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Cartas entre noivos que se afastaram

Mudança de estado

Onde estás, belo sorriso?


E tu, grande alegria
Cadê tu, ó paraíso
E tu, bela harmonia

E vós, lindos sonhos


Fostes embora para sempre?
Deixastes-me no abandono
Será que vos fostes eternamente?

Felicidade, porque se foi?


E me deixou tão de repente?
Sem explicação só me deixou
Solidão por entre gente
Vida, dê-me motivos
Pra poder seguir em frente

Querida noiva – assim a chamo porque, para mim, nosso noivado não findou; nem digo “ainda não findou”, porque,
se assim o dissesse, estaria admitindo a possibilidade desse fim, o que não quero – em hipótese alguma – que aconteça.
Mesmo porque quero muito que o nosso casamento se concretize,

Em primeiro lugar, quero que saibas que estou demasiadamente triste com o seu afastamento, com suas práticas, com
seu abandono, com seu desprezo, enfim, com suas traições. Eu sempre soube que o ser humano é um ser fraco, capaz de
tudo – tanto bom como ruim –, portanto não fiquei muito surpreso, o que não quer dizer que eu esteja feliz. Também não
estou revoltado, não estou encolerizado, não estou enfurecido, não estou irado, não estou iracundo, ou seja lá qual adjetivo
usar neste momento. O fato é que o sentimento que tenho em relação a ti não é nem um desses; o que sinto é abandono,
desprezo, solidão e – acima de tudo – saudade, muita saudade.

Tenho muita saudade de quando brincávamos como crianças. Minha felicidade era tão grande que a minha vontade
era gritar, escrever, tatuar seu nome na palma da minha mão, publicar nos out doors, redes sociais, status e – em todos os
meios de comunicação – informar a todos o meu amor por ti. Queria que o mundo inteiro soubesse dessa que, para mim, era
a novidade mais importante.
Tenho muita saudade
De passear contigo
Eu era seu amigo
O melhor confidente
Falávamos de tudo
De alegrias e tristezas
De tuas verdades e incertezas
Você triste ou contente

Como era bom quando me tinhas como melhor companheiro, quando confiavas em mim, quando andávamos
juntinhos, de mãos dadas, em todas as situações; saudade de quando para todos dos seus problemas tu me procuravas e eu
alegremente a ajudava. O meu maior prazer era ajudá-la, sabias? E quando ficávamos sentados na praça conversando, você
me fazia perguntas e eu tentava fazer com que descobrisse por conta própria as respostas. Mostrava-te situações que te
fizessem refletir, contava-te histórias para que entendesses. Tenho saudade de quando ficávamos na igreja conversando. Só
nós dois naquele silêncio ou até mesmo nos contemplando; você olhava, às vezes dizia algumas palavras, às vezes fica em
silêncio olhando para mim, agradecendo-me no íntimo do seu coração, e eu ouvia tudo nas batidas dele e depois falava
alguma coisa sussurrando em meu ouvido, ou em voz alta; você também pedia – e como pedia –, e quando eu demorava,
esperando o momento certo, como quem vai dar um presente de aniversário e, apesar de já tê-lo comprado, tem de esperar o
momento certo, você ficava zangada, dizia que não eu gostava mais de você, não a entendia, não queria mais saber de você,
que a tinha abandonado.
Mas também ocorria de eu surpreendê-la, e você dizia que eu adivinhava as coisas, sabia tudo de que você precisava,
que aquilo tinha vindo à hora certa.
É muita saudade... saudade de quando você vinha chorar em meu ombro reclamando dos acontecidos, na sua casa, na escola,
no trabalho, daquela situação que você dizia não mais aguentar, e eu a acalmava, dizia para esperar que tudo se resolveria, e
você dizia que falar é fácil, mas estava quase insuportável aquela situação.

Enfim, minha querida, meu amor – ainda chamo assim porque meu amor por você não findou –, fico aqui olhando
para esta casa que preparei cuidadosamente, detalhadamente, carinhosamente, amorosamente para você; imaginando você
em cada parte dela, experimentando, ou melhor, vivendo a mais profunda felicidade que lhe preparei. A nossa casa, o nosso
lar, o nosso cantinho tão aconchegante que você nunca viu igual, só conhecia por descrições feitas por outros, por mim e por
operários que trabalharam na construção dela.

