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FAVENI

Pós graduação em Mobilidade urbana e trânsito

CARLOS IVO DOS REIS SALES

PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DE MOBILIDADE


URBANA EM APARECIDA-SP SOB A PERSPECTIVA DO TURISMO RELIGIOSO

APARECIDA - SP
2020
PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DE MOBILIDADE
URBANA EM APARECIDA-SP SOB A PERSPECTIVA DO TURISMO RELIGIOSO

Carlos Ivo dos Reis Sales

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO - Esse artigo tem por objetivo geral identificar aspectos referentes ao planejamento para o
desenvolvimento econômico e de mobilidade urbana em Aparecida-SP sob a perspectiva do turismo
religioso. A metodologia adotada para a pesquisa permite classificar o estudo como exploratório, com uso
de levantamento bibliográfico para a coleta de dados. Pode-se, ainda, classificar a pesquisa como
descritiva, com aplicação da técnica de estudo de caso, tendo em vista que se analisará pontualmente o
potencial do turismo religioso em Aparecida-SP. Os resultados obtidos demonstraram que, muito embora
o turismo religioso já seja uma realidade em diversos países, especialmente na Europa, no Brasil se trata
de atividade ainda incipiente, demonstrando-se a região de Aparecida-SP como excelente locus para
abrigar tal modalidade, considerando-se a história que a região tem com relação à aparição de imagem
de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul em 1717. Após a construção do Santuário
Nacional, com o impulsionamento da devoção à Santa, foi necessário realizar diversas mudanças no
território religioso para que se aliassem serviços, espiritualidade e conforto aos romeiros, contribuindo
sobremaneira para fomentar o comércio local, aumentando a circulação de renda e gerando empregos,
tais mudanças foram necessárias, uma vez que a população da cidade está em torno de 36 mil
habitantes segundo IBGE, e a população flutuante gira em torno de 13 milhões de visitantes. Pode-se
concluir que o turismo religioso em Aparecida-SP pode ser melhor explorado a partir da realização de
infraestrutura de modo geral e de eventos diversos, como palestras em escolas e universidades, feiras,
visitas ao Santuário Nacional, dentre outros, é possível obter bons resultados para a região.

PALAVRAS-CHAVE: Mobilidade urbana. Turismo. Turismo Religioso. Aparecida-SP.


1 INTRODUÇÃO

O turismo religioso movimenta milhões de visitantes para centros de


peregrinação de várias diversas religiões, distribuídos por todo o mundo. Santiago de
Compostela, Jerusalém, Roma e Meca são apenas exemplos de cidades que exploram
essa vertente do turismo, que é o tema do presente artigo, considerando o contexto de
Aparecida-SP.
A delimitação do tema adentra, pois, às contribuições do turismo religioso para a
cidade de Aparecida-SP, estando expressa no seguinte problema de pesquisa
elaborado para esse TCC: em que medida o turismo religioso pode ser explorado para
fins de promoção do desenvolvimento econômico local em Aparecida-SP?
As possíveis respostas para o problema de pesquisa levantado, ou seja, as
hipóteses, a serem confirmadas ou refutadas com a realização desse trabalho, são no
sentido de que o desenvolvimento econômico em Aparecida-SP pode ser fomentado a
partir da realização de eventos que favoreçam a romaria dos fieis ao local, explorando a
fé e crença dessas pessoas para trazer divisas ao municípios e movimentar o comércio,
gerando renda e empregos.
O objetivo geral é identificar aspectos referentes ao planejamento para o
desenvolvimento econômico e das estruturas de mobilidade em Aparecida-SP sob a
perspectiva do turismo religioso. Já os objetivos específicos são apresentar um conceito
de turismo de acordo com a Organização Mundial do Turismo – OMT; analisar aspectos
relativos à economia do turismo para o desenvolvimento local; investigar as
contribuições do marketing do turismo para a divulgação e atratividade do turismo
religioso, como também dinamizar uma pequena cidade para evoluir e receber ainda
mais turistas.
Trata-se de um trabalho relevante para a comunidade científica na medida em
que trata aspectos do fomento do desenvolvimento econômico local a partir da
exploração da atividade do turismo religioso, considerando-se o contexto da cidade
paulista de Aparecida-SP. Para a sociedade, a pesquisa também se mostra
interessante a partir da constatação que, fomentando-se o turismo, empregos e renda
serão gerados, favorecendo os moradores locais, aumentando a expressividade do
município no contexto nacional.
A metodologia adotada para a pesquisa permite classificar o estudo como
exploratório, com uso de levantamento bibliográfico para a coleta de dados. Pode-se,
ainda, classificar a pesquisa como descritiva, com aplicação da técnica de estudo de
caso, tendo em vista que se analisará pontualmente o potencial do turismo religioso em
Aparecida-SP

