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DA TRANSVERSALIDADE A SUSTENTABILIDADE: A EDUCAÇÃO FINANCEIRA

COMO PROPAGADORA DE UMA NOVA ÉTICA AMBIENTAL

Wanaline Reinaldo do Nascimento


Mestranda no Programa de Pós-Graduação Profissional Interdisciplinar em
Desenvolvimento Local do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil
Luciana Santos de Carvalho
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Profissional Interdisciplinar em
Desenvolvimento Local do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil
Katia Eliane Santos Avelar
Doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Titular e
Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação Profissional Interdisciplinar em
Desenvolvimento Local da UNISUAM – Rio de Janeiro (RJ), Brasil
Maria Geralda de Miranda
Doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pós Doutora em Políticas
Públicas Pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Titular e
Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação Profissional Interdisciplinar em
Desenvolvimento Local da UNISUAM – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

RESUMO
A sustentabilidade é o ideário do desenvolvimento sustentável que carece profundamente
de soluções concretas e permanentes. A busca por práticas sustentáveis é urgente, porém o
paradoxo da sustentabilidade adjetiva em detrimento da sustentabilidade substantiva
segundo o que descreve Boff é uma realidade. Este artigo estuda a estratégia nacional da
educação financeira (ENEF) como uma perspectiva educacional para propagação de uma
nova ética ambiental e tem por objetivo apontar a importância do tema contemporâneo
transversal (TCTs), a saber: educação financeira, como gerador de respostas práticas na
obtenção de resultados que contemplem as premissas presentes nos ODS´s (objetivos para
desenvolvimento sustentável) preconizados na agenda 2030 proposto pela ONU, bem como
suas metas que são interconexas e indivisíveis. A ética ambiental ressalta que é preciso
promover sociedades mais conscientes da necessidade de pensar em um futuro inclusivo e
resiliente, capaz de priorizar pessoas e planeta, entendendo que as dimensões da
sustentáveis são abrangentes e englobam preocupações sociais, econômicas e ambientais.
Conclui-se que a dinâmica capitalista influencia fortemente na relação predatória do homem
com a natureza e que a educação por meio do ensino é um eficiente espaço para formação
de pessoas mais reflexivas e solidárias, mais preocupadas com as futuras gerações. Que a
partir do processo reflexivo se percebam não como meros consumidores individualistas, mas
que se transformem em sujeitos mais conscientes e perspicazes na utilização de recursos
para o bem comum, e para a manutenção do equilíbrio planetário buscando a proteção da
natureza, recuperação dos recursos danificados pela ação humana, bem como a uma
qualidade de vida pautada em um modo de vida ambientalmente ético.
Palavras-Chave: Educação, Economia, transversalidade, sustentabilidade.
1 Introdução

Este artigo estuda a estratégia nacional da educação financeira (ENEF) como uma
perspectiva educacional no fomento a resolução de questões pontuais e imprescindíveis ao
alcance dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da agenda 2030,
principalmente em relação ao objetivo 4 (quatro) que visa garantir o acesso à educação
inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidade de aprendizagem ao longo da
vida para todos, entenda-se acesso no sentido mais amplo da palavra, desde oportunidade
até níveis de compreensão e aplicabilidade. A análise é baseada nos estudos sobre a
AGENDA 2030 e sua relação com a ENEF (Estratégia Nacional em Educação Financeira) e tem
como objetivo geral apontar a importância dos temas contemporâneos transversais (TCTs)
enquanto potencial tecnologia educacional no caminho da inovação social para promoção de
qualidade de vida a partir da propagação de uma nova ética ambiental via ENEF.

A relevância do estudo se dá em virtude de possibilitar a sistematização de repostas


as demandas emergentes em sustentabilidade. E desta forma para além da teoria,
impulsionar a formatação de ações práticas que contribuam para transformações
socioeconômicas promotoras do bem-estar e da preservação ambiental, que maximize a
conscientização no âmbito do consumo responsável e minimize os danos climáticos e
socioambientais provenientes da rotina humana. Tal premissa está baseada na consideração
de que é a partir das pessoas enquanto unidade da sociedade que é gerado o todo da
economia e com isso justifica-se a importância dos estudos em administração financeira
pessoal.

