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Belo Horizonte, MG
1. Introdução
Uma confirmação dessa posição veio à luz em maio de 2008. Numa breve carta a todos os
bispos e superiores religiosos, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone,
enfatizou que as diretrizes de 2005 têm validade para todos os centros de formação presbiteral.
[iv] Desde a publicação da Instrução, alguns bispos e superiores religiosos haviam perguntado
se a mesma vale para a Igreja em todo o mundo. A carta do Cardeal Bertone, que se propõe
expressamente esclarecer eventuais dúvidas, deu agora uma resposta.
Minha tese de doutorado,[vii] orientada pelo Prof. Dr. Hubert Windisch, na Universidade
Albert-Ludwig de Fribourgo (Alemanha), teve por objetivo analisar como essa reiterada
proibição de ordenação[viii] se justifica e como se deve fundamentar que a homossexualidade,
tal como descrita pela referida Instrução, representa um impedimento objetivo à ordenação.
2. Homossexualidade em “transição”
Nos últimos trinta anos, após longa história de avaliação negativa em amplos setores da
sociedade e da Igreja, pelo menos na civilização ocidental-norte-americana, a compreensão da
homossexualidade foi colocada às avessas. Uma prática punível foi arbitrariamente
transformada em constitutivo da dignidade humana, um dos fenômenos mais surpreendentes da
atualidade.[ix] Trata-se, no caso, de uma mudança de consciência intencionalmente produzida,
de uma ruptura cultural proposital,[x] resultante, sobretudo, da decadência de convicções éticas
predominantes desde o final dos anos sessenta do século passado, da influência dos relatórios
Kinsey, artificialmente construídos, ideologicamente motivados e moralmente
desencaminhadores, bem como da incomparável história de sucesso do movimento gay
internacional.[xi]
É, ao mesmo tempo, impressionante e consternador verificar a coerência com que tais objetivos
foram e são perseguidos. Acima de tudo, aflige-nos as estratégias inescrupulosamente
empregadas para a consecução dos mesmos. Em tempo relativamente curto, o movimento gay
conseguiu não apenas tornar o homossexualismo aceito na sociedade, mas também apresentá-lo
como modo de vida normal ou até mesmo preferível, o que, entretanto, contrasta radicalmente
com a realidade da vida homossexual e com seus desdobramentos físicos e psíquicos.[xii]
Também no Senado Federal Brasileiro está tramitando o projeto de “lei da homofobia” (PLC
122/2006). A proposta, iniciada e já aprovada, em 23 de novembro de 2006, na Câmara dos
Deputados (PL 5003-B, de 2001), pretende punir como crime qualquer tipo de reprovação ao
homossexualismo.[xv] Segundo explica a advogada e presidente da Federação Paulista dos
Movimentos em Defesa da Vida, Maria das Dores Dolly Guimarães, “além dos direitos
previstos na Constituição para todas as pessoas, o homossexual, pelo simples fato de ser
homossexual, ganhará privilégios. O homossexualismo deixará der ser um vício para ser um
mérito. E quem ousar criticar tal conduta será tratado como criminoso”. A advogada enfatiza
ainda que “os primeiros a sofrerem perseguição serão os cristãos”, citando como exemplo
alguns artigos da lei. “A proposta pretende punir, com 2 a 5 anos de reclusão, aquele que ousar
proibir ou impedir a prática pública de uma ato obsceno (“manifestação de afetividade”) por
homossexuais (art. 7). A conduta de um sacerdote que, numa homilia, condenar o
homossexualismo, poderá ser enquadrada no artigo 8: “ação [...] constrangedora [...] de moral,
ética, filosófica ou psicológica”, explica. “A punição para o reitor de um seminário que não
admitir o ingresso de um aluno homossexual está prevista para 3 a 5 anos de reclusão (art. 5)”.
[xvi]
Essa submissão solícita e servil aos ditames do movimento gay foi um dos fatores que
contribuíram para dissolver o cânone vigente de valores, criando, assim, as premissas para uma
transformação radical da sociedade, com previsíveis consequências nefastas para a mesma. D.
Prager, por exemplo, define a civilização ocidental, à luz da tradição judaico-cristã, como uma
“conquista extremamente complexa e única. Ela demandou uma constante renúncia à satisfação
imediata e um controle dos instintos naturais. O fundamento dessa civilização é a integridade da
vida familiar. A aceitação do homossexualismo como equivalente ao amor conjugal
heterossexual constitui um sinal tão seguro da decadência da tradição ocidental quanto a
rejeição do homossexualismo e outras formas de sexualidade não-conjugal possibilitou o
surgimento dessa civilização”.[xvii]
Na análise dessa reviravolta, vozes e estudos científicos que não correspondem ao que é
considerado “politicamente correto” são ignorados, rechaçados, condenados e até punidos,
porque supostamente difamam e discriminam uma minoria e seus direitos.[xviii] “A retórica da
tolerância vira ditadura de opinião. Aqui, revela-se o caráter ideológico e ditatorial que conecta
a “nova ideologia do mal” com as demais “ideologias do mal”.[xix] Com efeito, em seu último
livro, “Memória e Identidade”, o Papa João Paulo II definiu tanto o marxismo como também o
nacional-socialismo como “ideologias do mal”.[xx] O mesmo pontífice levanta ali a formidável
pergunta, se também na atualidade haveria a ação de uma “nova ideologia do mal, mais
traiçoeira e dissimulada que as ideologias fracassadas do século passado”.
O finado Papa cita inicialmente, como concretização da “nova ideologia do mal”, a “negação
legal de seres humanos gerados, porém ainda não nascidos”, deliberada por parlamentos
democraticamente eleitos, “em que as pessoas se reportam ao avanço civil das sociedades e da
humanidade toda”. Como mais uma concretização dessa “nova ideologia do mal” ele considera
o reconhecimento de uniões homossexuais, obtido mediante forte pressão do parlamento
europeu, como forma alternativa de família “que também possui o direito de adotar crianças”.
Na medida em que a Igreja está inserida no mundo e vice-versa, não surpreende o fato de que
essa mudança forçada de mentalidade em relação à homossexualidade e sua avaliação tenham
penetrado as estruturas eclesiais, produzindo efeitos desastrosos. Não por último, tal mudança
encoraja sacerdotes e candidatos ao ministério ordenado a confessarem publicamente suas
tendências homossexuais, ou seja, a “se assumirem”.
Conforme Richard Sipe, entre 1978 e 1985, os relatos sobre homossexualismo no clero dos
EUA aumentaram tão significativamente que passaram a girar em torno de 38 a 42%. “Entre
1982 e 1985, vários informantes, dentre os quais nenhum tinha tendência ou era
homossexualmente ativo, estimaram que, em suas áreas, os homossexuais perfaziam pouco
menos de 50%. No mesmo período, obtive suficientes informações de dois pequenos subgrupos
separados, para poder confirmar que 50% se enquadravam na categoria dos homossexuais”.
