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Universidade de Brasília - UnB

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU


Programa de Pós-graduação

Artigo

A ocupação e o processo de urbanização


sem planejamento no eixo rodoviário do
complexo territorial Brasília–Goiânia

Documento apresentado ao programa de pós-


graduação em Arquitetura e Urbanismo
Linha de pesquisa: paisagem, meio ambiente e
sustentabilidade.

Orientadora: Dra. Maria do Carmo de Lima Bezerra


Aluno: Renato de Melo Rocha

Brasília, maio de 2006.


A ocupação e o processo de urbanização sem planejamento no
eixo rodoviário do complexo territorial Brasília – Goiânia

Introdução

O eixo rodoviário do complexo territorial Brasília – Goiânia possui o


maior crescimento econômico e populacional, proporcionalmente, entre duas
metrópoles Brasileiras e em apenas 200 kms, caracterizando-se atualmente
como um pólo em potencial na atração de investimentos nos setores
secundário e terceário dentro do Distrito Federal e em todos os municípios
goianos pertencentes ou que sofrem influência direta deste eixo rodoviário.

Diante desta realidade econômica aliada às políticas de atração de


capitais externos nacionais e estrangeiros realizadas pelos Governos do
Distrito Federal e Goiás, o crescimento populacional deste eixo, iniciado nos
anos 60 com a construção de Brasília, recebe imigrantes de todo Brasil e
certamente esta ocupação territorial poderá ficar comprometida diante à
preservação e utilização de seus recursos naturais.

Este artigo contém dados da história da urbanização no Brasil, tanto no


aspecto da ocupação territorial inicial da costa litorânea brasileira e a realidade
atual com novo eixo de desenvolvimento na Região Centro-Oeste, como na
surpreendente diferença entre a população que vive no campo e a que reside
no espaço urbano principalmente nas Metrópoles e nas cidades de porte
médio.

Finalmente é enfocada a história da ocupação do Centro-Oeste


Brasileiro, desde a política da Marcha para o Oeste do Governo Getúlio Vargas
com a criação de Goiânia e até o surgimento de Brasília e a consolidação deste
eixo rodoviário que hoje é fortalecido com a duplicação da BR-060. Encerra-se
com a realidade da estrutura atual da Região Integrada de Desenvolvimento do
Entorno do Distrito Federal - RIDE e da Região Metropolitana de Goiânia –
RMG.

Este artigo visa demonstrar que a ocupação do solo de forma


sustentável neste eixo estará totalmente comprometida se não houver uma
política de desaceleração da grande imigração verificada ao longo dos anos
nesta região que, certamente, traz uma enorme demanda de consumo aliado à
própria ocupação do solo através de moradias e seus conseqüentes
desdobramentos em indústrias, comércios e prestação de serviços.

Esta ocupação que se dá é majoritariamente formada de famílias de


baixa renda e que não possuem condições de usufruir o espaço construído já
de qualidade e deverão ocupar lotes em parcelamentos clandestinos ou
irregulares, normalmente distantes da região produtiva, ficando sujeitos a
grandes deslocamentos de alto custo em seus pequenos salários e fatalmente
ocuparão áreas impróprias ambientalmente, mas disponíveis pela política
empregada nos poderes públicos.
Histórico da urbanização no Brasil

Existem dados estimativos, sem comprovação oficial, que apontam uma


população urbana no Brasil no final do Império (1890) com 6,8% para o início
da República (1920) já com 16,55%, 4.552.000 habitantes nas cidades e nas
vilas mais próximas, de um universo de 27.500.000 brasileiros. A Região
Centro-Oeste tinha apenas uma cidade com mais de 20.000 habitantes, a
capital de Mato Grosso, Cuiabá.

Conforme o censo de 1920 do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística – IBGE, as Regiões Sul com 2 e Norte com 3 cidades acima de
20.000 habitantes, também eram pouca urbanizadas, enquanto as regiões
Leste com 18 e Nordeste com 20 já demonstravam áreas mais urbanizadas,
com o Estado de São Paulo possuindo, sozinho, 20 cidades com mais de
20.000 pessoas.

Somente em 1940 inicia-se o processo de contagem de população com


separação entre urbanas – cidades e vilas – e zona rural. A população
existente nas cidades era de 10.891.000 pessoas (26,35%) de um total de
41.326.000 habitantes. Acredita-se que os dados anteriores a 1940 não
possuíam uma metodologia confiável do número de pessoas que habitavam as
cidades em relação ao total. Em seu livro “Urbanização Brasileira”, o Geógrafo
Míltom Santos destaca:

“Entre 1940 e 1980, dá-se verdadeira inversão quanto ao lugar de


residência da população brasileira. Há meio século atrás (1940), a taxa de
urbanização era de 26,35%, em 1980 alcança 68,86%. Nesses quarenta anos,
triplica a população do Brasil, ao passo que a população urbana se multiplica
por sete vezes e meia”(Santos, 1996, p. 29).

