Você está na página 1de 63

UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A TÁTICA NO FUTSAL:
UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DE INTENÇÕES TÁTICAS

MAURICIO NOGARA

Ijuí – RS
2015
1
MAURICIO NOGARA

A TÁTICA NO FUTSAL:
UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DE INTENÇÕES TÁTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Educação Física, Departamento
de Humanidades e Educação da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, como requisito parcial para a
obtenção do título de licenciado em Educação
Física.

Orientador: Robson Machado Borges

Ijuí – RS
2015

2
A Banca Examinadora abaixo assinada aprova o Trabalho de Conclusão de Curso:

A TÁTICA NO FUTSAL:
UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DE INTENÇÕES TÁTICAS

elaborado por
MAURICIO NOGARA

como requisito parcial para obtenção do título de


Licenciado em Educação Física.

Ijuí (RS), 27 de fevereiro de 2015.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________
Professor Ms. Robson Machado Borges (Orientador)

_______________________________________________________
Professor Dr. Fernando Jaime González (Examinador Titular)

3
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas que me apoiaram


em toda trajetória acadêmica na Universidade.
4
AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus pais, por se fazerem presente em todos os momentos, sendo eles
bons ou ruins, por todo o incentivo ao longo de minha trajetória acadêmica na Universidade.
A minha esposa, que suportou toda a trajetória, os maus dias, de muito mau humor,
principalmente quando surgiam alguns problemas. E por me incentivar a voltar a
Universidade e terminar meus estudos. Meu MUITO OBRIGADO!
A equipe da Associação Augusto Pestana Futsal (AAPF FUTSAL), sendo todas as
pessoas que compõe a entidade.
Ao Poder Público de Augusto Pestana gestão 2004 a 2008 que depositou confiança
em meu trabalho. Oportunizando-me para que naquele período começasse minha trajetória no
Futsal e oferecendo todas as condições para o desenvolvimento de um bom trabalho. Dessa
forma, ganhei prestígio de pais, alunos, outros Professores e comunidade em geral.
Aos professores do Curso de Educação Física que me auxiliaram muito no
crescimento intelectual, profissional e a minha escolha quanto a área de atuação.
Ao Professor Doutor Fernando Jaime González que foi além de amigo, sempre me
incentivou, onde foi meu primeiro orientador e auxiliou para ampliar meus conhecimentos nas
mais diversas áreas. Vai meu sincero reconhecimento sendo meu maior incentivador na
metodologia aplicada hoje em meus treinamentos.
Ao Professor Mestre Robson Machado Borges, antes colega, hoje meu Orientador.
Agradeço muito pelo incentivo, dedicação, mesmo tendo pouco tempo quando começamos a
trajetória da pesquisa. Foi uma pessoa que além do incentivo me conduziu para uma ótima
linha de pesquisa, ampliando e direcionando os caminhos do estudo. Meu MUITO
OBRIGADO!
À Deus, meu maior ídolo, por me iluminar em toda minha vida e ter me dado forças
para seguir no longo percurso que tive dentro da Universidade.

5
RESUMO

O aprendizado e o nível de atuação dos jogadores nos jogos esportivos coletivos têm sido um
tema bastante abordado nos últimos anos. Particularmente no futsal, como o processo de
ensino ainda tem sido realizado na perspectiva tradicional em muitos locais, os jogadores
apresentam dificuldades relacionadas à dimensão tática, ou seja, cometem diversos equívocos
no jogo que estão relacionados ao que e quando fazer determinada ação. Nesse sentido,
algumas formas de avaliação do desempenho dos jogadores nos jogos esportivos coletivos
têm sido propostas. Nessa linha, buscou-se desenvolver uma pesquisa que permitisse analisar
o desempenho tático de jogadores de futsal. Com isso, este estudo teve por objetivo principal
descrever intenções táticas adequadas e inadequadas nos diferentes papéis no futsal,
analisando benefícios e fragilidades das ações escolhidas. Metodologicamente, buscou-se
analisar intenções táticas de atletas de uma equipe de futsal que disputa competições
estaduais, através da apreciação de imagens de jogos. Os resultados indicam que a pesquisa
permite verificar o nível de desempenho tático dos jogadores, apontando os acertos e erros nas
tomadas de decisão nos quatro subpapéis dos esportes de invasão. Com isso, permite uma
reflexão sobre as ações individuais dos jogadores, podendo contribuir com a melhoria da
dimensão tática. Logo, é possível afirmar que o estudo tem potencial para ser utilizado na
avaliação da atuação de jogadores de futsal, quando o objetivo for o conhecimento
procedimental.

6
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Subtemas estruturadores ............................................................................................ 17


Figura 2: Percentual entre tempo necessário e tempo disponível ............................................. 17

7
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Intenções táticas de acordo com cada subpapel.................................................. 16


Quadro 2: Exemplos de sistemas de jogo no ataque............................................................ 20
Quadro 3: Sistemas de jogo defensivo de marcação por zona............................................. 20
Quadro 4: Intenção táticas selecionadas de acordo com o subpapel.................................... 26

8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Marcação individual....................................................................................... 21


Ilustração 2: Passar a bola ao companheiro em melhores condições – Ação adequada..... 29
Ilustração 3: Passar a bola ao companheiro em melhores condições – Ação inadequada.. 31
Ilustração 4: Finalizar em condições favoráveis - ação adequada...................................... 33
Ilustração 5: Finalizar em condições favoráveis – ação inadequada................................... 35
Ilustração 6: Desmarcar-se para receber a bola – ação adequada ...................................... 37
Ilustração 7: Desmarcar-se para receber a bola – ação inadequada.................................... 39
Ilustração 8: Progredir com a equipe para o ataque - ação adequada................................. 41
Ilustração 9: Progredir com a equipe para o ataque – ação inadequada.............................. 43
Ilustração 10: Posicionar-se entre o atacante direto e a meta – ação adequad.................... 45
Ilustração 11: Posicionar-se entre o atacante direto e a meta – ação inadequada............... 47
Ilustração 12: Pressionar o atacante direto - ação adequada.............................................. 49
Ilustração 13: Pressionar o atacante direto - ação inadequada............................................ 51
Ilustração 14: Responsabilizar-se pelo atacante direto - ação adequada............................. 53
Ilustração 15: Responsabilizar-se pelo atacante direto – ação inadequada......................... 55
Ilustração 16: Realizar cobertura a um companheiro –ação adequada............................... 57
Ilustração 17: Realizar cobertura a um companheiro – ação inadequada........................... 59

9
LEGENDA

10
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 12
1 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................. 14
1.1 JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS......................................................................... 14
1.2 SUBPAPÉIS NOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS.......................................... 15
1.3 LUGAR DO ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR................................ 16
1.4 FUTSAL....................................................................................................................... 18
1.5 TÁTICA NO FUTSAL................................................................................................ 23
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 24
2.1 TIPO DE PESQUISA................................................................................................... 24
2.2 REALIZAÇÃO DO ESTUDO..................................................................................... 24
2.3 INSTRUMENTOS PARA COLETA DOS DADOS................................................... 25
2.4 DEFINIÇÃO DAS INTENÇÕES TÁTICAS PARA ANÁLISE................................. 25
3 CUIDADOS ÉTICOS.................................................................................................... 27
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................. 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 61
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 62

11
INTRODUÇÃO

Entre os diversos temas da área da educação física, os Jogos Esportivos Coletivos


(JEC) ganham destaque, sendo consumido/apreciado de muitas formas na sociedade. Para
González e Fraga (2012, p. 79) o esporte “mobiliza uma série de pessoas, que impulsionam
grande parte da produção do consumo do mercado esportivo”. Entre os vários assuntos
relacionados aos JEC, uma parte importante é a que se relaciona ao conhecimento
procedimental, ou seja, ao saber fazer, saber praticar de forma proficiente.
Nessa perspectiva, por estar presente no cotidiano de muitas pessoas na sociedade
brasileira, os JEC ocupam um lugar de destaque na educação física escolar, muitas vezes
sendo até o mesmo o único tema das aulas (GONZÁLEZ; BORGES, 2011). No entanto, a
forma como os JEC têm sido ensinado em boa parte das escolas – através do modelo
tradicional – “[...] não possibilita uma aprendizagem que permita ao aluno uma apropriação
efetiva do conhecimento necessário para sua prática eficaz, dentro de um nível recreativo e/ou
de lazer” (ibidem, p. 2). Para Mesquita (2013, p. 103), na abordagem tradicional,

[...] a prática é organizada, não raramente, em formas de jogo desestruturadas ou no


jogo formal, em que a execução técnica é aplicada de forma isolada e
descontextualizada, em que a instrução é centrada na componente técnica, com
pouca relevância para as exigências do jogo.