[xxiv]
Acerca desses e de outros dados apurados e de sua credibilidade, Sipe observa: “Alguns
provinciais e peritos examinaram todas as minhas estimativas, tanto durante a elaboração de
meu estudo quanto depois de sua conclusão, considerando-a adequada. Mais de um bispo
confirmou que meus dados coincidiam completamente com suas próprias experiências. Em 28
de maio de 1993, o Cardeal José Sanchez, prefeito da Congregação vaticana para o Clero,
afirmou diante das câmeras da BBC, respondendo a uma verificação de minhas estimativas
sobre o celibato em relação ao posicionamento sexual de sacerdotes norte-americanos: ‘Não
tenho motivos para duvidar do acerto desses dados’”.[xxv]
Em congregações religiosas, a parcela dos que têm inclinações homossexuais parece ser ainda
maior. Donald Cozzens informa sobre um sacerdote, com grande experiência tanto na formação
como também na direção, que declarou publicamente, numa conferência sobre AIDS e missão
da Igreja, que 80% de sua numerosa congregação, localizada na costa Leste, são gays.[xxvi] Em
outra ocasião, ele fala de pelo menos uma comunidade da mesma congregação, situada a Oeste,
em que se realiza uma sessão para membros gays quando a comunidade se reúne.[xxvii]
Se esses dados e informações dos EUA forem corretos, pelo menos de forma aproximada, a
Igreja Católica está criando aí um clero em que predominam as pessoas de tendências
homossexuais. “Está em discussão, no início do séc. XXI, a crescente idéia – que raramente é
questionada por aqueles que conhecem o estado clerical – de que o ministério sacerdotal é, ou
está em vias de se tornar, uma profissão para gays”.[xxviii]
Para a Alemanha e a área de abrangência do idioma alemão, bem como para o Brasil, as
estimativas estão ao redor de 20 a 25%, com tendência de alta.[xxix] “Por isso, os conhecedores
dizem sarcasticamente que a maior organização gay internacional seria, afinal, a própria Igreja
Católica Romana. Se todos se assumissem e depois fossem expulsos”, diz N. Katzenbach, do
grupo de trabalho ecumênico ‘Homossexualismo e Igreja’, “o Vaticano poderia fechar as
portas”.[xxx]
Uma vez que não existe uma explicação monocausal para essa reviravolta, ela não é apenas
provocada conjuntamente pela sociedade, mas, em proporção não desprezível, gerada no âmbito
da própria Igreja. Muitas lideranças na Igreja agiram e agem de modo inconsciente e negligente,
por meio de uma prática, doutrina e pregação baseadas em conceitos, incorretamente
entendidos, de amor e tolerância, e, por último, negando a realidade, minimizando-a,
silenciando e tentando procrastinar o decidido enfrentamento do problema. Isso, porém, não
serve de desculpa para eles e tampouco os exime de sua responsabilidade.
Por ser inato e, por isso, imutável, o envolvido deve se conscientizar de sua identidade
homossexual e, assim, também aceitar os impulsos provenientes dessa condição, o que significa
principalmente que ele pode e deve integrá-los em sua vida amorosa, como expressa, sem
rodeios, o teólogo e psicoterapeuta W. Muller, numa contribuição para o novo Léxico para
Teologia e Igreja: “Objetivo da pastoral é, pois, ajudar as pessoas a aceitarem sua orientação
homossexual e vivê-la no amor. O engajamento pelos direitos humanos e civis de pessoas
homossexuais pode ser entendido nesse sentido como parte da pastoral. Quando se aprecia hoje
o comportamento homossexual, no contexto de uma relação pessoal, de forma não diferente do
comportamento sexual de pessoas heterossexuais em um relacionamento pessoal, então a
pastoral também considerará tarefa sua ajudar pessoas homossexuais na configuração de uma
parceria homossexual”.[xxxii]
Nessa oposição à doutrina da Igreja, Michael S. Rose constata o motivo decisivo para o número
desproporcionalmente elevado e crescente de seminaristas, sacerdotes e religiosos com
tendências e práticas homossexuais: “Bispos e padres responsáveis pela formação de
presbíteros, com demasiada freqüência, dão um mau exemplo, sobrepondo-se simplesmente à
moral sexual claramente proclamada pela Igreja, uma Igreja à qual prometeram servir. Constitui
um escândalo de proporções imensuráveis que é, pelo menos, cem vezes pior do que aquilo que
os meios de comunicação já desvendaram”.[xxxvi] Rose cita páginas de exemplos de candidatos
ao sacerdócio que não foram aprovados nos testes psicológicos, por causa de sua moral sexual
afirmadora das opiniões da Igreja. Tais testes psicológicos, muitas vezes, foram elaborados e
aplicados por psicólogos ateus, distantes da Igreja ou até mesmo hostis a ela. Nas avaliações dos
referidos candidatos, cuja conduta sexual parecia coadunar com a moral cristã, constava:
“sexualmente subdesenvolvido” ou “dogmático demais”. Quem confessa ser a favor do celibato
e se nega a considerar o homossexualismo como algo normal é considerado como alguém que
apresenta sinais de perversidade sexual.
Sem saber como lidar com essa situação, muitos bispos se voltaram sem rodeios à negação.
Uma das consequências desse mecanismo psicológico de defesa é a tolerância de casas
paroquiais e seminários “cor-de-rosa”. Além disso, muitos bispos carecem de autoconfiança
intelectual para discutir com o poder acadêmico em seminários e faculdades teológicas.[xxxix]
Em vista da marcante observação de que, nos EUA dos anos 70, homens homossexuais afluíram
aos seminários, fazendo com que os números disparassem, não se pode descartar que também
forças de fora da Igreja Católica Romana contribuíram intencionalmente para esse
desenvolvimento,[xli] precisamente na época em que o movimento gay começou, após formular
seus objetivos, com a “marcha pelas instituições”. Seria tão somente coerente que essa
“marcha” tivesse incluído a Igreja como adversária declarada dos objetivos propagados.[xlii]
Os casos de abuso sexual de menores por parte de sacerdotes e religiosos, que nos anos
passados causaram à Igreja um imenso dano moral e financeiro, estão estreitamente ligados à
evolução acima delineada, o que é negado com veemência pelo lado envolvido, mas que é
inegável sob uma observação e análise objetivas e sóbrias dos fatos.
Diante da pergunta pelas conclusões que se devem tirar dos dados oferecidos pelos relatórios
John Jay, de 2002, confeccionados a pedido da Conferência Episcopal norte-americana, 80 a
90% dos padres, que nos últimos 52 anos abusaram sexualmente de menores, se envolveram
com rapazes adolescentes entre 14 e 17 anos – efebofilia – e não com meninos pré-pubescentes
– pedofilia – R. Fitzgibbons, eminente representante da Associação Médica Católica dos EUA e
recém-nomeado consultor da Congregação para o Clero, respondeu: “Os relatórios John Jay
mostraram claramente que não existe na Igreja uma crise de pedofilia, mas de
homossexualismo. A maioria das vítimas não era de crianças, mas de jovens adolescentes.