Quadro 1 – População total e urbana no Brasil


Ano do População Total População Índice de Índice de Índice de
Censo Urbana Urbanização crescimento crescimento
Populacional Urbano
1900 17.438.434 - - - -
1920 27.500.000 4.552.000 16,55 % 43,08 % -
1940 41.326.000 10.891.000 26,35 % 33,46 % 37,19 %
1950 51.944.000 18.783.000 36,16 % 25,70 % 72,46 %
1960 70.191.000 31.956.000 45,52 % 35,13 % 70,13 %
1970 93.139.000 52.905.000 56,80 % 32,69 % 65,55 %
1980 119.099.000 82.013.000 68,86 % 27,87 % 55,02 %
1991 150.400.000 110.990.990 73,80 % 26,28 % 35,33 %
2000 169.799.170 145.800.000 85,87 % 12,90 % 31,36 %
2006 186.119.238 165.832.920 89,10 % 9,61 % 13,74 %
Fontes: Cadernos Mcidades/Des. Urbano Política Nacional de Desenvolvimento Urbano 1,
Brasília, Novembro de 2004; Ruben George Oliven, Urbanização e mudança social no Brasil,
Vozes, Petrópolis, 1980, p. 69, tabela 1; IBGE, Censos de 1940-2000/ estimativa maio/2006.
Pode-se verificar neste quadro acima que a população brasileira
praticamente duplicou entre 1.900 e 1.920 no período inicial da República, e
certamente este grande crescimento se deu muito em função das imigrações
estrangeiras para o Brasil provindas da Europa, região do Mediterrâneo e Ásia
como os Italianos, Alemães, Poloneses, Ucranianos, Povos Árabes, Japoneses
e outros, concentrados mais nos Estados das Regiões Sul e Sudeste.

Esta imigração para o Brasil ocorreu também nas Regiões Nordeste,


Norte e Centro-Oeste, mas, em função de vários fatores, entre eles, o clima, a
economia, a ocupação já consolidada e o início de uma produção agro-
industrial, ela ocorre de forma mais amena e há um a intensificação na Região
Centro-Oeste durante o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais
onde, o fator de distanciamento dos grandes centros urbanos do Brasil foi visto
de forma estratégica pelas famílias dos imigrantes.

Este distanciamento dos grandes centros urbanos já consolidados


favoreceu as famílias imigrantes de esconder suas origens raciais, políticas e
religiosas das perseguições existentes. Daí ao fato de existirem várias famílias
em Goiás originárias da Alemanha em Goiânia, Anápolis e Cidade de Goiás, da
Itália em Nova Veneza, da Espanha em Catalão, de Israel, Líbano, Turquia e
Países Árabes em Anápolis, Goiânia e Itumbiara.

Para analisar o crescimento das cidades no Brasil, é importante


destacar a população total, a população caracterizada como urbana, o índice
de urbanização no ano do censo e as taxas de crescimento desta urbanização.
O quadro anterior será referência para uma análise posterior, destacando-se os
índices de crescimento de urbanização brasileira.

Após análise desse quadro constata-se que, apesar do grande


crescimento populacional urbano do Brasil verificado nesses últimos 40 anos -
45,52% em 1960 a 85,87% em 2000 e chegando, conforme estimativas para
2006, ao número expressivo de 89,10 % -, o crescimento populacional no País
vem decaindo gradativamente - 35,13% e 32,69 %, respectivamente em 1960 e
1970 para apenas 12,90 % em 2000, sendo previsto para 2006, apenas 9,61 %
de crescimento populacional. Conforme estimativas do IBGE para o ano de
2025, esta população brasileira estará estabilizada.

Certamente não haverá o crescimento populacional vegetativo, mas,


poderá ainda se verificar muitas ocorrências de migrações internas,
dependendo dos rumos que a economia brasileira irá tomar e as políticas
estaduais de desenvolvimento econômico, e também as relações comerciais
externas do Brasil com os países latinos americanos.

Deve-se tomar em consideração os conceitos adotados para a definição


de zonas urbanas, pois, após a Constituição de 1988 verificou-se no Brasil um
descontrole na criação de novos municípios, geralmente nas condições de vilas
e distritos, onde comprovadamente não possuem as características mínimas
para configurarem como um município, seja na sua infra-estrutura mínima de
serviços para a população ou mesmo na sua independência econômica local. É
importante neste momento conceituar a cidade como:
“A grande cidade se torna o lugar de todos os capitais e de todos os
trabalhos, isto é, o teatro de numerosas atividades marginais do ponto de vista
tecnológico, organizacional, financeiro, previdenciário e fiscal”.(Santos, 1996,
p. 10).