Uma alternativa para o ensino dos JEC, contrária a perspectiva tradicional, é a


compreensão do jogo através dos modelos de ensino centrados na tática (BORGES, 2014).
Nessa ótica, leva-se em conta que os JEC são disputados em confrontos diretos contra os
oponentes, ou seja, apresentam interação entre os adversários (GONZÁLEZ; BRACHT,
2012). Por isso, é necessário focar o ensino na dimensão tática, elemento essencial nos
esportes de invasão. Nessa linha, Mesquita e Graça (2006, p. 271) indicam que “as
abordagens tradicionais ao ensino dos jogos se centram na instrução fragmentária e inerte das
habilidades técnicas”.
Nessa linha, para que os praticantes consigam êxito em suas atuações nos JEC, é
preciso o conhecimento de diversas e distintas ações durante o jogo, pois elas ocorrem em
uma situação de constantes alternâncias de funções/papéis. Conforme aponta Graça (2013), os
JEC são de grande complexidade necessitando uma grande capacidade de tomar decisões de
forma adequada.
Entre os esportes praticados na escola, acredito – com base em minhas vivências na
escola, nos estágios, intervenções que realizei e em conversas informais com professores de

12
educação física – que o futsal é um dos mais praticados. Em função da estrutura física, penso
que seja mais jogado até mesmo do que o futebol.
Devido a sua característica, o futsal é um esporte muito dinâmico, com situações de
ataque, defesa e contra-ataque e muito frequentes. As constantes mudanças de papéis que os
jogadores realizam durante o jogo, requerem dos praticantes a capacidade tática de tomar
decisões o tempo todo.
Nesse processo, pareceu-me pertinente estudar possibilidades de ações dos jogadores
em função dos diferentes papéis que desempenham no futsal. Pois, são raros os estudos que
discutem as ações realizadas pelos atletas, analisando se essas foram as mais adequadas do
ponto de vista da tomada de decisão. Penso que, talvez, um estudo com essa característica
possa contribuir com a análise das escolhas/atitudes dos jogadores durante o jogo, tanto na
escola, quanto em outros espaços como clubes esportivos e escolinhas, por exemplo.
Nessa perspectiva este trabalho tem por objetivo descrever intenções táticas
adequadas e inadequadas de jogadores de futsal nos diferentes subpapéis, analisando
benefícios e fragilidades das ações escolhidas.
Para descrever esse processo, organizei o trabalho em quatro capítulos. No primeiro,
apresento o referencial teórico que deu sustentação para o estudo. No segundo capítulo
apresento as decisões metodológicas e descrição dos assuntos que envolveram a construção da
proposta de avaliação. Posteriormente, relato os cuidados éticos tomados nesse estudo.
Finalmente, faço a descrição dos resultados da investigação.

13
1 REFERENCIAL TEÓRICO

O processo de ensino e avaliação nos JEC é difícil e complexo. Para que o professor
constitua saberes que o qualifiquem a desenvolver o conhecimento procedimental dos
esportes é necessário o estudo de diversos assuntos. Nessa perspectiva, buscando construir um
referencial teórico consistente para esta investigação, organizei este capítulo em cinco blocos:
a) jogos esportivos coletivos; b) subpapéis nos esportes de invasão c) o lugar do esporte na
educação física escolar; d) futsal; e) tática no futsal.
Nesse sentido, a primeira parte desse capítulo introduz a temática dos JEC. A
segunda trata dos subpapéis presentes nos esportes de invasão. A terceira, aborda o esporte
enquanto tema de ensino na educação física escolar. O quarto momento, faz referência ao
campo de compreensão do processo de ensino-aprendizagem no futsal, tratando
especificamente dos aspectos que configuram essa modalidade esportiva, como por exemplo a
lógica interna e os elementos do desempenho esportivo. Finalmente, discuto o ensino da tática
no futsal.

1.1 JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

O esporte é um fenômeno cultural muito consumido por pessoas de distintas idades.


O consumo desta prática ocorre de diferentes formas na sociedade. Além da sua prática, há
pessoas que usufruem do esporte através da televisão, do rádio, via jornais, pela internet,
mediante aplicativos de celular, entre outros (BORGES; RECHENCHOSKY, 2014).
Inclusive, tem aumentado o número de canais fechados, específicos para transmissão de
modalidades esportivas.
De acordo com González e Bracht (2012), o esporte pode ser analisado sobre duas
dimensões distintas: a lógica interna e a lógica externa. A primeira trata dos “aspectos
peculiares de uma modalidade que exigem aos jogadores atuarem de um jeito específico”
(GONZÁLEZ; BRACHT, 2012, p. 18), correspondente a ações do jogo. A segunda tem
“características e/ou significados sociais que uma prática esportiva apresenta ou adquire num
determinado contexto histórico e cultural” (ibidem, p. 18).
O contexto dos JEC permite criar possibilidades de intenções e ações táticas, que
proporciona construir alternativas para as situações de jogo. As escolhas entre as alternativas
possíveis dependem das capacidades dos jogadores e são influenciadas pela oposição.

14
González e Bracht (2012, p. 21) apresentam a ideia de que os jogadores dos esportes com
interação entre adversários precisam estar sempre “adaptando o jeito de agir, tanto para atacar
quanto para defender, de acordo com as ações do adversário”.
Nessa linha, os JEC são de natureza complexa e imprevisível. Há várias dimensões
que aumentam o campo de incertezas e o número de variáveis de ações dos jogadores
(GARGANTA, 2002). Nesse sentido, é possível dizer que as situações não são por acaso,
decorrem com a interferência dos adversários que podem ser apenas imaginadas. Nesse viés,
González e Bracht (2012) entendem que além da ideia de imprevisibilidade diante da
oposição, o êxito na competição tem relação com a participação direta dos companheiros, ou
seja, dependem da colaboração de todos de sua equipe.

1.2 SUBPAPÉIS NOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS

González e Fraga (2012) apresentam uma classificação que distingue a participação


dos jogadores nos esportes de invasão em quatro funções. Essas possibilidades de atuação são
denominadas pelos referidos autores de subpapéis. Sendo eles: atacante com a posse de bola
(ACPB), atacante sem a posse de bola (ASPB), defensor do atacante com a posse de bola
(DACPB) e defensor do atacante sem a posse de bola (DASPB).
Mais especificamente, de acordo com esses subpapéis apenas um jogador se encontra
com a posse de bola (ACPB) e precisa decidir entre várias alternativas para dar seguimento ao
jogo, por exemplo: 1) conservar/manter a bola; 2) passar; 3) finalizar. Os companheiros desse
jogador desempenham a função de ASPB, necessitando optar entre: 1) desmarcar-se; 2)
afastar-se da bola para recebê-la; 3) orientar-se sendo capaz de favorecer visão ampla da
quadra de jogo. O participante que estiver marcando o ACPB, é identificado como DACPB,
tendo – entre outras – as seguintes alternativas: 1) manter-se em uma linha imaginária entre o
oponente direto e a baliza; 2) perseguir o oponente com a intenção de dificultar a ação
ofensiva; 3) dar o bote na tentativa de adquirir a bola. Finalmente, os atletas que marcam os
adversários sem a bola, são identificados na função DASPB, precisando optar, por exemplo,
entre: 1) acompanhar o deslocamento do ASPB, sem perder o contato visual com o ACPB; 2)
não deixar seu oponente direto ser opção de passe para o ACPB; 3) interceptar o passe.
No quadro que segue apresento algumas intenções táticas apontadas por González e
Bracht (2012), de acordo com cada subpapel,