Espero que esse esclarecimento, para considerar o homossexualismo como problema básico
causador da crise, leve a uma série de novos passos para proteger a Igreja, o sacerdócio, bem
como os jovens e as crianças”.[xliii]
Para Antonio Moser, é notório que esses escândalos aconteçam primordialmente no mundo
anglo-saxão que, no passado, se destacava por seu rigor ético e hoje por seu consumo
desenfreado, pela busca incontida de “auto-realização” e “felicidade”, bem como de uma
supremacia jamais vista. “É de se perguntar se a incidência mais numerosa justamente nestas
nações do hemisfério norte se constitui numa mera casualidade, ou se já não é um indicador de
sociedades aparentemente pujantes, mas na realidade decadentes”.[xliv]
As medidas que foram aprovadas por diversas conferências nacionais episcopais, depois da
notícia dos casos de abuso sexual, não podem encobrir o fato de que, em última análise, foram
tomadas por exigência de fora, da sociedade e dos meios de comunicação, o que desnuda uma
violação do dever de muitos bispos. Igualmente, tais medidas podem ser consideradas apenas
como os primeiros passos, ainda vacilantes, de um processo abrangente de purificação e
renovação da Igreja. Seria uma ilusão nefasta crer que medidas administrativas sozinhas são
capazes de solucionar os problemas explicitados. Irrenunciável, no entanto, é retornar à
consideração da “plenitude total da verdade cristã referente à moral sexual”, demandada pelo
Papa João Paulo II, na explicitação da doutrina e em todos os níveis da Igreja, incluindo um
resoluto exercício do poder diretivo por parte dos respectivos ordinários.
O testemunho das Sagradas Escrituras é inequívoco: nem no Antigo nem no Novo Testamento
encontra-se uma única apreciação positiva da prática do homossexualismo. Pelo contrário, ele é
incontestavelmente rejeitado e condenado como delito grave.[xlv] Essa posição e avaliação
negativa não devem ser entendidas como reação contra a prostituição homossexual sacral, como
pensa, por exemplo, H. J. Schoeps,[xlvi] mas é decorrência lógica da imagem que a Sagrada
Escritura tem de Deus, bem como de suas afirmações sobre a natureza e destinação do ser
humano, da sexualidade, do matrimônio e do pecado, expostas principalmente em Gênesis 1-3.
Também para Moser, essa negação categórica ao homossexualismo não remete apenas ao nível
moral, mas também diretamente ao teológico: “No início havia o caos, ou seja, não havia
diferenciação, mas uma mistura desordenada de elementos; Deus começa a colocar ordem,
justamente estabelecendo a diferenciação dos elementos: terra, ar, água… A expressão máxima
da diferenciação organizadora e fecunda encontra-se justamente na diferenciação sexual: Ele os
criou homem e mulher. Ora, o homossexualismo, na compreensão do Levítico, é a expressão de
uma certa volta atrás, da confusão e da esterilidade. Acontece que esquecer a diferença é
também a expressão da idolatria daqueles que esquecem a condição criatural para se igualarem
a Deus, ou então tomam criaturas como se fossem o Criador. Na compreensão bíblica, o
reconhecimento da diferença sexual descentraliza o sujeito de si mesmo e lhe mostra seus
limites; já o desconhecimento desta diferença ameaça aprisionar a pessoa no círculo encantado e
mortal de si mesmo”.[xlviii]
As afirmações e orientações do Antigo Testamento são confirmadas por Jesus Cristo. Seu
silêncio sobre a homossexualidade, muitas vezes destacado e enfatizado na atual discussão, é,
na realidade, um silêncio muito eloqüente, que de forma alguma pode ser interpretado como
aprovação ou como indício de que a questão é irrelevante para seu pensar, agir e ensinar.[xlix]
Sem se reportar a Gênesis 1-3 e às correlações fundamentais ali explicitadas, não é possível
realizar uma exegese teologicamente coerente das afirmações do Antigo e Novo Testamentos
sobre a homossexualidade. O nexo abrangente e a localização no respectivo contexto são
determinantes para a formação de juízo dos documentos bíblicos acerca do tema. São somente
eles que fornecem e atribuem significado a cada afirmação. No entanto, quando uma passagem
for privada de seu contexto pela citação isolada, estará entregue indefesa à arbitrariedade
hermenêutica do leitor.
Ainda que não seja um tema predominante na Bíblia, o homossexualismo e sua inequívoca
rejeição por ela não são algo marginal que pudesse ser negligenciado como secundário. Quem
exige que o homossexualismo seja reconhecido como variante equivalente da criação ao lado da
heterossexualidade visa, na prática, uma imagem do ser humano diferente e que diverge da
mensagem bíblica. Tais exigências e intenções tentam alvejar o âmago da criação e, por isso, se
voltam, consciente ou inconscientemente, contra o próprio Criador. “O ser humano se rebela
contra milênios de história da humanidade, contra sua própria natureza. Ele reinventa a si
mesmo. Luta contra seu Criador. Não deseja ser imagem dele, mas seu próprio criador e
senhor”.[liii] Em decorrência, pode-se decididamente falar de uma espécie de “antigênesis”, de
um “contraprojeto”, contra a “gramática da vida” concebida e intencionada por Deus.[liv]
No seu discurso dirigido aos membros da Cúria Romana e do governo da Cidade de Vaticano, a
22 de dezembro de 2008, o Papa Bento XVI tocou também neste assunto, pronunciando-se com
toda a clareza: “O que, com freqüência, se expressa e entende com o termo “gender” sintetiza-
se, em definitivo, na auto-emancipação do homem da criação do Criador. O homem quer fazer-
se por sua conta e decidir sempre e exclusivamente sozinho sobre o que lhe afeta. Mas, deste
modo, vive contra a verdade, vive contra o Espírito Criador. Os bosques tropicais merecem,
certamente, nossa proteção, mas não menos a merece o homem como criatura, no qual está
inscrita uma mensagem que não contradiz a nossa liberdade, mas que é a sua condição”.[lv] Por
isso, a Igreja tem que defender não somente a terra, a água, o ar, como dons da criação que
pertencem a todos, mas tem que proteger o homem contra sua própria destruição. “É necessário
que haja algo como uma ecologia do homem, entendida no sentido justo. Quando a Igreja fala
da natureza humana como homem e mulher e pede que se respeite esta ordem da criação, não
está expondo uma metafísica superada. Aqui se trata, de fato, da fé no Criador e da escuta da
linguagem da criação, cujo desprezo significaria uma autodestruição do homem e, portanto, uma
destruição da própria ordem de Deus”.[lvi]
Apesar de todas as unilateralidades e distorções condicionadas pela época na história da teologia
que, no entanto, jamais representaram a “corrente principal” na Igreja e na construção do saber
teológico, ficou preservada a linha fundamental preestabelecida pela Bíblia.[lvii] Foi somente
em tempos mais recentes que também teólogos católicos a abandonaram, sendo que
inicialmente se amoleceu o juízo moral por meio de uma indevida psicologização do
comportamento ético e, finalmente, tentou-se obter a fundamentação de tal juízo atenuado por
meio de interpretação desviante das afirmações das Sagradas Escrituras. Justamente as
considerações acerca das passagens bíblicas de Gn 19,1-29; Jz 19,13-48; Lv 18,22; 20,13; Rm
1,26s; 1Cor 6,9-11; 1Tm 1,10 explicitam, na ponderação das mais diferentes posições
exegéticas e teológico-morais, o quanto a própria Bíblia, em seu trato seletivo, se torna um
documento meramente condicionado pelo seu tempo, sem afirmações substanciais sobre
questões essenciais e que pode ser moldado e pressionado ao bel-prazer até que corresponda às
próprias idéias dos interessados. A exegese se torna “eisegese”.
