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Fisioterapia em Neuropediatria
2011
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2011
c Omnipax Editora Ltda
Caixa Postal: 16532 - 81520-980 Curitiba, PR
Capa:
Sérgio Alexandre Prokofiev
Vários autores
Inclui biografias
ISBN: 978-85-64619-01-2
eISBN: 978-85-64619-03-6
1. Introdução
O desenvolvimento motor recebe várias denominações: desenvolvimento
neuropsicomotor, desenvolvimento motor normal, desenvolvimento neuros-
sensoriomotor, ou como recomendam as nomenclaturas recentes, desenvol-
vimento tı́pico ou desenvolvimento motor tı́pico.
O desenvolvimento motor é o conjunto de caracterı́sticas em constante
evolução que permite que um bebê que possui atividade motora essencial-
mente reflexa ao nascimento, evolua para a motricidade voluntária e realize
movimentos complexos e coordenados, tais como a deambulação, a corrida,
os movimentos finos de mão, entre outros (Diament et al., 2010).
O conhecimento sobre desenvolvimento neuropsicomotor é fundamen-
tal para o fisioterapeuta. A partir do momento que se reconhece o de-
senvolvimento tı́pico ou normal se está apto para reconhecer situações de
desenvolvimento atı́pico. Estas situações incluem os atrasos e as condições
patológicas, que requerem intervenção, com o objetivo de prevenção (es-
timulação precoce) ou reabilitação (no caso de grandes atrasos) (Halpern
et al., 2000).
É necessário que se considere que o nome neuropsicomotor remete ao
fato do desenvolvimento possuir aspectos neurológicos, ou seja, as estrutu-
ras do sistema nervoso devem amadurecer para que haja desenvolvimento.
O desenvolvimento também possui aspectos psicológicos ligados as emo-
ções, ao afeto e as motivações que levam ao aprendizado do ato motor. E
ainda, o desenvolvimento possui o próprio aspecto motor, que diz respeito
às especificidades do movimento humano (Willrich et al., 2009).
Segundo Papalia et al. (2000) o desenvolvimento infantil é influenciado
por uma trı́ade, a trı́ade de Newell (Newell, 1991), que considera o papel
do indivı́duo, do ambiente e da tarefa. Assim, também cabe ao fisiotera-
peuta, identificar que condições podem ser modificadas nesta trı́ade para
aprimorar o desenvolvimento neuropsicomotor infantil.
Este capı́tulo motiva-se no fato de que mesmo com todo o avanço e
respaldo tecnológico para se obter dados objetivos e mensurações, ainda
existem questões subjetivas e qualitativas muito importantes à atuação do
Fisioterapeuta, uma delas é o desenvolvimento neuropsicomotor. O fisio-
terapeuta precisa reconhecer quando há desvios no desenvolvimento, prin-
cipalmente nas condições patológicas em que a atividade reflexa (predomi-
nantemente a tônica) permanece e impede a evolução motora voluntária.
Além disto, o desenvolvimento neuropsicomotor repercute em outras ques-
tões do desenvolvimento, pois é a base para o desenvolvimento cognitivo e
para o aprendizado escolar (Mansur & Neto, 2006).
O objetivo deste capı́tulo é descrever brevemente o desenvolvimento
motor tı́pico e relatar as alterações no desenvolvimento atı́pico, mais espe-
cificamente na Paralisia Cerebral (PC).
Desenvolvimento motor típico, atípico e correlações na PC 3
2. Fundamentação Teórica
O objetivo principal da Fisioterapia é promover e restaurar a funciona-
lidade. Segundo Gusman & Torre (2006) o fisioterapeuta, por meio de
seu diagnóstico, identifica os distúrbios cinéticos-funcionais prevalentes,
elabora a programação progressiva dos objetivos fisioterapêuticos, elege e
aplica recursos e técnicas mais adequadas e mantém o controle da evolução
clı́nica.
Salienta-se a importância da atuação do fisioterapeuta nos diferentes
nı́veis de complexidade de atenção à saúde. O profissional está presente
desde o nı́vel da baixa complexidade, onde atua na promoção da saúde, até
a média complexidade, como na reabilitação em clı́nicas, e a alta comple-
xidade, como nas unidades de terapia intensiva.
As tendências atuais em saúde são de se retirar o foco do conceito de
doença (prevenção) e visualizar um ser humano biopsicossocial (promoção
da saúde). Para Czeresnia & Freitas (2003) a principal diferença encon-
trada entre prevenção e promoção está no olhar sobre o conceito de saúde.
Na prevenção a saúde é vista simplesmente como a ausência de doenças.
Na promoção, a saúde é encarada como um conceito positivo e multidi-
mensional, que resulta em um modelo participativo de saúde na promoção
em oposição ao modelo médico de intervenção.
Segundo esta visão, a importância da avaliação ou do diagnóstico fi-
sioterapêutico, além de determinar o grau de comprometimento ou déficit
funcional do indivı́duo doente, também está em realizar o levantamento
dos fatores determinantes para a saúde do indivı́duo saudável ou vulnerá-
vel (por exemplo, nos recém-nascidos prematuros).
O diagnóstico fisioterapêutico é subsı́dio para que se trace uma conduta
de intervenção, cuja finalidade é habilitar o indivı́duo e capacitá-lo a man-
ter sua independência funcional. Uma avaliação correta é fundamental,
pois é ela que fornece o diagnóstico fisioterapêutico preciso que, por sua
vez, estabelece as diretrizes para a intervenção adequada e individualizada
(Levitt, 1995).
Quando se trabalha com crianças que apresentam alteração ou defasa-
gem do desenvolvimento motor, para que se realize um diagnóstico é neces-
sário conhecer o desenvolvimento tı́pico e assim, reconhecer o atı́pico. Para
tal, as etapas do desenvolvimento infantil servem como guia no processo
de diagnóstico, prevenção e promoção em saúde e reabilitação (Gusman &
Torre, 2006).
3. Metodologia
Este capı́tulo caracteriza-se por ser um estudo de discussão e revisão da
literatura. Para tal, realizou-se uma revisão a cerca do desenvolvimento
motor tı́pico, agrupando dados relevantes da evolução motora da criança
4 Forti-Bellani & Castilho-Weinert
4. Discussão
4.1 O desenvolvimento motor típico
O desenvolvimento motor, descrito por vários autores como Diament et al.
(2010), Levitt (1995), Bly (1994), Bobath (1971), Milani-Comparetti &
Gidoni (1967) e outros, serve como guia e parâmetro para que se avalie
a alteração e a disfunção que a criança com distúrbio neurológico pode
apresentar no funcionamento do seu Sistema Nervoso Central (SNC).
Segundo Gusman & Torre (2006), ao longo do desenvolvimento motor
infantil, a grande variabilidade de movimentos é normal e a diminuição
desta variabilidade leva a suspeitar de sinais patológicos.
As mudanças durante o primeiro ano de vida são as mais importantes
modificações, onde se processam os maiores saltos evolutivos em curtos
perı́odos de tempo (Bly, 1994). No primeiro ano, a criança passa de uma
posição horizontal para uma posição vertical, quando aprende a se mover
contra a gravidade (caminhar) (Levitt, 1995). Também é nesta faixa etária
motora que se encontram a maior parte das crianças que possuem atrasos
motores, devido à permanência de reflexos tônicos (Levitt, 1995).
As modificações nos marcos do desenvolvimento tı́pico geralmente são
percebidas e relatadas pela literatura mês a mês, de forma que as crianças
podem ser classificadas como pertencentes a uma determinada faixa etária
motora (Flehmig, 2005; Bly, 1994).
Segundo Castilho-Weinert & Lopes (2010), para determinar a faixa
etária motora se considera a presença dos seguintes critérios que compõem
o desenvolvimento tı́pico: reações, reflexos, planos de movimento, padrões
de movimento e habilidades motoras voluntárias (Figura 1).
Cada um destes critérios pode assumir diferentes caracterı́sticas, com
variações mês a mês. Estes critérios são analisados para que o fisioterapeuta
determine a faixa etária motora de seu paciente ou cliente, e verifique se
esta é condizente com sua idade cronológica, ou se há defasagem (Castilho-
Weinert & Lopes, 2010). A Figura 1 apresenta os principais marcos do
desenvolvimento tı́pico agrupados segundo estas categorias.
Um reflexo pode ser conceituado como uma mesma resposta motora a
um determinado estı́mulo sensorial. Os reflexos são movimentos simples,
Desenvolvimento motor típico, atípico e correlações na PC 5
4.1.1 O recém-nascido
O recém-nascido possui como caracterı́stica fisiológica a hipotonia de tronco
que facilita sua passagem pelo canal de parto materno e a hipertonia flexora
apendicular oriunda no crescimento e na permanência no útero da mãe
(Diament et al., 2010).
Em supino sua cabeça encontra-se lateralizada, e observa-se retração da
cintura escapular, com elevação, adução e rotação externa ou interna dos
ombros. Há flexão de cotovelos com pronação de antebraços, flexão de pu-
nhos e dedos, e adução de polegares. Os membros superiores movimentam-
se em bloco e as mãos podem se abrir, porém os polegares são menos mó-
veis e muitas vezes encontram-se aduzidos dentro das palmas das mãos.
Os membros inferiores são mais móveis e apresentam flexões e extensões
alternadas. A pélvis fica em retroversão com os membros inferiores fletidos
sobre o abdômen, quadris em abdução e rotação externa, flexão de joelhos,
dorsiflexão dos tornozelos e inversão dos pés. No puxado para sentar, a
cabeça cai para trás sem controle, os braços, a coluna lombar e o tronco
permanecem em flexão (Bly, 1994).
Em prono o peso do corpo se encontra mais transferido sobre a cabeça e
o tronco superior. Isto impede a ampla mobilidade dos membros superiores.
Há flexão dos membros inferiores com os quadris sem tocar o plano de
apoio. O bebê pode virar a cabeça para liberar as vias aéreas e levantá-la
por alguns segundos (Flehmig, 2005).
Embora o recém-nascido assuma este comportamento na maioria das
vezes, ele não é um ser estático, pois realiza movimentos amplos, variados,
8 Forti-Bellani & Castilho-Weinert
5. Considerações Finais
Sabe-se que o aprendizado motor ocorre pela experimentação, pela repe-
tição e pela prática das atividades funcionais. Isto ocorre com a criança
durante seu desenvolvimento tı́pico, conforme ela interage com o meio e
evoluem as suas capacidades de controle motor. Na criança com PC isto
não existe de maneira satisfatória, pois há repetição de atos motores em
padrões primitivos, falta seletividade de movimentos, ocorre poucas trans-
ferências de peso e rotações de tronco, e permanecem reflexos patológicos
associados à movimentação. Isto acarreta em um aprendizado motor ina-
dequado e consolida os desequilı́brios musculares, e o déficit funcional e de
interação social.
As teorias modernas sobre o controle motor reconhecem que não é ape-
nas o sistema nervoso que amadurece e dita os comportamentos motores.
Há uma dependência da interação entre os sistemas orgânicos (nervoso e
musculoesquelético) e os estı́mulos do ambiente onde a criança está inse-
rida. Ou seja, o controle motor é dependente de questões orgânicas neurais
e não neurais, do meio que o rodeia e de variáveis determinadas de acordo
com o código genético do indivı́duo. Esta teoria, chamada de Teoria dos
Desenvolvimento motor típico, atípico e correlações na PC 19
Referências
Bax, M.; Goldstein, M.; Rosenbaum, P.; Leviton, A.; Paneth, N.; Dan, B.;
Jacobsson, B. & Damiano, D., Proposed definition and classification of
20 Forti-Bellani & Castilho-Weinert
Notas Biográficas
Luciana Vieira Castilho-Weinert é Fisioterapeuta (PUC-PR, 2003), Espe-
cialista em Fisiologia Humana e da Nutrição (PUC-PR, 2006), Mestre e Doutor
em Ciências – Engenharia Biomédica (UTFPR, 2004 e 2010, respectivamente)
e tem formação pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath. Atualmente é Professor
Adjunto da UFPR – Setor Litoral, no Curso de Fisioterapia.
1. Introdução
O desenvolvimento motor é um fenômeno que permeia a vida de todas
as pessoas, possibilitando as habilidades motoras e a realização de ativi-
dades diárias em padrões de movimento que são adquiridos ao longo da
vida. Estes padrões de movimento são caracterizados por duas mudanças
fundamentais: o aumento de diversificação e o aumento de complexidade
(Mascarenhas, 2008).
Na infância o desenvolvimento motor caracteriza-se pela aquisição de
um amplo espectro de habilidades motoras que possibilitam à criança um
domı́nio do seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas). Por-
tanto, considera mudanças qualitativas e quantitativas das ações motoras
do ser humano ao longo de sua vida (Connolly, 2000; Santos et al., 2004).
Piper & Darrah (1994) afirmam que o desenvolvimento motor pode ser
considerado como um dos melhores indicativos do desenvolvimento e bem
estar da criança no seu primeiro ano de vida. Assim, dar atenção ao de-
senvolvimento e aos fatores que o influenciam é de extrema importância.
Aqueles autores afirmam, ainda, que a avaliação motora do desenvolvi-
mento infantil difere dos paradigmas de outras avaliações motoras, porque
sua estrutura conceitual tem mais ênfase no processo que no resultado.
Portanto, os terapeutas devem usar abordagens modificadas para avaliar o
desenvolvimento motor na infância.
Assim, o conhecimento das escalas que atendam às diversas demandas
referentes à população avaliada e estudada torna-se necessário, não só em
ambiente de pesquisa, mas como ferramenta clı́nica importante.
Existem várias escalas que avaliam o desenvolvimento infantil tı́pico ou
com alterações. Neste capı́tulo, aborda-se as escalas AIMS, PEDI, GMFM
e GMFCS, amplamente citadas em pesquisas, e bastante utilizadas na prá-
tica clı́nica. O objetivo deste capı́tulo é elucidar quais as principais ca-
racterı́sticas e aplicabilidade destas escalas e estimular sua utilização pelos
profissionais de reabilitação, ressaltando a importância de se utilizar men-
surações para que a área da Fisioterapia Neuropediátrica tenha respaldo
em estudos cientı́ficos.
2. Fundamentação Teórica
Inicialmente o bebê é bastante reflexivo (Cole & Cole, 2004) e com o de-
senvolvimento, o crescimento e os estı́mulos do meio passa a ser cada vez
mais ativo, com movimentação voluntária. Esta movimentação se aperfei-
çoa até que com um ano a criança apresente marcos importantes como a
deambulação independente e a fala.
Vieira et al. (2009) relatam que devido aos avanços tecnológicos há uma
diminuição de mortalidade de bebês de alto risco, e em decorrência disto
um aumento de incidência de patologias infantis relacionadas ao sofrimento
Escalas de avaliação do desenvolvimento e habilidades motoras 25
pré, peri e pós-natal. Isto causa grande impacto para a saúde e demanda
maior atenção a novas formas de abordagem no que se refere à avalia-
ção e acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor. Este fato
corrobora a necessidade da atuação preventiva com detecção precoce das
anormalidades, por meio de avaliações especı́ficas, visando um tratamento
adequado.
Quando algum fator acarreta lesão no Sistema Nervoso Central (SNC)
pode-se esperar a ocorrência de sequelas que afetam o desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM) normal, ou numa nomenclatura mais atualizada,
o desenvolvimento tı́pico.
Ao considerar este aumento de incidência de patologias infantis, no
Brasil, existem programas de acompanhamento (originado do inglês, pro-
gramas de follow-up) do crescimento e desenvolvimento do bebê de risco.
Estes programas surgiram na década de 80 por meio da iniciativa de pe-
diatras e neonatologistas e propõem estratégias de avaliação e intervenção
precoce (Vieira et al., 2009).
Os profissionais de reabilitação devem possuir um conhecimento apro-
fundado sobre o processo das aquisições tı́picas do desenvolvimento global
da criança, o qual é composto por diversas categorias: tônus muscular, pos-
tura, reflexos primitivos, reações posturais, coordenações sensório-motoras
e movimentos espontâneos. Além disto, o profissional deve estar familiari-
zado com os diversos instrumentos de avaliação existentes, para selecionar
o mais adequado para o seu serviço de prevenção, ou reabilitação ou pes-
quisa. Devido à escassez de instrumentos padronizados para a avaliação
de crianças no Brasil, há a necessidade de utilização de testes e escalas
internacionais que, na maioria dos casos, possuem manuais publicados em
lı́ngua inglesa (Vieira et al., 2009), sendo que alguns foram traduzidos e/ou
têm adaptação cultural, como é o caso da PEDI (Pediatric Evaluation of
Disability Inventory).
Dentre as patologias infantis que ocasionam alterações no desenvolvi-
mento, Stanley et al. (2000) relatam que a Paralisia Cerebral (PC), tam-
bém denominada de Encefalopatia Crônica Não-Progressiva da Infância
(ECNPI) é a mais comum. Isto motiva estudos para o desenvolvimento de
escalas que atendam às capacidades diferenciadas destas crianças.
Mascarenhas (2008) investigou dentre as diversas escalas que avaliam
o desenvolvimento e as habilidades motoras, quais seriam especı́ficas para
PC. As escalas PEDI e AIMS (Alberta Infant Motor Scale) avaliam o dé-
ficit motor de um modo geral, verificam a função motora independente da
doença, e, não são especı́ficas para PC. Já as escalas GMFM (Gross Motor
Function Measure) e GMFCS (Gross Motor Function Classification Sys-
tem) são escalas que podem ser utilizadas na avaliação do déficit motor
causado pela PC, de forma especı́fica. Estas duas escalas proporcionam
maior coleta de dados, pois permitem o enfoque direto na deficiência mo-
tora e a avaliação quantitativa do movimento e de sua evolução.
26 Mélo
3. Metodologia
O material utilizado foi obtido por meio do acesso as bases de dados PUB-
MED e SciELO, pelos unitermos AIMS, PEDI, GMFM, GMFCS, deve-
lopmental e cerebral palsy. Foram selecionados artigos e livros publicados
entre os anos de 2000 e 2011.
4. Resultados e Discussão
Neste estudo descreve-se e discute-se uma revisão sucinta sobre as escalas
AIMS, PEDI, GMFM e GMFCS. Relata-se sua aplicabilidade, seus bene-
fı́cios e alguns estudos que as utilizaram.
independente
reabilitação
supervisão
moderada
extensiva
nenhuma
máxima
mı́nima
criança
total
Circule o escore apropriado para avaliar cada
item
Área de Auto-Cuidado 5 4 3 2 1 0 N C R E
A. Alimentação: Come e bebe nas refeições re- 5 4 3 2 1 0 N C R E
gulares; não inclui cortar carne, abrir recipientes
ou servir comida das travessas
B. Higiene Pessoal: escova dentes, escova ou 5 4 3 2 1 0 N C R E
penteia o cabelo e limpa o nariz
C. Banho: lava e seca rosto e mãos, toma ba- 5 4 3 2 1 0 N C R E
nho; não inclui: entrar e sair do chuveiro ou ba-
nheira, preparar a água e lavas costas e cabelos
D. Vestir – parte superior do corpo: rou- 5 4 3 2 1 0 N C R E
pas de uso diário, inclui ajudar a colocar e retirar
splint ou prótese; não inclui: tirar roupas do ar-
mário ou gavetas, lidar com fechos nas costas
E. Vestir – parte inferior do corpo: roupas 5 4 3 2 1 0 N C R E
de uso diário, incluindo colocar e tirar órtese ou
prótese; não inclui tirar as roupas do armário ou
gavetas
a criança com ela mesma ao longo do tempo e definir quais itens de cada
área ela já deveria realizar. Isto é possı́vel através de mapas de atividades
(também disponibilizados no manual), traçando-se uma linha vertical na
pontuação obtida pela criança. Os itens à esquerda da linha significam os
que ela deveria estar fazendo independente da sua idade cronológica. As
Tabelas 4 e 5 ilustram estes escores.
Desde sua publicação em 1992, muitas mudanças foram incorporadas
à prática de aplicação, inclusive itens de avaliações que considerem novas
tecnologias (Haley et al., 2010). A PEDI é utilizada em pesquisas com o
objetivo de avaliar, identificar e acompanhar a evolução do tratamento.
Silva & Daltrário (2008) utilizaram a PEDI para verificar o desempenho
da marcha no treinamento funcional em esteira de uma criança com PC e
verificaram que houveram ganhos para esta habilidade funcional. Mancini
et al. (2004) utilizaram a PEDI para verificar a influência entre risco bio-
lógico e desempenho funcional infantil. Marinho et al. (2008) compararam
crianças com hemiparesia e diparesia em relação ao desempenho funcional,
evidenciando dificuldades maiores das crianças com diparesia nos itens re-
lacionados à locomoção, mas sem diferenças nas atividades relacionadas ao
Escalas de avaliação do desenvolvimento e habilidades motoras 33
motora de crianças com PC. Esta escala foi desenvolvida em duas versões,
com 88 itens e a mais atual com 66. Ambas avaliam atividades motoras
desde rolar e sentar, até andar e correr. A escala original (GMFM-88) é
composta por 88 itens, avaliados através da observação, e que se agrupam
em cinco dimensões: rolando (17 itens), sentando (20 itens), rastejando e
ajoelhando (14 itens), estando de pé (13 itens), e caminhando, correndo e
saltando (24 itens).
Os itens são agrupados no formulário de classificação pela sequência de
desenvolvimento (Cury et al., 2006). As pontuações são feitas por porcen-
tagens para cada uma das cinco dimensões do GMFM. Quanto mais altas
forem, melhor será a capacidade funcional da criança.
Drouin et al. (2006) relatam alto ı́ndice de coeficiente intraclasse na
utilização da GMFM, ou seja, alto ı́ndice de confiança quando comparada
à análise por vı́deo.
Na GMFM-88 havia limitações como o escore percentual limitado para
demonstrar crianças com perfis clı́nicos diferentes. A análise total não
permitia identificar qual item era o que se encontrava atrasado, e o tempo
prolongado para avaliação e o uso da escala ordinal não permitia que a
distância entre os escores fosse igual, sub ou superestimando as mudanças
(Russell et al., 2002). Assim, em setembro de 2000 foi desenvolvido um
novo sistema utilizando 66 itens principais, validado somente para crianças
com PC, o GMFM-66.
Russell et al. (2000) realizaram um estudo com 537 crianças com PC
para verificar a validade e a confiabilidade do GMFM-66. Os autores ob-
tiveram como resultados que a confiabilidade teste re-teste foi de 0,99 e
concluı́ram, portanto, que o instrumento apresenta boas propriedades psi-
cométricas.
A GMFM-66 permite o cálculo do escore total mesmo quando todos os
itens não foram administrados e analisa as mesmas dimensões do GMFM-
88: deitar e rolar (4 itens), sentar (15 itens), engatinhar e ajoelhar (10
itens), de pé (13 itens), e, andar, correr e pulas (24 itens).
Os itens são marcados em quatro pontos ordinais: 0 (não pode iniciar),
1 (inicia, mas completa menos que 10%), 2 (parcialmente completa - 11 a
99%), 3 (completa independentemente).
Na Tabela 6 apresenta-se um trecho da escala traduzida com a dimen-
são atividade funcional deitar e rolar, composta por 17 itens. Cada item
é observado e pontuado e, então, os valores são somados para se obter o
valor total da dimensão avaliada. Cabe ressaltar que a pontuação men-
cionada serve apenas para fornecer uma diretriz geral sobre a escala. É
indispensável seguir as instruções de pontuação especı́ficas de cada item.
Além do menor tempo de administração, da menor dificuldade, da
maior confiabilidade, da validade e da responsividade, a GMFM-66 per-
mite uma estimativa dos escores da criança utilizando uma amostra de
Escalas de avaliação do desenvolvimento e habilidades motoras 35
5. Conclusão
Este capı́tulo fornece aos profissionais de reabilitação um contato com as es-
calas de avaliação em fisioterapia neuropediátrica. Incentiva-se o interesse
na utilização de ferramentas clı́nicas que propiciem melhor manejo dos pa-
cientes e evidências cientı́ficas para busca e aperfeiçoamento das metas de
reabilitação.
A AIMS permite identificar atrasos no desenvolvimento até os 18 me-
ses de idade. Porém, sua utilização com populações em condições especiais
ainda precisa de maiores estudos e evidências. O PEDI caracteriza o desem-
penho funcional de crianças com idade cronológica entre 6 meses e 7 anos e
6 meses e pode ser utilizado também em casos em que, apesar da idade cro-
nológica ser superior ao limite indicado, o indivı́duo apresente desempenho
funcional condizente com esta faixa etária. A GMFM e a GMFCS per-
mitem quantificar em nı́veis funcionais as habilidades das crianças, porém
sem considerar a qualidade de movimento.
Assim, é importante ressaltar que as escalas são ferramentas que auxi-
liam o profissional a caracterizar as capacidades de cada criança, mas que
não dispensam o julgamento e o conhecimento clı́nico do profissional de
reabilitação.
Para a utilização de cada escala é necessário conhecimento prévio, aqui-
sição de manuais e realização de treinamentos. Além disto, a utilização das
escalas por si só não garante uma descrição completa de todo o repertório
motor da criança.
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Notas Biográficas
1. Introdução
O Conceito Neuroevolutivo Bobath é uma abordagem para a solução de
problemas, para a avaliação e para o tratamento de indivı́duos com distúr-
bios da função, do movimento e do controle postural, devido a lesões do
sistema nervoso central (Raine, 2006; IBITA, 2008).