15
Quadro 1: Intenções táticas de acordo com cada subpapel
SUBPAPÉIS INTENÇÕES TÁTICAS
– Observa antes de agir.
– Passa sempre para o jogador sem marcação.
– Ao receber a bola, fica de frente para a meta (gol, trave, cesta) antes de passar.
ACPB
– Finaliza sempre quando as condições são favoráveis.
– Quando finaliza, procura um lugar vazio (entre os marcadores) ou o faz sobre o
defensor.
– Procura permanentemente desmarcar-se para receber a bola.
– Aproxima-se muito do ACPB.
ASPB – Afasta-se muito do ACPB.
– Solicita a bola em deslocamento na direção ao gol ou parado.
– Progride com a equipe quando partem para o ataque.
– Marca o seu atacante direto.
DACPB – Está sempre entre seu atacante direto e o gol.
– Pressiona seu atacante direto para evitar o passe e/ou a finalização.
– Responsabiliza-se por seu atacante direto ou vai atrás da bola.
– Está sempre entre seu atacante direto e o gol.
DASPB
– Está sempre agindo com o objetivo de dissuadir o ACPB.
– Quando marca, cuida apenas do ASPB, apenas do ACPB ou ambos.
Fonte: González e Bracht (2012, p. 35)

Através das intenções táticas1 utilizadas como exemplo, é possível perceber a


complexidade das ações nos jogos de invasão e a relevância da demanda tática. Nessa
perspectiva, Borges (2014) ressalta a importância do tema em função de duas situações que
ocorrem no jogo: 1) muitas vezes o jogador precisa decidir, em fração de segundos, o que,
quando e como irá conduzir uma ação; 2) os jogadores mudam constantemente de subpapéis
durante a partida. Sobre isso, González e Bracht (2012, p. 26) citam: “curioso é que tudo isso
pode ocorrer ao mesmo tempo. Num piscar de olhos, uma equipe que estava atacando passa a
ter que se defender, basta perder a posse de bola e pronto, tudo muda”.

1.3 O LUGAR DO ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A educação física, como componente curricular na escola, é responsável pelos


saberes produzidos através das experiências nas práticas e conhecimentos das manifestações
da cultura corporal de movimento (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012). Especificamente, “trata das
possibilidades de movimento dos sujeitos, representações e práticas sociais que constituem a
cultura corporal de movimento e vincula-se ao campo de lazer e saúde” (ibidem, p. 43).

1
Pauto-me no conceito de intenções táticas apresentado por González e Fraga (2012, p. 181): “adaptação
consciente da ação diante de situações em que enfrenta a oposição de um adversário, escolhendo o que fazer para
obter sucesso na atuação”.
16
O planejamento e a organização dos conceitos e saberes produzidos para a disciplina
e das práticas corporais de movimento na educação física, tem a intenção de auxiliar o
professor como uma ferramenta que sistematize o processo de ensino. Funcionando como um
apoio na elaboração nos planos de ensino, servem de ferramenta de articulação de conteúdos
indispensáveis para o despertar do conhecimento e desenvolvimento das interdisciplinaridades
da educação física (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012).
Mais especificamente, as propostas de estruturação curricular da educação física cada
vez mais têm sido construídas pensando em diferentes temas de ensino, tais como: a ginástica,
as atividades com a natureza, o esporte, atividades aquáticas, práticas corporais e sociedade,
práticas corporais e saúde. Para fins de demonstração, apresento uma estruturação existente
no meio acadêmico, conforme a Figura 1.
Figura 1: Subtemas estruturadores

Fonte: González e Fraga (2012, p. 49)

Na referida proposta de González e Fraga (2012), no decorrer do ano letivo diversos


temas são trabalhados. Cada um recebe um percentual de tempo necessário para seu
desenvolvimento, sendo que o esporte possui a maioria das aulas, do 6º ano ao 9º ano, como
consta na Figura 2.
Figura 2: Percentual entre tempo necessário e tempo disponível

Fonte: González e Fraga (2012, p. 57)


17
Nesta lógica, é possível perceber a importância e a força que o esporte possui, tendo
destaque na educação física escolar. Sem dúvida é relevante por ser reconhecido como um
fenômeno social de massa, que pode servir de ferramenta para o desenvolvimento de valores
atitudinais, auxiliar na melhoria de rendimento e manutenção da condição física, bem como
ser “reforço ou alongamento da musculatura, fortalecimento do sistema cardiovascular,
aperfeiçoamento das habilidades atléticas, perda de peso ou manutenção das funções
orgânicas” (GONZÁLEZ; FRAGA, 2012, p. 49).
Tendo lugar privilegiado nas aulas de educação física o esporte é apreciado por
alunos de diferentes idades, através das diversas modalidades esportivas existentes. Uma
dessas possibilidades, por ser muito forte culturalmente na região noroeste do Rio Grande do
Sul, onde resido e trabalho, é o futsal. Sobre esse esporte, particularmente, que discorro na
parte que segue.

1.4 FUTSAL

O futsal é uma modalidade esportiva adaptada do futebol, têm o objetivo idêntico,


sendo realizado em uma estrutura física menor (38m a 42m x 18m a 22m) e com apenas cinco
jogadores na quadra por equipe. Criado a mais de oitenta anos, o fácil acesso em momentos
de lazer permite a prática da modalidade por indivíduos de diferentes classes sociais
(BORGES; AMORIN, 2014).
Utilizando a lógica de classificação dos esportes apresentada por González e Bracht
(2012), é possível compreender o futsal como um esporte de invasão, que apresenta interação
entre adversários, o que torna o jogo extremamente dinâmico e imprevisível. González,
Darido e Oliveira (2014, p. 61) apresentam a ideia de aleatoriedade:

nesse tipo de esporte, ao mesmo tempo em que uma equipe tenta avançar a
outra tenta impedir os avanços. E para evitar que uma chegue à meta
defendida pela outra, é preciso reduzir os espaços de atuação do adversário
de forma organizada e, sempre que possível, tentar recuperar a posse de bola
para daí partir para o ataque.

Nesse sentido, há importantes assuntos que precisam ser levados em conta quando se
deseja ensinar futsal. Sobre esses temas que abordo na parte que segue.
Entre esses assuntos a técnica é um elemento relevante, que diz respeito a execução
do gesto motor, sendo uma solução para determinada ação tática pretendida. Trata-se de uma

18
resposta motora que o jogador efetuará após ter processado as informações de acordo com a
situação de jogo (GARGANTA, 2002).
De acordo com González e Fraga (2012), o elemento técnico é a execução do
movimento específico de um jogador, que se divide em técnica esportiva e habilidade técnica.
A técnica esportiva é a “representação abstrata e simplificada da forma mais adequada de
solucionar um problema motor colocado por um esporte” (ibidem, p. 176) e a habilidade
técnica é a “competência de execução adquirida por um sujeito para realizar uma ação
motora” (ibidem, p. 176).
No futsal podem ser apontados como exemplos desse elemento, os seguintes gestos
motores: o passe, o domínio, a finalização, o cabeceio e a condução da bola. Esses
movimentos se configuram como uma parte importante do jogo, uma vez que a demanda da
competência motora é fundamental para alcançar o êxito nas ações.
Outro importante assunto é denominado de combinações táticas. De acordo com
González e Fraga (2012, p. 177), são “coordenações de ações entre dois ou mais jogadores
para conseguir os objetivos de ataque e da defesa”. Correspondem a combinações de
movimentos de deslocamento entre jogadores, visando vantagem na jogada. Como exemplo
no futsal, pode ser citado o rodízio em oito2 quando a equipe está com a posse da bola e a
troca na marcação individual dos oponentes3 no momento em que está defendendo.
As combinações táticas também ocorrem no futsal em outros momentos que
permitem jogadas ensaiadas, tais como: cobrança de falta, escanteio, lateral, saída do centro
da quadra, saída da bola com o goleiro. Quando há equilíbrio entre as duas equipes nas
partidas de futsal, as combinações táticas são recursos importantes e decisivos nos resultados
dos jogos.
A forma como os jogadores se organizam em quadra também precisa ser pensada e é
chamada de sistema de jogo, relacionando-se ao posicionamento que a equipe utiliza dentro
da quadra. Pode-se dizer que é a distribuição dos jogadores. Como aponta Santana (2004, p.
64), o sistema de jogo “é o posicionamento que se adota para jogar”. Para González e Fraga
(2012), sistemas de jogo correspondem a uma forma organizada que articula e ordena as ações

