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1.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 A História da Capoeira

Acredita-se que a história da capoeira se originou no período em que o


Brasil era colônia de Portugal. A presença dos escravos no Brasil se
estabelece enquanto um período penoso de nossa história: a escravidão. A
escravização de africanos surgiu nesse país aproximadamente no século XVI e
ocasionou consequências na essência da sociedade brasileira que na ainda
perduram na contemporaneidade, como a discriminação racial. Neste período,
os escravos eram submetidos ao trabalho nos engenhos de açúcar e nas
minas, também a desempenhar serviços desconfortáveis, árduos e arriscados.
Além disso, recebiam um acolhimento miserável e no momento em que
manifestavam insatisfação sofriam punições físicas por meio dos colonizadores
brasileiros (SANTOS; BARROS, 1999).
Durante o passar do tempo os escravos passaram a compreender a
necessidade de desenvolver formas de se defender e resistir as punições
sofridas, visto que eram frequentemente alvos de condutas violentas.
Conjectura-se que como herança cultural os escravos carregavam consigo as
práticas e tradições africanos primitivos, entre os quais suas convicções e
costumes, a gastronomia, dialetos e sobretudo suas danças que mais tarde
favoreceram para gerar a multiplicidade cultural brasileira.
No momento em que era possível, um grande número de escravos
agrupava-se em terrenos de mato baixo para produzir movimentos de suas
danças perante o som de instrumentos musicais, movimentos estes que
representavam um tipo de dança de combate (SANTOS; BARROS, 1999;
CAPOEIRA, 2006) desempenhadas com o intuito de desenvolver meios de
defesa pessoal.
Dentro deste cenário de escravidão, separados brutalmente de suas
famílias e conglomerados com outros povos, sem a possibilidade de se
comunicar, através de movimentos corporais e gestos acharam uma maneira
de expressar toda a sua revolta alguns desses gestos reproduziam brigas de
animais, as marradas, coices, saltos e bodes (AREIAS, 1983, pp.15) e nos
movimentos e gestos acharam a única maneira de expressar a indignação por
tal brutalidade, uma revolta incontestável, que não justificava somente pelo fato
de ter a cor de pele diferente.

Os negros após um dia intenso de trabalho, estropiados pelo cansaço


e castigo, eram recolhidos às senzalas, davam lhes lavagem como
ração e novamente e novamente eram trancafiados, à espera de
amanhã igual ao dia anterior. Com o decorrer do tempo e a
intensidade com que eram oprimidos e castigados pelos senhores de
engenho, ressurgiu entre eles o sentido de liberdade, iniciando-se a
luta pela sua conquista (AREIAS, 1983, pp. 13).

Considera-se que com base nessa condição os negros criaram e


aperfeiçoaram um tipo de ritual de luta para autodefesa, denominada Capoeira,
uma arte marcial que dispõe somente de recursos corporais, que se
apresentava como um método de enfrentar as violências em que eram
sujeitados. De acordo com Santos e Barros (1999, pp. 1) capoeiras eram
regiões semi-desmatadas em que os escravos praticavam seus golpes, desta
forma, presume-se que o nome desta luta manifesta ligação com as referidas
regiões (BIDAS, 2014).
Consoante a Capoeira, (2006) é possível encontrar outras ideias acerca
das origens da Capoeira no decurso da escravidão. Uma delas sustenta que a
Capoeira se tratava de uma forma de luta que se disfarçando como tipo de
dança para conseguir livrar-se da perseguição do capataz da época. Ainda na
opinião do autor, na ocasião em que era necessário alertar que os senhores do
engenho chegavam por perto, os capoeiristas executavam determinados
toques e ritmos com o berimbal afim de mudar a espécie de jogo de luta para
dança. Porém, considera-se ser pouco plausível essa ideia, em razão de que
as danças africanas foram reprimidas do mesmo modo.
Após inúmeras tentativas dos escravos no sentido de conquistarem a
liberdade, com revoltas, ações coletivas e individuais, com o passar do tempo
às formas de luta foram se aprimorando e assim foi incorporando novas fugas,
com essas fugas em massas eram formado os quilombos, sendo o mais
importante da história do Brasil o Quilombo dos Palmares e foi a partir dessas
fugas que a capoeira conseguiu cada vez mais tomar forças, onde o maior
objetivo, o grande ideal era vencer as barreiras da senzala e derrubar os
“capitães do mato” e com isso consequentemente conquistar a tão esperada
liberdade.
Posteriormente a abolição da escravatura em 1888, muitos escravos que
possuíam a destreza da capoeira, começaram a surgir nas grandes cidades
sem trabalho. Assim, faziam algumas demonstrações desta arte marcial em
praças públicas como meio de subsistência. Os negros então acharam na
capoeira uma forma de renda, formavam suas rodas de capoeira em praças
públicas e vadiavam excitados essa arte, essa dança que encantava os turistas
que ali passava e assim ela se tornou uma forma de renda para os negros.

