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A TRAGÉDIA DE ROMÉLIA E JULIÃO

(ALELUIA E AXÉ)

“Duas casas, iguais em dignidade - na formosa Verona vos dirão - reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas
sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos
pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que
teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a
contento. “

A TRAGÉDIA DE ROMÉLIA E JULIÃO (ALELUIA E AXÉ) é um longa


metragem que adapta o clássico A Tragédia de Romeu e Julieta situando-o em uma
comunidade carioca fictício. O filme empodera os artistas cênicos afrodescendentes de
comunidade, em especial as atrizes negras de favela ao subverter os gêneros dos
personagens de Shakespeare. O filme ainda se debruça sobre velada “guerra santa” que
algumas igrejas fundamentalistas neopentecostais brasileiras travam contra as religiões
brasileiras de matrizes africanas e a reação de preconceito que “macumbeiros” têm
contra os “evangélicos”.

Filmado basicamente no Morro Santa Marta, o longa se passa no Rio de Janeiro dos dias
de hoje e possui captação de imagens em diversas bitolas – 16mm, HDV etc. e terá
como suporte final de exibição a película de 35mm.

SINOPSE
Tudo começa no Morro da Verona, onde dois influentes templos religiosos eram
inimigos de morte. Capuleta, uma igreja cristã fundamentalista neopentecostal, de um
lado; e Montecchia, uma casa de santo de religião brasileira de matriz africana, de outro,
viviam em constantes guerras. O conflito se estende onde, por um lado, na força que a
igreja tenta salvar e convencer fiéis e, n outro, a casa de santo resiste e tenta manter sua
tradição e hierarquia. Suas senhoras, antes amigas de infâncias, separadas pelas suas
crenças, são apenas um exemplo de um conflito que alcança a todos dentro da
comunidade. Cansada dessas disputas e querelas que prejudicavam a vida dos habitantes
da favela, Escala, a Presidenta da Associação de Moradores do Morro da Verona
declara que qualquer atentado ao sossego e à paz seria punido com o banimento do
morro do ofensor, o que pra seus moradores é o mesmo que a morte.
Entre o toque do tambor, o pagode na laje, a praia na zona sul, a roda de jongo
na praça, o baile na quadra da comunidade, o boteco da entrada do morro e agora
vivendo abismada pelo amor pelo “novinho” Rosalino, Romélia, filha de Mãe
Montecchia, vai aconselhar-se com a sua prima Benvólia (que sabe a preocupação dos
pais de Romélia para com a prima) a qual acha que “Rô” deve procurar esquecer o
objeto de seus amores e para isto, deveria ir, “montada e causando, só de zoeira”, à festa
das “crentes” Capuletas. Romélia assim o faz, acompanhada de seu bonde, entre elas
sua melhor amiga, a divertida Merccutia, prima da Presidenta Escala e membro da mesa
do conselho da Associação. Tendo conseguido penetrar o templo dos inimigos de sua
família de santo, lá se vê logo atraída por um jovem do coral da igreja com o canto mais
lindo que ela já ouviu. Merccutia informa Romélia que trata-se de Julião, filho da
Pastora Capuleta , e esta sente-se desapontada pensando na inutilidade de sua nova
paixão. Entretanto, Julião, agindo da mesma maneira que Romélia, pergunta ao seu
Professor de Canto, pelo nome da jovem por quem, também, se sente logo atraído e fica
sabendo tratar-se de alguém inimigo da obra de sua família, com o qual sua mãe nunca a
deixaria casar-se. Enquanto isto acontecia, Teobalda, prima de Julião, reconhece
Romélia mas é impedido de fazer qualquer dano à intrusa pela velha Pastora Capuleta,
que, dissimulada, diz respeitar as leis da hospitalidade, não lhe permitindo desprestigia-
las ali, sugerindo que a faça em outro lugar e outro momento.