2
No rodízio em oito, o posicionamento dos jogadores será 2:2, de modo que um jogador que se encontra na
quadra de defesa, passa a bola de uma lateral a outra na quadra de defesa e se movimenta em uma diagonal da
quadra de defesa para a quadra ofensiva. Na sequência retorna para a quadra de defesa pela ala, paralelamente a
linha lateral e inicia novamente o deslocamento em um formato de oito (8).
3
A troca de marcação é efetuada quando defensor que está acompanhando o adversário direto, troca o oponente
a ser marcado com seu companheiro, em função dos deslocamentos dos mesmos na quadra.
19
dos jogadores, mantendo a estrutura do jogo no ataque, defesa e transição (contra-ataque ou
retorno defensivo).
No futsal podem ser apontados como exemplos de sistemas de jogo no ataque: 2:2,
4:0, 3:1, entre outros. Como demonstração, apresento o Quadro 2 com as representações dos
posicionamentos mencionados.
Quadro 2: Exemplos de sistemas de jogo no ataque

x
x x
x x x x
x x
x x x

Sistema de Ataque 2:2 Sistema de Ataque 4:0 Sistema de Ataque 3:1


Fonte: o autor (2015)

Na defesa, há três formas possíveis de marcação: zona, individual e mista. Na


marcação zona cada jogador é responsável por ocupar um setor da quadra, definido
previamente. Quando um atacante entrar em um determinado espaço, será marcado pelo
defensor que tiver a incumbência de proteger o referido local. Desse modo, fica mais difícil o
oponente realizar infiltrações e progressões no sistema defensivo (MUTTI, 2003; SANTANA,
2004). Como exemplos de tipos de marcação por zona no futsal, é possível citar o 2:2; 1:2:1
ou losango, 1:1:2 ou funil/Y, e quadrante4, como consta no Quadro 3.

Quadro 3: Sistemas de jogo defensivo de marcação por zona

x x
x x x
x
x x
x x
x
x

Marcação 2:2 Marcação 1:2:1 Marcação 1:1:2 ou funil/Y


Fonte: o autor (2015)

A marcação individual, por sua vez, é praticada homem a homem, ou seja, cada
defensor é responsável por um atacante (MUTTI, 2003; SANTANA, 2004). Logo, o defensor
deverá acompanhar os deslocamentos do oponente direto por toda a quadra. A título de

4
Na marcação quadrante a equipe se encontrará em uma defesa de duas linhas (FERRETTI, 2006).
20
exemplificação, apresento a Ilustração 1 em que é possível visualizar jogadores realizando a
marcação individual5.
Ilustração 1: Marcação individual6

Fonte: o autor (2015)

No caso da marcação mista é possível apontar que se trata da união das marcações
por zona e individual. Conforme Santana (2004, p. 65), “é uma manobra defensiva”, ocorre
quando parte dos quatro jogadores de linha marcam por zona e outros (ou apenas um) marcam
de forma individual.
O sistema de transição corresponde a passagem da equipe de um lado de quadra para
o outro. Quando essa mudança ocorre da defesa para o ataque é denominada de contra-ataque
e quando acontece do ataque para a defesa da equipe é chamada de retorno defensivo
(GONZÁLEZ; FRAGA, 2012).
Como em todos os esportes, o futsal necessita de um plano estratégico realizado
previamente. Segundo González e Fraga (2012) esse planejamento é denominado de
estratégia. Para os referidos autores (p. 176), estratégia é “um programa de princípios
planejados ou concepções de desenvolvimento de jogo que precedem o confronto esportivo”.
Nesse planejamento poderá haver variações decorrentes da equipe adversária, que também
traça uma estratégia inicial, e dependem das ações dos jogadores para reproduzir.

5
Na ilustração é possível perceber a marcação individual da seguinte forma: DACPB 3 marcando o ASPB 3,
DASPB 2 marcando o ASPB 2, DASPB 1 marcando o ASPB 1e DASPB 4 marcando o ASPB 4.
6
Laranja (equipe da AAPF), amarelo (equipe adversária) e círculo branco (bola).
21
Um exemplo de estratégia no futsal é a utilização do goleiro-linha. Nos momentos
finais dos jogos em que uma equipe está perdendo, essa função é uma estratégia muito
utilizada pela equipe que está em desvantagem no placar. O objetivo com essa opção é obter
vantagem numérica de jogadores, ou seja, circunstância de 5x4 – cinco atacantes contra
quatro defensores.
Outro exemplo possível, é o treinador de uma equipe combinar com seus jogadores
que quando seu time estiver vencendo o jogo, será realizado uma marcação quadrante, meia
quadra. Caso a equipe estiver em desvantagem no placar, realizará uma marcação individual
pressão (muito próximo do oponente) para retomar a posse de bola. Essas estratégias podem
ser pensadas a curto, médio e longo prazo, dependendo do jogo, dos adversários, do tempo
restante da partida, da fase da competição, entre outros.
Outro tema fundamental no futsal é a parte física. Conforme González e Fraga (2012,
p. 176) capacidade física corresponde “[...] as demandas orgânicas geradas pela prática
esportiva”. Pode-se citar como exemplos: a resistência, a força, a velocidade e a flexibilidade.
Segundo Andrade (2013), essas valências físicas e suas combinações, são importantes para
atender o objetivo do trabalho proposto e suportar a demanda exigida pela modalidade.
Nos últimos anos uma área que tem recebido atenção no esporte, inclusive no futsal,
é o estudo dos processos psicológicos, em relação a parte emocional dos atletas. De acordo
com González e Bracht (2012, p. 36) esse aspecto pode ser denominado de capacidade
volitiva, correspondendo ao “conjunto de traços psicológicos peculiares demandados a um
indivíduo ou grupo para atuar de forma adequada durante um jogo”. Diz respeito a motivação,
a ansiedade antes da competição, ao nível de nervosismo com as situações de jogo, entre
outros.
A capacidade volitiva é apresentada como a atitude dos jogadores em relação ao
envolvimento com o jogo. Por exemplo, se: está motivado para jogar, está com medo, disputa
de forma leal todas as bolas divididas, aparenta estar tranquilo ou ansioso, mantém
concentrado ou em alguns momentos se distrai (GONZÁLEZ; BRACHT, 2012).
Nesse sentido, o ambiente, o adversário, o local da partida, a fase em que a
competição se encontra – além de aspectos extras ao jogo, como ambiente familiar, por
exemplo – influenciam no estado emocional do atleta. Em consequência, podem ter
interferência no desempenho da equipe.

22
1.5 A TÁTICA NO FUTSAL

De acordo com González e Fraga (2012), as capacidades táticas passam pelo


processo de desenvolvimento do sujeito ler e resolver situações originadas no jogo, ou seja,
refere-se as escolhas das ações que o jogador realiza diante de um momento específico do
jogo. Nessa perspectiva, a caracterização das ações individuais tem relação direta com as
situações de jogo, uma vez que as alternativas de atitudes são diferentes em cada instante da
partida. Nessa linha, é possível apontar que a tática é um elemento de grande relevância no
futsal, à medida que não adianta o jogador saber executar corretamente os gestos motores, se
não souber o que e quando fazer.
Durante uma partida de futsal os jogadores precisam optar entre diversas
possibilidades de ação, de acordo com os subpapéis que desempenham no momento
(conforme apresentado no Quadro 1). Mais especificamente, com a velocidade do jogo, a
evolução da marcação, as variações de movimentações e a evolução física, diminuiu muito o
tempo de escolhas das alternativas nas ações dos jogadores (TAVARES; GRECO;
GARGANTA, 2006).
A complexidade de respostas possíveis durante uma partida de futsal é atribuída por
vários estímulos defensivos e ofensivos. As incertezas se modificam de acordo com a
configuração tática momentânea do jogo (TAVARES; GRECO; GARGANTA, 2006). Um
exemplo é quando uma equipe utiliza a marcação quadrante, há enorme dificuldades de
penetração pelo meio da quadra. Dessa maneira, a troca de passes precisa ser exercida com
maior velocidade. Isso exige dos jogadores além de uma técnica apurada, uma capacidade de
deslocamentos e inteligência na ocupação dos espaços, ou seja, percepção do posicionamento
da defesa para selecionar o local de movimentação. Para Santana, Reis e Ribeiro (2013) a
antecipação e a percepção são processos cognitivos primordiais nas tomadas de decisões
rápidas e adequadas. Refere-se a capacidade de leitura da informação e prever os
acontecimentos dos adversários e companheiros.
Num contexto geral, a tática é um elemento central no ensino/treinamento do futsal.
A compreensão dessa dimensão permite qualificar as ações dos jogadores e,
consequentemente, aumentam as possibilidades de êxito de uma equipe.

