” eu pensasse oferecer uma solugdo nova e positiva para 0 velho problema da induco, a “solugdio" era pouco consistente. Na ‘ealidade, uma solugdo sé ¢ interessante se assentar em, ou conduzir a, um programa de investigacio importante; se criar por sua vez Novos problemas ~ ¢ solugdes. Mas isto apenas aconteceria se wn tal principio indutivo pudesse ser formulado de modo ene GiD de maneira a que se pudesse, suponhamos, mance aah jogo cientifico do seu ponto de vista. O meu avo lenta explicar o motivo que nos leva a “jogar” o Jogo da ciéncia. Mas fé-lo de u it d ma maneira c ‘maneira que Permita a “correceiio de factos"* eee 180 > desenvoh momo akeror, Ths dssemeatcrmenans grotafisivas foram impadides por Popper guands arancace soveramente gue: “No goe respoma 2 sinca maonva nas somties na sua cnistincia, Exaste, evademiomente, & oe wh since, ass S81 6 PATE deuma higica dedunva ap; BS de teorias o a ligica do desenvolviments So sombes Br asstenta, pelo contratta, gue a “higica do desenvel conhocimento” deve inchnir — em adigho dtoona ing sme de Popper da verosimilhanca ~ uma teona tpisemoicgica genuinamente & especulativa ligando as hes Gentificas com a verosimilhanca. Penso que é a pouca consisténcia de uma metafisica indutva conjectural que leva a que Popper seja relutante relanivamente acla easua posigio merece a minha estima (‘!"), Todavia, embora tanto as apreciagdes “tautolégicas” como os principias mdutivas meta~ fisicos sejam igualmente irrefutaveis, existe uma enorme dhiferenga fildsofica entre a interpretacao de uma apreciagao como tautolignca ou como metafisica. Pois esta escolha — como ja o referi- 6 a escolha entre o cepticismo com uma soluyao puramente negativa do problema da inducao ¢ 0 falibilismo com uma solugao positive = momentaneamente muito fraca, Recusando a accitagao de um principio indutivo metafisico “pouco consistente”, Popper nao consegue separar 0 racionalismo do irracionalismo, a obscuridade da total escuridio, Sem este principio as “corroboragdes” ou as “refutagdes” de Popper ¢ o meu “progresso” ou “degenerescéncia” permaneceriam como meros tftulos honorfficos atribuidos no decurso de um puro jogo (""). Com uma solucao positiva do problema da indugao, por muito pouco consistente que fosse. as teorias metodolégicas da demarcagio podem ser transformadas de convengées arbitririas em metafisica racional. Popper pode, evidentemente, retorquir que esta “solugdo Positiva” & em si prépria uma convengado meramente arbitraria. O Tacionalista pretende uma solugdo positiva do problema da indugdo, Por isso postula uma, Mas como diz Russell: “O método de postular © que pretendemos apresenta muitas vantagens; so idénticas as vantagens do roubo sobre 0 trabalho honesto™ (""). 1st EE APOSICAO DE POPPER SOBRE A DEMARCACAO E A INDUCAO ) AO NO EA INDUCAO vo deveriamos Ser mals cépticos Conrado, por que m0! spetafisicos do que 0 somos relati- além disso, a. um “principio one Ce amnesia eee et eo ceatifico-racicaal elevado (embora, como 0 wm esa ; co) a enunciados absurdos fice pment) snes sts ieee eae distantes”, mas classificar um ‘existe anraczi0 ¢ \como “a fisica tem uma verosimilhan¢a maior a ae imal? Por que motivo deveria ser apes actiae ean esanciado “hisico” mas no um enunciado 1230 for apresentada qualquer alternativa séria? oa leva da campanha anti-indutivista de Popper conduz a uma teoria iracionalista humeana da acco priti mana ¢ da céacia plicada(‘°). De facto, s6 uma solugdo positiva e problems de indocdo pode salvar o racionalismo popperiano do anarquismo episiemolégico de Feyerabend ("). ; Gtitem-me acrescentar que, embora pense que a ‘inks rica da soloeao de Popper do problema da demarcacdo seja tin Geenvolvimezto ulicir gerano no quadro da tradigo que ele Préprio estabelecen para a “Kégica da investi igacao cientifica”, nao Piha gh aminka “erica” da“soluca0" de Popper do problema de imphae Sch mas do que oma tetatva de tomar explicin toda Gr nd Pia eva verosmilhanga para o probe \ indugio, tommando assim nitida e explicita a diferenca Me a atengdo o facto de verificar que em alguns Deane inc secundaria Popper adoptou algumas das inhas sugestdes anteriores. Porexemplo, ele equaciona Presente- te a intrepidez com © caricter nao ad hoe. isto &, nao com o ae ido mas antes com o contetdo adicional (**). Ele abandonou Cos a sua doutrina longamente sustentada ¢ tenazmente endias segundo a qual o grau de corrobora¢do de uma teonia n§o refutada no pode ser menor do que o grau de corroboragio de qualquer das suas consequéncias (''"); em vez deste ponto de vista ele transferiu-se radicalmente para a posigio esbogada na minha “Theoretical support for predictions versus evidential support for theories”. Infelizmente, ele cita erradamente 0 tinico ponto do meu trabalho a que se reporta de modo explicito: ele reivindica que eu “suspeito que a atribuic3o presente de mimeros ao [seu] “grau de corrobora4o™. a ser possivel, tomaria indutivista [a sua teoria] no sentido de uma teoria probabilistica da indugao". Popper “nao vé qualquer razo para que isto seja assim” (‘"*). Nem eu: e no afirmei tal nas paginas 410-12 do meu ensaio, para as quais ele remete o leitor — nem afirmei tal em qualquer outro lado. Sobre a questdo principal ~ sobre a indug3o ~ Popper [1971] nao contém nada de novo (‘"*), A sua “critica” de um repto por um Principio indutivo (') deixa completamente intacto o meu argumento em defesa de um tal principio. 183,

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