Há inúmeras abordagens para o tratamento de pacientes com déficits
neurológicos, porém o Bobath é uma das mais comumente utilizadas (Da-
vidson & Walters, 2000; Lennon, 2003; Gusman & Torre, 2010). As téc-
nicas utilizadas pelo Conceito fornecem ao fisioterapeuta o embasamento
teórico e o protocolo de intervenção clı́nica necessários à intervenção em
fisioterapia neuropediátrica (Raine et al., 2009).
O Conceito teve sua origem através do casal Bobath, Berta Bobath (fi-
sioterapeuta) e Karel Bobath (neurologista e psiquiatra). Em 1942, Berta
Bobath recebeu como paciente um famoso pintor, hemiplégico adulto, com
uma espasticidade importante. Durante seu tratamento ela observou que a
espasticidade poderia ser modificada por meio de posturas e movimentos,
e assim começou a elaborar o que hoje se conhece como Conceito (Schlei-
chkorn, 1992). Nos anos 50 o casal fundou o Centro Bobath em Londres,
na Inglaterra. Por meio deste Centro e de seus profissionais (seguidores do
Conceito) esta abordagem continua em constante evolução, mesmo após a
morte dos Bobath.
Esta forma de intervenção passou a chamar-se Conceito e deixou de
ser um Método porque é uma abordagem que está em constante evolução.
Denomina-se Neuroevolutivo porque obedece a sequência do desenvolvi-
mento motor normal (ou desenvolvimento tı́pico, conforme nomenclatura
atual). Esta sequência é respeitada tanto no planejamento de objetivos
e aquisições do paciente em longo prazo, quanto durante o próprio aten-
dimento que evolui a partir de posturas mais simples até posturas que
demandem maior controle motor. O nome Bobath teve origem em seus
desenvolvedores.
Ao longo dos anos o desenvolvimento do Conceito avançou com mo-
dificações relacionadas à nomenclatura das técnicas e também à forma de
intervenção junto aos pacientes. Isto reitera a constante evolução da abor-
dagem.
Inicialmente o Conceito utilizava posturas estáticas para a inibição de
alterações do tônus e de padrões anormais de movimento. Como somente a
inibição do padrão reflexo não era suficiente para facilitar os movimentos,
o casal Bobath estudou aprofundadamente a sequência do desenvolvimento
motor tı́pico, e a intervenção passou a inibir os padrões reflexos e posici-
onar a criança em posturas neuroevolutivas. Porém, mesmo com o tônus
organizado e o treinamento das posturas neuroevolutivas, a realização das
transferências de uma postura a outra ainda não era possı́vel. Neste mo-
mento o casal identificou que a base para o movimento frente à gravidade
Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 45
2. Fundamentação Teórica
O objetivo da intervenção pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath é realizar
manuseios que utilizem técnicas de inibição, facilitação e estimulação de
padrões de movimento normais, para possibilitar a aquisição da funciona-
lidade dos pacientes (Gusman & Torre, 2010). Para isto, inibe padrões
de tônus postural anormal e facilita o surgimento de padrões motores nor-
mais, o que viabiliza a ocorrência de movimentos ativos e mais próximos
do normal.
Para Gusman & Torre (2010) as técnicas de tratamento dividem-se
em técnicas de facilitação, inibição e estimulação. Ressalta-se que as duas
primeiras são executadas por meio de pontos-chave de controle. Porém, as
mesmas autoras salientam que, mais importante que conhecer as técnicas,
é saber utilizá-las no momento apropriado e modificá-las de acordo com as
caracterı́sticas de cada paciente.
Na década de 1990, Berta Bobath percebeu a importância do trata-
mento não se limitar a um conjunto estruturado de exercı́cios. Assim, na
intervenção deve haver uma variedade de técnicas adaptadas para atender
a evolução das necessidades individuais. Cada terapeuta deve atuar de
forma diferenciada e de acordo com suas experiências e personalidade. Po-
rém, todo o tratamento deve ser embasado na teoria e prática do Conceito.
Segundo o Bobath, a referência para que se saiba se a intervenção é
eficiente, é a ocorrência de movimentos funcionais, com adequado alinha-
mento biomecânico, coordenação motora e controle motor.
Antes de se realizar qualquer facilitação é necessário organizar o tônus
do paciente, seja por meio de uma inibição ou de uma estimulação, de
acordo com o seu tônus, conforme se apresenta na Figura 1.
Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 47
mais distais são o cotovelo (Figura 4), o punho (Figura 6), o joelho e o
tornozelo.
Segundo o Centro Bobath (1997) os PIT são aplicados com o uso das mãos
do fisioterapeuta ou pela alteração na direção das atividades funcionais.
Por exemplo, alcançando para o lado em um padrão de abdução, extensão
e rotação externa, ao invés de alcançar para frente aumentando o tônus
flexor e a rotação interna que favorecem a espasticidade e dificultam os
movimentos livres das mãos.
A união das mãos na linha média ou a cabeça centralizada podem
funcionar como fatores de inibição. A inibição é considerada uma parte
importante do tratamento. A melhor inibição deve ser aquela através de
uma atividade que o próprio paciente execute de maneira mais normal
possı́vel, por si mesmo, e que possibilite iniciar algum movimento funcional
ativamente.
Nas técnicas de facilitação do movimento ativo deve-se saber previ-
amente que tipo de resposta motora se espera do paciente, qual seria a
resposta em uma criança com desenvolvimento tı́pico, bem como experi-
mentar e vivenciar o movimento antes de solicitá-lo. Isto é necessário para
que o fisioterapeuta tenha consciência exata de todos os movimentos que
compõem a atividade solicitada. Também é preciso saber qual o estı́mulo
adequado, qual o local a ser estimulado, e a que velocidade, para que se
obtenha uma resposta adequada (Centro Bobath, 1997).
Na cabeça, manuseios de extensão facilitam a extensão do restante
do corpo, porém deve-se evitá-los se houver presença de atividade reflexa
tônica simétrica ou labirı́ntica. Neste caso um manuseio de extensão de
cabeça causará a extensão exagerada em todo o corpo. Já os manuseios de
flexão da cabeça irão inibir a espasticidade ou os espasmos extensores, po-
rém deve-se analisar se esta postura não aumenta a espasticidade extensora
em membros inferiores pela presença da atividade reflexa tônica simétrica.
Na cintura escapular e nos membros superiores a rotação interna inibe
o espasmo extensor e é boa para atetóides, já a rotação externa inibe a
flexão e é boa para os espásticos. Pode-se associar a abdução horizontal
para inibir a atividade flexora, e, ainda a supinação para facilitar a abdução
do polegar.
Na cintura pélvica e nos membros inferiores a flexão da perna ou a dor-
siflexão dos artelhos, facilitam a abdução, a rotação externa e a dorsifexão.
A rotação externa também auxilia na abdução e na dorsiflexão.
Em prono facilita-se a extensão da coluna e do quadril. No sentado,
em plano inclinado (mais baixo anteriormente) facilita-se a extensão da
coluna. A adução dos membros superiores facilita o controle de cabeça.
O ajoelhado e o em pé são facilitados com a rotação externa e a extensão
de membros superiores em diagonal para trás.
As Figuras 7 a 9, adaptadas de Finnie (2000), apresentam alguns ma-
nuseios de inibição de padrões patológicos e facilitação para que ocorram
movimentos ativos.
52 Castilho-Weinert & Forti-Bellani
3. Metodologia
Nesta seção se descreve as caracterı́sticas e objetivos em cada perfil de paci-
ente e na sequência a metodologia de aplicação do Conceito Neuroevolutivo
Bobath em alguns destes perfis.
Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 57
Para Gusman & Torre (2010) na maioria dos casos deve-se utilizar as
técnicas básicas do Conceito, como transferência de peso, mudanças de
postura, tapping, placing e holding.
Como o Conceito é Neuroevolutivo segue-se a sequência do desenvol-
vimento tı́pico tanto durante os atendimentos como nas metas a serem
atingidas em curto e médio prazo. Assim, começa-se em posturas mais
simples e evolui-se para posturas mais complexas e que demandam maior
controle motor. Durante o atendimento a sequência de manuseios obedece
ao sentido céfalo-caudal e inicia-se sempre com os manuseios mais proxi-
mais ou axiais.
Os manuseios devem ser realizados por pontos-chave de controle e em
PIT. Os alongamentos são executados de forma ativa e em contextos fun-
cionais, durante atividades especı́ficas. O uso de recursos como bola, rolo,
mobiliários, andadores e brinquedos deve ser criteriosamente avaliado e
indicado somente se adequado ao perfil do paciente.
Além da capacidade motora, o programa de tratamento também precisa
ser adequado à idade e aos interesses da criança.
4. Discussão
Nesta seção apresenta-se os resultados de alguns estudos que utilizaram o
Conceito Neuroevolutivo Bobath em intervenção com pacientes.
No que diz respeito a terapia com perfis funcionais especı́ficos de pa-
cientes a literatura disponı́vel recente traz vários estudos com enfoque na
hemiparesia. Pomeroy & Tallis (2002) investigaram a reabilitação funcional
Abordagem fisioterapêutica pelo conceito neuroevolutivo Bobath 65
5. Conclusões
Este capı́tulo teve como objetivo principal desenvolver um material de
apoio para o estudo, a aplicação e a divulgação do Conceito Neuroevo-
lutivo Bobath em fisioterapia neuropediátrica, em lı́ngua portuguesa. No
66 Castilho-Weinert & Forti-Bellani
Agradecimentos
Agradecemos ao bebê Bento Straub Perlin e a seus pais Michele e Hugo que
tão pacienciosamente contribuı́ram com as fotos para ilustrar este capı́tulo.
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68 Castilho-Weinert & Forti-Bellani
Notas Biográficas
Luciana Vieira Castilho-Weinert é Fisioterapeuta (PUC-PR, 2003), Espe-
cialista em Fisiologia Humana e da Nutrição (PUC-PR, 2006), Mestre e Doutor
em Ciências – Engenharia Biomédica (UTFPR, 2004 e 2010, respectivamente)
e tem formação pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath. Atualmente é Professor
Adjunto da UFPR – Setor Litoral, no Curso de Fisioterapia.
1. Introdução
Quem não se encanta ao olhar para um bebê e ver seu interesse quando
busca um objeto que lhe é mostrado ? Desde muito cedo no desenvolvi-
mento os lactentes se vislumbram por objetos que estão ao seu redor e
tentam alcançá-lo.
Os movimentos iniciais dos membros superiores proporcionam as expe-
riências sensório-motoras pelas quais as crianças aprendem primeiramente
o controle neuromotor necessário para que o contato com os objetos visu-
alizados possa ser realizado (Thelen et al., 1993). Os lactentes aprendem
sobre as relações entre o movimento e a propriocepção, explorando suas
próprias ações, pela movimentação dos membros superiores (Piaget, 1953).
O alcance manual ocorre consequentemente a movimentação espontâ-
nea dos membros superiores. Os lactentes aprendem a controlar e a mo-
dular seu padrão de movimento por meio do alcance (Corbetta, 1998). O
alcance possibilita as primeiras explorações e manipulações no ambiente,
contribuindo amplamente para o desenvolvimento motor (Corbetta & Bo-
jezyk, 2002), social (Fogel et al., 1992), perceptual (Corbetta et al., 2000)
e cognitivo (Thelen et al., 2001).
Identificar precocemente quaisquer desvios na aquisição ou no apri-
moramento do alcance manual em lactentes é extremamente importante.
Tais desvios podem estar relacionados com disfunções futuras do desen-
volvimento infantil. Desta forma, o presente capı́tulo tem como objetivos
demonstrar como ocorre o alcance manual em lactentes tı́picos, quais são
as variáveis utilizadas para a avaliação desta habilidade, os fatores que
influenciam o seu desenvolvimento e suas implicações terapêuticas.
2. Fundamentação Teórica
O alcance manual é definido como o movimento do membro superior em
direção a um objeto (Thelen et al., 1996) e está entre uma das demons-
trações mais precoces de integração entre os diferentes sistemas motores e
perceptuais. Esta é uma importante habilidade motora, pois sua emergên-
cia é uma das primeiras fases do desenvolvimento motor voluntário durante
a infância (Fallang et al., 2003).
Quando se observa um lactente alcançando e apreendendo um objeto
não se imagina como este movimento é complexo e quantas variáveis estão
envolvidas para que isto aconteça.
Para que os objetos sejam alcançados e apreendidos com precisão vários
tipos de ajustes no movimento dos membros superiores devem ocorrer.
Dentre estes ajustes destacam-se aqueles relacionados a análise cinemática
do movimento (variáveis contı́nuas) e aos ajustes proximais e distais do
alcance (variáveis categóricas).
Alcance manual em lactentes típicos 71
(a)
(b)
Figura 1. Trajetórias aos 4 (a) e aos 6 (b) meses de vida. Adaptado de
Rocha et al. (2006).
(a) (b)
Figura 3. (a) Alcance unimanual, (b) alcance bimanual.
3. Métodos
Os dados apresentados no presente capı́tulo foram compilados das bases
de dados eletrônicas MEDLINE, SciELO e LILACS, assim como de teses e
dissertações disponı́veis nas Bibliotecas Virtuais das universidades federais
brasileiras. Buscou-se principalmente por publicações realizadas a partir
do ano de 1995.
4. Resultados e Discussão
Os resultados deste estudo se embasam na discussão sobre o desenvolvi-
mento do alcance e os fatores que o influenciam.
(a) (b)
(c)
Figura 4. Mão verticalizada (a), horizontalizada (b) e oblı́qua (c).
76 Toledo & Tudella
(a) (b)
(c)
Figura 5. Mão aberta (a), semi-aberta (b) e fechada (c).
Alcance manual em lactentes típicos 77
(a) (b)
Figura 6. Alcance com a mão direita (a) e esquerda (b).
4.2.1.1 Idade
A influência da idade refere-se a como ocorre a mudança nas caracterı́sticas
do alcance ao longo do tempo.
Na fase inicial, entre três e quatro meses, os movimentos de alcance
são tortuosos e não direcionados ao alvo, possuem uma trajetória sinuosa
e são compostos por diversas frações de aceleração e desaceleração do mo-
vimento (von Hofsten, 1991). Além disto, o perfil da velocidade não está
bem definido. Há variabilidade dos ajustes realizados durante a trajetória
do movimento, até que um padrão de resposta predomine, com base na
aprendizagem e nas repetições do movimento (Fagard & Lockman, 2005).
Após a realização consistente dos primeiros alcances, os lactentes mo-
dificam a maneira de realizar este movimento. Isto envolve mudanças com-
plexas em vários aspectos do movimento e da postura. Ao longo dos meses,
os movimentos de alcance tornam-se mais regulares e suaves, com trajetória
mais retilı́nea (von Hofsten, 1991; van der Heide et al., 2003). A orienta-
ção da mão para a realização da apreensão passa a ser predominantemente
vertical (Fagard, 2000) e a frequência de apreensão dos objetos aumenta
(Toledo et al., 2011).
Aos seis meses de idade, os lactentes parecem ajustar o movimento de
alcance de acordo com a percepção espacial e as caracterı́sticas fı́sicas do
objeto, tais como: o tamanho, a maleabilidade (von Hofsten & Rönnqvist,
1988; Rocha et al., 2006), a orientação espacial (Lockman et al., 1984) e a
distância (Mackenzie et al., 1993). Nesta idade, o movimento de alcance dos
lactentes ocorre por diferentes atrações, de acordo com as caracterı́sticas
do objeto. Isto demonstra o planejamento e a preparação para realização
do alcance precoce.
Apesar da notável diferença entre o alcance que ocorre por volta dos
três a quatro meses e aquele que ocorre aos seis meses, no perı́odo entre
cinco e sete meses parece não haver tantas alterações nas caracterı́sticas
Alcance manual em lactentes típicos 79
4.2.1.2 Prematuridade
A prematuridade ganhou destaque entre as populações de risco estudadas
na área da pediatria, devido ao aumento da sobrevida destes lactentes e ao
risco de apresentarem atrasos no desenvolvimento motor. No entanto, há
poucos estudos na literatura relacionados ao desenvolvimento do alcance
no lactente pré-termo.
Alguns estudos relacionam a verificação dos ajustes posturais durante o
alcance em lactentes prematuros (Fallang et al., 2003; van der Heide et al.,
2004). Este interesse ocorre porque um bom controle postural é um pré-
requisito para a coordenação adequada das mãos, que pode, por exemplo,
ser necessária para uma boa habilidade no ato de escrever (Von Hofsten,
1993). No estudo realizado por van der Fits et al. (1999b) verificou-se
que lactentes pré-termo nas idades de três a dezoito meses apresentaram
disfunção na capacidade de modular a atividade postural.
As diferenças relacionadas ao movimento de alcance e ao ato de agarrar
entre lactentes a termo e pré-termo foram demonstradas por Gorga et al.
(1988). Neste estudo, os autores verificaram que a qualidade nos com-
portamentos de alcançar e agarrar eram menos satisfatórias nos lactentes
80 Toledo & Tudella
2004) e o alcance (Rocha et al., 2009; van der Fits & Hadders-Algra, 1998;
Out et al., 1997).
Apesar do crescente interesse nos efeitos do peso nas diferentes habili-
dades motoras de lactentes saudáveis, ainda não há um consenso sobre o
seu real efeito. Chen et al. (2002) relatam que o peso altera a frequência de
chutes. Out et al. (1997) referem que o peso aumenta a velocidade média e
diminui o número de unidades de movimento do alcance, levando a um mo-
vimento mais fluente e proporcionando um acoplamento entre os membros
superiores em alcances bimanuais (Rocha et al., 2009) em lactentes a termo
saudáveis. Os estudos atribuem tais resultados, em parte, ao aumento da
propriocepção e a ativação neural causados pelo peso. Por outro lado, há
evidências de que os movimentos fidgety (Dibiasi & Einspieler, 2004), a
amplitude da angulação de joelho e do quadril, a velocidade de pico du-
rante os movimento de chutes (Vaal et al., 2002) e a velocidade média do
membro superior durante o alcance (van der Fits & Hadders-Algra, 1998)
não são alteradas pelo peso adicional. Tais controvérsias acontecem, pro-
vavelmente, pelos diferentes objetivos, metodologias, quantidades de peso
e variáveis empregados em cada estudo.
5. Considerações Finais
Os resultados dos estudos discutidos neste capı́tulo podem auxiliar os te-
rapeutas no momento da avaliação e da intervenção com lactentes de risco.
É importante conhecer as fases do alcance em lactentes de risco no intuito
de detectar precocemente possı́veis alterações nesta habilidade. Além do
conhecimento das etapas do desenvolvimento do alcance, é importante ava-
liar a qualidade do movimento, analisando as caracterı́sticas de seus ajustes
proximais e distais, a preensão do objeto, a velocidade, a precisão e a fluên-
cia.
Durante a intervenção é importante que o fisioterapeuta estimule a
ocorrência do alcance de forma que o lactente apresente diferentes ampli-
tudes articulares, velocidades e direções de movimento. Isto proporciona
o aprendizado do controle dos movimentos. Ainda, deve-se considerar que
a postura sentada favorece o movimento dos membros superiores e faci-
lita o alcance e a apreensão do objeto, os objetos pequenos favorecem a
diminuição das unidades de movimento e os alcances unimanuais, e os ob-
jetos grandes favorecem a mão aberta e verticalizada. Além da postura e
do objeto, pode-se considerar a possibilidade de utilizar peso adicional no
punho para aumentar a velocidade média do braço, diminuir o número de
unidades de movimento e proporcionar um acoplamento entre os membros
superiores em alcances bimanuais.
O alcance manual é uma das primeiras fases do desenvolvimento vo-
luntário do lactente e por meio desta habilidade é possı́vel verificar como
o lactente se relaciona com o ambiente. A falta de habilidade no alcance
Alcance manual em lactentes típicos 83
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Notas Biográficas
1. Introdução
Durante a aprendizagem de uma nova habilidade motora as crianças têm
que coordenar fatores cognitivos e perceptuais, e as restrições impostas
pela tarefa e pelo contexto ambiental (Newell, 1989, 1991). Crianças com
paralisia cerebral (PC) podem apresentar dificuldades na aprendizagem
motora (Olney & Wright, 2006). A aprendizagem motora engloba uma nova
aquisição e a recuperação ou a modificação de um movimento (Gabbard,
2004).
As crianças com PC possuem déficits sensoriais e motores que impe-
dem a habilidade de perceberem e agirem como crianças que tenham um
desenvolvimento tı́pico (DT). A maneira que uma criança com PC aprende
ou adquire um novo padrão motor pode ser muito diferente de uma criança
com DT. Apesar de vários estudos terem investigado a aprendizagem mo-
tora em adultos com sequelas neuromotoras, poucos investigaram a apren-
dizagem motora em crianças com PC. A criança com PC aprende melhor
quando obtém o conhecimento do seu desempenho (feedback de como ela
realizou o movimento) combinado com uma estratégia cognitiva adequada.
Ou seja, só o resultado final da tarefa realizada não é suficiente. A criança
precisa de um conhecimento dos componentes de movimento necessários
e de um estı́mulo cognitivo adequado para aprender a realizar uma tarefa
com sucesso (Wann & Turnbull, 1993; Thorpe & Valvano, 2002).
A habilidade de realizar movimentos de preensão, manipulação e al-
cance de objetos e de manter o equilı́brio durante a marcha, são funções
dos Membros Superiores (MMSS) que requerem integridade dos sistemas
motores e somatosensoriais. A criança com PC frequentemente apresenta
um déficit nestes sistemas que resulta em uma diminuição da função dos
MMSS prejudicando sua habilidade de interagir e participar no meio am-
biente usando os braços e mãos. Há poucos estudos que demonstram a
eficiência de tratamentos fisioterapêuticos no aumento da atividade dos
MMSS em crianças com PC (Boyd et al., 2001). Uma terapia promissora,
mas sem investigação empı́rica até o momento, é a terapia por tarefas di-
recionadas.
O objetivo deste capı́tulo é apresentar o efeito de uma intervenção
por tarefas direcionadas sobre os aspectos de independência funcional nas
Atividades Funcionais (AFs) dos MMSS, na satisfação, e, na colaboração
da criança com PC, durante os atendimentos. Esta pesquisa faz parte
de um estudo maior (ensaio clı́nico randomizado) que utilizou a mesma
intervenção para comparar tarefas direcionadas com e sem restrição de
movimentos compensatórios do tronco (Schneiberg et al., 2010).
Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 89
2. Fundamentação Teórica
2.1 Paralisia cerebral: uma síndrome com múltiplas etiologias
A obtenção de uma definição consensual de PC é um desafio há muitos
anos. As principais razões da dificuldade de elaborar um conceito que
capte a essência não ambı́gua do amplo aspecto desta patologia são sua
etiologia múltipla e a diversidade de sintomas que ocorrem nesta sı́ndrome
(Shevell & Bodensteiner, 2004). Em 2004, uma força tarefa formada por
profissionais da pesquisa e da prática clı́nica foi realizada em um workshop
internacional, com o objetivo de elaborar uma definição da PC que repre-
sente da melhor forma todo o seu amplo aspecto e que possa ser utilizada
de forma multidisciplinar (Bax et al., 2005).
A definição eleita como a mais eficiente foi: “A PC consiste em um
grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura que
causam limitações nas atividades, e podem ser atribuı́das a distúrbios que
ocorrem durante o desenvolvimento fetal ou no encéfalo durante a infân-
cia. As desordens motoras da PC são frequentemente acompanhadas por
distúrbios na sensibilidade, na cognição, na comunicação, na percepção e
no comportamento, e por ataques convulsivos” (Bax et al., 2005).
Esta nova definição engloba os aspectos multidimensionais da sı́ndrome
e, consequentemente, facilita o diagnóstico, o tratamento, a comunicação
e a transferência de conhecimentos multidisciplinar com a finalidade de
aprimorar cada vez mais a prática clı́nica com esta população.
3. Metodologia
Este estudo foi do tipo coorte, experimental, descritivo, para verificar a
viabilidade do protocolo de intervenção por tarefas direcionais em crianças
com PC.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Inter-
disciplinar de Pesquisa em Reabilitação da área metropolitana de Montreal
(CRIR), e, os pais ou responsáveis legais e as crianças com mais de onze
anos assinaram o formulário de consentimento voluntário de participação
no estudo.
A pesquisa ocorreu em cinco centros de reabilitação pediátrica no es-
tado do Québec, no Canadá. As onze crianças incluı́das na amostra ti-
nham PC do tipo espástica, déficits sensórios-motores em pelo menos um
dos MMSS (hemiplegia, ou diplegia, ou quadriplegia), idade entre cinco a
doze anos, permanência na posição sentada sem suporte, e capacidade de
entender instruções básicas.
As crianças com PC de origem traumática, com presença de desordens
motoras do tipo atetose, ataxia e coreoatetose, com problemas ortopédicos
ou dor em MMSS, tronco ou pescoço, e com contraturas de mais de dez
graus em cotovelo ou mão não foram incluı́das no estudo.
