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Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade

A PESQUISA EM SALA DE AULA COMO INSTRUMENTO


PEDAGÓGICO: DA REALIDADE AO CONCRETO-PENSADO
Christiane Caetano Martins FERNANDES1

Resumo: Este trabalho objetiva debater o estatuto da pesquisa na sala de aula. Partimos
de uma certa concepção de pesquisa lato sensu, por assim dizer, que comumente faz-se
presente na escola para, depois, discutir sua inclusão como instrumento pedagógico para
desenvolver nos alunos uma formação crítica. Tal discussão baseia-se essencialmente 18
no método dialético de Marx e Engels (1989). Recorreu-se ainda a outros autores para a
fundamentação do objeto de estudo em questão, como: Kosik (1976), Saviani (2009),
Ianni (2011), Frigotto (2004). A apreensão do método dialético pelos docentes
oportunizará ao educando a superação do conhecimento oriundo do senso comum, da
sua realidade – concreto dado (MARX, 1991) – e, por meio das abstrações mediadas ao
longo do processo investigativo, alcançar o novo conhecimento – concreto pensado
(MARX, 1991). Assumindo a pesquisa a partir de tal arcabouço teórico, espera-se que o
aluno tenha uma leitura crítica da realidade, percebendo as contradições nela existentes,
compreendendo-a e, assim, possibilitando sua transformação.

Palavras-chave: Pesquisa. Realidade. Concreto Pensado. Conhecimento

THE RESEARCH IN SCHOOL CLASS AS PEDAGOGIC TOOL:


FROM REALITY TO CONCRETE THOUGHT

Abstract: This paper aims to discuss the status of research in the classroom. In this
way, we start from a certain conception of broadly research, so to speak, that usually
makes up for this in school, then we discuss its inclusion as an educational tool able to
develop in students a critical training in order to establish them as individuals capable of
understanding the world around them and their own reality. This discussion is primarily
based on dialectical method of Marx and Engels (1989), aiming at providing to
students, knowledge about reality. From this premise, we used still other authors whose
ownership of the dialectical method contributed to the bottomise of the study object in
question, as Kosik (1976), Saviani (2009), Ianni (2011), Frigotto (2004). The seizure of
this method by educating teachers will make the student be able to overcome the
knowledge derived from common sense, its reality - given concrete (Marx, 1991) - and,
by means of abstractions mediated through the investigative process, achieving new
1
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (PPGEdu/UFMS). Graduação em Educação Física pela mesma Universidade, Pós-
Graduação Lato Sensu em Coordenação do Trabalho Pedagógico na Escola: ênfase na gestão pedagógica
e inspeção escolar (2010). Professora efetiva da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/MS desde o
ano 2001.Tutora no curso de graduação em Educação Física Ead pela UFMS. E-mail:
christianecmfernandes@gmail.com

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knowledge - concrete thought (Marx, 1991). Taking research from such theoretical
framework, it is expected that the student has a critical reading of reality, realizing the
contradictions that exist in it, understanding it and thus enabling its transformation.

Keywords: Research. Reality.Given concrete.knowledge

1 Introdução de consciência, o docente poderá incluir


em sua prática a pesquisa como um
As transformações que
instrumento pedagógico e, desse modo, 19
ocorrem na sociedade – sejam elas de
não somente ensinar por meio de aula
ordem econômica, política e/ou social –
expositiva, de cópia e memorização,
devem suscitar nos docentes reflexões
mas também orientar o educando a
acerca do processo pedagógico, no
questionar, a investigar, a analisar e a
intento de buscar caminhos que
interpretar os dados referentes ao seu
propiciem ao aluno efetivas condições
objeto de estudo, e a comunicar os
de aprendizagem, possibilitando a ele
resultados de sua investigação,
associar os conhecimentos científicos
apresentando-os na sala de aula, ou em
aprendidos na escola àqueles já
outro espaço, explicitando o que de fato
adquiridos em seu cotidiano, para assim
aprendeu, produzindo, assim, um novo
compreender o que acontece a sua volta,
conhecimento. Cabe mencionar que os
enfrentando e resolvendo as diversas
fatos que se apresentam no cotidiano do
situações do seu dia-a-dia.
aluno geram a ele informações.
Ao ter consciência da
Contudo, para que essas informações se
dimensão política do seu fazer
transformem em dados, é preciso
pedagógico, o professor propicia ao
percorrer um processo investigativo.
aluno, além da aprendizagem dos
Como observa Frigotto (2004),
conteúdos disciplinares, conhecimentos
necessários para a compreensão do
a análise dos dados representa o
mundo e da sua própria realidade, esforço do investigador de estabelecer
desenvolvendo seu senso crítico e as as conexões, mediações e contradições
dos fatos que constituem a
capacidades de analisar e interpretar problemática pesquisada. [...] é no
trabalho de análise que se busca
diferentes informações. superar a percepção imediata, as
impressões primeiras, [...] passando-se
Em decorrência de tal tomada assim do plano pseudoconcreto ao