Independentemente deste conceito, continua a prática de criação de


novos municípios em todo o País e, certamente, esta prática política só irá
mudar ao estabelecer em leis federais pertinentes, critérios técnicos com base
no ambiental, social e econômico para a criação de novos municípios. O
quadro seguinte demonstra o crescimento populacional do Brasil conforme o
domicílio, ou seja, residência em área urbana ou rural.

Quadro 2 – População urbana e rural no Brasil


Ano do Censo População Total População Urbana % População Rural %
1940 41.236.315 12.880.182 31,24% 28.356.133 68,76%
1950 51.944.397 18.582.891 35,77% 33.361.506 64,23%
1960 70.070.457 31.303.034 44,67% 38.767.423 55,33%
1970 93.139.037 52.089.984 55,93% 41.049.053 44,07%
1980 119.002.706 82.436.409 69,27% 36.566.297 30,73%
1991 146.825.475 110.990.990 75,59% 35.834.485 24,41%
2000 169.799.170 145.800.000 85,87% 23.999.170 14,13%
2006 186.119.238 165.832.920 89,10% 20.286.318 10,90%
Fontes: Fonte: Estimativas da população residente 1940-2000, IBGE e estimativas do
autor com base em índices do IBGE para 2006.

Analisando o quadro acima se pode verificar que o crescimento da


população urbana no Brasil ocorre de forma descontrolada e diante da atual
realidade de investimentos econômicos, sociais e na infra-estrutura urbana nas
cidades e por outro lado, a inexistência de uma política competente que
objetive a reforma agrária fica fácil deduzir que este crescimento urbano irá
continuar até que se haja uma política nacional de investimentos no campo.

Se o País possuía um caráter extremamente rural nos anos 40 e 50


com uma população rural em torno de 2/3 do total, verifica-se um equilíbrio nos
anos 60, mas, já nos anos 70 e 80 houve uma verdadeira corrida para as
cidades e o país virou esta proporção para 1/3 na zona rural. Esta realidade
somente se acentuou dos anos 90 para os dias atuais onde hoje temos
praticamente 90% da população brasileira vivendo nas cidades e apenas 10%
no campo.

Mesmo considerando este crescimento urbano, apesar de muitos


núcleos habitacionais se encontrarem na figura jurídica do Município, o
crescimento populacional sempre foi utilizado como forma de obtenção de
recursos federais para os Estados e Municípios Brasileiros, apesar de
pesquisadores na área de demografia advertirem, nos idos anos 80, que a
população brasileira não teria uma ascendência gigantesca predestinada, pois,
conforme constatava em 1988, o demógrafo José Alberto M. Carvalho 1, durante
o VI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em São Paulo:

“Projeções feitas no início dos anos 70 calculavam uma população


brasileira para o ano de 2000 em torno de 212 milhões de pessoas. Entre o
que se esperava 20 anos atrás e o que, com segurança, se terá, haverá uma
diferença, para menos, superior a 40 milhões de pessoas. Isto é, houve um
erro de “expectativa” da ordem de 23 %. Obviamente, estes 40 milhões de
pessoas que “estarão ausentes” teriam, no ano de 2000, menos de 30 anos de
idade, pois deixaram de nascer devido ao declínio da fecundidade
experimentado a partir de 1970. A população projetada para 2000, realizada no
início dos anos 70, provavelmente só será atingida no ano de 2020, quando se
espera um total de 211 milhões de brasileiros.”

A urbanização na Região Centro-Oeste

Já em 1988, Carvalho constata que o crescimento populacional seria


bem menor do que a expectativa previa e, com base científica, praticamente
acerta em sua previsão para o ano de 2000 (170 milhões no Censo), que
seriam 172 milhões de brasileiros. Ainda em seu artigo, Carvalho cita que a
Região Centro-Oeste apresenta índices de declínio nas taxas de mortalidade
infantil, aumento na expectativa de vida e menores índices de queda das taxas
de fecundidade em relação às outras regiões brasileiras.

Apesar de todos estes dados que apontavam este crescimento da


população da Região Centro-Oeste, as decisões do Governo Federal em
relação às políticas públicas no território brasileiro, continuaram a atender
majoritariamente as Regiões Sul, Sudeste e Nordeste do País, seguindo de
forma errônea, a relação sistemática da representatividade política destas
regiões e não outros fatores como preservação ambiental, política econômica
descentralizada e novas frentes de ocupação agro-pastoris.

