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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. do grego de António de Castro Caeiro, São Paulo:
Atlas, 2009, pp. 103 - 127
ABSTRACT: This review aims to clarify the Concept of Justice in Aristotle. According him
there are two forms of General Justice and three special forms of Justice. Examples were
detailed and exposed to show Aristotle in a more didactic fashion. Besides were approached
the concepts of middle-term, dialectics, applied to the Concept of Justice with the forms of
proportionality that enable enforcement of Justice.
1
Resenha recebida em 30/05/2015 e aprovada em 06/09/2015.
2
Graduanda em Direito pela Faculdade de Castanhal – FCAT, 6º. Semestre. Monitora de Filosofia do Direito e
Filosofia Geral, ano de 2015.
3. Professor Adjunto de Ética, Hermenêutica e Teoria do Direito da Universidade Federal do Pará – UFPA.
Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 125-138, jul./dez., 2014 | | 125
Sobre o Livro V do Ética a Nicômaco de Aristóteles
justiça particular), e com isto, conseguiu fazer com que esta virtude fosse aplicada em todas
as vertentes de um sistema natural. O principal escopo do presente trabalho é, portanto,
mostrar de que forma Aristóteles concebeu a justiça, tendo como foco a justiça particular,
bem como elucidar os limites e possibilidades da sua concepção do justo.
O estudo da justiça também interfere na compreensão do direito, haja vista que aquela
é uma das formas de legitimar o direito dentro da sociedade na qual este se aplica. É quase
impossível aplicar normas jurídicas sem se questionar acerca da natureza da lei que está sendo
aplicada, ou seja, se a mesma é justa ou não. Aplicar o direito sem considerar as questões
abordadas pelo estudo da justiça é concebê-lo de forma incompleta, uma vez que aplicar e
criar leis sem ter como um dos princípios norteadores a ideia de justo, é conceber o direito
como um simples conjunto de normas.
No curto espaço disponível para esta apresentação da teoria da justiça de Aristóteles,
apenas poucos aspectos, sobretudo, aqueles vinculados ao livro V do livro Ética a Nicômaco,
serão abordados. A intenção de uma resenha, contudo, não é simplesmente resumir toda a
obra resenhada, mas, ao revés, desenvolver uma breve análise crítica sobre questões
fundamentais do trabalho estudado. Eis o desafio deste estudo: apresentar ao leitor de uma
obra clássica, uma visão crítica dos seus principais elementos, que, ao mesmo tempo, preserve
o seu caráter clássico. Para tanto, analisar-se-á, sobretudo, a justiça particular, a saber, o
problema da igualdade na esfera dos bens exteriores. O livro V da Ética a Nicômaco é, por
conseguinte, o determinante. A ideia é explicar as subdivisões da justiça particular em
Aristóteles e trazer um exemplo para a sua elucidação. Por fim, destaca-se, como grande
contribuição deste trabalho, os esquemas ou imagens apresentadas no texto. Estas podem ser
de grande valia para uma melhor compreensão da teoria aristotélica, na medida em que
possibilitam um olhar amplo e uma interpretação iconográfica dos conceitos de justiça em
Aristóteles.
2 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Antes que possamos adentrar na análise do objeto de estudo principal deste trabalho,
que foi proposto acima, faz-se mister abordar, muito brevemente as questões discutidas por
Aristóteles nos livros anteriores ao quinto, (mais especificamente os dois primeiros), da obra
Ética a Nicômaco, na medida em que o entendimento de algumas questões nestes contidas
ajudam sobremaneira na compreensão do livro V.
Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 125-138, jul./dez., 2014 | | 126
COSTA, Lorena da S. B; MATOS, Saulo M. M.
puramente intelectiva e, quando uma virtude diz respeito unicamente a esta parte da alma
dizemos que é uma virtude dianoética. Por outro lado, quando a virtude consiste no controle
da parte racional à parte sensitiva temos uma virtude ética, tal como a coragem ou a justiça.
(REALE, 2013)
Assim, se um indivíduo age de forma corajosa, se tornará corajoso, se sempre tem atos
de covardia então se tornará covarde. O hábito poderá gerar, portanto, atitudes conforme a
excelência e contrárias a esta. Além disso, para que o indivíduo pratique a excelência é
necessário que ele saiba e planeje agir desta maneira. As excelências também se configuram
por serem disposições de caráter, ou seja, dizem respeito ao modo como um indivíduo se
comporta quando fica com raiva ou sente piedade. (ARISTÓTELES, 2009)
Por fim, mostra-se útil esclarecer como o ser humano pode encontrar a excelência.
