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Sustentabilidade no Turismo ou Turismo Sustentável: uma revisão conceitual

Chapter · November 2018

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5 authors, including:

Suellen Lamas Clébia Bezerra da Silva


Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Cimone Rozendo
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Lamas. S. A.; Silva, C. B. da; Hofstaetter, M.; Souza, C. R. de & Marques Júnior, S. (2018). Sustentabilidade no Turismo ou Turismo Sustentável: uma revisão conceitual. In
M. C. Santos, F. Perna, J. A. C. Santos, L. N. Pereira & A. I. Renda (Ed). Sustentabilidade: O Futuro do Turismo (chap. IV, pp. 85-102). Faro: UAlg ESGHT.

Sustentabilidade no Turismo ou Turismo Sustentável: uma revisão conceitual


Sustainability in Tourism or Sustainable Tourism: a conceptual review

Suellen Alice Lamas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)/ Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(CEFET/RJ), Brasil, lamas.suellena@gmail.com

Clébia Bezerra da Silva, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil, clebiabsilva@yahoo.com.br

Moema Hofstaetter, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil, moema.natal@hotmail.com

Cimone Rozendo de Souza, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil, cimone.rozendo@gmail.com

Sérgio Marques Júnior, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil, sergio@ct.ufrn.br

Resumo
Os termos turismo sustentável e sustentabilidade no turismo, por vezes, são utilizados como sinônimos e surgem em meio às discussões mundiais
sobre desenvolvimento sustentável, porém, apresentam consideráveis diferenças, o que demonstra a necessidade de se revisitar tais conceitos.
Este artigo, portanto, busca compreender como o debate da sustentabilidade se apresenta no turismo, se mais voltado à dimensão econômica ou
mais abrangente às demais dimensões como a ambiental, sociocultural, político-institucional, dentre outras. Trata-se de um estudo teórico que
traz uma revisão conceitual. Para tanto, realizou-se uma pesquisa exploratória através de revisão de literatura e análise qualitativa dos dados.
Percebe-se, a partir da análise da abordagem teórica apresentada, que a sustentabilidade no turismo está relacionada à manutenção das atividades
ao longo prazo e à capacidade competitiva da atividade turística, o que não necessariamente se dará pelos preceitos do desenvolvimento
sustentável. O turismo sustentável, por sua vez, embora originado desses preceitos tem concentrado suas ações na dimensão ambiental, o que o
torna um discurso retórico. Desta forma, não se pode considerar que sustentabilidade no turismo seja sinônimo de turismo sustentável. Somente
com a consolidação da teoria com a prática e das definições claras do que se pretende – turismo sustentável ou sustentabilidade do turismo, o
discurso deixará de ser retórico, o que requer um debate includente e participativo.
Palavras-chave: desenvolvimento sustentável, dimensões, conceituação, turismo, paradigma

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Abstract
The terms sustainable tourism and sustainability in tourism are at times used as synonyms and arise amidst the global discussions on sustainable
development, but they present considerable differences which demonstrates the need to revisit such concepts. This article, therefore, seeks to
understand how the sustainability debate is presented in tourism, if it is more focused on the economic dimension or more wide-ranging the other
dimensions such as environmental, socio-cultural, political-institutional, among others. It is a theoretical study that brings a conceptual review.
For that, an exploratory research was conducted through literature review and qualitative data analysis. It can be seen from the analysis of the
theoretical approach presented that sustainability in tourism is related to the maintenance of activities in the long term and to the competitive
capacity of tourism activity, which will not necessarily will occur according to the precepts of sustainable development. Sustainable tourism, in
turn, though originated from these precepts has concentrated its actions on the environmental dimension, which makes it a rhetorical discourse.
In this way, sustainability in tourism can not be considered as synonymous with sustainable tourism. Only with the consolidation of theory and
practice and the clear definitions of what is intended - sustainable tourism or tourism sustainability, the discourse will cease to be rhetoric, which
requires an inclusive and participatory debate.
Keywords : sustainable development, dimensions, conceptualization, tourism, paradigm
1. Introdução
A partir da década de 1960, o mundo passou a presenciar a crise do sistema de produção capitalista baseado no paradigma desenvolvimentista.
Este estilo de desenvolvimentismo regulou o sistema de acumulação padronizado pós-segunda guerra mundial, "no momento em que o Ocidente
lançava a palavra de ordem e o empreendimento do desenvolvimento" (Latouche, 2006, p.5). Mas foi, principalmente nos anos de 1970, com a
difusão da compreensão dos limites dos recursos naturais, da crescente perda da biodiversidade e do aumento da emissão dos gases do efeito
estufa (GEE), entre outros problemas ambientais, que se passou a compreender que a capacidade de suporte do planeta é limitada, que a
utilização desenfreada e desordenada dos recursos não renováveis, decorrente de um estilo de vida baseado no consumo e a poluição, como
consequência desse uso, podem causar danos irreversíveis ao meio ambiente (Leff, 2000). É neste contexto, que o sistema de produção
capitalista, de base desenvolvimentista, passa a ser questionado, evidenciando-se a necessidade de se priorizar modelos que permitam a
reprodução dos ecossistemas e do próprio homem como espécie.

