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Texo 1 Os Espaços em Trânsito Da Arte - In-Situ e Site-Specific, Algumas Questões para Discussão Tiago Giora
Texo 1 Os Espaços em Trânsito Da Arte - In-Situ e Site-Specific, Algumas Questões para Discussão Tiago Giora
Neste trecho do artigo “Um olhar após o outro: anotações sobre Site-
Specificity”, escrito para a Revista October em 1997, a arquiteta e crítica de
arte Miwon Kwon parte analisando o desenvolvimento das propostas
esculturais que começaram nos anos '60 a atuar fora dos parâmetros do
Modernismo delineados por Clement Greemberg e Michael Fried. Suas teorias
contribuíram para um entendimento da arte como desenvolvimento histórico da
linguagem –sobretudo a pintura – apontando para a pureza dos meios e a
desconexão contemplativa do público diante de um objeto artístico
eminentemente transcendental e isolado no espaço e no tempo. Kwon
prossegue observando as mudanças fundamentais ocorridas na arte dos anos
'60 e '70 e as reverberações críticas geradas por esses cambiamentos em um
cenário que começava a aproximar a arte dos ambientes e ações da vida
cotidiana.
1
KWON, Miwon. One place after another: site specific art and locational identity. Cambridge/London: MIT Press,
2002, p. 11.
2
IBID, p.12.
Revista Bimestral de Arte Panorama Crítico | ISSN 1984-624X | Edição #06 | Junho/Julho
#06 – Jun/Jul 2010
3
IBID, p. 11.
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4
"A presença da arte literalista, a qual Clement Greemberg foi o primeiro a analizar, é basicamente um efeito
ou qualidade teatral – um tipo de presença de palco. É uma função não apenas de objetividade e,
freqüentemente, até da agressividade dos trabalhos literalistas, mas da cumplicidade que o trabalho exige do
observador". Michael Fried em Art and objecthood, 1967. Publicado em: The artist's body, themes and
movements. London: Phaidon, 2000, p. 203.
5
KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: ed. Martins Fontes, 1998, p.288.
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Bruce Nauman:
Corridor, 1968-70
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obrigado a fazer uma seleção dos elementos que irão lhe servir de referência
ao longo do seu percurso: muitos objetos, sinais arquitetônicos, mobiliário vão
se perder na edição da memória. O que fica? Como a arte pode revelar o
anônimo transformando-o em singular?
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Carl Andre:
37 Pieces of Work, 1969
9
KWON, Miwon. Op. cit. p. 24.
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"A escolha por trabalhar In-situ significa realizar uma obra em um lugar e de modo específico para aquele
lugar. O primeiro passo – o mais difícil – é misturar-se com as características do local, levando em conta sua
historia e procurando colher a natureza, o dialogo com a arquitetura e até com as pessoas que vivem ali. É
indispensável tentar imaginar os modos nos quais o trabalho poderia interagir ou ser fruído, partindo
exatamente do ponto onde é colocado. Uma obra perturba o ambiente no qual é inserida: além das "dinâmicas
de reação" que ela poderia desencadear, contam as "dinâmicas de relação" e as "mutações na percepção". Em
maior razão em um lugar familiar".
FONTANA Sara; GIUSTACCHINI Enrico. Buren e l’utensile visivo. Revista virtual Oggi 7, 10 de agosto de 2008.
Acessado em: http://www.oggi7.info/2008/08/21/1235-buren-e-l-utensile-visivo. Trecho traduzido por Tiago
Giora.
11
POINSOT, Jean Marc. “L’in-situ et la circonstance de sa mise en vu [au] musée”. Les Cahiers du Musée
National d’Art Moderne Centre Georges pompidou, n.28, 1989. Apud JUNQUEIRA, Fernanda. In: Revista Gávea
n.14. Rio de Janeiro: PUC. Setembro de 1996, p.571.
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Em sua produção
textual, Daniel Buren dá
seqüência às considerações
sobre a arte na cidade e
expõe suas idéias a respeito
do papel dos museus e
galerias, sobre o lugar da
arte na sociedade e as
relações entre a intervenção
e o contexto humano e
espacial. Estes textos foram
sendo produzidos
paralelamente a uma serie
de intervenções urbanas nas
quais o artista investiga o
assunto à luz de sua
definição de in-situ e a partir
de suas próprias propostas
assim como das obras de
Richard Serra: Tilted Arc, Federal Plaza, NY, 1981
outros artistas. A instalação
Tilted Arc (1981) de Richard Serra12; constitui uma situação exemplar e nos
permite discutir essas questões sob os pontos de vista de mais de um dos
autores trabalhados nesta pesquisa.
