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6.1. Princípio da autonomia da vontade

‘’O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla


liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus
interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela
ordem jurídica. Têm as partes a faculdade de celebrar ou não contratos, sem
qualquer interferência do Estado. Podem celebrar contratos nominados ou
fazer combinações, dando origem a contratos inominados’’. (p.46)

‘’A liberdade contratual é prevista no art. 421 do atual Código Civil, já


comentado (v. Função social do contrato, n. 3, retro), nestes termos: A
liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato. Preceitua ainda o art. 425:É lícito às partes estipular contratos
atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código” (p.46)

6.2. Princípio da supremacia da ordem pública

‘’Em suma, a noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes


constituem freios e limites à liberdade contratual. No campo intervencionista,
destinado a coibir abusos advindos da desigualdade econômica mediante a
defesa da parte economicamente mais fraca, situa-se ainda o princípio da
revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva, baseado na teoria da
imprevisão, regulado nos arts. 478 a 480.’’ (p.51)

6.3. Princípio do consensualismo

‘’De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para o aperfeiçoamento


do contrato, o acordo de vontades, contrapondo-se ao formalismo e ao
simbolismo que vigoravam em tempos primitivos. Decorre ele da moderna
concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades,
independentemente da entrega da coisa’’ (p.51)

‘’A compra e venda, por exemplo, quando pura, torna-se perfeita e obrigatória,
desde que as partes acordem no objeto e no preço (CC, art. 482). O contrato já
estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o preço
oferecido pela coisa, independentemente da entrega desta. O pagamento e a
entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações
assumidas pelos contratantes (CC, art. 481)’’. (p.52)

6.4. Princípio da relatividade dos efeitos do contrato

‘’Mostra-se ele coerente com o modelo clássico de contrato, que objetivava


exclusivamente a satisfação das necessidades individuais e que, portanto, só
produzia efeitos entre aqueles que o haviam celebrado, mediante acordo de
vontades. Em razão desse perfil, não se poderia conceber que o ajuste
estendesse os seus efeitos a terceiros, vinculando-os à convenção’’. (p.54)

‘’Essa a situação delineada no art. 928 do Código Civil de 1916, que


prescrevia: A obrigação, não sendo personalíssima, opera assim entre as
partes, como entre seus herdeiros”. (p.54)

‘’{...} A propósito, foi aprovada conclusão, na “Jornada de Direito Civil” já


mencionada (v. nota 9, retro): “A função social do contrato, prevista no art. 421
do atual Código Civil, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da
relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela
externa do crédito” (p.55)

6.5. Princípio da obrigatoriedade dos contratos

O aludido princípio tem por fundamentos: a) a necessidade de segurança nos


negócios, que deixaria de existir se os contratantes pudessem não cumprir a
palavra empenhada, gerando a balbúrdia e o caos; b) a intangibilidade ou
imutabilidade do contrato, decorrente da convicção de que o acordo de
vontades faz lei entre as partes, personificada pela máxima pacta sunt
servanda (os pactos devem ser cumpridos), não podendo ser alterado nem
pelo juiz. Qualquer modificação ou revogação terá de ser, também, bilateral. O
seu inadimplemento confere à parte lesada o direito de fazer uso dos
instrumentos judiciários para obrigar a outra a cumpri-lo, ou a indenizar pelas
perdas e danos, sob pena de execução patrimonial (CC, art. 389). (p.56)

A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa


por caso fortuito ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do
Código Civil. (p.56)
6.6. Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva

A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em


presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida,
a existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a
obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação
de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos
extraordinários (uma guerra, p. ex.), que tornem excessivamente oneroso para
o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da
obrigação, parcial ou totalmente.(p.58-59)

Na realidade, a cláusula rebus sic stantibus e a teoria da imprevisão eram


aplicadas entre nós somente em casos excepcionais e com cautela, desde que
demonstrados os seguintes requisitos: a) vigência de um contrato comutativo
de execução diferida ou de trato sucessivo; b) ocorrência de fato extraordinário
e imprevisível; c) considerável alteração da situação de fato existente no
momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da
celebração; d) onerosidade excessiva para um dos contratantes e vantagem
exagerada para o outro.

‘’Na realidade, a cláusula rebus sic stantibus e a teoria da imprevisão eram


aplicadas entre nós somente em casos excepcionais e com cautela, desde que
demonstrados os seguintes requisitos: a) vigência de um contrato comutativo
de execução diferida ou de trato sucessivo; b) ocorrência de fato extraordinário
e imprevisível; c) considerável alteração da situação de fato existente no
momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da
celebração; d) onerosidade excessiva para um dos contratantes e vantagem
exagerada para o outro’’ (p.60)

‘’O Código de 2002 dedicou uma seção, composta de três artigos, à resolução
dos contratos por onerosidade excessiva. Dispõe, com efeito, o art. 478 do
referido diploma: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema
vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação”. (p.60-61)
6.7. Princípio da boa-fé e da probidade

Preceitua o art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar,
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé”. (p.64)

6.7.1. Boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva

O princípio da boa-fé se biparte em boa-fé subjetiva, também chamada de


concepção psicológica da boa-fé, e boa-fé objetiva, também denominada
concepção ética da boa-fé.

A boa-fé subjetiva esteve presente no Código de 1916, com a natureza de


regra de interpretação do negócio jurídico. Diz respeito ao conhecimento ou à
ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, sendo levada em
consideração pelo direito, para os fins específicos da situação regulada. Serve
à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito,
apesar de ser outra a realidade. (p.64-65)

‘’Num primeiro plano, a boa-fé subjetiva implica a noção de entendimento


equivocado, em erro que enreda o contratante. Aduz JUDITH MARTINS-
COSTA que a situação é regular e essa sua ignorância escusável reside no
próprio estado (subjetivo) da ignorância (as hipóteses de casamento putativo,
da aquisição da propriedade alheia mediante a usucapião), seja numa errônea
aparência de certo ato (mandato aparente, herdeiro aparente etc.)” (p.64-65)

6.7.2. Disciplina no Código Civil de 2002

{...} Art.422 (“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do


contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”). (p.66-
67)

‘’Os demais são: o art. 113 (“Os negócios devem ser interpretados conforme a
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”) e o 187 (“Também comete ato
ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costume)”.(p.67)
6.7.3. Proibição de venire contra factum proprium

‘’Uma das principais funções do princípio da boa-fé é limitadora: veda ou pune


o exercício de direito subjetivo quando se caracterizar abuso da posição
jurídica’’ {...} (p.70)

‘’Na IV Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal foi
aprovado o Enunciado 362, que assim dispõe:A vedação do comportamento
contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da
confiança, tal como se extrai dos artigos 187 e 422 do Código Civil”. (p.71)

6.7.4. Suppressio, surrectio e tu quoque

“aquele que descumpriu norma legal ou contratual, atingindo com isso


determinada posição jurídica, não pode exigir do outro o cumprimento do
preceito que ele próprio já descumprira (tu quoque). O condômino que viola a
regra do condomínio e deposita móveis em área de uso comum, ou a destina
para uso próprio, não pode exigir do outro comportamento obediente ao
preceito (...) Faz-se aqui a aplicação do mesmo princípio inspirador da exceptio
non adimpleti contractus: quem não cumpriu o contratado, ou a lei, não pode
exigir o cumprimento de um ou outro”. Ou seja, o tu quoque veda que alguém
faça contra o outro o que não faria contra si mesmo. (p.72)

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