Utilizando-se dos fundamentos da economia, cujo princípio é a ciência da escassez, e


a visão de que nem todos os recursos estão disponíveis para todos, bem como as
necessidades relativas a cada ser humano são ilimitadas. Propõe-se uma educação financeira
baseada na terra, ou seja, na prospecção de que tudo vem da natureza e passa pelos meios
de produção e impacta sobre ela. Os recursos financeiros provêm da aquisição de recurso
para produção como água, minérios, combustíveis fósseis e outros) advém da terra e deve
estar no centro do debate de qualquer alternativa de produção, e aqui acrescenta-se os
meios de consumo visto que, se não são cíclicos e eficientemente utilizados, criam mais
custos no futuro, devido ao aumento da escassez.
2 Metodologia

O Estudo possui caráter bibliográfico exploratório. A ação metodológica iniciou


através das discussões e debates reflexivos nas disciplinas desenvolvidas no primeiro
semestre da formação strictu sensu, em nível de mestrado no programa de pós-graduação
profissional em desenvolvimento local (PPGDL) pela Unisuam, a saber disciplinas de
Educação, Trabalho e Meio Ambiente e Teorias Econômicas. Na abordagem dos conteúdos
disciplinares como geradores de debates, foi realizado leitura minuciosa e explanação
expositiva e a partir das impressões foram obtidas as ideias norteadoras da pesquisa.

Foram realizados levantamentos nas bases de artigos científico em língua portuguesa,


disponibilizados de forma gratuita e online no Google Acadêmico, Câmara dos deputados e
Scielo Brasil. Utilizou-se o critério dos anos mais recentes de publicação a partir de 2017 a
2021, sendo que alguns temas apresentaram relevância atemporal e foram assim inseridos
do rol de artigos utilizados para embasamento bibliográfico. A pergunta norteadora foi “É
possível pensar a ENEF como propagadora de uma nova ética ambiental?” As palavras-chave
utilizadas como descritores da pesquisa, de forma individual e combinada foram as
seguintes: “educação”, “economia”, “transversalidade”, “sustentabilidade”. Foram incluídos
artigos, decretos, anais de eventos realizados no Brasil. O levantamento de dados foi
realizado no bimestre: outubro e novembro de 2022, e o critério de inclusão do conteúdo
bibliográfico foi a correlação ao tema.

3 Resultados e Discussão

Agenda 2030 – o ponto de partida

A ONU (Organização das Nações Unidas) enquanto órgão de cooperação


internacional atua sob a égide da manutenção da paz e da segurança mundial, a organização
se ampliou na busca por soluções a questões socioeconômicas, humanitárias e culturais
tendo como premissa o respeito a liberdades fundamentais e a garantia aos direitos
humanos. Foi assim que se depreendeu a urgente necessidade de fomentar ações para
viabilizar e concretizar os objetivos e metas propostos na Agenda 2030.

A ONU foi fundada após a segunda guerra mundial, tem hoje sua sede permanente
em Nova York e conta com 193 delegações. Desde sua fundação em 1945 por meio da carta
as nações muitas transformações ocorreram e com elas a responsabilidade de atender as
demandas da atualidade, seu objetivo inicial visava primordialmente, devido ao pós-guerra,
manter a paz e segurança internacionais. Desde então embora muitos avanços tenham
ocorrido ainda há desafios que não passam desapercebidos, dentre eles o poder limitado da
entidade, uma vez que a organização só pode atuar mediante o apoio dos países-membros e
com isso seu poder de ação fica limitado a declaração de compromisso dos chefes de estado.

Ao longo da história percebeu-se que o debate é a melhor forma de avançar e


progredir em direção a uma ética socioambiental, a ONU ao longo de sua a expansão tendo
iniciado com 51 países, tornou-se um importante espaço para discussões internacionais, e a
partir dos adventos da segunda guerra mundial, a tensão acerca da poluição radioativa, as
primeiras imagens espaciais da terra e as muitas publicações concernentes a preocupação ao
estado de preservação planetária fez com que a partir das conferências mundiais,
documentos de alta relevância fossem gerados e assim passaram a nortear o compromisso
entre as nações para a condução do futuro previsível. Por isso o contexto histórico da criação
da agenda 2030 parte inicialmente da RIO92.