23
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Abordo a seguir o tipo de pesquisa escolhida. Após, apresento os sujeitos


participantes do estudo e os motivos que implicaram na escolha destes. Na sequência,
descrevo, metodologicamente, como a planilha de avaliação foi criada e aplicada. Finalmente,
menciono os instrumentos de coleta de dados e seus processos de utilização.

2.1 TIPO DE PESQUISA

Esta investigação está pautada em uma abordagem qualitativa, mais precisamente,


quanto aos objetivos da pesquisa, configura-se como um estudo exploratório. De acordo com
Gil (2008, p. 41) “este tipo de pesquisa busca se familiarizar com algum tema específico
buscando a construção de hipóteses”. Ao final de uma pesquisa exploratória, o sujeito
conhecerá mais sobre o determinado assunto e apto a construir hipóteses.
Na mesma linha, Triviños (1987) aponta que o estudo exploratório permite ao
pesquisador aumentar sua experiência sobre determinado problema e tema. Como manifestam
Cervo e Bervian (2002), o estudo exploratório objetiva informações a respeito de determinado
assunto, sendo recomendado quando o conhecimento sobre o problema a ser estudado é
limitado.

2.2 A REALIZAÇÃO DO ESTUDO

A pesquisa foi realizada no Ginásio Municipal Alfredo Pellenz, na cidade de


Augusto Pestana/RS. Esse espaço foi escolhido por ser o local em que ocorrem as partidas de
futsal de um campeonato estadual, em que a Associação Augusto Pestana de Futsal (AAPF)
disputa. Trata-se de competições de alto nível no estado do Rio Grande do Sul. Cabe
mencionar, que atuo como treinador dessa equipe.
Os sujeitos participantes do estudo foram jogadores de futsal do gênero masculino,
que atuam na AAPF. E jogadores que atuam em equipes profissionais da modalidade, em
virtude das filmagens dos jogos nas competições e jogos treinos.

24
2.3 INSTRUMENTOS PARA COLETA DOS DADOS

Buscando captar as informações possíveis para serem analisadas nesta pesquisa,


utilizei as filmagens de jogos amistosos e partidas da Taça Noroeste de Futsal no ano de 2015
da equipe da AAPF. As filmagens foram realizadas através de uma filmadora marca Nikon,
modelo 1820.

2.4 DEFINIÇÃO DAS INTENÇÕES TÁTICAS PARA ANÁLISE

Para definição de quais intenções táticas seriam analisadas no estudo, utilizei dois
critérios: 1) atender aos quatro subpapéis no futsal, de modo que cada um fosse contemplado
com duas intenções táticas, o que resultaria num total de oito7; 2) corresponder a dificuldades
que percebo nos jogadores que participam da equipe de futsal da qual sou treinador. Na
sequência apresento as intenções táticas selecionadas de acordo com os subpapéis.

7
Oito intenções táticas, foi o número que entendi que conseguiria analisar tendo em vista o prazo para entrega
do trabalho.
25
Quadro 4 – Intenções táticas selecionadas de acordo com os subpapéis
SUBPAPEL INTENÇÃO TÁTICA DESCRIÇÃO
1. Passar a bola ao companheiro em melhores Ação do ACPB optar pela melhor opção de passe, ou seja, para
condições um ASPB desmarcado ou que esteja melhor posicionado
(próximo a meta adversária).
Atacante com posse de bola Ação do ACPB finalizar a gol quando estiver condições que
permitam, ou seja, sem marcação do oponente. Por exemplo,
2. Finalizar em condições favoráveis
quando estiver próximo a meta e não houver um defensor entre o
ACPB e a meta.

3. Desmarcar-se para receber a bola Corresponde ao ASPB tentar sair da marcação do seu oponente
direto, visando receber a bola livre de marcação.
Atacante sem posse de bola
Ato do ASPB deslocar-se para o ataque juntamente com os
4. Progredir com a equipe para o ataque companheiros, visando evitar uma situação de inferioridade
numérica dos atacantes em relação aos defensores.
Ação de o defensor se posicionar em uma linha imaginária entre
5. Posicionar-se entre o atacante direto e a meta
o atacante que está marcando e a meta que defende.
Defensor do atacante com
Atitude do DACPB exercer uma marcação mais próxima o
posse de bola
6. Pressionar o atacante direto oponente direto, na tentativa de adquirir a bola ou forçar o
adversário ao erro.
Ato do defensor acompanhar o oponente direto em seus
7. Responsabilizar-se pelo atacante direto deslocamentos pela quadra, com objetivo de não deixar o
Defensor do atacante sem adversário livre de marcação.
posse de bola Ação do defensor deslocar-se em direção a um oponente que
8. Realizar cobertura a um companheiro obteve vantagem sobre um colega defensor, com intuito de
ajudar o companheiro driblado e impedir o êxito do adversário
Fonte: o autor (2015)

26
3 CUIDADOS ÉTICOS

Ao executar o projeto de pesquisa, alguns cuidados éticos foram considerados


evitando prejudicar os envolvidos na investigação, principalmente, com relação à
identificação dos sujeitos. Por respeito aos participantes, o trabalho não registra suas
identidades, não sendo apresentado suas imagens e seus nomes, a fim de preservar a
integridade dos investigados.
A participação dos sujeitos na pesquisa foi voluntária, de forma que eles tinham
conhecimento sobre os objetivos propostos no estudo e, portanto, não se opuseram. Os
jogadores permitiram a filmagem de suas atuações em jogos de futsal e estavam cientes
de que poderiam desistir da pesquisa, na condição de haver constrangimento para os
mesmos, sem nenhum tipo de prejuízo.

27
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise dos dados consistiu em identificar ocorrências das oito intenções


táticas selecionadas, nas filmagens de quatros jogos de futsal da equipe AAPF. Com o
intuito de apontar ações pertinentes dos jogadores durante os jogos, criei duas categorias
para analisar as atitudes dos atletas: ação adequada e ação inadequada.
O critério para apontar as ações táticas como adequadas ou inadequadas, teve a
descrição das tarefas apresentadas no Quadro 8 deste trabalho como referência. Ou seja,
quando o jogador realizava uma ação na linha em que está descrita na explicação de
cada subpapel, eu considerei adequada. Caso contrário, entendi como inadequada. Por
exemplo, se o atacante com a posse de bola efetuou um passe para um companheiro que
estava marcado, sendo que havia outro livre, a ação será inadequada. Se um atacante
sem a posse de bola se movimentava procurando um espaço livre para receber a bola
(buscando assim sair da marcação do seu oponente direto) compreendi como ação
adequada. Ao contrário, quando o jogador não procurava sair da marcação, considerei a
ação como inadequada.
Para fins de relato dos resultados, apresento a análise da seguinte forma. Trago
as imagens de cada uma das oito intenções táticas, em momentos de ações adequadas e
inadequadas dos atletas, totalizando assim, dezesseis momentos. Após cada imagem,
faço uma análise explicativa apontando os motivos pelos quais compreendi os atos dos
jogadores como corretos ou incorretos.
Visando facilitar a compreensão dos leitores desse estudo, disponibilizo, no site
de compartilhamento de vídeos em formato digital youtube, o endereço dos vídeos em
que é possível analisar a sequência das jogadas em que as imagens foram extraídas.
Dessa forma, entendo que talvez possa contribuir para uma melhor compreensão das
atitudes dos jogadores no jogo. Na sequência apresento a legenda, as ilustrações e as
análises dos resultados.

