Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E-mail: arthurleandrosantos@gmail.com
Isto porque podemos partir do Carl Schimitt para dizer que dentre os
“critérios do político” encontramos um dos principais que é “a diferenciação do
amigo e do inimigo”, o que desemboca na “guerra como manifestação de
inimizade”, guerra esta que não é necessariamente, e quase nunca é, bélica.
(2009, pp. 27-29) Em outras palavras o político é definido pelo conflito. Este
critério nos ajuda, pelo menos a partir do Schimitt, separar o político do
ideológico. Pois tudo que é social somente seria político, como diz o senso
comum, se tudo fosse feito como (re)afirmação de um conflito, nos fazendo,
então, precisar o ideológico exatamente como as manifestações intersubjetivas
com as mais variadas intenções que não a do conflito. Se consideramos essa
dimensão conflituosa como base, critério, do político, encontramos a senda para
incutir uma reflexão do político também como uma reflexão psicanalítica.
1. Balizando definições
Pensar política e ideologia se limitando-se a questões de sexo, gênero,
etnia e raça seria de uma simplificação broquel. Entretanto entender isto não é o
mesmo que negar que hoje em dia a maioria das questões políticas giram em
torno desses dois eixos: a identidade sexual e a identidade cultural. Já é a partir
daqui que precisa-se salientar que os caminhos do político e do objeto de estudo
da psicanálise se encontram, se é que um dia já estiveram separados, porque,
embora seja comum acreditar que sim, os psicanalistas não devem estar
privados da atuação política e do posicionamento. Isto porque enquanto
pesquisador seu discurso universitário e discurso de mestre tendem a perpassar
pelos embates políticos atuais que transladam sobre demandas psíquicas, e
também porque enquanto no lugar de objeto transferencial, ou seja, na clínica, o
psicanalista precisa estar preparado para ser interlocutor do discurso histérico
que o interpela também a partir e sobre as mesmas questões políticas.
O que, de fato, ocorre é uma alteração dos fatores, sendo assim, como
diz a matemática, o produto não é alterado. No discurso bélico a palavra vem
antes do confronto, no discurso político a guerra está na palavra, e para além da
inversão está antes e depois, como intelecção e ação, respectivamente.
Os desejos que são individuais se projetam para fora, para a Pólis, o que
eram confrontos internos são ao mesmo tempo confrontos de todos contra
todos. A política, entremente, é o confronto para realizar desejos, que é a
definição de ideologia. Contudo, se a ideologia costura os recortes da realidade
que lhe apetece, a realidade costura os recortes político-ideológicos que lhe
apetece também. Assim há sempre uma cisão, um recorte ainda maior, um corte
estruturante, um Real, entre a realidade e as intenções políticas. Esta
impossibilidade é o furo pelo qual existe coletivamente o que Freud alcunho
como mal-estar da civilização. Este mal-estar não é visto como qualquer mal-
estar que deve ser combatido, porque ainda que fosse possível desfazê-lo,
estaríamos desfazendo-o nos desfazendo juntos, pois, da mesma forma que a
“guerra de pulsões” é o que torna o Sujeito desejante e apto ao “conflito da vida”,
só há política, laço social e até mesmo sociedade se houver um caráter de
conflito basilar que os estruturam. Assim como sintomas são peremptórios em
qualquer sujeito o mal-estar é um destino cabal para qualquer sociedade.
Vídeos