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MÀSTER ARQUEOLOGIA NÀUTICA MEDITERRÀNIA

Cortiçais (Peniche): Um Naufrágio Romano Alto Imperial na Costa


Atlântica Lusitana

Sónia Bombico

Resumo: Os trabalhos arqueológicos subaquáticos, desenvolvidos no sítio de naufrágio dos


Cortiçais (Peniche), permitiram identificar fragmentos cerâmicos de ânforas Haltern 70 de
produção bética, sigillata de tipo itálico e cerâmica de paredes finas. A sua presença
possibilitou a inserção do navio naufragado numa rota comercial de época Alto Imperial,
estabelecida ao longo da faixa Atlântica Lusitana.
Palavras-Chave: Lusitânia, Alto Império, Haltern 70, Sigillata Italica, Rota Atlântica.

Abstract: The maritime archaeological works developed in the Cortiçais shipwreck (Peniche)
allowed us to identified ceramic fragments of Haltern 70 Baetican amphorae, Italian-Type
sigillata and augustian fine wares. The presence of these ceramics types insert the shipwreck
in an Atlantic commercial route in the Principate, established along the Lusitanian coast.
Keywords: Lusitania, Principate, Haltern 70, Italian-Type sigillata, Atlantic commercial
route

Resumen: Los trabajos arqueológicos subacuáticos, desarrollados en el yacimiento de


Cortiçais (Peniche), han permitido identificar fragmentos cerámicos de ánforas Haltern 70 de
origen bética, sigillata de tipo itálico y cerámica de paredes finas. Su presencia posibilitó la
inclusión de la embarcación hundida en una ruta comercial de época Alto Imperial,
establecida al longo de la fachada Atlántica Lusitana.
Palabras-clave: Lusitania, Alto Império, Haltern 70, Sigillata Itálica, Ruta Atlántica.

Riassunto:
I dati tratti dagli scavi subacquei condotti sul naufragio del sito dei Cortiçais (Peniche), hanno
permesso l'identificazione di frammenti ceramici appartenenti ad anfore Haltern 70 di
produzione betica, sigillata di tipo italico e ceramica a parete fine. La loro presenza ha reso
possibile l'attribuizione dell'imbacazione naufragata ad una rotta commerciale di epoca alto-
imperiale, effettuatasi lungo la fascia atlantica lusitana.
Parole-Chiave: Lusitania, Alto-Impero, Haltern 70, Sigillata Italica, Rotta Atlantica
1. O SÍTIO SUBAQUÁTICO DOS CORTIÇAIS

O sítio arqueológico subaquático dos Cortiçais (n.º 6950 do Inventário Nacional do


Património Náutico e Subaquático) localiza-se na freguesia de São Pedro do Concelho de
Peniche, distrito de Leiria, e encontra-se situado ao largo da costa meridional da Cidade de
Peniche, a pouca profundidade e distância da costa. (Fig.1)
Resultado do grande desassoreamento da área, o sítio foi identificado na primavera de
2004, quando Luís Santos Jorge, caçador submarino, avistou no fundo rochoso fragmentos
cerâmicos. Após a identificação, o local foi alvo de várias missões de prospecção, escavação e
registo. A primeira das quais desenvolvida entre Setembro e Dezembro de 2004. O sítio
conheceu novos trabalhos subaquáticos em Maio de 2005 e Junho de 2006, para além de duas
campanhas terrestres de tratamento de materiais em Novembro de 2005 e 2006,
respectivamente. (Fig.2)
As intervenções referidas foram desenvolvidas sob a direcção de Jean-Yves Blot
(DANS), contando com a colaboração de elementos do GEPS, alunos da Universidade de
Coimbra, membros do Clube Naval de Peniche, elementos do MNA, e o próprio achador,
contando com o apoio incondicional da autarquia e do Museu Municipal. A avaliação
preliminar dos materiais identificados esteve a cabo de A.M. Dias Diogo, responsável pelo
estudo dos materiais cerâmicos recuperados até ao momento. Desta forma, os grandes
fragmentos cerâmicos, identificados pelo achador, foram caracterizados por A.M Dias Diogo
como pertencentes a ânforas de tipo Haltern 70 de pasta bética. Foi, assim, possível situar, em
plena época romana, o naufrágio ocorrido nos Cortiçais.
O local de naufrágio sondado localiza-se numa zona exposta às tempestades de
Sudoeste, e protegida dos ventos dominantes dos sectores Oeste e Noroeste, numa costa
dominada pela arriba, a uma distância de menos de 30m da linha de costa, apresentando
profundidades entre os 4 e os 6m. A proximidade a terra e a baixa profundidade reflectem-se
na forte dinâmica marinha que se faz sentir no local, para além disso, a área é alvo de
fenómenos de assoreamento cíclicos. Estes factores, para além de dificultarem a actividade
arqueológica subaquática, reflectem-se na grande dispersão, fragmentação e abrasão dos
fragmentos cerâmicos recuperados.
Podemos caracterizar a área, até ao momento sondada, como um fundo composto por
maciços calcários de pequenas e médias dimensões (cerca de um metro e meio a dois de
altura) com marcas de forte erosão, circundados por areias grosseiras. Os primeiros

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fragmentos de cerâmica foram avistados nas fendas e vales existentes entre as rochas do
fundo. (BLOT, J-Y. no prelo)
A planimetria e a geo-referenciação do sítio foram elaboradas com o recurso à
instalação de “spits”, ou seja, pernos de aço inoxidável com anilhas marcadas com punção,
protegidos de forma catódica com ânodos de zinco, que foram aplicados na superfície das
rochas. Estes “spits” constituem a rede topográfica do sítio, funcionando como pontos
relativamente aos quais os conjuntos de materiais levantados são posicionados através de
triangulação. (Fig.3)
As campanhas efectuadas até agora, e a análise morfológica dos artefactos recuperados
permitem-nos apontar algumas hipóteses no que diz respeito à formação do sítio arqueológico
subaquático. Desta forma, e fazendo uma leitura da dispersão dos materiais no fundo e do seu
grande grau de abrasão e clivagem, podemos afirmar que os constantes processos de
assoreamento e dessasoreamento propiciaram a mistura dos estratos, dificultando a
identificação e compreensão daquilo que seria o depósito primário, ou seja, a deposição de
materiais imediatamente após o naufrágio.
Aceitando-se a hipótese do naufrágio ter ocorrido na área alvo dos trabalhos
arqueológicos, poderemos dizer que a embarcação e respectiva carga, após depositadas no
fundo, foram progressivamente seladas por uma camada de areia e rocha, resultado da abrasão
sofrida pelo próprio ambiente marinho circundante. No entanto, os sucessivos e cíclicos
fenómenos de assoreamento e dessosoreamento, ao longo dos últimos dois séculos, terão
destruído este depósito primário, permitindo a dispersão e uma nova fase de fractura dos
fragmentos cerâmicos. Estes seriam projectados contra as paredes das rochas do fundo para
voltarem a ser depositados nas fendas entre as rochas, formando assim um depósito
secundário. Este fenómeno ter-se-á repetido inúmeras vezes, concebendo uma estratigrafia de
difícil leitura. Por outro lado, o fundo, repleto de rochas de pequenas e médias dimensões, terá
funcionado como superfície de retenção de fragmentos, impedindo a deriva dos materiais a
longa distância.

