Você está na página 1de 9

CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES DE CULTURA MATERIAL1

1. No caso do museu universitário da Universidade da Pensilvânia, na


Filadélfia, não há apenas coleções extensivas nas áreas da Arqueologia do
Mundo Antigo, Arqueologia e cultura material dos povos nativos de Novo
Mundo e arte primitiva. Seu extensivo corpo de curadores e pesquisadores
associados possuem conjuntamente equipamentos no departamento de
Arqueologia e Antropologia da universidade e ativamente conduzem
escavações de campo. Essas expedições não apenas beneficiam as coleções
dos museus, mas oferecem raras oportunidades para os estudantes deste
campo a ganharem experiência prática na sua área de interesse.

(Calcutta review, 1844, p. 15)

2. Cultura (...) deve ser tanto material como espiritual. Cultura material é a
aplicação da inteligência a objetos físicos e seu aperfeiçoamento com
propósito racional e moral. (...) A cultura espiritual relata a inteligência dos
seres.

(PARK, E. A. & TAYLOR, S. H. (1861) German treatises on moral


Philosophy. The Bibliotheca sacra and biblical repository, Volume 18, p.
889)

3. Cultura, no seu mais amplo significado, pode ser aplicada a tudo que tem em
si mesmo suscetibilidade do desenvolvimento, crescimento ou
melhoramento. Ela pode ser dividida, por conveniência, em material e
humana. O que chamaremos de cultura material, por falta de uma palavra
melhor, está referenciado nos recursos materiais. O agricultor leva em conta a
natureza do solo, e o melhor modo de prepará-lo; e se esforça para introduzir
tais dispositivos assim como desenvolver seus recursos para o melhor
proveito, e assim assegura a mais proveitosa colheita. (...) Cultura humana
consiste na educação geral e pessoal do homem.

(BAILEY, J. M. (1862) Human culture. The Freewill Baptist quarterly,


Volume 10, p. 309-10)

4. Acima da América, está o Trans-Himalaia (High Asiatic). Embora a maioria


do povo dessa raça seja nômade, os quais são responsáveis pela fama de
convulsionar o mundo, entretanto há alguns estados que adquiriram um
permanente nome na História da civilização, tais como Japão e China. Esses
dois estados, de fato, alcançaram o mais alto estágio de cultura material antes
da civilização ocidental.

1
Excertos selecionados e traduzidos por Glaydson José da Silva e Gilberto da Silva Francisco.
O mais alto grau de ideal de desenvolvimento da humanidade foi alcançado
pela raça mediterrânica. Durante o primeiro período de seu aparecimento,
não foi maior que a China. Com o aparecimento dos semitas e indo-
germanos, (...) gradualmente derrubou todas as barras de oposição de tempo
e espaço.

(MÜLLER, F. (1870) The chief races of makind. The Anthropological review


[Anthropological Society of London], Volume 8, 1870, p. 94)

5. A questão é: qual o grau de cultura intelectual e material que as várias raças


atingiram e em que proporção as diferentes classes da sociedade as
partilham?

(CARTWRIGHT, W. C. (1870) Gustave Bergenroth: a memorial sketch, p. 270)

6. Cultura formal e material são palavras também bem conhecidas nos escritos e
polêmica educacionais alemães. Cultural material significa a realidade do
conhecimento adquirido pela instrução, cultura formal, o treinamento que
diferentes faculdades da mente recebem pela educação e na aquisição de
conhecimento. Nós chamamos normalmente cultura material de
conhecimento e cultura formal de disciplina da mente, ou cultura.