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Conceitos de Mobilidade

A formação das cidades no Brasil deixou uma parcela significativa de municípios


de lado nas políticas públicas. Desde a Constituição Federal (CF 1988), a não
obrigação para elaboração de instrumentos de gestão urbana que contemplava
somente os municípios com mais de vinte mil habitantes. Logo, o Estatuto das Cidades
e os Planos Diretores regulamentaram o artigo 182 da CF sendo fidelizados pela Lei
12.587/2012 que dispõe de novo importante mecanismo de gestão das cidades na área
de mobilidade urbana, fundamentando novamente a obrigatoriedade de elaboração dos
Planos de Mobilidade à mesma parcela de municípios.
Assim mobilidade urbana e a falta de mão de obra qualificada fez com que o
planejamento urbano fosse feito somente de forma corretiva e não preventiva como
deveria ser feito.
Mobilidade é um atributo dos indivíduos e agentes econômicos quando buscam
garantir os deslocamentos de que precisam, levando em consideração a extensão do
espaço urbano aliada à complexidade das atividades que são desenvolvidas nesse
espaço (ANTP, 2003). Porém esta mobilidade é prejudicada por congestionamentos e
pela crescente necessidade de tráfego principalmente nas grandes cidades, o que se
tornou um grande problema para os moradores de áreas urbanas.
De acordo com Vasconcellos (2012), a mobilidade define a necessidade dos
indivíduos se deslocarem a fim de satisfazer os desejos de realizar atividades sociais,
culturais, políticas e econômicas fundamentais para si e para a sociedade. Embora
sejam diversas as definições para o termo mobilidade, todas tratam da capacidade de
deslocamento das pessoas e bens, cujas variáveis intervenientes são complexas e
próprias às cidades.

2.2 Formação de Aparecida SP

Aparecida é uma cidade que se formou em volta das obras religiosas, o


crescimento de deu de maneira intensa e desorganizada, melhorias foram feitas em
uma cidade de ruas estreitas e costumes que deveriam ser mudados, mas que a
questão de mobilidade não é muito bem atendida. O centro não suporta mais a
quantidade de ônibus que visitam a cidade, a evolução vertical também faz com que a
estrutura de saneamento do século passado não consegue ser eficaz, em algumas
situações históricas faltou até água para os peregrinos em dias da festa da padroeira
que acontece no dia doze de outubro.

2.3 Conceito de turismo segundo a OMT

Ao longo dos anos, o turismo foi se convertendo em uma das principais


atividades econômicas no âmbito internacional, sendo atualmente vislumbrada,
segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT define o turismo como sendo

[...] o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e


estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período de tempo
inferior a um ano, com fins de lazer, negócios e outros motivos não relacionados
com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado (IBGE, 2012, p.
9).