2. O NAVIO E A CARGA

A área intervencionada, até ao momento, representa uma percentagem ignóbil da área


de dispersão total do naufrágio, por isso mesmo, deveremos ter em conta que os dados que
apresentaremos de seguida são uma amostra valida em termos qualitativos e cronológicos,
mas não em termos quantitativos no que diz respeito ao total da carga ou tamanho do navio. A

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área total de dispersão do naufrágio é ainda desconhecida e a zona não explorada poderá
revelar novas tipologias anfóricas e cerâmicas. Para além disso, deveremos ter em
consideração que a proximidade a terra poderá ter proporcionado a recuperação de carga
contemporaneamente ao naufrágio, ou a violação do sítio em épocas posteriores.
Um naufrágio apresenta um espectro cronológico muito restrito, uma vez que
representa um acontecimento pontual. Os materiais associados à perda do navio,
nomeadamente a respectiva carga comercial, correspondem a um período relativamente curto,
que se situa entre o carregamento da embarcação e a perda da mesma. Para além do factor
cronológico, que no nosso caso associa ânforas de tipo Haltern 70 de pasta bética e formas de
sigillata itálica lisa datáveis da mudança de Era, a identificação de dois opérculos de ânfora
confirmaram a tese de naufrágio.
O conjunto de informação recolhida, até este momento, resume-se a um conjunto de
cerca de 5100 fragmentos cerâmicos, correspondentes a fragmentos de ânforas Haltern 70 de
pasta bética, sigillata itálica lisa, cerâmica de paredes finas e cerâmica comum. Estes
materiais representam 99,1% dos materiais inventariados, correspondendo os restantes 0,9% a
materiais não relacionáveis directamente com o naufrágio de época romana, tais como
concreções metálicas várias, fragmentos de tijolos contemporâneos, pedras, faiança moderna,
e pesos de rede de cronologia incerta.
No que diz respeito à embarcação propriamente dita não nos foi possível, até ao
momento, identificar nenhum fragmento de madeira ou artefacto que possamos associar à
estrutura, casco ou aparelho do suposto navio. Não possuímos igualmente nenhuma
informação no que diz respeito à identificação de cepos de âncora na zona.

2.1. ÂNFORAS DE TIPO HALTERN 70

Os fragmentos de ânforas Haltern 70 representam 98,9% do conjunto cerâmico


descrito. São na sua grande maioria fragmentos informes de peso inferior a 100g e de
pequenas dimensões, não se havendo registado até agora nenhuma ânfora inteira.
A sua identificação formal, da responsabilidade de A.M. Dias Diogo, foi possível
graças às características formais dos bordos altos, com um lábio de fita pronunciado, de perfil
rectangular, ligeiramente esvasado, que se revela saliente em relação ao colo. Quanto ao colo,
este é, normalmente, cilíndrico, podendo apresentar paredes mais ou menos côncavas. As asas
possuem secção elíptica, pouca curvatura e com um marcado sulco longitudinal, partindo
sempre do fundo do bordo, descendo em curva até ao ombro, onde apresentam uma depressão

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para o apoio do dedo. O corpo cilíndrico das Halern 70 termina num bico fundeiro maciço
bem destacado e de forma troncocónica. Este sólido bico fundeiro possui um interior
preenchido por uma bola de argila.
Segundo a bibliografia consultada, o exemplar mais antigo de Haltern 70, até hoje
identificado, corresponde ao do naufrágio de “La Madrague de Giens”, datado de 60/50 a.C.,
o que faz recuar o início da produção a um período anterior aos meados do século I a.C. O
terminus da sua produção está estabelecido na época Flávia (70 a 80 d.C.)
A geografia de produção da Haltern 70 bética é bastante ampla, conhecendo-se centros
produtores na costa da província, na baía de Cadiz e de Algeciras, bem como em outros
pontos da Bética Atlântica, assim como no Vale do Guadalquivir. As produções gaditanas
encontram-se entre as mais antigas, aparecendo associadas à produção das últimas Dressel 1c
provinciais e às primeiras Dressel 7-11. As produções do Vale do Guadalquivir aparecem,
igualmente, associadas à produção de Dressel 7-11, bem como a ânforas de tipo Dressel 20,
estas ultimas ausentes na baía de Cadiz e Algeciras. (García Vargas 2004, 508)
Vários autores (Robert Étienne e Françoise Mayet, Juliette Baudoux, Martin-Kilcher e
mais recentemente Antoni Puig) têm sistematizado tipologicamente as Haltern 70, analisando
as diferenças morfológicas ao nível do bordo, eventualmente correspondentes a uma evolução
cronológica. Desta forma, e analisando as características dos bordos recuperados no naufrágio
dos Cortiçais, poderemos enquadra-los nas variantes mais antigas, atribuídas à época de
Augusto e caracterizadas por um colo curto e uma boca esvasada muito moldada, muito
diferentes dos bordos mais amplos da época Flávia. (Fig.4 – 30, 2556)
O conteúdo por excelência das ânforas de tipo Haltern 70 é gerador de uma
problemática bem conhecida no meio arqueológico, e baseada no facto de não se conhecerem
evidencias que permitam afirmar que as Haltern 70 transportavam vinho, como acontece com
os diversos tipos classificados como vinários. Por seu turno, conhecem-se tituli picti,
identificados em Haltern 70 que nos indicam que estas ânforas transportavam sapa, mulsum e
defructum, com predomínio deste último. (Morais 2004, 546) Estes vestígios são a base da
teoria de que as ânforas Haltern 70 terão transportado unicamente estes produtos e que por
conseguinte não possam ser consideradas vinárias. Todavia não há unanimidade entre autores,
uma vez que há quem defenda o carácter residual do defructum e restantes sub-productos no
contexto da vinicultura, propondo um conteúdo amplamente baseado no vinho bético. (Fabião
1998, 180)
A variedade de conteúdos documentados nos tituli picti e conhecidos através dos
restos encontrados nos envases registados em naufrágios, é compreensível tendo em conta a

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localização de vários centros de produção de ânforas Haltern 70 na “zona de las Marismas”.
Região caracterizada por uma economia muito diversificada, baseada na exploração de
diversos produtos agrícolas e piscícolas. (Carreras 2000, 95)
É mais ou menos consensual que o produto envasado nas Haltern 70 dos Cortiçais
seria vinho ou derivados do vinho, embora não tenham sido realizadas quaisquer análises aos
vestígios conservados na superfície interna de alguns fragmentos. A ausência de tituli picti,
marcas de oleiro ou grafitos, no conjunto recuperado, contribui igualmente para o total
desconhecimento do conteúdo das ânforas.
As Haltern 70conhecem uma ampla difusão em todo o ocidente do Império Romano,
especialmente ao longo da faixa atlântica e, apesar de em menores quantidades, nas rotas
fluviais gálicas dos rios Ródano, Sena e Rêno. Ocorre também no mediterrâneo oriental,
embora em quantidades mais residuais. A maior concentração deste tipo anfórico regista-se ao
logo da faixa atlântica, em particular no noroeste peninsular e costa cantábrica. (Morais, 2004,
549) (Fig.5) (Carreras/Morais 2004, Fig.52, 94)
Segundo estudo elaborado por Helena Piçarra, de um conjunto de fragmentos de
Haltern 70 dos Cortiçais, a análise de pastas permite atribuir a maioria dos fragmentos a
possíveis produções do Vale do Guadalquivir. (Piçarra 2007, 24).
De entre o conjunto de fragmentos de Haltern 70, recuperados no sítio de naufrágio
dos Cortiçais, contamos um total de 23 bicos fundeiros, que correspondem a 0,45% do total
de fragmentos de ânfora identificados. Os bordos em lábio de fita representam 1,8%,
enquanto as asas bífidas 1,02% do total de fragmentos. Foram ainda identificados, como já
referimos, dois opérculos; sendo que a maioria dos fragmentos corresponde a peças
morfologicamente informes, de reduzidas dimensões e elevado grau de abrasão, muito
provavelmente constituintes do corpo das ânforas.
Os bicos fundeiros são, até ao momento, os únicos e imediatos indicadores do número
mínimo de indivíduos, ou seja, poderemos dizer que contabilizamos um total de 23 ânforas de
tipo Haltern 70, constituintes da carga do navio.