[...] num contexto onde os negros formavam suas rodas e vadiavam


freneticamente no jogo da capoeira, cenas que atraiam os turistas e
geravam renda aos negros, pão, farinha e cachaça (AREIAS, 1996, p.
29).

Santos e Barros, (1999) salientam que no meio destes, alguns


empregavam a capoeira para cometer roubos e saques, situação que passou a
marginalizar tal expressão cultural. No período de 1890 a capoeira passou a
ser marcada como uma prática fora da lei pelo Código Penal da República, que
em seu artigo 402 exprimia:

Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza


corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em
carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão
corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa
certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão
celular de dois meses a seis meses. (BARBIERI, 1993, pp.118, apud
SANTOS; BARROS, 1999, pp. 1).

No entanto ainda que com esse refreamento, a capoeira prosseguiu


sendo difundida pelo país, contudo foi nos estados de Pernambuco, Bahia e
Rio de Janeiro no qual constatavam-se a maior propagação entre a imprensa
local e as pessoas (SANTOS, BARROS, 1999). Segundo Santos e Barros,
(1999) a capoeira continuou a ser ensinada para gerações posteriores,
independentemente da proibição regulamentada.
Em 1932 com o nacionalista Getúlio Vargas no poder do governo e com
o objetivo de obter o maior apoio popular possível, implantou no seu governo
então uma declaração em que a capoeira era desvinculada de qualquer ato
marginal e que poderia ser praticada livremente.
E é nesse cenário de crise econômica e uma insustentabilidade política
que os africanos viveram que passaram a encontrar na capoeira uma
afirmação fundamental de sua identidade, destruiu e reconstruiu valores, a
partir de tensas relações sociais, além dos aspectos linguísticos, étnicos e de
nação, isso tudo demonstra o quanto à cultura da capoeira pode ser
transformador.
Hoje em dia essa expressão física é vista como um patrimônio cultural
brasileiro, do qual a prática proporciona múltiplas vantagens físicas, emocionais
e social. Souza e Oliveira, (2001) salientam:

A capoeira é uma temática que pode ser concebida no ambiente


escolar pelos seus aspectos variados, que favorecem, a luta, a dança
e a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo. Esta deve
ser ensinada de maneira globalizada, possibilitando que o aluno se
identifique com as óticas que mais lhe convém (SOUZA; OLIVEIRA,
2001, pp. 44).

A vista destes argumentos, é possível conceber que a capoeira


atualmente é vista enquanto meio significativo de propagação da cultura de
movimento, uma vez que esta prática está estabelecida enquanto conteúdo da
disciplina de Educação Física escolar.
Diante disso, a Capoeira é considerada como uma prática que evita as
atividades convencionais, tornando-se necessária para se trabalhar na escola,
pois conforme preconiza a lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, o ensino
sobre História e Cultura Afro Brasileira passa a ser obrigatório nos
estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares,
(BRASIL, 2003).
Com a referida lei, ficou evidente a necessidade do profissional de
Educação física se aperfeiçoar e se aprimorar mais nesse contexto, pois a
capoeira atende todas essas exigências e muito mais, ela pode se tornar uma
forma de intervenção no cotidiano dos alunos e uma forte ferramenta para
socialização e inclusão da cultura afro brasileira.
Em conformidade com Silva, (2002) a destreza da capoeira oferece
numerosas vantagens que compreendem a cultura corporal, uma vez que
ademais de ser útil para a saúde e para o conhecimento da realidade sócio
histórica brasileira, ainda aumenta a autoestima e oportuniza um
condicionamento corporal estável. Nos grupos de Capoeira são viabilizados
princípios como da socialização, que melhoram o convívio social.
A historicidade da capoeira permanece, no entanto, seus princípios
originais tornam a ser debatidos e aplicados de forma teórica e prática nas
escolas, com o intuito de resgatar e resguardar a importância cultural desta
manifestação, como parte importante de nossa história, mostrando aos alunos
e a sociedade em geral, toda uma filosofia centrada no equilíbrio físico, mental
e afetivo, combatendo a violência e preconizando a paz e harmonia entre os
vários segmentos da sociedade. Santos, (1990) considera que a partir de sua
origem, a capoeira tem permeado diferentes etapas, passando-se a ser
determinada enquanto dança, luta ou jogo, continuamente atendendo a
objetivos precisos no ambiente escolar.