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Essa maior atenção em relação à preservação do meio ambiente, os vários estudos sobre os impactos da produção para o futuro do planeta e as
preocupações com a qualidade de vida das gerações futuras, acabaram por fomentar, a partir da década de 1970, uma nova proposta de
desenvolvimento, inicialmente expressa pelas concepções do ecodesenvolvimento e, na década de 1980, pela de desenvolvimento sustentável
(Sachs, 2008). Esta nova proposta, partiu da crítica e se apresentou como alternativa ao desenvolvimento econômico, base da sociedade
capitalista. Passou-se a difundir o conceito de desenvolvimento sustentável, propondo-se um novo modelo de desenvolvimento que abarcasse as
questões socioculturais e ambientais e não só as econômicas, assim, constituindo-se nas dimensões do modelo. No entanto, com os avanços das
discussões, há quem considere mais dimensões.
Foi nesse contexto, das discussões sobre sustentabilidade, que emergiu também o debate sobre a sustentabilidade no turismo e a necessidade de
novas formas de se praticar a atividade turística. Considerando-se para além dos impactos econômicos, tido como positivos do turismo de massa
e, refletindo-se a inter-relação do turismo com os ambientes sociocultural e ambiental, análises sistêmicas foram realizadas no sentido de
minimizar impactos negativos, maximizando os positivos. Neste sentido, fundamentou-se a proposta de um turismo alternativo, de onde
depreendeu-se, dentre outras propostas, a ideia de Turismo Sustentável (Körössy, 2008).
Desde então a questão da sustentabilidade no turismo vem sendo debatida e definida de diferentes formas segundo os interesses e
posicionamentos de quem a utiliza. E embora não tenha uma definição consensual, Beni (2003) descreve que:

Pelas observações e leituras constatadas, todos os pesquisadores e autores que se dedicam ao estudo do tema são unânimes em afirmar
que sustentabilidade é um conceito que envolve o longo prazo, que gera valor agregado por meio de lei de otimização e não da
maximização da renda, assegurando a inclusão e a coesão social e política num processo de desenvolvimento integrado e integral (Beni,
2003, p.7).

Mas o que de fato é turismo sustentável? Sustentabilidade no turismo e turismo sustentável são sinônimos? A partir desses questionamentos, o
presente trabalho tem, como objetivo geral, compreender como o debate da sustentabilidade se apresenta no turismo, verificando, se é um
conceito economicista tendo a sustentabilidade como manutenção da capacidade competitiva da atividade ao longo do tempo (sustentabilidade no
turismo) ou se é um conceito baseado nos preceitos do desenvolvimento sustentável (turismo sustentável).
A complexidade conceitual desse debate é reconhecida por autores como Afonso, Souza, S. Ensslin e L. Ensslin (2011), Budeanu, Miller
Moscardo e Ooi (2016), e Melo e Farias (2018) dada a dinâmica e multidimensionalidade dos temas turismo e sustentabilidade, o que requer
atenção de pesquisadores e interessados nesses

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temas. O presente debate se mostra, portanto, fundamental no momento em que a sustentabilidade continua em voga nos meios acadêmicos e
mercadológicos, constituindo-se como um paradigma da pós-modernidade, conforme expressam Glasenapp e Cruz (2014), e o turismo
sustentável se apresenta, para a gestão pública e privada, como ferramenta de desenvolvimento desde o local ao global.
2. Desenvolvimento e Sustentabilidade em Debate
Antecedendo o conceito de sustentabilidade, tal como se discute hoje, a expansão do debate ambiental, teve, principalmente desde a década de
1970, como uma de suas discussões centrais, a crítica aos modelos de desenvolvimento como expressão das sociedades modernas e complexas.
Até então, a crítica a estes modelos esteve tradicionalmente assentada na busca de alternativas que pudessem reorientar a extensão dos impactos
ambientais e assim minimizá-los e, produzir um certo equilíbrio entre desenvolvimento e ambiente, dadas as evidências de esgotamento dos
sistemas naturais como provedores do crescimento econômico (Hofstaetter & Pessoa, 2016).
Diversas análises e suposições foram colocadas em debate, o que suscitou a necessidade de pensar alternativas que pudessem garantir meios de
manutenção da reprodução da vida e do meio ambiente ao longo do tempo. Nessa busca por alternativas, surge na década de 1980, a perspectiva
da sustentabilidade, que poderia conduzir a uma nova orientação aos modelos de desenvolvimento e assim gerar uma perspectiva de equilíbrio
num cenário crescente de incertezas (Prigogine, 1996) e riscos (Beck, 1992) dados pela problemática ambiental. É de se considerar que, neste
mesmo tempo, as relações sociais passam a se conectar a partir das redes (Castells, 1996), inaugurando novos meios de fluxos de informações
impulsionados pelas tecnologias comunicacionais. Desta forma, redefiniram-se as relações de pertencimento e de territorialidades, com a
expansão da globalização e eminente extinção das barreiras para a reprodução do capitalismo em sua forma mais espúria (Hofstaetter & Pessoa,
2016).
A ideia de globalização, no final do século XX, remete de imediato à imagem de homogeneização sociocultural, econômica e espacial (Haesbaert
& Limonad, 2014). É, portanto, essencial para entender a discussão sobre desenvolvimento sustentável no turismo, compreender a construção do
conceito de desenvolvimento.
O conceito de desenvolvimento, que em oposição ao conceito de crescimento econômico, tal como se discute hoje, surgiu em meados do século
XX em um cenário que implicava a reparação de desigualdades ou, mais especificamente, a reconstrução da periferia devastada da Europa no
pós-guerra. Trazia consigo a promessa de uma modernidade inclusiva oriunda de mudanças estruturais, ou ainda,