2.2 SIGILLATA DE TIPO ITÁLICO E CERÂMICA DE PAREDES FINAS

A Sigillata Itálica representa 0,47% do conjunto cerâmico recuperado, enquanto que


os fragmentos de cerâmica identificada como de paredes finas correspondem a 0,37%, os
restantes 0,17% são constituídos por cerâmica comum e de tipo indeterminado.

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Os fragmentos de Sigillata Itálica pertencem aos tipos característicos de formas lisas,
enquadráveis cronologicamente entre a última década do século I a.C. e a primeira do século I
d.C. Foram identificados fragmentos de pratos de tipo Consp. 12, taças Consp. 15 (A.M. Dias
Diogo), e taça Consp. 14, formas cuja produção e comercialização se podem atribuir ao
período 15 a.C. – 15 d.C. (Fig.4 - 204)
A produção de sigillata de tipo itálico iniciou-se na região da Etrúria em torno do ano
de 45 a.C. O auge das exportações de sigillata itálica para a Península Ibérica centra-se
durante o final do reinado de Augusto e o início de Tibério, o que corresponde igualmente ao
momento de maior produção. As peças decoradas são normalmente mais raras que as lisas, e
terão sido fabricadas com molde. Conhecem-se actualmente vários locais de produção de
sigillata de tipo itálico, na península itálica destacam-se Arezzo e Pisa, mas esta cerâmica foi
produzida igualmente na Gália, no sítio de La Muette em Lyon. Actualmente considera-se
prudente que a precisão acerca da origem dos diferentes fabricos de sigillata itálica seja feita
com base, não só no estudo das marcas de oleiro, mas também através de estudos tipológicos,
e uma forte componente baseada nas análises químicas das argilas. Para além do estudo
acerca dos diferentes locais de origem, a recente investigação tem-se debruçado sobre as
formas de organização da produção, especialmente das chamadas “sucursais” das oficinas
aretinas. (Viegas 2003, 41-43)
Até à data, de entre as peças recuperadas no sítio dos Cortiçais, não foi identificada
nenhuma marca de oleiro, o que poderia constituir um importante indicador cronológico. A
sigillata itálica dos Cortiçais exibe uma pasta de textura fina de cor rosada, o engobe é
brilhante, homogéneo e aderente apresentando uma tonalidade vermelha acastanhada escura.
Nas campanhas efectuadas foram recuperados um total de 24 fragmentos de sigillata
de tipo itálico, 12 dos quais correspondem a fragmentos de bordos, registamos ainda 2
fragmentos de fundos, 1fragmento de pé e 9 fragmentos informes. O elevado grau de
fragmentação e reduzidas dimensões dos fragmentos não nos permitem definir com rigor um
número mínimo de indivíduos, no entanto, a quase totalidade dos fragmentos de bordo
aparentam pertencer a peças individuais. Destacamos ainda, a existência de dois fragmentos
de fundos de amplitude diferente que corresponderão, garantidamente, a duas peças
diferentes. Desta forma, e tendo em conta a contabilização dos fragmentos de bordo
poderemos apontar um número mínimo perto das 10 unidades. Parece-nos, portanto, plausível
que a sigillata tenha um papel de carga comercial complementar no navio, ainda que
secundário ou mesmo residual em relação à carga principal de ânforas Haltern 70.

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Foram identificados 19 fragmentos de cerâmica de paredes finas, de entre os quais
destacamos 4 bordos e 3 fundos, os restantes correspondem a fragmentos de forma
indeterminada.
A generalidade dos investigadores defende que a cerâmica de paredes finas se divide
em dois grandes grupos. Muito genericamente, pode dizer-se que o primeiro, da época
republicana e principado de Augusto, que inclui sobretudo copos, não possui qualquer
engobe, mas as superfícies estão quase sempre polidas. A decoração apresenta um repertório
pobre, obtido pela técnica da incisão ou da barbotina. Os mapas de distribuição indiciam que
se trata de produtos fabricados em Itália. O segundo, onde dominam as taças, é constituído
por vasos cobertos por engobe, muitas vezes com reflexos metálicos. Cronologicamente, a
produção destes vasos inicia-se apenas a partir do reinado de Tibério. Os centros de fabrico
são agora diversificados, localizando-se ainda em Itália, mas também, e entre outras áreas, no
sul da Gália, na Península Ibérica e no limes germânico. (Arruda/Sousa 2003, 238-239)
A cerâmica de paredes finas dos Cortiçais poderá ser enquadrada no primeiro grupo
descrito, uma vez que os bordos e fundos apresentam características formais atribuíveis aos
copos dessa época. Os fragmentos recuperados possuem pasta laranja acastanhada, dura,
sonora, compacta, com elementos não plásticos visíveis a olho nu, concretamente areias
negras. Á semelhança das paredes finas desta época, a superfície seria muito provavelmente
polida, uma vez que não foram identificados vestígios de engobe. No entanto, deveremos ter
presente que os fragmentos possuem elevadas marcas de desgaste provocado pela acção
marinha.
Os fragmentos descritos carecem, ainda, de caracterização tipológica e um estudo mais
aprofundado.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO NAUFRÁGIO – A ROTA DO NAVIO E DA CARGA

A existência de um naufrágio romano de época alto imperial, cuja carga nos aponta
para uma cronologia entre a última década do século I a.C. e a primeira d.C., leva-nos a
colocar algumas questões no que diz respeito à sua presença na costa meridional de Peniche.
A localização do naufrágio, numa posição central em relação à costa Atlântica Ibérica,
aponta-nos inevitavelmente para uma rota atlântica que se desenvolveria ao longo de toda a
costa da antiga província da Lusitânia romana em direcção ao Noroeste Peninsular e ao
Atlântico Norte. Sendo que a origem e o destino final da carga da embarcação naufragada são,
até ao momento, muito difíceis de identificar. Não obstante, procuraremos esclarecer a sua

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presença na costa de Peniche, tendo em conta a sua localização geográfica, condicionantes da
navegação atlântica, contexto histórico-arqueológico, constituintes da carga e paralelos
conhecidos.
Arqueologia parece revelar-nos que o litoral do território de Peniche, à época romana,
assumia uma posição estratégica no contexto da navegação comercial inter-regional. São
vários os vestígios arqueológicos subaquáticos e terrestres que nos revelam a aptidão da
região para as actividades marítimas.

3.1 CONTEXTO GEOGRÁFICO

Em época romana, a actual península de Peniche seria ainda uma ilha, posição que só
viria a perder no início do Renascimento (Calado 1994), com a formação de um istmo de
areia que paulatinamente ligou a ilha ao continente. Provavelmente já no final do século XIV,
Peniche deixou de ser uma ilha, através da formação de uma zona dunar e lagunar, que terá
depois evoluído e se terá consolidado num tômbolo, decorrente da acção conjunta de
acumulação dos materiais sedimentares marítimos e fluviais transportados pelo Rio de S.
Domingos (Blot, M. L. 2003, 226) No entanto a sua capacidade portuária nunca foi afectada
(Blot, M. L. 2003), desfrutando actualmente de um porto situado numa baía virada a Sul,
protegida da Nortada. Este varadouro terá, todavia, funcionado até à década de 1960 sem cais.
Há autores que defendem que a antiga ilha de Peniche poderia corresponder à Ilha
Pelágia ou Ilha de Saturno a que o Rufio Festo Avieno se refere no seu poema Orla Marítima,
embora outros a identifiquem com a Ilha da Berlenga. (Calado 1994, 15-16).
Deveremos ainda esclarecer a inserção de Peniche no complexo portuário da Costa da
Estremadura. Deste conjunto faziam parte as unidades portuárias, entre outras de menor
importância, a Foz do Arelho, Óbidos (Lagoa de Óbidos), Atouguia da Baleia, Porto de
Lobos, Peniche, Seixal, Lourinhã, Porto Novo, Santa Cruz e Ribeira de Pedrulhos. (Blot, M.L.
2003, 219) Estas unidades para além de terem tido um funcionamento individual e
complementar, nos movimentos de importação e exportação regionais, terão funcionado
também, alternadamente como portos de recurso quando episódios de assoreamento
provocavam o fecho da barra de alguma dessas unidades.
A Lagoa de Óbitos, com contacto directo ao oceano, pelo menos até ao século XVIII,
permitiria o acesso marítimo-fluvial à cidade romana de Eburobrittium, referida por Plínio
como oppidum. Esta cidade, construída no tempo de Augusto, muito provavelmente no ultimo
décimo do século I a.C, civitates incluída no Conventus Scallabitanus, parece ter sido mais