12
Richard Serra, escultor, desenhista e vídeo –maker americano. Nascido em São Francisco em 1939, estudou
nas universidades da Califórnia e de Yale. Estabeleceu-se em Nova York onde conheceu Eva Hesse, Steve
Reich, Judd, Nauman e outros. Trabalho inicialmente com borracha, incluindo peças penduradas ou
emaranhados; a partir de 1969 passou a interessar-se primordialmente em cortar, apoiar ou empilhar placas
de aço, madeira rústica, etc... Para criar estruturas, algumas muito grandes, suportadas apenas por seu próprio
peso. Desde 1970-1, tem produzido varias peças em larga escala e peças "ambientais", assim como desenhos
monumentais em carvão ou bastão de tinta. Fonte: http://www.tate.org.uk/servlet/ArtistWorks.
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Essa atitude prova que, pelo menos neste caso, ele não esgotou até o
fim as exigências que uma obra in-situ requer de seus executores, uma
vez que, tanto quanto o autor da encomenda, aparentemente não
estudara os usos e costumes do lugar em questão. Sem essa
negligencia, teria notado que sua obra obrigaria os habituais
freqüentadores do lugar a fazer um desvio, e que esse fato seria
matéria de discussão13.
13
Daniel Buren, ""Textos e entrevistas escolhidos", (1967-2000), p.170.
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noções voltadas à racionalidade e à história. Não fosse talvez o fato de que ela
ter sido instalada diretamente em uma passagem de pedestres e relacionando-
se com o espaço urbano. Esse terreno sem molduras, livre da mediação
institucional da arte promovida pelos museus, galerias e afins; tem sido um dos
ambientes preferenciais das correntes que visam tecer relações mais íntimas
com a vida cotidiana. É o território por excelência da contaminação dos meios
e, assim, torna-se difícil para muitos artistas e críticos tais como Buren, devolver
ao objeto artístico, a autonomia temporal e funcional já rejeitada pelas
propostas contextuais.
Da perspectiva de Serra a questão parece ser enfrentada de um ponto de vista bem mais
formalista: os espaços são vistos como tabuleiros onde o artista atua livremente segundo sua
vontade criativa. O peso do aço, o modo de sustentação das placas, o recorte no espaço e a
presença maciça da gigante placa curvada são elementos importantes em muitos dos seus
trabalhos urbanos e atuam em conjunto para construir uma visualidade muito potente que
interage na paisagem de forma impactante. A própria escala da obra de Serra já sugere que a
convivência com o público seria dificilmente neutra e pacífica. Parece realmente claro que o
observador para ele é considerado enquanto um corpo que se move no espaço, matéria que
interage e se distorce enquanto percorre a obra com olhos e pernas.
14
IBID, p. 171.
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pessoas se estruturam em relação ao espaço enquanto elas caminham. Elas se tornam o sujeito
de sua própria experiência" (Serra, 2008. Declaração colhida em entrevista do artista no circuito
"Fronteiras do Pensamento", Porto Alegre, Brasil).
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Imagens:
Imagem 01
Bruce Nauman: Corridor, 1968-70. Corredor com circuito interno de TV. 518cm
x 1219cm x 91,44cm. Coleção Dr. Giuseppe Ponza. (Foto Rudolph Burckhardt).
Fonte: KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo:
Martins Fontes, 1998, p. 287.
Imagem 2
Carl Andre: 37 Pieces of Work, 1969.Alumínio, cobre, aço, chumbo, magnésio
e zinco. Dimensões totais 10,97m x 10,97m: 1296 unidades, 216 de cada
metal, cada unidade 30,5cm x 30,5cm x 1,9cm. Coleção Dwan Gallery, Nova
York. Como instalada para a exposição 'Carl Andre' no piso de rotunda do
Museu Salomon R. Guggenheim, Nova York. (Foto: Robert E. Mates e Paul
Katz).
Fonte: ARCHER, Michael. Art since 1960. London: Thames & Hudson, 2002, p.
57.
Imagem 3
Gordon Matta-Clark: Office Baroque, Antuérpia, Bélgica, 1977. Intervenção em
pisos e paredes de um edifício. Espolio de Gordon Matta-Clark.(Foto: Gordon
Matta-Clark).
Fonte: GORDON MATTA-CLARK. Londres: Phaidon, 2003, p.115.
Imagem 4
Richard Serra: Tilted Arc, Federal Plaza, Nova York 1981. Aço Cor-tem 3,66m x
36,60m x 6.25cm. Coleção The Place Gallery, Nova York.
Fonte: HUGHES, Robert. The shock of the new. Londres: Thames & Hudson,
1991, p. 370.
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REFERÊNCIAS:
Archer, Michael. Art since 1960. London: Thames & Hudson, 2002.
Hughes, Robert. The shock of the new. Londres: Thames & Hudson, 1991.
Klabin, Mangia (Org.). Richard Serra. Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio
Oiticica, 1997.
Kwon, Miwon. One place after another: site specific art and locational identity.
Cambridge/London: MIT Press, 2002.
Warr, Tracey; JONES, Amelia (Org.). The artist's body, themes and
movements. London: Phaidon, 2000.
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