Nenhum dos estudos existentes até agora, que tentaram comprovar fatores biológicos como
causa principal da homossexualidade, pode ser apresentado como definitivo. Tais estudos são,
na melhor das hipóteses, meramente especulativos. Além de não serem livres de contradições,
seus resultados não foram repetidos e confirmados até o presente por outras pesquisas
independentes. Com efeito, a confirmação dos resultados com base em outras pesquisas
constitui-se numa exigência irrenunciável da investigação científica.[lxi] Em seu parecer para o
governo federal alemão, o sociólogo M. Dannecker, cuja identificação com a ideologia gay é de
todos conhecida, também constata: “Todas as tentativas realizadas no passado de ancorar
biologicamente a homossexualidade precisam ser classificadas como fracassadas”.[lxii]
A pesquisa sobre as causas da homossexualidade é, muitas vezes, realizada por cientistas com
tendências e práticas homossexuais, “muitos dos quais são, pelo menos em parte, motivados
pelo desejo de demonstrar que são normais ou de justificar seu estilo de vida: A ‘ciência’ é
considerada como poderoso instrumento para tal”.[lxv]
Via de regra, os relacionamentos homossexuais são muito curtos. O estudo de Tuller averiguou
que a maioria desses relacionamentos dura de dois a quatro anos. Somente num dos casos
analisados, a relação durou 7 anos.[lxxiv] Conforme E. Lauman, um morador urbano que vive
homossexualmente passa tipicamente a maior parte de sua vida adulta em relacionamentos de
curta duração de menos de seis meses.[lxxv] Muitos homens que praticam a homossexualidade
têm, no curso da vida, em média centenas de parceiros sexuais. No estudo sociológico realizado
nos anos 70 sobre homossexuais masculinos, na República Federal da Alemanha, Dannecker e
Reiche chegaram ao resultado de que cifras elevadas de parceiros sexuais são totalmente
normais. “Cada sétimo praticou sexo na vida com mais de 600 homens e, no ano passado, com
mais de 50 homens”.[lxxvi] Bell e Weinberg, em 1978, constataram, num célebre estudo sobre a
homossexualidade masculina e feminina, que 26% dos homens brancos homossexuais
alcançavam de 3 a aproximadamente 100 parceiros sexuais. Cerca da metade (47%) dos
inquiridos teve entre 100 e 1.000 parceiros sexuais. E, aproximadamente, um terço (28%)
assinalavam, em sua biografia, mais de mil parceiros sexuais. 79% indicaram que mais da
metade dos parceiros sexuais eram estranhos. Somente 1% dos homens havia tido menos de 5
parceiros sexuais.[lxxvii] Conforme F. Suppe, o homossexualismo requer seus próprios
princípios, que “se situam em total contraste com a cultura heterossexual”, e nos quais “se
precisa aprender a entender o sexo primordialmente como atividade de lazer, na qual se troca de
parceiro com a mesma ausência de compromisso e facilidade com que se arranja um parceiro
para uma partida de tênis”.[lxxviii]
Sem dúvida, o percentual dos matrimônios sexualmente fiéis está significativamente longe de
100%, mas, apesar disso, é muito grande a diferença entre casais heterossexuais e
relacionamentos homossexuais. Entre homens com vida homossexual é ínfima a probabilidade
de fidelidade por toda a vida. Em termos estatísticos, ela é quase insignificante. “A
promiscuidade entre homens homossexuais não é apenas um preconceito ou somente uma
experiência da maioria. Ela, no fundo, representa a única experiência. Tragicamente, a
fidelidade vitalícia em experiências homossexuais, por assim dizer, não existe”.[lxxix] O
conceito de fidelidade recebe uma nova definição. A fidelidade não precisa necessariamente
significar fidelidade sexual, mas simplesmente o apoio mútuo na vida. Cumpre diferenciar entre
fidelidade social, emocional e sexual, sendo que à fidelidade sexual se atribui uma importância
menor.[lxxx]
À primeira vista, esses fatos parecem contrastar com a muitas vezes observada facilidade de
contato e relacionamento de pessoas com tendências homossexuais, bem como com sua
capacidade de atrair outros e prendê-los a si. Contudo, não se trata de relacionamentos
superficiais, ainda que cordiais, mas de relacionamentos profundos, em que a pessoa pode se
abrir e mostrar-se integralmente. Proximidade, intimidade e confiança, porém, não podem ser
obtidas sem fidelidade, sem a qual, tampouco, se pode alcançar a maturidade. Quem joga uma
fidelidade (sexual) contra a outra (social e emocional) cinde o ser humano e esvazia a palavra
fidelidade. O papel “gay” estorva os contatos humanos genuínos e cria um muro de separação.
A evidenciada abertura e facilidade de contato são meras exterioridades. Essa capacidade
fortemente restrita de relacionamentos e a incapacidade para a fidelidade, com freqüência,
levam ao isolamento, solidão, depressão, alcoolismo e risco de suicídio dos envolvidos.
Muitos homens com tendências homossexuais manifestam uma impetuosa atração por
adolescentes do sexo masculino. Ademais, entre eles, a ocorrência de pedofilia é relativamente
mais frequente do que entre heterossexuais. “Estudos cuidadosos mostram que a pedofilia pode
ser constatada com mais frequência entre homossexuais do que entre heterossexuais. O número
absolutamente maior de casos de pedofilia cometidos por heterossexuais resulta do fato de que
os heterossexuais são muito mais numerosos do que os homossexuais, na proporção aproximada
de 36 para 1. A pedofilia heterossexual em relação à pedofilia homossexual está apenas na
proporção de 11 para 1, o que assinala que a pedofilia ocorre com frequência três vezes maior
entre homossexuais”.[lxxxiii]
A hoje alardeada “normalidade” do homossexualismo não se apóia em nenhuma comprovação
cientifica. De fato, o homossexualismo deve ser considerado como “enfermidade psíquica”,
“distúrbio’ ou “neurose”, independentemente de suas variações terminológicas. Van den
Aardweg justifica assim o termo enfermidade: “A palavra enfermidade, que empreguei para
apontar o caráter compulsório da autocomiseração em pessoas homossexuais, não deveria dar
motivo a mal-entendidos. Normalmente, esse conceito é usado para distúrbios físicos ou
psíquicos que provavelmente possuem causas físicas. Contudo, igualmente serve para designar
distúrbios emocionais com causas psicológicas, porque também nesses casos nos deparamos
com dois elementos essenciais daquilo que normalmente chamamos de enfermidade: a função
insuficiente e anormal de uma parte do corpo ou da psique e o fato de que a respectiva pessoa se
encontra nessa situação sem sua vontade ou responsabilidade. A palavra ‘enfermo’ é usada em
sentido análogo, designando ambas as coisas: distúrbios físicos e psíquicos”.[lxxxiv]
Não se pode deixar de mencionar um relevante estudo sobre esse ponto: o estudo de Spitzer.