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concreto que expressa o conhecimento verdade, isto é, a realidade e o poder, a


apreendido na realidade (FRIGOTTO,
2004, p. 88). natureza e o poder” (MARX; ENGELS,
2009, p. 119). Desse modo, pode-se
Diante disso, depreende-se que dizer que não basta que o homem
não basta que o aluno receba interprete a realidade, mas que vá além,
informações; o mais importante é que preocupando-se com sua
ele receba subsídios para que tais transformação2. 20
informações se convertam em Sendo assim, o aluno, ao
conhecimento. Ou seja, ao incluir a interferir na realidade por meio do
pesquisa em sala de aula, o docente conhecimento adquirido via pesquisa,
deverá orientar o educando a evidenciar terá condições de descobrir sua
e compreender o objeto de estudo que condição histórica, reconhecendo a si
estava oculto, por meio do movimento mesmo como sujeito e tornando-se mais
de ir e vir, numa forma dialética, da crítico, tendo em vista que a
prática para a teoria, e vice-versa, investigação possibilita a superação da
considerando que a teoria complementa aparência do objeto de estudo para sua
a prática, além de fazê-la ir adiante e se essência na atividade da práxis.
realizar por meio da ação do homem, É, pois, nesse sentido que se
pois sua práxis “não é atividade material defende aqui que a dialética da pesquisa
contraposta à teoria; é determinação da oportunizará uma formação crítica ao
existência humana como elaboração da aluno, por meio da sua ativa
realidade” (KOSIK, 1976, p. 222). participação ao longo do processo
Nesse sentido, Marx (2009) investigativo, desde os questionamentos
esclarece que é na prática que o homem acerca do objeto que deseja conhecer,
necessariamente demonstra a verdade. da construção de argumentos que
Para o autor, “a questão de saber se ao ocorrerá pela busca nas teorias
pensamento humano cabe alguma
verdade objetiva não é uma questão 2
Pode-se ver um exemplo dessa visão marxista
teórica, mas uma questão prática. É na na tese XI sobre Feuerbach, quando o próprio
Marx afirma que “os filósofos só interpretaram
prática que o homem tem de provar a o mundo de diferentes maneiras; do que se trata
porém, é de transformá-lo” (MARX; ENGELS,
1989, p. 97, grifo no original).

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pertinentes sobre o que está sendo Se um dos maiores desafios


investigado, até o momento da para o docente é, portanto, propiciar ao
comunicação dos resultados da sua aluno condições para a aquisição do
pesquisa. O educando partirá daquilo conhecimento, a pesquisa utilizada em
que já conhece, da sua realidade, do sala de aula como um instrumento
saber oriundo do senso comum, do pedagógico apresenta-se como um dos
concreto-dado – como aponta o método meios capazes de promover o 21
de Marx (1991) –, para, a partir das suas desenvolvimento da formação crítica do
indagações, das suas dúvidas, buscar em educando que, por meio do
diferentes fontes, informações que conhecimento, poderá então agir de
consigam respondê-las, que serão as forma consciente na busca por uma
mediações, as teorizações, para chegar transformação social, pois permitirá que
ao concreto do objeto por meio do seu ele apreenda saberes, indo além da
pensamento, ao concreto-pensado simples reprodução das informações
(Marx, 1991), portanto. A partir dessas que lhe são apresentadas. Acreditando
premissas, este artigo discutirá a ser a prática investigativa um trabalho
possibilidade de se assumir a pesquisa crítico, o professor poderá, ao
(em sala de aula) como um instrumento desenvolvê-la em sala de aula, auxiliar
pedagógico, tomando os conceitos de o educando “a pensar livremente,
abstrato e de concreto presentes no criticar aquilo que está sendo
método dialético de Marx (1991) como apresentado” (IANNI, 2011b, p. 338).
um recurso para investigação da Há que se dizer, porém, que a
realidade, com vistas a construir um pesquisa a que nos referimos aqui, para
conhecimento sobre ela. Para tanto, o além da simples tarefa de copiar um
próximo tópico abordará algumas das texto, de consultar as informações
possíveis maneiras de se compreender a contidas em sites de busca na Internet
pesquisa em sala de aula. ou de um trabalho a ser entregue ao
professor com único fim de obtenção de
2 A Dialética da Pesquisa em Sala de
nota para o fechamento de um bimestre
Aula para a produção do
conhecimento letivo, pauta-se na aquisição do

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conhecimento científico pelo educando. de trechos de diferentes textos, sem