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um aglomerado marítimo do litoral atlântico. (Beleza Moreira, 2002). Terá funcionado como
centro urbano próspero, beneficiando da sua posição de encruzilhada entre uma via de acesso
ao oceano e a via terrestre que unia Olisipo a Conimbriga. (Mantas 1990, 157-158) Esta
posição estratégica permitiu o desenvolvimento de funções portuárias, baseadas na
redistribuição de bens chegados por via marítima em direcção ao interior e vice-versa.
O naufrágio dos Cortiçais terá, portanto, ocorrido num contexto paisagístico
radicalmente diferente do actual. Segundo o modelo de N.C. Fleming, a antiga ilha de Peniche
poderá ser contextualizada no tipo portuário “enclave de ilha costeira”. (Blot, M.L. 2003, 227)
Mas, o complexo portuário em que se enquadra a antiga ilha de Peniche possui outros
exemplos deste tipo portuário, nomeadamente a antiga ilha do Baleal, e as actuais ilhas da
Berlenga e Farilhões.
As funções de fundeadouro da vizinha ilha Berlenga, na antiguidade, estão
confirmadas pela presença de inúmeros vestígios anfóricos (principalmente Haltern 70) e
cepos de âncora de época antiga, assunto a que voltaremos mais adiante.

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICO

A descoberta, na zona urbana de Peniche (Morraçal da Ajuda), de um complexo de


fornos de cerâmica de época romana que terá produzido ânforas desde os finais do século I
a.C. (Cardoso/Rodrigues/Sepúlveda 2006, 276), confirma a plena actividade produtiva e
evidencia o potencial comercial da ilha de Peniche ao tempo do nosso naufrágio. Este
complexo foi descoberto acidentalmente em 1998, durante obras de terraplenagem para a
construção de campos de ténis. Conhece-se, até ao momento, a existência de 4 fornos, cujo
estudo revelou uma ocupação do sítio desde os finais do século I a.C. e os inícios do III d.C.
Foi confirmada a produção local de ânforas do tipo Dressel 7-11, a tipicamente lusitana
Dressel 14, e a forma Haltern 70. Uma marca (L.ARVEN.RVSTICI) foi identificada,
impressa em vários exemplares anfóricos. Para além de ânforas estes fornos produziram
diversos tipos de cerâmica comum e de construção (tegulae, imbrices e tijolos), pesos de rede
e de tear. Estão, igualmente, registadas produções de cerâmicas de paredes finas atestadas
para a primeira fase de laboração da olaria, ou seja, entre os finais do século I a.C. e os
meados do século I d.C. A campanha de 2001 revelou fragmentos cerâmicos que parecem
corresponder a imitações de formas de terra sigillata de produções itálicas e gálicas.

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A produção de ânforas suscita a existência de uma indústria pesqueira e a presença, na
área de Peniche, de fábricas de conservas de peixe, que estariam na base de uma possível
economia virada para a exportação.
O referido complexo de fornos de Peniche é um dos mais antigos na Lusitânia, à
semelhança de alguns locais no estuário do Sado (Fabião 2004, 402). Carlos Fabião defende a
possibilidade da transferência tecnológica do “saber-fazer” dos oleiros se ter processado a
partir da Bética para a costa ocidental peninsular. O autor justifica esta hipótese com a
semelhança arquitectónica dos fornos da Bética e da Lusitânia (nomeadamente os fornos mais
antigos, como os do Sado e de Peniche), e com a grande homogeneidade morfologica das
ânforas produzidas na Lusitânia na fase mais antiga. As formas produzidas no Morraçal da
Ajuda terão sofrido, muito provavelmente, a influência das suas congéneres da Bética. Não
podemos, desta forma, ignorar o facto de Peniche ter produzido formas análogas à Haltern 70
de origem bética. No entanto, a produção deste tipo de ânfora em Peniche coloca algumas
questões, nomeadamente no que concerne ao produto que nelas seria envasado. A antiga ilha
de Peniche seria um local onde a população estaria, maioritariamente, virada para a pesca e
produção de conservas de peixe, no entanto, terá tido igualmente uma exploração fundiária.
Peniche detêm um longo historial de produção de vinho, desde pelo menos o século XVII. Por
outro lado, e complementando esta teoria, foram recentemente identificados tituli picti em
Haltern 70 que referem o transporte de muria (Carrreras/Morais 2004, 120), um molho à base
de peixe e dos seus intestinos análogo ao garum.
A descoberta dos fornos comprovou, pela primeira vez, a existência de estruturas de
época romana na cidade de Peniche. Todavia, em 1858 havia sido encontrado, exactamente no
antigo Morraçal da Ajuda, um cipo funerário datável da segunda metade do século I d.C.
(Venâncio 2000, 271)
O Morraçal da Ajuda corresponde a uma antiga zona de sapal ou pântano localizada na
antiga costa Nordeste da ilha de Peniche, ou seja, a costa virada para o continente. Não deixa
de ser curiosa a coexistência nesta área do cipo, das olarias, e mais recentemente identificado,
um segundo contexto arqueológico (ainda em estudo) repleto de elementos anfóricos,
caracterizável como pertencente à antiga área portuária. No Atlas Ibérico de Pedro Teixeira,
datado de 1634, aparecem assinaladas, nesta mesma área, salinas. (Fig.6 e 7)
Existe, ainda, uma notícia referente à identificação isolada de um cepo de âncora na
costa Norte da península de Peniche. (Blot, M. L. 2003, 229)
A Ilha Berlenga, localizada cerca de 10Km ao largo da costa de Peniche, constituiu
um ponto tradicional de escala da navegação comercial mediterrânica desde pelo menos a

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primeira metade do I Milénio a. C. A assinalável quantidade de vestígios subaquáticos
registados nas águas da Berlenga atesta a importância deste fundeadouro na Antiguidade.
Entre os anos de 1977 e 1991, foram identificados 18 exemplares de cepos de âncora
em chumbo. (Alves/Reiner/Almeida/Veríssimo 1989, 118)
As intervenções arqueológicas realizadas na Ilha Berlenga, entre o ano 2000 e 2006,
no Bairro dos Pescadores e no sítio do “Moinho”, permitiram concluir que o local poderá ter
sido visitado/ocupado entre o final do século I a.C. e o século V da nossa era.
(Bugalhão/Lourenço 2006, 284) A presença maioritária de ânforas produzidas localmente,
associadas à olaria de Peniche, pode indiciar uma ocupação relacionada com a permanência
na ilha de populações dedicadas a actividades piscatórias ou de transformação do pescado.
Esta teoria, de ocupação permanente e/ou sazonal, é reforçada pelos resultados das
intervenções efectuadas no sítio romano do “Moinho”, cuja estrutura identificada poderá
corresponder a um posto de vigia e controle de tráfego marítimo, um farol ou a uma estrutura
de habitat. Cronologicamente, parece corresponder a um momento mais antigo e mais
delimitado temporalmente, eventualmente entre os séculos I a.C. e I d.C., talvez
correspondente à fase mais antiga da olaria do Morraçal da Ajuda, em Peniche. Relativamente
à cerâmica anfórica, verificou-se a presença de ânforas béticas tipo Haltern 70.
(Bugalhão/Lourenço, no prelo)
A presença de materiais importados, como ânforas béticas e sigillata, materiais
tendencialemente do Alto Império, parece relacionar-se com a utilização da ilha como porto
de abrigo, nas rotas de longo curso romanas. Esta situação é refletida igualmente nos achados
subaquáticos, tendo sido até ao momento recolhidos um total de 19 exemplares anfóricos. Em
termos cronológicos, constata-se que o conjunto se enquadra essencialmente entre o século I
a.C. e o século I d.C., encontram-se representadas ânforas vinárias e piscícolas, estando
ausentes os contentores oleários. De entre as quais, prevalecem as ânforas Haltern 70 com 11
exemplares registados. Estes dados sugerem-nos que o ancoradouro da Berlenga foi, nesta
época, um ponto estratégico muito frequentado pela navegação comercial de médio e longo
curso, que percorria as rotas entre o Mediterrâneo e as regiões setentrionais atlânticas.
(Bugalhão/Lourenço 2006, 289-293)
Tendo em linha de conta o quadro cronológico, associado aos materiais de período
romano, encontrados no actual concelho de Peniche, podemos afirmar que os materiais dos
Cortiçais, com uma cronologia bem delimitada na mudança de Era, se enquadram no período
inicial de ocupação romana atestados para a antiga ilha de Peniche.