A primeira vez que se mencionou o conceito de desenvolvimento sustentável foi no


ano de 1987, através do relatório de Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”
elaborado pela Comissão mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que por sua vez
deu origem a Assembleia Geral das Nações Unidas. Essencialmente o relatório definiu o
desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades da geração atual,
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias
necessidades. No entanto a ideia passou a ser melhor difundida após a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – também chamada de Rio 92
ou Eco-92 – que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. A agenda 21 foi um dos
principais resultados da conferência e tratou-se da produção de um plano de ação global,
nacional e local, visando ao comprometimento dos governos, empresas, organizações não-
governamentais e todos os setores a sociedade a cooperaram com novo modo de
desenvolvimento para o século XXI.

Ao longo da década de 90 as cúpulas multilaterais das Nações Unidas se


concentraram na promoção de políticas voltadas a redução da extrema pobreza, dando
origem aos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Este documento foi utilizado
por 15 anos como principal arcabouço global de políticas para orientação e ação dos
governos nos níveis internacional, nacional e local. Já em 2012, cerca de 20 anos após a
RIO92 houve a conferência
RIO+20 que objetivou a renovação do compromisso com o desenvolvimento sustentável e
verificação do progresso desde as cúpulas anteriores bem como a avaliação das lacunas na
implementação dos resultados propostos. Neste momento houve o reconhecimento do uso
de metas como estratégias para o lançamento de uma ação global coerente e focada na
construção de um futuro inclusivo e resiliente. Em 2015 a assembleia geral das nações
unidas adotou o documento denominado “transformando nosso mundo: Agenda 2030 para
o Desenvolvimento Sustentável” configurou em um guia para as ações internacionais nos
próximos anos, inaugurando uma nova fase para o desenvolvimento dos países, buscando
um conjunto de ações para que faça com que os países engajem e ambicionem este
desenvolvimento de forma cooperativa, envolvendo todos os atores da sociedade e toda a
comunidade internacional sob o lema de “não deixar ninguém para trás”. O diferencial do
uso de metas que são integradas e indivisíveis aos objetivos do desenvolvimento
sustentável, formam um processo sistêmico e interconexo onde a execução de um objetivo
gera reflexo no cumprimento de outro e desta forma o desdobramento das ações que
mesclam as três dimensões da sustentabilidade, qual seja o âmbito social, econômico e
ambiental buscam priorizar pessoas, planeta, paz e prosperidade.

O caminho – A educação que tudo conecta.

O contexto histórico da agenda 2030 expõe a necessidade de focar em pessoas. Com


efeito, as percepções sobre consumo e sustentabilidade perpassam o viés educacional,
nesse aspecto considerando as impressões de Brandão (2002), onde se pode ater a
amplitude de sua abordagem quanto a educação, conforme ao que se preconiza como sendo
ela a capacidade de aprendizagem inerente aos homens, onde é a educação que faz com que
esse processo ocorra em todo percurso da existência humana e por toda parte, é esta
perspectiva que retifica a real abrangência da educação e a liberta da visão diminuída e
estreita, cativa na escolarização. Para além do que se considera ato formal, tecnocrático, é
na educação que se origina a organicidade da aprendizagem que dá sentido para além do
conteúdo, e conecta a teoria a prática, que internaliza a experiencia e que conduz o
indivíduo ao nível de consciência que é imprescindível ao caminho da liberdade.

É baseado nesta proposição que se pode pensar a educação no âmbito da economia


e em sua particularização a educação financeira como forma de pensar e propagar a ética do
consumo. Agostini (2017) descreve que diferentes autores definem a inovação como um
processo criativo na implementação de uma nova ideia. Ela pode ser identificada em
produtos, processos, mercados ou modelos organizacionais e apresenta O Manual de Oslo
(1997), documento elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) afirma que “a inovação pode ocorrer em qualquer setor da economia,
incluindo os serviços públicos, como saúde e educação”.

