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Excertos de textos sobre os conceitos e de ética, moral, bioética, norma moral e norma jurídica.

Ética, Moral e Direito

        É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas três áreas de
conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições.
        Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma certa previsibilidade
para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
        A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-
viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se
conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum.
        O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado.
As leis tem uma base territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica onde uma determinada
população ou seus delegados vivem. O Direito Civil, que é referencial utilizado no Brasil, baseia-se na lei
escrita. A Common Law, dos países anglo-saxões, baseia-se na jurisprudência. As sentenças dadas para
cada caso em particular podem servir de base para a argumentação de novos casos. O Direito Civil é mais
estático e a Common Law mais dinâmica.
        Alguns autores afirmam que o Direito é um sub-conjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a
conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de
conflitos entre a Moral e o Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que
uma pessoa acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.
        A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau. Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas
para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos - Moral e Direito - pois não
estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que a caracteriza.
Por Dr. José Roberto Goldim e Rosana Soibelmann Glock:
http://www.ufrgs.br/bioetica/eticmor.htm
Obs.: para saber mais sobre o Common Law, pesquise no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Common_law

Funções da ética
  Em nosso modo de ver, corresponde à Ética uma tripla função: 1) esclarecer o que é a moral,
quais são seus traços específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as
razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; 3) aplicar  aos
diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras funções, de maneira que se
adote nesses âmbitos sociais uma moral crítica (ou seja, racionalmente fundamentada), em vez de um
código moral dogmaticamente imposto ou da ausência de referências morais.
Ao longo da história da Filosofia ofereceram-se diferentes modelos éticos que procuram cumprir as três
funções anteriores: são as teorias éticas. As éticas aristotélica, utilitarista, kantiana e discursiva são bons
exemplos desse tipo de teorias. São constructos filosóficos, geralmente dotados de um alto grau de
sistematização, que tentam dar conta do fenômeno da moralidade em geral, e da preferibilidade de certos
códigos morais na medida em que estes se ajustam aos princípios de racionalidade que regem o modelo
filosófico de que se trata. [...]
CORTINA, A. e MARTINEZ, E. Ética . São Paulo: Loyola, 2005.

Caráter Histórico da Moral.


Vazquez afirma quer a moral é o conjunto de normas que regulam as relações dos indivíduos entre
si e destes com a sociedade, com a finalidade de harmonizar os interesses de cada indivíduo com os da
sociedade. Por isso é que a moral é histórica. Uma vez que as sociedades humanas mudam, a moral
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também acompanha essas mudanças. Fato é que podemos falar de moral na sociedade antiga, moral
feudal, moral moderna, etc. Há diversas morais de acordo com a diversidade de sociedades.
Outro argumento do autor é o da historicidade do ser humano, isto é, a tese de que o ser humano
não é um ente pronto por natureza, ele é aquilo que faz de si mesmo fazendo história; ele se autoproduz.
Se o ser humano é histórico também a moral é histórica. [...]

Capítulo II de: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. ÉTICA. RJ.: Civilização Brasileira. 

[...] Caráter social da moral – Referendando a afirmação dos primeiros capítulos, a moral é social: é a
forma de comportamento que possui a característica de um ser que, inclusive no comportamento
individual, comporta-se como um ser social. O autor ressalta três aspectos da qualidade social da moral:
- Os indivíduos, que se comportam como seres sociais, sujeitam-se a princípios, normas ou
valores socialmente estabelecidos.
- Enquanto social, a moral regula somente atos e relações que acarretam conseqüências para
outros e que estão sujeitos à sanção dos outros.
- A moral cumpre a função social de induzir os indivíduos a aceitar livre e conscientemente
determinados princípios, valores ou interesses; tem a função de regular as relações dos
indivíduos entre si e cada um deles com o grupo, para garantir uma determinada ordem social.