Enquanto atividade econômica, o turismo é definido sob a perspectiva da


demanda. Em outras palavras, a sua definição depende do resultado do consumo dos
visitantes. Sendo assim, diferenças na motivação e no perfil dos turistas, bem como das
condições econômicas e naturais do local visitado revelam a identificação de conjuntos
diferentes de produtos que são por eles consumidos (IBGE, 2012).
É, também, um dos setores da economia que apresenta maior resistência às
crises financeiras e recessões econômicas que abalam o mercado. Isso se dá em razão
da alta flexibilidade de adaptação que possui, bem como do caráter imediato de sua
capacidade de inovação. Tal característica faz do turismo uma espécie de elemento-
chave de diversos lugares no mundo, contribuindo efetivamente para o
desenvolvimento socioeconômico regional e local, promovendo, ainda, a regeneração
urbana e valorização do patrimônio cultural e natural (CORDEIRO, 2012).
De um modo geral, pode-se afirmar que a atividade turística ajuda a dinamizar
diversas áreas da economia local, tendo em vista que não somente fomenta os
aspectos relacionados ao turismo, atendendo as necessidades espelhadas pelo
mercado, como também favorece o desenvolvimento de setores diversos, na medida
em que atrai novos investidores e empresas para o destino turístico (FERREIRA, 2012).
Sendo assim, pode-se afirmar que o turismo altera de forma significativa a
realidade de vários destinos, revelando o seu efeito multiplicador na economia com a
criação de novos postos de trabalho, aumento do tráfego de pessoas pelo local e
fomento da economia local. Desse modo, contribui sobremaneira para a revitalização
econômica local e regional (HONG, 2013).

2.4 A economia do turismo

Com o fim de subdividir o mercado atual e potencial para se atender às


demandas diferenciadas de turistas existentes, bem como às necessidades
estabelecidas por aqueles que ofertam o turismo, adotou-se a estratégia de segmentar
o mercado turístico. Desse modo, identificam-se diversos ramos do turismo, como, por
exemplo, o turismo cultural, o ecoturismo, o turismo de praia e sol, o turismo de
experiência, o turismo personalizado e o turismo religioso, dentre outros (OLIVEIRA,
2012).
Muito embora seja um tema de grande relevância, ao se analisar o histórico das
tratativas dispensadas ao turismo no Brasil, verifica-se que é relativamente recente o
início da abordagem da segmentação turística, com os primeiros registros remontando
à década de 1990. Contudo, é certo que, desde antes dos anos 50, o mercado turístico
mundial já aplicava técnicas para segmentar esse mercado (OLIVEIRA, 2012).
A abordagem tardia da segmentação do turismo no Brasil se deve,
primeiramente, ao próprio ritmo que se atribuiu ao desenvolvimento do turismo
nacional. Deve-se, ainda, atribuir esse atraso à demora na compreensão, pelos
estudiosos, das mudanças econômicas e sociais pelas quais passou o turismo desde o
fim da década de 1970, período em que, no âmbito internacional, foram intensificadas
as campanhas de marketing turístico de terras brasileiras no exterior (CORDEIRO,
2012).
Em geral, porém, segundo Panosso Netto e Ansarah (2009), a noção de
segmentação do mercado turístico, não importando o destino escolhido, guarda o
mesmo significado semântico em todos eles, que é o de identificar pessoas que tenham
desejos e afinidades semelhantes, com disposição para o consumo de um mesmo
produto. Desse modo, ainda conforme os autores, quanto maior for o conhecimento do
consumidor, melhores serão as condições de lhe oferecer melhores produtos,
construindo-se, assim, uma relação que ocasionará a sua fidelização.
Em Kotler e Keller (2012), seguindo-se essa linha de raciocínio de Panosso Netto
e Ansarah (2009), encontra-se a segmentação do mercado como uma consequência do
marketing de massa. Nesse sentido, assim dispõe o autor:

[...] segmentação de mercado é um esforço para aumentar a precisão do


marketing da empresa. O ponto de partida de qualquer discussão sobre
segmentação é o marketing de massa. No marketing de massa, o vendedor se
dedica à produção, distribuição e promoção em massa de um produto para
todos os compradores [...]
Um segmento de mercado consiste em um grande grupo que é identificado a
partir de suas preferências, poder de compra, localização geográfica, atitudes
de compra e hábitos de compra similares. [...] Um nicho é um grupo definido
mais estritamente, um mercado pequeno, cujas necessidades não estão sendo
totalmente satisfeitas. Enquanto os segmentos são grandes e atraem vários
concorrentes, os nichos são pequenos e normalmente atraem apenas um ou
dois concorrentes (KOTLER; KELLER, 2012, p. 278-279).