Em 2010 foi sancionado o DECRETO Nº 7.397, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2010 que


Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF, dispõe sobre a sua gestão e dá
outras providências. A ação é presidida pelo Ministério da educação e tem a finalidade de
promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da
cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões
conscientes por parte dos consumidores. Com o objetivo de definir planos, programas, ações
e coordenar a execução da ENEF foi instituído o Comitê Nacional de Educação Financeira, de
acordo com o decreto compõe o comitê um Diretor do Banco Central do Brasil; Presidente
da Comissão de Valores Mobiliários; o Diretor-Superintendente da Superintendência
Nacional de Previdência Complementar; o Superintendente da Superintendência de Seguros
Privados; o Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda; o Secretário-Executivo do
Ministério da Educação; o Secretário-Executivo do Ministério do Trabalho e Previdência
Social; o Secretário Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça; e até seis
representantes da sociedade civil (BRASIL, 2010).

MOSCARELLI et al (2017) aponta que o modelo operacional do Estado brasileiro se


estabeleceu em uma lógica setorial, em que cada Ministério atua cuidando de áreas
especificas da administração pública, desta forma os problemas, objetivos e ações da pasta
são tratados por meio de políticas que não dialogam entre si, não sendo processados
intersetorialmente. Contudo esse modelo se mostrou pouco eficiente o que gera a
necessidade de ultrapassar essa estrutura fragmentada e coadunar as interfaces internas
que se configura, em compartilhamentos de importância. Neste espectro, se percebe uma
proposição inovadora a integração do ministério do Meio Ambiente ao conjunto de
integrantes do comitê ENEF. O contexto demostra que a intersetorialidade institucional na
administração pública é uma forma de aplicar a transversalidade, porém a construção de
uma plataforma de trocas se coloca como uma ferramenta imprescindível ao
alinhamento de
interesses, sendo uma maneira de evitar sobreposições entre projetos, planos e ações dos
diferentes atores

A transversalidade segunda Gallo (2007) citado por Nogueira (2019) pode ser
compreendida como o atravessamento mútuo dos campos de saberes, que a partir de suas
peculiaridades se interpenetram, se misturam, se mestiçam, sem, no entanto, perder sua
característica própria, que só se amplia em meio a essa multiplicidade. Singularidade de
saberes e multiplicidade de campos. Assim depreende-se que a transversalidade consiste em
contextualizar os conteúdos, e pode figurar-se de forma análoga a sistematizar o
conhecimento teórico refletido na realidade, ou seja, aprender nela e a partir dela. Os
conteúdos transversais podem ser abordados no cerne disciplinar relacionando-os a
questões relevantes da sociedade que emergem de acordo com estudos reflexivos da
sociedade contemporânea como a ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, trabalho,
consumo e diversidade cultural.

VIEIRA et al (2022) apresenta o fato de que os temas transversais, apareceram


oficialmente no contexto educacional brasileiro, no ano de 1997, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, concomitante a renovação do sistema de ensino, e possuíam como
eixos norteadores da educação a ética e a cidadania pois assinalavam questões de
importância permeado os cotidianos da sociedade brasileira a esta época. Com o avançar
das discussões a partir de 2018 os temas transversais foram estabelecidos na geração dos
novos currículos como Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) (BRASIL, 2019).

Os TCTs versam em seis macroáreas temáticas: Cidadania e Civismo, Ciência e


Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde, que compreendem 15
temas contemporâneos “que afetam a vida humana em escala local, regional e global”
(BRASIL, 2017, p. 19). Os novos temas foram oportunamente incorporados com a finalidade
de atender demandas sociais utilizando-se da dimensão escolar como espaço promotor da
cidadania, apontando para compreensão do âmbito social, dos direitos e responsabilidades
no contexto da vida pessoal, coletiva e ambiental (BRASIL, 1997a)