2. Necessidade da Capoeira na escola

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, as danças, esportes,


lutas, jogos e ginásticas são considerados como áreas de conhecimento e
valores culturais que devem ser prezados e reconhecidos no ambiente escolar
(BRASIL, 1997). Quanto mais cedo estas esferas são ensinadas e praticadas,
progressivamente começam a se desenvolver a capacidade de pensar
criticamente, habilidades para a resolução de problemas e tomada de decisão.
Ainda consoante aos PCN´s, (1997), visto que a capoeira é integrada
por um vasto patrimônio cultural, que certamente necessita ser respeitado,
aprimorado, e reconhecido no ambiente escolar, principalmente nas aulas de
Educação física, tornando-se praticável favorecer a fim de que os alunos
adotem um comportamento menos preconceituoso e discriminatório perante as
múltiplas manifestações e expressões de grupos étnicos e sociais que fazem
parte do âmbito educacional.
Atividades e modalidades como a capoeira quando desenvolvidas na
escola, não só ajudam a melhorar o condicionamento físico e saúde dos
alunos, mas também os ajudam a realizar atividade física, ao mesmo tempo
compreender a importância e o impacto positivo ao longo da vida. Além disso,
proporcionam conhecimento e transferíveis habilidades, como trabalho em
equipe, respeito, consciência corporal e nível social, bem como promover a
compreensão geral das "regras do jogo", que os estudantes podem tirar
proveito imediato também para seu cotidiano.
A capoeira no aspecto escolar tem como perspectivas diferentes
sentidos, por exemplo a de recreação, de luta, de esporte, atividade física,
cultura popular, educação, jogo, dança e entre outros, ademais ela deve ser
desenvolvida de maneira abrangente, a fim de que o aluno consiga perceber o
aspecto que melhor o corresponde.
A prática da capoeira enquanto jogo-luta no ambiente escolar promove
uma ampla aprendizagem, que compreendem princípios, comportamentos e
ações, especialmente autonomia, colaboração, respeito às diferenças,
exercício da cidadania no meio social onde encontra-se. No tocante ao aspecto
físico, isto é, procedimental, expõem-se que a capoeira se apresenta como um
meio vantajoso para desenvolvimento da estabilidade, a lateralidade, a
coordenação motora, movimento ritmado, a questão espaço-tempo, entre
outros. (SANTOS e PALHARES, 2010).
Lançanova, (2007) ressalta que a potencialidade pedagógica das lutas é
um instrumento de valor demasiado em poder do educador, por sua dinâmica
corporal exclusiva, sua condição histórica e o acervo cultural que traz dos seus
povos de origem.
A Capoeira combina o desenvolvimento físico e a busca de benefícios
mentais, através de treinamento especial. É também uma atividade
educacional voltada para desenvolver personalidade, habilidade e proeza
física, bem como um sistema de autodefesa efetivo e prático. A Capoeira pode
ser caracterizada como um exercício físico, uma disciplina educacional, uma
atividade social, um esporte completo, um método de defesa pessoal, um jogo
instrutivo, uma dança e uma atividade psicomotora.
Um fator relevante acerca de praticar a capoeira na escola é a de que a
roda de capoeira é capaz de difundir conhecimentos que poderão ser
desenvolvidos em demais conjunturas, no interior ou exterior da escola, isto é,
no sentido da vida cotidiana do aluno, por exemplo, conforme apontam Souza e
Oliveira, (2001) aplica-se na capoeira um golpe conhecido como “rasteira”, o
praticante que sofre esse golpe na roda de capoeira, compreende que “sofrer
uma rasteira”, não está ligado com a finalidade de humilhação, porém com o
intuito de aprendizagem, além de que, o autor também compara a capoeira
como conteúdo multidisciplinar, que deve ser proposto em diferentes
disciplinas, geografia, história, não atendo-se somente nas aulas de Educação
Física.
A escola, ao desenvolver os alunos em sua integralidade deve então
promover um aprendizado eficaz, a fim de favorecer a introdução de um
número cada vez maior deles na sociedade e na cultura cujo constituem-se
como parte. Segundo Campos (in Gil; Mathias, 2005), a capoeira é uma
excelente atividade física para ajudar na formação integral do aluno. Ela atua
de maneira direta e indireta sobre todos os aspectos cognitivos, afetivos e
motor.
Tendo em vista de que a conjuntura escolar visa a aquisição de valores
como respeito, afeto, sensibilidade, amor ao próximo, sem discriminação de
cor, credo, sexo ou classe social. A escola, enquanto ambiente multicultural,
precisa considerar seu dever político e social, com o intuito de incentivar a
aprendizagem de sujeitos políticos e críticos dos seus contextos nas realidades
em que se estabelecem.
Iório e Darido, (2005) sugerem a capoeira na qualidade de ação
pedagógica que visa possibilitar uma reflexão sobre todos os envolvidos no
ambiente escolar onde se aprende a conviver com as diversas maneiras de
agir, pensar e se relacionar, contribui na promoção da igualdade, pretende
desenvolver a autonomia, quebra de paradigmas e mitos gerados pela
sociedade que em muitos momentos reforça imagens e atitudes
discriminatórias.
As atividades relacionadas ao movimento corporal e exercício físico tem
um valor educacional muito importante, tanto para as possibilidades de
exploração que propicia e para as relações lógicas que o sujeito estabelece
nas interações com os objetos, o meio ambiente, os outros e consigo mesmo.
O espaço escolar é o ambiente onde a capoeira pode proporcionar aos
alunos experiências que serão essenciais para seu desenvolvimento.
A prática da Capoeira na escola vai muito além do que formar atletas,
propende uma formação social, rica de valores culturais, percebe-se assim a
importância que a Capoeira assume no âmbito escolar, uma vez que ela
proporciona aos educandos a capacidade de desenvolver habilidades motoras
fundamentais e especializadas de maneira integral.
A Capoeira uma atividade física completa, pois ativa de maneira
direta e indireta sobre os aspectos cognitivos, afetivo motor. Sendo
encaradas como lúdica e instrucional, articula atividades de
desenvolvimento artístico e social levando a criança estabelecer
relações a partir dela própria, fato que torna a Capoeira
multidirecional (SANTOS, 1985, p.30).

