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FACULDADE SANTO AGOSTINHO

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM PRÁTICA CÍVEL, PREVIDENCIÁRIA E


TRABALHISTA

GABRIELA SILVA SANTOS

Liquidação e execução da sentença trabalhista

ITABUNA - BAHIA
2019
GABRIELA SILVA SANTOS

Liquidação e execução da sentença trabalhista

Trabalho apresentado como requisito para


obtenção da nota da disciplina Prática
Jurídica – Peças 2, módulo de 27 e 28 de
setembro de 2019 do Professor José Cairo
Júnior.

ITABUNA - BAHIA
2019
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
1. Da liquidação da sentença trabalhista ...................................................... 5
1.1 Liquidação por cálculo ........................................................................................... 5
1.2 Liquidação por arbitramento .................................................................................. 6
1.3 Liquidação por artigos ............................................................................................ 7
2. Da execução da sentença trabalhista ........................................................ 8
2.1 Princípios basilares ................................................................................................ 8
2.2 Defesa do executado .............................................................................................. 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 11
INTRODUÇÃO

O Direito do trabalho é um ramo em evolução tendo em vista a


necessidade de regular as relações laborais. Nesse contexto, o presente
trabalho, liquidação e execução de sentença trata da parte final de uma demanda
trabalhista no âmbito processual.

O debate acerca do tema torna-se relevante, visando a compreensão do


processo trabalhista, já que após o êxito na ação, a execução da sentença
deveria significar para a parte vencedora o final do rito processual, entretanto,
por vezes há de se falar ainda na defesa do executado, bem como na liquidação
da sentença.

Frente a isto, o estudo será realizado por meio de revisão da literatura de


livros, artigos científicos, tudo hospedado em sites da internet e bibliotecas, bem
como análise de leis, sentenças, acórdãos e portarias.

O trabalho será dividido em dois capítulos. Inicialmente, o primeiro


capítulo abordará liquidação da sentença trabalhista, tratando da liquidação por
cálculo, por arbitramento e por artigos. Já no terceiro capítulo será conceituada
a execução trabalhista e suas implicações e os princípios basilares do direito
processual do trabalho, bem como dos meios de defesa do executado.

Por fim, no último tópico se perfaz às considerações finais.


1 DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA TRABALHISTA

Preliminarmente, imperioso registrar que o processo trabalhista é composto


por três fases, a saber, o processo de conhecimento, a liquidação de sentença
e depois a execução.

É por meio do processo de conhecimento que o poder judiciário analisa se o


reclamante tem ou não os direitos requeridos. Ocorre que, por vezes, o juiz
reconhece o direito na sentença, mas não determina o valor, saindo do processo
de conhecimento com uma sentença ilíquida, como por exemplo, no caso de a
sentença reconhecer o direito a duas horas extras, mas não determina o quanto
essas horas extras valem monetariamente.

Nesse contexto, o artigo 879 da Consolidação das Leis Trabalhistas, Decreto


Lei nº 5452 de 1º de maio de 1948 alterado pela Lei nº 13467 de 13 de julho de
2017, dispõe que “sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á,
previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento
ou por artigos”.

Nesse sentido, dispõe o artigo 783 do Código de Processo Civil que a


execução exige que o título seja líquido, ou seja, monetariamente calculável,
certo, que quer dizer determinado ou determinável e exigível, quando cumpridos
os requisitos que legitimam a sua cobrança.

Deste modo, quando a sentença trabalhista trata acerca do que é devido,


mas não determina exatamente o valor ou o objeto, tão logo se realiza a
liquidação da sentença para que então possa ser realizada a execução da
mesma, satisfazendo o crédito da parte vencedora.

Portanto, a fase da liquidação da sentença antecede a fase executória, mas


sucede o trânsito julgado, gerando um título judicial.

1.1 Liquidação por cálculos

Cumpre ressaltar que a liquidação da sentença pode ocorrer de três


maneiras distintas, sendo a mais comum a liquidação por cálculos.
Esse instituto se encontra no artigo 879 da CLT citado no tópico anterior e
no parágrafo 2º do artigo 509 do Código de Processo Civil que preceitua que
“quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor
poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença”.

Nesse diapasão, os cálculos não irão inovar a decisão, se limitando apenas


a calcular o quantum devido, incluindo as contribuições previdenciárias
incidentes e conforme a súmula 211 do Tribunal Superior do Trabalho e os juros
de mora e correção monetária poderão ser incluídos na liquidação, ainda que
não tenha sido realizado o pedido na inicial ou não contemplados na sentença.

Após a realização dos cálculos, este será apresentado para a parte contrária
que poderá se manifestar. Sobre o tema, a principal mudança trazida pela
reforma trabalhista ocorrida no ano de 2017 foi a obrigação de intimação das
partes, não sendo mais facultativo, para se manifestar no prazo comum de 8
(oito) dias (e a União em dez dias), sob pena de preclusão, ou seja, a perda da
possibilidade de discutir os cálculos, nos ditames do parágrafo 2º do artigo 879
da CLT.