(The Journal of speculative philosophy, Volume 10, 1876, p. 362, 371)

7. O segundo dos estágios da evolução técnica os antigos nunca atingiram. Por


outro lado, isso foi alcançado comparativamente cedo por povos civilizados
do Leste da Ásia, os quais, em outros aspectos, parecem bárbaros
comparados com os gregos e romanos. Esses asiáticos, em verdade, apenas
empregaram a bússola em terra, usaram pólvora apenas para fogos de
artifício, e não imprimiram com tipos móveis, devido ao jeito desajeitado de
sua forma de escrita. Mas, mesmo na sua cerâmica e têxteis, as nações
clássicas eram ultrapassadas pelos hindus, os chineses e os japoneses. As
antigas civilizações sempre estiveram, por assim dizer, com o pé na idade do
bronze.
Para se ter uma idéia de quão tardio foi seu progresso nas artes úteis, nós
podemos comparar a diferença da cultura material entre o tempo de Péricles
e o de Constantino, de um lado, e entre o tempo de Barbarrosa e o nosso, de
outro. Todas ocupações industriais entre os antigos eram, na sua maioria,
confinadas à classe servil. Esta é a razão freqüentemente atribuída para o
baixo estado da arte industrial entre eles.

(DU BOIS-REYMOND, E. (1878) Civilization and science. Popular


science monthly, p. 266-7)
8. Expressão tangível das mudanças producidas pelos humanos ao adaptarem-
se ao meio biosocial e no exercício de seu controle sobre o mesmo. Se a
existencia humana se limitasse meramente à sobrevivencia e satisfação das
necesidades biológicas básicas, a cultura material poderia consistir
simplesmente nos equipamentos e ferramentas indispensáveis para a
subsistencia, e as armas ofensivas e defensivas para a guerra ou a defesa
pessoal. Mas, as necessidades do homem são múltiplas e complexas, e a
cultura material de uma sociedade humana, por mais simples que seja, reflete
outros interesses e aspirações. Qualquer objeto de arte, ornamentos,
instrumentos de música, objetos de ritual e moedas, além de moradias,
vestimentas e meio se obtenção e produção de alimentos e de transporte de
pessoas e mercadorias. Cada objeto do inventário material de uma cultura
representa a concretização de uma ideia ou sequencia de ideias. Estas, junto
com as aptidões adquiridas e técnicas aprendidas para a fabricação e
emprego em atividades tipificadas, constituem um sistema tecnológico.

HUNTER, D. E., WHITTTEN, P. (1981) Enciclopedia de Antropología, Barcelona.


Barcelona Ediciones Ballaterra, 1981. p. 201

9. Todas estas alegações contêm muito de enganoso, ambíguo, sofismá-tico,


mesmo. Assim, por exemplo, ressaltar o caráter "parcial" dos fe-nômenos
materiais é estabelecer uma distinção, carecedora de fundamentos, entre os
componentes materiais e não materiais da cultura, dando a estes últimos uma
autonomia que eles não podem ter . Esta dicotomia desfigura o próprio
conceito de cultura, em que estão embutidas e indis-sociáveis a prática e a
representação: a intervenção do homem sobre o real e a representação desse
real e da ação humana, como integrantes do real, diferentes apenas nas
funções (11) . Ora, cindir radicalmente cultura material e cultura não material
é ignorar a ubiqüidade das coisas mate-riais, que penetram todos os poros da
ação humana e todas as suas cir-cunstâncias. Por outro lado, é preciso não
confundir a natureza física do suporte de informação com a natureza física
de um fenômeno. Ne-nhum historiador ou cientista social se depara, na
primeira esquina, com uma instituição política, um sistema sócio-cultural,
um modo de produção, uma formação histórica ... Também nos textos, como
na documentação material, se procede por inferência e abstração .
Finalmente, não se pode desconhecer que os artefatos — parcela relevante da
cultura material — se fornecem informação quanto à sua própria
materialidade (maté-ria prima e seu processamento, tecnologia, morfologia e
funções, etc ), fornecem também, em grau sempre considerável, informação
de natureza relacional. Isto é, além dos demais níveis, sua carga de
significação refere-se sempre, em última instância, às formas de organização
da so-ciedade que os produziu e consumiu.

MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cultura material no estudo das


sociedades antigas. Revista de História, São Paulo, USP, p. 103-117, 1983.
10. Muitos dos autores focam sobre pontos essenciais dos princípios e
metodologia que devem ser cuidadosamente considerados antes de qualquer
particular abordagem adotada para a cultura material. Uma das muitas
questões fundamentais colocadas no livro é se cultura material é ou não
equivalente a documentos que podem ser “lidos” e interpretados pelo
observador de fora. E se é, o qual a natureza das “mensagens” ou
significados transmitidas dessa forma?