Nunes e Platt (2013), a seu turno, ao apresentarem a sua definição para


segmentação de mercado, optam por valorizar as diferenças individuais, pontuando que
se trata de conceito que se consubstancia na melhor prova de que nenhuma pessoa é
igual à outra, divergindo nas necessidades, nos gostos, nos estilos de vida, nas atitudes
que tomam, nas dimensões, dentre outros aspectos.
Com isso, ainda conforme os autores, é possível identificar as seguintes
variáveis da segmentação: motivação de compra; vantagens buscadas pelo consumidor
em sua aquisição; necessidades do comprador; características demográficas e
socioeconômicas; características do comportamento de compra do consumidor; estilos
de vida a nível de opiniões, interesses e atividades (NUNES; PLATT, 2013).
Em relação especificamente à segmentação do turismo, interessante menção se
faz à obra de Panosso Netto e Ansarah (2009), que, em sua obra, identificaram 119
segmentos, considerando-se as seguintes bases de segmentação: motivação da
viagem; grau de urbanização do destino turístico; condições geográficas do destino
turístico; aspectos culturais; tipo de grupo; distância do mercado consumidor; duração
de permanência; meios de transporte; condições econômicas; e idade.
Nesse universo, alguns segmentos emergentes foram abordados, como, por
exemplo, o turismo esotérico, o turismo de fait divers, o turismo de morbidez (ou
nekrophilia) e o turismo espacial (PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009). Além destes,
o turismo religioso também foi analisado, e é a ele que se dedica o presente trabalho.
Na Idade Média, a profissão de fé e a defesa de lugares sagrados eram
apontados como sendo os dois motivos principais pelos quais as pessoas viajavam. No
Renascimento, porém, diante da mudança de ideias e ideais realizada nesse momento
histórico, passando-se do teocentrismo ao antropocentrismo, a viagem passou a ter
cunho cultural (CHRISTOFFOLI; PEREIRA; FLORES E SILVA, 2012).
Entretanto, como bem destacado por Panosso Netto e Ansarah (2009), não era
possível, ainda, afirmar que se tratava de uma atividade turística e econômica. É
apenas no século XX que se experimentou um avanço no turismo enquanto atividade
econômica que gera riqueza, diante da profusão das viagens, favorecendo o
desenvolvimento e a consolidação da atividade turística como tal (CHRISTOFFOLI;
PEREIRA; FLORES E SILVA, 2012).
Tais tipos de deslocamentos tinham por elementos definidores, que os
distinguiam dos demais tipos, a motivação das viagens. Diante disso, conforme Rabahy
(2003, p. 1), “[...] a evolução dos acontecimentos econômicos e sociais do mundo
moderno transformou o turismo em uma atividade bastante promissora e com
possibilidades de se expandir às taxas permanentemente crescentes”.
No século XXI, o turismo religioso se apresenta como um importante segmento
do mercado do turismo, que abrange dois dos mais importantes fenômenos sociais
contemporâneos: a religião e o turismo. Ao se buscar as origens do turismo religioso,
tem-se que estas podem ser encontradas nas mais antigas manifestações religiosas
tanto cristãs e não-cristãs. Contudo, entre os cristãos, as cruzadas consistem na prática
de peregrinação mais reconhecida como pioneira, na medida em que, realizada até o
túmulo de Jesus Cristo, tratavam-se de peregrinações feitas em duras condições,
seguindo um espírito de purificação e sacrifício (ANTUNES; BARROCO; DIAS, 2016).
No segundo milênio, contudo, a esperança de que Cristo retornaria a Jerusalém
reforçou, ainda, o espírito de muita gente, manifestando-se no desejo de obter a
salvação. Historicamente, Jerusalém é considerada cidade santa tanto para os cristãos,
como para os muçulmanos ou judeus. Trata-se do destino mais procurado de orações e
peregrinações pelos principais grupos religiosos, abrangendo cristãos, cujo símbolo é o
Santo Sepulcro; judeus, que têm no Muro das Lamentações o destino favorito; e para
os muçulmanos, cuja busca ressalta a Esplanada das Mesquitas (CHRISTOFFOLI;
PEREIRA; FLRES E SILVA, 2012).
De acordo com Maio (2004) os termos romarias e peregrinações, que
antecederam a nomenclatura do turismo religioso moderno, surgem como sinônimos,
muito embora, em sua origem, apresentem objetivos e significados diferentes, na
medida que que o sentido de peregrinação está relacionado àqueles que buscam
percorrer caminhos por terras inóspitas e desconhecidas.
Por outro lado, as romarias são realidade que se encaixa na necessidade de
estruturação e organização da totalidade de religiões existente. No entanto, e, partindo
do pressuposto de que benefícios especiais são conferidos pela divindade buscada, o
turismo religioso passou a se consolidar com tal, promovendo real intercâmbio entre
crenças e tradições (MAIO, 2004).
Especialmente no catolicismo latino-americano, as peregrinações feitas por fieis
a locais sagrados se tornaram, tal como as festas organizadas com esse mesmo
objetivo, uma expressão bastante privilegiada da religiosidade desse povo. Nesse