Com todos os esforços políticos focados nas Regiões Sul, Sudeste e


Nordeste do País, a iniciativa privada nacional e internacional iniciou um
processo de investimentos em várias frentes econômicas no mercado das
Regiões Centro-Oeste e Norte, proporcionadas pelas constantes ações destes
Governos Estaduais através de artifícios legais para a implantação de negócios
utilizando-se de facilitadores fiscais, demanda reprimida, índices de
crescimento econômico e centralidade geográfica.

Nos quadros de números 3 e 4, demonstram-se claramente o grande


crescimento do Distrito Federal e também de seu entorno em território goiano,
através de uma ocupação recente e quase toda formada por uma população de
baixa renda que se ocupam de serviços e empregos ofertados no Distrito
Federal.

1
CARVALHO, J.A.M. de. O tamanho da população brasileira e sua distribuição etária: uma
visão prospectiva. In: Anais do VI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, São Paulo:
EBEP, 1988.V. 1, p. 33-66.
Estas novas cidades se caracterizam por um núcleo ocupacional inicial
definido por loteamentos clandestinos ou conjuntos habitacionais provindos da
emancipação, como distritos ou vilas originalmente, das cidades mais antigas
como Luziânia, Formosa e Planaltina de Goiás. As principais são: Valparaíso
de Goiás, Novo Gama, Águas Lindas de Goiás e Santo Antônio do Descoberto.

Quadro 3 – Índices de crescimento da população do Distrito Federal e


entorno
Cidade tc 99/2000 População 2000 tc (est) População 2006
01. Distrito Federal 2,82 % 2.051.146 2,24 % 2.389.569
02. Entorno DF (Goiás) 2,91 % 1.323.735 3,00 % 1.595.853
Total - 3.374.881 2,48 % 3.985.422
Fonte: CENSO 2000 e estimativas do autor, com base nos índices do IBGE.

Verifica-se atualmente que das 12 metrópoles mais populosas do País,


incluindo aí as Metrópoles Mundiais, Nacionais e Regionais, 4 se encontram
nas regiões Centro-Oeste e Norte, a Capital Federal do Brasil, Brasília e as
Metrópoles Regionais Goiânia no Centro-Oeste, Manaus e Belém no Norte.

O quadro abaixo demonstra o crescimento destas metrópoles do ano de


2.000 (Censo) até o momento atual, conforme estimativa do IBGE. Para o ano
de 2005 e estimadas pelo autor para 2006.

Quadro 4 – População das 12 maiores metrópoles brasileiras com mais de 1


milhão de habitantes em 2000, 2005 e 2006.
Município tc 2000 Pop. 2000 Pop. 2005 (est) tc (est) Pop. 2006( est)
01. São Paulo 0,88 % 10.434.252 10.927.985 0,90 % 11.026.336
02. Rio de Janeiro 0,75 % 5.857.904 6.094.183 0,77 % 6.141.108
03. Salvador 1,85 % 2.443.107 2.673.560 1,72 % 2.719.545
04. Fortaleza 2,17 % 2.141.402 2.374.944 1,97 % 2.421.730
05. Belo Horizonte 1,16 % 2.258.526 2.375.329 0,98% 2.398.607
06. Brasília 2,82 % 2.051.146 2.333.108 2,42 % 2.389.569
07. Curitiba 2,13 % 1.587.315 1.757.904 1,94 % 1.792.007
08. Manaus 3.76 % 1.405.835 1.644.690 2,90 % 1.692.386
09. Recife 1,03 % 1.422.905 1.501.008 1,04 % 1.516.618
10. Porto Alegre 0,94 % 1.360.590 1.428.696 0,95 % 1.442.269
11. Belém 1,92 % 1.280.614 1.405.871 1,78 % 1.430.896
12. Goiânia 1,94 % 1.093.007 1.201.006 1,80 % 1.222.624
Fonte: CENSO 2000 e estimativa para 2005 do IBGE e Estimativas do Autor para 2006,
com base nos índices de crescimento do IBGE.

Este quadro permite constatar que na Região Centro-Oeste, Brasília –


certamente aí se considera todo o Distrito Federal e não apenas o Plano Piloto
– encontra-se como a 6ª aglomeração urbana mais populosa do país e passará
a ser a 5ª, ultrapassando a Metrópole Nacional, Belo Horizonte já no ano de
2007, com aproximadamente 2.456.955 habitantes.