(HODDER, Ian (1989) The meanings of things: material culture and symbolic expression,
contracapa)

Cultura material é um meio de estruturação e comunicação envolvido em


práticas sociais. Pode ser usado para transformar, armazenar ou preservar
informações sociais. Ela forma também um meio para a prática social, agindo de
forma dialética com relação a essa prática. Ela pode ser vista como um tipo de
texto, uma forma silenciosa de escrita e discurso; mais literalmente, um canal de
expressão reificada e objetificada. (...) Embora cultura material possa ser
produzida por indivíduos, ela é sempre uma produção social, já que não parece
ser frutífero seguir um ponto de vista sobre a subjetividade humana como
dotada de atributos e capacidades únicas, como fonte das relações sociais, fonte
de significado, conhecimento e ação. Como Foucault (1974) indicou, esta visão
humanista “liberal” é uma criação fortemente ligada ao século XVIII.
Observando cultura material como socialmente produzida, a ênfase é colocada
sobre a construtibilidade de significado humano como produto de sistemas
partilhados. O indivíduo não constrói muito no plano da cultura material ou da
linguagem, mas é freqüentemente construído através delas.

(Idem, p. 189)

Uma possível saída pode ser renunciar o imperialismo lingüístico e se


desenvolver uma teoria do significado da cultura material não baseada em
analogias lingüísticas. Nós podemos dizer com alto grau de certeza que o que a
cultura material comunica é totalmente diferente da linguagem. Por exemplo,
poderia ser requerido a um vasto número de objetos materiais que “digam”, de
alguma forma, mesmo a mais simples sentença. Se alguém faz um discurso e
você não entende o que ele quer dizer, há a possibilidade de que um diálogo
socrático possa trazer alguma luz. Tal diálogo não é possível com um jarro! Por
outro lado, uma tensão pode ser criada sobre o fato de que a cultura material
atua em canais multidimensionais como uma forma não-verbal de comunicação.
Sobre isso, esses significados poderiam ser mais complicados que aquele
transmitido no discurso. Nós poderíamos dizer que cultura material é uma
linguagem material com seu próprio significado associado à produção e ao
consumo. Permutas sem fim de tais argumentos podem ser produzidas, mas
nenhuma delas pode escapar do campo da linguagem. O pensamento sobre
cultura material inevitavelmente envolve sua transformação em conceitos
lingüísticos. Porém, por mais que tentemos escapar da linguagem, nós estamos
presos na sua casa. Então, embora ela possa parecer um objetivo louvável
escapar de um quadro lingüístico, isso é impossível. Não é possível haver de
maneira significativa constituída um sistema analógico não lingüístico.

(Idem, p. 191-2)

11. Na Arqueologia, há dois discursos a serem analisados: aquele da cultura


material e sua representação, em forma de texto, sobre a cultura material. A
discursividade da cultura material, objeto de atenção básica da Arqueologia,
tem merecido particular consideração. A cultura material pode ser concebida
como constituída por uma série de signos metacríticos, signos cujo sentido
mantém-se radicalmente disperso por uma cadeia aberta de significantes-
significados. O sentido do registro arqueológico, nesta perspectiva, não se
reduz aos seus elementos constitutivos mas o que se busca são as estruturas,
e os princípios que compõem essas estruturas, subjacentes à tangibilidade
visível da cultura material. A análise visa, assim, descobrir o que está oculto
nas presenças observáveis, levar em conta as ausências, as co-presenças e co-
ausências, as semelhanças e diferenças que constituem o padrão da cultura
material em um contexto espacial e temporal específico. Os princípios que
regem a forma, natureza e conteúdo deste padrão encontram-se tanto em
termos de micro-relações (como um conjunto de desenhos em um vaso
cerâmico) quanto de macro-relações (como o conjunto de relações entre
assentamentos e enterramentos), estando sempre inextricavelmente ligados.