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reconceituando o termo, o conceito de desenvolvimento à época, trazia embutido os conceitos de igualdade, equidade e solidariedade, com
alcance em longo prazo, diferenciando-se do pensamento econômico reducionista.
Ocorreram mais de quatro décadas de intenso debate ambiental diretamente relacionado ao modelo de desenvolvimento vigente nas sociedades
atuais, sendo aqui citada uma pequena parte. Uma série de estudos foram publicados a partir da década de 1960, tendo a publicação de
“Primavera Silenciosa” de Rachel Carson um marco inicial dos debates que ocorreram nas décadas seguintes. À época se destacaram também
outros estudos como “A Bomba Populacional” de Paul Ehrlich (1968), o informe “Limites do Crescimento”, produzido em 1972, conhecido
como o “Informe Meadows”, estudo em profundidade sobre o crescimento populacional e o aumento do consumo dos recursos naturais. No
mesmo ano do citado informe é realizada a primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, na cidade de Estocolmo, na Suécia, promovida
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, cujo principal resultado foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), órgão vinculado à ONU e que se tornaria responsável por coordenar as discussões ambientais internacionais (Ribeiro,
2001).
Em 1983 foi criada a Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), com a missão de propor
estratégias de cooperação entre países, que considerassem as inter-relações de indivíduos, recursos ambientais e atividades econômicas. Para a
ONU, a crise ambiental era global e, portanto, a sua resolução requeria uma gestão global. Poucos anos mais tarde, em 1987, o termo
desenvolvimento sustentável foi delineado no relatório intitulado “Nosso Futuro Comum” da ONU em 1987. Segundo este, a humanidade tem a
capacidade de realizar um desenvolvimento sustentável para atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras atenderem também às suas (ONU, 1991).
O marco desse processo foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ocorrida no Brasil, conhecida como
Eco-92 ou Rio-92, momento em que se estabelecem acordos e agendas mundiais com vistas à sustentabilidade.
Para Leff (2000) a tomada da consciência ambiental introduziu novos princípios valorativos e forças materiais abrindo novas perspectivas ao
processo de desenvolvimento. Para o autor “A problemática ambiental surge como um sintoma e um questionamento do modelo de civilização
construído sobre um conjunto de elementos de racionalidade das sociedades modernas [...]” (Leff, 2000, p. 229).
Como conceito histórico e social, o desenvolvimento é por natureza aberto e assim, Sachs (2008) traz a necessidade de revisitá-lo e torná-lo mais
operacional frente ao

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seu sombrio histórico, em muitas partes do mundo, a fim de superar dois paradigmas de desenvolvimento: o pós-moderno – renúncia ao conceito
de desenvolvimento por percebê-lo como uma ideologia; os fundamentalistas de mercado – renúncia ao conceito de desenvolvimento por
considerá-lo redundante. Conforme explicita Beni (2003, p. 10):

Sachs reelabora o conceito de desenvolvimento sustentável, também chamado de ecodesenvolvimento, como um estilo de
desenvolvimento aplicável a projetos não só rurais mas também urbanos, oposto à diretriz mimético-dependente tradicionalmente adotada
nos países pobres, orientado pela busca de autonomia ou self-reliance, e pela satisfação prioritária de necessidades básicas das populações
envolvidas. A integração da dimensão do meio ambiente é pensada não apenas como uma espécie de co-ação suplementar, mas também
na qualidade de um amplo potencial de recursos, utilizando-se de critérios de prudência ecológica.

Essa reconceituação traz a visão interdisciplinar do desenvolvimento sustentável para Sachs que o entende como um desenvolvimento endógeno
e includente, ao mesmo tempo sustentável e sustentado. Nas palavras do autor:

O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a
explicitação de critérios de sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que
considerem estes três elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais,
merecem a denominação de desenvolvimento [...] (Sachs, 2008, p. 36).