Conhecimento este capaz de fazê-lo qualquer discussão ou compreensão
buscar uma transformação em seu modo sobre o que está pesquisando. Em
de pensar e agir, enquanto sujeito consequência, como destaca Martins
partícipe da sua própria formação, com (2005, p. 92), tais pesquisas não
compreensão crítica do mundo no qual atendem “a certos princípios
está inserido. O desenvolvimento da elementares da iniciação científica”, a 22
criticidade do educando contribuirá para saber: i) focar um objeto a ser
que ele leia, decifre e compreenda a investigado, ii) formular os objetivos a
realidade (GADOTTI, 2010). serem buscados, iii) decidir pelos
No entanto, esta ainda é uma métodos a serem aplicados a fim de se
realidade um pouco distante das salas de chegar aos resultados.
aula, já que, como aponta Ninin (2008), Também Gatti (2002)
considera a pesquisa como o caminho
os professores, muitas vezes conduzidos para se apropriar de conhecimentos
por crenças em práticas educacionais que
viveram quando estudantes e por processos sobre algum assunto,
de formação docente que privilegiaram
discussões sobre estratégias de ensino
pautadas na transmissão do conhecimento o ato pelo qual procuramos obter
e no poder da quantidade de informações, conhecimento sobre alguma coisa. [...]
vêem-se despreparados para orientar seus Contudo, num sentido mais estrito,
alunos em relação à tarefa de pesquisar visando a criação de um corpo de
(NININ, 2008, p. 7). conhecimentos sobre um certo assunto,
o ato de pesquisar deve apresentar
certas características específicas. Não
O roteiro da pesquisa, quando buscamos, com ele, qualquer
conhecimento, mas um conhecimento
realizada na escola, é bastante simplista que ultrapasse nosso entendimento
imediato na explicação ou na
e, por vezes, equivocado. Ou seja,
compreensão da realidade que
diante de tal quadro, não basta que a observamos. (GATTI, 2002, p. 9-10)

pesquisa seja inserida em sala de aula; é


preciso que ela seja orientada de Desse modo, a pesquisa deve

maneira adequada; caso contrário, o permitir ao aluno, a partir da seleção das

aluno terá a impressão de que uma informações acerca do tema ou

investigação se resume a realizar cópias conteúdo apresentado em sala de aula,


construir argumentos que superem o

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conhecimento oriundo do senso comum, tipo de pesquisa que nos referimos aqui.
tendo em vista que este se associa à Ainda de acordo com o autor, qualquer
compreensão parcial da realidade. A empreendimento humano é envolvido
superação do senso comum é possível por ações investigativas: a simples ação
por meio da reflexão, que possibilitará, de consultar em um jornal o preço de
então, ao educando conhecer o objeto um imóvel já é considerada uma
de maneira mais clara e precisa atividade de pesquisa. Entretanto, para 23
considerando os elementos que o os fins deste trabalho, defendemos que é
constituem. a pesquisa de natureza científica que
Para Ianni (2011a), a reflexão possibilitará a aquisição de um
no processo investigativo é conhecimento para o aluno ou para a
fundamental, visto que ela comunidade na qual ele está inserido.
Sobre esse tipo de pesquisa, a
vai caminhando e parece que não vai científica, Moraes et al (2004) destacam
deixando nada de lado. Vai
reincorporando os elementos que estão que, ao ser desenvolvida
sendo registrados. As reflexões que
estão sendo descobertas. É como se a
realidade fosse se tornando cada vez em sala de aula pode ser compreendida
mais rica, mais complexa, mais viva. como um movimento dialético, em
Retém muito daquilo que está no espiral, que se inicia com o
começo e vai recriando num percurso. questionamento do estados do ser,
Isto é um trabalho de reflexão fazer e conhecer dos participantes,
complexo, que implica em desvendar construindo-se a partir disso novos
do real [...], dimensões, significados, argumentos que possibilitam atingir
tendências, que definitivamente não novos patamares desse ser, fazer e
são dadas no nível dos acontecimentos conhecer, estágios esses então
vistos como fatos empíricos. (IANNI, comunicados a todos os participantes
2011a, p. 398). do processo. (MORAES et al., 2004,
p. 11)

Em síntese, pode-se dizer que


embora a pesquisa possa ser concebida Esses estágios estão

como o ato de “procurar, buscar com associados, por seu turno, aos

cuidado; procurar por toda a parte; momentos da investigação propostos

informar-se; inquirir; perguntar; indagar pelos autores, a saber: i) o

bem, aprofundar”, para usar as palavras questionamento, ii) a construção de

de Bagno (2010, p. 17), não é a esse argumentos e iii) a comunicação

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(MORAES et al, 2004). pesquisa.