Minha querida, este lugar tão lindo que construí foi feito especialmente para você. O jardim está maravilhoso, uma
perfeita obra de arte modelada pelo melhor artista que conheço. Imagino você passeando por ele pelas manhãs e/ou às
tardes. A decoração está um espetáculo, coisa fantástica, cada coisa no seu devido lugar e foi pensado para você.
Pois é, querida. Tudo isso foi pensado, detalhadamente planejado executado para você. Trabalhei muito, lutei muito.
Literalmente, doei meu sangue a fim de que viesse para este lugar e aqui permanecesse para sempre.

No entanto, você não teve paciência, não soube esperar. Como sempre, muito apressada, imediatista, envolvida por
este pensamento hedonístico destes que te rodeiam, que dizem para viver o carpe diem, que esse negócio de esperar não tá
com nada.

E aí nós dois sofremos. Eu fico aqui todas as tardes na janela esperando voltar. Pensando no que deve estar fazendo,
comendo, pensando, a quem você está abraçando, com quem está me traindo, de que forma está procurando resolver seus
problemas. Enfim, de forma está vivendo. E você fica por aí com este povo que só são teus amigos nos momentos de festa,
alegria, mas quando precisa verdadeiramente de um amigo não tem. Não tem com quem desabafar; não tem a quem pedir;
não tem ao menos com quem reclamar porque só pode falar o que eles querem ouvir. Se falar algo contrário ao que eles
pensam, perderá seu “amigos”.

Amada, eu sei bem como se encontra, ou melhor, como não se encontra, pois está perdida. Isso porque EU a conheço
bem;

EU sei tudo sobre você.


EU Sei exatamente como se sente em cada situação.
EU não a abandonei.
EU tenho sondado você.
EU sei de tudo o que tem pensado.
EU sei quando se senta.
EU sei quando se levanta.
EU sei quando e por onde você tem andado.
EU sei que horas você tem ido repousar.
EU sei sobre suas conversas.
EU sei tudo, tudo, tudo sobre você. Não para que se sinta presa, atada, escrava, mas para que, no momento em que precisar,
EU e MEUS servos possamos guiar; para que, quando cair, EU e MEUS servos a levantemos.

Além disso, você bem sabe que nuca a escravizei, nunca a amarrei, nunca a fiz qualquer mal, nunca fiz nada contra
sua liberdade; prova disso é que deixei você partir para longe de mim.

Mas saiba que também estou triste, eu muito triste. Estava indo tudo tão bem, mas, de repente você resolveu ir
embora.
Para finalizar, quero confirmar que o meu sentimento não é de raiva ou coisa parecida, é simplesmente tristeza e
saudade. Jamais terei sentimentos de cólera, ira ou raiva, pois – como bem sabe – EU te amo; e – como lhe falei inúmeras
vezes,

O AMOR é paciente
O AMOR é bondoso
O AMOR não é invejoso
O AMOR não é orgulhoso
O AMOR não é arrogante
O AMOR não é interesseiro
O AMOR não é irritado
O AMOR mesmo não é rancoroso

Beijos carinhosos de quem a ama com AMOR eterno e incondicional e espera ansiosamente sua volta.
Querido ex-noivo, assim o chamo porque realmente o é. Eu escolhi sair, eu escolhi as festas, eu escolhi as alegrias, eu
escolhi as curtições, eu escolhi não esperar mais para ser feliz. A vida é curta, não dá para ficar esperando sem ter uma
certeza, apenas com promessas.

Resolvi ouvir a filosofia do “Carpe diem, quam minimum credula postero”. Horácio tem-me ensinado muitas coisas
que não sabia que existiam, e, se existem, por que não aproveitá-las? Quero aproveitar a vida enquanto sou jovem, enquanto
tenho energia, força, saúde. Quero curtir a liberdade e fazer muitas coisas de que sempre tive curiosidade. Depois, tudo isso
não será mais possível.

Olha o que me diz o poeta Tomás António Gonzaga em sua primeira parte de Marília de Dirceu

Parte 1: Lira XIV

Minha bela Marília, tudo passa;

A sorte deste mundo é mal segura;


Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.

A devorante mão da negra Morte


Acaba de roubar o bem, que temos;
Até na triste campa não podemos
Zombar do braço da inconstante sorte.
Qual fica no sepulcro,
Que seus avós ergueram, descansado;
Qual no campo, e lhe arranca os brancos ossos
Ferro do torto arado.

Ah! enquanto os Destinos impiedosos


Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.

Ornemos nossas testas com as flores.


E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.

Com os anos, Marília, o gosto falta,


E se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.

Que havemos de esperar, Marília bela?


Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.

Disponível em: http://www.triplov.com/poesia/Tomas_Antonio_Gonzaga/Marilia_de_Dirceu/Marilia1/Lira_14.htm.