Segundo estas abordagens, a cultura material não significa tanto uma relação
entre as pessoas e a natureza, como relações entre grupos, relações de poder,
portanto. A forma das relações sociais fornece uma rede na qual a força
sígnica da cultura material permite definir, redefinir, organizar e transformar
essa mesma rede (grid). As próprias relações sociais articulam-se em um
campo de significado parcialmente estruturado pelo pensamento e pela
linguagem, sendo capaz de reforçar os sentidos reificados e inscritos na
cultura material. A cultura material como constituída por cadeias de
significantes-significados não deve ser tratada de forma simplista, como se
representasse algo em particular, como, por exemplo, se o uso do vermelho
estivesse sempre a indicar o sangue ou se vasos de certa forma fossem
considerados de uso feminino, e outros de uso masculino. A força sígnica da
cultura material depende da estrutura das suas inter-relações e o sentido de
qualquer artefato específico está sempre interseccionado pelo sentido de
outros artefatos. Os artefatos, assim, formam elos em uma cadeia de objetos,
em um campo aberto de signos. De acordo com estas leituras da Lingüística
aplicadas à Arqueologia, seria falso considerar que a cultura material
expressa exatamente o que se exprime na língua, com uma simples mudança
de forma (da voz para a matéria). A importância da cultura material como
força sígnica consiste na sua diferença em relação à linguagem, ainda que
esteja envolvida na comunicação de sentidos. Os sentidos podem ser
comunicados por meio de ações, falas e artefatos, mas o meio altera a
natureza e a efetividade da mensagem (Shanks e Tilley, 1987: 102-117)

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Lingüística e arqueologia. Delta (online). 1999,


vol.15, n.1 Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44501999000100008&lng=en&nrm=iso >.

12. A expressão cultura material é polissêmica e pode dar margem a


ambigüidades. A polissemia deriva do fato de indicar tanto o objeto de
estudo como uma forma de conhecimento (implicando uma proposta de
método etc.). A ambigüidade atravessa os dois níveis de sentido ao deixar
implícita a oposição a uma pretensa cultura imaterial. No que diz respeito à
definição de cultura, veremos adiante que o binômio material/i material é
fonte de sérios problemas. Inicialmente, no entanto, apenas frisemos que a
formulação dos diversos conceitos de cultura material está sempre
intimamente ligada à visão que os autores têm da própria noção de cultura;
por assim dizer, corresponde-Ihe organicamente. Ao mesmo tempo, as
posições sobre as relações entre o universo material e a cultura definirão, de
algum modo, os limites das propostas de estudo e as formas de mobilização
dos elementos físicos na compreensão dos fenômenos históricos.

REDE, Marcelo. História a partir das coisas: tendências recentes nos estudos de
cultura material. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.4 p.265-82
jan./dez. 1996.

13. A grande contribuição do pós-processualismo é a premissa de que a cultura


material é ativa nas relações sociais. Longe de ser mero reflexo da sociedade, a
cultura material pode ser construir, manter, controlar e transformar
identidades e relações sociais. O pós-processualismo também propõe que o
significado construído através da cultura material não é fixo ou singular. Em
outras palavras, paisagens, artefatos, monumentos ou sequencias pós-
deposicionais tem significados específicos ao seu tempo e lugar.

(GILCHRIST, Roberta (1997) Gender and material culture: the archaeology of religious
women, p. 15)