As indagações e a curiosidade Por meio da fundamentação
dos alunos serão o ponto de partida para construída, haverá o desenvolvimento
que se encontrem respostas sobre o da capacidade argumentativa do aluno,
desconhecido. Isso permite que o “vital para que nos tornemos sujeitos,
educando se envolva e, acima de tudo, inserindo-nos com consciência no
faz com que o professor perceba o que discurso em que estamos imersos, com 24
ele precisa aprender e, dessa maneira, competência para participar e também
levantar, ler e organizar previamente as decidir” (RAMOS, 2004, p. 27).
fontes de informações a serem Dependendo das indagações
consultadas para que o aluno construa realizadas, o docente perceberá que os
argumentos (MORAES et al, 2004) conhecimentos que seu aluno possui
acerca do objeto investigado. acerca do objeto de estudo são oriundos
Na etapa da construção de do seu cotidiano, presentes em suas
argumentos, caberá ao educando buscar diversas relações sociais e que podem
as informações para responder aos não apresentar cientificidade alguma.
questionamentos suscitados em sala de Ou ainda, como destaca Miranda (2001,
aula. Nesse momento, ele terá p.137), esse tipo de conhecimento é
condições de ampliar ou reelaborar seu “um conjunto de saberes que, por não
conhecimento a partir daquilo que já serem sistematicamente mediados pela
conhecia sobre o objeto de estudo. É reflexão, são aparentes, precários,
também aqui que a mediação do imediatos, fragmentados, caóticos e
professor ganha uma relevância ainda parciais. [...] é um conhecimento válido
maior: uma busca bem orientada como formulação imediata, aparente e
auxiliará o educando a escolher as parcial do real”.
leituras pertinentes ao assunto, além de Para comunicar as novas
ajudá-lo a interpretar as ideias contidas descobertas e validar o conhecimento, é
nos diferentes textos escolhidos para a preciso organizá-los; assim, ainda no
investigação e, assim, fundamentar segundo estágio, cabe uma
teoricamente o tema proposto para a sistematização dos estudos

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empreendidos. Para Moraes et al A pesquisa tem de captar


detalhadamente a matéria, analisar as
(2004), a melhor maneira é por meio de suas várias formas de evolução e
rastrear sua conexão íntima. Só depois
uma produção escrita, em que de concluído esse trabalho é que se
pode expor adequadamente o
aparecerão todos os argumentos movimento real. Caso se consiga isso,
construídos que, em seguida, serão e espelhada idealmente agora a vida da
matéria, talvez possa parecer que se
submetidos à crítica, à análise, do esteja tratando de uma construção a
priori. (MARX, 1983, p. 20, grifo no
próprio grupo de colegas da sala de aula original). 25
ou de uma comunidade. Por meio dessa
produção, o aluno “consegue uma Sendo assim, o momento da
colocação original, própria, pessoal, comunicação dos resultados da pesquisa
superando a pura retomada de textos de permitirá que o concreto inicial,
outros autores” (SEVERINO, 2002, p. aparente, imediato do objeto, se torne o
57). concreto mediado pelas abstrações, ou
Fundamentadas as novas seja, o pensado. É quando o aluno
descobertas e colocadas em uma consegue alcançar um conhecimento
produção escrita, o educando irá para o novo, tendo em vista que reconstruiu
último momento da pesquisa: a aquele que já existia.
comunicação (MORAES et al, 2004). É Esse conhecimento, contudo,
na comunicação que o aluno apresentará não é construído do nada. Uma
o conhecimento novo, construído a investigação inicia-se na observação
partir das buscas nas fontes de empírica da realidade. O aluno traz
informação. Frigotto (2004, p. 81) dessa realidade conhecimentos que
entende que na exposição dos resultados mesmo, como já dito mais acima,
de uma investigação se “busca ordenar muitas vezes sem qualquer rigor
de forma lógica e coerente a apreensão científico, expressa o concreto do seu
que se fez da realidade estudada”. É cotidiano, o que ele viu, entendeu,
possível fazer uma aproximação, neste observou. Nesse sentido, ao iniciarmos
ponto, com o que diz Marx (1983), em “uma pesquisa não nos situamos num
O Capital: patamar „zero‟ de conhecimento; pelo
contrário, partimos de condições já

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dadas, existentes, e de uma prática estão associadas a essa doença. Isso