[lxxxvii] R.L. Spitzer desempenhou um papel-chave, quando, em 1973, a APA retirou a
homossexualidade da lista dos distúrbios psíquicos. Desde então, ele estava convicto, como
afirmou, de que, por um lado, é possível lutar contra os desejos homossexuais, mas, por outro,
ninguém realmente seria capaz de mudar sua orientação sexual. Por ocasião da conferência
anual da APA de 1999, o mesmo pesquisador se dirigiu a pessoas que, no passado, se
consideravam homossexuais e que protestavam diante da entrada do prédio da conferência em
favor de sua autodeterminação e do direito à mudança. Continuando a ser muito cético quanto à
possibilidade de uma mudança na orientação sexual, ele decidiu que nessa questão obteria
clareza unicamente por meio de uma pesquisa realizada por ele próprio. O resultado desse
estudo é sintetizado por ele como segue: “O estudo mostra que alguns homens gays e algumas
mulheres lésbicas, que se submeteram à terapia restauradora, relatam uma grande transformação
de sua orientação predominantemente homossexual. Essa mudança, com base na terapia
restauradora, não se restringe ao comportamento sexual e à autoidentidade sexual. Essas
mudanças se referem à atração, excitação, fantasia, saudade e irritação por causa de sentimentos
homossexuais. As mudanças se referem aos aspectos axiais da orientação sexual. Também
aqueles participantes que experimentaram apenas uma mudança limitada, apesar disso,
consideram a terapia extremamente útil. Participantes relatam o proveito referente a mudanças
não-sexuais como diminuição da depressão, maior experiência de masculinidade em homens e
feminilidade em mulheres e de um desenvolvimento de relacionamentos íntimos não-sexuais
com pessoas do próprio gênero”.[lxxxviii] Essas mudanças não se constituem, ao contrário do
que se costuma afirmar, como perigosas, não-científicas, muito menos como aéticas ou
desumanas, por “mudarem a polaridade” ou serem forçadas por pressão religiosa. Uma vez que,
num processo de mudança, o ser humano está envolvido em toda sua complexa totalidade,
vários terapeutas recomendam uma síntese de tratamento psíquico, por um lado, e de
espiritualidade e ascese cristã, por outro.
Ao contrário do que vem acontecendo nos EUA, na Europa, poucos terapeutas trabalham com
os envolvidos mediante um processo de mudança, sem deixar de aconselhá-los a aceitarem suas
tendências homossexuais e efetivá-las. Entretanto, é possível prevenir uma evolução em direção
à homossexualidade, como também enfatiza a Associação Médica Católica dos EUA: “Quando
se corresponde suficientemente às necessidades emocionais e evolutivas da criança, seja por
parte da família, seja por parte de seus coetâneos, é pouco provável que se desenvolva nela uma
atração homossexual”.[lxxxix]
Conforme o c. 1024 CIC, somente um homem batizado pode receber validamente o sacramento
da Ordem.[xc] Embora um homem com tendências homossexuais consiga se identificar apenas
deficitariamente com sua masculinidade, ele não deixa de ser homem segundo sua natureza real
e psíquica. Portanto, depois de batizado, o mesmo parece cumprir as duas condições citadas
para ser validamente admitido à Ordenação. Uma compreensão puramente formal da
masculinidade, porém, mostra-se insuficiente no que tange ao sacramento da Ordem e a seu
exercício sensato e frutífero.
J. San José Prisco chama a atenção para o fato de que não são os órgãos sexuais masculinos que
definem a condição de homem ou varão. A condição de homem ou mulher se delineia mediante
a interação de três aspectos fundamentais: “A identidade sexual, o papel sexual e a orientação
sexual. A primeira se refere à percepção individual e à consciência pessoal de ser homem ou
mulher; o papel sexual é o comportamento que o indivíduo denota e que o identifica perante os
outros como homem ou mulher; a orientação sexual se refere à atração erótica que um indivíduo
sente por homens ou mulheres”. Neste sentido, “o candidato estará mais ou menos apto na
medida em que se entender pessoalmente como heterossexual, em que viver assim e se der a
conhecer como tal perante os outros”.[xci]
O sacerdote, que atua in persona Christi capitis, tem de representar Cristo não apenas como
pessoa, mas fazê-lo por meio de um agir especificamente masculino: em seu agir como “noivo”
perante sua “noiva”, a Igreja. Se o sinal tem de ser semelhante à realidade sinalizada, cumpre
perguntar se um homem com tendências homossexuais é capaz, de fato, de representar Cristo
nesse agir específico como “noivo” perante sua “noiva”, porque essa relação é algo estranho
para ele. Se nem o sentido nem o simbolismo do sacramento da Ordenação, com seu pano de
fundo masculino-feminino, nem tampouco dados antropológicos fundamentais devem ser
obscurecidos, desfocados, consequentemente negados, através de uma identificação pública
com a cultura gay ou de uma valorização da própria homossexualidade como fonte positiva, isso
pressupõe a masculinidade heterossexual não somente como radicalmente mais sensata, mas até
mesmo como imperiosa.[xcii] Parece hoje mais necessário do que nunca exigir um pensamento
lógico coerente na tarefa de fazer teologia.
As vítimas do abuso sexual de clérigos e religiosos, que, em sua suprema maioria, são
adolescentes pós-pubescentes masculinos, evidenciaram a homossexualidade como um fator de
risco que não pode ser negado nem subestimado, sobretudo se levarmos em conta o alto índice
de recaídas.[xciii] A utilidade do futuro sacerdote para o serviço da Igreja, demandada segundo
c. 1025, parágrafo 2 CIC e entendida como possibilidade de ser apropriadamente empregada e
não como periculosidade para a Igreja e para as pessoas a ela confiadas, deve consequentemente
ser avaliada no mínimo como fortemente restrita no caso de candidatos à Ordenação com
tendências homossexuais, porque sua atuação em áreas vitais para a Igreja, como a pastoral com
crianças e jovens, precisa, por princípio, ser classificada como um risco. O respeito por pessoas
que foram confiadas à Igreja, bem como a proteção de sua integridade física e moral têm
prioridade absoluta diante dos sentimentos de homens com tendência homossexual, que se
sentem magoados e tratados injustamente pela não-admissão para a Ordenação. A atuação na
pastoral de casais e da família pressupõe a fundamental aptidão para o matrimônio e a família
por parte do sacerdote e, consequentemente, a masculinidade heterossexual. Ela é condição
irrenunciável para um trabalho frutífero com casais e com aqueles que se preparam para o
matrimônio.
A promessa do celibato, a ser feita conforme c. 1037 CIC, antes da Ordenação, não apenas tem
por conteúdo o compromisso da abstinência sexual, mas também a renúncia genuína ao bem
natural do matrimônio e da família. Também essa renúncia pressupõe por princípio a
masculinidade heterossexual. Homens com tendências homossexuais não conseguem, pois,
cumprir essa condição prévia para a ordenação lícita, visto que são incapazes de cumpri-la, a
não ser que se considere, ao menos indiretamente, ou até mesmo se confirme, a possibilidade do
chamado “casamento gay”. Ademais, existem indícios inequívocos de que viver a abstinência
sexual é mais difícil para homens com tendências homossexuais do que para heterossexuais.
Considerando-se que o sacramento da Ordem não é conferido e recebido para suprir carências
pessoais nem para compensar déficits,[xciv] homens com tendências homossexuais não podem
ser admitidos à ordenação, já que a homossexualidade representa uma desordem objetiva e
precisa ser definida como sexualidade deficitária.[xcv] Como enfermidade psíquica, a
homossexualidade deve ser entendida no sentido dos cc. 1041, n.1, e 1044, parágrafo 2, n. 2
CIC. Primeiro, por causa do grave bloqueio da comunicação interpessoal, que se manifesta no
estabelecimento de contatos distorcidos com homens e mulheres e que não pode ser
compensado por comportamento sensível, empático ou amistoso. Segundo, conforme c. 1031,
parágrafo 1º CIC, por causa da inexistente, mas necessária maturidade suficiente correlata, que
se manifesta, muitas vezes, num comportamento narcisista, egocêntrico, predominantemente
emocional e também sexualmente promíscuo, que aponta “para uma ausência geral de
consciência do pecado”.[xcvi] Isso, no mínimo, constitui um forte entrave para um exercício
frutífero do ministério, quando não incapacita para ele.