28
Ilustração 2 – Passar a bola ao companheiro em melhores condições – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

29
Ao analisar a intenção tática passar a bola ao companheiro em melhores
condições, percebe-se que o ACPB (2) optou em passar a bola ao ASPB (3), que estava
posicionado em melhores condições de finalizar. O atacante 4 também se encontrava em
condições de receber a bola, porém, nessa situação, há um risco de interceptação do
passe pelo defensor C.
Nessa situação de contra-ataque, em vantagem numérica de 3 contra 1, a ação
de passe adequada ao atacante 3 permitiu a finalização em condição favorável, sendo
aproveitada a chance de gol e assinalado um tento para a equipe, como pode ser visto no
endereço: https://youtu.be/RV_K_jDV5EE

30
Ilustração 3 – Passar a bola ao companheiro em melhores condições – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

31
A leitura adequada da situação de jogo possibilita em inúmeras vezes
simplificar a jogada e diminuir o risco de cometer um erro, que pode gerar um contra-
ataque e, consequentemente, uma probabilidade de gol para o adversário. Na situação é
observada na Ilustração 3, o ACPB 2 opta pelo passe ao ASPB 4, para o qual, não
existia linha passe, pois havia a presença do defensor A, entre os atacantes. Nesse
cenário a opção do ACPB foi o passe para o jogador 4, resultando na perda da posse da
ola. Em uma leitura mais atenta, o passe adequado deveria ocorrer ao ASPB 1, uma vez
que ele está desmarcado e há linha de passe com o ACPB (2).
Desse modo, o ACPB (2) tentou um passe com grau de maior dificuldade.
Passar para o atacante 1 seria uma alternativa mais fácil de ser atingida, quando
comparada com a possibilidade da bola chegar até o atacante 4. Se o passe for
interceptado há uma clara oportunidade do adversário contra atacar em superioridade
numérica, comprometendo dessa maneira todo o sistema defensivo. A situação descrita
pode ser visualizada na íntegra no seguinte local:
https://www.youtube.com/watch?v=kM6f6mV1vHk

32
Ilustração 4 - Finalizar em condições favoráveis – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

33
Na ilustração 4 é possível observar uma situação em que há oportunidade clara
de finalização. Não há nenhum defensor (jogador de linha) entre o ACPB (4) e a meta.
Logo, o atacante tem apenas o goleiro a sua frente, o que caracteriza – nessa situação –
um ambiente favorável para finalizar.
A condição apresentada ocorreu por consequência de um erro de marcação da
equipe que estava defendendo (jogadores A, B, C e D). Como se percebe na análise do
vídeo desta jogada (disponível em: https://youtu.be/tUzbJg8HqkA) o defensor A não
acompanhou o seu oponente direto (jogador 4) e o defensor B não realizou a cobertura
ao seu companheiro A.

34
Ilustração 5 - Finalizar em condições favoráveis – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

35
Na Ilustração 5 está identificado que o ACPB (2) decidiu finalizar no momento
inoportuno. Além de estar distante da meta, há um defensor a sua frente que dificulta a
passagem da bola até o alvo. Logo, essa situação não lhe oferece as melhores condições
para o chute.
O fato de não observar a situação de jogo, em sua amplitude, impediu o ACPB
(2) de identificar uma alternativa de ação mais prudente naquela situação e acabou se
precipitando ao tentar finalizar.
Uma atitude mais adequada seria passar a bola para o ASPB 1 que estava
próximo e apresentava linha de passe. Em síntese, é possível apontar a necessidade de
os jogadores refletirem sobre o momento oportuno para finalizar. Uma precipitação ao
finalizar, pode gerar um contra-ataque, ou seja, uma decisão errada poderia resultar em
oportunidades de gol para o adversário. Um vídeo evidenciando a finalização no
momento inadequado pode ser observado no seguinte endereço:
https://youtu.be/daFgVne-uVo

36
Ilustração 6 – Desmarcar-se para receber a bola – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

37
A intenção tática de desmarcar-se é um deslocamento que os jogadores
realizam com o intuito de criar linha de passe em relação ao companheiro (ACPB) para
receber a bola, ocupar os espaços adequados na quadra e sair da marcação do oponente
direto. Na ilustração 6 consta, através da linha tracejada, a movimentação do atacante 3,
objetivando fugir da marcação do defensor (A). Um vídeo (que consta no endereço:
https://youtu.be/dD-QONYR1Ig) facilita a visualização de referida ação e permite
compreender a descrição da ação mencionada.
Na imagem anterior, a linha tracejada apresenta o deslocamento do atacante 3
da quadra ofensiva para a defensiva inicialmente, oferecendo alternativa de passe em
relação ao ACPB (1), em aproximação pelo meio. Cada intervalo nos traços pontilhados
(demarcados por círculos brancos) significa que o jogador 3 efetuou um passe e na
sequência dos pontilhados realizou novamente deslocamentos para se desmarcar. Mais
especificamente, como pode ser observado no vídeo destacado no parágrafo anterior, na
primeira indicação o atacante 3 aproximou-se do ACPB (1), recebeu a bola e passou
novamente ao ACPB. Na sequência deslocou-se buscando a desmarcação. Entre os
intervalos dos pontilhados recebeu a bola e a passou. Na sequência, progrediu para o
ataque recebendo novamente o móvel. Ao ter sua posse, efetuou um passe ao atacante 4.
Após, deslocou-se novamente por trás do defensor A, ficando livre de marcação para
finalizar.
A intenção de desmarcar-se com troca de passes rápidos e deslocamento em
velocidade, é uma atitude de extrema importância, uma vez que, se bem executada, cria
dúvidas ao adversário. Essa ação dificulta o trabalho dos defensores, pois tente a criar
situações de vantagem numérica a favor dos atacantes, podendo ser determinante para a
marcação de um tento.

38
Ilustração 7 – Desmarcar-se para receber a bola – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

39
O objetivo com a Ilustração 7 é evidenciar uma ação inadequada, no que se
refere a ação de se desmarcar para receber a bola. Na jogada que a imagem anterior
representa, o ASPB 1 não ofereceu alternativa de passe ao ACPB, pois não procurou
ocupar espaços livres na quadra.
Mais detalhadamente, nota-se que a bola está com o atacante 3. O ASPB 2 se
apresenta em condições de receber a bola, porém há dois defensores próximos (A e B),
o que, em minha opinião, não deixa evidente a vantagem em realizar o passe ao jogador
2, que está atrás da linha bola. Na ala oposta o ASPB 1 permanece estático sem criar
linha de passe, ou seja, não se movimenta com a intenção de entrar no campo visual do
ACPB para receber a bola8.
Na mesma situação o atacante 4, está posicionado atrás do defensor, não
caracterizando uma linha de passe em relação ao ACPB. O ACPB 4, por exemplo,
poderia ter se deslocado em direção aos espaços livres na quadra. A visualização das
referidas descrições em vídeo, pode ser realizada através do endereço:
https://youtu.be/V1EeMM8o5uM
Conclui-se dessa maneira que o não aproveitamento dos espaços, por meio de
movimentações, prejudica a equipe com a posse de bola, à medida que as opções de
ação do ACPB ficam extremamente limitadas.

8
As figuras geométricas azuis indicam os espaços que poderiam ser ocupados pelos atacantes sem a
posse da bola, para aproveitar a distância entre as linhas defensivas e receber a bola.

40
Ilustração 8 – Progredir com a equipe para o ataque – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

41
Na Ilustração 8 é possível visualizar que os jogadores da equipe detentora da
bola progridem para o ataque. Essa situação permite que o time tenha vantagem
numérica de 4 contra 3. O referido cenário, que permite alternativas de ações mais
diversificadas para quem tem a posse da bola, pode ser acompanhado na íntegra no
endereço: https://youtu.be/E5nvRi-T_ec
Em suma, quando os atacantes progridem para o ataque eles conseguem, no
mínimo, igualar o número de atletas em relação aos defensores. Essa perspectiva é
fundamental para criar possibilidades de finalização.

42
Ilustração 9 – Progredir com a equipe para o ataque – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

43
Numa situação de ataque no futsal é necessário que os jogadores da equipe
progridam para a quadra adversária junto ao atacante com a posse da bola, pois, desse
modo, aumentam as possibilidades de ações do time que está no ataque. No entanto, na
Ilustração 9 se observa que dois atletas não avançam em direção a meta do oponente.
Mais especificamente, o ACPB (3) está em progressão marcado pelo defensor
C e o defensor D marca o atacante 4, que busca se desmarcar por trás do defensor D,
com intuito de oferecer opção de passe ao ACPB. Nesse processo, os jogadores 1 e 2
não se movimentam para tentar criar uma situação de superioridade numérica, não
oferecendo alternativas para o ataque. É interessante compreender que bastaria o
deslocamento para o ataque de um desses jogadores, para que a equipe tivesse
superioridade numérica. A situação apresentada pode ser visualizada em:
https://youtu.be/g-CvgzsI8RE

44
Ilustração 10 – Posicionar-se entre o atacante direto e a meta – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

45
Na Ilustração 10, é possível observar a equipe que não possui a bola (jogadores
A, B, C e D) exercendo uma marcação individual. Entendo que o posicionamento
desses defensores é adequado, à medida que eles se posicionam em um espaço (ou
muito próximo) que pode ser entendido como uma linha imaginária entre os atacantes
diretos e a meta. Nessa situação, a marcação encontra-se equilibrada, dificultando a
penetração do ACPB e demais atacantes. Esse posicionamento pode ser observado no
seguinte endereço: https://youtu.be/NKbAVP_Ns-o
Com esse posicionamento defensivo cada um dos atacantes, ao receber a bola,
terá um defensor a sua frente. Por consequência, diminui tanto o ângulo para finalização
do atual ACPB, quanto a possibilidade de um passe para um ASPB em condições de
concluir a gol.
Quando os defensores se posicionam adequadamente entre o oponente direto e
a meta, comprometendo-se na marcação, surgem grandes de dificuldades para o ataque
adversário. Penetrações pelo centro da quadra se tornam raras, induzindo aos atacantes à
opção de retorno de bola ou passe paralelo, sem progredir para o ataque com a bola.