Fingindo ir embora e se afastando de seu bonde, a apaixonada Romélia,
consegue penetrar o quintal das Capuletas e ouve a confissão de Julião, que, não
podendo fazê-lo pessoalmente à sua amada, conta às estrelas sua paixão. Romélia revela
sua presença e Julião, dominados pela paixão, flertam e namoram e por fim resolvem
casar-se. No dia seguinte, no colégio público ao lado do Morro, com a ajuda da Diretora
e professora de química Lourença, é realizado o enlace em forma de uma declaração de
União Estável a ser lavrada em cartório, isso tudo pois a professora, amiga de Romélia,
pensa que, com aquele documento oficial, poderia fazer a paz entre os dois templos.
De volta da assinatura, Romélia encontra com seu bonde, entre elas Benvólia e
Merccutia, em briga com Teobalda e as legionárias do templo. A prima de Julião estava
na verdade à procura de Romélia para tomar-lhe satisfação pela sua ingerência na festa
da Igreja. Imediatamente, Teobalda desafia Romélia que não responde à provocação,
lembrando-se que estava na presença de um parente do seu esposo secreto. Merccutia,
entretanto, que não pode compreender a causa da fraqueza de Romélia, aceita o desafio
e, quando Romélia e Benvólia procuram apartar as duas duelistas, Merccutia é morta, o
que faz com que Romélia, em fúria, também mate Teobalda. A Presidenta Escala bane a
infratora da lei, que se refugia na escola pública da Diretora Lourença, onde recebe um
recado de Julião através do Professor de Canto, com o aviso de que o fosse ver naquela
noite. Romélia assim o faz, entrando na comunidade escondida, indo para o quarto de
Julião onde os dois consolidam a sua união, fazendo amor até o nascer da aurora e por
fim Romélia foge para o Morro de Mântua. Os pais de Julião, liderados pela Pastora,
vendo a aflição do jovem, pensam tratar-se de dor pela morte da prima e resolvem casá-
lo com Páris, outra prima da Presidente Escala.
Julião, desesperado, com ajuda do Professor de Canto procura a Diretora
Lourença, que o aconselha a fingir a aceitar o casamento e lhe dá um remédio com o
qual, depois de toma-lo, pareceria morto. Sua família obreira, acreditando realmente que
ele tivesse falecido, o coloca no tumulo das Capuletas, onde Romélia iria encontra-lo.
Julião aceita o plano da Diretora Lourença e tudo acontece como fora previsto: Toma o
remédio, cai em estado de letargia e as Capuletas, acreditando-o morto, promovem o
enterro do jovem.
Mas o celular de Romélia está sem bateria, e esta corre para uma lanhouse mas
sua conta na rede social da comunidade foi bloqueada e, portanto a mensagem de áudio
da Diretora Lourença não chega ao seu destino. Romélia ainda na lanhouse sabe da
morte de Julião por outra fonte virtual. Desesperada, resolve arriscar sua vida. Compra
um mortal veneno com uma farmacêutica do Morro da Mântua e volta para o Morro da
Verona. Chegando ao túmulo das Capuletas, encontra-se com Páris que lá fora colocar
flores no tumulo de seu noivo. Nova luta e Romélia mata Páris. Entrando na sepultura,
Romélia bebe o veneno que trouxera e morre diante do corpo de Julião, a quem ela julga
morto. Julião acorda no ultimo segundo de vida de sua amada e vê horrorizado a morte
a sua esposa. Apanhando a faca da luta com Páris, ainda suja de sangue, que Romélia
deixara caída no chão, ele se mata, igualmente, com a arma de sua amada. Entram as
duas famílias religiosas e a Diretora Lourença que relata o sacrifício dos dois amantes
em razão do ódio existente entre suas famílias; Arrependidas, apertam as mãos na
presença da Presidente Escala e jurando em nome de Deus Senhor Jesus Cristo e de
todos os Orixás, Voduns, Inkices, Catiços e Encantados esquecerem para sempre as
inimizades existentes entres as duas Casas.
PERSONAGENS