O individual e o coletivo na moral. – Pelo fato de ser social implica a relação entre o individual e o
coletivo. Habitualmente, devido à eficiência dos meios de transmissão da moral, os indivíduos se
conformam à moral vigente de modo espontâneo, habitual, quase instintivo. Dado a força do costume, o
normativo e o fatual fundem-se, e esta é a forma mais estável de permanência de uma determinada moral.
Isso não significa que as ações dos indivíduos não tenham valor moral. A convicção geral de que “o que
foi ontem deve ser também hoje” confere valor à regulamentação habitual do comportamento.
No entanto, por mais fortes que sejam os elementos objetivos, o sujeito que age é uma pessoa
singular, supostamente livre, consciente e responsável. Por outro lado, mesmo quando o indivíduo pensa
estar agindo exclusivamente de acordo com a sua consciência ou sua livre vontade, ele age sob influência
das convicções da sociedade de que participa.
Resumindo, a moral implica sempre uma consciência individual, que interiorizou as normas de
ação vigentes, o que já implica a influência das relações e das condições sociais dominantes na sociedade.
Assim como não existe indivíduo isolado não existe uma moral estritamente pessoal. Existem indivíduos
concretos, numa sociedade determinada, e suas ações têm caráter social, sem negar a subjetividade. [...]

Capítulo III de: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. ÉTICA. RJ.: Civilização Brasileira. 

Etica e Moral

Que é ética, que é moral? É a mesma coisa ou há distinções a serem feitas? Há muita confusão
acerca disso.
Tentemos um esclarecimento. Na linguagem comum e mesmo culta, ética e moral são sinônimos.
Assim dizemos: "aqui há um problema ético" ou "um problema moral". Com isso emitimos um juízo de
valor sobre alguma prática pessoal ou social, se boa, se má ou duvidosa.
Mas aprofundando a questão, percebemos que ética e moral não são sinônimos. A ética é parte da
filosofia. Considera concepções de fundo, princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma
pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa
índole. A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes,
hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores
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estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue
costumes) mas não necessariamente ética (obedece a princípios).
Embora úteis, estas definições são abstratas porque não mostram o processo como a ética e a
moral, efetivamente, surgem. E aqui os gregos nos podem ajudar.
Eles partem de uma experiência de base, sempre válida, a da morada entendida existencialmente
como o conjunto das relações entre o meio físico e as pessoas. Chamam à morada de "ethos" (em grego
com o e longo). Para que a morada seja morada, precisa-se organizar o espaço físico (quartos, sala,
cozinha) e o espaço humano (relações entre os moradores entre si e com seus vizinhos), segundo critérios,
valores e princípios para que tudo flua e esteja a contento. Isso confere caráter à casa e às pessoas. Os
gregos chamam a isso também de "ethos". Nós diríamos ética e caráter ético das pessoas. Ademais, na
morada, os moradores têm costumes, maneiras de organizar as refeições, os encontros, estilos de
relacionamento, tensos e competitivos ou harmoniosos e cooperativos. A isso os gregos chamavam
também de "ethos" (com o e curto). Nós diríamos moral e a postura moral de uma pessoa.
Ocorre que esses costumes (moral) formam o caráter (ética) das pessoas. Winnicot, prolongando
Freud, estudou a importância das relações familiares para estabelecer o caráter das pessoas. Elas serão
éticas (terão princípios e valores) se tiverem tido uma boa moral (relações harmoniosas e inclusivas) em
casa.
Os medievais não tinham as sutilezas dos gregos. Usavam a palavra moral (vem de mos/mores)
tanto para os costumes quanto para o caráter. Distinguiam a moral teórica (filosofia moral) que estuda os
princípios e as atitudes que iluminam as práticas, e a moral prática que analisa os atos à luz das atitudes e
estuda a aplicação dos princípios à vida.
Qual é ética e a moral vigentes hoje? É a capitalista. Sua ética diz: bom é o que permite acumular
mais com menos investimento e em menos tempo possível. Sua moral concreta reza: empregar menos
gente possível, pagar menos salários e impostos e explorar melhor a natureza. Imaginemos como seria
uma casa e sociedade (ethos) que tivessem tais costumes (moral/ethos) e produzisse caracteres
(ethos/moral) assim conflitivos? Seria ainda humana e benfazeja à vida? Eis a razão da grave crise atual.