46
Ilustração 11 - Posicionar-se entre o atacante direto e a meta – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

47
Na Ilustração 11, observa-se uma situação inadequada de posicionamento da
equipe defensora, pois alguns de seus jogadores não se encontram entre os atacantes
diretos e a meta que defendem. Pontualmente, o defensor A, responsável por marcar o
atacante 2, não se encontra entre o referido oponente e a meta que defende. Em
consequência, o atacante 2 está livre de marcação tendo apenas o goleiro a sua frente.
Na mesma linha, o defensor C não se posiciona entre o atacante 1 e a meta,
deixando o referido oponente em plenas condições de receber um a bola e marcar o gol,
um vez que está livre de marcação.
Como consequência dos defensores não se posicionarem de forma correta, há
uma situação de vantagem numérica do ataque sobre a defesa de 2 contra 19, além da
concretização de uma excelente possibilidade de finalização tanto para o atacante 1
quanto para o 2. Em virtude dos referidos erros dos defensores, no andamento do lance
ocorreu a marcação de um gol, como pode ser observado em:
https://youtu.be/nPop7yeY8oQ

9
Leitura realizada a partir da linha da bola, da defesa para o ataque.

48
Ilustração 12 – Pressionar o atacante direto – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

49
A ação de pressionar o adversário visa dificultar a sequência de passes, com
intuito de induzir o oponente ao erro. Na Ilustração 12, é possível verificar que os
defensores se posicionam próximos aos atacantes diretos, objetivando adquirir a posse
da bola.
Especificamente, percebe-se que o defensor B avança em direção ao seu
oponente direto (atacante 2), quase na linha de fundo da quadra adversária. O defensor
D, por sua vez, progride em direção ao ASPB 3, podendo realizar a cobertura ao
companheiro B, caso esse seja superado.
Nas circunstâncias apresentadas, havia uma boa possibilidade da recuperação
da posse de bola, mediante qualquer descuido dos atacantes. Ao observar a sequência da
referida jogada (no endereço https://youtu.be/cu6ypxpGrBA), nota-se que ocorre a
aquisição da bola pelos então defensores, o que resulta na marcação de um gol.

50
Ilustração 13 – Pressionar o atacante direto – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

51
A Ilustração 13 aponta que a bola está de posse do atacante 2. O referido atleta
é marcado pelo defensor C, que não diminui o espaço de ação do adversário, ou seja,
não faz pressão para criar dificuldades ao ACPB 2.
Como resultado do espaço deixado pelo defensor C, o atacante 2 realizou um
giro para finalizar com certa finalidade. Essa ação inadequada do defensor, bem como a
ação do atacante na íntegra, pode ser observada em: https://youtu.be/AoVaW_5Id2M

52
Ilustração 14 – Responsabilizar-se pelo atacante direto – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

53
Na situação posta na Ilustração 14, é possível identificar o exemplo de um
defensor responsabilizando-se pelo seu atacante direto de forma adequada. Pois,
observa-se que o atacante 1, na tenta sair da marcação do defensor C, desloca-se por trás
do marcador. Contudo, o jogador C o acompanha impedindo que o atacante fique livre
de marcação para receber a bola e caracterizar uma situação 2 contra 1. Essa ação pode
ser visualizada com exatidão no vídeo que consta no endereço eletrônico:
https://youtu.be/73W29if-EcE
De forma mais detalhada, no vídeo, é possível ver que a bola é passada pelo
atacante 1 ao seu companheiro 3 que se encontra na ação de pivô. Ao efetuar o passe, o
primeiro atacante se desloca em velocidade na tentativa de receber um passe por trás do
defensor. Dessa maneira, ocorreria a penetração do atleta 1 sem o marcador. Porém, isso
não ocorreu fruto da ação adequada do defensor que acompanhou a movimentação do
ASPB 1 e na sequência do lance conseguiu a impedir o recebimento da bola.

54
Ilustração 15 - Responsabilizar-se pelo atacante direto – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

55
Na Ilustração 15, verifica-se que o ACPB (1) recebeu a bola livre de marcação,
em plenas condições de marcar o gol. Esse fato permite apontar a ocorrência de uma
falha dos defensores, à medida que não se responsabilizaram pelo referido atacante.
No endereço eletrônico https://youtu.be/JPwOTcQwjD0 é possível visualizar
que o atacante 1, que estava com a posse da bola perto do centro da quadra, efetuou um
passe ao atacante 3 e se deslocou para a área de gol adversária em direção a segunda
trave. O defensor D que era responsável pela marcação do referido atacante não o
acompanhou e dirigiu-se para marcar o atacante 3 que recebeu a bola, sendo que já
havia o defensor B responsável pelo atleta 310. Na sequência o atacante 3 chuta a bola
em direção à segunda trave, onde o companheiro 1 estava posicionado livre de
marcação.
À medida que um dos defensores não se responsabiliza por um atacante,
permite que este se encontre livre de marcação. Nessa situação pode haver uma
vantagem numérica de jogadores do ataque sobre a defesa ou até mesmo como na
Ilustração em questão e no vídeo mencionado, um atacante pode ficar livre de marcação
em condição real de marcar um gol.

10
Devido a isso, entendo que o defensor B, que era responsável pela marcação do atacante 3 no início da
jogada, também falhou ao não se responsabilizar pelo seu atacante direto.

56
Ilustração 16 - Realizar cobertura a um companheiro – Ação adequada

Fonte: o autor (2015)

57
A cobertura a um companheiro é uma intenção tática defensiva que qualifica a
atuação da defesa. Neste sentido, a Ilustração 16 apresenta uma situação em que um
defensor realiza um deslocamento visando auxiliar um companheiro na marcação.
Na referida imagem é possível observar uma situação de 3 contra 2.
Especificamente, o defensor C estava marcando o atacante 1 no início da jogada, o
defensor A marcando o atacante 2 e o defensor D marcando o atacante 4. Próximo a
lateral da quadra, o atacante 4 se desloca em direção ao ataque tendo superado o
marcador no deslocamento. Na sequência do lance (como pode ser visto em
https://youtu.be/qZybInWZZUI) o atacante 4 recebe a bola. Com isso, o defensor C
realiza uma cobertura ao companheiro D que não acompanhou a trajetória do referido
atacante. Dito de outra forma, o referido defensor, que era responsável pelo atacante 1,
deixou o seu marcador direto para efetuar a cobertura a um companheiro que não se
responsabilizou pelo opositor de forma adequada.