Aqui apresentaremos tal definição no que concerne as virtudes éticas como um todo, mas
trataremos esta questão de forma específica mais adiante quando a abordamos dentro do
estudo da justiça. As virtudes éticas se caracterizam por serem o meio termo entre dois
extremos, um por falta e o outro por excesso. Este meio termo não é absoluto, mas relativo ao
indivíduo. A coragem, por exemplo, se constitui por ser o meio termo entre a covardia e a
temeridade. É evidente que existirão certas ações que não permitirão a existência de um meio
termo como, por exemplo, a inveja. Não há como existir um meio termo neste tipo de ação
porque esta será sempre ruim. Os dois extremos de perversão, ou seja, o por excesso e o por
falta, são opostos entre si, e opostos ao meio termo. (ARISTÓTELES, 2009)
Entendidas essas bases do sistema ético de Aristóteles ficará mais claro entender o que
é a justiça, uma vez que está é a virtude que o estagirita considera como a mais importante.
fundamental de toda a ordem social, sendo sua presença em uma comunidade imprescindível
para o estabelecimento de uma sociedade minimamente harmônica. Platão amplia este
conceito de justiça. Concebendo-a como reguladora de algo maior, ou seja, não se
restringindo somente à esfera social. A justiça, para Aristóteles, é a disposição, ou seja, uma
aptidão do homem para querer agir de forma justa e tem como base uma escolha voluntária.
Além disto, possui a característica de ser um meio termo, ou seja, não admite contrários, ou
uma ação é justa ou é injusta, a justiça só possui meio termo quando é aplicada, consistindo
este último justamente na forma de efetiva-la, tal explicou-se no primeiro no tópico anterior.
Fonte: Autores
por excesso e por falta. O homem justo sempre escolherá o meio termo, o homem injusto
violará tal proporção. (HÖFFE, 2003). O meio termo pode ser entendido por meio da imagem
abaixo:
FÍGURA -3: O meio termo
Fonte: Autores
6 DA JUSTIÇA DISTRIBUTIVA.
A partir disto, Aristóteles procura estabelecer uma fórmula que possa ser usada para
determinar a justa repartição das honras e riquezas dentro de uma comunidade. Aqui, por
honras deve-se entender a repartição de cargos públicos e por riquezas os bens arrecadados
pela comunidade. Considerando que maneira de repartir os bens deve ser uma proporção
geométrica, isto é, descontinua, então, o justo seria determinado pela razão entre os
indivíduos mais os bens, que deve ser igual à razão do mérito dos indivíduos. Tem-se
portanto: (A+C)/(B+D)=A/B. (LIVET, 2009). Neste caso, haveria uma distribuição justa, uma
vez que, na mesma fórmula foram consideradas tanto a igualdade entre os bens quanto o
mérito daqueles que os receberam. A injustiça surge, então, quando duas pessoas que
possuem méritos diferentes recebem a mesma coisa, ou quando duas pessoas possuem méritos
iguais e recebem coisas diversas. (ARISTÓTELES, 2009)
Em relação à razão entre o mérito dos indivíduos, faz-se tecer um breve comentário
acerca da disposição entre esta razão entre os indivíduos e a fairness desenvolvida, sobretudo,
pela filosofia inglesa. Esta se caracteriza por negar o caráter absoluto da aplicação da
igualdade como forma de eliminar qualquer forma de desigualdade. Para esta corrente
filosófica é possível aceitar a desigualdade se os fundamentos desta forem suficientes para
justificá-la. Para Rawls (apud. LIVET, 2009), por exemplo, o mérito, que tem a possibilidade
de estar ligado a uma combinação aleatória, não deve ser aceito como fundamento para a
desigualdade. Os modelos socioeconômicos, entretanto, são uma forma de fundamentar e
justificar a desigualdade. Pois, é necessário, nestes casos, a existência de uma classe
subordinada responsável por manter a economia, o que pode ser aferido ao longo da história
da humanidade.
7 DA JUSTIÇA CORRETIVA.
8 DA JUSTIÇA DE TROCA.
8.1 EXPLICAÇÃO DA JUSTIÇA DE TROCA.
9 CONCLUSÃO
considerar as diferenças entre os indivíduos: entender, e aceitar, que deve existir uma
diferença na distribuição, e que esta diferença deve considerar a natureza de cada indivíduo.
Um dos princípios adotados por Aristóteles (considerar as desigualdades entre os
indivíduos e distribuir os bens levando em consideração os méritos de cada um) é aplicável, e
prova disto são as legislações especiais criadas justamente para amparar grupos menos
favorecidos, como crianças e adolescentes, por exemplo. A justa distribuição é problemática
até hoje, seja por conta do esquecimento de certas camadas da sociedade ou por causa da
dificuldade de conceber a aplicação de um único princípio para que a distribuição seja
realizada de forma correta. A filosofia de Aristóteles, apesar de não conseguir resolver estes
problemas em sua totalidade, nos aponta os caminhos para que tais problemas sejam
dirimidos.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Atlas, 2009, pp. 103 - 127
HÖFFE, O. Aristotle. New York: State University of New York Press, 2003.
REALE, G. História da filosofia grega e romana: Aristóteles. 2ª ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2013. V.4.