anterior, nossa e de outros, que gerou a implica questionar para investigar como
necessidade da pesquisa” (FRIGOTTO, esta se desenvolve no âmbito social a
2004, p. 87, grifo no original). partir de diversos fatores como a
Recorreremos aqui a um situação de moradia, de saneamento,
exemplo a fim de tornar mais clara essa entre outros, fazendo-os entender que
proposta. Quando o professor, em sala ela poderia ser amenizada caso a 26
de aula, abordar o tema Dengue, o aluno população tivesse melhores condições
apresentará um conhecimento prévio de vida. E, assim, o educando perceberá
sobre a doença, a partir das informações que o tema de estudo possui uma
sobre seus sintomas, formas de relação próxima com problemas sociais
tratamento, além de outras que leu em objetivamente existentes. Além de, ao
uma manchete de jornal, que ouviu nos final do processo investigativo, ter
noticiários de televisão e/ou nas condições de explicar melhor a doença,
conversas com as pessoas da sua tendo em vista que, no decorrer das
comunidade. Assim, o professor ao análises realizadas, foi conhecendo as
realizar uma pesquisa com esse tema determinações que a constituem.
com os discentes, considerará os De acordo com a abordagem
conhecimentos empíricos trazidos por do professor acerca do assunto, o aluno
eles, pois, conforme Ianni (2011b, p. levantará questões que lhe permitirão
333) “todo trabalho intelectual que se avançar naquilo que precisa ser
faz em sala de aula, ao se discutir um pesquisado e elaborado. Com isso, o
tema, implica necessariamente uma docente os orientará a buscar diversas
crítica do conhecimento prévio que o fontes de consulta – como textos,
aluno tem”, já que, para ele, é uma vídeos, atividades em campo,
ilusão o professor pensar que seus entrevistas com especialistas, entre
alunos “não sabem nada ou que nada outras – para a coleta de informações,
conhecem” (IANNI, 2011b, p. 328). de dados anteriormente desconhecidos
Desse modo, o docente precisa orientá- sobre o assunto.
los a compreender outras questões que
3 Da realidade ao concreto pensado:

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aproximações teóricas para novas descobertas, novas verdades,


pois, nas palavras de Grillo et al (2006),
É, então, preciso ressaltar a
importância de se considerar que o
toda inovação supõe partir de algo
conhecimento inicial acerca do objeto conhecido para superá-lo e refazê-lo.
não deve ser deixado à margem do Trata-se da reconstrução do que já se
conhece, enriquecido pelas respostas
processo de aprendizagem, tendo em aos questionamentos que o já-
conhecido suscita. A pesquisa, então, 27
vista que, nas palavras de Miranda só se completa com a reconstrução
inovadora que possibilita novas formas
(2001, p. 138), o aluno “é capaz de de intervenção, fundadas na articulação
teoria e prática. Esta modalidade de
apreender uma parte do fenômeno [...]. pesquisa pode e deve ser realizada pelo
Contudo, não é capaz de revelar toda a professor na sua própria sala de aula. É
acessível a todos, respeitadas as
sua realidade”. Abordando o método de especificidades das áreas de
conhecimento, das disciplinas e dos
Marx, a autora ainda relembra que “o alunos. (GRILLO et al., 2006, p. 3)
senso comum, como ponto de partida
para a reflexão (concreto aparente), Pode-se traçar aqui um paralelo
requer a intervenção de um sujeito com as considerações de Saviani (2009)
pensante que recupera o conjunto de sobre elevar a prática educativa dos
mediações que constituem aquela educadores do Brasil do nível do senso
realidade” (MIRANDA, 2001, p. 138). comum ao nível da consciência
E esse conjunto de mediações fará com filosófica. Para o autor,
que o aluno apreenda o objeto, o
fenômeno investigado, de forma passar do senso comum à consciência
filosófica significa passar de uma
concreta, pensada. concepção fragmentária, incoerente,
desarticulada, implícita, degradada,
Dessa forma, o professor, ao mecânica, passiva e simplista a uma
concepção unitária, coerente,
ensinar determinado conteúdo ou articulada, explícita, original,
assunto – como o exemplificado mais intencional, ativa e cultivada.
(SAVIANI, 2009, p.10)
acima –, irá diagnosticar o que o aluno
conhece, o que já ouviu falar, com Ainda conforme o autor, “a
vistas a despertar seu interesse, sendo passagem do senso comum à
este a mola propulsora para o consciência filosófica é condição
levantamento das indagações, início necessária para situar a educação numa

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perspectiva revolucionária” (SAVIANI, chega-se ao concreto”. Sendo assim, a


2009, p. 7). Dessa forma, o professor, pesquisa deve oportunizar ao aluno, a
consciente da dimensão política do seu partir de suas dúvidas, ultrapassar o
fazer pedagógico, ao propiciar conhecimento oriundo do senso comum
atividades de pesquisa deve ter a clareza e chegar à consciência crítica sobre o
de que essa prática terá como objetivo, tema que está investigando, por meio do
por meio das elaborações do conhecimento científico que, de acordo 28
pensamento, superar o conhecimento com Kosik (1976, p. 29), “representa
que o aluno possui no início da um dos modos de apropriação do
investigação, e com isso possibilitar a mundo pelo homem”. Gatti (2002)
este interpretar a realidade, considera que investigamos com o
compreendendo suas contradições, intuito de tentarmos
tornando-o investigador dessa realidade.
Considera-se, então, “que o pensamento construir o que entendemos por ciência, ou
seja, tentando elaborar um conjunto
é que concebe, constitui o homem real estruturado de conhecimentos que nos
permita compreender em profundidade
e, por conseguinte, o mundo só é real aquilo que, à primeira vista, o mundo das
quando concebido, quando pensado. O coisas e dos homens nos revela
nebulosamente ou sob uma aparência
processo de pensar é o processo de caótica. (GATTI, 2002, p. 10)

constituir o mundo” (IANNI, 2011a, p.