Leonardo Boff

Fonte: http://alainet.org/active/4005&lang=es
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Bioética
Ética
Norma Moral e Norma Jurídica

A palavra Bioética, hoje bastante usada, não é muito antiga. Segundo Warren T. Reich foi van
Rensselaer Potter quem primeiro cunhou o termo bioethics (bioética) ao escrever o livro Bioethics:
bridge to the future, em 1971 (cf. PESSINI e BARCHIFONTAINE, 24). Seu significado foi aos poucos
sendo delimitado. Para compreendê-lo melhor, pode-se começar pelo estudo da composição da palavra.
Bioética é uma palavra composta de BIOS, palavra grega que significa vida e ÉTICA, que indica
uma parte da Filosofia, precisamente a parte da Filosofia que questiona as atividades do ser humano para
possibilitar-lhe a realização (o fazer) do Bem. Etimologicamente, portanto, Bioética significa uma Ética
que tem como preocupação fundamental as manifestações de vida (Bio). Para alcançar com maior
amplitude e profundidade o que se pode entender com a palavra Bioética, será oportuno e necessário
verificar o significado de Ética. Para isso cumpre lembrar que no linguajar cotidiano aparecem diversas
palavras que, usadas indiscriminadamente, podem levar a confusões. Entre estas palavras estão os termos
moral e ética, que não indicam exatamente a mesma coisa, embora seja bastante difundido o emprego das
duas palavras como se fossem sinônimos. A palavra Moral, se origina do latim mos, que significa
costume. E Ética, de onde vem? Qual o seu significado original?
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Hoje é preciso fazer uma distinção quanto ao significado de Ética e Moral, principalmente
porque em muitos ambientes não há clareza quanto a estes conceitos. A isto é preciso acrescentar a
necessidade de distinguir também norma moral de norma jurídica.

→ Ética: o que é Ética? A Ética é uma postura filosófica. Enquanto disciplina, enquanto uma atividade
que nos permite conhecer, a Ética é uma parte da Filosofia. Saviani define: Filosofia é uma reflexão
radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas da realidade. Assim, a Ética, por ser uma parte da
Filosofia é, antes de tudo, uma reflexão, se caracteriza por uma postura reflexiva. Uma reflexão radical
sobre uma propriedade humana, o agir. Assim, pode-se definir: Ética é uma reflexão sobre os
princípios que orientam a ação humana para possibilitar ao ser humano realizar cada vez mais
plenamente a sua natureza. Esta definição distingue a ética da moral, pois mostra o seu caráter
nitidamente especulativo: caracteriza-se a ética por perguntar por quê os atos efetuados pelo ser humano
estão certos ou errados; por quê são justos ou injustos; se conduzem ou não ao bem. A ética questiona a
validade dos atos humanos. Pergunta por quê certos atos podem ser considerados bons e outros não.
→ Moral: A moral tem um caráter normativo: é um conjunto de normas e prescrições que visam regular
a ação ou o comportamento do indivíduo dentro da sociedade. A moral se fundamenta na ética, mas é
prescritiva: esse ato é bom, aquele não é bom. É prescritiva no sentido de apontar o certo e, portanto, de
sugerir um caminho, uma escolha. Não no sentido de impor: a ação moral supõe a liberdade para ser
moral. A moral é um conjunto de normas que visam a prática do bem, a vivência daquilo que é melhor
para o ser humano. A moral apresenta essas normas partindo da ideia de que o ser humano busca sempre
o melhor. Por isso a moral nunca prevê um castigo. O verdadeiro ato moral resulta sempre de uma livre
escolha do ser humano!
[...]
→ Norma Jurídica: é um conjunto de regras ou estatutos impostos ao ser humano para orientar a sua
ação tendo em vista o bem comum. A norma jurídica prevê sempre uma punição no caso de sua
transgressão. Toda norma jurídica adequada supõe um bom embasamento ético e moral. Quando este
embasamento é fraco, a norma jurídica pode ser facilmente contestada e, possivelmente, deva ser
modificada. [...]

Norma Moral e Norma Jurídica - Diferenças

NORMA MORAL NORMA JURÍDICA


→ É interna e advém da consciência. → É externa e procede do Estado.

Supõe uma interiorização.

→ A norma moral é anterior à norma jurídica, → A norma jurídica caracteriza-se pela


pois a convivência humana sempre exigiu a
necessidade de normas, mesmo antes da exterioridade, ou seja, não é preciso
existência do Estado.
que se concorde interiormente com ela; basta
→ A norma moral é cumprida por apenas que seja cumprida.

convicção íntima da pessoa. → A norma jurídica frequentemente é cumprida

por medo de um castigo.


Quadro apontando as diferenças entre norma
moral e norma jurídica

Fonte: Franklin M. Villela


– texto adaptado
http://tinyurl
.com/cecfjgb

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