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Florestan Fernandes – Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá

Prefácio

Florestan observa três coisas evidentes:

1 – Os dados de fato
2 – O que caiu no campo de observação dos cronistas (existem coisas que eles não viram ou não
quiseram ver, porque sua visão já tinha determinados ‘preconceitos’)
3 – A consistência das documentações.

O autor quer entender como funciona a guerra na sociedade tupinambá, justamente por sua
importância na vida social, por ser subordinada ao sistema mágico-religioso tribal (29), sem
pretensão de entender a sociedade através de apenas um de seus aspectos. Uma vez que a guerra é
um fato social e “preenche certas ‘necessidades sociais’. (24)

“como as atividades guerreiras e as suas consequências afetavam toda a vida social dos tupinambá”
(26)

Deve ser considerado também que nas crônicas os indígenas já estavam com a sua rotina alterada
pelas guerras entre os outros povos e os estrangeiros que chegavam.

“A guerra, como estado de relações intersocietárias, transbordava das condições e dos limites
‘militares’” (27)

Primeira parte do trabalho - “sistematização de explicações descritivas” como os tupinambás


lançavam-se a guerra?

A Tecnologia Guerreira

Introdução

“Do êxito das atividades guerreiras dos tupinambá dependia extensamente o funcionamento
‘normal’ dos sistemas econômico e organizatório tribais.” (35)

“As evidências possíveis a respeito da função ecológica da guerra na sociedade tupinambá, é claro,
precisam ser extraídas indiretamente, destas descrições, combinadas a dados explícitos, fornecidos
pelas próprias fontes primárias, sobre os fins das expedições guerreiras.” (37)

1. As Armas

a . armas de tiro

Arco e Flecha – Incendiárias (intuito de compelir os adversários ao embate direto), com dentes de
tubarão ou rabo de arraia, mediam aproximadamente 1,60m; (Métraux e Cardim)

Fumaça de Pimenta – Utilizada para desalojar os inimigos das fortificações, também era usado
pimenta caiena. Depende de fatores naturais. (Nordenskiöld e Staden)

Os tupinambás eram muito habilidosos com o arco e flecha, a ponto de vários cronistas destacarem
esta característica.
“Estas indicações são confirmadas por Léry, que compara o efeito das flechas aos da carga com
arcabuz” (45)

b . armas de choque

O tacape é a arma principal no combate corpo a corpo, mas eram utilizados também o arco e flecha
ou somente a flecha como lança.

O tacape também era utilizado em rituais de sacrifício, segundo Staden.

O tacape seria equivalente a uma espada ou machado, os efeitos eram equivalentes à de clava ou
maça. “A habilidade dos tupinambá no manejo dessa arma de choque devia ser apreciável, pois
mereceu a atenção e o reconhecimento dos cronistas, acostumados ao emprego das armas
europeias” (49)

e . armas de proteção

Escudo – Segurança pessoal – Proteção efetiva contra armas de tiro. Thevet afirma que resistem a
um tiro de arcabuz.

Paliçada – Segurança coletiva – Servem para o ataque e para a defesa, geralmente colocadas em
locais com ameaça de tribos inimigas.

d. Acessórios do equipamento guerreiro

“as insígnias guerreiras; os instrumentos musicais, quando empregados com finalidades guerreiras;
alguns processos mágicos, associados a guerra; e, por fim, a utilização de troféus.” (51)

Os adornos eram correlatos ao comportamento nas batalhas, possivelmente também ao


comportamento masculino na sociedade tupinambá.

Função bélica do tambor – além do tambor haviam também cornetas, buzinas e afins.

Troféus – Ossos dos inimigos poderiam ser igualmente troféus e instrumentos musicais.
Funcionavam no aspecto do moral dos guerreiros, positivamente para os portadores dos troféus e
negativamente para os inimigos que viam os ossos de seus companheiros.

Em suma funcionavam como “meios de complementação das armas de ataque e defesa, graças aos
quais conseguiam elevar a eficiências individual e coletiva dos guerreiros.” (54)

2. A Organização das expedições e atividades guerreiras

Motivação da guerra – Objetivos da guerra – Ritual guerreiro

Órgãos de ataque e defesa – bando guerreiro, organização para o combate, retorno ao grupo local

A. A guerra na sociedade tupinambás

a) motivos que levam a grupos criarem alianças – PG 78

b) como as atividades da guerra se integravam as atividades rotineiras


a . Motivação e objetivos da guerra

Estado de guerra crônico. Apenas os grandes pajés gozavam da faculdade de trânsito livre.

“Aprisionar, sacrificar e ingerir ritualmente o maior número possível de inimigos” (referência 101,
pg 59) nunca poupar os inimigos.

1) guerra como extensão da luta pela vida – comportamentos animais eram satisfatórios pela sua
eficiência adaptativa – Coexistência do caçador e do guerreiro.

A antropofagia era praticada de forma ritual, portanto, não era uma necessidade fisiológica.

Este princípio não explica as guerras aborígenes, tampouco a ideia pilhagem ou o canibalismo são
motivos pela guerra.

As fontes levantadas apontam para a vingança como principal motivação (Gandavo, Léry,
Abbeville, Thevet e Nóbrega). (66)

Valores mágicos e religiosos na determinação da guerra → texto do monteiro falando em


profetismo.

Os diálogos rituais corroboram a ideia da vingança como principal motivação das guerras.

Existe também a possibilidade de serem motivadas a “formas tribais de adaptação ao meio natural
circundante”, se esta possibilidade for colocada em conta é possível pensar nas retaliações também
como “manifestações ideológicas”. [71]

Desequilíbrio biótico >> migrações, portanto a guerra servia “na conquista de novas posições da
biosfera” (74), também para mantê-las. Ou seja, sem uma finalidade econômica, pois praticavam
uma economia de subsistência. (75)

Esta manutenção das posições ecológicas garantia a autonomia do movimento dentro dos territórios
e, quando se esgotasse alguma posição ecológica, para outros locais. (81)

Relação entre a dominância e o montante da população (83)

Fator cultural das migrações – Busca pela terra sem mal – profetismo [ texto do monteiro]. O autor
levanta que é possível que este seja o fator principal de motivação da guerra, um fator cultural.
[Heritare e Abbeville]

O motivo das guerras é de ordem religiosa e não tecnológica. “Tanto os fatores de ordem
tecnológica, quanto os de ordem demográfica, estariam subordinados a ele.

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