404; grifo nosso). Também Saviani (2009)

Em relação à pesquisa, o argumenta nessa direção; para ele, a

docente precisa compreendê-la, superação do senso comum para a

portanto, como um processo que levará consciência filosófica somente é

o educando ao conhecimento, visto que possível com um método, presente, de

poderá alcançar o concreto do acordo com o autor, no texto “O

pensamento (MARX, 1991). Nesse Método da Economia Política”, de Marx

sentido, Saviani (2009, p. 4) assinala (1991), onde é possível encontrar

que “a construção do pensamento se formulações de Marx acerca do

daria, pois da seguinte forma: parte-se procedimento a ser adotado para

do empírico, passa-se pelo abstrato e investigar a realidade. Tal método pode

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ser utilizado como forma de meio dos sentidos – é o empírico3, é o


entendimento da aquisição do objeto conhecido no senso comum –, o
conhecimento, visto que aborda a concreto pensado, o ponto de chegada,
diferença entre o concreto, o abstrato e é, por sua vez, o apreendido a partir do
o empírico. esforço do aluno, das informações que
Segundo Marx (1991), o adquiriu no processo investigativo, ou
método capaz de construir o seja, das abstrações, das teorias 29
pensamento é o que começa pelo real e consultadas em diversas fontes de
pelo concreto, que são a condição informação.
prévia e efetiva. A pesquisa deve, As abstrações são, para o autor,
portanto, iniciar-se pelo existente, pelo as mediações que farão com que o
concreto-dado, real, buscando sua objeto apresentado inicialmente supere
superação. a condição caótica e chegue a um
Pode-se caracterizar o caminho conceito com “rica totalidade de
que se inicia com o concreto real, determinações e relações numerosas”
empírico, em direção ao abstrato e, (MARX, 1991, p. 17). Por abstrações,
posteriormente, ao concreto pensado entende-se, portanto, a teoria que será
como um movimento em espiral, visto utilizada para alcançar o conhecimento
que se parte de um saber ainda sobre o objeto de pesquisa.
fragmentado, do senso comum e, por O concreto pensado para Marx
meio da teorização, das abstrações (1991) é, assim, o produto final do
chega-se ao novo conhecimento. processo de conhecimento, adquirido a
Importante notar que, se para partir das abstrações incorporadas para
Marx (1991), o concreto real (dado) é o superar o concreto caótico, inicialmente
ponto de partida e o ponto de chegada apresentado. É “a totalidade concreta,
do conhecimento, esses pontos são, como totalidade de pensamentos,
contudo, diferentes: enquanto o enquanto concreto-de-pensamento,
concreto apontado pelo autor (1991)
3
como ponto de partida é captado por Tomando a mercadoria como empírico em O
Capital, Marx (1983), por meio de abstrações,
propõe uma compreensão da economia
capitalista.

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como um concreto de pensamentos, é de elaborando novos conceitos e por meio


fato um produto do pensar, [...] da das abstrações, o conhecimento vai
elaboração da intuição e da tornando-se mais amplo, mais concreto.
representação em conceitos” (MARX,
1991, p. 17). Kosik (1976, p. 28) A dialética é o pensamento crítico que
se propõe a compreender a “coisa em
aponta, na esteira de Marx, que o si” e sistematicamente se pergunta
como é possível chegar à compreensão 30
“conhecimento é corretamente da realidade. [...] o pensamento comum
caracterizado como superação da que quer conhecer adequadamente a
realidade, [...] tem de destruir a
natureza, como a atividade ou o esforço aparente independência do mundo dos
contactos imediatos de cada dia.
onde o concreto se torna compreensível (KOSIK, 1976, p. 20, grifos no
original).
através da mediação do abstrato”.
Assim compreendido, a
Para a compreensão da
concreticidade do objeto de pesquisa se
realidade, faz-se, portanto, necessário
apresentará após o esforço empreendido
superar os conceitos imediatos, a
pelo educando/pesquisador em
representação inicial do objeto. Para
encontrar respostas para as dúvidas a
tanto, as abstrações que permearão o
respeito de tal objeto, nas diversas
processo de conhecimento negarão essa
buscas realizadas para tal, para assim
primeira representação e buscarão
chegar ao conhecimento científico. É,
superá-la. Ou, nas palavras de Kosik
então, neste ponto que reside a dialética
(1976),
da pesquisa: vai-se do concreto
aparente, imediato, ao abstrato e do
para que o pensamento possa progredir
abstrato ao novamente concreto. A do abstrato ao concreto, tem aí que
mover-se no seu próprio elemento, isto
partir dessas considerações, é que se é, no plano abstrato, que é a negação da
imediaticidade, da evidência e da
pode compreender melhor a observação concreticidade sensível. A ascenção do
de Moraes et.al (2004) acerca do abstrato ao concreto é um movimento
para qual todo início é abstrato e cuja
movimento em espiral decorrente da dialética consiste na superação desta
abstratividade. (KOSIK, 1976, p. 36-
atividade dialética da pesquisa acima 37)
mencionado: capta-se como o objeto se
apresenta anteriormente e vão-se É, contudo, preciso entender