A Instrução não enfoca a homossexualidade apenas como um problema de ordem sexual, mas
como um problema mais abrangente. É o que fica evidente quando o referido documento afirma
que a homossexualidade tolhe “gravemente” o estabelecimento de relações corretas com
homens e mulheres, algo que, no entanto, é imprescindível para o desenvolvimento de uma
autêntica paternidade espiritual. Assim, evita-se um enfoque unilateral sobre a “capacidade de
abstinência sexual” como critério decisivo de avaliação e de admissão à Ordenação. Não se trata
apenas de considerar apto aquele candidato ao presbiterato que se mostra capaz de levar uma
vida sexualmente abstinente. Sem dúvida, essa questão é relevante, mas é preciso ponderar
algumas outras coisas. “Tendências homossexuais não são pulsões isoladas, mas sintomas de
um déficit geral no desenvolvimento emocional de uma pessoa rumo à masculinidade ou
feminilidade plenas. Isso não constitui um aspecto subordinado ou secundário da psique. Ser
homem ou mulher é parte da substância de nossa natureza intelectual, parte de nossa identidade
pessoal”.[xcix]
Também um deslocamento unilateral da problemática para o foro íntimo recebe uma negativa
na Instrução. “Embora a Instrução esteja totalmente certa em sua convocatória a cada um desses
candidatos, de tal maneira que os mesmos não prossigam, em sã consciência, na trajetória para a
Ordenação, bem como na exigência de influência pessoal por parte dos acompanhantes
espirituais vinculados ao foro íntimo, também dependerá do conhecimento humano vinculado à
realidade e comprovado por vários anos dos responsáveis últimos… se tais tendências sexuais
contraproducentes são notadas em tempo… Não por último cabe grande importância também à
respectiva comunidade do seminário e da ordem religiosa como tal. Aqui, não se trata de um
‘sistema de espionagem’, mas antes está em jogo que observações relevantes auto-evidentes dos
que convivem em casas religiosas também sejam acolhidas com seriedade pelos superiores. Não
pode mais acontecer que testemunhas sejam forçadas, ‘por razões de política eclesiástica’, a
esquecer e mentir ou sofram desvantagens, ou até mesmo uma clássica pressão difamatória,
apenas porque comunicam ou comunicaram algo claramente detectado, segundo seu melhor
conhecimento e da mais sã consciência”[c].
Do teor da Instrução, cabe concluir que ela não deixa espaço para a ordenação de homens que
não superaram inequivocamente suas tendências homossexuais, vivenciadas ou não, e que não
experimentaram uma clara mudança na direção da heterossexualidade. Nesse sentido, a
proibição da Ordenação para homens com tendências homossexuais é absoluta. Sua admissão à
Ordenação de forma alguma é relegada ao espaço da deliberação dos superiores competentes. A
Instrução precisa ser acatada como ordem estrita e concretizada na prática da formação
presbiteral.[ciii] Assim, predomina a segurança jurídica no que tange a esse ponto
controversamente discutido.
Cabe unicamente à Igreja o veredicto sobre quem é chamado ao ministério ordenado. Este não
cabe a homens que não superaram inequivocamente suas tendências homossexuais e não
experimentaram uma clara mudança na direção da heterossexualidade. Isso não tem nada a ver
com proibição vocacional, com discriminação ou homofobia. É insuficiente a “impressão” de
uma inclinação ao sacerdócio ou o desejo pessoal por ele, a partir do qual se quer, hoje, muitas
vezes, reivindicar um direito ao ministério ordenado. O que se requer é, sobretudo, a aptidão
necessária para o ministério e seu exercício sensato e frutífero. Com efeito, a Igreja, apoiada em
percepções teológicas e nas ciências humanas, bem como em experiências concretas do passado
recente, não considera essa aptidão suficientemente assegurada em homens com tendências
homossexuais. A igual dignidade de todos os seres humanos não significa que todos tenham o
mesmo status, as mesmas qualidades e a mesma competência para serem admitidos às Ordens
Sacras.
6. Sugestões e perspectivas
Proibições e documentos isolados não bastam. Entre as autoridades competentes, deve haver,
em primeiro lugar, uma vontade de realmente analisar objetivamente a problemática, tratá-la
com seriedade e tentar solucioná-la aberta e resolutamente, sem jamais silenciá-la, declará-la
inócua e procrastiná-la, como vem acontecendo, na maioria dos casos, até aqui. Tampouco a
questão pode ser deslocada unilateralmente ao forum internum, visto que, ao lado do aspecto da
inclinação, no caso de uma vocação ao ministério ordenado, permanece insuficientemente
iluminado o necessário aspecto da aptidão de um candidato à ordenação.
A clarificação interna da problemática assinalada tampouco pode ser deixada por conta do clero.
Os fiéis, como diretamente atingidos, não apenas têm o dever, mas também o direito de dar sua
contribuição. Para tanto, há necessidade de uma regulamentação legal, visto que essa
contribuição não deve depender da benevolência daqueles que, na Igreja, são responsáveis pela
questão. Pode-se imaginar uma comissão que trabalha, em cada nível nacional e de forma
independente da conferência episcopal, com as seguintes características e atribuições:
exclusivamente leigos que estejam comprometidos com a Igreja, imbuídos de sua doutrina e
cujo procedimento esteja em conformidade com ela. Via de regra, leigos casados no mínimo há
10 anos, devidamente nomeados pela Santa Sé, após consulta às conferências episcopais. Ao
presidente da comissão, caberá a elaboração de um relatório anual, que, depois de ter sido
comunicado a conferência episcopal, será levado ao conhecimento da Santa Sé. A relevância de
uma comissão como essa seria, por um lado, o fato de que sua simples existência exerceria uma
pressão “sadia” sobre os superiores eclesiásticos competentes para corresponderem, de forma
mais resoluta e rápida, à sua competência diretiva, ao invés de, muitas vezes, reagir apenas com
hesitação à pressão de fora. Por outro lado, a comissão, como elo de ligação com a base e a
opinião pública, poderia prevenir muitas coisas e eliminar dificuldades já no status nascendi.
Esta análise significa para a responsabilidade pastoral da Igreja nesta situação difícil um enorme
desafio. Ela tem como finalidade precípua desencadear um debate sério, profundo e amplo,
tentando vencer o clima de tabu que muitas vezes envolve tal temática. Somente no diálogo
sobre seus desafios a Igreja pode caminhar em busca da verdade, da qual procura sempre ser
parceira na história. Para a Igreja não se trata somente de tirar consequências claras no sentido
de defesa de sua posição. Ao mesmo tempo ela tem que oferecer às pessoas envolvidas –
padres, religiosos e leigos – terapias adequadas. Exatamente isso vai se revelar para todos como
bênção.