Romélia

Filha único da Mãe Montecchia, seu nome significa romance, e o seu personagem está
associado ao amor. Quando conhecemos no Ato 1, cena 1, ela está apaixonado por
Rosaline; mas quando ele vê Julião, ela se apaixona imediatamente por ele. “Meu
coração amou antes de agora? Essa visão rejeita tal pensamento, pois nunca tinha eu
visto a verdadeira beleza antes dessa noite.", diz Romélia. A paixão de Romélia é a sua
trágica falha que causa a destruição. Ela não pode revelar seu casamento com Julião
quando desafiado por Teobalda, mas ela também não pode derrotá-lo. Seu segredo
causa a morte de Merccutia e Teobalda, que o que causa seu exílio. Durante seu exílio,
ela descobre sobre a aparente morte de Julião, e incapaz de sobreviver sem ele,
envenena-se.

Núcleos: Casa de Santo, Família carnal de Mãe Montecchia, “o Bonde”

Julião

A filha única da Pastora Capuleta, Julião, vai da obediência à provocação durante o


filme, tudo para enfatizar seu amor por Romélia. Depois da consumação do casamento,
Romélia é colocada em exílio, e os pais de Julião, contra a sua vontade, tentam forçá-lo
a um casamento bígamo com Páris. Incapaz de desafiar seus desejos, ele toma uma
poção do sono para fingir sua morte, planejando mandar uma mensagem para Romélia.
Quando acorda, vê que Romélia, acreditando em sua morte, envenenou-se, ele então se
mata com a faca de sua amada.

Núcleos: A Igreja Evangélica, Família carnal da Pastora Capuleta, o Coro da igreja

Diretora Lourença da Escola Pública

Lourença, De certa forma uma mentora de Romélia, apesar de ser neutra ao conflito dos
dois templos. Ex-professora de biologia é agora diretora da escola pública aos pés do
morro, desenvolve um importante papel no longa. Ela concorda em ajudar a união
estável lavrada em cartório dos amantes em segredo, esperando que o casamento deles
acabaria com as brigas entre as famílias dos dois templos. "Que essa aliança feliz
consiga transformar o rancor de suas famílias em puro amor", diz ela. Ela também dá a
poção do sono para que Julião finja a sua própria morte, porém não entrega a mensagem
de voz a Romélia a tempo de evitar suas mortes.

Núcleos: A Escola Pública

Merccutia

Merccutia é membro da mesa diretora da Associação de Moradores do Morro da


Verôna, é o prima da Presidenta da Associação de moradores e melhor amiga de
Romélia. Seu nome significa mercurial, que reflete seu temperamento mutável e
explosivo. Ela é espirituosa e engaçada, mas perde a paciência facilmente. Ela luta com
Teobalda para não deixar que Romélia pareça covarde, mas é machucada e morre. Na
hora de sua morte ela amaldiçoa tanto as Capuletas como os Montecchias, dizendo
"Uma praga em suas casas". Essa maldição é um importante ponto de mudança na peça
e representa o momento de virada de comédia para tragédia.

Núcleos: Associação de Moradores, Casa de Santo, “o Bonde”

Teobalda

Teobalda, “a princesa dos gatos” é prima de Julião e está comprometido a manter a


tradição de hostilidade entre os Capuletas e os Montecchias. Como personagem
importante, cada cena em que elea aparece serve para aflorar o conflito na peça. Ela
começa uma briga com Benvólia que faz com que a Presidenta da Associação de
Moradores decrete o banimento da comunidade a qualquer um que brigue em público.
Depois ela jura revanche a Romélia por ir à festa das Capuletas sem ser convidada. Sua
morte no leva ao exílio de Romélia e falsa morte de Julião. Ela anda com um grupo de
meninas obreiras chamadas as Legionárias do Templo.

Núcleos: A Igreja Evangélica, Família carnal da Pastora Capuleta, “as Legionárias”.