contexto, pode-se contemplar nos santuários condição de que encerram em si mesmos
lugares nos quais o povo, enquanto vivem momentos de espiritualidade, podem atingir
experiências do sagrado, que verdadeiramente os toca, alimentando a sua devoção.
Nesses lugares, o sagrado é revelado, marcando o devoto de maneira diferente,
original. Com isso, todo o ambiente tido como destino turístico religioso é contemplado
como estando permeado pela presença, direta ou indireta, de Deus (CHRISTOFFOLI;
PEREIRA; FLORES E SILVA, 2012).
Em associação com as transformações que ocorreram na segunda metade do
século XX, com a popularização dos automóveis e melhoria das estradas de rodagem,
as viagens para os santuários passaram a ser encaradas excursões religiosas. Com
isso, o caráter secular que permeava tais atividades terminou por esvaziar o poder
organizacional de entidades eclesiásticas oficiais, tornando possível, com isso, que
empresas turísticas pudessem ocupar tal função nessas viagens. Assim, as antigas
romarias e peregrinações foram transformadas em turismo religioso (ANTUNES;
BARROCO; DIAS, 2016).
Segundo Dias (2003), o turismo religioso pode ser contemplado como sendo
uma viagem na qual o principal motivo dela ocorrer é a fé do sujeito, podendo,
entretanto, incorporar motivos culturais pelo conhecimento de outras manifestações
religiosas. Sendo assim, em sua percepção, pontua o autor que turismo religioso é
aquele que é “[...] empreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas
e/ou para participarem em eventos de caráter religioso. Compreende romarias,
peregrinações e visitação a espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas” (DIAS,
2003, p.17).
Dias e Silveira (2003), ao elaborarem seus estudos sobre o turismo religioso,
mesclam aspectos relacionados a patrimônio, consumo e pós-modernidade aos de
religião e turismo propriamente ditos. Christoffoli (2007) também dá a sua contribuição,
dissertando acerca dos rituais realizados em Tiradentes, no Estado de Minas Gerais, na
Semana Santa, relacionando-os ao turismo.
No contexto de movimentos religiosos contemporâneos, como, por exemplo, da
Nova Era e do Esoterismo, destacam-se os trabalhos conduzidos por Carneiro (2004),
que foram elaborados sobre o Caminho de Santiago de Compostela, além dos
realizados por Siqueira (2003), que abrangeram o misticismo em Brasília. Frossard
(2006) também produziu interessante estudo, do turismo religioso evangélico que
ocorre em Belo Horizonte, dando claro recorte do que vem ocorrendo ocorrido em todo
o Brasil.
Conforme Dias (2003), é possível identificar dois tipos de visitantes no turismo
religioso: um que amplia o leque de motivações de sua jornada, considerando-a
multifuncional, não focada tão somente na fé e busca espiritual; e outro, o peregrino
puro, que tem motivação unicamente religiosa, tendo a sua jornada o objetivo único de
busca espiritual.
Nesse contexto, e considerando a realidade brasileira, o autor estabeleceu uma
classificação dos atributos que acredita possível atribuir a atrativos religiosos e
turísticos, fazendo uso dos seguintes critérios: motivação da viagem, objetivo final e
área de destino (DIAS, 2003).
A partir daí, o autor classificou os destinos turísticos religiosos em roteiros de fé,
espetáculos artísticos de cunho religioso, festas e comemorações em dias específicos,
encontros e celebrações de caráter religioso, espaços religiosos de grande significado
históricocultural e santuários de peregrinação (DIAS, 2003). É o que ocorre, por
exemplo, com o Santuário Nacional, localizado em Aparecida do Norte, Estado de São
Paulo, objeto desse estudo.
Em Abumanssur (2003), contudo, se vislumbra uma nova visão sobre o tema.
Isso porque, para o autor, grande parte dos que demonstram interesse pelo turismo
religioso tende a enfatizar a dimensão turística à religiosa. Desse modo, a seu ver,
deve-se valorizar esse olhar antropológico, tendo-o como alternativa para viés
mercadológico, considerando-se a sua inclinação para se valorizar a dimensão religiosa
do fenômeno do turismo religioso, especialmente diante da tradição dos estudos sobre
peregrinações.
Para Lanquar (2007), percebe-se uma mudança pontual na clientela do turismo
religioso. Isso porque, no princípio, a clientela dessa vertente turística era nacional,
incluindo famílias com crianças, grupos de jovens e idosos. Atualmente, contudo,
conforme o autor, verifica-se forte tendência de uma clientela mais internacional, que se
utilizada de serviços de agências especializadas, bem como de tecnologias da
informação e de comunicação, com estadias mais curtas, abrangendo todas as classes
sociais e grupos etários.
De acordo com Christoffoli (2007), considerando os resultados da pesquisa
“Classe C e D: o novo mercado do turismo brasileiro”, realizada pelo Ministério do
Turismo em 2005, os principais elementos identificados na relação do turista com a
religião são os seguintes:

Esse turista tem um comportamento e uma visão específica dos passeios,


viagens, excursões e do turismo; costuma viajar em grupo e percebe a viagem
como forma de estabelecer laços de sociabilidade. Viaja com muita frequência
especialmente nos fins de semana, quando percorre distâncias curtas ou
médias, fica hospedado na casa de amigos ou parentes e realiza dispêndios
modestos ao longo da viagem [...] viaja com os organizadores/operadores
informais do turismo que residem no próprio bairro ou fazem parte de sua rede
de relações; o uso sistemático de excursões no formato bate e volta (menos de
24 horas) e de curta distância com pernoite no ônibus; os provedores de serviço
são totalmente informais (CHRISTOFFOLI, 2007, p. 42-43).

O turismo religioso é um dos segmentos que mais apresentam crescimento


atualmente no Brasil. O quantitativo de brasileiros que se dirigem anualmente para
destinos religiosos ultrapassa a marca dos milhões, apresentando crescimento
constante dos turistas que optam por se deslocar pelo Brasil tendo a fé como elemento
motivador (ANTUNES; BARROCO; DIAS, 2016).
Além de estar intimamente relacionado às religiões institucionalizadas, como
católica, protestantes, espírita, afro-brasileiras, dentre outras, que são integradas por
sacerdócio, rituais, templos, estruturas, hierarquias e doutrinas, hierarquias, ele também
se encontra relacionado com a busca espiritual (CHRISTOFFOLI; PEREIRA; FLORES
E SILVA, 2012; ANTUNES; BARROCO; DIAS, 2016).
Nesse sentido, está o turismo católico, considerando-se que, desde 313, Roma
passou a ser tida como o mais importante destino turístico ocidental, recebendo, até a
modernidade, grande fluxo de pessoas, com aumento da constância de visitantes e de
turistas (ANTUNES; BARROCO; DIAS, 2016).
No Brasil, dentre os destinos que mais se destacam para o turismo religioso, está
Aparecida do Norte, no Estado de São Paulo, onde está o Santuário da Padroeira
Nossa Senhora Aparecida.
2.5 As contribuições do marketing do turismo para a divulgação e atratividade
do turismo religioso