A perspectiva dos TCTs, denotam maior amplitude no ensino, assim como para Bastos
(2017) o êxito do sistema educacional finlandês teve no bojo de sua ascensão em 30 anos as
principais transformações como a promoção da equidade no sistema educacional e no
enriquecimento do currículo de formação docente. Assim faz se necessário expandir a
aplicabilidade dos TCTs no intuito de que a sociedade brasileira caminhe através da um
processo educacional que se destaque também pela abrangência e profundidade,
colaborando para conduzir ao equilíbrio entre aprendizagem teórica e prática

É nesta abordagem entre teoria e prática que se pensa a sustentabilidade, para além
de uma subjetividade conveniente, mas no interior de um arcabouço crítico do conceito
sustentável, no qual demanda um delineamento construtivo capaz de transformar a
realidade das sociedades modernas. Neto (2017) menciona a apreciação de Boff (2011)
quanto aos termos epistemológicos da sustentabilidade em circulação. Sendo uma
concepção adjetiva e outra substantiva onde cabe afirma que:

[...] como um adjetivo é adicionado a qualquer coisa sem mudar a natureza da coisa;
por exemplo, eu posso reduzir a poluição química de uma fábrica colocando filtros em
suas chaminés que liberam gases, mas a forma da empresa interagir com a natureza,
de onde ela retira a matéria-prima para a produção, não muda; continua a devastar.
Sua preocupação não é o ambiente, mas o lucro e a competitividade que têm que ser
garantidos. Assim, a sustentabilidade é acomodação e não mudança; é um adjetivo,
não substantivo.

Boff (2011 p. 1), continua dizendo que:

Sustentabilidade como substantivo exige uma mudança na relação com a natureza, a


vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da realidade. [...]. Nós
não estamos fora e acima dela como um dominador, mas dentro e quem se importa
em alavancar seus ativos, respeitando seus limites. [...]. Sustentabilidade como
substantivo se alcançará o dia que mudarmos nossa maneira de habitar a Terra [...].

A percepção sustentável indica o quanto é preciso repensar a relação do homem com


terra, a introdução de um prisma comportamental que conscientize a ideia de
pertencimento ao ecossistema planetário e a libertação do relacionamento parasitário da
população moderna e tecnológica para com a natureza. Machado et al (2020) aponta que a
constante busca por novidades e o uso desenfreado dos recursos naturais acendeu um
alerta quanto a limitação dos recursos naturais do planeta e com isso a importância da
bioética enquanto espaço da ética aplicada, torna-se potencializadora dos debates que
englobam a preocupação com o futuro no tocante as práticas relacionadas a
insustentabilidade para assim romper com o padrão de consumo pautado no progresso
delineado como crescimento econômico e tecnológico.
A complexidade expressa na definição do desenvolvimento, não se restringe ao
critério único do crescimento econômico, embora este seja um dos indicadores
preponderantes e interferentes no processo, a sustentabilidade do desenvolvimento requer
mudanças não somente no âmbito quantitativo, mas o impulsionamento e a consolidação do
mesmo requer a elevação de níveis de qualidade de vida, de eficiência da estrutura social e
política. Esta ascensão deve ser acompanhada de valorização cultural, intelectual,
comunitária bem como as marcantes peculiaridades locais, em se tratando do âmbito
educacional, tendo a escola como espaço de promoção da cidadania. Nesta ótica vale-se do
pressuposto que é preciso gerar uma compreensão mais integrada que correlacione os
problemas que as sociedades humanas lidam no presente século, dentre eles a pobreza,
desigualdades sociais.

O Economista indiano Amarthya Sen é o autor da obra DESENVOLVIMENTO COMO


LIBERDADE, segundo a qual, o conceito de liberdade é introduzido como meio e finalidade
centrais nas análises conceituais e empíricas do desenvolvimento. Os argumentos
apresentados decorrem da avaliação do papel das instituições e políticas públicas essenciais
para o desenvolvimento das capacidades humanas. A obra se caracteriza como um marco
teórico no que tange o conceito de desenvolvimento humano, ampliando-o, pois o autor faz
uma análise bastante importante das implicações que as leituras das realidades, sejam
nacionais ou regionais de um determinado país, têm para o desenvolvimento social e
econômico, quando baseadas essencialmente na expansão de renda.