Na Região Norte, a Metrópole Regional Manaus que hoje ocupa a 8 ª


posição, passará a ocupar a 7ª colocação ao ultrapassar a Metrópole Nacional,
Curitiba no ano de 2021, e contará com uma população estimada em 2.373.419
pessoas e posteriormente ultrapassará também a capital mineira, Belo
Horizonte.

A outra Metrópole Regional da região Norte, Belém que atualmente


ocupa a 11ª, ultrapassará a Metrópole Nacional, Porto Alegre já no ano de
2008, e contará com aproximadamente 1.500.000 de habitantes, ocupando
assim a 9ª posição e posteriormente também irá ultrapassar Recife.

Finalmente a Metrópole Regional do Centro-Oeste, Goiânia com apenas


80 anos, ultrapassará a Metrópole Nacional Porto Alegre na década de 30, e
ocupará a 11a posição entre as capitais mais populosas do Brasil. Estas
estimativas não levam em consideração alguns efeitos extras como imigração
interna do país ou mesmo uma provável imigração estrangeira dos países da
América Latina.

Estas estimativas espelham apenas o crescimento vegetativo, que


certamente contempla parte da imigração interna devido ao ocorrido
atualmente no eixo Brasília-Goiânia e que não ocorre mais em Porto Alegre,
por exemplo. Nos quadros abaixo, pode-se verificar as populações estimadas
das 12 maiores cidades brasileiras para as próximas décadas.

Quadro 5 – População das 12 maiores metrópoles brasileiras com mais de 1 milhão de


habitantes em 2006 e décadas de 10, 20, 30, 40 e 50.
Cidade tc População População População População População População
2006 2006 (i=1.0) 2010 (i=0.8) 2020 (i=0.6) 2030 (i=0.4) 2040 (i=0.2) 2050 (i=0)
01. São Paulo 0,90 % 11.026.336 11.423.284 12.245.764 12.907.035 13.371.688 13.612.378
02. Rio de Janeiro 0,77 % 6.141.108 6.330.256 6.722.732 7.031.978 7.249.969 7.358.719
03. Salvador 1,72 % 2.719.545 2.906.650 3.307.768 3.648.468 3.900.212 4.032.819
04. Fortaleza 1,97 % 2.421.730 2.612.562 3.025.347 3.382.338 3.649.542 3.791.874
05. Belo Horizonte 0,98 % 2.398.607 2.492.631 2.687.035 2.845.570 2.956.547 3.015.678
06. Brasília 2,42 % 2.389.569* 2.620.881 3.129.332* 3.583.085 3.930.644* 4.119.315
07. Curitiba 1,94 % 1.792.007 1.931.067 2.230.382 2.489.106 2.683.256 2.787.903
08. Manaus 2,90 % 1.692.386 1.888.702 2.326.881* 2.731.758 3.048.642* 3.225.463
09. Recife 1,04 % 1.516.618 1.579.710 1.710.826 1.816.897 1.893.207 1.932.964
10. Porto Alegre 0,95 % 1.442.269 1.497.077 1.606.689 1.698.270 1.762.804 1.796.297
11. Belém 1,78 % 1.430.896* 1.532.776 1.750.430* 1.937.726 2.075.305 2.150.016
12. Goiânia 1,80 % 1.222.624 1.310.652 1.499.386 1.661.320 1.780.935* 1.846.829
Fonte: Estimativas do Autor para, com base nos índices de crescimento do IBGE.

As metrópoles que justamente obtiveram um grande crescimento


vegetativo e de imigrações internas no país nas décadas de 60 e 70, São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, são as que possuem os
menores índices de crescimento anual em 1990 e 2000, ou sejam: 0.90, 0.77,
0.98 e 0.95 % respectivamente para o ano de 2006.

Verifica-se que as Metrópoles das Regiões Sudeste e Sul serão as


primeiras metrópoles brasileiras que irão se estabilizar em população, à
exceção de Curitiba (índice de 1,94 %), e as capitais do Espírito Santo, Vitória
e de Santa Catarina, Florianópolis que não possuem território para se
expandirem e são definidas, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –
IPEA, como Centro Regional.
Os destaques da Região Nordeste são Fortaleza e Salvador com os
maiores índices de crescimento populacional, 1.97 e 1.72 respectivamente, já
atualmente entre as 4 maiores metrópoles brasileiras, e Recife com um
crescimento menor na faixa de 1,04 %. As outras capitais nordestinas que são
consideradas Centros Regionais como Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal
(RN), apesar da influência exercida por Recife ao longo dos últimos anos.

Mais ao extremo norte do Nordeste, São Luís (MA) e Teresina,


atualmente possuem um grande crescimento populacional, podendo vir
futuramente a fazer parte das grandes metrópoles regionais do Brasil. Apenas
Aracajú (SE), que sofre influência direta de Salvador, enquadra-se como
cidades de porte médio, apesar de sua caracterização como Centro Regional
pelo IPEA.