O marketing do turismo tem sido apresentado como excelente meio para a


divulgação e fomento da atratividade do turismo a nível local/regional. Diante disso, é
possível concebê-lo, no âmbito do turismo religioso, como sendo o esforço global
envidado para identificação dos produtos que o destino tem a oferecer ao turista,
atendendo, assim, suas necessidades e desejos (NUNES; PLATT, 2013).
Coelho, Gosling e Berbel (2016), por sua vez, o apresenta como um conjunto de
atividades que buscam facilitar a realização de trocas entre os vários agentes que
atuam, quer direta, quer indiretamente, no mercado turístico. Ressaltam ainda os
autores que, dentre as várias definições existentes para o que seja o marketing
turístico, a maioria delas estabelece conceito a partir da ótica do produtor, visão esta
que retrata uma perspectiva operacional voltada ao agente que procura alcançar
resultado econômico em troca da satisfação que proporciona com os seus produtos das
necessidades dos consumidores.
Segundo Silva et al (2015), o uso da promoção da imagem turística como
ferramenta do marketing abrange as forças que são induzidas à imagem pela oferta
turística. Desse modo, deve-se atentar, na formação dos destinos, para a personalidade
e o posicionamento da marca, considerando-se, pois, as suas peculiaridades para
identificar o meio mais viável para servir de canal de distribuição da imagem, que
podem ser web sites, cartões postais, filmes, dentre outros.
Dentre os meios existentes para a promoção do turismo, que se aplica, também,
ao turismo religioso, é a realização de eventos, conceituados por Nunes e Platt (2013)
como sendo um meio de entretenimento, um processo de venda comercial ou
institucional cuja comunicação é o principal objetivo de sua existência.
A cidade-santuário de Aparecida-SP perpassou por processo histórico formativo
em razão da devoção conferida à Nossa Senhora da Conceição. Sua elevação à
condição de destino turístico-religioso se deve ao fato de ter sido encontrada, em 1717,
uma imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul.
Atualmente, o Santuário Nacional se mostra como o maior responsável por
entregar diretrizes para a devoção, ao contrário do que ocorreu no início, em um
período dominado por um espaço sagrado secundário, qual seja, a Igreja Velha
(BARBOSA, 2017).
Com uma política institucional religiosa centrada no “acolher bem também é
evangelizar”, tem-se buscado ampliar e diversificar a espacialidade de devoção e lazer,
de modo que as obras não apresentem relação tão somente como aspectos comerciais
e turísticos, mas, sim, buscando, a partir de seu maior interesse, qual seja, a fé, a
dinâmica e resistência (BARBOSA, 2017).
Com a construção do Santuário Nacional, a devoção à Santa foi impulsionada,
fazendo surgir, também, a necessidade de se realizar várias mudanças no território
religioso para aliar serviços, espiritualidade e conforto aos romeiros, contribuindo, desse
modo, para o fomento do comércio local, aumentando a circulação de renda e gerando
empregos (BARBOSA, 2017).

3 CONCLUSÃO

Pode-se concluir que o turismo religioso em Aparecida-SP pode ser melhor


explorado, como uma organização territorial e propostas que sejam suficientes não para
hoje, mas sim para um longo prazo, e também com a realização de eventos diversos,
como palestras em escolas e universidades, feiras, visitas ao Santuário Nacional,
dentre outros, é possível obter bons resultados para a região.
Desse modo, acredita-se que a hipótese inicialmente formulada foi confirmada,
tenso sido, ainda, cumpridos todos os objetivos da pesquisa, tanto gerais como
específicos, considerando-se a estruturação conferida ao desenvolvimento, e a
abordagem apresentada para o tema.
4 REFERÊNCIAS

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