14. [Quanto ao termo cultura material] o ecletismo de sua caracterização tem


freqüentemente produzido um cenário de vários sinônimos grosseiros:
“estudo dos artefatos”, “história física”, “estudos museológicos”, “história
dos potes e panelas”, “história material”, “arqueologia do que está sobre da
terra”, e “história dos equipamentos”. Cada vez mais, a rubrica cultura
material está sendo usada como um termo mais genérico para descrever a
pesquisa, a escrita, o ensino, e as publicações feitas por indivíduos que
interpretam a atividade humana no passado, principalmente através das
provas físicas existentes. Eu prefiro o termo estudos de cultura material sobre
uma etiqueta tal como estudo dos artefatos ou história física, por que, dada
sua origem na arqueologia e antropologia, o nome conota um forte interesse
entre seus praticantes no estudo do comportamento humano. (...) a maioria
dos pesquisadores tem “uma firme convicção de que os dados de cultura
material tem um potencial de contribuir fundamentalmente à compreensão
do comportamento humano. Pois “cultura material não é meramente uma
reflexão sobre o comportamento humano, cultura material é parte do
comportamento humano”.
O estudo de cultura material é, portanto, o estudo através dos artefatos (e
outras evidências históricas pertinentes) dos sistemas de crenças – os valores,
idéias, atitudes e suposições – de uma comunidade ou sociedade específica,
geralmente através do tempo. Como um estudo, ele é baseado na premissa
óbvia de que a existência do artefato (objeto feito pelo homem) é evidência
concreta da presença de uma mente humana operando no tempo de sua
fabricação. A comum hipótese subjacente à pesquisa de cultura material é
que os objetos feitos ou modificados pelos humanos, conscientemente ou
inconscientemente, diretamente ou indiretamente, refletem os padrões de
crença dos indivíduos que os fizeram, comissionados, comprados ou usados
e, por extensão, a os padrões de crença mais amplos da sociedade de que eles
fazem parte. Na empresa dos estudos de cultura material, sugere o
historiador da arte Jules Prown, “o termo cultura material assim refere-se
tanto ao temo de estudo, o material, quanto a sua proposta, a compreensão da
cultura”.

(SCHLERETH, Thomas J. (1999) Material Culture Studies in America: An


Anthology, p. 2-3)

15. Por causa da descoberta de artefatos nas últimas décadas por parte da
Antropologia e outras ciências sociais, freqüentemente chamados de “cultura
material”, a participação dos artefatos na comunicação e comportamento já
não é inteiramente despercebida. Mesmo assim, os estudos de cultura
material como um gênero têm, na perspectiva do presente trabalho, muitas e
sérias deficiências.
Em primeiro lugar, os estudos de cultura material são amplamente
marginalizados nas principais disciplinas das ciências sociais. Isso pode ser
facilmente mostrado por uma leitura cuidadosa da proeminente literatura em
psicologia, sociologia e antropologia.
[Algumas importantes publicações] (Annual Review of Anthropology, Annual
Review of Sociology, Annual Review of Psycology, American Anthropologist,
American Sociological Review, e America Psychologist) (…) que, acredita-se,
representam a nata, a principal pesquisa nas três disciplinas, foram
exaustivamente analisadas, procurando-se artigos tratando de cultura
material, artefatos ou tecnologia (nas publicações de antropologia, apenas
artigos em antropologia sociocultural e etnoarqueologia – o estudo
arqueológico das sociedades viventes – foram examinados). O resultado
demostra que os estudos de cultura material estão longe da linha principal.
Em sociologia e psicologia, menos de um por cento dos artigos concernentes
aos artefatos e tecnologia. Em antropologia, os estudos de cultura material
têm uma história de mais que um século de duração e estão aumentando por
causa da etnoarqueologia, a amostra é maior, com 7,7 por cento dos artigos
na Annual Review of Anthropology e 6 por cento naqueles da American
Anthropologist tratando de artefatos ou tecnologia. Eu sustento: todo domínio
do comportamento e comunicação humanos envolvem relações pessoas-
artefato, então, todos estudos em ciências sociais e comportamentais deveriam
prestar atenção diligentemente aos artefatos. Evidentemente, isto não está
acontecendo – mesmo na antropologia sociocultural.

(SCHIFFER, Michael B.; MILLER, Andrea R. (1999) The material life of human beings:
artifacts, behavior, and communication, p. 5)

16. Às vezes, cultura é dividida entre cultura material – os artefatos que os seres
humanos criam, tais como obras de arte, livros, edifícios e roupas – e não
materiais – as entidades mais abstratas tais como linguagem, crenças,
costumes e mitos. (...) Abordagens mais recentemente voltam-se com mais
atenção a refinar os aspectos não-materiais da cultura, especialmente aqueles
que implicam em padrões de consciência, símbolos e significados.