Amarthya Sen apresenta uma visão peculiar e abrangente da ampliação das


capacidades humanas, na qual se destaca o papel das liberdades dos indivíduos (liberdades
econômicas, liberdades políticas, segurança social) no processo de elevação do bem-estar
das sociedades e coletividades. O autor se contrapõe às teorias dominantes que, via de
regra, apresentam o desenvolvimento fundamentado principalmente sobre a dimensão
econômica do bem-estar, atendo-se a indicadores como renda per capita, nível de
industrialização e desenvolvimento tecnológico, colocando em segundo plano outras
dimensões relevantes e negligenciando as suas funções como agentes motores da ampliação
de melhorias sociais.

Segundo o apregoado pela Teoria de Desenvolvimento de Amarthya Sen, o


crescimento econômico não pode ser considerado como um fim em si mesmo e deve
apontar, sobretudo, para as melhorias das condições de vida dos indivíduos e com o
fortalecimento de suas liberdades, sendo que estas ocupam lugar central e de destaque
em todo o
desenvolvimento de sua teoria. O foco está, sobretudo, no acesso dos indivíduos a serviços
de educação e saúde, assim como o exercício de direitos civis, ou seja, as liberdades políticas
e outras classificações e dimensões de liberdade.

Aos olhos de Sen, ao comparamos duas sociedades ou coletividades em que uma


delas realiza grandes progressos em termos de produto e progresso tecnológico, mas não
propicia grandes avanços no tocante aos ganhos em termos de participação social dos
indivíduos nas decisões desta coletividade e uma outra que já alcançava avanços
consideráveis em termos de progressos material, mas em conjunção com um elevado
progresso na participação política de seus indivíduos, o segundo grupo teria seus avanços
em desenvolvimento muito mais assegurados e sustentados, considerando que existe maior
determinação social neste processo.

O espectro do amplo conceito de Liberdade defendida por Amarthya Sen, permite-


nos inferir que a Liberdade só será plena a partir do momento em que o cidadão tiver um
embasamento teórico e prático em Educação Financeira que lhe permitirá gerir com
responsabilidade desde a mais tenra juventude os recursos financeiros que lhe forem
disponibilizados. A partir do momento em que o cidadão consegue essa autonomia para
gerir recursos e, também, ter acesso a serviços de qualidade prestados pelo governo,
vislumbra-se a oportunidade de se debruçar sobre temas que afetam à sociedade como um
todo, alongando-lhe o olhar. Os seus problemas básicos deixam de existir graças a um
suporte financeiro obtido pela educação Financeira e ele se torna mais a apto e sensível para
perceber o quanto o meio ambiente é importante para a sua existência e o quanto ele deve
lutar para preservá-lo.

A educação financeira e a ética ambiental

As investigações sobre educação financeira demonstram que se trata de um tema de


grande sensibilidade, essa característica se dá por apresentar uma crítica realidade que
precisa ser avaliada a fundo e com olhar empático. O fato que a maioria da população
brasileira enfrenta a escassez de recursos financeiros. Um levantamento realizado pela CNC
(Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) apontou em 2021 que o
percentual de brasileiros endividados bateu recorde histórico desde 2010, chegando a
71,4%.
Apesar das interferências socioeconômicas advindas em função da pandemia, a sondagem
denota uma espiral ascendente, que leva ao comprometimento da renda e limitação de
níveis de qualidade de vida.

O desafio diante deste cenário preocupante encontra-se em primeira vista em longo


prazo, tanto na reeducação financeira da população de forma geral, quanto no ensino
infantil. Neste último caso não se trata de incentivar o trabalho infantil, mas sim da
educação financeira durante esta fase da vida. Essa ótica aponta que por meio do ensino é
possível conferir consciência ambiental, ética, promoção de valores e atitudes positivas,
técnicas e comportamentos conciliados ao desenvolvimento sustentável para que
incremente a cidadania, no tocante a participação publica de forma efetiva nas tomadas de
decisão na sociedade (BRASIL, 2002).