12
Não poderemos interpretar, a ocupação romana de Peniche, como um pequeno núcleo
isolado, baseado na produção de ânforas e preparados piscícolas, servido pelo seu pequeno
porto, capaz de realizar trocas comerciais directas de larga escala com todo o Império
Romano. Deverá, antes, ser entendida, apesar de beneficiar de um óptimo porto atlântico,
como uma peça constituinte do complexo portuário da zona. Tal como ocorreria no complexo
portuário do Sado ou do Tejo, a Estremadura constituiria uma região produtora, comercial e
económica dependente de uma ou duas cidades importantes (Eburobrittium e Olisipo), e dos
consumidores, comerciantes e investidores que nela habitavam.
Por fim, podemos afirmar que existe uma correspondência cronológica directa entre a
presença terrestre de época romana, na área de influência da antiga ilha de Peniche, e os
vestígios registados em meio aquático, quer no contexto da Berlenga quer nos Cortiçais. Esta
correspondência e o contexto arqueológico, apresentado anteriormente, justificam por si só a
presença da embarcação, contendo uma carga cronologicamente inscrita na mudança de Era.

3.3 A ROTA DO NAVIO E DA CARGA

Procuraremos de seguida, esclarecer o seu enquadramento na rota marítima atlântica


de época Alto Imperial. Para isso referir-nos-emos a paralelos terrestres e subaquáticos
procurando vestígios de uma rota comercial que transportaria estes produtos desde o extremo
ocidente Mediterrâneo em direcção ao Norte Peninsular, ao longo da faixa Atlântica Lusitana.

3.3.1 A ROTA ATLÂNTICA ALTO-IMPERIAL

As fontes clássicas, como Lucius Festus Avienus (Orla Maritima), o périplo de


Hanão, e todo o reportório geográfico que nos chegou através de Estrabão (Geographia)
constituem uma clara prova de que na Antiguidade o Atlântico era navegado e conhecido.
As condições naturais e geográficas do Oceano Atlântico, em tudo diversas do
Mediterrâneo, terão exigido aos marinheiros romanos, uma série de adaptações. A grande
limitação, da navegação atlântica da costa lusitana, seria o regime de ventos, maioritariamente
de N e NW durante a quase totalidade os meses do ano. Está provado desde há muito, que os
marinheiros da Antiguidade ultrapassavam esta dificuldade recorrendo à utilização da vela
redonda e à técnica da navegação por “bordadas”, que lhes permitia remontar ao vento, ou
seja bolinar. (Alves/Reiner/Almeida/Veríssimo 1989, 114) A navegação nocturna, exigência
de uma navegação de altura, está comprovada, graças à existência de vestígios de faróis.

13
Confrontados com as grandes marés do Atlântico, os romanos rodearam a questão com a
utilização de portos naturais ou recorrendo à sua instalação nos estuários. (Mantas 2000) No
que diz respeito ao comércio a grande escala, os custos do transporte por meio aquático
revelaram-se bem mais baixos em relação ao terrestre. As vantagens económicas terão
contribuído para o desenvolvimento de um comércio e navegação atlânticos.
Os recursos mineiros setentrionais seriam o principal estímulo a esta navegação. Para
o período correspondente à conquista romana da Península Ibérica, reside uma dúvida, se os
romanos desenharam, efectivamente, uma nova geografia militar ou se limitaram a apropriar-
se de uma rede anterior e estruturada de intercâmbios. Os mais antigos materiais
arqueológicos de origem itálica (cerâmicas finas e ânforas) poderiam ter aqui chegado pela
via intermediária gaditana. A grande viragem na política romana, face ao litoral atlântico,
inicia-se com a passagem de César para governador da Hispania Ulterior (61-60 a.C.) e com
a sua expedição marítima ao Norte, apoiado pela frota gaditana. Facto relacionável com as
posteriores campanhas no noroeste da Gallia e a expedição à Britannia na década seguinte.
Estas acções, poderão ser entendidas dentro de uma estratégica atlântica de apropriação e
controle dos territórios metalíferos do norte, e construção de uma ampla frente atlântica virada
para o mediterrâneo romano. (Fabião 2005, 83)
Entre meados do século I a.C. e o I d.C., assistimos a um incremento da informação
arqueológica respeitante à presença romana no nosso território, aguçado pela presença do
exercito conquistador, e pelo desenvolvimento urbano de cariz romano, com a criação de
cidades ex-novo, e transformações verificadas nos aglomerados indígenas. É no reinado de
Cláudio que se parece consumar a política atlântica de Roma com o surgir, no litoral
português, de instalações de exploração de recursos marinhos e fornos de ânforas destinadas
ao seu transporte. Estes surgem em directa associação à constituição do extenso limes
germânico (Campanhas de Augusto entre 12 a.C. e 9 d.C.), e à consolidação do domínio da
Britannia (43 d.C.). (Fabião 2005, 84) A integração, de uma nova província romana, criou a
necessidade de um fluxo permanente de abastecimento, de carácter institucional. Por outro
lado, a simples existência da Britannia, como espaço provincial, altera a noção de finis terrae
atribuído ao extremo norte ocidental da Península Ibérica. (Fabião 1998, 139) É neste âmbito
que deveremos entender o desenvolvimento da produção de preparados piscícolas na faixa
atlântica Lusitania, beneficiários da rota de retorno em direcção ao Mediterrâneo. As ânforas
de preparados piscícolas lusitanas estão fracamente representadas no norte peninsular e são
quase inexistentes na Britannia, sendo bastante conhecidas na área mediterrânea.

14
A Hispania Atlântica adquiria um estatuto de província periférica produtora e
abastecedora das regiões do Norte, constituindo uma plataforma de apoio e articulação dos
grandes transportes institucionais e comerciais, entre o Sul Mediterrâneo e o Norte Atlântico.
Palco de trocas comerciais de larga escala, inter-regional e regional, apoiadas em navegação
de longa distância e cabotagem.
Os materiais importados viajam em rotas que não se limitam ao litoral oceânico,
penetrando no hinterland através dos principais cursos fluviais. (Blot, M. L. 1998, 156) A
presença de materiais cerâmicos de importação, em contextos arqueológicos terrestres, atesta
por si só a existência de um intenso comércio marítimo de época romana, no qual as
principais cidades marítimas da Lusitânia e respectivos complexos portuários (Olisipo e
Scallabis no Tejo, Salacia e o baixo Sado, Eburobrittium e o complexo da Estremadura, e a
Sul, Ossonoba e Balsa) detinham um papel importantíssimo. No entanto, as únicas provas
directas dessas rotas são os achados subaquáticos de ânforas, cepos de âncora em chumbo e
contextos arqueológicos de naufrágio, registados ao longo da costa atlântica. (Fig.8)
A localização geográfica e a utilização dos complexos portuários da Lusitana Atlântica
sugerem-nos uma navegação de cabotagem, apoiada em cidades marítimas ou marítimo-
fluviais, colocadas no enclave das vias fluviais e terrestres. É exactamente nestas cidades,
simultaneamente locais de consumo/destino final e portos de redistribuição, que podemos
observar os indícios de antigas rotas comerciais.