3.1 Medidas
As caracterı́sticas clı́nicas de cada criança foram avaliadas com seis tipos
de testes de função sensório-motora:
1. ADM passiva dos MMSS: testada com uma escala onde o valor má-
ximo de 24 representa amplitude passiva completa e sem dor;
2. Sensibilidade proprioceptiva quanto a posição e ao toque dos MMSS:
testada com uma escala onde o valor máximo de 8 e 20, respectiva-
mente, representam propriocepção e sensibilidade ao toque normais;
3. Discriminação tátil e pressão: a discriminação foi testada com o
aparelho de discriminação de dois pontos e a pressão com o teste de
monofilamentos Semmes-Weinstein. Nestes testes as crianças com
Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 93
4. Resultados
Todas as crianças que participaram do estudo completaram quinze atendi-
mentos. Porém, o grupo selecionado demonstrou ser bastante heterogêneo
em relação aos déficits motores e sensoriais (Tabela 1).
As AFs de MS escolhidas pelas crianças na primeira sessão foram bas-
tante variadas. Lembrando que cada criança escolhia pelo menos uma AF
que considerava como a mais importante. Durante um atendimento era
possı́vel treinar mais de uma AF.
Na Tabela 2, segunda coluna, consta o número de AFs total que cada
criança escolheu. O número de tarefas variou entre um e quatro, sendo
que apenas a criança 4 e a criança 9 conseguiram praticar quatro AFs. A
partir da terceira coluna começa a análise de cada AF, por exemplo, a AF1
é a primeira AF escolhida pela criança em seu primeiro atendimento. Na
terceira coluna estão os valores da MIF modificada representados por dois
números, sendo o primeiro o valor inicial (como a criança está quando a
AF é avaliada), e o segundo o valor final (atingido após uma quantidade
especı́fica de atendimentos). A quarta coluna apresenta a quantidade de
atendimentos realizados para chegar ao valor final da MIF modificada.
Na Tabela 2 observa-se que sete crianças conseguiram chegar ao nı́vel
cinco ou independência total na AF1. Elas estão identificadas por um cı́r-
culo. A criança 11, por exemplo, escolheu aprender a dar laços nos sapatos,
pois não conseguia dar sozinha. O número de tarefas totais praticado com
esta criança foi apenas um, então, sua análise concentra-se apenas em AF1.
No primeiro atendimento ela obteve nı́vel um na MIF porque precisava de
assistência máxima, mas conseguiu chegar ao nı́vel cinco, independente, no
décimo terceiro atendimento.
A criança 4 teve a oportunidade de treinar quatro AFs. Na AF1 co-
meçou com assistência mı́nima (nı́vel quatro) e conseguiu atingir a inde-
pendência (nı́vel cinco) em apenas dois atendimentos. Ela conseguiu fazer
as AF2 e AF3 de maneira independente, mas segundo a terapeuta ocupa-
cional o modo como fazia ainda não era eficiente. Na AF4, ela não tinha
independência total e a conseguiu ao final de mais cinco atendimentos.
Schneiberg & Cosentino
5. Discussão
Este estudo demonstrou a viabilidade da terapia por tarefas direcionadas
quando esta terapia é realizada com crianças com PC do tipo espástica,
classificadas como hemiplégicas, ou diplégicas ou quadriplégica, e com sin-
tomas sensoriomotores e habilidades funcionais variadas nos MMSS.
O uso de tarefas direcionadas para os déficits motores e para a prática
funcional possibilitou um aumento da independência no desempenho de
AFs em 64% das crianças. Todas as crianças compareceram em todos os
100 Schneiberg & Cosentino
6. Conclusão
A terapia por tarefas direcionadas tem efeitos positivos na função motora e
no desempenho de AFs do MS em crianças com PC. Contudo mais estudos
precisam ser desenvolvidos comparando a terapia por tarefas direcionais
com outros tipos de terapia.
Este estudo foi realizado no Canadá, contendo uma população de ori-
gem étnica bastante diversificada, onde a realidade do sistema de saúde
deste paı́s é diferente da do Brasil. Assim, sugere-se a realização de tra-
balhos futuros empregando a terapia por tarefas direcionadas em crianças
brasileiras para investigar se os resultados serão semelhantes.
Agradecimentos
Os autores agradecem a todas as crianças que participaram deste estudo,
a seus familiares, e aos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais dos cinco
centros de reabilitação do Québec. Sheila Schneiberg agradece o suporte
financeiro da CAPES durante parte da elaboração do projeto principal que
engloba este estudo e atualmente ao suporte financeiro do CNPq no seu
pós-doutorado.
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Função do membro superior em crianças com PC e o uso de tarefas direcionadas 103
Notas Biográficas
Sheila Schneiberg Valença Dias é graduada em Fisioterapia (Universidade
Católica de Salvador, 1996), tem Mestrado em Ciências Biomédicas opção
Reabilitação (Université de Montreal, Canadá, 2002) e Doutorado em Ciências
da Reabilitação (McGill University, Montreal, Canadá, 2009). Atualmente
realiza estágio pós-doutoral em Neurociências na Universidade Federal do Rio de
Janeiro e é professora do curso de pós-graduação em Reabilitação Neurofuncional
da Faculdade Inspirar (Curitiba).
Abstract: This chapter investigated the daily fatigue and pain per-
ception in twenty adolescents and adults with Cerebral Palsy (CP),
with age 12 and above, and with preserved cognition. The instru-
ments used were: Sociodemographic, fatigue and pain questionnai-
res, Gross Motor Function Measure (GMFM), Gross Motor Func-
tion Classification System (GMFCS), Manual Ability Classification
System (MACS), and the Ambulation Criteria. Acquired data were
correlated with the motor function (MF). All the individuals re-
ported body pain as well as mental or physical fatigue, however of
low intensity, for most of them. We found a positive correlation
between mental fatigue and manual motor function.
1. Introdução
A Paralisia Cerebral (PC) é um grupo de perturbações permanentes no
desenvolvimento do movimento e da postura, que causa limitações nas
atividades funcionais, atribuı́das a distúrbios não progressivos que ocorrem
no encéfalo imaturo (Rosenbaum et al., 2007). A PC é uma condição
permanente e, embora a lesão neurológica possa ser estática, as sequelas
musculoesqueléticas mudam significativamente ao longo da vida (Paterson,
2004).
A expectativa de vida de indivı́duos com PC tem aumentado (Jones,
2009), e junto a isto complicações como: deformidades ósseas (Paterson,
2004) degeneração articular (Carter & Tse, 2009), fraqueza e diminuição de
força muscular (Moreau et al., 2009; Shortland, 2009) déficits de equilı́brio
corporal (Opheim et al., 2009), fadiga (Jahnsen et al., 2003) e dor (Jahnsen
et al., 2004a).
As alterações musculoesqueléticas, como a fadiga e a dor, contribuem
para a deterioração da função motora de indivı́duos com PC e a marcha é
a mais estudada (Jahnsen et al., 2004b; Moreau et al., 2008; Opheim et al.,
2009; Maanum et al., 2010). Opheim et al. (2009) analisaram a marcha, a
dor e a fadiga de 226 adultos com PC num perı́odo de sete anos. Os autores
observaram que a deterioração da marcha estava associada à fadiga fı́sica e
a relatos de aumento da frequência, da intensidade e do número de regiões
do corpo com dor, além de um alto impacto causado pela dor nas atividades
de vida diária. Segundo Jahnsen et al. (2004b), em um estudo com 406
adultos com PC, a fadiga e a dor influenciaam na deterioração da marcha.
Embora estudos descritivos indiquem uma associação entre a fadiga, a
dor e a função, apenas Moreau et al. (2008) investigaram a relação entre a
função motora grossa e a fadiga em indivı́duos adultos com PC. Estes auto-
res estudaram a fadiga muscular induzida por um protocolo de atividades
fı́sicas realizado em um ambiente controlado com o uso de um dinamômetro
isocinético. Como conclusão, observaram que a fadiga muscular mensurada
poderia ou não estar relacionada a um relato subjetivo do sintoma. Deve-se
considerar que as demandas fisiológicas requeridas para a deambulação e a
realização de atividades de vida diária podem aumentar a percepção de es-
forço, pois ocorre maior geração de força muscular associada e contribuição
do sistema cardiorrespiratório.
Embora a literatura (Andersson & Mattsson, 2001; Jahnsen et al., 2003,
2004a,b; Moreau et al., 2008; Jones, 2009; Opheim et al., 2009) reporte a
presença de dor e fadiga em adultos com PC e ressalte a interferência destas
variáveis na função motora grossa, ainda não há evidências suficientes que
sustentem tal proposição. A literatura sugere novos estudos com diferentes
desenhos de pesquisa, nos quais se considere a influência destes fatores em
contexto de vida real (Jahnsen et al., 2003, 2004b; Moreau et al., 2008;
Opheim et al., 2009). A partir da compreensão dos fatores que interferem
Função motora, fadiga e dor em adolescentes e adultos com PC 109
2. Metodologia
Este trabalho foi um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(protocolo no 001/10).
A amostra foi composta por vinte indivı́duos que atendiam aos crité-
rios de inclusão: possuir PC diagnosticada e registrada em prontuário de
um dos centros de reabilitação de referência do municı́pio de Diamantina
(MG), ter idade igual ou superior a doze anos e possuir cognição preservada
110 Duprat Ramos et al.
Analógica (EVA) que variam de zero (ausência total de dor) a dez (dor
máxima suportável).
Os questionários de fadiga e de dor foram respondidos pelos próprios
participantes. Os participantes que apresentaram dificuldades para se ex-
pressar verbalmente, foram orientados a utilizar gestos e movimentos com
os olhos e com a cabeça. Foram feitas adaptações para os questionários FQ,
SF-36 e questionário sobre seguimentos corporais dolorosos. Para tal, fo-
ram utilizados frascos contendo lı́quidos coloridos a diferentes nı́veis, cada
qual representando uma opção de resposta (Figura 1). Com relação ao FSS
e a intensidade da dor nos seguimentos corporais dolorosos, confeccionou-se
uma EVA em maior dimensão para facilitar a indicação da resposta pelo
participante (Figura 2). Segundo Sabbadini et al. (2001) e Varni et al.
(2005), tais estratégias oferecem autonomia àqueles que apresentam dificul-
dades de expressão verbal e minimizam a chance do examinador influenciar
a resposta do participante.
As alterações musculoesqueléticas foram avaliadas através de um breve
exame postural e fı́sico.
Para análise dos dados, utilizou-se o software aplicativo SPSS (Statisti-
cal Package for the Social Sciences) versão 17.0, e para a caracterização da
amostra da função motora, da dor e da fadiga realizou-se análise descritiva
dos dados. Para avaliar a relação entre função motora e fadiga ou dor,
efetuou-se a análise de correlação de Spearman, com nı́vel de significância
de 0,05.
3. Resultados
A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra quanto aos dados de-
mográficos, as informações sobre a PC, a realização de atividade fı́sica ou
fisioterapia e a presença de alterações de linguagem.
A Tabela 2 caracteriza a função motora dos vinte participantes do es-
tudo. Quanto ao GMFM, as pontuações totais dos participantes se situa-
ram, principalmente, nas faixas entre 0 e 25% (40% dos sujeitos) e entre
76 e 100% (45% dos sujeitos). Dos vinte participantes, apenas treze de-
ambulavam, nove com deambulação do tipo funcional e quatro do tipo não
funcional. Dos sete (35%) participantes classificados como não deambu-
lantes, quatro (20%) nunca adquiriram a função da marcha e três (15%)
perderam tal função ao longo da vida. Pode-se observar também uma
maior concentração de pessoas no nı́vel I do GMFCS (40%) seguida de
maior concentração no nı́vel IV (35%). No que diz respeito ao MACS, uma
grande proporção foi encontrada no nı́vel I (60%).
No FQ todos os participantes relataram possuir algum nı́vel de inten-
sidade de fadiga, de origem fı́sica ou mental. A maioria dos indivı́duos se
encontrava na faixa de pontuação de até 25% no que se refere à fadiga ge-
ral, fı́sica e mental, seguida de maior concentração na faixa de 26 a 50% e
51 a 75%, respectivamente, para os três tipos de fadiga citadas (Tabela 3).
De acordo com os resultados da FSS, todos os participantes relataram
que os sintomas de fadiga causaram alguma incapacidade em diferentes
nı́veis. Dentre as incapacidades geradas pelo sintoma de fadiga fı́sica esta-
vam a dificuldade em se manter em atividades já iniciadas como o andar,
o brincar com outros colegas e a auto higienização. Dentre as relaciona-
das com a fadiga mental estavam a dificuldade em manter a concentração,
Função motora, fadiga e dor em adolescentes e adultos com PC 113
GMFCS (n)
Nı́vel I (8) – – – 8 8 – –
Nı́vel II (1) - - - 1 1 - -
Nı́vel III (3) 1 1 1 - - 3 -
Nı́vel IV (7) 6 - 1 - - 1 6
Nı́vel V (1) 1 - - - - - 1
MACS (n)
Nı́vel I (12) 1 1 1 9 9 2 1
Nı́vel II (3) 2 - 1 - - 1 2
Nı́vel III (1) 1 - - - - - 1
Nı́vel IV (2) 2 - - - - 1 1
Nı́vel V (2) 2 - - - - - 2
n = número de participantes; * = distribuição dos participantes por faixa
de pontuação atingida em porcentagem, F. = Funcional, N.F. = Não Fun-
cional, N.D. = Não Deambula.
4. Discussão
Segundo a literatura recente (Hirsh et al., 2010; Horsman et al., 2010), uma
das maiores razões de procura pelos serviços de fisioterapia por adultos com
PC são a dor e a fadiga, bem como as consequências que estes sintomas
trazem para a função motora.
A dor crônica é um sintoma bastante comum em adultos com PC e
uma das causas de incapacidades (Engel et al., 2003; Jahnsen et al., 2004a;
Vogtle, 2009; Riquelme et al., 2011). Engel et al. (2003) concluı́ram que
67% de sua amostra relatou dor crônica em um ou mais locais do corpo,
e as costas e os membros inferiores foram os locais mais relatados. No
presente estudo, todos os participantes relataram ter sentido dor no último
Função motora, fadiga e dor em adolescentes e adultos com PC 115
5. Conclusão
O presente estudo indica que a fadiga e a dor, apesar de serem sintomas
com baixa intensidade, foram relatos comuns entre os participantes. No
entanto, a única correlação encontrada entre estas variáveis e a função
motora, ocorreu entre a fadiga mental e o MACS. Apesar de a literatura
relatar que a fadiga e a dor são sintomas associados à deterioração da função
motora de adultos com PC, há uma escassez de estudos que mostrem a
correlação destes sintomas com a função motora.
Como a fadiga e a dor são sintomas de prevalência importante nesta
população, sugere-se a realização de estudos controlados e com amostras
Função motora, fadiga e dor em adolescentes e adultos com PC 119
Agradecimentos
As autoras agradecem ao Núcleo de Reabilitação Fı́sica Nossa Senhora da
Saúde de Diamantina, MG, da Associação de Pais e Amigos dos Excepci-
onais (APAE) e da Clı́nica-Escola de Fisioterapia da Universidade Federal
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) pelo apoio fornecido. As
autoras agradecem também à Revista Brasileira de Fisioterapia pelo apoio.
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124 Duprat Ramos et al.
Notas Biográficas
Aline Duprat Ramos é Fisioterapeuta (UFVJM, 2010) e atua como fisio-
terapeuta no Hospital Pronto Socorro João XXIII - Rede FHEMIG de Belo
Horizonte, MG.
1. Introdução
O profissional terapeuta ocupacional tem como premissa atuar com a fun-
cionalidade pessoal e social em todas as fases da vida. As suas competên-
cias apontam para um profissional que, por intermédio da aplicação das
atividades cotidianas, incrementa a independência, possibilita o desenvol-
vimento, e previne a doença. Assim, utiliza adaptações, nas tarefas ou no
meio ambiente para proporcionar ao indivı́duo o máximo de independên-
cia e melhorar a sua qualidade de vida (American Occupational Therapy
Association, 1972).
Entende-se que a base da Terapia Ocupacional é a capacidade de au-
tonomia e independência do indivı́duo. O profissional desta área poten-
cializa o desempenho funcional nas atividades do cotidiano. O terapeuta
ocupacional utiliza diversas abordagens para melhorar o desempenho e a
independência de pessoas com Paralisia Cerebral (PC) na realização de
suas atividades. Entre estas, destaca-se a Tecnologia Assistiva (TA) que
atua como agente facilitador no processo de autonomia e independência
nas Atividades de Vida Diária (AVD’s).
As AVD’s incluem as tarefas de automanutenção (alimentação), ves-
tuário, banho, uso do banheiro, higiene oral e comunicação (Torquetti &
Alvim, 2006). Todo ser humano necessita destas atividades como meio de
vida, e as pessoas com disfunções cognitiva, motora ou sensorial podem
apresentar dificuldades na sua realização.
A PC é uma lesão estática, ocorrida no perı́odo pré, peri ou pós-natal,
que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e
funcional. É uma disfunção sensoriomotora que envolve distúrbios no tônus
muscular, na postura e na movimentação voluntária (Mancini et al., 2002).
Os distúrbios caracterizados pela falta de controle sobre os movimentos,
como a PC, resultam em deformidades ósseas, interferem e comprometem
o processo de aquisição de habilidades e dificultam o desempenho nas ati-
vidades cotidianas (Mancini et al., 2004). Assim, tem-se a necessidade de
utilizar meios facilitadores nas AVD’s como a TA.
O uso da TA deve ser introduzido logo após a detecção de dificuldades
observadas na realização das atividades ou através das informações colhidas
com os familiares. Para que isto ocorra, cabe ao profissional inserido na
equipe interdisciplinar, encaminhar o paciente para avaliação do terapeuta
ocupacional. Desta forma, a prescrição adequada da TA torna efetiva a
funcionalidade e a qualidade de vida da pessoa com PC e de seus familiares.
Considerando a abordagem da TA, este estudo objetivou identificar e
revisar a literatura sobre as adaptações funcionais que favorecem as AVD’s
dos indivı́duos com PC, bem como a relação entre estes e seus familiares.
Terapia ocupacional e tecnologia assistiva: possibilidades de adaptações para pessoas com PC 127
2. Fundamentação Teórica
A atuação da Terapia Ocupacional ocorre na análise e na interpretação das
etapas de execução da atividade, por intermédio da observação, da avali-
ação e do relacionamento do desempenho funcional da demanda atendida
com o produto utilizado. As atividades abordadas se referem a todas as
áreas do cotidiano, como as atividades de casa, da escola, do trabalho e do
lazer (Ribeiro, 2007).
Uma das atribuições do terapeuta ocupacional é de identificar as dificul-
dades nos aspectos motores, cognitivos, sensoriais e psı́quicos envolvidos na
utilização do produto, bem como todos os mecanismos de acessibilidade ao
mesmo (Marins & Emmel, 2011). Para isto, se avalia, planeja e apresenta
resultados que compatibilizem as necessidades, as habilidades e as condi-
ções de desempenho com a concepção e o planejamento do produto. Desta
forma o terapeuta ocupacional promove desempenho e funcionalidade para
os usuários, condições de participação social e qualidade de vida.
A TA é um recurso que auxilia ou promove a ampliação de uma ha-
bilidade funcional deficitária, ou possibilita o aumento da autonomia e a
realização de uma função impedida por circunstância da deficiência (Bax
et al., 2005).
O programa de certificação em aplicações da TA, ATACP da California
State University Northridge, College of Extended Learning and Center on
Disabilities, a classifica em categorias: auxı́lios para vida diária e prática,
comunicação aumentativa e alternativa, recursos de acessibilidade ao com-
putador, sistemas de controle de ambiente, projetos arquitetônicos para
acessibilidade, órteses e próteses, adequação postural, auxı́lios de mobili-
dade, auxı́lios para cegos, auxı́lios para pessoas com surdez ou com déficit
auditivo, e adaptações em veı́culo (Comitê de Ajudas Técnicas, 2011).
As nomenclaturas de TA tendem atualmente a uma categorização base-
ada na abordagem funcional. Porém, a funcionalidade deve ser entendida
em um sentido maior do que apenas a habilidade em realizar tarefas de
interesse. Deve-se realizar avaliação e intervenção nas funções e estruturas
do corpo, nas atividades e participação e nos fatores contextuais ambientais
e pessoais (Farias & Buchalla, 2005).
As disfunções da pessoa com PC envolvem partes distintas do corpo.
Isto resulta em classificações topográficas especı́ficas: hemiparesia (acome-
timento de um hemı́dio do corpo, quando geralmente o membro superior é
mais afetado que o inferior), diparesia (acometimento principalmente dos
membros inferiores) ou tetraparesia (quando afeta todos os membros). Ou-
tro tipo de classificação baseia-se nas alterações clı́nicas do tônus muscular
e no tipo de desordem do movimento, que podem produzir os tipos espás-
tico, atetóide, atáxico, hipotônico ou misto (Mancini et al., 2002).
Além das alterações do tônus e do comprometimento dos seguimentos
corporais, a pessoa com PC tende a utilizar mecanismos compensatórios
128 Almeida & Lima
para vencer a força da gravidade. Assim, utiliza grupos musculares que ha-
bitualmente não estão envolvidos na ação, para alcançar a estabilidade que
originalmente lhe falta, devido ao déficit de controle postural de tronco.
Consequentemente ocorrem os desequilı́brios musculares, as deformidades
e o aumento da hipertonia. Este conjunto de ocorrência prejudica o indivı́-
duo com PC no desenvolvimento de suas atividades (Mancini et al., 2004;
Teixeira et al., 2003; Oliveira et al., 2008). Ainda, há casos em que as
sequelas da PC se agravam pelas dificuldades destas pessoas em explorar
o meio e comunicar-se com o mundo externo (Cury et al., 2006).
Devido às vastas possibilidades de quadros motores da PC, é necessá-
rio realizar uma avaliação criteriosa do aspecto motor, cognitivo e sensorial
destes indivı́duos, para a detecção das disfunções e a prescrição e confecção
dos dispositivos adequados. Neste processo a interdisciplinaridade torna-se
necessária, e o terapeuta ocupacional contribui com seu conhecimento espe-
cı́fico para melhora da funcionalidade, autonomia pessoal e social daqueles
que estão com o desempenho de sua vida ocupacional comprometido.
Na TA, a Terapia Ocupacional realiza as indicações, confecções e adap-
tações adequadas. O terapeuta ocupacional treina o paciente no uso e no
manuseio do equipamento, bem como orienta os familiares e demais mem-
bros da equipe terapêutica no uso adequado e correto da TA prescrita,
Assim, a TA adquire sucesso e eficiência durante seu uso (Rodrigues, 2000;
Oliveira, 2002; Pelosi, 2005; Trombly & Radomski, 2005).
3. Métodos
Este estudo caracterizou-se como do tipo exploratório, baseado em revisão
da literatura. Realizou-se busca nas seguintes bases de dados: LILACS,
SciELO, MEDLINE e BIREME, e definiu-se o perı́odo compreendido entre
os anos de 2000 e 2011 para a seleção das publicações relativas ao tema.
Além dos artigos de periódicos, buscou-se artigos publicados em livros e
algumas páginas comerciais da internet.
A pesquisa foi limitada aos idiomas português e inglês, e os artigos fo-
ram selecionados pela leitura de seu tı́tulo e resumo. Para a seleção dos
artigos foi necessário agregar assuntos correlacionados a Terapia Ocupaci-
onal, TA, AVD’s e PC. Houve também a inclusão de artigos de áreas do
conhecimento que são correlatas ao tema, como fisioterapia, engenharia,
ciências da computação e pedagogia.
Após a seleção dos artigos, realizou a análise e a definição dos disposi-
tivos a serem demonstrados nesta pesquisa. Como critério de inclusão dos
dispositivos considerou-se a disponibilidade de ilustração.
Identificou-se as categorias de TA e selecionou-se modelos diferencia-
dos de adaptações, para que não houvessem sobreposições e repetição de
conteúdo.
Terapia ocupacional e tecnologia assistiva: possibilidades de adaptações para pessoas com PC 129
4. Resultados e Discussão
Na prática da Terapia Ocupacional utiliza-se o termo “recurso terapêutico”
para designar todo e qualquer dispositivo que vise a aquisição ou a am-
pliação de autonomia e independência de um indivı́duo em suas ações do
cotidiano (Watanabe et al., 2003).
Durante a pesquisa foram encontrados 32 trabalhos relacionados ao
tema abordado. Dentre estes, 1 dissertação de mestrado, 16 artigos, 1
anais de congresso, 8 artigos de livros e 5 sites da internet.
Foi necessário utilizar as ilustrações dos recursos de tecnologias assisti-
vas provenientes de materiais comercializados e industriais, pois há poucos
materiais ilustrativos nas bases de dados cientı́ficas.
Nos trabalhos encontrados, 16 continham figuras, com um total de
69 ilustrações. Houve 22 adaptações para alimentação, 8 para vestuário,
10 para higiene e cuidados pessoais, 7 para banheiro e toalete, e 22 para
comunicação (acesso ao computador e escrita).
No entanto, o processo de tratamento em Terapia Ocupacional no que
se refere a adaptações, não envolve somente o conhecimento e a indicação
em si. Para que haja o uso funcional da TA é necessário considerar a análise
da tarefa, a identificação do problema, o reconhecimento dos princı́pios de
compensação, as propostas de solução, o conhecimento de recursos alter-
nativos para a solução do problema, a verificação periódica da adaptação
e o treinamento (Teixeira et al., 2003).
