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narrativa inicia-se em 1608, quando Martim Soares Moreno é indicado

para regularizar a colonização da região que mais tarde seria


conhecida como Ceará.

José de Alencar era leitor assíduo de Walter Scott, criador do romance


histórico, e foi influenciado por esse escritor. Como em vários
romances de Alencar, Iracema mistura ficção e documento, com
enredo que toma como base um argumento histórico. Essa junção se
deve também ao projeto de criação de uma literatura nacional, no qual
Alencar e os demais escritores românticos do seu tempo estavam
fortemente empenhados.

Ainda quanto ao aspecto histórico, que o autor levou em conta ao


compor a obra, ressalte-se que os índios potiguaras (habitantes do
litoral) eram aliados dos portugueses, enquanto os tabajaras
(habitantes das serras cearenses) eram aliados dos franceses.

ENREDO
A primeira cena antecipa o fim do livro, o que reforça a unidade da
obra: Martim e Moacir deixam a costa do Ceará em uma embarcação,
quando o vento lhes traz aos ouvidos o nome de Iracema.

No segundo capítulo, a narrativa retrocede no tempo até o nascimento


de Iracema. A personagem é então apresentada ao leitor: “Virgem dos
lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna,
e mais longos que seu talhe de palmeira”. A índia é descrita como
uma linda e excelente guerreira tabajara, “mais rápida que a ema
selvagem”. Por isso mesmo, sua reação ao avistar o explorador
Martim é desferir-lhe uma flechada certeira. Essa é também uma
referência à flecha de cupido, já que, desde o primeiro olhar trocado
pelos personagens, se percebe o amor que floresce entre os dois.

Martim desiste de atacar a índia assim que põe os olhos nela.


Iracema, por sua vez, parece ter atirado a flecha por puro reflexo, pois
logo depois se arrepende do gesto e salva o estrangeiro, levando-o
até sua aldeia.

Martim é recolhido à aldeia pelo pajé Araquém, pai de Iracema, e


apresenta-se a ele como um aliado de seus inimigos potiguaras que
se perdera durante uma caçada. O pajé o trata com grande
hospitalidade e garante hospedagem, mulheres e a proteção de mil
guerreiros.

Iracema oferece mulheres a Martim, que prontamente as recusa e


revela sua paixão por ela. O amor de Martim é cristão, idealizado. O
de Iracema também, mas por motivo diverso: ela guarda o segredo da
jurema, por isso precisa manter se virgem. Esse é o estratagema que
Alencar utiliza para transpor o amor romântico europeu às terras
americanas. Uma índia, criada fora dos dogmas cristãos, não teria
motivos para preservar sua virgindade.

AMOR PROIBIDO
As proibições reforçam ainda mais o amor entre a índia e o português.
São as primeiras de muitas provações que tal união terá de enfrentar.
Em linhas gerais, o romance estrutura-se no embate entre tudo o que
une e o que separa os dois amantes.

Irapuã é o chefe guerreiro tabajara e funcionará, no esquema narrativo


da obra, como um antagonista de Martim. Na primeira desavença
entre os dois, o velho pajé Andira, irmão de Araquém, intervém em
favor do estrangeiro. Iracema pergunta ao amado o motivo de sua
tristeza e, percebendo que ele tinha saudade de seu povo, pergunta
se uma noiva branca espera pelo seu guerreiro. “Ela não é mais doce
do que Iracema”, responde Martim. Irapuã nutre amor não
correspondido pela virgem e logo reconhece no português um inimigo
mortal.
Iracema conduz Martim ao bosque sagrado, onde lhe ministra uma
poção alucinógena. O guerreiro branco delira, e a índia adormece
entre os seus braços.

Enquanto isso, Itapuã continua alimentando planos para se livrar do


estrangeiro. O amor entre os protagonistas parece impossível de se
concretizar, por isso Martim é coagido por Iracema a voltar para sua
terra. Caubi, irmão de Iracema, acompanha-os. No caminho de volta,
porém, são atacados por guerreiros liderados por Irapuã. Martim,
Iracema e Caubi refugiam-se na taba do pajé Araquém, que usa de
um truque para salvar o português da ira do chefe guerreiro.

Sucede-se o encontro amoroso entre Martim e Iracema, narrado


delicadamente pelo autor. Martim está inconsciente por ter ingerido a
bebida da jurema e a índia deita-se ao seu lado. A frase “Tupã já não
tinha sua virgem na terra dos tabajaras” é a sutil indicação de que a
união amorosa se realizara.
Os acontecimentos que se seguem têm como pano de fundo a guerra
entre potiguaras e tabajaras. Martim escapa de seus inimigos
tabajaras e une-se aos vencedores potiguaras. Iracema, porém, sente-
se profundamente triste pela morte dos entes queridos e não suporta
viver na terra de seus inimigos.
O casal muda-se então para uma cabana afastada, localizada numa
praia idílica. Com eles vai Poti, o grande amigo de Martim. Lá vivem
um tempo de felicidade, culminando com a gravidez de Iracema e o
batismo indígena de Martim, que recebe o nome de Coatiabo, ou
“gente pintada”. Com o passar do tempo, contudo, o português se
entristece por não poder dar vazão a seu espírito guerreiro e por estar
com muita saudade de sua gente. A bela índia tabajara também se
mostra cada vez mais triste.
Numa ocasião em que Martim e Poti saem para uma batalha, nasce o
filho, Moacir. Quando os dois amigos voltam da guerra, encontram
Iracema à beira da morte. O corpo da índia é enterrado aos pés de um
coqueiro, em cujas folhas se pode ouvir um lamento. Daí vem o nome
Ceará, canto de sua jandaia de estimação, uma ave que sempre a
acompanhava.
CONCLUSÃO
Iracema, por amor a Martim, abandona família, povo, religião e deus.
É uma clara referência à submissão do indígena ao colonizador
português. Alguns dizem que o nome Iracema é também um
anagrama de América.

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