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que os fatos são conhecimentos da incompreendido todo da percepção


imediata, mas ao conceito do todo
realidade – na concepção de Kosik ricamente articulado e compreendido.
O caminho entre a „caótica
(1976) – somente se representação do todo‟ e a „rica
totalidade da multiplicidade das
determinações e das relações‟ coincide
com a compreensão da realidade.
são compreendidos como fatos de um
(KOSIK, 1976, p. 36, grifo no
todo dialético – isto é, se não são
original).
átomos imutáveis, indivisíveis e
indemonstráveis, de cuja reunião a 31
realidade saia constituída – se são
entendidos como partes estruturais do A partir dessas considerações,
todo. O concreto, a totalidade, não são,
por conseguinte, todos os fatos, o
entendemos que o objetivo da pesquisa
conjunto dos fatos, o agrupamento de é explicitar o concreto, é fazer com que
todos os aspectos, coisas e relações,
visto que a tal agrupamento falta ainda o aluno compreenda efetivamente o que
o essencial: a totalidade e a
concreticidade. Sem a compreensão de está estudando, posto que o
que a realidade é totalidade concreta –
que se transforma em estrutura conhecimento é, para Ianni (2011a, p.
significativa para cada fato ou conjunto
de fatos – o conhecimento da realidade 406), “um produto do cérebro
concreta não passa de mística, ou a pensante”. Para o autor em questão,
coisa incognoscível em si. (KOSIK,
1976, p. 36)

o concreto [...] imediato, as


Desse mesmo modo, para que primeiras expressões do real, não se
desprezam pura e simplesmente.
o aluno consiga efetuar, em uma dada Eles se recriam, eles se retomam.
investigação, a passagem do concreto ao Surgem com novas expressões, na
medida em que a reflexão
concreto pensado, mediado pelo prossegue, na medida em que a
reflexão está desvendando as
abstrato, a dialética é condição determinações que constituem o
essencial; é ela que o fará ultrapassar a objeto. (IANNI, 2011a, p. 406).

aparência imediata do objeto de


pesquisa para, então, apreender sua Destaque-se que para que o

essência. E continua o autor: conteúdo, assunto, ou qualquer objeto


de estudo proposto pelo docente,
configure-se como objeto de
da vital, caótica, imediata
representação do todo, o pensamento conhecimento para o educando, é
chega aos conceitos, às abstratas
determinações conceituais, mediante indispensável que ele, durante as
cuja formação se opera o retorno ao
ponto de partida; desta vez, porém, não atividades de pesquisa, predisponha-se,
mais como ao vivo, mas

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mobilize-se para conhecê-lo, a importância da participação efetiva do


transformando suas ideias do senso educando na busca pelas respostas
comum em ideias do campo científico. pertinentes ao seu objeto de pesquisa
Ou ainda, por meio da dialética, que em todas as etapas do processo.
consiga sair do concreto caótico (senso
3 À guisa de conclusão
comum).
Para superar a visão caótica, ou Abordamos neste artigo a 32
empírica, do objeto, enfatizamos que o pesquisa como um dos meios capazes
docente precisa conduzir os alunos a de desenvolver as capacidades de
buscarem as informações necessárias análise e investigação dos alunos,
que lhes permitam compreender o formando sujeitos críticos, esclarecidos
significado desse objeto de forma não com possibilidades de tomar decisões,
fragmentada, mas apreendendo-o em pois ela passa a ser compreendida como
sua totalidade. A participação do aluno uma atividade da práxis humana. Ela
durante a pesquisa é de extrema não é, contudo, a única prática
relevância para a aquisição do pedagógica capaz de propiciar o
conhecimento, tendo em vista que será conhecimento ao educando, mas o
ele que estabelecerá contato com as contato dele com a atividade de
teorias pertinentes acerca do objeto pesquisa despertará sua curiosidade,
investigado e compreenderá as fazendo, assim, com que ele busque
contradições existentes entre essas respostas para suas dúvidas, desenvolva
teorias. A contradição é o princípio sua autonomia e compreenda as
básico da lógica dialética, que fará com situações presentes em seu cotidiano.
que o aluno entenda o objeto como uma Assunto presente nas escolas, a
síntese de múltiplas determinações. pesquisa é vista como metodologia de
Kosik (1976, p. 206) enfatiza que trabalho. Contudo, não há uma
“conhecemos o mundo, as coisas, os explicação clara, com técnicas
processos somente na medida em que os pedagógicas explícitas sobre como
„criamos‟ isto é, na medida em que os realizá-la. Ao ser utilizada como
produzimos”. E essa observação reforça instrumento pedagógico em sala de