Além do conhecimento destes aspectos é importante que o terapeuta
ocupacional tenha alguns cuidados no processo de indicação de uma adap-
tação, como: a terapia não deve ser substituı́da pela adaptação, o paciente
e o terapeuta não podem se tornar dependentes da mesma e negligenciar
a evolução do desenvolvimento voluntário normal, a adaptação deve ser
acompanhada por um profissional da área e caso o paciente não esteja mais
em terapia os familiares devem ter a consciência de que o paciente e sua
adaptação precisam ser avaliados periodicamente, e a adaptação não pode
causar desconforto e nem dificultar a rotina dos familiares e cuidadores
(Crepeau et al., 2003).
No processo de prescrição de qualquer recurso de TA é necessário en-
focar os objetivos de tratamento nas ocupações significativas ao paciente
e nos hábitos familiares. Somente desta forma o paciente atingirá o maior
grau de funcionalidade em suas atividades cotidianas (Teixeira et al., 2003).
As ilustrações de adaptações mostradas neste capı́tulo podem ser uti-
lizadas como exemplo e modelo para a criação de outras que poderão ser
confeccionadas com material alternativo e de acordo com a criatividade de
cada terapeuta ocupacional. Porém, salienta-se que toda a adaptação deve
ser antropometricamente planejada e individualizada.
130 Almeida & Lima
Figura 13. Prato com ventosa. Figura 14. Suporte para canudo.
Adaptado de Teixeira et al. (2003). Adaptado de MN (2010).
Figura 17. Copo com alças. Figura 18. Alça para copo.
Adaptado de MN (2010). Adaptado de Teixeira et al. (2003).
4.2 Vestuário
As Figuras 23 a 30 apresentam as adaptações para vestuário. Na PC a
habilidade de manipular os complementos do vestuário, como zı́per, botão
e cadarço, nem sempre é realizada funcionalmente. Assim, há exemplos
com adaptações em velcro embutido ou por complementos que permitem
a autonomia na tarefa por meio de preensões grossas.
Figura 23. Adaptação para zı́per. Figura 24. Adaptação para botão.
Adaptado de Bersch (2008). Adaptado de Teixeira et al. (2003).
Figura 25. Camisa com velcro. Figura 26. Calça com velcro.
Adaptado de Teixeira et al. (2003). Adaptado de Teixeira et al. (2003).
Figura 27. Adaptação para calçar Figura 28. Gancho para vestuário.
meia. Adaptado de MN (2010). Adaptado de MN (2010).
Terapia ocupacional e tecnologia assistiva: possibilidades de adaptações para pessoas com PC 135
Figura 41. Adaptação para penico Figura 42. Adaptação para penico
em papelão. Adaptado de Levitt dentro de banco virado. Adaptado
(1997). de Levitt (1997).
5. Considerações Finais
O foco desta revisão foi identificar e demonstrar as adaptações que po-
dem ser utilizadas no tratamento de pessoas com PC para a promoção da
participação e a facilitação nas AVD’s.
Os resultados encontrados evidenciam a disponibilidade de diferentes
tipos de adaptações e a presença de informações relevantes sobre a relação
da adaptação com o contexto ambiental em que a pessoa está inserida.
Percebe-se que somente o uso da adaptação não implicará no alcance de
maior independência nas AVD’s. É necessário conhecer as caracterı́sticas
dos diferentes ambientes em que a pessoa está inserida, para identificar as
barreiras e os facilitadores do desempenho funcional, e modificá-los quando
Terapia ocupacional e tecnologia assistiva: possibilidades de adaptações para pessoas com PC 141
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Notas Biográficas
Cristina Antunes de Almeida é Terapeuta Ocupacional (ACE, 2004),
Especialista Reabilitação do Membro Superior – Terapia da Mão (IBRATE,
2007) e Especialista em Neurologia com ênfase em Neuropediatria (IBRATE,
2010). Atualmente é Terapeuta Ocupacional da Associação do Deficiente Motor
(Curitiba, PR) e da Associação Franciscana de Educação ao Cidadão Especial
(Curitiba, PR).
1. Introdução
Evidências mostram que a capacidade do controle postural durante o de-
senvolvimento tı́pico é refinada nos 10 primeiros anos de vida de crianças
(Barela et al., 2000).
O controle neural da postura ocorre em dois nı́veis. O primeiro nı́vel se
refere a perturbações da postura sentada que induzem a oscilação corporal
para frente. Tal como o movimento de alcance, estas perturbações serão
sempre acompanhadas por atividade dos músculos posturais dorsais. No
entanto, perturbações que induzem uma oscilação do corpo para trás são
acompanhadas por atividade dos músculos ventrais (de Graaf-Peters et al.,
2007). O segundo nı́vel envolve a participação e integração dos sistemas
sensorial, vestibular e visual para que ocorra a modulação dos estı́mulos.
Em crianças com paralisia cerebral (PC), o déficit no controle postural
pode estar vinculado à dificuldade de controlar o grau de contração dos
músculos posturais durante a execução de uma tarefa especı́fica, principal-
mente naquelas crianças com comprometimento espástico bilateral (Heide
& Hadders-Algra, 2005). Isto ocorre devido à ativação estereotipada e não-
variável dos músculos ventrais, uma disfunção na ordem do recrutamento
muscular e um grau excessivo de co-ativação dos antagonistas nas articu-
lações proximais (Carlberg & Hadders-Algra, 2005; Gan et al., 2008; de
Graaf-Peters et al., 2007; Heide & Hadders-Algra, 2005).
O déficit no controle postural é um dos maiores problemas enfrentados
por crianças com PC (de Graaf-Peters et al., 2007; Hatta et al., 2007; La-
coste et al., 2006; Liao et al., 2003; McDonald et al., 2007; Vekerdy, 2007),
pois frequentemente limita o desempenho de muitas atividades. Tal limita-
ção ocorre na mobilidade, na comunicação, nos relacionamentos interpesso-
ais, no cotidiano em geral (Hadders-Algra et al., 1999) e na aprendizagem
(Vekerdy, 2007).
O gerenciamento do controle postural de crianças com paralisia cerebral
é um dos aspectos mais importantes a ser considerado durante a intervenção
terapêutica, pois pode prevenir deformidades de coluna, como a escoliose
(Gericke, 2006; Hatta et al., 2007; Vekerdy, 2007), e de membros superiores
e inferiores. Além disto, pode prevenir a formação de úlceras de pressão
(McDonald et al., 2007), melhorando sua qualidade de vida. A preocupa-
ção de clı́nicos e pesquisadores com os fatores que interferem ou contribuem
para este gerenciamento resultou, em 2006, no Encontro Multidisciplinar
de Mac Keith. Este evento estabeleceu o seguinte consenso: o programa
de gerenciamento do controle postural é uma abordagem planejada, que
engloba todas as atividades e intervenções provocadoras de impacto sobre
a postura e função do indivı́duo. Os programas são adaptados especifica-
mente para cada criança e podem incluir assentos especiais, suportes para
dormir, suportes para posicionamento em pé, exercı́cios ativos, órteses,
intervenções cirúrgicas, e sessões de terapia individual (Gericke, 2006).
Adequação de mobiliário e controle postural da criança com PC 149
2. Fundamentação Teórica
A dificuldade apresentada pela criança com PC no controle postural re-
sulta em um desempenho funcional com membros superiores ineficazes, em
relação ao alcance, preensão e deslocamento de objetos.
Crianças com PC espástica gastam mais tempo para execução de mo-
vimentos de alcance que exigem precisão. Portanto, a espasticidade está
correlacionada com o tempo de execução do movimento: quanto maior a
espasticidade, maior o tempo gasto para sua execução (Chang et al., 2005).
Para os mesmos autores, a suavidade do movimento de alcance tem rela-
ção com o tamanho do objeto a ser alcançado e, portanto, com a precisão
necessária para a execução do movimento.
Para Mackey et al. (2006), parece ser improvável que a diferença de
controle motor distal em indivı́duos com PC espástica seja o único fator que
contribui para o aparecimento de assimetrias na velocidade do movimento.
Os autores sugerem que outras possı́veis causas destes déficits possam ser
uma combinação de fraqueza muscular e fadiga, associada ao excesso de co-
contração muscular e falta de capacidade em gerar força muscular suficiente
para a execução do movimento.
Crianças com PC espástica têm mais dificuldade para soltar o objeto do
que para realizar o alcance, o transporte ou a preensão do objeto. O mem-
bro superior comprometido consome um tempo significativamente maior
para soltar um objeto. Estas crianças, durante o alcance de um alvo,
realizam uma flexão de tronco exagerada para compensar o movimento di-
minuı́do de flexão de ombro (Coluccini et al., 2007). Elas também realizam
movimentos exagerados de flexão e lateralização de tronco para compensar
a limitação de amplitude de movimento de supinadores de antebraço e ex-
tensores de cotovelo, necessários para realizar o alcance e preensão de um
objeto (Kreulen et al., 2007).
Choi & Mark (2004) afirmaram que o alcance e a preensão não são
apenas influenciados pela distância no espaço que se localiza o objeto a ser
alcançado e apreendido e pelo seu tamanho e peso, mas também pela força
que será necessária para o desempenho de tal execução.
Para realizar o movimento de alcance de um objeto, é necessário não só
um movimento coordenado de tronco e membros superiores, mas também
uma contribuição ativa de membros inferiores para suportar e equilibrar
150 Braccialli & Codogno
3. Método
Foi realizada uma revisão da literatura sobre a temática nas seguintes bases
de dados: Scopus (de 1980 a 2011), BIREME (de 1980 a 2011) e SciELO
(de 1980 a 2011). O ano de 1980 foi estabelecido como inicial visto que
na década de 80 o interesse sobre a temática aumentou e vários autores
pesquisaram sobre o assunto. O espaço de 30 anos é um perı́odo adequado
para historiar e verificar as mudanças ocorridas ao longo do tempo.
Para a busca dos artigos foram utilizadas palavras-chaves nos idiomas
inglês e português. No idioma português foram utilizadas as seguintes pala-
vras: mobiliário, mobiliário escolar, mobiliário adaptado, assento, cadeira
adaptada e cadeira escolar. Todas estas palavras foram cruzadas com o
termo “paralisia cerebral”. No idioma inglês foram utilizadas as palavras:
seat, seating, sit, sitting, furniture, postural control, upper extremity, up-
per extremities e upper limb. Da mesma forma, todas as palavras foram
cruzadas com o termo “cerebral palsy”.
Como critério de inclusão das publicações, foram aceitos os artigos que
datavam de 1980 a 2011, com estudos realizados com crianças com PC e
que abordavam o tema adequação de mobiliário ou controle postural na
postura sentada destes indivı́duos.
Adequação de mobiliário e controle postural da criança com PC 155
4. Resultados e Discussão
Crianças com PC geralmente apresentam instabilidade na postura sentada,
e a manutenção da estabilidade postural é essencial para a realização da
maioria dos atos motores, principalmente de membros superiores. Por-
tanto, é essencial entender os parâmetros associados à instabilidade postu-
ral de crianças com PC nesta postura (Lacoste et al., 2009).
Várias pesquisas têm mostrado avaliações e adaptações da postura sen-
tada de crianças com PC (Sochaniwskyj et al., 1991; Dupuis et al., 1991;
Reid, 1996; Braccialli & Manzini, 2003; Teixeira et al., 2003).
A literatura aponta convenções a serem adotadas para o sentar de modo
a melhorar a função de membros superiores (Gregorio-Torres, 2006; Mor-
ress, 2006). Estas convenções, conhecidas como “convenções do sentar fun-
cional”, incluem:
1. inclinação da pelve neutra ou anterior, com ângulo de flexão neutra
de quadril;
2. superfı́cies de sustentação de peso que suportam os pés e as coxas;
3. alinhamento vertical do tronco (Creel et al., 2001; Perr, 1998).
As convenções do sentar funcional foram feitas para melhorar o controle
e o movimento de membros superiores de vários modos:
1. pelo estabelecimento de uma base de suporte para acomodar o peso
do corpo, tal que o equilı́brio seja facilmente alcançado e mantido;
2. pelo estabelecimento de uma relação com a estabilidade que facilite
o equilı́brio de tronco e pelve, de modo a agir como base para o
movimento de membros superiores;
3. pelo suporte do movimento pélvico, que complementa e melhora o
movimento de membros superiores;
4. pelo posicionamento individual para melhorar a visualização das
ações dos membros superiores, de tal forma que melhore a coor-
denação olho-mão nas tarefas de precisão (Kangas, 2000; Stavness,
2006).
156 Braccialli & Codogno
Restauração da
curvatura lombar
Anteversão pélvica
5. Conclusões
Foram encontrados vários estudos na literatura, entre os anos de 1980 e
2011, sobre mobiliários adaptados. A revisão realizada ressaltou a impor-
tância do posicionamento adequado no sentar de indivı́duos com PC. A
prescrição de um mobiliário deve proporcionar ao usuário estabilidade de
tronco, alı́vio da pressão no assento, não ter dores, não desenvolver úlceras
de pressão e melhorar as funções de membros superiores. Consequente-
mente, tal situação faz com que a qualidade de vida destes indivı́duos
melhore efetivamente.
No entanto, mais trabalhos ainda devem ser realizados com esta popu-
lação, visto que se trata de uma população muito heterogênea e que muitas
variáveis devem ser melhor investigadas.
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162 Braccialli & Codogno
Notas Biográficas
Ligia Maria Presumido Braccialli é Fisioterapeuta (UFSCAR, 1983),
Mestre e Doutora em Educação Fı́sica (UNICAMP, 1997 e 2000), Livre-docente
em Reabilitação Fı́sica (UNESP-Marı́lia, 2009). Atualmente é docente do
Departamento de Educação Especial e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UNESP (Marı́lia, SP).
1. Introdução
Crianças com Paralisia Cerebral (PC) apresentam alterações nas proprie-
dades intrı́nsecas do sistema neuromuscular (Bax et al., 2005; Rosenbaum
et al., 2007). Além destas alterações, também apresentam disfunção au-
tonômica associada, incluindo alteração intestinal e vesical, hiperhidrose
(Reid & Borzyskowski, 1993; Rose et al., 1993), baixa resistência cardio-
pulmonar (Gorter et al., 2009), maior gasto energético e altos valores de
frequência cardı́aca (FC) nas atividades diárias (Bartonek et al., 2002;
Duffy et al., 1996; Negri et al., 2010).
As disfunções autonômicas estão relacionadas ao desequilı́brio entre os
ramos eferente simpático e parassimpático do Sistema Nervoso Autonômico
(SNA). Isto provavelmente se origina na perda da influência hemisférica na
modulação autonômica, devido às lesões encefálicas destas crianças (Kor-
pelainen et al., 1993; Linden & Berlit, 1995; Yang et al., 2002).
A modulação da FC é dependente da integração dos componentes sim-
pático e parassimpático, que determinam de maneira variável as oscilações
de seus batimentos. As oscilações temporais entre duas contrações ventri-
culares consecutivas, correspondem aos intervalos R-R (iR-R) do Eletro-
cardiograma (ECG), designado como Variabilidade da Frequência Cardı́aca
(VFC) (Longo et al., 1995). Os ajustes autonômicos do SNA são atribuı́dos
à integridade do sistema neurocárdico (Zuttin et al., 2008) e as condições
patológicas promovem alterações na modulação autonômica da FC e na
dinâmica do sistema cardiovascular.
A avaliação do controle autonômico da FC em crianças com PC trata-
se de um tema incipiente dentro da fisioterapia em neuropediatria. Porém,
este tema é de grande relevância, pois possibilita um enfoque cardiovas-
cular, que nem sempre é abordado nos programas de reabilitação. Deste
modo, pretende-se incentivar a utilização da análise da VFC de crianças
com PC na área da fisioterapia em neuropediatria.
Diante do exposto, o presente capı́tulo teve como objetivos abordar os
procedimentos de avaliação e análise linear da VFC no domı́nio da frequên-
cia, analisar a VFC em crianças com diagnóstico clı́nico de PC e discutir a
sua relação com o comprometimento motor de acordo com o Gross Motor
Function Classification System (GMFCS).
2. Fundamentação Teórica
2.1 Paralisia cerebral
O termo PC descreve um grupo de desordens do movimento e da postura
atribuı́das ao distúrbio não progressivo que ocorre no encéfalo em desenvol-
vimento (Bax et al., 2005; Rosenbaum et al., 2007). O problema motor dos
indivı́duos com PC se origina fundamentalmente da disfunção do Sistema
Nervoso Central (SNC), que interfere diretamente no desenvolvimento do
Variabilidade da frequência cardíaca em crianças com PC 165
(a) (b)
Figura 1. Ilustração representativa de crianças com PC dos nı́veis I (a) e V
(b) do GMFCS na postura sentada.
deste fenômeno foi feita por Stephens Hales em 1973, ao realizar a pri-
meira medida quantitativa da pressão arterial. Isto forneceu bases para o
aprofundamento dos estudos nesta área. Assim, sabe-se que as flutuações
periódicas da FC constituem um indicador de um sistema cardiovascular
saudável e que a análise da VFC representa um dos mais significativos indi-
cadores quantitativos da resposta neuro-regulatória batimento a batimento
(Hartikainen et al., 1998).
Os ajustes do SNA são atribuı́dos à integridade do sistema neurocárdico
e a posição corporal afeta o controle e reposta da FC (Zuttin et al., 2008).
As condições patológicas promovem alterações na modulação autonômica
da FC e na dinâmica do sistema cardiovascular. Isto compromete os ajus-
tes rápidos e compensatórios da FC, determinados pela ação autonômica
sobre o nodo sinusal para garantir a homeostase (Mitchell, 1990). Assim,
alterações na modulação autonômica da FC e na dinâmica do sistema cardi-
ovascular podem ser identificadas por meio do estudo da VFC nas posturas
supina e ortostática (Acharya et al., 2005; Zamunér et al., 2011).
et al., 1996). Porém, alguns autores afirmam que nesta faixa de frequência
também há contribuição do componente parassimpático (Skyschally et al.,
1996).
A AF corresponde à modulação respiratória, pois coincide com a arrit-
mia sinusal respiratória. Portanto, ela é indicativa da atuação vagal sobre
o nó sino atrial (Akselrod et al., 1981; Pagani et al., 1986; Lombardi et al.,
1987; Malliani et al., 1991; Novak et al., 1996).
Os componentes de BF e AF podem ainda ser expressos em unidades
normalizadas (un) conforme as Equações 1 e 2, onde: AF un e BF un são,
respectivamente, os componentes de alta e baixa frequência em unidades
normalizadas; AF é o componente de alta frequência em valor absoluto,
BF é o componente de baixa frequência em valores absolutos, e MBF é o
componente de muito baixa frequência (Novak et al., 1996).
AF (ms2 )
AF un = × 100 (1)
P otencia T otal(ms2 ) − M BF
BF (ms2 )
BF un = × 100 (2)
P otencia T otal(ms2 ) − M BF
170 Cunha et al.
3. Metodologia
3.1 Procedimentos para a avaliação da VFC em crianças com PC
A literatura relata que a VFC é dependente da idade, devido às alterações
relacionadas à mediação parassimpática e simpática da FC que ocorrem
ao longo do desenvolvimento. Isto resulta em uma grande variação do seu
comportamento em cada década de vida (Finley & Nugent, 1995). Assim,
em pesquisas é importante que as crianças não apresentem discrepância em
relação à idade e também em relação ao gênero. Estas variáveis devem ser
cuidadosamente observadas para manter a homogeneidade dos grupos.
Nos dias anteriores aos testes, as crianças e seus responsáveis devem
receber orientações relevantes, tais como: evitar o consumo de bebidas
estimulantes (café, chá preto e refrigerante), não realizar atividade fı́sica,
fazer refeições leves e ter repouso noturno.
Todas as crianças devem ser familiarizadas com os procedimentos ex-
perimentais a fim de minimizar a influência de fatores como a ansiedade
nas variáveis estudadas.
Uma forma de avaliar o ajuste autonômico cardiovascular é promover
a captação da FC e dos iR-R batimento a batimento nas posturas supina e
ortostática. Para isto, pode-se utilizar a manobra postural ativa, uma vari-
ante da manobra postural passiva (tilt table test). Esta manobra é efetiva
para avaliar a resposta cardı́aca simpática, juntamente com a liberação
vagal. Além da estimulação reflexa provocada sobre os barorreceptores,
envolve a contração dos músculos dos membros inferiores (Smitt et al.,
1999).
Para a coleta de dados, as crianças devem ser orientadas a permanecer
em silêncio, evitar movimentos bruscos, não dormir e manter a respira-
ção espontânea. A última é registrada pelo avaliador minuto a minuto.
Ressalta-se ainda a importância das coletas da FC serem realizadas no
mesmo perı́odo do dia, para reduzir possı́veis influências das variações cir-
cadianas.
A coleta dos dados deve ser iniciada com a criança em decúbito dorsal
sobre uma maca (Figura 3(a)). Para a postura ortostática, a coleta deve
ser realizada com a criança em pé e apoiada na maca. Para crianças que
não conseguem ficar em pé somente com apoio na maca, um apoio adicional
em tronco superior ou inferior pode ser fornecido (Figura 3(b)). O tempo
de coleta da FC e dos iR-R deve ser de 15 minutos na postura supina e 15
minutos na postura ortostática.
4. Resultados e Discussão
Os resultados deste estudo foram organizados com base na discussão das re-
lações entre a PC, o comprometimento motor e a VFC. Além disto, buscou-
se uma reflexão sobre como a VFC implica nas ações do fisioterapeuta.
Variabilidade da frequência cardíaca em crianças com PC 171
(a) (b)
Figura 3. Captação em supino (a) e em ortostatismo (b), de uma criança
com PC nı́vel IV do GMFCS.
1993; Linden & Berlit, 1995; Yang et al., 2002), há diminuição do reser-
vatório adaptativo da modulação autonômica cardı́aca. Algumas funções
autonômicas cardı́acas, como a retirada vagal e a ativação simpática, talvez
não sejam suficientes para superar o estresse ortostático (Park et al., 2002;
Yang et al., 2002; Zamunér et al., 2011).
5. Considerações Finais
As crianças com PC apresentam maiores valores de FC, dos ı́ndices BF un
e BF/AF e menores valores de AF un em repouso, quando comparadas
com crianças com desenvolvimento motor tı́pico na mesma faixa etária.
É possı́vel concluir que as crianças com PC apresentam alterações nos
ajustes autonômicos posturais e que, quanto maior o comprometimento
motor, menor a capacidade do sistema neurocárdico em realizar ajustes
autonômicos.
Entende-se que é bastante importante incentivar o uso da análise da
VFC na clı́nica fisioterapêutica em neurologia infantil. Esta técnica pode
ser utilizada para avaliar e reavaliar a modulação autonômica da FC antes
e após as intervenções. Também se sugere a realização de mais estudos
com diferentes perfis funcionais de pacientes.
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178 Cunha et al.
Notas Biográficas
Andréa Baraldi Cunha é Fisioterapeuta (UNIMEP, 2005) e Mestre em Fisio-
terapia (UFSCar, 2011). Atualmente é doutoranda em Fisioterapia (UFSCar).
1. Introdução
A fonoaudiologia é a ciência que tem como objeto de estudo a comunicação
humana. Para tal, o foco de atuação está no desenvolvimento da comu-
nicação, nos distúrbios e diferenças em relação aos aspectos envolvidos na
função auditiva periférica e central, nas funções vestibulares e cognitivas,
na linguagem oral e escrita, assim como na fala, na fluência, na voz, nas
funções orofaciais e na deglutição (Marchesan & Sanseverino, 2004).
O fonoaudiólogo se aproxima da neurologia quando atua em casos de
pacientes com distúrbios da linguagem oral ou escrita, dos órgãos fonoarti-
culatórios e das funções neurovegetativas, decorrentes de comprometimento
neurológico. O objetivo da terapia fonoaudiológica nestes casos é adequar
os aspectos alterados da melhor maneira possı́vel para promover a funcio-
nalidade do indivı́duo.
A pessoa com Sı́ndrome de Down (SD) frequentemente é acometida por
distúrbios auditivos, de linguagem, do sistema estomatognático (dentes,
oclusão, lábios, lı́ngua e bochechas), e das funções neurovegetativas (sucção,
mastigação, deglutição, respiração e fala).
A terapia fonoaudiológica na SD varia de acordo com o caso, com as
funções mais comprometidas e com a idade do indivı́duo. Desta forma,
baseia-se em exercı́cios respiratórios, de fortalecimento muscular, aumento
da mobilidade e melhora do controle motor.
A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), também conhecida
como Método Kabat, é uma forma de trabalho utilizada para tratamento
de diversos diagnósticos. Trata-se de um conjunto de técnicas que promo-
vem e aceleram as respostas dos mecanismos neuromusculares, através da
estimulação de todos os receptores possı́veis, visando atingir uma função
motora eficiente (Cruz-Machado et al., 2007).
A literatura indica que a FNP pode promover e acelerar os aspectos
neuromusculares do indivı́duo (Moreno et al., 2005; Favarão & Pieretti,
2004; Adler et al., 2007). Assim, acredita-se que esta seja uma intervenção
adequada para pessoas com SD. A estimulação neuromuscular pode ser
utilizada para recrutar unidades motoras e melhorar a hipotonia orofacial
importante que classicamente se observa em pacientes com SD. No en-
tanto, a aplicação da FNP com enfoque fonoaudiológico na SD, não possui
registros na literatura pesquisada, o que motivou a realização deste estudo.