A Região Norte possui dois grandes centros urbanos com altos índices
de crescimento populacional, 2.90 e 1.78 %, as Metrópoles Regionais Manaus
e Belém respectivamente, onde se destaca justamente a posição geográfica
estratégica de toda a economia do norte do país, isolando-se pelas grandes
distâncias das demais Metrópoles Mundiais, Nacionais e Regionais.

Os outros centros urbanos, considerados pelo IPEA como Centros


Regionais, ainda buscam uma melhor infra-estrutura urbana e econômica,
como é o caso de Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) na rota do crescimento
da expansão agrícola no Oeste. As demais capitais, ainda são consideradas
precárias e não alcançaram os níveis das demais, estão caracterizadas pelo
IPEA como Centro Sub-Regional 1 pois, sofrem influência de outras Metrópoles
Regionais: a recente capital do Tocantins, Palmas sob a influência de Goiânia,
Macapá (AP) por Belém e a capital de Roraima, Boa Vista, por Manaus.

A ocupação do eixo rodoviário entre Brasília e Goiânia

O eixo rodoviário entre a capital goiana, Goiânia e capital federal,


Brasília denominam-se Complexo territorial Brasília–Goiânia, conforme a
Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás através da política de gestão
do macro planejamento aplicado no Estado e é composto pelo eixo rodoviário
de 200 Km da BR-060, liga Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito
Federal e Entorno - RIDE2, denominado também de Aglomerado Metropolitano

RIDE: Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno integra o Distrito


2

Federal, 19 municípios do Estado de Goiás - Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de
Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás,
Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis,
Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás, Vila Boa e 02
municípios do Estado de Minas Gerais - Unaí e Buritis.

RMG: Região Metropolitana de Goiânia integra 13 municípios - Abadia de Goiás, Aparecida de


Goiânia, Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Goiânia, Goianápolis, Goianira, Guapó, Hidrolândia,
Nerópolis, Senador Canedo, Terezópolis de Goiás e Trindade.
Nacional de Brasília, a Região Metropolitana de Goiânia 3, compreendendo
parte dos municípios que integram estas duas regiões.

Este estudo específico irá compreender 05 municípios da Região


Metropolitana de Goiânia - Goiânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo,
Goianápolis e Terezópolis de Goiás; a porção sul do Distrito Federal, composta
pelas cidades satélites do Gama, Samambaia e Recanto das Emas; e mais os
municípios de Anápolis, Abadiânia, Alexânia, Santo Antônio do Descoberto e
Águas Lindas de Goiás, todos em Goiás. Nesta região específica que abrange
os municípios diretamente envolvidos com o eixo rodoviário da BR-060, vivem
4.780.507 pessoas, conforme estimativas do IBGE para o ano de 2006.

Quadro 6 – População do Eixo rodoviário entre Brasília e Goiânia.


Município Tc População tc População População
2000 2000 (est) 2005 2006
01. Abadiânia 2,24 % 11.452 1,86 % 12.736 12.973
02. Águas Lindas G. 20,35 % 105.746 6,48 % 159.299 169.616
03. Alexânia 2,23 % 20.047 1,86 % 22.287 22.702
04. Anápolis 2,10 % 288.085 1,76 % 313.412 318.928
05. Aparecida 7,37 % 336.392 4,29 % 435.323 463.759
06. Goianápolis 4,46 % 10.671 3,14 % 12.825 13.436
07. Goiânia 1,94 % 1.093.007 1,66 % 1.201.006 1.231.084
08. Santo Antônio D. 14,74 % 51.897 5,89 % 74.867 79.277
09. Senador Canedo 9,36 % 53.105 4,87 % 71.399 76.701
10. Terezópolis G. 4,33 % 5.083 3,01 % 6.085 6.363
11. Distrito Federal 2,82 % 2.051.146 2,24 % 2.333.108 2.385.370
Total - 4.026.631 2,89 % 4.642.347 4.772.049
Fonte: CENSO 2000 e estimativas do autor conforme dados IBGE.

A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno -


RIDE, visa desenvolver estudos de desenvolvimento regional em diversas
áreas e atualmente é integrada, além do Distrito Federal, mais 21 (vinte e um)
municípios, sendo 19 do Estado de Goiás, com destaque para municípios mais
populosos (estimativas do IBGE para 2005) como Luziânia ( 180.227), Águas
Lindas de Goiás (159.294), Valparaíso de Goiás (119.493), Formosa (90.247),
Santo Antônio do Descoberto ( 74.867), Cidade Ocidental (47.499), Cristalina
(39.867) e cidades com patrimônio histórico de alta relevância como Pirenópolis
e Corumbá de Goiás.