Endereço do Autor:
Coração Eucarístico
E-mail: p.dr.mettler@hotmail.com
[i]. O autor nasceu 1955 in Morbach / Alemanha, ingressou 1974 na Congregação dos
Missionários da Sagrada Família (MSF) e foi ordenando presbítero em 1981. Em 1988 chegou
ao Brasil e trabalhou até 2001 em várias paróquias e na reserva indígena Xakriabá no Norte de
Minas Gerais, nas dioceses de Januária e Janaúba.
Atualmente trabalha como Professor de Direito Canônico no ISTA, como juiz e auditor no
Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Belo Horizonte e como capelão das Servas do
Santíssimo Sacramento.
[vii]. P. METTLER, Die Berufung zum Amt im Konfliktfeld von Eignung und Neigung. Eine
Studie aus pastoraltheologischer und kanonistischer Perspektive, ob Homosexualität ein
objektives Weihehindernis ist [A vocação para o ministério ordenado no campo conflitante de
aptidão e inclinação. Um estudo, a partir de uma perspectiva teológica-pastoral e canônica, se o
homossexualismo constitui um impedimento objetivo à ordenação], Frankfurt am Main, 2008.
[xv]. Cf. “Lei da Homofobia” no Brasil implicaria perseguição religiosa”, disponível em:
www.zenit.org/article-14376?=portuguese.
[xviii]. Em carta de 23 de julho de 1992, dirigida aos bispos dos EUA, a Congregação para a
Doutrina da Fé afirma que existem áreas em que não se pode falar de discriminação injusta,
quando se leva em conta a orientação sexual, por exemplo, na adoção ou no direito de guarda de
crianças, na contratação de docentes, professores esportivos ou no serviço militar. “A
‘orientação sexual’ não representa uma orientação comparável à raça, ao grupo étnico etc., no
que tange à não-discriminação… Incluir a ‘orientação homossexual’ em ponderações segundo
as quais qualquer discriminação é contrária à lei, facilmente poderá levar a que se considere o
homossexualismo como fonte positiva de direitos humanos… Isso é tanto mais nefasto pelo fato
de não haver um direito ao homossexualismo, que por isso não pode alegar nenhum fundamento
legal para exigências de direito. Esse passo até o reconhecimento do homossexualismo como
elemento determinante, sobre cuja base a discriminação é contrária à lei, pode levar facilmente,
se não até mesmo automaticamente, à proteção legal e à propagação do homossexualismo.”
Kongregation für die Glaubenslehre: Anmerkungen zur rechtlichen Nicht-Diskriminierung
Homosexueller”, em: Die Tagespost, 14-08-1992, p. 8.
Para T. Anatrella, o homossexualismo não é “sujeito de direitos, por não possuir valor social.”
T. ANATRELLA, “Omosessualitá e Omophobia”, em: Pontificio Consiglio per la Famiglia
(ed.), Lexicon. Termini ambigui e discussi su famiglia, vita e questioni etiche, Bologna 2003, p.
685-697, 696.
[xxi]. João Paulo II, Identität, p. 26. Conforme o papa Bento XVI, configura-se uma “ditadura
do relativismo, na qual nada é reconhecido como definitivo e que admite como parâmetro
último somente o próprio eu e seus desejos” “Es entsteht eine Diktatur des Relativismus”),
disponível em: www.die-tagespost.com/archiv/titel_anzeige.asp.?ID=13495
[xxiii]. A asserção sempre de novo disseminada, segundo a qual 10% teriam sentimentos
homossexuais é pura propaganda, um mito, como a própria C. Paglia – um ícone do movimento
gay – admite: “a quota dos dez por cento, que é prontamente repetida pelos meios de
comunicação, era pura propaganda. Como cientista, ignoro que ativistas do homossexualismo
desprezem, tão sem escrúpulos, a verdade. Pessoas que vivem homossexualmente sabem muito
bem que justamente não é gay cada décimo homem com que se encontram” (C. PAGLIA,
Vamps e Tramps, Nova Iorque 1994, p. 74). O estudo EUROGAY-EMNID, de 2001, chega a
1,3% entre os homens e 0,6% entre as mulheres que se consideram pessoalmente como
homossexuais. Cf. C. WAGNER et al., Erfassung von sexueller Orientierung und Prävalenz
von Homosexualität und Bisexualität, disponível em: www.crossmarketing.de/pdf/abstract2.pdf.
Trata-se de um resultado realmente assombroso. Evidentemente, o número de homossexuais é
menor que o sugerido pela “onda gay da moda” (Cf. A. GATTERBURG / A. HAEGELE,
“Exoten: witzig und wohlhabend”, em: Der Spiegel, 26-03-2001, p. 80s).
[xxxv]. U. ENGEL, “Ja, mein Erbe gefällt mir gut.” Skizzen zu einer Gay-Spiritualität, em:
Wort und Antwort 39 (1998) 78-87; H. Kügler avalia essas considerações de Engel como “uma
das poucas tentativas bem-sucedidas de uma teologia especificamente gay” (H. KÜGLER,
Gelebte Sexualität als Transzendenzerfahrung, em: Themenzentrierte Interaktion 2 (1999) 255-
259, 259). Acerca da exigência de que, no âmbito feminista, também deveria haver uma
teologia homossexual, observa com razão R. Slenczka: “Nisso, já se mostra aquela compreensão
equivocada de teologia, que não se orienta mais na Palavra de Deus, mas deve ser articulada
com as experiências e os problemas da época. Dessa maneira, a teologia é transformada em
ideologia” (R. SLENCZKA, Zur Beurteilung homosexueller Beziehungen nach dem Wort
Gottes, em: Homiletisch-Liturgisches Korrespondenzblatt – Neue Folge 27 (1990), p. 301-305,
301).
[xxxvii]. “De acordo com ex-seminaristas e sacerdotes novos, essa subcultura homossexual, em
certos seminários, é tão acentuada que essas instituições receberam apelidos como Notre Flame
(para o Seminário de Notre Dame, em Nova Orleães) e Theological Closet (para o Theological
College na Universidade Católica da América, em Washington, D.C). O Seminário de St. Mary
em Baltimore recebeu a alcunha de “The Pink Palace” (ROSE, GoodBye, p. 92).
[xxxviii]. R. Wagner, sacerdote e religioso católico dos EUA, ele próprio envolvido
existencialmente, escreve em um estudo: “Há uma rede informal dos sacerdotes gays em
praticamente todas as regiões do país. Essa rede foi utilizada para conquistar os entrevistados
para a pesquisa. Um empenho considerável de tempo e energia foi necessário para compor uma
amostragem com a maior amplitude geográfica possível. O começo foi estabelecer contato em
diferentes partes do país com sacerdotes que ocupam posições-chave nas redes. Esses, por sua
vez, exerceram a função de mediadores em sua área” (R. WAGNER, “Schwule katholische
Priester in den USA: Empirische Untersuchung einer Dissonanz zwischen Pflicht und
Neigung”, em: R. GINDORF/E.J. HAEBERLE (eds.), Sexualwissenschaft und Sexualpolitik.
(Schriftenreihe Sozialwissenschaftliche Sexualforschung 3), Berlim / Nova Iorque 1992, p. 195-
250, 203).
[xlii]. O que foi apurado para a Igreja Católica Romana vale, de forma similar, para as Igrejas
Anglicanas e Evangélicas, que assim são confrontadas com um teste de ruptura que pode levar a
um cisma (cf. METTLER, Amt, p. 124-132).