Este capı́tulo teve como objetivo analisar a aplicação da FNP em pes-
soas com SD, sob o enfoque terapêutico fonoaudiológico oromiofuncional
para melhora do sistema estomatognático e das funções neurovegetativas
destes indivı́duos.
A fonoaudiologia e a facilitação neuromuscular proprioceptiva na síndrome de Down 181
3. Métodos
Este estudo caracterizou-se por ser do tipo experimental, e foi realizado
com uma amostra intencional. Selecionou-se quatro pacientes com SD, em
atendimento regular de fonoaudiologia, em uma instituição de educação
especial. Como critérios de inclusão da amostra estavam a capacidade de
compreender os comandos verbais utilizados no trabalho com a FNP e a
disponibilidade em realizar terapia fonoaudiológica apenas na instituição
onde o trabalho foi realizado.
Nesta pesquisa, todos os sujeitos fizeram parte do mesmo grupo e
só participaram da amostra aqueles cujos responsáveis legais assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido. A Tabela 1 apresenta a faixa
etária e o gênero dos sujeitos da pesquisa.
Os procedimentos considerados nesta pesquisa consistiram em avali-
ação inicial (Tabela 2), atendimentos individuais aos sujeitos, e análise
dos resultados obtidos através da comparação da avaliação inicial com a
A fonoaudiologia e a facilitação neuromuscular proprioceptiva na síndrome de Down 183
avaliação final (Tabela 2). Estas avaliações foram parte das avaliações fo-
noaudiológicas de cada paciente, onde dentre outros aspectos relacionados
à Fonoaudiologia, está a investigação da força muscular facial de cada um.
(a) (b)
Figura 2. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 3. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 4. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 5. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 6. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 7. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
4. Resultados e Discussão
A Tabela 3 apresenta os resultados da análise da força muscular facial dos
sujeitos, segundo a escala de Hoppenfeld (2007), antes e após os atendi-
mentos fonoaudiológicos.
Nesta tabela os resultados da avaliação inicial estão dispostos na coluna
Av1 e os resultados da avaliação final na coluna Av2.
Os resultados apresentados nesta tabela evidenciam que o uso da FNP
foi satisfatório para os sujeitos pesquisados. A qualidade da articulação da
fala aumentou em pelo menos 100% em todos os sujeitos pesquisados, e
a força muscular também se mostrou no mı́nimo com o dobro de melhora
durante a avaliação final, após o tratamento com a FNP.
188 Souza et al.
(a) (b)
Figura 8. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
(a) (b)
Figura 9. Em (a) posição inicial e em (b) posição final.
5. Considerações Finais
A FNP pode ser utilizada com sucesso em Fonoaudiologia para a melhora
das funções do sistema estomatognático e das funções neurovegetativas de
indivı́duos com SD. A utilização deste método pode repercutir benefica-
mente na função oral destes indivı́duos.
Apesar de não haver registros na literatura sobre a aplicação do mé-
todo na fonoaudiologia, entende-se que os esforços empreendidos pelo fo-
noaudiólogo nesta área podem ser bastante promissores. Assim, sugere-se
que trabalhos futuros repliquem este estudo em uma amostra com maior
número de sujeitos, bem como utilizem a FNP na terapia fonoaudiológica
de outros distúrbios neurológicos.
190 Souza et al.
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A fonoaudiologia e a facilitação neuromuscular proprioceptiva na síndrome de Down 191
Notas Biográficas
Kariane Eliza Souza é Fonoaudióloga (UNIVALI, 2006) e Especialista em
Neurologia com ênfase em Neuropediatria (IBRATE, 2011). Atualmente é
fonoaudióloga da APAE de Alfredo Wagner, SC.
1. Introdução
A sı́ndrome de Rett (SR) é uma condição neurológica de caráter progres-
sivo, com caracterı́sticas fenotı́picas peculiares, caracterizada por desacele-
ração do crescimento do crânio, deficiência cognitiva profunda, movimentos
estereotipados das mãos e alterações no crescimento (Pozzi & Rosemberg,
2003; Fehr et al., 2010).
A SR foi relatada inicialmente em 1966, pelo médico austrı́aco An-
dreas Rett, que descreveu uma série de meninas que apresentavam com-
portamento autı́stico, demência, apraxia, estereotipias manuais, perda da
expressão facial, e que não apresentavam alterações ao nascimento e tive-
ram desenvolvimento neuropsicomotor normal nos primeiros meses de vida
(Rett, 1992). Entre seis e 18 meses de vida, as meninas desenvolviam perda
de interesse pelo meio ambiente, irritabilidade e estagnação no desenvolvi-
mento neuromotor (Bruck et al., 2001). Neste momento, observa-se a perda
de habilidades funcionais das mãos, podendo estar associada a crises epilép-
ticas, alterações de tônus, alteração da marcha, ataxia no tronco, disfunção
autonômica e grave alteração cognitiva (Pozzi & Rosemberg, 2003; Nissen-
korn et al., 2010). A manifestação clı́nica mais tı́pica da sı́ndrome surge
meses após por meio de movimentos repetitivos e estereotipados das mãos,
do tipo esfregar, torcer ou bater, em substituição às habilidades manuais
habituais (Julu et al., 2001; Downs et al., 2010). Com a progressão da do-
ença os indivı́duos com SR tornam-se, em geral, incapazes de comunicar-se
verbalmente, no entanto mantém contato com o olhar, e são profundamente
dependentes nas atividades da vida diária (AVD’s) (Monteiro et al., 2009).
A SR é uma condição particularmente desafiadora para os profissionais
da área de reabilitação, considerando a gravidade do comprometimento mo-
tor e cognitivo, a ocorrência de deformidades e a progressiva imobilidade
nas fases mais avançadas da doença. Para tanto, é importante a elaboração
de trabalhos que ofereçam informações atuais sobre as principais caracte-
rı́sticas da doença, o que auxiliará os profissionais na compreensão e no
tratamento assistencial aos pacientes. O objetivo deste capı́tulo é apre-
sentar as principais caracterı́sticas da SR, considerando seu histórico, sua
expectativa de vida, a origem genética, suas caracterı́sticas clı́nicas e as
habilidades funcionais.
2. Fundamentação Teórica
A SR é uma condição crônica e incapacitante que possui caracterı́sticas
fenotı́picas bastante peculiares. A doença foi descrita pela primeira vez pelo
Dr. Rett em 1966, no entanto o interesse por esta doença universalizou-se
somente a partir da publicação de Hagberg et al. (1983) relatando casos de
trinta e cinco meninas com SR.
Síndrome de Rett: histórico, expectativa de vida, genética e habilidades funcionais 195
3. Metodologia
Neste capı́tulo realizou-se uma revisão de artigos cientı́ficos seguida de sua
análise crı́tica. A metodologia foi dividida em duas etapas: a coleta e
apresentação de material teórico sobre a SR, e a organização dos resul-
tados sobre as habilidades funcionais publicados pelos autores em artigos
cientı́ficos.
Na primeira etapa, foram coletados artigos cientı́ficos publicados sobre
SR utilizando o termo “sı́ndrome de Rett” como descritor nas seguintes
bases de dados: MEDLINE, LILACS, SciELO e PubMed. Após a busca
em tais bases, utilizou-se como estratégia complementar a busca manual de
referências de artigos encontrados. Foram utilizadas as combinações entre
os seguintes descritores da lı́ngua portuguesa: sı́ndrome de Rett, Autocui-
dado, Limitação da mobilidade, Relações interpessoais e Cuidadores. Na
lı́ngua inglesa buscou-se por: Rett syndrome, selfcare, mobility, limitation,
interpersonal relations e caregivers. Além da combinação dos descrito-
res, utilizou-se a busca das seguintes palavras em português: mobilidade,
função social e mutação em MCP2; e em inglês: social function e MCP2
mutation. A partir dos resumos dos artigos encontrados procedeu-se a
196 Monteiro et al.
4. Resultados
Para a organização dos resultados optou-se por apresentar discussões relati-
vas à genética, caracterização clı́nica, tratamento e habilidades funcionais.
4.1 Genética
Durante muitos anos, as bases genéticas da SR permaneceram obscuras.
Sabia-se que a quase totalidade era de casos isolados e a ocorrência de
agregados familiares da doença mostrou-se ser extremamente rara. Pelo
fato da doença manifestar-se quase exclusivamente em indivı́duos do gênero
feminino postulou-se tratar de uma doença geneticamente determinada,
dominante, ligada ao X, letal no gênero masculino.
Os estudos em busca de uma causa genética levaram 16 anos até o
reconhecimento de mutações no gene MECP2 associado a SR. A maioria
dos casos isolados ou esporádicos dentro de uma mesma famı́lia e uma
aparente exclusividade no sexo feminino dificultava os estudos de ligação
(Amir et al., 1999; Villard, 2007; Christodoulou & Ho, 2009).
Somente em 1999 foram identificadas mutações no gene MECP2 em
meninas com SR (Amir et al., 1999). Este gene codifica uma proteı́na
que se liga a dinucleotı́deos CpG metilados e que está envolvida com a
inibição de transcrição de genes (MeCP2, Methyl-CpG-binding Protein 2).
Os pacientes com a SR apresentam perda parcial ou total da função desta
proteı́na (Shahbazian & Zoghbi, 2001; Christodoulou & Ho, 2009).
Nas mulheres, o fenótipo parece ser dependente de duas premissas: a
mutação no gene MECP2 e o padrão de inativação do cromossomo X. Em
cada célula, existem dois cromossomos X, mas apenas um deles encontra-se
ativo. A determinação de qual dos cromossomos X, o de origem materna
ou paterna, será inativado em cada célula, ocorre ao acaso durante a fase
embrionária da vida. Desta forma, algumas células terão o cromossomo
X paterno ativo, e outras o X materno. Assim, mulheres com quadros
clı́nicos mais graves tiveram o cromosso X com mutação no gene MECP2
ativo, e as mulheres com manifestações leves ou assintomáticas, tiveram
Síndrome de Rett: histórico, expectativa de vida, genética e habilidades funcionais 197
4.2.2 Bruxismo
O bruxismo em vigı́lia pode ser considerado um critério de apoio ao diag-
nóstico de SR e é encontrado na grande maioria das pacientes. As caracte-
rı́sticas sonoras são diferentes do ranger agudo que ocorre durante o sono
(Hagberg, 1989). O bruxismo na SR não se limita aos perı́odos de sono.
alguma forma o que queriam. Gratchev et al. (2001) refere que 34% de seus
38 pacientes eram capazes de pronunciar alguma palavra. No trabalho de
Hetzroni & Rubin (2006) das oito meninas avaliadas, quatro apresentavam
algum tipo de comunicação, e uma tinha comunicação verbal funcional. A
comunicação verbal efetiva é considerada como uma variação diagnóstica
rara e atı́pica na SR (Renieri et al., 2009).
4.2.6 Crescimento
Dois parâmetros do crescimento podem ser significativamente afetados na
SR: o desenvolvimento pondoestatural e o perı́metro cefálico. Para Hag-
berg et al. (2001) a desaceleração do crescimento craniano ocorre já a partir
do terceiro mês de vida. Esta é uma das caracterı́sticas mais constantes
nesta condição. Para Segawa (2001) o peso corporal encontra-se significa-
tivamente abaixo do normal. Outra caracterı́stica de alteração do cresci-
mento é o crescimento desproporcional dos pés (Hagberg, 1989). Larsson
et al. (2005) relatam que 97 entre 125 pacientes com SR (77,6%) tinham
os pés pequenos para a idade cronológica.
4.2.8 Epilepsia
As crises epilépticas ocorrem em aproximadamente 70% a 80% dos indivı́-
duos com SR e, em geral, iniciam após os três anos de idade (Nissenkorn
et al., 2010). A epilepsia pode ter inı́cio mais precoce, nos primeiros meses
de vida. Nas fases mais avançadas da doença, as manifestações epilépticas
tendem a ser menos frequentes e intensas (Hagberg, 1989).
4.4 Diagnóstico
A confirmação do diagnóstico de SR em indivı́duos com quadro clı́nico
sugestivo desta condição pode ser feita por meio da pesquisa de mutações
no gene MECP2. Recomenda-se que a investigação da SR seja feita por
sequenciamento bidirecional que identificará a maioria das mutações. Caso
este estudo seja negativo e a clı́nica sugestiva, deve-se proceder a pesquisa
para grandes duplicações ou deleções, por meio de técnicas como o MLPA
(Multiplex Ligation Probe Amplification) (Villard, 2007; Christodoulou &
Ho, 2009).
É importante enfatizar que o diagnóstico da SR é baseado em critérios
clı́nicos, não sendo necessária a confirmação genética para se estabelecer
este diagnóstico (Hagberg et al., 2002). Ocorre identificação de mutação
em MECP2 em 70 a 90% dos pacientes com a forma clássica e 40 a 50% dos
com formas atı́picas (Shahbazian & Zoghbi, 2001; Julu & Witt-Engerstrom,
2005; Christodoulou & Ho, 2009). A presença de grandes deleções no gene
está presente em 10% dos indivı́duos com a forma clássica e 7% com as
formas atı́picas (Christodoulou & Ho, 2009).
Um outro gene, também localizado no cromossomo X e conhecido como
CDKL5, é responsável por formas atı́picas de SR, com manifestações mais
graves e precoces, em especial epilepsia de difı́cil controle medicamentoso.
5. Considerações Finais
Com base nos aspectos apontados na presente revisão, é possı́vel afirmar
que as caracterı́sticas clı́nicas da SR a tornam uma doença incapacitante
e uma condição particularmente desafiadora para a equipe de reabilitação,
tendo em vista a gravidade do comprometimento motor com presença de
208 Monteiro et al.
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212 Monteiro et al.
Notas Biográficas
Carlos Bandeira de Mello Monteiro: é Educador Fı́sico (Faculdade do
Clube Náutico Mogiano, 1987), Fisioterapeuta (Universidade do Grande ABC,
1993), Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento (Universidade Presbiteriana
Mackenzie, 2001), Doutor em Neurologia (USP, 2007). Atualmente é docente do
curso de Ciências da Atividade Fı́sica da USP.
Fernando Kok é Médico (USP, 1977), Doutor em Neurologia (USP, 1990), tem
pós-doutorado (Johns Hopkins University, 1995) e é Livre-docente (USP, 2006).
Capítulo 12
1. Introdução
As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são unidades hospitalares desti-
nadas a pacientes crı́ticos que necessitam de cuidados complexos e especi-
alizados (Leite & Vila, 2005). As UTIs e desempenham um papel decisivo
na chance de sobrevida de pacientes gravemente enfermos (Pereira et al.,
1999).
Em virtude da constante expectativa de situações de emergência, da
alta complexidade tecnológica e da concentração de pacientes graves sujei-
tos a mudanças súbitas no estado geral, a internação na Unidade de Terapia
intensiva (UTI) necessita de profissionais especializados e qualificados, com
equipe multidisciplinar envolvendo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais (Leite & Vila, 2005;
Pereira et al., 1999).
A atuação do fisioterapeuta, no convı́vio com a equipe multidisciplinar
favorece a recuperação dos pacientes (Zorzi et al., 2008). Sua presença cons-
tante auxilia decisivamente na recuperação respiratória e motora precoces,
e na motivação do paciente. Isto reduz o número de dias de internação e
os custos hospitalares (Pereira et al., 1999).
A assistência fisioterapêutica em UTI pediátrica e neonatal, embora
com objetivos semelhantes àqueles traçados na UTI de adultos, apresenta
particularidades relacionadas às diferenças anatômicas e fisiológicas da cri-
ança (Nicolau & Lahóz, 2007).
A maioria dos pacientes internados em UTI pediátrica e neonatal pos-
sui doenças respiratórias ou complicações pulmonares decorrentes de pro-
cedimentos cirúrgicos e de Ventilação Pulmonar Mecânica (VPM). Assim,
os cuidados técnicos, próprios da atuação da fisioterapia, devem ser bem
estabelecidos, estudados e empregados (Carvalho et al., 2004).
Uma vez estabilizados os parâmetros cardiopulmonares no paciente crı́-
tico, a atenção deve ser dirigida ao Sistema Nervoso Central (SNC), pois
sua estabilidade é essencial para assegurar a recuperação e o desenvolvi-
mento infantil (Berk & Sampliner, 1991).
A fisioterapia tem papel essencial no tratamento do paciente crı́tico in-
ternado UTI, tanto na reabilitação cardiopulmonar, quanto na reabilitação
e na profilaxia dos danos neurológicos (Knobel, 2006).
A atuação do fisioterapeuta na UTI pediátrica e neonatal requer habi-
lidades técnicas especializadas, trabalho em equipe e atuação com enfoque
no cuidado global da criança e famı́lia (Molina et al., 2007).
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi investigar a concepção
dos fisioterapeutas que desenvolvem atividade profissional em UTI pediá-
trica e neonatal sobre sua atuação com a criança crı́tica internada, con-
siderando as suas competências, estratégias e o seu papel junto à equipe
multiprofissional.
Fisioterapia na UTI: enfoque na criança crítica neurológica 215
2. Fundamentação Teórica
2.1 Cuidado em UTI
A UTI nasceu da necessidade de se oferecer suporte avançado de vida a
pacientes agudamente doentes, que porventura possuam chances de sobre-
viver. Assim, destina-se à internação de pacientes com instabilidade clı́nica
e com potencial de gravidade (Carvalho et al., 2006). Trata-se de um am-
biente de alta complexidade, reservado e único no ambiente hospitalar,
pois se propõe a estabelecer monitorização completa e vigilância em tempo
integral (Freire et al., 1998).
O cuidado em UTI é orientado pelo modelo médico biologicista, cuja
atenção está voltada principalmente para o órgão doente, para a doença,
para os procedimentos técnicos (Nascimento & Trentini, 2004) e para os
aspectos fı́sicos e de controle das funções vitais do paciente (Leite & Vila,
2005).
O paciente internado em UTI necessita de cuidados de excelência não
apenas para os problemas fisiopatológicos, mas também para as questões
psicossociais, ambientais e familiares, que se tornam intimamente interli-
gadas à doença fı́sica (Vila & Rossi, 2002).
Além de uma concentração de pacientes crı́ticos e de tecnologia avan-
çada, nas últimas décadas a UTI se tornou um local de prática da equipe
multiprofissional experiente e que possui competências e formações espe-
cı́ficas (Nozawa et al., 2008). A complexidade deste serviço, em termos
de equipamentos, de recurso humano e da maior quantidade de casos com
indicação de internação, fez com que os cuidados ao paciente crı́tico envol-
vessem profissionais médicos das diversas especialidades, enfermeiros, fisi-
oterapeutas, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais (Pereira
et al., 1999).
A necessidade de uma equipe multidisciplinar dentro da UTI favorece
e influencia a qualidade da assistência prestada aos pacientes (Zorzi et al.,
2008).
De acordo com a portaria no 3432, de 12 de agosto de 1998 do Minis-
tério da Saúde, a UTI deve contar uma equipe básica composta por: um
responsável técnico com tı́tulo de especialista em medicina intensiva ou com
habilitação em medicina intensiva pediátrica, um médico diarista com tı́-
tulo de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina
intensiva pediátrica para cada dez leitos ou fração nos turnos da manhã e
da tarde, um médico plantonista exclusivo para até dez pacientes ou fração,
um enfermeiro coordenador exclusivo da unidade e responsável pela área
de enfermagem, um enfermeiro exclusivo da unidade para cada dez leitos
ou fração por turno de trabalho, um fisioterapeuta para cada dez leitos ou
fração no turno da manhã e da tarde, um auxiliar ou técnico de enferma-
gem para cada dois leitos ou fração por turno de trabalho, um funcionário
216 Izumi et al.
Todavia este mesmo ambiente pode provocar uma série de malefı́cios fı́sicos
e psicossociais à criança, desencadeados pelo estresse e pelos procedimentos
necessários (Freire et al., 1998). O ambiente da UTI é totalmente diferente
e estranho à criança e a sua famı́lia. É necessário programar estratégias de
redução de ruı́dos e controle da luminosidade (Vila & Rossi, 2002), redu-
ção do número de manipulações e educação da equipe quanto aos efeitos
deletérios destas práticas, com o objetivo de diminuir o estresse deste paci-
ente (Sousa et al., 2008). Um dos elementos essenciais para o atendimento
global e individual da criança gravemente enferma é a promoção do cui-
dado centrado no atendimento das necessidades do binômio criança-famı́lia
(Carvalho et al., 2004).
3. Métodos
Neste estudo realizou-se uma pesquisa qualitativa, com coleta de dados
por meio de entrevistas semi-estruturada, em hospitais da cidade de Lon-
drina, PR, no perı́odo 2007 a 2008. O projeto de pesquisa foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNOPAR, sob parecer no
0168/08, e segue os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Ética em Pesquisa.
A população do estudo foi composta por quatro profissionais com gra-
duação em fisioterapia e atuação profissional em UTI Pediátrica e Neonatal.
Neste tipo de estudo, a seleção da amostragem é determinada pela parti-
cipação de pessoas vinculadas ao tema investigado e a representatividade
pela possibilidade de abranger a totalidade do objeto em estudo em seus
diversos aspectos. O número de participantes não é estabelecido previa-
mente mas, sim, à medida que ocorre saturação das informações (Minayo,
1992).
220 Izumi et al.
4. Resultados e Discusão
Foram entrevistados quatro fisioterapeutas que atuam em UTI Pediátrica
e Neonatal, dois (50%) em UTI Pediátrica, um (25%) em UTI Neonatal e
um (25%) em UTI Pediátrica e Neonatal.
A idade dos participantes variou entre trinta e cinco e quarenta e cinco
anos, com média de quarenta e um anos. Dois (50%) eram do gênero
masculino e dois (50%) do feminino. O tempo de formação profissional
em fisioterapia em anos (TF), o tempo de atuação profissional em UTI
pediátrica e neonatal em anos (TA) e a carga horária semanal de trabalho
em UTI em horas (CH) estão apresentadas na Tabela 1.
A análise das entrevistas permitiu discutir sobre os seguintes temas
em UTI Pediátrica e Neonatal: o cuidado, as estratégias de fisioterapia, a
5. Considerações Finais
As entrevistas realizadas revelaram que o cuidado à criança crı́tica inter-
nada é global e de alta complexidade. Segundo os fisioterapeutas entrevis-
tados, os objetivos do cuidado de fisioterapia nas UTIs neonatal e pediátrica
estão relacionados com a preservação e a promoção da vida, e a prevenção
de complicações. Os cuidados de fisioterapia mais relatados foram as es-
tratégias respiratórias, com a finalidade de promoção da vida do pequeno
paciente. Outras estratégias também foram descritas como importantes:
as destinadas ao sistema osteo-mioarticular e circulatório, e a estimula-
ção do sistema neuropsicomotor. Os participantes da pesquisa reforçam a
necessidade de treinamento especializado para capacitá-los na tomada de
decisões e na avaliação e seleção de estratégias fisioterapêuticas.
Concluiu-se que os cuidados de fisioterapia ocorrem no âmbito fı́sico,
psicossocial e emocional, e podem contribuir para minimizar o estresse
destas crianças, principalmente os RNs, para a comunicação entre a equipe
de trabalho e a famı́lia, para as orientações a estes, e para a convivência
familiar em UTI que possibilita a assistência humanizada.
O estudo também destacou a evolução da atuação do fisioterapeuta na
equipe de trabalho na UTI pediátrica e neonatal. Hoje este profissional
é considerado membro efetivo e necessário para o tratamento da criança
crı́tica, e possui treinamento e habilidades especı́ficas para tal fim. Em tal
função, é imprescindı́vel que realize uma assistência global e humanizada.
226 Izumi et al.
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Notas Biográficas
1. Introdução
O desenvolvimento motor é a contı́nua alteração no comportamento motor
ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessida-
des da tarefa, a biologia do indivı́duo e as condições do ambiente (Gallahue
& Ozmun, 2005).
Os padrões do desenvolvimento expandem-se desde o inı́cio, no indivı́-
duo normal em crescimento, como uma unidade perfeitamente integrada.
Ao mesmo tempo normas parciais crescem no interior do padrão total e, por
um processo de individualização, adquire-se posteriormente vários graus de
independência (Diament & Cypel, 1996).
A intensa etapa de mudanças no perı́odo da infância é uma caracte-
rı́stica inerente ao ser humano. A criança reflete o dinamismo do seu pro-
cesso maturacional, expressando seu desenvolvimento por atos motores ou
comportamentos sucessivamente mais complexos, seguindo uma sequência
progressiva de estruturação do sistema nervoso (Caon & Ries, 2003).
Este processo de alteração no comportamento motor, o qual está re-
lacionado com a idade, ocorre tanto na postura quanto no movimento da
criança. Quando a criança nasce, o seu Sistema Nervoso Central (SNC)
ainda não está completamente desenvolvido. Ela percebe o mundo pelos
sentidos e age sobre ele, criando uma interação que se modifica no decorrer
do seu desenvolvimento. Deste modo, por meio de sua relação com o meio,
o SNC se mantém em constante evolução, em um processo de aprendizagem
que permite sua adaptação ao meio em que vive.