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aula, a pesquisa não deve estar aluno efetua a síntese de múltiplas


associada a atividades simplistas de informações sobre o tema de estudo que
meras cópias ou a trabalhos realizados ocorrerá a aprendizagem.
pelos educandos com fim único para Vale considerar que o professor,
obtenção de uma nota, pois, se assim ao ensinar os conteúdos de sua
for, o aluno não irá aprender, não disciplina, com compromisso político,
superará o conhecimento acerca de um tem condições de analisar o contexto 33
tema, permanecendo ainda nas ideias do social de seus alunos. Nessa perspectiva
senso comum. de desenvolvimento social, a pesquisa,
Ao contrário, ensinar por meio poderá promover a autonomia dos
dessa prática é um dos caminhos para educandos, fazendo-os tomar decisões
fazer com que o aluno evite aceitar em sala de aula e no contexto social que
passivamente as informações que lhe está sendo pesquisado.
são apresentadas, seja no contexto Assim, se ansiamos por
escolar ou em sua própria realidade. Por transformar os alunos em sujeitos
meio da prática investigativa, espera-se capazes de participar das decisões da
contribuir para que o educando tenha sociedade, sendo reflexivos, críticos,
uma leitura crítica da realidade, sem se submeter ao que lhes é imposto,
percebendo as contradições nela sem nenhuma discussão, faz-se
existentes, compreendendo-a e, assim, necessário que a escola contribua para o
buscando a sua transformação. Para desenvolvimento da capacidade
tanto, o professor deve auxiliá-lo a argumentativa de todos os educandos.
superar o conhecimento oriundo do Essa capacidade poderá ser
cotidiano, sem cientificidade, e elevá-lo desenvolvida pela prática investigativa,
ao saber científico, observando as fazendo o aluno convencer colegas e
múltiplas determinações que constitui o professor em sala de aula de que sua
objeto de investigação em sua totalidade explicação acerca do objeto de estudo,
concreta, movimentando o pensamento de fato, apresenta a produção de um
para a compreensão plena dos conhecimento.
fenômenos. É no momento em que o Diante disso, é importante

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modificar a forma como a escola vem GRILLO, M. et.al. Ensino e pesquisa


com pesquisa em sala de aula.
considerando o trabalho com a pesquisa,
UNIrevista - Vol. 1, n.2, abril 2006.
disseminando em seu espaço o Disponível em:
<http://www.unibarretos.edu.br
significado e objetivos desta, tanto para
/v3/faculdade/imagens/nucleo-
o corpo docente como para o discente. apoiodocente/pesquisa%20sala%20de%
20aula2.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2011.
Considera-se, enfim, que, por meio da
prática da pesquisa, o docente, além de IANNI, O. A construção da categoria. 34
Revista HISTEDBR On-line
transmitir conhecimentos, incentivará e
Documento. Campinas, número
orientará os educandos com especial, p. 397-416, abril, 2011a.
Disponível em:
compromissos sociais importantes,
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/re
promovendo o diálogo e rompendo com vista/edicoes/41e/doc02_41e_1.pdf>.
Acesso em 20 jun. 2012.
a passividade do aluno em sala de aula,
visto apenas como receptor de ______. O ensino das ciências sociais
no 1º e 2º graus. Caderno Cedes,
informações.
Campinas, vol. 31, n. 85, p. 327-339,
set.-dez. 2011b. Disponível em:
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Referências 5/02v31n85.pdf>. Acesso em 20 jun.
2012.
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KOSIK, K. Dialética do concreto.
escola: o que é, como se faz.
Tradução Célia Neves e Alderico
São Paulo: Loyola, 2010.
Toríbio. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e
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economia política. São Paulo: Abril

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MORAES, R. et al. Pesquisa em sala de SAVIANI, D. Educação: do senso


aula: fundamentos e pressupostos. In: comum à consciência filosófica. 18. ed.
MORAES, R.; LIMA, V. M. R. (Orgs.). Campinas, São Paulo: Autores
Pesquisa em sala de aula: tendências Associados, 2009.
para a educação em novos tempos.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. SEVERINO, A. J. Metodologia do
trabalho científico. São Paulo: Cortez,
NININ, M. O. G. Pesquisa na escola: 2002.
que espaço é esse? O do conteúdo ou o

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