[xliii]. “Seminary Reform Needed in Wake of Sex Abuse Study. Dr. Rick Fitzgibbons Suggests
Programs of Priest, Religious, Seminarians”, disponível em:
www.zenit.org/english/visualizza.phtml?sid=52897. Também dados de centros terapêuticos na
Irlanda, bem como as averiguações de Sountdown (Canadá), do St. Luke’s Institute
(Washington) e das John Hopkins Sexual Disorder Clinics (Baltimore) nos EUA, constatam
unanimemente que a maioria dos sacerdotes que abusam de menores prefere como parceiros
sexuais jovens rapazes após a puberdade (cf. E. CONWAY, Theologien des Priesteramts und
ihr möglicher Einfluss auf sexuellen Kindesmissbrauch, em: Concilium 40 (2004) 308-322, nota
9).
[xliv]. A. MOSER, Pedofilia: primeiras reações e interpelações, em: REB 62 (2002) 515-547,
520.
[xlvi]. Nas determinações punitivas da Bíblia contra o homossexualismo, não se trata, segundo
Schoeps, de determinações de caráter ético, mas apenas de ritos de culto. Seria uma “piada
tardia da história das religiões” pretender derivar desses fatos uma rejeição genérica do
homossexualismo. “Não, a suposta proibição divina expressa na Bíblia contra o
homossexualismo é um mito – mais precisamente um mito falso”. H.J. SCHOEPS,
“Überlegungen zum Problem der Homosexualität”, em: ID. et al., Der homosexuelle Nächste.
Ein Symposium, Hamburgo 1963, p. 74-114, 88.
[xlix]. Conforme H. Lutterbach, esse silêncio de forma alguma foi entendido pelos primeiros
cristãos no sentido de um consentimento da prática de relacionamentos entre os mesmos sexos
(cf. H. LUTTERBACH, Gleichgeschlechtliches sexuelles Verhalten: ein Tabu zwischen
Spätantike und früher Neuzeit, em: Historische Zeitschrift 267 (1998) 281-311, 286).
[l]. Com freqüência, se diferencia entre “casca devida à época” e “cerne” da Sagrada Escritura,
“válido para além da época”. “No primeiro caso, trata-se de afirmações da Bíblia que podemos
muito bem ‘esquecer’ literalmente. São condicionadas por uma época atrasada em suas
opiniões. Dentro delas, porém, encontram-se outras convicções que possuem um significado
supratemporal, eterno, que também continuam válidas conforme o entendimento de hoje,
medidas por critérios atuais, ou seja, que não são condicionadas pela época, mas
contemporâneas, condizentes com nosso tempo”. Essa distinção casca-cerne, no entanto,
pressupõe uma posição supra-histórica. “Quem como sujeito histórico, em vista de documentos
do passado, acredita ser capaz de distinguir, principalmente no que tange a textos bíblicos, entre
condicionado pela época e eternamente válido, está pressupondo como verdadeiros, corretos e
superiores os critérios de seu próprio tempo, raciocinando, assim, flagrantemente de forma não-
histórica: como se a própria época também não fosse condicionada por seu tempo em relação às
suas opiniões” (H. HEMPELMANN, “Die Autorität der Heiligen Schrift und die Quellen
theologischer Grundentscheidungen”, em: Homosexualität und christliche Seelsorge.
Dokumentation eines ökumenischen Symposiums, Neukirchen-Vluyn 1995, p. 238-261, 250).
[liv]. Na sétima estação das meditações da via crucis, realizadas pelo arcebispo Comastri e que
aconteceram sob a presidência do Papa Bento XVI, na Sexta-Feira da Paixão de 2006, no
Coliseu de Roma, lemos: “Com certeza, o ataque à família constitui um doloroso sofrimento de
Deus. Parece que existe hoje uma espécie de antigênesis, um contraprojeto, um orgulho
diabólico, que visa eliminar a família. O ser humano pretende reinventar a família, deseja mudar
a gramática da própria vida, concebida e intencionada por Deus. Contudo colocar-se no lugar de
Deus, sem ser Deus, é a mais tola arrogância, é a mais perigosa aventura” (Kreuzweg 2006,
disponível em: www.kath.net/detail.php?id=13380).
[lviii]. A Igreja se esforçou, num passado recente, em explicar sua atitude perante a
homossexualidade e mostrar caminhos de uma prática pastoral apropriada. Sinais desse esforço
são nada menos que 8 documentos, nos quais o Magistério se manifestou com autoridade, entre
1975 e 2003, sobre o tema da homossexualidade e aspectos correlatos (cf. Ibid. p. 204-207).
[lxiv]. O ativista gay A. Sullivan descreve como auto-engano acreditar que o homossexualismo
é transmitido como a cor dos cabelos. ”Sem dúvida seria bem-vindo aos gays se a ‘analogia’ dos
cabelos fosse correta, porque isso os eximiria da auto-análise, que muitas vezes é tão dolorosa,
com a qual teriam de se confrontar em caso contrário. Lamentavelmente, porém, ela não é
correta”. E admite: “Certamente seria estranho se influências do meio não tivessem também
uma importância especial” (A. SULLIVAN, Love Undedectable: Notes on Friendship, Sex and
Survival, New York 1998, p. 164). Também Peter Tatchell, conhecido ativista do movimento
gay, reconheceu recentemente: “Genes e hormônios podem predispor uma pessoa para
determinada orientação sexual. Mas isso não é tudo. Predisposição e fixação são duas coisas
diversas.” P. TATCHELL, “Führender Homo-Aktivist: Es gibt kein ‘Gay-Gen’”, disponível em:
www.kath.net/detail.php?id=20536.
[lxv]. G. VAN DEN AARDWEG, The biological base of Homosexuality: not solid evidence,
much misleading speculation, em: Narth-Bulletin 2004. Contra o perigo de mesclar ativismo
gay e ciência, bem como contra as consequências, adverte enfaticamente a já citada ativista
homossexual, C. Paglia: “Devíamos estar conscientes da possível mistura nociva de ativismo
gay e ciência, que produz mais propaganda que verdade. Cientistas homossexuais precisam ser
primordialmente cientistas, homossexuais somente em segundo lugar” (PAGLIA, Vamps, p.
78).
[xc]. Houve discussões controvertidas, se o sexo masculino, como condição prévia para a
obtenção válida da ordenação, baseia-se no direito divino ou apenas representa uma
determinação eclesiástica. Essa controvérsia foi definitivamente resolvida pelo papa João Paulo
II (1978-2005), por meio da Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 22 de maio de 1994.
[xcv]. De acordo com T. Anatrella, pessoas com tendências homossexuais sofrem de uma
“desconectividade estrutural” na posição frente à sua sexualidade (cf. T. ANATRELLA,
“Kirche kann unvollständige Sicht der Sexualität nicht akzeptieren”), disponível em:
www.kath.net/detail.php??id=12234.
[ciii]. Em sua carta, que acompanha a Instrução, o Cardeal Grocholewski apela aos bispos para
que as prescrições ali apresentadas sejam “cuidadosamente cumpridas” por todos os envolvidos
na formação de sacerdotes. Cumpre, portanto, atualizar as respectivas diretrizes dos seminários
e adaptá-las à Instrução.