A União deve ser intimada porque a liquidação contemplará os valores


devidos a título de INSS – Instituo Nacional da Seguridade Social.

1.2 Liquidação por arbitramento

Há de se falar também na liquidação constante no inciso I do artigo 509 do


Código de Processo Civil Brasileiro, que dispõe que esta ocorrerá “por
arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas
partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação”.

Sobre o tema, o artigo 510 do CPC esclarece que:


Artigo 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes
para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no
prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito,
observando-se, no que couber, o procedimento da prova
pericial. (BRASIL, 2019)

Consagrou assim o Superior Tribunal de Justiça (2017), no Recurso


especial n 1248237:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DA
QUEBRA DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIROD E
CONTRATO DE CONCESSÃO. [...] 3. A verba honorária foi fixada com
base no valor da causa, dada a condenação ilíquida, conforme o
Recurso Especial repetitivo REsp. 1.155.125/MG, Rel. Min. CASTRO
MEIRA, DJe 6.4.2010, não se podendo falar em erro material. 4. A
alegada omissão, por ambas as partes, da não estipulação do
procedimento pelo qual deverá se fazer a liquidação do julgado é
procedente e, por inexistir a necessidade de se alegar e provar fato
novo, deverá seguir o rito do arbitramento, nos termos dos arts. 475-C
do CPC/73 e 509, I e 510 do CPC/2015. (BRASIL, 2019)

Desta maneira, em se tratando de cálculos complexos, o juiz poderá nomear


perito para elaboração e os honorários profissionais deste serão custeados pela
reclamada e a própria sentença demonstrará a necessidade de perícia.

Por fim, caso o juiz determine na sentença que a liquidação ocorrerá por
arbitramento, mas perceba posteriormente que é possível a realização por
cálculos, pode alterar a forma de liquidação, assim ampara a Súmula 344 do
Superior Tribunal de Justiça.

1.3 Liquidação por artigos

No processo trabalhista existe a figura da liquidação por artigos. Esta será


utilizada quando houver necessidade de se alegar ou provar fato novo e
encontra-se positivada pelo 879 da Consolidação das Leis Trabalhistas.

O Código de Processo Civil também trata da liquidação por artigos e serve


de base legal para realizar o estudo, entretanto, com o advento do novo código,
esse ganhou uma nova roupagem e passou a ser chamado apenas de liquidação
pelo procedimento comum, conforme o inciso II do artigo 509 que diz em exatos
termos que a liquidação ocorrerá “pelo procedimento comum, quando houver
necessidade de alegar e provar fato novo”.

Entretanto, a CLT não permite a discussão de matéria pertinente a causa


principal na sentença liquidanda (parágrafo primeiro do artigo 879) e sim em
situações como, havendo a condenação de horas extras devido a não juntada
do registro de ponto, é determinado que sejam juntados os registros de pontos
pela reclamada para liquidar a sentença.
2 DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA TRABALHISTA

Após a liquidação da sentença, munido de um título líquido, certo e exigível,


espera-se que haja o pagamento voluntário das verbas trabalhistas, mas, caso
não haja, por meio do poder judiciário há a possiblidade de execução dessa
sentença para efetivação de direitos.

A Consolidação das Leis Trabalhista dispõe sobre a maneira como ocorre a


execução e o artigo 880 diz que:

Requerida a execução, o Juiz ou Presidente do Tribunal mandará


expedir mandado de citação do executado, a fim de que cumpra a
decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações
estabelecidas, ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro,
inclusive de contribuições sociais devidas à União, para que o faça em
48 (quarenta e oito) horas, ou garanta a execução, sob pena de
penhora.
§ 1º O mandado de citação deverá conter a decisão exequenda ou o
termo de acordo não cumprido.
§ 2º A citação será feita pelos oficiais de diligência.
§ 3º Se o executado, procurado por 2 (duas) vezes no espaço de 48
(quarenta e oito) horas, não for encontrado, far-se-á citação por edital,
publicado no jornal oficial ou, na falta deste, afixado na sede da junta
ou juízo, durante 5 (cinco) dias. (BRASIL, 2019)

Desse jeito, iniciada a execução, o executado é intimado da execução


por oficial de justiça e tem um prazo de 48 horas para nomear bens à penhora
ou realizar depósito.

Se dentro do prazo de 48 horas a parte não nomear bens à penhora ou


realizar depósito, o juiz determinará que seja realizada a penhora “online”, e a
depender da situação, não encontrando bens e valores passíveis de penhora, a
desconsideração da personalidade jurídica, conforme artigo 855 – A da
Consolidação das Leis Trabalhistas.