3.3.2 AS EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS

Genericamente, pode dizer-se que começou a prevalecer o princípio da proximidade


geográfica nos critérios de importação, é neste quadro que deveremos entender a presença de
ânforas Haltern 70 em muitos dos contextos arqueológicos do séc. I d.C. do actual território
português. O domínio dos vinhos hispânicos, sobretudo os da Bética, torna-se absolutamente
esmagador, tanto nas áreas meridionais e litorais, como nas regiões interiores e, sobretudo,
nas remotas paragens do Noroeste Peninsular. (Fabião 1998, 181)
A este respeito, Juan L. Naveiro López, descreve-nos um Noroeste Peninsular, entre
meados do século I a.C. e a primeira metade do século I d.C., inscrito numa fase de intensa
exploração de mercado, onde o tráfego marítimo alcança grande volume, reflectido na
presença quase absoluta de ânforas Haltern 70, associadas a sigillata itálica e sudgálica,
moedas de cunhagem local, lusitana e do vale do Ebro. O estímulo inicial deveu-se à
constituição da base de apoio às Guerras Cantábricas (29 a.C. – 19 a.C.), e ao consequente

15
aprovisionamento do exército de ocupação. Tornou-se necessário o controle da população e a
articulação territorial, para esse efeito fundaram-se centros urbanos/capitais administrativas;
potenciaram-se os povoados indígenas; definiram-se os principais enclaves de comunicação
portuários e viários; desenvolve-se uma exploração mineira em grande escala; e promove-se a
imigração de militares, funcionários e profissionais especializados de territórios mais
romanizados. (Naveiro López 1996, 202) As áreas de fundeadouro e enclaves comerciais são
reconhecíveis pela ocorrência de achados subaquáticos, e pela concentração de materiais
importados nos povoados costeiros das Rias Baixas. De entre as quais se destacam a
desembocadura do Rio Minho, a Ria de Vigo, a Ria de Arosa, a Baía Corunhesa e o Golfo de
Artabro.
Após a conclusão das guerras Cantábricas, os contingentes militares foram-se
deslocando em direcção às fronteiras germânicas. No entanto, três delas permaneceram
acantonadas durante um dilatado espaço de tempo. A legio IIII Macedonica em Herrera de
Pisuerga (Palencia), a legio VI vistrix na cidade de León, e a legio X gemina em Astorga e no
Vale de Vidriales. Os registos arqueológicos, nestes acantonamentos, para o período augusto-
tiberiano proporcionaram um importante volume de exemplares de terra sigillata itálica,
associadas a cerâmica de paredes finas, e produções locais de cerâmica comum e de mesa. O
mesmo sucede nos enclaves civis de primeira ordem, como Lucus, Asturica e Bracara
Augusta, onde a presença de importantes grupos de pessoas pertencentes à administração
pública e elites locais, generalizam uma procura de produtos de grande qualidade, que apenas
os centros itálicos podiam satisfazer.
O panorama apresentado para os enclaves militares hispânicos apresenta semelhanças
com os oferecidos pelos seus contemporâneos no limes germanico, como Oberaden (11-7
a.C.), Dangstettten (15-9 a.C.) e Haltern (5 a.C.-9 d.C.) (García Marcos 2005, 95)
Bracara Augusta apresenta um predomínio de ânforas de produção bética, com
especial destaque para as Haltern 70, correspondentes a 64% do total. De entre as piscícolas
predominam os tipos anfóricos de época alto imperial, com destaque para as béticas de tipo
Dressel 7/11, seguidas das formas lusitanas e béticas de Dressel 14, em franco contraste com
o reduzido número de formas Almagro 51 C, de época mais tardia. (Morais, 2006, 296-297)
Bracara Augusta foi um dos maiores centros de recepção de ânforas do tipo Haltern 70, tendo
funcionado como centro redistribuidor no contexto do Noroeste Peninsular. Sendo que, a
maioria das ânforas, difundidas nesta região, são produzidas na região do Vale do
Guadalquivir. (Morais 2004, 545) No que diz respeito às cerâmicas finas de período pré-
flávio, a cidade revelou uma maior quantidade de terra sigillata de tipo itálico, relativamente

16
às produções de terra sigillata gálica e de paredes finas. Mas, considerando a totalidade das
produções de cerâmicas finas registadas na cidade, as produções mais antigas estão
escassamente representadas, quando comparadas com o enorme volume de sigillata hispânica,
hispânica tardia e africana, favorecidas pela rota comercial que se dirigia às Ilhas Britânicas.
(Morais 2005, 127-128)
Realizando o trajecto no sentido contrário ao efectuado pelos navios transportadores
de Haltern 70, ou seja de Norte para Sul, recorrendo aos dados recolhidos por Rui Morais e
César Carreras, referentes à sua geografia de consumo (Carreras/Morais 2004, 98-103), e
deixando para trás a antiga província da Gallicia romana, vamos encontrar uma presença
significativa de ânforas Haltern 70 na faixa entre o Douro e o Minho, com especial destaque
para a cidade fluvio-marítima romana de Calem, actual Porto (351 exemplares). Percorrendo
a faixa atlântica em direcção a Sul, deveremos fazer novo apontamento para a percentagem,
ainda que mediana (58 exemplares), registada em Conimbriga. A região da Estremadura
merece destaque no que concerne aos dados subaquáticos do fundeadouro da Berlenga e sitio
dos Cortiçais, e às recentes informações respeitantes à cidade de Eburobrittium, ainda por
quantificar. O último ponto que nos merece atenção é a cidade de Scallabis (cerca de 200
exemplares), quer Olisipo, quer as restantes zonas meridionais, como o estuário do Sado ou
mesmo o Algarve apresentam valores francamente residuais.
Partindo deste pressuposto, procurámos realizar uma análise mais pormenorizada no
que concerne às realidades comerciais das cidades de Scallabis, Conimbriga, Olisipo e
Salacia, para o período em estudo.
Scallabis (Santarém) deteve uma importância, durante a época Republicana e
momentos iniciais do Alto Império, não comparável à que assume a partir do reinado dos
Flávios. (Arruda/Viegas/Bargão 2006, 250) Tal facto é atestado pelo estudo de vários
conjuntos cerâmicos, concretamente pelo predomínio percentual das sigillatae de tipo itálico,
a grande representatividade de cerâmica de paredes finas e cerâmica de engobe vermelho
pompeino. A maioria da cerâmica de paredes finas identificada na Alcáçova de Santarém
pertence aos finais da República e ao reinado de Augusto. Esta realidade representa o oposto
ao conhecido em outras cidades lusitanas, Conimbriga e Balsa por exemplo, onde o conjunto
de paredes finas do século I d.C. é sempre muito mais numeroso. (Arruda/Sousa 2003, 284) O
estudo da terra sigillata de Santarém demonstrou uma elevada percentagem de fabricos
itálicos (37%), face a outros sítios lusitanos, concretamente Conimbriga (14%), onde as
importações se desenvolvem numa época mais tardia. (Viegas 2003, 43, 96, 332-333) Esta
cerâmica começou a chegar a Scallabis ainda antes do reinado de Augusto, embora só tenha