Na visão de Sachs (2008) para que o desenvolvimento seja adjetivado como sustentável faz-se necessário atender a cinco pilares ou dimensões:
social, ambiental, territorial (relacionado à distribuição espacial), econômico e político (governança democrática) considerando-se que o objetivo
final do desenvolvimento é uma civilização do ser e não do ter.
Em meio à essas discussões ambientais planetárias e às novas propostas desenvolvimentistas manifestou-se o turismo sustentável como reflexo às
demandas sociais que emergiram, pois como observado por Dias (2003), o turismo desenvolveu-se na mesma perspectiva dos demais segmentos
da economia em paralelo ao crescimento da consciência ambiental. Neste sentido, “O turismo, enquanto um fenômeno da sociedade, criado e
desenvolvido por ela, foi também impelido a alterar suas atividades, às quais fossem predatórias, como forma de manter-se a si mesmo” (Lamas,
2012, p. 10). Desde então o binômio turismo e sustentabilidade vêm sendo debatido de forma correlacionada com distintos entendimentos a partir
das abordagens que lhe é conferida por diferentes autores e áreas do conhecimento, como será visto nas próximas seções.

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Nos capítulos que se seguem buscou-se discutir a sustentabilidade no turismo sob as perspectivas do desenvolvimento sustentável, conforme as
dimensões propostas por Sachs (2008), em que se pudesse compreender tal debate no turismo - se apoiado em um entendimento economicista em
que o turismo é visto a partir de um crescimento sustentado (sustentabilidade no turismo) ou com base em um desenvolvimento que leva em
consideração para além da dimensão econômica, a social, ambiental, política, territorial.

3. Metodologia
Do ponto de vista da estrutura metodológica, utilizou-se uma abordagem teórico-metodológica baseada numa análise qualitativa dos dados, e de
uma pesquisa exploratória por meio de revisão de literatura, de forma tal que se possibilitassem algumas ponderações conclusivas sobre o
objetivo proposto de problematizar como o tema da sustentabilidade entra na agenda do turismo (Lakatos & Marconi, 2011).
A revisão de literatura instrumentalizou a discussão desenvolvida no artigo, que buscou o diálogo interdisciplinar entre diversas perspectivas
discursivas (autores e organizações nacionais e internacionais) para compreender a adoção do paradigma da sustentabilidade no âmbito do
turismo, e quais os debates atuais em torno da temática, sem a preocupação de apontar quais foram as estratégias práticas ou políticas colocadas
em curso a partir dessa perspectiva.
Do ponto de vista da técnica e do modelo de análise, conforme proposto por Minayo, Assis e Souza (2005), a análise processou-se por meio do
diálogo de diferentes fontes e pesquisadores e optou-se pela adoção de uma classificação “criando categorias de estudo que permitirão a análise
dos resultados, com base nos objetivos da pesquisa" (Minayo et a.l, 2005, p. 186). Considerando esse pressuposto, foram definidas cinco
categorias para análise da revisão da literatura, com base nas dimensões propostas por Sachs (2008), ao discutir o conceito de sustentabilidade:
(i) dimensão social; (ii) dimensão ambiental; (iii) dimensão econômica, (iv) dimensão territorial e (v) dimensão política. O objetivo desta
classificação foi organizar de forma estrutural as dimensões que permitem observar semelhanças e diferenças entre os conceitos-chave deste
artigo, ou seja, entre sustentabilidade no turismo e turismo sustentável.
Quando os autores categorizam as dimensões citadas, eles estão compreendendo que ambos os conceitos-chave analisados no artigo devem ser
olhados, a partir do seguinte entendimento, baseados em Sachs (2002):
1) Dimensão Social: se refere ao alcance de um patamar razoável de homogeneidade social, com distribuição de renda justa, emprego pleno
e/ou autônomo, com qualidade de vida decente e igualdade no acesso a recursos e serviços sociais.

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2) Dimensão Ambiental: refere-se ao respeito da capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais, considerando a preservação do
potencial do capital natural, utilização de recursos renováveis e a limitação do uso dos recursos não renováveis. Reduzir o volume de
resíduos e de poluição, através da conservação de energia e de recursos e da reciclagem. Promover a autolimitação no consumo de
materiais por parte dos países ricos e dos indivíduos em todo o planeta. Intensificar a pesquisa para a obtenção de tecnologias de baixo
teor de resíduos e eficientes no uso de recursos.
3) Dimensão Econômica: desenvolvimento econômico setorial e intersetorial equilibrado, com utilização mais eficiente dos recursos e de um
fluxo constante de investimentos públicos e privados. A eficiência econômica deve ser avaliada em termos macrossociais e não apenas
através do critério da rentabilidade empresarial de caráter microeconômico.
4) Dimensão Territorial: refere-se a configurações urbanas e rurais assim como litorâneas balanceadas (sem discrepâncias nas alocações do
investimento públlico para o urbano), com superação das disparidades inter-regionais e com estratégias de desenvolvimento que
considere o equilíblrio entre o respeito às tradições e as inovações, com participação efetiva da população local na elaboração de um
projeto de desenvolvimento local, com o empoderamento dos atores envolvidos, rechaçando ações assitencialistas. Estimular o comércio
local.
5) Dimensão Política: democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, com o desenvolvimento da capacidade
do Estado para implementar os projetos, em parceria com o setor privado e terceiro setor, com um nível razoável de coesão social.