Quadro 7 – Índices de crescimento da população do Eixo Brasília-Goiânia


Cidade tc 99/2000 População 2000 tc (est) População 2006
01. Abadiânia 2,24 % 11.452 1,86 % 12.973
02. Águas Lindas G. 20,35 % 105.746 6,48 % 169.616
03. Alexânia 2,23 % 20.047 1,86 % 22.702
04. Anápolis 2,10 % 288.085 1,76 % 318.928
05. Santo Antônio D. 14,74 % 51.897 5,89 % 79.277
06. R.M. de Goiânia 5,64 % 1.675.893 4,32 % 2.004.023
07. Distrito Federal 2,82 % 2.051.146 2,24 % 2.385.370
Total - 4.204.266 3,71 % 5.001.365
Fonte: CENSO 2000 e estimativas do autor conforme índices do IBGE.

3
A RIDE em Goiás totaliza 38.211,8 km², representando 11,2 % do
território goiano e conforme estimativas do autor, com base nos indicadores de
crescimento do IBGE para os municípios que integram esta região no Estado
de Goiás, conta com aproximadamente 1.600.000 habitantes, o que significa
um percentual de quase 19 % de todo o Estado, conhecida popularmente como
Região do Entorno de Brasília.

Ainda participam da RIDE 02 municípios do Estado de Minas Gerais,


Unaí e Buritis, e em estudos recentes verifica-se também a participação do
município de Vila Propício, em Goiás. Esta região insere-se entre as bacias
hidrográficas do Paranaíba, Tocantins e São Francisco, tendo como principais
rios o Corumbá, São Marcos, São Bartolomeu, Paranã, Paraim e Maranhão.

A Região Metropolitana de Goiânia

A Região Metropolitana de Goiânia foi criada através da Lei


Complementar 027, de 30 de Dezembro de 1999, com o objetivo de aperfeiçoar
e atualizar as ações diante de um crescimento urbano sem planejamento
verificado até então durante a gestão do AGLURG – Aglomerado Urbano de
Goiânia, criado nos anos 80, com o objetivo quase único de gestão do
Transporte Coletivo na capital e municípios conurbados ou próximos que fazem
parte do Transporte Integrado Metropolitano.

Inicialmente a Região Metropolitana de Goiânia era integrada por 11


municípios, centralizada na capital Goiânia, com destaque para municípios
mais populosos (estimativas do IBGE para 2005) como Aparecida de Goiânia
(435.323), Trindade (99.235), Senador Canedo (71.399) e municípios com
população pequena, alguns considerados “cidades dormitórios” e que há 20
anos atrás eram apenas distritos como Abadia de Goiás, Aragoiânia,
Goianápolis, Goianira, Hidrolândia, Nerópolis e Terezópolis de Goiás.

Quadro 8 – Índices de crescimento da população da Região Metropolitana de Goiânia


Cidade tc População População tc (est) População População
99/2000 2000 2004 2004/05 07/2005 12/2006
01. Abadia de Goiás 6,40 % 4.971 6.054 3,96 % 6.294 6.673
02. Aparecida de Goiânia 7,37% 336.392 417.409 4,29 % 435.323 463.759
03. Aragoiânia 3,62 % 6.424 7.320 2,72 % 7.519 7.725
04. Bela Vista de Goiás 4,10 % 20.020 20.855 3,50 % 21.611 22.758
05. Goianápolis 4,46 % 10.671 12.435 3,14 % 12.825 13.436
06. Goiânia 1,94 % 1.093.007 1.181.438 1,66 % 1.201.006 1.231.084
07. Guapó 4,10 % 14.080 14.667 3,50 % 15.199 16.006
08. Goianira 6,24 % 18.719 22.727 3,90 % 23.613 25.258
09. Hidrolândia 2,77 % 13.086 14.539 2,21% 14.860 15.357
10. Nerópolis 4,10 % 18.578 21.447 2,96 % 22.081 23.071
11. Senador Canedo 9,36 % 53.105 68.086 4,87 % 71.399 76.701
12. Terezópolis 4,33 % 5.083 5.904 3,01 % 6.085 6.363
13. Trindade 4,92 % 81.457 96.016 3,36 % 99.235 104.292
TOTAL - - 2.004.023
Fonte: CENSO 2000 e estimativas do autor conforme índices do IBGE.

