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“Agincla Brasieira do SBN Isat s7e-05 63007 i 85654027632 ‘6 AQUISIGAO DE LINGUAGEM: REFLETINDO SOBRE A CRIANGA SURDA E A LINGUA DE Neste capitulo, buscamos refletir sobre a aqui- 40 da lingua de sinais a partir da perspectiva histérico-cultural e da eae humano. Ambas as teorias indicam a fundamental necessidade de uma lingua compartilhada no con- vivio social como elemento fundador no desenvolvi- ‘mento de qualquer crianca. Quando se trata de crian- ‘cas ouvintes inseridas em familias que ouvem, e que, portanto, se comunicam pela lingua oral, o simples conviviocom seus pais e outros membros da familia é suficiente para que ocorra a ac io da capacidade de pensar e sua subjetividade. Por outro lado, no caso de criancas surdas, 0 proceso no é"espontaneo’; como acontece com as criangas ouvintes. Nascidas em lares em quese usaa lingua oral, na maior parte das vezes, no hé intera~ d0em uma linguaacessivel, que seja suficiente para o desenvolvimento de uma lingua plena. rentes pesquisadores**defendem aneces- sidade da exposigéo da crianga surda o mais cedo Possivel & lingua de sinais. Essa defesa parte do principio de que a lingua de sinais, por ser de mo- dalidade viso-gestual, pode ser adquirida esponta- neamente pela crianca surda, simplesmente pelo SINAIS Caistina BRocLia FerTOSA DE LACERDA Luin Cristie Riseino Nascimento convivio social, sem necessidade de treinamento. A lingua de sinais tem, para a crianca surda, a mesma funco que a lingua oral para a crianga ouvinte, ela é fundamental para seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Para que ocorra a aquisicao da lingua de sinais, é necessério expor a crianga surda desde cedoa um grupo social que utilize essa lingua, como adultos e criangas surdas e também ouvintes fluentes em lingua de sinais. Propde-se, ainda, que os pais dessa crianca aprendama Lingua de Sinais, para com ela estabelecerem uma comunicago. No caso de criangas surdas, filhas de pais surdos (pai e mae ou um deles) a aquisicao ocorreré da mesma forma que nas criangas ouvintes com seus pais ouvintes pela riqueza das interagdes sociais. Pesquisas no campo da linguistica mostram que 0 processo de aquisicao das linguas de sinals segue os mesmos estgios de desenvolvimento das linguas orais nas crlancas ouvintes."Criancas surdas expostas a linguas de sinais desde o nascimento adquirem essas linguas em tempo de maturacao idéntico ao de criangas ouvintes que adquirem as linguas faladas"(p. 47). Mas, para além da equidade entre os estagios, o que apontamos éa idéntica fun- (40 que as linguas orais e linguas de sinais exercem sobre o desenvolvimento da crianga. Sobre isso nos debrugaremos a seguir. 1. Sobre o Desenvolvimento de Linguagemeo Desenvolvimento Psicolégico da Pessoa Surda caracteriza por uma patologia, e multas vezes pode: ee car um modo singular de percorero desen volvimento e que pode nos ensinarbastantetambem Sobre 0 desenvolvimento lipico. Todos somos seres de necessidades e desejos, fantasias, conflitos, seres que sonham ~e estas ndo so caracteristicas de pessoas ouvintes ou de pessoas surdas, nem marca de uma sindrome: trata-se de caracteristicas do humano. A capacidade de sentir e expressar necessidades e desejos perpassa a todos, Assim, ha um periodo da construcao do ser humano, que uma vez percorrido,com tudo que nele acontece, pode favorecer a aquisi¢ao da linguagem, a construgo do pensamento e a construgao da ca- pacidade humana de simbolizacdo. Nesse sentido, a perspectiva tedrica que defenderemos neste artigo aponta para existéncia de uma profunda interagao entre o sujeito biolégico (o corpo), quenéo pode ser generalizado/naturalizado, e as interacdes socials O sujeito traz consigo uma formacao genética, ana- témica, com um sistema neurolégico, mas que nao define um sujeito por si s6, jA que esse corpo seré forjado nas relacdes culturais e socials, ou seja, 0 corpo também seré marcado pela cultura. E nesse contexto que seré promovido o encontro do corpo com a funcao materna, com a funco paterna, com as préticas educativas, terapéuticas e socials, promo- vendo uma subjetividade tinica (capazde simboliza- 0), desenvolvendo a linguagem, a afetividade eo pensamento e individuando-se em sua identidade. Podemos dizer que do encontrodaculturaedo corpo emerge um sujeito®. Vygotsky” se opunha a psicologia de sua época, que propunha modelos zoolégicos ou botanicos para compreender o desenvolvimento do ser humano.Ele afirmava a necessidade da presenca de outra forma de compreensdo do desenvolvimento para entender © que se passa na constituicéo dos sujeitos. Assim, podemos nos perguntar de onde surge o ser hu- mano? O bebé, para Vygotsky, ndo surge apenas do biolégico,mas da presenca de outros seres humanos que acolhem o bebé, nao apenas concedendo a ele cuidados fisicos (alimentaco, vestimenta e abrigo), mas oferecendo 0 que sabem, conhecem, sentem (sua religido, seu posicionamento politico, suas expe- riéncias culturais e institucionais).Comisso,obebése humaniza por meio da simbolizacdo eda linguagem, portanto a presenca do outro é fundamental, Vygotsky", entdo, trata o bebé humano como (.Jtudo 0 que poderd fazer a crianca mais tarde por si mesma, durante o processo de sua adaptacéo individual, agora, pela ima- turidade de suas fungées biolégicas, poder ser executado s6 através de outros, sé em situacdo de colaboracéo,Portanto, oprimeiro

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