4. Sustentabilidade no Turismo versus Turismo Sustentável: resultados e discussão


O conceito de turismo sustentável originou-se do conceito de desenvolvimento sustentável, e tal como esse, não possui uma definição
consensual. As origens do termo datam da década de 1960 século XX com o reconhecimento dos impactos negativos do turismo de massa nos
meios sociocultural e ambiental, para além dos benefícios econômicos. A conceitualização evoluiu na década seguinte, de 1970, com as
preocupações relativas à capacidade de carga (quantidade de visitantes) numa determinada localidade, culminando no conceito de turismo verde
na década de 1980 e é inscrito na Agenda 21, na década de 1990, sob a expressão de turismo sustentável (Swarbrooke, 2000, Körössy, 2008,
Mihalic, 2016).
Segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT) o turismo sustentável é a atividade em que os recursos naturais, históricos e culturais
destinados ao turismo

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são preservados para seu uso contínuo tanto no presente quanto no futuro, ao mesmo tempo em que se mantém a satisfação dos turistas, as
necessidades socioeconômicas das regiões receptoras e os benefícios são distribuídos a toda a sociedade (WTO, 1999). De modo complementar,
Beni (2003, p. 14) descreve que o turismo sustentável:

(...) em sua vasta e complexa abrangência, envolve: compreensão dos impactos turísticos; distribuição justa de custos e benefícios;
geração de empregos locais diretos e indiretos; fomento de negócios lucrativos; injeção de capital com consequente diversificação da
economia local; interação com todos os setores e segmentos da sociedade; desenvolvimento estratégico e logístico de modais de
transporte; encorajamento ao uso produtivo de terras tidas como marginais (turismo no espaço rural); subvenções para os custos de
conservação ambiental.

Como marcos no debate da sustentabilidade no turismo tem-se a Conferência Mundial de Turismo Sustentável realizada na Espanha em 1995 que
originou a Carta de Turismo Sustentável e introduziu novos conceitos como certificação ambiental, atuação responsável e gestão ambiental
(Beni, 2003, körössy, 2008). Vale citar que esses novos conceitos, que estimularam novas práticas de gestão, inseriram a discussão ambiental no
meio empresarial. Desde então outros eventos com a temática ambiental no turismo foram sendo realizados e o debate ganhando cada vez mais
espaço na academia e no mercado.
O ano de 2017 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o
Desenvolvimento. Tal decisão é um reconhecimento de que o turismo pode contribuir com o desenvolvimento sustentável através da promoção
de uma melhor compreensão entre os povos do mundo e uma valorização das diferentes culturas. Conforme descreve a Organização das Nações
Unidas:

A decisão de adotar 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento ocorreu em um momento
particularmente importante, quando a comunidade internacional adotou a nova Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), aprovados pela Assembleia Geral da ONU em setembro de 2015. O turismo aparece como meta em três dos novos
objetivos globais da ONU: no 8, 12 e 14 (ONU BR, 2016).

A Agenda 2030 é um plano de ação que define 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e 169 metas para os próximos 15 anos buscando
equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, sociocultural e ambiental. Tais objetivos foram construídos sobre o
legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a fim de se concluir os objetivos não alcançados anteriormente. A saber: 1.Erradicação da
Pobreza; 2.Fome Zero e Agricultura Sustentável; 3.Saúde e Bem Estar; 4.Educação de Qualidade; 5.Igualdade de Gênero; 6.Água Potável e

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Saneamento; 7.Energia Limpa e Acessível; 8.Trabalho Decente e Crescimento Econômico; 9.Indústria, Inovação e Infraestrutura; 10.Redução
das Desigualdades; 11.Cidades e Comunidades Sustentáveis; 12.Consumo e Produção Responsáveis; 13.Ação Contra a Mudança Global do
Clima; 14.Vida na Água; 15.Vida Terrestre; 16.Paz, Justiça e Instituições Eficazes; e 17.Parcerias e Meios de Implementação (ONU BR, 2015).
Na Agenda 2030 o turismo sustentável aparece como meta em três dos objetivos, vale destacar: “8.9. Até 2030, elaborar e implementar políticas
para promover o turismo sustentável, que gera empregos e promove a cultura e os produtos locais”; “12.b. Desenvolver e implementar
ferramentas para monitorar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável, que gera empregos, promove a cultura e os
produtos locais”; “14.7. Até 2030, aumentar os benefícios econômicos para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países
menos desenvolvidos, a partir do uso sustentável dos recursos marinhos, inclusive por meio de uma gestão sustentável da pesca, aquicultura e
turismo” (ONU BR, 2015).
Abordando a mesma temática, a Organização Mundial do Turismo (OMT), agência especializada da ONU, trabalhou ao longo de 2017 o tema
“Turismo Sustentável: uma ferramenta para o desenvolvimento” cuja discussão culminou no evento de comemoração ao Dia Mundial do
Turismo, dia 27 de setembro de 2017, realizado em Doha no Catar (UNWTO, 2017).
A origem do Dia Mundial do Turismo se remonta ao dia 27 de setembro de 1970 quando a até então União Internacional de Organizações
Oficiais de Viagens (IUOTO), organização não governamental, se transforma em Organização Mundial do Turismo (OMT), órgão
intergovernamental que tornou-se agência especializada da ONU em 2003. Desde 1980 é comemorado o Dia Mundial do Turismo nesta data
(UNWTO, 2017). A cada ano, uma Comissão formada por representantes desses países escolhe um tema a ser discutido internacionalmente e
celebrado no dia 27 de setembro, conforme ilustrado no Quadro 1.