2.1 Princípios basilares

Os princípios basilares do campo processual trabalhista, em específico,


são extremamente importantes para a compreensão, interpretação e integração
das normas processuais inerentes a execução trabalhista que se configura como
uma etapa processual.
Dito isto optou-se por apontar brevemente sobre alguns princípios
genuínos do direito processual do trabalho quanto a executividade, com base no
estudo de Eça (2012), quais sejam, do título, da patrimonialidade, do resultado
e da utilidade.

Para Eça (2012), o princípio do título quer dizer que “a exibição do título
executivo é essencial para o exercício do direito de ação validamente”, então
pode-se dizer que a existência de um título exigível é pressuposto para a
existência da própria execução.

O princípio da patrimonialidade diz respeito ao abandono da execução


em face da pessoa de fato, pois o que se executa é o patrimônio, ou seja, os
bens.

Já o resultado corresponde a tutela específica. O juízo deve utilizar de


todas as possibilidades para que o fim seja alcançado no processo e se
movimentará, via de regra, de acordo com a demonstração de interesse do
credor.

O princípio da utilidade é claro. Apenas se executará para solver a dívida.

De sobremaneira, da análise dos princípios citados, pode-se


compreender de forma mais transparente o processo trabalhista, especialmente
a fase executória, objeto de estudo.

2.2 Defesa do executado

O artigo 884 da Consolidação das Leis Trabalhistas dispõe sobre a defesa


do executado que são os embargos à execução:

Art. 884. Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o


executado 5 (cinco) dias para apresentar embargos, cabendo igual
prazo ao exequente para impugnação.
§ 1º A matéria de defesa será restrita às alegações de cumprimento
da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da dívida.
§ 2ºSe na defesa tiverem sido arroladas testemunhas, poderá o Juiz
ou o Presidente do Tribunal, caso julgue necessários seus
depoimentos, marcar audiência para a produção das provas, a qual
deverá realizar-se dentro de 5 (cinco) dias.
§ 3º Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar
a sentença de liquidação, cabendo ao exequente igual direito e no
mesmo prazo.
§ 4º Julgar-se-ão na mesma sentença os embargos e as impugnações
à liquidação apresentadas pelos credores trabalhista e previdenciário.
§ 5º Considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato
normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal
ou em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a
Constituição Federal.
§ 6º A exigência da garantia ou penhora não se aplica às entidades
filantrópicas e/ou àqueles que compõem ou compuseram a diretoria
dessas instituições. (BRASIL, 2019)

Assim, desde que garantido o juízo o executado poderá apresentar


embargos à execução no prazo de cinco dias contados da notificação da
penhora, sendo a garantia do juízo, via de regra, requisito de admissibilidade dos
embargos, sem ele não se torna possível o executado embargar à execução.

A exceção à regra se dá apenas as entidades filantrópicas e aqueles que


compõem ou compuseram a diretoria dessas instituições (parágrafo 6º).

O mesmo preceito legal dispõe acerca das matérias que podem ser
alegadas nos embargos (parágrafo 1º), quais sejam de cumprimento de decisão
ou acordo, quitação ou prescrição da dívida, não podendo ser discutidos fatos e
provas da fase de conhecimento.

Julgados os embargos à execução, é possível recorrer por meio do agravo


de petição, no prazo de 8 (oito) dias, nos termos do artigo 897 da CLT.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações de trabalho sofreram mutações ao longo do tempo,


abrangendo diversas possibilidades e, frente a isto, fez-se necessária a
concomitante evolução do direito do trabalho e do direito do trabalho a fim de
resguardar os direitos dos indivíduos envolvidos nessas novas relações.

Com o advento da reforma trabalhista, mudanças foram implementadas e


dúvidas foram sanadas acerca da liquidação de sentença, da execução de
sentença e dos meios de defesa do executado.

Mediante todo o estudo desenvolvido neste trabalho, no qual pode ter


continuidade, com possibilidades futuras de aprofundamento diante da
complexidade em torno do tema, pode-se afirmar que o Estado, por meio da
legislação, tem se esforçado para cumprir o seu dever de tutelar os direitos dos
envolvidos nas relações de emprego e é indispensável para o bom desempenho
do profissional do direito ter conhecimento das fases de liquidação e execução
de sentença.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 211. Disponível em:


<http:///www3.tst.jus.br/> Acesso em outubro de 2019.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 344. Disponível em:


<http:///www3.tst.jus.br/> Acesso em outubro de 2019.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n 1248237. Relator:


Napoleão Nunes Maia Filho. Brasília, 02 de julho de 2006. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/> Acesso em outubro de 2019.

BRASIL. Código de Processo Civil. In: Vade Mecum. São Paulo: Saraiva, 2018.

BRASIL. Consolidação das Leis Trabalhistas. In: Vade Mecum. São Paulo:
Saraiva, 2018.

EÇA, Vitor Salino de Moura & MAGALHÃES, Aline Carneiro. Coord. Atuação
principiológica no processo do trabalho. RTM. Belo Horizonte. 2012.

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