17
atingido o auge das importações durante o final do seu reinado e o de Tibério. (Viegas 2003,
333-334)
A maioria das ânforas registadas pertence à época republicana e alto imperial, de entre
as quais lideram as de origem itálica e bética. No que diz respeito às lusitanas, destacam-se as
formas alto imperiais inspiradas nos protótipos béticos como a “Haltern 70” e Dressel 7 e 9,
cuja análise de pastas revela um abastecimento maioritariamente efectuado em centros oleiros
localizados no vale do Sado e Peniche. As formas “Haltern 70” e Dressel 7-11 de Peniche,
atribuídas à primeira fase de produção deste centro produtor, datada dos reinados de Augusto
e Tibério, surgem associadas a sigillata itálica de formas Consp.12 e 22, datáveis entre 15/10
a.C. e o reinado de Tibério, e ânforas Haltern 70 do Vale do Guadalquivir.
(Arruda/Viegas/Bargão 2006, 238)
Salacia (Alcácer do Sal) terá perdido importância para Caetobriga (Setúbal) e Tróia,
logo na primeira década do século I d.C. (Sepúlveda/Sousa/Faria/Ferreira 2003, 388-389)
Esse declínio justificará a representatividade que a generalidade dos materiais de época
republicana e inícios do reinado de Augusto detêm na cidade, nomeadamente as cerâmicas de
paredes finas e a sigillata itálica, representativa de 76% da sigillata registada na cidade.
(Sepúlveda/Faria/Faria 2000, 119).
Dando especial atenção às formas identificadas no naufrágio dos Cortiçais, deveremos
referir o seguinte:
- Os pratos de forma 12, juntamente com as formas Consp.14, 18, 20 e 22, são um dos tipos
mais comuns na Alcáçova de Santarém. Está entre a sigillata itálica mais antiga encontrada
em Conimbriga, sendo também a mais abundante. (Viegas 2003)
- A forma 14 é uma taça campaniforme com bordo pendente pouco pronunciado. Trata-se da
forma que, juntamente com o prato Consp.12, é a mais abundante em Dangstetten e
Oberaden, com uma cronologia que se situa entre 15 a.C. e 10 d.C. Está, igualmente, presente
em Conimbriga. (Viegas 2003)
- As duas formas anteriores estão incluídas nos tipos mais antigos presentes em Herrera de
Pisuerga, Léon e Astorga, principalmente os perfis mais antigos, caracterizados pelo lábio
pendente. (García Marcos 2005, 88)
- A taça de tipo 15 apresenta o mesmo perfil em forma de campânula que a forma 14,
ostentando um bordo convexo, normalmente com guilhoché no bordo. A cronologia apontada
situa-a entre meados a finais do reinado de Augusto. Na Alcáçova de Santarém foram
identificadas, apenas, duas peças pertencentes a esta forma. Está presente em Conímbriga com
exemplares decorados ou não com guilhoché. (Viegas 2003)

18
A presença de sigillata de tipo itálico funciona como um importante indicador
cronológico do início da ocupação romana de muitos sítios arqueológicos portugueses,
marcando a entrada da Península no sistema comercial de trocas regulares do Império
Romano. O quadro cronológico da sua importação é bastante monótono, iniciando-se por
volta de 10 a.C. e subsistindo até 20 d.C., com um pico no período final de Augusto e início
de Tibério, do qual se destacam um conjunto de formas constantes e dominantes na
generalidade dos sítios. Este conjunto reduzido de formas conhecido como serviço II de
Haltern, é composto pelas taças Consp.22 e 23 e respectivos pratos Consp.18 e 20. (Viegas
2003, 101)
Pelas suas características geográficas e contextos arqueológicos terrestres conhecidos,
parece-nos que o porto da antiga ilha de Peniche não terá constituído um porto de
características redistribuidouras. Esta teoria é fundamentada pela ausência de informação
respeitante a materiais de importação, devida essencialmente ao desconhecimento de
contextos habitacionais, e ao facto dos locais até à data intervencionados, corresponderem a
contextos de produção cerâmica local, onde a percentagem de importações é evidentemente
muito residual. No entanto, se tivermos como base de análise o conjunto de unidades
portuárias constituintes do complexo portuário da Estremadura, tais como a ilha Berlenga e
mesmo a cidade de Eburobrittium, poderemos vislumbrar uma explicação mais plausível para
a ocorrência do naufrágio dos Cortiçais. Apesar de serem estudos ainda incipientes e de fraca
representatividade, os dados referentes aos contextos arqueológicos da ilha Berlenga revelam-
nos, tal como já referimos, a presença terrestre e subaquática de ânforas de tipo Haltern 70
béticas. Tal como a presença, exclusivamente em contexto terrestre, de cerâmicas finas alto
imperiais, apesar de até ao momento não se registar sigillata de tipo itálico. Por seu turno, as
escavações realizadas, até 2004, em Eborubrittium apontam para uma grande
representatividade de formas Haltern 70 de fabrico bético, entre o material anfórico dos
séculos I a.C. e I d.C. Quanto à sigillata itálica, esta inscreve-se no horizonte cronológico do
século I a.C. ao reinado de Augusto, com um predomínio das formas Consp.18, 20, 22 e 23.1
Na zona Norte do forum da cidade, área correspondente à ocupação mais antiga, foram
registados fragmentos de forma Goudineou 25 e 27 (respectivamente Consp.18 e 22). (Beleza
Moreira 2002)
Apesar do complexo portuário da Estremadura exigir um estudo mais aprofundado,
dos contextos arqueológicos romanos, poderemos afirmar de forma inequívoca, e graças aos

1
Informações gentilmente cedidas pelos Arqueólogos responsáveis pelas intervenções
arqueológicas em Eburobrittium, António Beleza Moreira e Dina Matias.
19
dados conhecidos e descritos anteriormente, que este complexo terá tido um papel
fundamental no apoio e articulação da rota comercial atlântica. À semelhança dos complexos
portuários do Sado com Salacia, e do Tejo com Scallabis, a Estremadura terá contado com
um conjunto de unidades insulares e costeiras, de apoio à navegação atlântica e produtoras de
bens de exportação, sustentadas pela cidade de Eburobrittium.
Tendo em conta os contextos comerciais e arqueológicos terrestres, anteriormente
descritos, o naufrágio dos Cortiçais, e os materiais anfóricos do fundeadouro da Berlenga,
poderão ser considerados vestígios de uma ampla e complexa rota marítima atlântica. Cuja
existência estará intimamente ligada à ocupação romana de Peniche e da Berlenga,
proporcionando o seu incremento nos finais do século I a.C.
Por fim, deveremos remeter para o registo de contextos subaquáticos, reveladores da
geografia de transporte das ânforas Haltern 70 na faixa atlântica. (Fig.9) (Garrote/Marimon
2004, Fig.46, 84) Estes contextos pertencem a sítios de naufrágio ou áreas de fundeadouro,
concentrando-se na costa atlântica do noroeste peninsular, à entrada das Rias Baixas (nº 4, 10
e 14); fachada atlântica ocidental centro-sul, nas Berlengas/Cortiçais e Cabo Sardão (nº 41 e
40, respectivamente); e na faixa atlântica Algarvia, em Lagos e Tavira (nº 42 e 43,
respectivamente). Todos correspondem a achados isolados que poderão corresponder a sítios
de naufrágio, com excepção do sítio de naufrágio confirmado dos Cortiçais e da generalidade
dos achados da Berlenga, considerados vestígios de fundeadouro.