Um bom desenvolvimento motor repercute na vida futura da criança,
nos aspectos sociais, intelectuais e culturais. Assim, uma dificuldade mo-
tora faz com que a criança se refugie do meio que não domina, deixando
de realizar ou realizando com pouca frequência determinadas atividades
(Diament & Cypel, 1996).
Do ponto de vista neuropsicossensorial e motor, o desenvolvimento da
criança, depende do processo de maturação do SNC, principalmente no
primeiro ano de vida (Olhweiler et al., 2005).
No perı́odo de 3 a 6 anos de idade a criança adquire movimentos mais
controlados e coordenados, consegue se movimentar com certa habilidade
dando ritmo à coordenação de braço e perna, e, uma das principais carac-
terı́sticas é a espontaneidade e a naturalidade de seus gestos motores (Le
Boulch, 2001).
O aprendizado do movimento está envolvido em todas as atividades
motoras (correr, saltar, rolar, saltitar, entre outras) e capacidades fı́sicas
(força, resistência, velocidade). O enfoque deste aprendizado é o desenvol-
vimento motor (Mattos & Neira, 2000; Freire, 2001; Rodrigues & Amadeu,
2002).
Avaliação neuromotora em pré-escolares 231
2. Fundamentação Teórica
2.1 Desenvolvimento Neuropsicomotor
O desenvolvimento motor é fundamental, considerando que a criança de-
senvolve sua linguagem e cognição no intercâmbio com o ambiente, pela
exploração ativa, por meio da manipulação dos objetos, pela repetição das
ações, pelo domı́nio do próprio corpo e pelas relações que estabelece no
ambiente (Amaral et al., 2005).
O desenvolvimento da criança do ponto de vista neuropsicomotor de-
pende do processo de maturação do SNC (Olhweiler et al., 2005). A ma-
turação cerebral promove melhora nas funções motoras. Este desenvolvi-
mento está intimamente ligado às estimulações que a criança recebe do
meio ambiente em que está inserida. Assim, o ritmo próprio de cada cri-
ança pode variar conforme a qualidade das estimulações propiciadas pelos
meios sociais em que ela cresce (Bobbio et al., 2006).
O ambiente é uma importante fonte de informações com as quais as
crianças podem aprender a apreciar as experiências de aprendizagem do
movimento (Castanho & Assis, 2004). As fases evolutivas devem ser res-
peitadas, evitando ensinar à criança qualquer atividade antes que ela possa
estar madura para aprender (Martins & Moser, 1996).
As capacidades fı́sicas estão relacionadas com a forma que as crianças
utilizam seu próprio corpo, na expressão de suas emoções e na locomoção
de modo seguro, reconhecendo suas potencialidades corporais (Brandão,
2006).
Erckert (1993) e Rodrigues (2003) propõem um resumo sobre o desen-
volvimento das habilidades motoras das crianças de 3 a 6 anos, descrevendo
as mudanças que ocorrem de um ano para o outro nas diferentes habilida-
des, como se segue:
Andar: aos 3 anos a criança é capaz de andar para trás e andar nas pontas
dos pés, dos 3 aos 4 anos possui um andar mais coordenado, dos 4
aos 5 anos possui um andar firme e dos 5 aos 6 anos adquire maior
velocidade;
232 de Faria et al.
Correr: aos 3 anos corre sem controle adequado e tocando o pé por inteiro
no chão, dos 3 aos 4 anos tem um melhor controle e consegue correr
sobre a ponta dos pés, dos 4 aos 5 anos a passada é um pouco maior,
possui mais força e é bem controlada, e dos 5 aos 6 anos é capaz de
correr de modo eficiente nos jogos;
Pular com um dos pés, galopar e saltitar: aos 3 anos consegue
equilibrar-se em um dos pés e saltar para o alto, dos 3 aos 4 anos
salta com os dois pés de forma consecutiva, dos 4 aos 5 anos possui
ritmo no seu galope e dos 5 aos 6 anos salta mais de dez vezes
com um pé, possui melhor habilidade no galopar e saltita de forma
alternada;
Subir escadas: aos 3 anos sobe escadas e desce sozinha e sem alternância
dos membros inferiores, dos 3 aos 4 anos alterna os pés na subida, e,
com ajuda, na descida. Dos 4 aos 5 anos sobe e desce bem escadas e
dos 5 aos 6 anos sobe e desce escada de mão sozinha, alternando os
pés e dando ritmo ao movimento;
Pular: aos 3 anos o salto e o alcance são efetuados de forma rudimentar,
dos 3 aos 4 anos pula corda mais baixa que 2 cm e utiliza os braços
como estabilizadores, dos 4 aos 5 anos há um aumento na distância
e na altura do salto e utiliza os braços para ampliar a ação de forma
mais eficiente, e dos 5 aos 6 anos há um aumento contı́nuo relacionado
à distância e altura dos saltos;
Chutar: aos 3 anos consegue fazer contato com a bola enquanto anda, dos
3 aos 4 anos faz contato com a bola de forma direta pela frente, dos
4 aos 5 anos faz maior lançamento para trás e ajusta-se a bola e dos
5 aos 6 anos apresenta melhor coordenação na execução do chute;
Arremessar: aos 3 anos apresenta alguma força na ação do movimento
de arremessar, dos 3 aos 4 anos melhora a coordenação durante o ato
de arremesso, dos 4 aos 5 anos inclui ao movimento de arremessar a
rotação do tronco e dos 5 aos 6 anos faz a ação horizontal dos braços
junto com a rotação do tronco.
A criança é um ser dinâmico, em constante mudança, que apresenta
uma sequência previsı́vel e irregular de crescimento fı́sico e de desenvol-
vimento neurológico. Esta sequência sofre influências contı́nuas de forças
internas e externas, provocando variações de um indivı́duo para outro, tor-
nando o seu desenvolvimento individual. Desta forma, um ambiente pobre
de estı́mulos pode ter influência direta no desenvolvimento motor desta
criança (Castanho & Assis, 2004).
2.2 Psicomotricidade
A psicomotricidade constitui uma abordagem multidisciplinar do corpo e
da motricidade humana. Seu objeto é o sujeito humano total e suas relações
Avaliação neuromotora em pré-escolares 233
a sua faixa etária. Para que este trabalho seja eficiente é necessário oferecer
atividades direcionadas ao seu desenvolvimento psicomotor.
As unidades de educação infantil devem ir além da função de “guarda
e cuidado” e realizar um trabalho organizado com espaços adequados para
estimular o processo de desenvolvimento (motor, cognitivo, emocional e
social) das crianças (Silva & Bolsanello, 2002).
3. Método
Para a realização dos objetivos desta pesquisa foram selecionadas, aleato-
riamente, 80 crianças de ambos os sexos, com idade de 3 a 6 anos, de uma
pré-escola particular (escola A), e outra pública (escola B). Foram 40 cri-
anças de cada instituição, 20 crianças de cada faixa etária. As instituições
se localizam na região do Alto Tietê.
Os critérios de inclusão foram crianças com idade de 3 a 6 anos, de
ambos os sexos, matriculadas na instituição e com frequência regular. Os
critérios de exclusão foram crianças com idade inferior a 3 anos ou supe-
rior a 6 anos, comprometimento neurológico e/ou ortopédico, presença de
distúrbio visual, auditivo ou labirı́ntico.
Para a coleta dos dados utilizou-se o protocolo de avaliação baseado no
exame neurológico evolutivo de Lefèvre (1975). Aplicou-se testes especı́ficos
para cada faixa etária, para obter informações sobre o desenvolvimento
psicomotor (Anexo 1). Os materiais utilizados para a aplicação do exame
foram uma bola de 14 cm de diâmetro, uma corda de pular com madeira na
ponta, uma caixa de lápis de cor com 12 cores, papel sulfite, fita métrica,
fita adesiva, 10 cubos de 4 cm de aresta e uma escada com corrimão.
Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de
Mogi das Cruzes (CAAE 0051.0.237.000-07), encaminhou-se um ofı́cio as
diretoras de cada instituição solicitando a autorização para a realização da
pesquisa e explicando os objetivos da mesma. Posteriormente obteve-se
a assinatura dos responsáveis pelas crianças no termo de consentimento
livre e esclarecido, e, agendou-se uma data para explicação do protocolo
de avaliação. Então realizou-se a avaliação com o protocolo de Lefèvre,
aplicando-se testes especı́ficos para cada faixa etária.
A pontuação do exame varia de 1 a 3, a pontuação 1 é atribuı́da quando
a criança não consegue realizar a tarefa, a pontuação 2 quando a criança
realiza parcialmente e a pontuação 3 quando completa a tarefa.
De acordo com o protocolo, na avaliação das crianças de 3 anos, fo-
ram avaliados itens relacionados a equilı́brio estático, equilı́brio dinâmico
e coordenação apendicular. Na avaliação do equilı́brio estático realizou-se
a posição de Romberg (em pé com membros inferiores unidos e superiores
flexionados a 90o , e olhos abertos, permanecendo nesta posição por trinta
segundos). Na avaliação do equilı́brio dinâmico foram realizadas cinco ati-
vidades: andar em linha reta por cinco metros, subir escadas sem apoio,
238 de Faria et al.
4. Resultados
Os dados obtidos no presente estudo foram estruturados de acordo com as
faixas etárias avaliadas, comparando-se as duas escolas: escola A (particu-
lar) e escola B (pública). Os gráficos apresentados correspondem a linha
de base de cada atividade, da qual participaram 40 sujeitos de cada escola,
10 de cada faixa etária. Foi realizado o teste t para verificar possı́veis alte-
rações no desenvolvimento psicomotor de cada grupo, adotando p < 0, 05
como significância estatı́stica.
A Figura 1 representa a comparação dos resultados das atividades psi-
comotoras aplicadas nas crianças de 3 anos. Observa-se pequena diferença
no percentual e nas médias de uma escola para outra. Na comparação
do equilı́brio estático não houve diferença entre as escolas, obteve-se uma
pontuação de 100% correspondente a uma média 3. No equilı́brio dinâ-
mico a escola A obteve uma pontuação de 96%, correspondente a média
de 14,4 pontos, e a escola B 86%, correspondente a média de 12,9 pontos,
com diferença significativa entre as escolas (p= 0,005). Na comparação da
coordenação apendicular a escola A atingiu 99% (11,9 pontos em média)
e a escola B 90% (10,9 pontos em média) e também houve uma diferença
significativa (p=0,007).
Nesta faixa etária, a comparando-se todas as atividades, a escola A
obteve uma pontuação de 97% (29,3 pontos em média), e a escola B uma
pontuação de 89% (26,8 pontos), e houve diferença significativa entre as
escolas (p=0,0004).
A Figura 2 mostra a comparação dos resultados das atividades psico-
motoras realizadas nas crianças de 4 anos de idade entre as escolas A e B,
onde se observa uma pequena diferença no percentual e nas médias de uma
escola para outra.
No equilı́brio estático, a escola A obteve 96% (média de 2,9 pontos)
e a escola B 93% (média de 2,8) e não houve uma diferença significativa
(p=0,29). No equilı́brio dinâmico a escola A atingiu 92% (média de 8,3
240 de Faria et al.
pontos) e a escola B 87% (média de 7,9), e também não houve uma dife-
rença significativa (p=0,27). Na coordenação apendicular a escola A obteve
uma pontuação de 97% (média de 8,8 pontos) e a escola B uma pontua-
ção de 85% (média de 7,7 pontos), havendo uma diferença significativa
(p=0,0016). Na persistência motora a escola A obteve 96% (8,7 pontos) e
escola B 88% (8 pontos), não havendo uma diferença significativa (p=0,12).
Na comparação total entre as escolas, nesta faixa etária, obteve-se na
escola A uma pontuação de 95% (28,7 pontos em média), e na Escola B
88% (média de 26,4 pontos), havendo uma diferença significativa (p= 0,01).
A Figura 3 mostra a comparação dos resultados das atividades psico-
motoras realizadas nas crianças de 5 anos de idade entre as escolas A e B,
onde se observa uma pequena diferença no percentual e nas médias de uma
escola para outra.
No equilı́brio estático não houve diferença entre as escolas, obtendo uma
pontuação de 100%. No equilı́brio dinâmico a escola A obteve 98% (média
de 11,8 pontos) e a escola B 99% (11,9 pontos) e não houve uma diferença
significativa (p= 0,27). Na coordenação apendicular a escola A obteve
uma pontuação de 97%, correspondente a uma média de 8,8 pontos, e a
escola B 96%, 8,7 pontos e também não houve uma diferença significativa
(p= 0,33). Na comparação da persistência motora a escola A obteve uma
pontuação de 90% (média de 2,7 pontos) e a escola B 96% (2,9 pontos)
e não houve diferença significativa (p= 0,17). Na sensibilidade as duas
escolas obtiveram 100%.
Na comparação total entre as escolas, na idade de 5 anos, a escola A
obteve uma pontuação total de 97% (média de 29,3 pontos) e a escola
B uma pontuação de 98% (média de 29,5 pontos). Não houve diferença
significativa entre as escolas (p= 0,29).
A Figura 4 mostra a comparação dos resultados das atividades psico-
motoras realizadas nas crianças de 6 anos de idade entre as escolas A e B,
onde se observa uma pequena diferença no percentual e nas médias de uma
escola para outra. No equilı́brio estático as duas escolas obtiveram 100%.
No equilı́brio dinâmico a escola A obteve 93% (5,6 pontos) e a escola B
98% (5,9 pontos), havendo diferença significativa (p= 0,04). Na coorde-
nação apendicular a escola A obteve 97% (8,8 pontos) e a escola B 100%
(9 pontos), não havendo diferença significativa (p= 0,17). Na coordena-
ção tronco-membros não houve diferença entre as escolas, ambas atingiram
100%. Na sensibilidade a escola A obteve uma pontuação de 81% (média
de 7,3 pontos) e a escola B 82% (7,4 pontos), e também não houve diferença
significativa (p= 0,44).
Na comparação total entre as escolas nesta idade, a escola A obteve uma
pontuação de 92% (média de 27,7 pontos) e a escola B uma pontuação de
95% (média de 28,5 pontos), e não houve diferença significativa entre as
escolas (p= 0,10).
Avaliação neuromotora em pré-escolares 241
5. Discussão
No presente estudo avaliou-se 80 crianças, 46% do sexo feminino e 54%
do sexo masculino. No entanto, não se observou diferenças com relação
ao sexo nas atividades aplicadas. Bessa & Pereira (2002) ressaltam que é
importante respeitar as diferenças entre os sexos. Cada um apresenta um
ritmo diferente no desenvolvimento psicomotor. Os meninos desenvolvem o
equilı́brio e a coordenação motora bem mais cedo do que as meninas, porém
242 de Faria et al.
6. Conclusão
As avaliações foram realizadas em ambas as instituições e as diferenças mais
significantes nos resultados foram nas avaliações do equilı́brio dinâmico e
da coordenação apendicular, onde se observou maior pontuação na escola
A (particular) em relação à escola B (pública). Assim, deve-se orientar
dirigentes, professores e cuidadores para fornecer um estı́mulo adequado a
estas faixas etárias.
Sugere-se a realização de mais estudos referentes a este assunto, para
que os profissionais envolvidos com o desenvolvimento infantil conheçam a
importância da psicomotricidade como um recurso facilitador na aquisição
das habilidades neuromotoras.
Por todos estes conhecimentos é, hoje, imprescindı́vel que os profis-
sionais das áreas da saúde preocupem-se com o desenvolvimento global
do indivı́duo, pois não há aprendizagem do movimento sem um estı́mulo
adequado e contı́nuo.
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Avaliação neuromotora em pré-escolares 247
Notas Biográficas
Tereza Cristina Carbonari de Faria é Fisioterapeuta (FCNM, 1989), Mestre
em Reabilitação (UNIFESP-EPM, 2000) e Doutor em Neurologia/Neurociência
(UNIFESP-EPM, 2009). Atualmente é docente da Universidade de Mogi das
Cruzes (UMC).
1. Introdução
O acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) tem
papel fundamental na atenção à saúde da criança. Este processo
fundamenta-se na investigação do seu processo evolutivo. A ausência de
determinados comportamentos, esperados em idades especı́ficas, ou a per-
sistência de sua presença após idades em que deveriam ter desaparecido,
assim como certas caracterı́sticas habituais nas respostas das crianças, po-
dem indicar um atraso na sua maturação.
Analisar adequadamente o desenvolvimento permite avaliar o grau de
maturidade e a integridade funcional do sistema nervoso, possibilitando a
intervenção precoce. Esta intervenção é necessária para readequar a criança
em seu processo natural, que inclui, além do crescimento, a maturação, a
aprendizagem e os aspectos psı́quicos e sociais.
A infância é uma das fases da vida onde ocorrem as maiores modifica-
ções fı́sicas e psicológicas do corpo. Estas mudanças caracterizam o cresci-
mento e o desenvolvimento infantil, e necessitam de acompanhamento para
delimitar as condições de saúde e vida da criança. Isto visa a promoção e
a manutenção na atenção da saúde, bem como intervir sobre fatores capa-
zes de comprometê-la (Carabolante & Ferriani, 2003). Para acompanhar
o desempenho psicomotor é necessário ter conhecimento adequado sobre
o processo dinâmico de cada etapa evolutiva do desenvolvimento normal
da criança. Em cada uma destas há dados semióticos diferentes e com
diferentes significações (Rotta & Pedroso, 2004).
O desenvolvimento motor atı́pico ou as crianças que apresentam maior
risco de atrasos merecem atenção e ações especı́ficas, pois os problemas
de coordenação e controle do movimento poderão se prolongar até a fase
adulta. Além disto, atrasos motores frequentemente associam-se a prejuı́-
zos psicológicos e sociais, como baixa auto-estima, isolamento, hiperativi-
dade, entre outros, atrapalhando a vida e o desempenho escolar (Willrich
et al., 2009; Miranda et al., 2003).
A aquisição das habilidades motoras e a identificação de anormalidades
no desenvolvimento motor são aspectos de destaque em várias pesquisas
que buscam avaliar o desenvolvimento integral da criança. Estas pesquisas
tentam estabelecer o diagnóstico e o prognóstico de crianças que apresen-
tam algum distúrbio ou dificuldade no desempenho, antecipando a inter-
venção precoce necessária. Entretanto, é notório o fato de que pesquisas
sobre o crescimento fı́sico são mais frequentes do que as referentes ao desen-
volvimento. Portanto, a realização de estudos que acompanhem o DNPM é
importante para o conhecimento dos padrões que se estabelecem à medida
que a sociedade evolui juntamente com a grande influência tecnológica.
Este capı́tulo apresenta um estudo que teve como objetivos verificar o
perfil psicomotor de crianças de 2 a 7 anos de idade matriculadas em esco-
las públicas da rede municipal de uma cidade do interior do Estado do Rio
Análise sequencial do desenvolvimento neuropsicomotor infantil 253
2. Fundamentação Teórica
2.1 Aquisição e desenvolvimento psicomotor
O desenvolvimento infantil é um processo sequencial, relacionado à idade
cronológica, originado pela interação entre os requisitos das atividades, a
biologia do indivı́duo e as condições ambientais. Além disto, influenci-
ado pelas mudanças sociais, intelectuais e emocionais (Gallahue & Ozmun,
2005; Rosa Neto et al., 2010). Na aquisição motora, Haywood & Getchell
(2004) afirmam que o ser humano adquire uma grande quantidade de mo-
vimentos simples e desorganizados, mas na medida em que experimenta e
pratica, estes se tornam habilidades motoras organizadas e complexas.
Cada nova aquisição influencia as anteriores, tanto no domı́nio mental,
como no domı́nio motor. Isto valoriza as relações com o meio, através da
adaptação às novas circunstâncias vividas e experimentadas.
O desenvolvimento motor pode ser visto pelo desenvolvimento progres-
sivo das habilidades de movimento, ou seja, a abertura para o desenvolvi-
mento motor é dada através do comportamento de movimento observável
do sujeito (Gallahue & Ozmun, 2005). No desenvolvimento infantil ocorre
a interação indivı́duo, ambiente e tarefa, com os domı́nios cognitivo, afetivo
e motor. O processo de desenvolvimento motor ocorre em fases sucessivas
de movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados. Para
cada fase do processo de desenvolvimento motor são indicados estágios com
idades cronológicas correspondentes.
Segundo Gallahue & Ozmun (2005) os movimentos podem ser caracte-
rizados como: estabilizadores, locomotores e manipulativos. Eles se com-
binam na execução das habilidades motoras ao longo da vida. Nos movi-
mentos estabilizadores, a criança é envolvida em constantes esforços contra
a força da gravidade na tentativa de obter e manter a postura vertical.
É através desta dimensão que ganham e mantém um ponto de origem na
exploração que realizam no espaço. No primeiro ano de vida, os marcos re-
lacionados à estabilidade são: o controle cervical aos três meses, o controle
de tronco superior e a postura sentada aos seis meses, e o ficar em pé com
ampla base de apoio aos dez meses.
No ENE a avaliação da estabilidade utiliza testes classificados como de
equilı́brio estático. No segundo ano de vida estes movimentos são represen-
tados pela diminuição na base de apoio evoluindo aos dois anos para pés
paralelos e perpendiculares ao quadril. Aos três anos realiza a posição de
Romberg de olhos abertos e aos quatro anos de olhos fechados. Aos cinco
anos realiza apoio plantar com a ponta de um pé no calcanhar do outro,
254 Winkelmann et al.
com os olhos abertos e aos seis anos a mesma posição com os olhos fecha-
dos. Aos sete anos esta habilidade se completa com a posição ortostática
em apoio uni podal durante trinta segundos e agachamento com apoio bi
podal, calcanhares unidos e membros superiores abertos durante dez se-
gundos. Destaca-se que em um ano a criança adquire o controle com os
olhos abertos, e no próximo com os olhos fechados.
Na Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) proposta por Rosa Neto
(2002) os marcos são parecidos, o autor preconiza uma prova por idade
e destaca que aos dois anos a criança permanece em pé sobre um banco
de quinze centı́metros, aos três anos faz o semi-ajoelhado, aos quatro faz
inclinação anterior do tronco, aos cinco fica na ponta dos pés, aos seis faz
apoio uni podal e aos sete fica na posição de cócoras. O autor continua
até os onze anos. Aos oito anos a criança deve ficar na posição de avião de
olhos abertos na ponta dos pés, aos nove anos na posição uni podal com
membro inferior contra lateral cruzado (fazendo um “quatro”), aos dez anos
ficar na ponta dos pés de olhos fechados e aos onze anos em apoio uni podal
de olhos fechados.
A segunda categoria de movimentos refere-se aos locomotores. Gallahue
& Ozmun (2005) referem-se aos movimentos que indiquem uma mudança
na localização do corpo em relação a um ponto fixo na superfı́cie. No
primeiro ano observa-se o rolar aos seis meses, o arrastar aos oito meses,
o engatinhar aos nove meses e a marcha aos doze meses. Outras tarefas
locomotoras são: subir escadas, correr, saltar, pular ou saltitar.
A locomoção no segundo ano é avaliada pelo ENE com a marcha cru-
zada com dissociação de cinturas, a capacidade de deslocar-se puxando um
carrinho, o subir e descer escadas sem apoio e correr livremente. No ter-
ceiro ano observa-se que a criança consegue andar em uma linha reta, puxar
o carrinho andando para trás e correr contornando obstáculos. No quarto
ano consegue subir e descer escadas alternando os pés. No quinto corre e
salta com os pés unidos uma corda em uma altura de trinta centı́metros,
salta e gira meia volta sem desviar do lugar de origem, se desloca cinco
metros pulando com os pés juntos, se desloca cinco metros pulando sobre
um só pé e salta para um lado e depois para outro. Aos seis anos anda
para trás colocando o calcanhar de um pé encostado na ponta de outro
por dois metros e se desloca cinco metros pulando somente sobre o pé não
dominante. Aos sete anos consegue pular alto e bater palmas duas vezes
antes de encostar-se ao chão. Aos oito anos salta quarenta centı́metros,
aos nove anos salta e toca os calcanhares, aos dez anos desloca-se chutando
uma caixa de fósforos por cinco metros e aos onze anos salta sobre uma
cadeira.
A relação entre estabilidade e mobilidade é importante no estudo do
desenvolvimento. A observação clı́nica demonstra que a criança adquire
uma habilidade ao consolidar outra. Assim, ao conseguir equilibrar-se em
supino e prono adquire a postura sentada, e ao adquirir equilı́brio sentado é
Análise sequencial do desenvolvimento neuropsicomotor infantil 255
3. Metodologia
Este estudo é do tipo retrospectivo, longitudinal, descritivo e observacional.
Foram realizadas análises em banco de dados, a partir das avaliações re-
alizadas pelo projeto de extensão “Acompanhamento do Desenvolvimento
Neuropsicomotor em Crianças”, do curso de Fisioterapia do Departamento
de Ciências da Vida da Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).
O estudo foi desenvolvido em conformidade com a resolução no 196/96
do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo
seres humanos, e foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-
quisa da UNIJUÍ (protocolo no 0106/2010).
A amostra foi composta de crianças selecionadas de forma aleatória, de
ambos os gêneros, na faixa etária de 2 a 7 anos, matriculadas em quatro
escolas municipais de educação infantil do municı́pio de Ijuı́, RS, nos anos
de 2008, 2009 e 2010. Foram excluı́das crianças com história de patologias
neuromusculares que pudessem causar atrasos no desenvolvimento.