Quadro 1. Temáticas do Dia Mundial do Turismo (1980 – 2018)

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2014 Turismo e Desenvolvimento Comunitário
2013 Turismo e Água: proteger nosso futuro comum
2012 Turismo e Energia: ligando o desenvolvimento sustentável
2011 Turismo e a Aproximação das Culturas
2010 Turismo e Biodiversidade
2009 Turismo: celebração da diversidade
2008 Turismo: Respondendo ao desafio das Mudanças Climáticas
2007 O Turismo abre portas para as mulheres
2006 O Turismo Enriquece
2005 Viagens e Transporte: do imaginário de Júlio Verne à realidade do século XXI
2004 Desporto e turismo: duas forças vitais para a compreensão mútua, a cultura e o
desenvolvimento dos países
2003 O turismo como elemento propulsor de luta contra a pobreza, para a criação de
empregos e de harmonia social
2002 Ecoturismo, a chave do desenvolvimento sustentável
2001 O turismo, um instrumento ao serviço da paz e do diálogo entre as civilizações
2000 Tecnologia e Natureza: dois desafios para o turismo no alvorecer do século XXI
1999 Turismo: preservação do patrimônio mundial para o novo milênio
1998 Parceria entre os setores público-privado: a chave para o desenvolvimento e promoção
do turismo
1997 Turismo, uma atividade essencial do século XXI para a criação de empregos e a
proteção ambiental
1996 Turismo: fator de tolerância e paz
1995 OMT: 20 anos a serviço do turismo mundial
1994 Profissionais de Qualidade, Turismo de Qualidade
1993 Desenvolvimento do turismo e Proteção Ambiental: em direção a uma harmonia
duradoura
1992 Turismo: um fator de crescente solidariedade social e econômica e de encontro entre
as pessoas
1991 Comunicação, Informação e Educação: elementos motores do desenvolvimento do
turismo
1990 Turismo: uma indústria desconhecida, um serviço a ser liberado
1989 A livre circulação de turistas cria um mundo unido
1988 Turismo: educação para todos
1987 Turismo a serviço do desenvolvimento
1986 Turismo: uma força vital para a paz mundial
1985 Turismo da Juventude: patrimônio cultural e histórico para a paz e amizade
1984 O Turismo para a compreensão, paz e cooperação internacionais
1983 Viagens e férias: um direito, mas também uma responsabilidade de todos
1982 Orgulho em Viajar: bons visitantes, bons anfitriões
1981 Turismo e Qualidade de Vida
1980 Contribuição do turismo para a preservação do patrimônio cultural e para a paz e a
compreensão mútua
Fonte: adaptado de UNWTO (2017, tradução nossa)

