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conceitual.

É obrigada a retratar o que tem a dizer de forma pictórica e, como não há conceitos que
exerçam uma influência atenuante, faz pleno e poderoso uso da forma pictórica. Assim, por mais
clara que seja sua linguagem, ela é difusa, desajeitada e canhestra. A clareza de sua linguagem
sofre, particularmente, pelo fato de ela se mostrar avessa a representar um objeto por sua imagem
própria, preferindo alguma imagem estranha que expresse apenas a imagem específica dos
atributos do objeto que ela busca representar. Temos aqui a “atividade simbolizadora” da
imaginação (…) [Ibid., 32.] Outro ponto importantíssimo é que a imaginação onírica jamais retrata
as coisas por completo, mas apenas esquematicamente e, mesmo assim, da forma mais rústica.
Por essa razão, suas pinturas parecem esboços inspirados. Não se detém, contudo, ante a mera
representação de um objeto, mas atende a uma exigência interna de envolver o ego onírico, em
maior ou menor grau, com o objeto, assim produzindo um evento. Por exemplo, um sonho
provocado por um estímulo visual pode representar moedas de ouro na rua; o sonhador as
apanhará com prazer e as levará consigo. [Ibid., 33.|
O material com que a imaginação onírica realiza seu trabalho artístico é principalmente,
de acordo com Scherner, fornecido por aqueles estímulos somáticos orgânicos que são tão
obscuros durante o dia. (Ver em [1]) Assim, a hipótese extremamente fantástica formulada por
Scherner e as doutrinas talvez indevidamente sóbrias de Wundt e outros fisiologistas, que são
diametralmente opostas em outros aspectos, concordam inteiramente em suas teorias acerca das
fontes e dos instigadores dos sonhos. Segundo a visão fisiológica, porém, a reação mental aos
estímulos somáticos internos esgotasse na provocação de certas representações apropriadas aos
estímulos; essas representações dão lugar a outras por vias associativas e, nesse ponto, o curso
dos eventos psíquicos nos sonhos parece chegar ao fim. Segundo Scherner, por outro lado, os
estímulos somáticos não fazem mais do que fornecer à mente material que ela possa utilizar para
suas finalidades imaginativas. A formação dos sonhos só começa, aos olhos de Scherner, no
ponto que os outros autores encaram como seu fim.
O que a imaginação onírica faz aos estímulos somáticos não pode, naturalmente, ser
considerado como servindo a alguma finalidade útil. Ela os desloca de um lado para outro e retrata
as fontes orgânicas de que surgiram os estímulos do sonho em causa numa espécie de
simbolismo plástico. Scherner é de opinião - embora, nisso Volkelt [1875, 37] e outros se recusem
a segui-lo - que a imaginação onírica tem uma forma prediletaespecífica de representar o
organismo como um todo: a saber, como uma casa. Felizmente, porém, não parece restringir-se a
esse método único de representação. Por outro lado, pode valer-se de toda uma fileira de casas
para indicar um único órgão; por exemplo, uma rua muito longa, repleta de casas, pode
representar um estímulo proveniente dos intestinos. Além disso, partes isoladas de uma casa
podem representar partes separadas do corpo; assim, num sonho causado por uma dor de
cabeça, a cabeça pode ser representada pelo teto de um quarto, coberto de aranhas repelentes e
semelhantes a sapos. [Ibid., 33 e seg.]
Deixando de lado esse simbolismo da casa, inúmeros outros tipos de coisas podem ser

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