A partir deste banco de dados foram identificadas 879 crianças. Entre-
tanto, destas, 8 foram excluı́das por não cooperarem durante a execução
da avaliação, restando uma amostra final de 871 crianças.
258 Winkelmann et al.
por cinco metros, andar para trás puxando um carrinho por cinco metros,
subir e descer escadas sem apoio, correr contornando obstáculos, apanhar
um objeto do chão com uma mão, construir torre com nove cubos ou mais,
copiar um traço vertical, jogar uma bola por cima do examinador, teste de
levar o indicador ao nariz (com os olhos abertos) na posição ortostática e
com os membros superiores abduzidos horizontalmente, chutar uma bola
observando o pé escolhido.
As variáveis coletadas aos quatro anos foram: fala com superação de
todas as etapas (palavra-frase, agramatical e dislalias de supressão), po-
sição de Romberg durante trinta segundos de olhos fechados, andar nas
pontas dos pés por cinco metros, subir e descer escadas sem apoio alter-
nando os pés, virar páginas de livros, copiar uma cruz, teste de levar o
indicador ao nariz com os olhos fechados, fazer uma bolinha de papel com
a mão dominante, enrolar um fio de carretel, manter olhos fechados por
vinte segundos, manter a boca aberta durante quarenta segundos, manter
a lı́ngua protusa com os olhos abertos por quarenta segundos, reconhecer
posições segmentares (abaixo, acima e laterais), reconhecer objetos famili-
ares, reconhecer as cores branca e preta, observar a preferência lateral dos
olhos, ouvidos, mãos e pés, recortar sobre uma linha reta.
As variáveis coletadas aos cinco anos foram: fala com superação de
todas as etapas (palavra-frase, agramatical, dislalia de supressão, adição
e troca), em posição ortostática com apoio plantar e a ponta de um pé
encostado no calcanhar do outro, com os olhos abertos, por dez segundos,
andar para frente colocando o calcanhar de um pé na ponta do outro por
uma distância de dois metros, correr e saltar uma corda fixada a uma altura
de trinta centı́metros, saltar com os pés unidos uma corda fixada a uma
altura de trinta centı́metros, saltar e girar meia volta sem desviar do lugar
de origem, deslocar-se cinco metros pulando com os pés juntos, deslocar-
se cinco metros pulando sobre um só pé, saltar para um lado e depois
para o outro, copiar um cı́rculo, copiar um quadrado, jogar uma bola em
um alvo estabelecido a uma distância de dói s metros, sentado bater os
pés alternados num ritmo solicitado, tocar com a ponta do polegar todos
os dedos, abrir uma mão e fechar a outra por dez segundos, reconhecer
todas as cores, manter a lı́ngua protusa com os olhos fechados por quarenta
segundos, observar a preferência lateral dos olhos, ouvidos, mãos e pés.
As variáveis coletadas aos seis anos foram: fala com superação de todas
as etapas, em posição ortostática a ponta de um pé encosta no calcanhar
do outro, com os olhos abertos, por dez segundos, andar para trás colo-
cando o calcanhar de um pé encostado na ponta do outro por dois metros,
deslocar-se cinco metros pulando somente sobre o pé não dominante, bra-
ços estendidos horizontalmente para os lados descrevendo cı́rculos no ar
com os dedos indicadores por dez segundos, andar e enrolar um carretel no
dedo indicador da mão dominante, reconhecer as cores, bater o indicador
direito na mesa e o pé direito no chão ao mesmo tempo, alternado-os com
260 Winkelmann et al.
os esquerdos por dez segundos, em pé forçar o tronco para trás e obser-
var se realiza a flexão de joelho, reconhecer os dedos, reconhecer direita e
esquerda, observar a preferência lateral dos olhos, ouvidos, mãos e pés.
As variáveis coletadas aos sete anos foram: fala com superação de todas
as etapas, posição ortostática, sobre um pé durante trinta segundos, posi-
ção ortostática com apoio plantar sobre um pé e braços ao lado do corpo,
realizando a flexão do joelho durante dez segundos, agachado com apoio bi
podal, calcanhares unidos e membros superiores abertos durante dez segun-
dos, sentar equilibrando uma régua no dedo indicador por dez segundos,
pular alto e bater palmas duas vezes antes de encostar-se ao chão, copiar
um losango; repetir as batidas manuais do avaliador conforme seis ritmos
padronizados e diferenciados imitando batidas na mesa, reconhecer as co-
res, passar das posições deitado para sentado e para em pé, olhar externo
lateral para a esquerda mantido por trinta segundos, olhar externo lateral
para a direita mantido por trinta segundos, membros superiores para frente
com dedos afastados e polegares de cada mão separados a um centı́metro
por trinta segundos, observar a preferência lateral de olhos, ouvidos, mãos
e pés.
Os dados foram analisados no pacote estatı́stico SPSS (versão 18.0,
Chicago, IL, EUA), atribuindo-se 1 ponto para o padrão presente (acerto)
e 0 ponto para o ausente (alterado) na avaliação do DNPM. Na pontuação
média de acertos (MA) nos testes por idade, valores inferiores a 1 mos-
traram que a criança não conseguiu realizar corretamente todos os testes
de sua faixa etária. Os dados descritivos foram apresentados como média
desvio padrão e percentagem. Os dados foram analisados pelo teste de
multivariância, considerando como significativo um p ≤ 0, 05.
4. Resultados
Foram realizadas 871 avaliações em crianças com idade média de 4,44±1,42
anos, em três anos consecutivos. Ocorreram 324 avaliações em 2008, 379
em 2009, e 168 em 2010. A Tabela 1 mostra o número de escolares em
cada faixa etária, de acordo com ano de participação na pesquisa.
As crianças avaliadas possuem um bom DNPM independente da idade
avaliada e mantém o padrão deste desenvolvimento nos três anos consecu-
tivos (Tabela 2 e Figura 1). A média de acertos dos testes de dois a sete
anos foram 0,93±0,03 (2008), 0,89±0,02 (2009), 0,92±0,04 (2010).
No ano de 2008, o pior desempenho foi na faixa etária dos seis anos.
Nos anos de 2009 e 2010 os piores desempenhos nas faixas etárias de dois,
três e seis anos.
Análise sequencial do desenvolvimento neuropsicomotor infantil 261
5. Discussão e Conclusões
Neste estudo observou-se que em geral as crianças que frequentam esco-
las municipais de educação infantil em uma cidade do interior do estado
262 Winkelmann et al.
Agradecimentos
Os autores agradecem a colaboração das escolas de educação infantil do
municı́pio de Ijuı́, RS, e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
tı́fico e Tecnológico – CNPq pelo auxı́lio na pesquisa através da bolsa de
iniciação cientı́fica PIBIC/CNPq.
Referências
Amorim, R.C.A.; Laurentino, G.E.C.; Barros, K.M.F.T.; Ferreira,
A.L.P.R.; Filho, A.G.M. & Raposo, M.C.F., Programa de saúde da
Análise sequencial do desenvolvimento neuropsicomotor infantil 265
Notas Biográficas
Eliane Roseli Winkelmann é Mestre em Ciências Biológicas (UFRGS,
2003) e Doutor em Ciências da Saúde (UFRGS, 2008). Atualmente é docente
da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.
1. Introdução
O desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) vem sendo tema de várias
pesquisas nos últimos anos. Nos primeiros anos de vida a criança passa
pelo perı́odo mais crı́tico do desenvolvimento do sistema nervoso central
(SNC) e vários fatores podem interferir neste processo.
No momento do nascimento, mesmo no nascimento a termo, o bebê
ainda não tem todos os seus sistemas corporais completamente desenvol-
vidos e estes continuam a desenvolver-se durante toda a infância até a
adolescência. O desenvolvimento normal nos primeiros anos de vida se dá
em uma sequência ordenada, permitindo certa previsão do que se pode
esperar de acordo com a idade da criança. Porém, cada criança é única
e apresenta um padrão caracterı́stico de desenvolvimento que depende de
inúmeros fatores, como nı́vel socioeconômico familiar, ambiente (Halpern
et al., 1996; Knoche et al., 2006; Resegue et al., 2007; Pilz & Shermann,
2007; Saccani et al., 2007), estado nutricional (Guardiola et al., 2001), des-
nutrição materna (Engstrom & Anjos, 1999), quantidade de estı́mulos que
a criança recebe (Souza et al., 2008), idade gestacional (IG) (Resegue et al.,
2007), ambiente escolar, peso ao nascimento (Miranda et al., 2003), entre
outros.
Para Sabatés & Mendes (2007) todo ser humano nasce com potencial
genético de crescimento e desenvolvimento, que poderá ou não ser alcan-
çado, dependendo das condições de vida que lhe sejam propiciadas. O inı́cio
da fase escolar é uma etapa importante de aquisição e aperfeiçoamento de
habilidades motoras e combinação destas, que permitirão que a criança
desenvolva o domı́nio corporal em diferentes posturas e movimentos.
O aumento no sedentarismo, acompanhado pelos péssimos hábitos ali-
mentares, fruto desta época industrializada, vem fazendo crescer significa-
tivamente os ı́ndices de sobrepeso e obesidade na população infantil, o que
é demonstrado por vários estudos (Biscegli et al., 2007; Salomons et al.,
2007; Berleze et al., 2007).
Assim como a desnutrição (Guardiola et al., 2001), a obesidade (Conti
et al., 2005) também pode acarretar problemas no desenvolvimento e cres-
cimento das crianças. Por isto, além de observar o DNPM de crianças de
2 a 6 anos, e os principais déficits apresentados em cada idade, este estudo
também buscou verificar a presença de alterações nutricionais nos escolares
e relacionar o estado nutricional com o DNPM.
2. Fundamentação Teórica
2.1 Desenvolvimento neuropsicomotor
Segundo Burns & MacDonald (1999), o desenvolvimento é um processo de
mudanças complexas e interligadas das quais participam todos os aspectos
de crescimento e maturação dos aparelhos e sistemas do organismo. O
Correlações entre o desenvolvimento neuropsicomotor e o estado nutricional infantil 271
desenvolvimento, de acordo com Souza et al. (2008), não pode ser aferido
com precisão, pois seu entendimento e definição dependem do referencial
teórico que se queira adotar e dos aspectos que se quer abordar.
Para Morais et al. (2005), a aquisição de novas habilidades está dire-
tamente relacionada não apenas à faixa etária da criança, mas também às
interações vividas com outros seres humanos do seu grupo social. Miranda
et al. (2003) citam um conceito mais amplo, que diz que o desenvolvimento
infantil é um processo que se inicia desde a vida intrauterina e envolve
vários aspectos, como o crescimento fı́sico, a maturação neurológica e a
construção de habilidades relacionadas ao comportamento, às esferas cog-
nitiva, social e afetiva da criança.
Os primeiros observadores da motricidade infantil registraram cada um
dos progressos verificados no desenvolvimento de lactentes e crianças, des-
crevendo as suas atividades e registrando a idade de inı́cio de determinadas
formas de comportamento (Shepherd, 1996). A criança é um ser dinâmico,
complexo, em constante transformação, que apresenta uma sequência pre-
visı́vel e regular de crescimento fı́sico e de DNPM. De acordo com Coitinho
et al. (2002), este desenvolvimento sofre a influência contı́nua de fatores
intrı́nsecos e extrı́nsecos que provocam variações de um indivı́duo para ou-
tro e que tornam único o curso do desenvolvimento de cada criança. Para
o autor, os fatores intrı́nsecos são aqueles que determinam caracterı́sticas
fı́sicas e outros atributos geneticamente determinados, e os extrı́nsecos são
todos os fatores que influenciam o desenvolvimento desde a vida intraute-
rina como condições de saúde, nutrição e bem estar emocional da mãe, até
a vida pós-natal, que compreende estı́mulos que a criança recebe.
Para Flehmig (2000), o desenvolvimento ocorre por uma adaptação a
estı́mulos externos, sendo que o organismo e o meio ambiente são depen-
dentes um do outro neste processo. Todos os aspectos que fazem parte da
vida da criança, desde os cuidados e carinho dos pais para com ela, alimen-
tação e estı́mulos, fazem parte também do processo de maturação desta,
levando-a da dependência à independência.
necessárias para o desempenho das tarefas funcionais nas mesmas três áreas
descritas anteriormente.
Dentre as avaliações padronizadas que avaliam o pré-escolar e o es-
colar (3 a 7 anos), pode-se ainda citar o ENE desenvolvido por Lefèvre
(1972) e padronizado em crianças brasileiras. O ENE foi padronizado no
Brasil por Coelho (1999) e se constitui num conjunto de 124 provas que
são divididas em blocos que compõe os exames da fala, do equilı́brio está-
tico, do equilı́brio dinâmico, da coordenação apendicular, da coordenação
tronco-membro, das sincinesias, da persistência motora, do tono muscular
e da sensibilidade. Em cada exame as provas são distribuı́das desde as de
mais fácil execução às mais difı́ceis, sendo divididas em grupo por idade,
subentendendo-se que a criança aos sete anos seja capaz de realizar todas
as provas selecionadas. A avaliação é realizada individualmente e a criança
recebe os escores: “passou” quando conseguiu realizar o que foi solicitado
ou “falhou”, quando não foi capaz de realizar a solicitação.
O protocolo utilizado na presente pesquisa, desenvolvido por Coelho
(1999), contém provas para crianças na faixa entre 0 e 12 meses e também
para crianças entre 15 meses a 7 anos de idade. Este último é composto por
provas para exame da fala, do equilı́brio estático, do equilı́brio dinâmico, da
coordenação apendicular, da coordenação tronco-membros, da persistência
motora e da sensibilidade. Segundo Coelho (1999), não estão incluı́dos
testes para o exame de tônus muscular, pois este é feito indiretamente,
já que o desempenho na realização das provas requer um bom equilı́brio
sinérgico, o que não acontece quando a criança apresenta alguma alteração
patológica do tônus muscular.
3. Metodologia
Foi realizado um estudo do tipo observacional transversal com crianças de
2 a 6 anos regularmente matriculadas em Escolas Municipais de Educação
Infantil (EMEI) de Ijuı́, RS no ano de 2009. Foram selecionadas através
de sorteio duas escolas com disponibilidade para a avaliação do desenvolvi-
mento e dados nutricionais atualizados. Foram incluı́das todas as crianças
na faixa etária estipulada cujos pais assinaram o termo de consentimento,
totalizando uma amostra de 137 crianças, sendo 67 da escola A e 70 da
escola B. Foram excluı́das da pesquisa, crianças com história de qualquer
patologia que pudesse causar atrasos no desenvolvimento. Foram coleta-
dos dados referentes à idade, sexo, altura, peso, dados nutricionais e do
desenvolvimento motor.
O DNPM das crianças foi avaliado e comparado através dos testes
previstos no exame neurológico evolutivo (ENE) (Coelho, 1999), o qual
avalia fala, equilı́brio estático, equilı́brio dinâmico, coordenação apendi-
cular, coordenação tronco-membros, persistência motora, sensibilidade e
lateralidade da criança de acordo com a faixa etária (Anexo 1).
O estado nutricional das crianças foi determinado pelo Índice de Massa
Corporal (IMC) utilizando as tabelas de escore-Z da Organização Mundial
276 Hack et al.
4. Resultados
Das 137 crianças que participaram do estudo, 77 (56,20%) eram do sexo
feminino e 60 (43,80%) do sexo masculino. Das 67 crianças da escola A,
38 (56,72%) eram meninas e 29 (43,28%) eram meninos. Na escola B, do
total de 70 crianças, 39 (55,71%) eram meninas e 31 (44,29%) meninos.
Observando-se a Tabela 1, pode-se notar que o desempenho das crianças
nas diferentes idades foi semelhante e adequado para a idade, em média
ocorreram 91% de acertos dos testes. Merecem destaque as crianças na
idade de 2 anos, que alcançaram o melhor desempenho, obtendo em média
98% de acertos.
Considerando o número de crianças que não conseguiram executar cada
teste da avaliação do DNPM foi possı́vel perceber os principais déficits
apresentados pelas crianças em cada idade. Aos 2 anos o teste que obteve
menor número de acertos foi a fala (frase agramatical), que foi realizado
com sucesso por 12 (86%) das 14 crianças avaliadas, aos 3 anos construir
torres com 9 cubos ou mais foi o teste de maior dificuldade e foi realizado
por 15 (75%) das 20 crianças avaliadas, aos 4 anos 22 crianças (79%) sou-
beram conhecer cores como o branco e o preto, aos 5 anos denominar todas
as cores foi conseguido com êxito por apenas 30 crianças (70%) das 43 ava-
liadas nesta faixa de idade e aos 6 anos a maior dificuldade se mostrou
no reconhecimento dos lados direito e esquerdo, o que somente 20 crianças
(63%) conseguiram fazer.
Os testes propostos pelo ENE (Coelho, 1999) são divididos em habili-
dades: fala, equilı́brio estático e dinâmico, coordenação apendicular e de
tronco-membros, persistência motora e sensibilidade. Conforme observado
na Tabela 1, algumas crianças não conseguiram realizar 100% dos testes,
comprometendo algumas habilidades.
Na idade de 2 anos, somente 2% das crianças não realizaram todos os
testes, aos 3 anos, a percentagem de crianças que não realizaram todos os
testes aumentou para 12% e aos 4 anos, 8% das crianças não realizaram
todos os testes, sendo que nestas três faixas etárias a fala foi a habilidade
mais comprometida (Tabela 2). Na idade dos 5 anos, 9% das crianças
não completaram todas as provas correspondentes a sua faixa etária e a
habilidade mais comprometida foi a sensibilidade. Por fim, aos 6 anos, a
habilidade mais comprometida foi a coordenação tronco-membros e nesta
faixa etária a percentagem de crianças que não realizaram todas as provas
foi de 13%
O estado nutricional foi classificado como baixo IMC para a idade,
normal ou eutrófico, sobrepeso e obesidade, onde se pode observar grande
prevalência de sobrepeso e obesidade, totalizando 30,66% das crianças (Ta-
bela 3). Por outro lado, das 137 crianças avaliadas, apenas uma foi classifi-
cada como IMC baixo para idade. Quando relacionamos o estado nutricio-
nal com a faixa etária, notamos que em todas as idades houve predomı́nio
do estado nutricional eutrófico. O sobrepeso esteve presente em maior
quantidade na faixa de 5 e 6 anos e a obesidade aos 3 anos (Tabela 4).
A distribuição do estado nutricional por sexo mostrou que o sobrepeso
prevaleceu nas crianças do gênero feminino correspondendo a 17 (60,71%) e
a obesidade esteve presente em maior escala nos meninos, correspondendo
a 14 crianças (57,14%). O baixo IMC esteve presente somente em 1 criança
e esta era do gênero masculino.
Com o objetivo de verificar se existe alguma relação entre o desem-
penho motor e o status nutricional das crianças avaliadas, foi realizado o
teste de correlação de Pearson. A análise estatı́stica demonstrou que a
obesidade está relacionada negativamente com o desempenho motor (r =
-0,94), ou seja, quanto mais obesa, pior o desempenho motor. Esta corre-
lação somente foi feita entre crianças eutróficas e acima do peso ideal, pois,
conforme citado anteriormente, somente uma criança foi classificada como
estando abaixo do peso ou com baixo IMC.
5. Discussão e Conclusões
O presente estudo avaliou 137 crianças de 2 a 6 anos de idade quanto ao seu
desenvolvimento neuropsicomotor e seu estado nutricional e demonstrou
que em geral as crianças avaliadas obtiveram um bom desempenho nos
testes executados em cada idade, apresentando um DNPM considerado
normal. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Zilke
et al. (2009) que utilizaram o mesmo protocolo deste estudo, assim como
por Souza et al. (2008) e Biscegli et al. (2007) que avaliaram através do
protocolo de Denver II, Guardiola et al. (2001) que utilizaram o Exame
Neurológico Evolutivo (ENE) e Caetano et al. (2005) que avaliaram pela
EDM. Por outro lado, Halpern et al. (1996) e Saccani et al. (2007) através
do protocolo de Denver verificaram um atraso de DNPM.
Porém, nem todas as crianças conseguiram completar com destreza
todos os testes propostos neste estudo, sendo possı́vel observar que algu-
mas habilidades apresentaram-se mais comprometidas, tais como a fala,
a coordenação tronco-membros e a sensibilidade. O estudo de Guardiola
et al. (2001) que avaliaram crianças da 1a série do ensino fundamental
em Porto Alegre, utilizando como protocolo o ENE também encontraram
desempenho normal na maioria das crianças, mas destacaram como prin-
cipais déficits as habilidades de sensibilidade e coordenação apendicular.
Outros estudos envolvendo crianças menores de 6 anos de idade, como o de
Biscegli et al. (2007) e Saccani et al. (2007) utilizando o protocolo de Den-
ver, também detectaram suspeitas de atrasos em algumas crianças, sendo
a linguagem a área mais acometida.
Para Cury & Magalhães (2006) o equilı́brio estático e dinâmico são
fundamentais para a aquisição e manutenção da postura ortostática e para
a realização de várias tarefas do dia-a-dia, incluindo a deambulação. No
presente estudo, tais habilidades mostraram-se bem desenvolvidas em todas
as idades avaliadas. Porém, Caetano et al. (2005) que avaliaram 35 crianças
entre 3 e 7 anos de idade em uma escola particular de Rio Claro, SP,
encontraram dificuldades na realização dos testes de equilı́brio entre as
crianças de 5 e 6 anos, afirmando que nesta faixa etária as crianças passam
por uma fase de instabilidades no desempenho de tarefas de equilı́brio, o
que não pôde ser observado na presente pesquisa.
Neste estudo a coordenação apendicular foi avaliada através de testes
especı́ficos para cada idade como, rabiscar uma folha de papel, copiar um
traço reto ou uma cruz, construir torres com cubos de madeira, virar as
páginas de um livro, entre outros, sendo que as crianças desta pesquisa
conseguiram realizar com sucesso a maior parte destes testes (88 a 100%).
Porém, na pesquisa de Bobbio (2006) que avaliou somente a habilidade da
coordenação apendicular de crianças de primeira série do ensino fundamen-
tal em escolas públicas e particulares por meio do ENE, encontrou 73,3%
das crianças da escola pública com esta habilidade inadequada, contra ape-
280 Hack et al.
Referências
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brepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões sudeste e
nordeste. Jornal de Pediatria, 78(4):335–340, 2002.
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Desempenho Humano, 9(2):134–144, 2007.
Biscegli, T.S.; Pollis, L.B.; Santos, L.M. & Vicentin, M., Avaliação do
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frequentadoras de creche. Revista Paulista de Pediatria, 25(4):337–
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Bobbio, T.G., Avaliação da coordenação apendicular em escolares de dois
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Caetano, M.J.D.; Silveira, C.R.A. & Gobbi, L.T.B., Desenvolvimento mo-
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Cineantropometria & Desempenho Humano, 7(2):5–13, 2005.
Correlações entre o desenvolvimento neuropsicomotor e o estado nutricional infantil 283
Notas Biográficas
6 anos
1. ( ) fala - supera etapas
2. ( ) em pé apoio plantar ponta de um pé encosta calcanhar outro
3. ( ) andar para trás colocando o calcanhar de 1 pé na ponta do outro 2m
4. ( ) 5 m pulando num pé só (pé no dominante)
5. ( ) braços estendidos para os lados descreve círculos c indicadores
6. ( ) andar e enrolar linha do carretel no indicador (mão dominante)
7. ( ) bater indicador direito na mesa e pé direita no chão ao mesmo tempo
8. ( ) alternando com esquerda
9. De pé: ( ) examinar força do tronco para trás e observa o joelho
10. ( ) reconhecimento dos dedos
11. ( ) reconhecimento de direita/esquerda: ( ) lateralidade direita ( ) esquerda.
Obs.:
Capítulo 16
1. Introdução
Os espaços fı́sicos amplos e seguros são aconselhados para a realização
das atividades com crianças com necessidades especiais como forma de
prevenção de possı́veis acidentes (Diehl, 2006).
Ressalta-se a importância do desenvolvimento de uma polı́tica de edu-
cação inclusiva na escola, que proporcione possibilidades de intervenções
pedagógicas. É fundamental capacitar o corpo docente e a equipe pedagó-
gica para a inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular.
Além disto, é necessário criar as condições para um espaço acessı́vel e que
não ofereça impedimento à participação em todas as atividades escolares
(Porter & Richler, 1991).
O fisioterapeuta tem o papel de instruir o professor sobre o posiciona-
mento adequado para determinada deficiência fı́sica, assim como orientá-lo
na seleção e uso de equipamentos, mobiliários, dispositivos de suporte e
adaptações. Também cabe ao fisioterapeuta a orientação sobre a facilita-
ção dos padrões posturais, bem como sobre as condições de funcionalidade
do aluno, tanto no ambiente de sala de aula quanto em atividades extra-
classe (Garavelo et al., 2006).
Assim, o objetivo geral deste capı́tulo é analisar a acessibilidade do Por-
tador de Necessidade Especial (PNE) em escolas do ensino fundamental e
médio da rede pública do Alto Tietê, Estado de São Paulo. Como objetivos
especı́ficos verificou-se a incidência de escolas estaduais com acessibilidade
para pessoas portadoras de necessidades especiais dentre as avaliadas e as
principais barreiras arquitetônicas nas escolas.