58
Ilustração 17 - Realizar cobertura a um companheiro – Ação inadequada

Fonte: o autor (2015)

59
Na situação apresentada na Ilustração 17, é possível perceber que não ocorre a
cobertura a um companheiro driblado. Especificamente, o defensor 2 poderia ter optado por
realizar a cobertura ao defensor 3, no instante em que o ACPB demonstrou optar pelo drible.
Em uma ação mais apropriada, ao perceber que o atacante C poderia tentar o drible, o
defensor 2 poderia recuar seu posicionamento em direção à meta que defende. Dessa forma
teria condições de intervir na ação do ACPB, fazendo a cobertura ao companheiro driblado e,
consequentemente, evitando a oportunidade clara de gol da equipe adversária. A jogada em
sua íntegra pode ser visualizada em https://youtu.be/YYKYveZhCkA
Em uma análise geral das intenções táticas apresentadas, as pontuações nas
ilustrações, juntamente com os vídeos, permitem ao leitor perceber os motivos pelos quais
compreendi as ações dos jogadores como adequadas ou inadequadas no futsal. Nesse
processo, pautei-me nas descrições das intenções táticas selecionadas de acordo com os
subpapéis, conforme o Quadro 4 apresentado anteriormente.
A decisão de apontar falhas e acertos no desempenho tático dos atletas no jogo,
buscou oferecer uma leitura da situação com base em exemplos visuais. Não era outra a
intenção ao propor a possibilidade de visualização das jogadas na íntegra, através de vídeos na
rede mundial de computadores, se não facilitar a compreensão e análise das atitudes dos
atletas.
As análises servem de parâmetros para avaliar o desempenho das capacidades táticas
dos atletas e teve um aspecto fundamental na avaliação individual da equipe de futsal que sou
treinador. Especialmente, ajudou-me a repensar o planejamento dos treinos com maior foco
na capacidade de tomada de decisões. É possível afirmar que após este estudo passei a dedicar
maior atenção a dimensão tática, uma vez que percebi problemas vinculados à escolha nas
ações dos jogadores que eu não percebia antes11. Esse fato é extremamente relevante, pois,
pela minha experiência no futsal, percebo que muitas vezes os treinadores focam atenção nos
erros técnicos, quando a maioria das dificuldades dos jogadores está vinculada ao aspecto
tático (GONZÁLEZ; BORGES, 2011, MESQUITA; GRAÇA, 2006).
Em minha opinião, este estudo possibilita a leitura das capacidades táticas dos atletas
preocupando-se com a linguagem utilizada no futsal de uma maneira simples. A ideia, além
de construir um material que permitisse meu aprendizado/aperfeiçoamento com o objeto do
estudo (TRIVIÑOS, 1987), foi possibilitar as pessoas que se interessam pelo ensino dos
esportes um material de auxílio para análise das intenções táticas.

11
Esse tipo de mudança de compreensão em relação ao estudo/ensino dos esportes de invasão, foi estudada em
diversos trabalhos: Barroso e Darido (2010), Borges (2014), Bracht et al. (2013), González e Borges (2011),
González-Víllora (2008) entre outros.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma tentativa de criação de uma proposta de avaliação da dimensão tática no futsal é


difícil e desgastante. Perdi a conta de quantas vezes olhei as filmagens dos jogos, analisei as
imagens, preenchi e alterei planilhas de análise. Por outro lado, percebi que é possível o
professor/treinador pensar e propor formas de análise jogo, ao invés de apenas executar a
ideias de outras pessoas12.
Nesse processo, diversos são os entraves que dificultam a proposição de um material
como esse. Entre eles, o tempo de estudo necessário para escolher as imagens e analisar os
dados e o processo de análise das intenções táticas de acordo com as várias possibilidades de
cada subpapel.
Por outro lado, entendo que a proposta de avaliação das oito intenções táticas
apresentadas é possível de ser utilizada tanto por professores de educação física nas escolas
com os alunos da educação básica, quanto por treinadores de futsal. Desse modo, essa forma
de análise pode ser desenvolvida em diversos espaços, como em escolas e clubes esportivos,
por exemplo. Cabe ressaltar que na perspectiva de González e Bracht (2012), devido a
transferência de informações de esportes do mesmo tipo, as intenções táticas observadas neste
estudo poderiam ser pensadas em outros esportes de invasão.
Ao final da pesquisa defendo que o estudo possibilitou captar os erros e acertos
táticos dos jogadores de futsal nos quatro subpapéis. Permitiu-me refletir sobre a organização
dos treinamentos e planejar o trabalho com foco nas intenções táticas que foram identificadas
como algo que prejudica o desempenho da equipe de futsal que sou treinador. Na mesma
linha, também permitiu perceber que alguns jogadores apresentam melhor desempenho em
um subpapel e maiores dificuldades em outro. Essa constatação ampliou minha visão sobre o
a importante de desenvolver o elemento tático nos jogadores.
Minha intenção ao término desta pesquisa, é testar esse tipo de análise com outros
indicadores, para depois pensar em um instrumento de avaliação propriamente dito. Desse
modo, talvez eu possa humildemente contribuir com o ensino dos esportes de invasão,
principalmente com o ensino do futsal, que tenho uma ligação pessoal e profissional há
bastante tempo.

12
Fensterseifer e González (2007, p. 29), apontam que “[...] os professores são péssimos aplicadores de soluções
produzidas por outros”.
61
REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. X. Futsal – início, meio e finalidade: noções sobre preparação física, tática
e técnica. Marechal Cândido Rondon: Gráfica Líder, 2013.

BARROSO, André Luis Rugiero; DARIDO, Suraya Cristina. Voleibol escolar: uma proposta
de ensino nas dimensões conceitual, procedimental e atitudinal do conteúdo. Revista
Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 179-194, abr./jun. 2010.

BORGES, M.; RECHENCHOSKY, L. Futebol. In: GONZÁLEZ, F. J.; DARIDO, S. C.;


OLIVEIRA, A. A. B. (org.). Práticas corporais e a organização do conhecimento 1:
esportes de invasão. 1. ed. Maringá: Eduem, 2014. v. 1. p. 121-174.

BORGES, R. M. Diálogos sobre o ensino do esporte educacional: uma pesquisa-ação na


formação continuada. 2014. 280f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Escola de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Ciências do
Movimento Humano, Porto Alegre, 2014.

BORGES, R. M.; AMORIM, A. C. Futsal. In: GONZÁLEZ, F. J.; DARIDO, S. C.;


OLIVEIRA, A. A. B. (org.). Práticas corporais e a organização do conhecimento 1:
esportes de invasão. 1. ed. Maringá: Eduem, 2014. v. 1. p. 175-218.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2002.

COSTA, C. F. Futsal: aprenda a ensinar. Florianópolis: Visual Books Editora, 2003.

FERRETTI, Fernando. Os sistemas defensivos: uma visão atual. Ferreti Futsal. 2006.
Disponível em: <www.ferrettifutsal.com/artigos.php>. Acesso em: 14 de jan. 2014.

FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo; GONZÁLEZ, Fernando Jaime. Educação Física escolar: a


difícil e incontornável relação teoria e prática. Motrivivência, v. 19, n. 28, p. 27-37,
jul./2007.

GARGANTA, J. O treino da tática e da técnica nos jogos desportivos à luz do compromisso


cognição-ação. In: BARBANTI, J. (org.). Esporte e atividade física: interação entre
rendimento e saúde. São Paulo: Manole, 2002.GIL, A. C. Como elaborar projetos de
pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2002.

GONZÁLEZ, F. J.; BRACHT, V. Metodologia de ensino dos esportes coletivos. Vitória:


Ed. UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2012.

GONZÁLEZ, F. J.; DARIDO, S. C.; OLIVEIRA, A. A. B. Práticas corporais e a


organização do conhecimento: esportes de invasão. Maringá: Ed. Universidade Estadual de
Maringá, 2014.

GONZÁLEZ, F. J.; FRAGA, A. B. Afazeres da educação física na escola: planejar, ensinar,


partilhar. Erechim: Edelbra, 2012.
GONZÁLEZ, F.; BORGES, R. Conhecimentos acadêmicos, saberes e afazeres pedagógicos
do professor de educação física: mapeando vínculos. In: XVIII CONGRESSO BRASILEIRO

62
DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, V CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE, 2013, Brasília. Anais... Brasília: UFB, 2013.

GONZÁLEZ-VÍLLORA, Sixto et al. Propuesta de formación permanente del profesorado de


educación física sobre deportes de invasión. Perfiles Educativos, Ciudad de México, v. 30, n.
121, p. 97-124, 2008.

MESQUITA, I. M. R. Perspectiva construtivista da aprendizagem no ensino do jogo. In:


NASCIMENTO, J. V.; RAMOS, V.; TAVARES, F. (org.). Jogos desportivos: formação e
investigação. Florianópolis: Ed. UDESC, 2013. v. 4. p. 103-132.

MESQUITA, I. M. R.; GRAÇA, A. Modelos de ensino dos jogos desportivos. In: TANI, G.;
BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. (org.). Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006. p. 269-283.

MUTTI, D. Futsal: da iniciação ao alto nível. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2003.

RAMOS, V; SAAD, M. A; MILISTETD, M. Jogos desportivos coletivos: investigação e


prática pedagógica. Florianópolis: Ed. UDESC, 2013. v. 3.

SANTANA, W. C. Futsal: apontamentos pedagógicos na iniciação e na especialização. São


Paulo: Autores Associados, 2004.

TRIVIÑOS A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em


educação. São Paulo: Atlas, 1987.

63

Você também pode gostar