(GREIG, A. & LEWINS, F. W. (2003). Inequality in Austrália. Cambridge: Cambridge


University Press, p. 108)

17. Uma segunda polarização resulta de que os estudos do social sempre


encontraram diante de si um problema crucial. De modo didático, o dilemma
enolvido pode ser definido como uma alternative entre: 1)abordar o social
privilegiando o ângulo material e as ações que os homens efetivamente
realizam; 2)o faze-lo dando maior importância ao ângulo mental.
Obviamente, os dois enfoques mencionados são íntima e até mesmo
inextrincavelmente ligados, mas não há dúvida de que a alternativa
indicadaexiste e podem achar-se estudos (a maioria deles, na verdade) que
enfatizem seja um ângulo, seja o outro. No primeiro caso, sublinhe-se aquilo
que todo sujeito individual ou coletivo já acha diante de sin a sociedade em
que vem a existir (os objetos, a língua, a divisão do trabalho, etc.; em resumo,
aquilo que determina o enquadramento instuental de sua ação), bem como as
ações individuais ou coletivas, as práticas mediante as quais tal sujeito
participa do social. Caso a preferência recaia no ângulo mental, perceber-se-
ão centralmente a religião, as ideologias, as representações, o imaginário, a
interpretação dos símbolos; aquilo, portanto, que é pensado, mas também o
impensado social (sonhos, mitos, o inconsciente ou não-consicente coletivo).
Como se afirmou, ninguém nega o caráter inseparável do material e do
mental. Nenhuma ação individual ou coletiva poderia exercer-se sem estar
referida ao mesmo tempo a um projeto, ou a uma ideologia, ou a um mito,
etc., que tenha curso na sociedade de que se trate. E, simetricamente, uma
instituição qualquer (igreja, escola, justiça, por exemplo) se caracteriza tanto
pelos gestos e práticas materiais ritualizadas que exige quanto pelas
representações que supõe. A dialética do material e do mental tem, em seu
centro, a linguagem, já que esta contém tanto ação quanto representação, pelo
qual permite formular, melhor do que qualquer outro element da sociedade,
as relações entre ideia e ação na consciência social.

CARDOSO, Ciro Flamarion. Sociedade e cultura: comparação e confronto. Estudos


ibero-americanos, Porto Alegre, v. 29, n. 2, p. 23-49, 2003.

18. Uma consequência natural dessa preocupação com a documentação fez


surgir grandes iniciativas arqueológicas de coleta e publicação de artefatos,
edifícios e outros aspectos da cultura material, que deve ser entendida como
tudo que é feito ou utilizado pelo homem

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Fontes arqueológicas: os historiadores e a cultura


material. In: PINSKY, Carla (Org.) Fontes históricas. São Paulo: Editora Contexto,
2005. p.85

19. No seu uso popular pelos especialistas, o termo “cultura material” é


geralmente usado para se referir a objetos (por exemplo, sapatos, copos,
canetas) ou um complexo de objetos (por exemplo, uma casa, um carro, um
centro comercial) que as pessoas percebem, tocam, usam e manuseiam, a
realização em atividades sociais, uso ou contemplação. Cultura material é,
principalmente, algo portátil e perceptível pelo toque e, portanto tem uma
existência física e material que é um componente da prática cultural humana.
Além disso, de acordo com trabalhos contemporâneos em estudos de
consumo enfatizando aspectos mentais ou ideacionais de desejos de consumo
que são mobilizados através da mídia e publicidade, cultura material
também inclui coisas perceptíveis pela visão.

(WOODWARD, Ian (2007) Understanding material culture, p. 14)

20. Um termo usado para descrever os objetos produzidos por seres humanos,
incluindo edifícios, estruturas, monumentos, ferramentas, armas, utensílios,
móveis, arte e, de fato, qualquer item físico criado por uma sociedade. Como
tal, a cultura material é a principal fonte de informação sobre o passado, a
partir da qual os arqueólogos podem fazer inferências. Muitas vezes, é feita
uma distinção entre os aspectos da cultura que aparecem como objetos físicos
e os aspectos não materiais.

The concise Oxford dictionary of archaeology

Você também pode gostar