Em 09 de dezembro de 2003, através da Lei Complementar 048, a


Região Metropolitana de Goiânia foi acrescida em mais um pequeno município,
Bela Vista de Goiás e em 23 de Maio de 2005 outro município de Guapó de
pequeno porte, através da Lei Complementar 054, totalizando assim,
atualmente, 13 municípios que integram a Região Metropolitana de Goiânia,
ressaltando que apenas os municípios de Bela Vista de Goiás e Hidrolândia
não fazem divisa física com Goiânia.

Dentro do Planejamento Regional determinado pela Secretaria de


Planejamento do Estado de Goiás, criou-se outra figura territorial denominada
Região de Desenvolvimento Integrado de Goiânia, criada através da Lei
Complementar 027, de 30 de Dezembro de 1999, e posteriormente alterada
através da Lei Complementar 048, de 09 de Dezembro de 2003.

Atualmente integra 20 municípios, os 13 municípios integrantes da


Região Metropolitana de Goiânia e mais 07 municípios, Bonfinópolis,
Brazabrantes, Caldazinha, Caturaí, Nova Veneza, Santo Antônio de Goiás que
se enquadram como pequeno porte, tanto na população como economia, e o
município de Inhumas, com aproximadamente 50.000 habitantes e forte
economia alicerçada na agroindústria.

Se considerar a população somada da Região Integrada de


Desenvolvimento de Brasília–RIDE com Região de Desenvolvimento Integrado
de Goiânia e mais o Município de Anápolis, pode-se estimar para o ano de
2006, com base nas projeções para 2005 do IBGE, uma população de
6.312.632 habitantes.

Esta região é a segunda maior concentração de população no Brasil em


uma distância linear média de 200 kms, perdendo apenas para o eixo
compreendido entre as duas metrópoles mundiais do território nacional, São
Paulo e Rio de Janeiro. Deve-se perceber neste momento que este Complexo
territorial Brasília-Goiânia existe à apenas 40 anos no Centro-Oeste Brasileiro.

Quadro 9 – Índices de crescimento da população do Eixo Brasília-Goiânia


Cidade tc 99/2000 População 2000 tc (est) População 2006
01. R. M. de Goiânia 5,64 % 1.675.893 4,32 % 2.012.481
02. Distrito Federal 2,82 % 2.051.146 2,24 % 2.385.370
03. Entorno DF 3,64 % 1.323.735 3,00 % 1.595.853
04. Anápolis 2,10 % 288.085 1,76 % 318.928
Total - 5.338.859 3,43 % 6.312.632
Fonte: CENSO 2000 e estimativas do autor com base em índices do IBGE.

Conclusão
Esta região que hoje possui a segunda maior concentração de
população no Brasil com estimadamente 6.312.632 habitantes em uma
distância linear média de apenas 200 quilômetros, contando ainda com alto
índice de crescimento vegetativo e políticas governamentais de imigração,
aliada às ações do Governo do Estado e Goiás e do Distrito Federal em facilitar
a vinda e instalação de grandes indústrias nesta região, pode-se prever um
futuro preocupante em relação à ocupação sustentável deste território.

Se ainda lembrar que esta ocupação é de uma velocidade comparável


apenas à ocupação verificada no eixo Rio – São Paulo durante as décadas de
60 e 70, atenuada pelo breve espaço de tempo de praticamente 40 anos de
ocupação entre Brasília e Goiânia, admite-se utilizar um planejamento de
ocupação e uso do solo sustentável, aliando os interesses Políticos,
Governamentais e Econômicos a uma base planejada com sustentação na
legislação ambiental existente.

Este artigo objetiva aliar as informações existentes em planejamentos


distintos do Distrito Federal e de Goiás, no intuito de levantar estas
preocupações que, devido mesmo ao aspecto de visão limitada ao
planejamento de cada governo, não se encontram na “ordem do dia” e se não
houver um planejamento conjunto entre as partes visando o uso e a ocupação
sustentável neste território, o crescimento acelerado irá trazer surpresas
desagradáveis em poucos anos e a possibilidade de reversão da degradação
ambiental que certamente ocorrerá, será praticamente nula e os custos
ambientais serão ampliados e os resultados não serão satisfatórios.

Bibliografia

BRASIL, Cadernos Mcidades/Desenvolvimento Urbano – Política Nacional de


Desenvolvimento Urbano 1. Ministério das Cidades. 2004, Brasília, DF.

BRASIL, Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil: estudos


básicos para caracterização da rede urbana / IPEA, IBGE, UNICAMP, volume
01 Cidades. Brasília: IPEA, 2001.

BRASIL, Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil: estudos


básicos para caracterização da rede urbana / IPEA, IBGE, UNICAMP, volume
02 Rede urbana. Brasília: IPEA, 2001.

SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. Editora Hucitec, 3 Edição, 1996.


São Paulo, SP.

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