A educação financeira na infância pode ter papel fundamental na formação de uma


sociedade economicamente saudável, produtiva e consciente, uma vez que nesta fase é
determinante o desenvolvimento eficiente da consciência e de habilidades de
autorregulação no presente que perduram para o futuro. Pesquisadores assinalam que as
crianças adquirem gradativamente ações culturalmente aprendidas de forma socializada. Tal
como aprender com os índios como descrito por Brandão (2010), a ideia de aprendizagem de
geração a geração, do ancião, da anciã, na aldeia e em todo lugar deve ser considerada.

Um fator preponderante na influência do endividamento familiar é o consumo sob a


interferência da publicidade, a exposição as mídias, atualmente nos celulares, aplicativos de
jogos e desenhos, percebe-se o quanto ela possui papel relevante na formação futura de
valores e na gênese de uma mentalidade materialista do indivíduo, assim se entende que o
comportamento dos indivíduos é reproduzido a partir de um contexto geracional. Assim
como há mudanças de comportamentos a cada geração, cita-se a teoria das gerações de
Willian Strauss e Neil Home, cita-se também a geração Z, nascida na efervescência
tecnológica considerada mais dependente das redes sociais, porém mais bem informada e
consciente da importância da sustentabilidade. Bem é nesse viés que encontramos a porta
para entrada do estímulo a percepções mais profundas na direção de uma nova ética
ambiental.

A ética enquanto ciência reflexiva leva a pensar, e o pensar em finanças remete a


representação do escopo da gestão patrimonial, financeira e primordialmente planos para o
futuro. Por isso segundo NASCIMENTO (2012) mencionado por Machado (2020) há uma
necessidade de mudança cultural que redirecione a ideia de felicidade deslocando-a do
consumir ao usufruir, a transferência do modismo a durabilidade e a valorização do
transporte coletiva. Para Morin (2005) o pensamento fragmentado ocasiona decisões
ilusórias, destoante da realidade global e de longo prazo, é preciso compreender a
complexidade do ser humano e consequentemente os seus desdobramentos na esfera
ambiental a fim de que se percebam com um mesmo destino histórico planetário, e se
destaque no individuo a sensibilização com a angústia dos seus pares. A formação de
pessoas mais reflexivas e solidárias, mais preocupadas com as futuras gerações que se
transformem de meros consumidores individualistas em sujeitos mais conscientes e
perspicazes na utilização de recursos para o bem comum, e para a manutenção do equilíbrio
planetário, buscando a proteção da natureza, recuperação dos recursos danificados pela
ação humana, bem como a uma qualidade de vida pautada em um modo de vida
ambientalmente ético.

4 Conclusão

Conclui-se que a dinâmica capitalista influencia fortemente na relação predatória do


homem com a natureza a medida que o aliena do processo produtivo e o torna
aparentemente distinto as quentões ambientais, também o distância das relações humanas,
e do contexto global da existência humana. O sistema econômico linear, rompe o horizonte
da sustentabilidade e torna limitante a percepção de que a relação humana para com a terra
remonta a relação da terra com ela mesma, os ecossistemas são cíclicos, e o que deixa de ser
cíclico se torna cada vez mais escasso.

A conclusão que se obtém do estudo é o quanto que a ideia de escassez e economia


pode permear a mentalidade das pessoas, conduzindo as a permanente busca por
concentração de recursos, fator típico do capitalismo, o processo de obter precisa ser
ressignificado, para a gestão de níveis de qualidade de vida de forma sustentável.

Há necessidade de capacitação de docentes, organização de material inovador de


fácil compreensão denotação de modelos comunitários que tornem acessíveis a capacidade
da ENEF em ser executável do contexto da escola para o entorno e vice e versa. A pesquisa
ficou limitada devido a necessidade de aprofundar os estudos quanto a educação financeira
para a população menos favorecida, com menor acesso a renda, e aquelas em estado de
pobreza,
como aplicar a ENEF sustentável? Também se limitou falta de resultados estatísticos e
indicadores dos resultados da aplicação da ENEF desde o Decreto.

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