2. Fundamentação Teórica
2.1 Inclusão escolar e portadores de necessidades especiais
A deficiência fı́sica é a alteração completa ou parcial de um ou mais seg-
mentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função fı́sica.
Ela pode se apresentar sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, os-
tomia, amputação de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com
deformidade congênita ou adquirida, excetuando-se as deformidades esté-
ticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções
(Secretaria Nacional de Polı́ticas de Turismo, 2006).
Este comprometimento pode ser consequência de fatores traumáticos,
fisiológicos ou genéticos que podem ocorrer de forma congênita ou adquirida
ao longo das diferentes fases do desenvolvimento humano (Diehl, 2006).
As deficiências adquiridas podem ser provocadas por catástrofes naturais,
acidentes diversos, doenças incapacitantes, moléstias cardiovasculares, vio-
lência urbana, subnutrição, guerras, torturas. As deficiências instaladas no
indivı́duo podem ser permanentes ou temporárias (Gabbard, 2008).
Acessibilidade de crianças portadoras de necessidades especiais em escolas 291
2.3 Legislação
Para que as pessoas com deficiência fı́sica possam ter liberdade de ir e vir e
se sentir parte da comunidade, elas necessitam de um meio fı́sico adequado
e que garanta segurança e acesso.
O direito a acessibilidade está descrito na Lei 10098 (Brasil, 2000a) e
na Lei 10048 (Brasil, 2000b). Estas leis prevêem a adequação das vias e dos
espaços públicos, do mobiliário urbano, da construção e reforma de edifı́-
cios, dos meios de transporte e de comunicação e do acesso à informação
(Schwarz & Haber, 2006).
No Brasil, os parâmetros de acessibilidade são regidos pela Norma Bra-
sileira Recomendada (NBR) 9050, que se caracteriza como um instrumento
confiável que indica os critérios mı́nimos de qualidade e de conforto ambien-
tal (Duarte & Cohen, 2004). A Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) por meio da NBR-9050 de 1994 deu impulso ao interesse de pes-
quisadores em avaliação de edificações. A partir de então houve subsı́dios
concretos para verificações. As escolas foram alvo de inúmeras pesqui-
sas de avaliação pós-ocupação nos mais diversos enfoques. A avaliação
pós-ocupação hoje é muito difundida em paı́ses de primeiro mundo pela
Acessibilidade de crianças portadoras de necessidades especiais em escolas 295
3. Método
Antes de iniciado, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade de Mogi das Cruzes (CAAE 0111.0237.000-
07), regulado pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos,
através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Os nomes e locais das escolas estaduais e municipais foram adquiridos
por meio da diretoria de ensino dos municı́pios do Alto Tietê, Estado de São
296 Boschi et al.
4. Resultados e Discussão
Os dados obtidos por meio da pesquisa de campo foram analisados de
forma quantitativa através da frequência e porcentagem, e foram expostos
em tabelas, seguidos de descrição e análise de acordo com os critérios da
ABNT NBR-9050.
A NBR-9050 estabelece parâmetros técnicos, visando proporcionar ao
maior número possı́vel de pessoas a utilização de maneira autônoma e se-
gura do ambiente (ABNT, 2004).
Na Tabela 1 são apresentados os dados relativos à existência de escadas
nas escolas. A NBR-9050 não descreve a respeito da existência ou não de
escadas, a norma somente estipula os parâmetros exatos para as mesmas
quando o local as possuı́rem.
(Souza & Mello Filho, 1997). Porém, em nenhuma das escolas avaliadas
era possı́vel acionar o bebedouro com o pé.
5. Conclusão
O presente trabalho demonstra que as escolas não estão aptas em sua to-
talidade para os PNE. Apenas uma escola, que foi projetada e construı́da
para acessibilidade de PNE, está totalmente de acordo com o recomen-
dado pela norma brasileira. Outras três escolas podem ser consideradas
acessı́veis por não apresentarem rotas inacessı́veis.
As barreiras arquitetônicas presentes em grande parte das escolas fo-
ram: altura inadequada do bebedouro (69,27%), a ausência de rampas
(61,53%) e a ausência de banheiros adaptados (67,38%). Apesar de 34,61%
das escolas terem um banheiro de uso exclusivo a PNE, os itens que o com-
põem não estão adequados ou não estão presentes.
Pode-se detectar através da pesquisa que as escolas estudadas são de
arquitetura excludente, ou pela própria arquitetura, ou pela escolha do
terreno. Os projetos encontram-se em desacordo com a ABNT NBR-
9050:2004.
Sugere-se para trabalhos futuros que o fisioterapeuta elabore aulas ex-
positivas com o intuito de instruir o professor quanto ao mobiliário, as
adaptações e o posicionamento correto do aluno PNE nas atividades no
ambiente escolar.
Referências
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Equipamentos urbanos. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
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ensino fundamental: descrição da metodologia para elaboração de um
protocolo. Arquitextos, 81(7):s.p., 2007.
Acessibilidade de crianças portadoras de necessidades especiais em escolas 301
Notas Biográficas
2 - Possui escadas?
( ) sim ( ) não
1. Introdução
O curso natural da Paralisia Cerebral (PC) mudou bastante durante os
últimos cinquenta anos. Estudos em vários paı́ses demonstram que a ex-
pectativa de vida de indivı́duos com PC aumentou (Hemming et al., 2006;
Hutton & Pharoah, 2006; Strauss et al., 2008). Segundo Donkervoort et al.
(2007) crianças com PC podem ter sobrevivência semelhante a da popula-
ção em geral quando não apresentam comorbidades significativas e recebem
cuidados médicos adequados.
Pesquisas sobre os aspectos relacionados à saúde de adultos com PC são
importantes para que os fisioterapeutas possam disponibilizar abordagens
terapêuticas adequadas, bem como documentar a necessidade de polı́ticas
públicas voltadas para esta população. Além disto, contribuem para for-
mulação de estratégias fisioterapêuticas preventivas para as crianças com
PC (Bottos et al., 2001; Horsman et al., 2010).
Nos últimos anos há um fluxo crescente de estudos sobre adultos com
PC, principalmente em paı́ses desenvolvidos (Andersson & Mattsson, 2001;
Bottos et al., 2001; Jahnsen et al., 2003; Hemming et al., 2006; Strauss
et al., 2008). Porém, os estudos publicados sobre adultos com PC na po-
pulação brasileira ainda são escassos (Margre et al., 2010). No entanto,
dentro de uma perspectiva biopsicossocial, o ambiente fı́sico, social, cultu-
ral e polı́tico também influenciam na saúde do adulto com PC (Haak et al.,
2009). Assim, é importante conhecer as deficiências, as limitações funcio-
nais, as restrições sociais e a qualidade de vida que envolve os adultos com
PC no Brasil.
O objetivo do presente estudo foi descrever as condições de saúde e de
incapacidade e a qualidade de vida de adultos com PC. Estes adultos foram
caracterizados quanto à saúde geral e condições associadas, classificações
da PC, complicações fı́sicas e modo de locomoção.
2. Fundamentação Teórica
Devido ao interesse multidisciplinar crescente sobre investigações em PC,
há esforços para se estabelecer uma definição padronizada para esta condi-
ção. A definição clássica de PC como alteração da postura e do movimento
devido à lesão do cérebro imaturo foi revisada e modificada para uma de-
finição mais abrangente. Assim, considera-se a PC como um grupo de
perturbações permanentes no desenvolvimento de movimentos e posturas,
causando limitações nas atividades funcionais, atribuı́das a distúrbios não-
progressivos que ocorrem no encéfalo fetal ou infantil (Rosenbaum et al.,
2007; O’Shea, 2008).
Além das classificações tradicionalmente utilizadas, as classificações fo-
cadas no estado funcional dos indivı́duos têm sido incorporadas, seguindo
a tendência de se utilizar um modelo de saúde e incapacidade não focado
Adultos com PC: implicações para intervenção em neuropediatria 307
3. Metodologia
Este capı́tulo apresenta um estudo descritivo para a caracterização de uma
população. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM) (registro no 011/09).
Os sujeitos da pesquisa foram vinte e dois adultos com PC, recrutados
em todos os centros de reabilitação da cidade de Diamantina, MG. Foram
considerados como critérios de inclusão: possuir PC diagnosticada e regis-
trada em prontuário pelas instituições de origem, ter idade maior ou igual
a dezoito anos, e residir no Municı́pio de Diamantina. Antes de se iniciar
308 Margre et al.
4. Resultados
A amostra foi composta por vinte e dois participantes, cinco (22,7%) res-
ponderam a entrevista e dezessete (77,3%) tiveram seus dados informados
pelos cuidadores. Os sujeitos da pesquisa tinham idade entre dezoito e
cinquenta e dois anos, em média 28,7±10,6 anos. A amostra teve maior
porcentagem do gênero masculino (63,6%) comparados com o gênero femi-
nino (36,4%).
A Tabela 1 representa as classificações quanto à disfunção neuromotora,
distribuição topográfica e nı́vel de funcionalidade por meio do GMFCS e
MACS. Dos vinte e dois sujeitos, 86,4% tinham PC espática e 13,6% PC
discinética. Não foram encontrados outros tipos de PC, como atáxico e
hipotônico. Como padronização, os pacientes com PC mista (espástica e
discinética) foram classificados como PC discinética.
5. Discussão
Este estudo caracterizou uma amostra de vinte e dois adultos com PC resi-
dentes em uma cidade do interior do Brasil. Ao se considerar a faixa etária
dos participantes (entre dezoito e cinquenta e dois anos) é possı́vel obser-
var que assim como em outros paı́ses, progressivamente há um aumento
na expectativa de vida na PC. Hemming et al. (2006) acompanharam uma
coorte de indivı́duos com PC nascidos de 1940 a 1960 no Reino Unido e
constataram que entre aqueles indivı́duos vivos aos vinte anos de idade,
Adultos com PC: implicações para intervenção em neuropediatria 311
86% sobreviveram até cinquenta anos. Segundo Hutton & Pharoah (2006)
a severidade e a quantidade de comorbidades exercem importante papel
na sobrevida de indivı́duos com PC ao longo da vida. No estudo reali-
zado por estes autores, 99% dos indivı́duos com PC leve sobreviveram até
trinta anos, e entre aqueles com quatro comorbidades graves apenas 33%
sobreviveram até esta idade. Segundo Strauss et al. (2008) desde a década
de 1980 foi dada maior importância para o estado nutricional apropriado
em crianças e adultos com deficiências, houve reconhecimento precoce e
tratamento vigoroso de infecções e melhor suporte tecnológico disponı́vel
nos serviços médicos.
A maioria dos participantes deste estudo foi classificada como espástica
e quadriplégica. Embora haja consenso na literatura quanto ao tipo espás-
tico ser o mais prevalente entre indivı́duos com PC, a distribuição topo-
gráfica é variável entre os estudos (Murphy et al., 1995; Turk et al., 1997;
Andersson & Mattsson, 2001). Segundo Andersson & Mattsson (2001)
uma possı́vel justificativa para este fato poderia ser a diferença nas defini-
ções entre pesquisadores, principalmente para distinguir diplégicos graves
de quadriplégicos. A maioria dos participantes hemiplégicos e diplégicos
apresentaram GMFCS nı́veis I e II. Já os quadriplégicos e discinéticos apre-
sentaram GMFCS nı́veis IV e V. Estes dados estão de acordo com o estudo
realizado por Shevell et al. (2009). Estes autores verificaram a relação en-
tre o GMFCS e os tipos de PC em trezentos e uma crianças. Concluiu-se
que há correlação entre PC espástica e discinética e nı́veis de maior inca-
pacidade motora grossa, bem como estre hemiplegia e diplegia e nı́veis de
menor incapacidade motora grossa.
Quanto ao MACS, os participantes quadriplégicos e hemiplégicos apre-
sentaram resultados semelhantes àqueles encontrados no GMFCS. Já para
os participantes diplégicos e discinéticos verificou-se uma distribuição mais
equivalente entre os nı́veis de menores e maiores incapacidade. Estes resul-
tados estão de acordo com estudos que procuraram verificar a associação
entre o GMFCS e MACS (Carnahan & Hägglund, 2007; Gunel et al., 2008).
O MACS está relacionado ao grau do comprometimento neuromotor dos
membros superiores, que é variável entre diplégicos; bem como à preser-
vação da cognição, que é frequente tanto em indivı́duos discinéticos como
diplégicos (Carnahan & Hägglund, 2007; Gunel et al., 2008).
Os principais problemas de saúde e condições associadas foram os dis-
túrbios de comunicação (afasia e disartria), a epilepsia, a disfunção intes-
tinal ou vesical, os distúrbios de deglutição e os problemas dentários. Os
resultados encontrados estão em conformidade com outros estudos. Porém,
refluxo gastroesofágico e déficits auditivos e visuais, também são frequen-
temente relatados na literatura (Turk et al., 1997; Rapp & Torres, 2000;
Bottos et al., 2001; Liptak, 2008; Haak et al., 2009; Turk, 2009). Segundo
Turk (2009) a maioria dos problemas de saúde ou condições associadas
do adulto com PC são os mesmos que os acompanham desde a infância.
Adultos com PC: implicações para intervenção em neuropediatria 313
6. Conclusão
Os adultos com PC apresentam caracterı́sticas e necessidades especı́ficas.
Neste estudo verificaram-se grandes restrições sociais, instalação de defici-
ências musculoesqueléticas importantes e limitações progressivas na mar-
cha. Além disto, os participantes e cuidadores demonstraram pouco co-
nhecimento sobre a PC e sua evolução.
Ao considerar o aumento na expectativa de vida destes indivı́duos deve-
se pensar em polı́ticas públicas visando melhor e maior acesso a informa-
ções, a serviços de saúde, ao ensino, ao mercado de trabalho, às adaptações
de ambientes fı́sicos e à acessibilidade aos espaços públicos.
Salienta-se a necessidade da elaboração de programas de treinamento
fı́sico especı́ficos com intervenções fisioterapêuticas adequadas às limitações
encontradas em indivı́duos com PC na fase adulta. O fisioterapeuta que
atua em neuropediatria deve estar alerta às alterações que ocorrem no PC
na fase adulta, a fim de minimizar, ainda na infância, os efeitos destas.
Referências
Andersson, C. & Mattsson, E., Adults with cerebral palsy: a survey des-
cribing problems, needs, and resources, with special emphasis on lo-
Adultos com PC: implicações para intervenção em neuropediatria 317
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Notas Biográficas
Anna Luisa Macedo Margre é fisioterapeuta (UFVJM, 2009) e atua em
fisioterapia dermato-funcional e Pilates.
1. Introdução
Paralisia Cerebral (PC) é o termo utilizado para designar um grupo de
encefalopatias com distúrbios motores (tônus e postura), de caráter não
progressivo, frequentemente mutável, secundário à lesão no encéfalo em
desenvolvimento (Kuban & Leviton, 1994). A PC é a causa mais comum
de incapacidade fı́sica na infância, com consequências na função, na saúde
e na qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores (Rosembaum
et al., 2007).
Alguns estudos sugerem que as crianças com PC apresentam redução
da densidade mineral óssea (DMO) e propensão a fraturas não traumáticas
ou com mı́nimo trauma. A fragilidade óssea deve-se à osteopenia que pode
ser decorrente de diversos fatores, como: estado nutricional, ingestão ina-
dequada de cálcio, baixos nı́veis séricos de cálcio, fósforo, 25 OH vitamina
D e osteocalcina, uso de drogas antiepilépticas, diminuição da exposição
ao sol e, principalmente, fatores relacionados à deambulação (Henderson
et al., 2002a; Unay et al., 2003).
Foram identificados alguns preditores de baixa DMO em crianças com
PC que podem ser avaliados clinicamente. Entre estes destacam-se: peso
muito abaixo da média para a idade, idade próxima dos 10 anos, gravidade
do quadro, dificuldades na alimentação, história prévia de fratura e uso de
drogas antiepilépticas (Henderson et al., 2004).
Algumas intervenções são citadas como benéficas para o conteúdo ós-
seo destas crianças. A fisioterapia, por meio de técnicas que utilizem a
sustentação de peso nos membros e tronco, a suplementação de cálcio
e vitamina D, e o uso de bisfosfonatos, fazem parte destas intervenções
(Jekovec-Vrhoysk et al., 2000; Henderson et al., 2002b).
A sobrevida dos pacientes com PC é alta e, dependendo do estado
clı́nico, muitos apresentam osteopenia (Rapp & Torres, 2000). A redução
de massa óssea deixou de ser uma preocupação exclusiva em indivı́duos
adultos e idosos, pois a DMO depende do pico de massa óssea adquirido
até o final da segunda década de vida. Na infância, a forma secundária
de osteopenia é a mais comum, surgindo como complicação de doenças
crônicas ou de seus tratamentos (Van der Sluis & Muinck Keizer-Schrama,
2001).
Em indivı́duos com doenças crônicas que possam evoluir com redução
de massa óssea, todos os fatores de risco presentes devem ser identificados
precocemente para que, preventivamente, possam ser tratados ou atenua-
dos (Campos et al., 2003).
A ausência de estudos sobre a mineralização e a formação de massa
óssea em indivı́duos com PC no Brasil, especialmente em crianças, motiva
o desenvolvimento deste trabalho.
O objetivo deste capı́tulo é apresentar um estudo sobre a avaliação
da mineralização e da formação óssea de crianças com PC, utilizando os
Marcadores de mineralização e formação óssea em crianças com PC 323
2. Fundamentação Teórica
2.1 Paralisia cerebral
A PC é a principal causa de incapacidade fı́sica grave na infância e pouco
se conhece sobre sua epidemiologia. Alguns estudos relatam uma preva-
lência de 2 a 2,5 para cada 1000 nascidos (Russman & Ashwal, 2004; Cans
et al., 2004). Durante os últimos vinte anos, tem aumentado a incidência
e a prevalência da PC, devido principalmente ao avanço dos cuidados neo-
natais, com aumento da sobrevivência dos recém-nascidos de muito baixo
peso (Koman et al., 2004).
Tradicionalmente classifica-se a PC com base na apresentação dos sinais
clı́nicos e na distribuição topográfica. Quanto a apresentação dos sinais
clı́nicos pode ser: espática, discinética e atáxica. Em relação à distribuição
topográfica da lesão pode ser classificada como: quadriplegia, diplegia e
hemiplegia.
Recentemente a PC também começou a ser classificada quanto à gra-
vidade do acometimento e o seu prejuı́zo na funcionalidade, por meio do
instrumento Gross Motor Function System (GMFCS) (Pfeifer et al., 2009).
Conforme o sistema de classificação de função motora ampla (GMFCS) há
diferentes nı́veis de gravidade na PC. Este sistema é baseado no movi-
mento auto-iniciado, com ênfase no sentar e no andar, e apresenta cinco
nı́veis diferentes de função motora, de acordo com a limitação funcional e
a necessidade de assistência externa.
Crianças classificadas no nı́vel I do GMFCS apresentam baixa severi-
dade, bom desempenho motor e limitações funcionais pouco pronunciadas.
As do nı́vel V são crianças com múltiplas desordens, que apresentam limi-
tações no controle voluntário dos movimentos e na habilidade de manter
postura antigravitária do pescoço e do tronco (Brianeze et al., 2009).
O número de adultos com PC está aumentando, devido ao crescimento
no número de sobreviventes e também à maior expectativa de vida dos
adultos. Dependendo do estado clı́nico, 65% a 90% das crianças com PC
tornam-se adultos e, com isto aumentam as comorbidades, como as fraturas
(Rapp & Torres, 2000).
A baixa DMO é encontrada em mais de 50% dos adultos com deficiên-
cias, incluindo os com PC, embora ainda com poucos estudos especı́ficos
neste grupo e faixa etária (Sheridan, 2009).
3. Metodologia
Este estudo descritivo foi realizado no ambulatório e enfermaria de fisio-
terapia pediátrica do Hospital Universitário da Universidade Estadual de
Londrina (HU/UEL) e em duas escolas para atendimento de crianças com
necessidades especiais, a Associação dos Pais e Amigos do Excepcionais
(APAE) e o Instituto Londrinense de Educação de Crianças Excepcionais
(ILECE). O projeto foi realizado após a sua submissão e aprovação pelo
comitê de ética em pesquisa do HU/UEL sob o parecer CEP no 015/04.
328 Alves et al.
4. Resultados
Na amostra em questão a idade mı́nima encontrada foi de 1 ano e 6 meses
e a máxima de 11 anos, com idade média de 6 anos (± 2,84). Na faixa
etária de 1 ano a 4 anos a frequência foi de 25% e na de 5 anos a 8 anos
de 75%. Vinte e quatro (58,5%) crianças eram do gênero masculino e 17
(41,5%) do feminino.
Quanto à idade gestacional ao nascimento, 23 (56,4%) crianças foram
pré-termos, 16 (38,5%) a termo e 2 (5,1%) pós-termo. Não se calculou a
idade gestacional corrigida, pois apenas uma criança que não era pré-termo,
tinha menos de 2 anos (1 ano e 6 meses).
Nenhum paciente possuı́a história prévia de fraturas. As classificações
clı́nica, de tônus muscular e topográfica da PC podem ser verificadas na
Tabela 1.
Assim como na população geral de crianças com PC, a forma quadriplé-
gica foi a mais encontrada neste estudo. Desta forma, a população estudada
foi distribuı́da em dois grupos: quadriplégicos e não quadriplégicos, para
descrever algumas variáveis, como: distúrbios gastrintestinais associados e
distribuição do z escore IMC.
Dos pacientes que apresentaram alterações gastrintestinais, 14 (34,1%)
tinham aspirações, 15 (36,6%) distúrbios de deglutição, 21 (51,2%) obsti-
pação e 17 (41,5%) refluxo gastroesofágico.
Das 41 crianças, 39 realizaram avaliação nutricional, sendo que 19
(48,7%) eram desnutridas, 12 (30,8%) normais, 5 (12,8%) obesas ou com
sobrepeso e 3 (7,7%) tinham risco de desnutrição. Duas crianças não ti-
veram diagnóstico nutricional, uma por ser institucionalizada e não ser
330 Alves et al.
no (%)
Clı́nica
Espástica 29 (70,7)
Atetóide 11 (26,8)
Mista 1 (2,4)
Total 41 (100)
Tônus Muscular
Hipertonia 28 (68,3)
Tônus Flutuante 11 (26,8)
Misto 2 (4,9)
Total 41 (100)
Topográfica
Quadriplegia 26 (65,0)
Diplegia 9 (20,0)
Hemiplegia 6 (15,0)
Total 41 (100)
5. Discussão
Neste estudo, os nı́veis séricos dos marcadores não apresentaram alterações
significantes. Portanto, não identificaram crianças com baixa mineralização
e formação óssea. Por outro lado, foi significante a associação de baixos
nı́veis de cálcio com o uso de DAE.
Estes resultados podem ser adicionados aos da literatura que mostram
a limitação destes marcadores, na avaliação da diminuição da massa óssea
em crianças com PC (Henderson et al., 2002a; King et al., 2003).
Henderson et al. (2002b) avaliaram os nı́veis de cálcio, fósforo, fosfatase
alcalina e osteocalcina em 117 crianças e adolescentes com PC, com idade
média de 9,7 anos. Os nı́veis séricos de cálcio estavam abaixo dos valores de
referência em apenas cinco crianças. Os nivéis séricos da fosfatase alcalina
estavam elevados em quatro crianças e somente 13 (17%) tinham um dos
marcadores com valores anormais.
No estudo de King et al. (2003) 48 crianças e adultos com quadriplegia
espástica foram avaliados. Os nı́veis séricos de cálcio, fósforo, magnésio,
332 Alves et al.
no (%)
Deambuladores
Sim 21 (51,2)
Não 20 (48,8)
Forma de Deambular
Independente 12 (55,6)
Com apoio 9 (44,4)
6. Conclusões
Neste estudo os marcadores cálcio, fósforo, fosfatase alcalina e osteocalcina
não identificaram alterações na formação e na mineralização óssea de cri-
anças com PC. É necessário investigar outros métodos de avaliação, além
dos exames de imagem, que são de difı́cil realização nesta população.
Os baixos nı́veis de cálcio da população estudada estavam associados
ao uso de DAE. Este fato merece atenção dos profissionais para futuros
estudos, envolvendo a suplementação deste mineral, pois a ingestão estava
adequada.
A heterogeneidade do grupo em relação ao fator nutricional, ao tipo
de deambulação, ao uso de DAE e às classificações da PC foram uma das
limitações do estudo. Porém, considera-se a sua importância pelo fato de
se desconhecer estudos feitos no Brasil com esta finalidade.
Para a fisioterapia, espera-se que esta pesquisa gere uma motivação
para a realização de novos estudos sobre técnicas de tratamento para in-
fluenciar a formação e a manutenção da massa óssea das crianças com PC.
Agradecimentos
Os autores agradecem todos que colaboraram com os recursos financeiros
para esta pesquisa. Os exames laboratoriais foram realizados e financiados
pelos laboratórios do HU/UEL, exceto a dosagem de osteocalcina, realizada
pelo Laboratório Oswaldo Cruz de Análises Clı́nicas (Londrina). O kit para
dosar osteocalcina foi doado pela Rem – Indústria e Comércio Ltda (São
Marcadores de mineralização e formação óssea em crianças com PC 335
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Notas Biográficas