A partir do Quadro 1 é possível observar que os princípios do desenvolvimento sustentável – ambiental, econômico e social, perpassam pelos 38
temas discutidos nas comemorações do Dia Mundial do Turismo, ainda que de maneira não correlacional. Alguns anos destacam as questões
sociais, outros trazem um enfoque econômico da atividade turística.
Observa-se ainda no Quadro 1 que o debate sobre turismo sustentável é tratado de forma direta em 2017, mas outros aspectos da sustentabilidade
são abordados em outros anos. Temas como: biodiversidade, mudanças climáticas, ecoturismo, natureza, preservação e proteção ambiental,
trabalhados em alguns desses anos, são reconhecidos como sustentáveis, pois, tal como afirma Valls (2006), os aspectos ambientais continuam
sendo os predominantes no conceito de sustentabilidade. Beni (2003) alerta, porém, para a necessidade de não se pode confundir sustentabilidade
ambiental com turismo sustentável, visto que aquela seria apenas uma das dimensões da sustentabilidade do turismo. Para Körössy (2008), assim
como ocorreu com o conceito de desenvolvimento sustentável, o de turismo sustentável foi mal interpretado, tendo maximizado a dimensão
ambiental em detrimento das demais.
Do mesmo modo, não se pode confundir os conceitos de turismo sustentável e sustentabilidade no turismo. Para a Organização Mundial do
Turismo, o turismo sustentável é um conceito que envolve as sustentabilidades: ambiental, econômica, sociocultural e político-institucional.
Desta feita, busca compatibilizar a atividade turística com a manutenção da diversidade dos recursos naturais e culturais, presevar e fortalecer a
identidade local, assegurar um desenvolvimento economicamente eficaz, e firmar parcerias entre diferentes atores (Mtur, 2016). Tal como expõe
Dias (2003) esses princípios da sustentabilidade devem ser o objetivo principal de qualquer espaço ou produto turístico, em especial daqueles
onde há maiores níveis de pressão ambiental e onde há instabilidade socioeconômica. A sustentabilidade no turismo, por sua vez, relaciona-se à
manutenção da atividade no longo prazo, o que não necessariamente se dará segundo os preceitos do desenvolvimento sustentável, ou seja, o
foco é a permanência de um ciclo constante e duradouro de crescimento da atividade turística mesmo que para isso questões ambientais e sociais
não sejam reputadas (Körössy, 2008).
Depreende-se, portanto, que esses conceitos não são iguais e que a sustentabilidade do turismo só virá ao encontro do conceito de turismo
sustentável quando contemplar para além da questão econômica, as questões sociais e ambientais, e isto está intrinsicamente ligado à forma de
gestão da atividade turística.
Quando se reflete sobre o debate da sustentabilidade no turismo pelo viés do conceito de turismo sustentável, ou seja, como uma forma
alternativa de turismo baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável, verifica-se que o discurso que se apresenta é retórico, isto porque a
atividade apropriou-se da “bandeira verde” - vale lembrar que outrora o turismo já fora chamado de “indústria limpa” (Irving, Bursztyn, Sancho,
& Melo, 2005) - em resposta a uma demanda social que emergia e debatia a degradação ambiental em nível mundial. Hoje o adjetivo

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sustentável aparece como termo recorrente e obrigatório seja no discurso do mercado ou academia como salvo-conduto para justificar ações,
mesmo quando estas não refletem, de fato, os princípios do desenvolvimento sustentável. Segundo o pensamento de Rodrigues (2005, p.2) “uma
ideia genérica que abstrai a realidade, oculta a complexidade (...) dificultando assim a análise crítica”.
O discurso da sustentabilidade no turismo se mostra retórico também ao se perceber que países como o Brasil que, embora esteja em primeiro
lugar no quesito de recursos naturais e o oitavo em recursos culturais, aparece em sexagésimo sexto, no quesito de sustentabilidade ambiental, no
ranking de 136 países do Relatório de Competitividade de Turismo e Viagens do Fórum Econômico Mundial (WEF, 2017). O que denota, dentre
outras interpretações, que se têm os recursos, mas que esses não estão sendo protegidos, apesar dos discursos do desenvolvimento sustentável
estarem nas escolas, na academia, nas empresas e no próprio turismo.
Sobre essas adaptações aos conceitos destaca-se outras variáveis que devem ser consideradas no âmbito do desenvolvimento sustentável do
turismo como: acessibilidade, tecnologias da informação e segurança/violência urbana propostas por Lamas, Spallanzani, Affonso, e Marques
(2017), variável tecnológica (Cruz e Bodnar, 2012), dentre outras. A discussão de tais variáveis poderá complementar e estimular ações nas
outras dimensões da sustentabilidade, além da econômica, que ainda são negligenciadas.
Para que deixe de ser um discurso retórico é preciso planejar a operacionalidade do turismo sustentável e atestá-la, por isso a importância do
desenvolvimento de instrumentos que avaliem a sustentabilidade em suas várias dimensões. Os indicadores de sustentabilidade, por exemplo, são
importantes ferramentas de planejamento e gestão do turismo sustentável, pois medem as mudanças e impactos causados pela atividade (MTur,
2007). Andrade e Câmara (2012) citam alguns desses modelos utilizados no Brasil e que tem aplicação direta no turimo: Global Reporting
Initiative, Índice de Sustentabilidade, Método de Avaliação de Indicadores de Sustentabilidade Organizacional e o Grid de Sustentabilidade
Empresarial. A análise da operacionalidade da sustentabilidade será, portanto, de grande valia para a consolidação do conceito de turismo
sustentável.
Há de se considerar, porém, a confiabilidade na mensuração da sustentabilidade. Veiga (2005) ao avaliar a mensuração do desenvolvimento e
como esta pode ser feita, chama a atenção para a multidimensionalidade desse processo, o que torna duvidosa e discutível qualquer mensuração
representada por um índice sintético. Para o autor esses indicadores poderão ser úteis desde que sirvam para enfatizar as principais discrepâncias
entre cada dimensão do desenvolvimento. O mesmo princípio poderá ser aplicado à mensuração da sustentabilidade no turismo.