Acesso em 11 abril 2015

A vida é muito curta.


A juventude é um raio
De repente, temos chuva
E não nos banhamos
De repente, temos sol
E não nos enxugamos

Nada sabemos do amanhã.


É tudo tão obscuro
É tudo tão incerto
E, de repente, o tempo passa
E não estamos insertos.
Quero aproveitar o que a vida tem de melhor. Quero sair, me divertir, dar gargalhadas, ficar até tarde nas praças com
meus amigos e amores, soltando descontroladas gargalhadas, tomando umas e outras. Resolvi aproveitar minha juventude,
minhas forças, minha graça, minha beleza, antes que eu as perca. Aprendi que o “que se leva da vida é a vida que se leva”.

Desculpe, mas por enquanto estou muito bem. Ainda não me arrependi e não sei se isso vai acontecer. Se continuar
assim, não. Sou livre, tenho muitos amigos, faço o que quero, na hora que quero sem que ninguém fique me aconselhando,
tentando me guiar em tudo, dando-me instruções.

É bem verdade que passamos por momentos maravilhosos. Também sinto falta de muitas coisas.
Em verdade (rsrsrsrs – esse termo é a sua cara), você me passava uma segurança inexplicável. Sei lá, quando
estávamos juntos, eu me sentia protegida. E isso acontecia até quando estávamos separados fisicamente. Só em eu saber que
tinha você, já sentia que nada poderia me abalar, nada poderia me derrotar. Com você, eu t(em)inha uma força inexplicável.

Sinto tanta falta das nossas conversas, de quando eu desabafava com você, dos nossos encontros nos muitos lugares,
praças, festinhas entre amigos, reuniões, encontros dos finais de semana, missas, confraternizações. Sim, sinto falta de
quando andávamos de mãos dadas, sentia-me tão segura ao seu lado, como se uma força sobrenatural tomasse conta de mim;
as suas palavras faziam meu coração arder, transmitiam-me uma segurança, uma certeza de que, por mais que demorasse,
sempre acabaria bem, e era o que acontecia. Parece que suas palavras tem um poder de influenciar os acontecimentos. Mas é
engraçado que você falava com uma certeza, uma segurança que eu jurava que iria acontecer ali, naquele instante algo
sobrenatural, extraordinário. É bem verdade que, às vezes, acontecia alguma coisa que eu não entendia, porém, não era no
momento em que eu acreditava ser propício e sim quando menos esperava; além disso, na maioria das vezes, as coisas se
resolviam de maneira natural.

Também tenho saudade de quando ficávamos na igreja conversando. Muitas vezes eu nem precisava falar nada, você
já sabia o que se passava comigo; mas você queria que eu o procurasse. E, muitas vezes, quando você não me queria falar
claramente, pedia para eu ler um trecho da bíblia e com aqueles recadinhos você me iluminava, abria meu horizonte, fazia-
me enxergar coisas que jamais havia enxergado, ou enxergá-las de uma forma que eu jamais imaginava que existisse; de
uma maneira incrível, você me mostrava a outra versão da história. É incrível com você sempre tinha razão. E quando não
conseguia me fazer entender naquele exato momento, você me pedia para esperar um pouco e acontecia do mesmo jeito que
me tinha dito.

Era inexplicável a sua paciência. Eu chegava aflita com as minhas situações, e você numa calmaria. O barco
afundando e você dormindo, apenas dizendo para eu ter fé. E realmente a tempestade passava e vinha aquele momento
maravilhoso de calmaria, de silêncio, de paz, de grande felicidade. Dava-me uma vontade de gritar para ao mundo inteiro
ouvir que quem tem um namorado, um amigo, um companheiro como você, não pode ser abalado por nada, porque quem
estivesse com você possuía uma força incomparável, capaz de vencer qualquer batalha, e ser vitorioso em qualquer situação.

Era muito bom o nosso relacionamento. Você é o noivo que toda noiva gostaria de ter. Você passa uma paz tão
profunda para quem está próximo, uma certeza de que nada está perdido. Para você tudo tem jeito. Até aquelas pessoas que
todo mundo rejeitava você as acolhia, cuidava, dava carinho, não tem medo de correr riscos, não se importa com o que a vão
dizer; e, aos poucos, fazia com que todos que estivesse à sua volta também fizesse o mesmo.

Sim, sim. Também tenho saudades. Mas eu precis(ava)o de mais emoção, de aventuras, de adrenalina... e encontrei.
Saiba que, mesmo sabendo que foi muito bom, agora é página virada, estou noutro caminho e estou gostando.

Abraços!

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