Benvólia

Sobrinha da Mãe Montecchia e prima de Romélia. Benvólia é a consciência de Romélia


pois de fato é uma grande conselheira da prima, pois é a quem segue mais fielmente os
ensinamentos ancestrais da Mãe de Santo e da tradição de sua religião. Ela detesta o
feudo entre os templos, tentando inutilmente convencer Teobalda a não puxar briga
tanto com ela quanto contra Romélia e Merccutia.

Núcleos: Casa de Santo, Família carnal de Mãe Montecchia, “o Bonde”

Presidenta Escala da Associação de Moradores do Morro da Verôna

A conciliadora entre a guerra entre os dois templos é a tentativa da ética em pessoa.


Incorruptível e inabalável, ela enfrenta e administra a justiça entre os conflitantes, em
tempos de paz visitando tanto a igreja quanto a casa de santo.

Núcleos: Associação de Moradores

Professor de Canto

Assim como a Diretora Lourença é neutra ao conflito dos dois templos mas é a mentora
de Romélia, assim o Professor de Canto está para Julião. Entrando na comunidade
quando o filho da Pastora Capuleta havia recém nascido, fora contratada por uma ONG
para fazer um trabalho social usando a música como ferramenta catalizadora de
mudanças. A ONG ficou alguns meses, mas foi logo embora com o dinheiro que havia
ganhado de incentivo para o trabalho social. O Professor havia se afeiçoado à
comunidade e ao menino Julião, optando por usar seus horários livres e doar a
continuação de suas aulas ganhando o espaço da Igreja para fazê-lo conquanto ensaiasse
o coral da mesma. Este é o único personagem não nascido na comunidade, mas que
optou por vontade própria frequentar a favela e continuar seus ensinamentos artísticos.
Núcleos: A Igreja Evangélica

Páris

Assim como Merccutia Páris é membro da mesa diretora da Associação de Moradores


do Morro da Verôna, é a prima da Presidenta da Associação de moradores. Linda,
influente na comunidade, mas um tanto egocêntrica, ela é a mais nova ungida pela obra
da Pastora Capuleta, que planeja casa-la com seu filho para que seja a perfeita esposa do
pastor perfeito. Páris sabe do plano e se envaidece de ser a escolhida da pastora
realmente se afeiçoa por Julião quando sabe de sua morte e ao lutar com Romélia no
tumulo de seu amado tem seu desejo concedido de morrer junto de seu grande amor.

Mãe Montecchia

Mãe de Romélia e Mãe de Santo do Templo de religião brasileira de matriz africana. É


inimiga direta da Pastora Capuleta desde sua iniciação (feitura no santo), porém antes
disso, quando ainda criança, eram amigas de brincadeiras na praça. Mãe Montecchia
representa ao mesmo tempo a tradição e a dificuldade de dialogar contra o preconceito
dos torna-se de oprimida para opressora dos “evangélicos”. Nutre, entretanto um amor
imenso para com a filha e tenta aconselha-la através de sua sobrinha Benvólia.

Núcleos: Casa de Santo, Família carnal de Mãe Montecchia

Pastora Capuleta

Mãe de Julião e Pastora do Templo fundamentalista Neopentecostal. Comandada a obra


que lhe fora dada de catequisar a comunidade para sua religião, oprimindo e
demonizando qualquer outra prática religiosa em especial a “macumba” da sua inimiga
Mãe Montecchia. Pastora Capuleta acredita saber o que é melhor tanto para a
comunidade quanto para Julião, tentando casa-lo com Páris e apesar do seu amor pelo
filho chega até dar um ultimato quando este, secretamente angustiado com o exilio de
Romélia, renega o pedido de matrimonio com a prima da Presidenta.

Núcleos: A Igreja Evangélica, Família carnal da Pastora Capuleta

Outros personagens:

- Ogã esposo de Mãe Montecchia

- Ungido esposo da Pastora Capuleta

- outros irmãos da casa de santo

- outros obreiros da igreja evangélica

- meninas do Bonde da Romélia

- Legionárias do grupo da Teobalda

- outros membros da mesa diretora


- a farmacêutica do Morro de Mântua.

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