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Refletindo ainda especificamente sobre o debate da sustentabilidade no turismo o que se observa é a falta de coerência do discurso teórico com
sua aplicação prática. Fala-se em sustentabilidade das atividades turísticas com base no tripé econômico, social, ambiental, mas o que se percebe
são ações concentradas nas dimensões ambiental e econômica em que a dimensão social é contemplada de modo assistencialista e não
participativo (Schutel, 2010).
Para Serrão, Almeida e Carestiato (2012) há uma tendência por parte dos governantes e daqueles que têm poder de decisão, aqui incluído
também o empresariado, em perceber o que a natureza tem a oferecer como mercadoria, logo considerando apenas o crescimento econômico.
Um exemplo específico no turismo se dá na gestão ambiental em meios de hospedagem, utilizada pela esfera privada como iniciativa de
promoção da sustentabilidade do turismo, mas o que se vê em estudos como o de Guimarães (2006), Freitas e Almeida (2010), e Lamas (2012;
2016) é que se trata de ações voltadas para a economia de água e energia o que denota fins economicistas (redução de custos) e não
necessariamente sustentáveis. É possível apropriar-se da fala de Leff (2000) para entender tal realidade. Segundo o autor:

A questão ambiental gerou uma ampla consciência e uma elaboração conceitual que não teve dificuldades para adaptar-se ao discurso
político do Estado. Contudo, o saber ambiental não conseguiu ainda romper os obstáculos epistemológicos da teoria econômica e das
barreiras institucionais constituídas pela lógica do mercado. [...] (Leff, 2000, p. 244).

Neste sentido é preciso valer-se da racionalidade ambiental proposta pelo autor para sistematizar os enunciados teóricos do discurso do turismo
sustentável analisando a coerência e materialização dessa sustentabilidade na prática. Segundo Leff (2000, p. 234):

A categoria da Racionalidade Ambiental constitui-se, assim, como um instrumento para a análise da coerência dos princípios do
Ambientalismo em suas formações discursivas, teóricas e ideológicas; de sua eficácia, através dos movimentos sociais, nas
transformações institucionais, nos planos e programas governamentais, para alcançar os objetivos implícitos e explícitos da gestão
ambiental [...].

Ou ainda, conforme expressam Irving et al (2005, p. 6): “[...] pensar sustentabilidade no turismo implica em idealismo e visão estratégica de
longo prazo, mas também pragmatismo, a partir de experiências capazes de transformar utopia em possibilidade, discurso em prática cotidiana”.
Deste modo faz-se necessário uma análise profunda sobre o turismo sustentável visto este ter-se consolidando como tema central no debate do
turismo na contemporaneidade. É preciso revisitar o significado de sustentabilidade do turismo e turismo sustentável, tal como propõem Irving et
al. (2005) e já indicava Sachs
(2008) para o conceito de desenvolvimento sustentável, a fim de que as ações práticas sustentáveis reflitam o discurso teórico de modo a
contemplar todas as dimensões da sustentabilidade. Somente com a consolidação da teoria com a prática e das definições claras do que se
pretende – turismo sustentável ou sustentabilidade do turismo, o discurso deixará de ser retórico. Isso requer um debate includente e
participativo.
5. Conclusão
O presente artigo buscou compreender como o debate da sustentabilidade se apresenta no turismo. Valeu-se, para tanto, de uma pesquisa
bibliográfica de autores e organizações que debatem o tema e são referências na área de turismo e/ou sustentabilidade. É um trabalho teórico e
preliminar, pois inicia a discussão de forma genérica dos temas, sem se aprofundar em estratégias práticas e políticas da sustentabilidade no
turismo. Teve como próposito avaliar a correlação entre sustentabilidade no turismo e turismo sustentável, relacionando os conceitos-chave deste
artigo, com base em semelhanças e diferenças. Conclui-se que, com base na categorização das cindo dimensões, os termos não são sinônimos e
devem ser bem distinguidos, pois essa confusão terminológica, leva ao não entendimento desses conceitos, e logo, dificulta à aplicação dos
mesmos.
Pode-se inferir que a sustentabilidade no turismo, enquanto um discurso economicista de longo prazo, pode estar na proposta de um turismo
sustentável, visto que este abarca a sustentabilidade econômica, todavia, não se pode considerar que sustentabilidade no turismo seja sinônimo de
turismo sustentável, pois o conceito geral envolve também as dimensões – ambientais, socioculturais e político-institucionais, além de
dimensões, que se pode considerar, discutidas e citadas por diferentes autores ao longo do artigo.
Do mesmo modo, cabe destacar que turismo sustentável é uma forma de se fazer turismo e não um segmento do turismo tais como ecoturismo,
turismo rural. Assim, qualquer tipologia de turismo poderá ser denominada de sustentável se adotar os princípios da sustentabilidade.
Depreende-se a partir da análise da abordagem teórica apresentada – definições, contexto histórico, quadro temático, que o tema da
sustentabilidade está em voga e que perpassa, direta ou indiretamente, pelo debate no turismo. Nota-se, entretanto, a necessidade de se trabalhar
outras dimensões, para além da ambiental, predominante no conceito de sustentabilidade.
Como pesquisa futura, dando continuidade à proposta do presente artigo, buscar-se-à verificar quais perspectivas da sustentabilidade são
adotadas em projetos e/ou planos de turismo no Brasil.

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