Com a lei n°10.639/03, de 9 de janeiro de 2003, que institui o ensino de


assuntos a história da África nos currículos escolares, a Capoeira pode ganhar
muita força para ser reconhecida como conteúdo, pois segundo Natividade,
(2006) desenvolve não somente o aspecto motor, mas também o cognitivo e o
afetivo social.
A Capoeira é também divulgadora da cultura popular, assim é possível
afirmar que ela é um grande impulso educativo, pois é uma prática que
transmite a cultura do povo brasileiro, funcionando assim como recurso para a
dinamização de todo um trabalho que se queira realizar respectiva na
educação consciente.
A capoeira estabelecida na escola em sua expressão cultural, dispõem
de uma ampla importância social, porquanto manifesta uma linha tão
significativa com relação às outras que já são manifestadas, constituindo-se
desta maneira como novidade e obsoleta simultaneamente, visto que uma
cultura tão longínqua que já percorreu diferentes décadas, até o presente
momento encontra-se ativa. 
A funcionalidade da capoeira dentro da escola é muito mais abrangente
que outras modalidades específicas de luta, pois ela apresenta um sentido de
ação coletiva, isto é, compreende princípios e concepções sociais, sejam eles
étnicos, raciais, de posição social, implicando para que seu praticante faça uma
reflexão criteriosa a respeito de seu contexto e realidade. Campos, (2009)
considera que as escolas que empregam a capoeira como conteúdo
pedagógico, podem se considerarem em um sistema educacional privilegiado,
visto que a capoeira consegue associar elementos essenciais na formação de
um sujeito crítico e reflexivo.

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