3.4 CONCLUSÕES

Não deixa de ser curioso que uma carga isócrona, como é a de um navio naufragado,
possa reflectir, de forma tão clara, um momento comercial específico, ou seja, a mudança de
Era. Momento perfeitamente observável, igualmente, em contextos arqueológicos terrestres.
Assim, uma rota, de carácter institucional ou totalmente comercial, como a
estabelecida entre o Sul Mediterrâneo e o Norte Atlântico, contaria inevitavelmente com uma
grande área de saída de mercadorias e uma grande área de chegada. Tendo em conta o quadro
de difusão das ânforas Haltern 70, de época augustal e produção do Vale do Guadalquivir,
constituintes da carga principal do navio dos Cortiçais, poderemos propor Gades (Cádiz)
como provável porto de origem. Por seu turno, poderemos apontar o Noroeste Peninsular ou o
limes germânico como os destinos mais setentrionais, e excluir a Britannia, que apesar de
importadora deste tipo anfórico, o foi numa época cronologicamente posterior.

20
O porto de Gades terá funcionado como plataforma de ligação entre o Mediterrâneo e
o Atlântico, reunindo os produtos importados das províncias orientais, nomeadamente as
cerâmicas de mesa da Península Itálica, e encaminhando-os em direcção aos territórios do
Ocidente. No sentido inverso, os produtos metalíferos do Atlântico Norte teriam paragem
provável no mesmo porto de Gades, para seguirem em direcção à capital do Império com
cargas complementares de produtos agrícolas e piscícolas lusitanos e galegos.
Ao longo do trajecto atlântico, de longa escala, seriam efectuados um indeterminado
número de paragens e transbordos de carga, realizados em pontos de apoio à navegação e
portos de redistribuição. Maioritariamente instalados em cidades sedes administrativas, estes
centros eram, igualmente, consumidores dos produtos transportados. É desta forma que se
torna possível reconstituir uma rota marítima, através de dados recolhidos exclusivamente em
terra. No nosso caso, e partindo de um vestígio subaquático, procurámos intuir um trajecto
possível, recorrendo a dados arqueológicos registados nas principais cidades marítimas da
fachada atlântica, tendo em consideração igualmente os dados subaquáticos, ainda que
praticamente nulos no que diz respeito a contextos de naufrágio.
Tivemos em especial atenção os contextos em que a totalidade dos materiais
importados, assinalados no naufrágio (ânforas Haltern 70, sigillata itálica e paredes finas), se
registam, preferencialmente nos mesmos horizontes e em associação. Assim, podemos
evidenciar a cidade marítima de Scallabis, fruto do desenvolvimento urbano incrementado por
Augusto, e detentora de grande poderio comercial na fase mais antiga do Alto-Império.
Olisipo e o Tejo, Eburobrittium e a costa da Estremadura, Conimbriga e o Mondego, Calem e
o Douro, e finalmente Bracara Augusta e as Rias Baixas da Galiza constituem todo um
conjunto de pontos estratégicos deste fluxo comercial, não menos importantes. Locais, estes,
onde pudemos observar vestígios materiais correlacionáveis com a existência de uma rota
Alto Imperial, baseada no amplo transporte de ânforas Haltern 70 de origem bética, cujas
cargas seriam complementadas com peças de cerâmicas fina de mesa, designadamente
sigillata itálica e paredes finas.
Caso particular parece ser o de Salacia que, apesar de detentora de grande importância
comercial no final da República e época de Augusto, atestada pela elevada percentagem de
sigillata itálica e paredes finas, não apresenta um registo representativo de ânforas de tipo
Haltern 70. Talvez este facto se deva à, ainda, escassa informação recolhida em contextos
arqueológicos da cidade.
O modelo apresentado contraria a existência de uma rota de longa distância, percorrida
por barcos de grande tonelagem, que efectuariam poucas paragens ao longo da costa atlântica.

21
Defendemos antes, a existência de um fluxo comercial, baseado em pequenos e médios
trajectos e frequentes transbordos de mercadorias, efectuados em pontos estratégicos de apoio
à navegação e cidades de grande potencial comercial, perfeitamente identificáveis através dos
dados arqueológicos dos contextos terrestres e subaquáticos. Esta realidade é perfeitamente
ajustável à existente no Mediterrâneo, onde, há já algumas décadas, os contextos subaquáticos
de naufrágio ajudam a compreender e reconstituir rotas comerciais baseadas em portos de
redistribuição, frequentados por navios de pequena e média tonelagem.
O facto de se produzirem ânforas de tipologia “Haltern 70”, cerâmicas de paredes
finas, e imitações de formas de sigillata de tipo itálico, faz da antiga ilha de Peniche, não,
necessariamente, um destino para a nossa embarcação, mas uma escala frequente dos tipos
cerâmicos originais da Bética e da Península Itálica. Tipos estes que estiveram,
inevitavelmente, na origem das produções cerâmicas locais de Peniche.
Finalizaremos, deixando um pequeno apontamento, respeitante a uma das
perplexidades mais discutidas no contexto comercial atlântico, a fraca representatividade das
ânforas Dressel 20 olearias, no Noroeste Peninsular. As razões deste vazio, para além de
poderem estar relacionadas com o uso de gorduras vegetais e animais alternativas ao azeite,
podem dever-se à cronologia prematura dos contextos e conjuntos anfóricos estudados (finais
do século I a.C. e princípios do século I d.C.). (Carreras 1996, 206) O grande volume de
ânforas de tipo Dressel 20 assinalado nas fronteiras militares setentrionais da Germânia e na
Britannia, encontra-se intimamente relacionado com um sistema redistributivo, fomentado e
controlado pelo Estado romano (annona), no qual se garantia o abastecimento das legiões.
(Remesal apud Carreras, 1996, 206) Este sistema desenvolve-se essencialmente a partir do
reinado de Cláudio, de forma que, a maioria dos conjuntos anfóricos do Noroeste (onde
dominam as ânforas de tipo Haltern 70, maioritariamente e igualmente por razões de
abastecimento militar) são ligeiramente anteriores. Partindo deste pressuposto, deveremos ter
em conta que, a época de grande volume de importação de contentores de tipo Haltern 70,
para o Noroeste, corresponde a uma época de presença de contingentes militares, que se
foram paulatinamente deslocando para o limes germânico, e população exterior ligada à
reorganização administrativa do território. Época que é, cronologicamente, ligeiramente
anterior ao início da produção e circulação das ânforas Dressel 20 clássicas, que haveriam de
começar a chegar ao limes germânico em plena época de Tibério, em associação às tipologias
mais tardias do tipo Haltern 70.
A confirmar-se a ausência de ânforas Dressel 20 a bordo no navio dos Cortiçais,
poderemos incluir o naufrágio no quadro descrito anteriormente. Desta forma, poderíamos

22
afirmar que estamos perante um vestígio comercial pontual, inscrito numa época
imediatamente anterior ao início da circulação atlântica do tipo oleario Dressel 20. (Fig.10)

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26
Figuras

27
Fig.1

Fig.2

28
Fig.3

29
(2556)
(30) (PIÇARRA 2007)

(204) (BOMBICO 2008)

Fig.4

30
Fig.5

Fig.6

31
Fig.7

Fig.8
Legenda: + Achados subaquáticos de ânforas
● Cepos de âncora em chumbo
32
Fig.9

Fig.10

33
LEGENDAS DAS FIGURAS:

Fig.1 – Localização do Sítio Arqueológico Subaquático dos Cortiçais. (Carta Militar de


Portugal, Série M888, Folha 337 – Peniche. Escala 1/25 000, 2004)

Fig.2 – Núcleo de materiais anfóricos registados durante os trabalhos arqueológicos


subaquáticos. (Foto de Gonçalo de Carvalho – 29 Junho de 2006)

Fig.3 – Fotomosaico do fundo marinho do Sítio Srqueológico dos Cortiçais. Destaque dos
pontos de georeferenciação (spits) e sinalização das áreas sondadas arqueologicamente nos
anos de 2004, 2005 e 2006, respectivamente.

Fig.4 – Desenhos de peças recuperadas no naufrágio dos Cortiçais:


Desenhos de Helena Piçarra (2007): Peça número 30 (boca de ânfora Haltern 70 de origem
bética); peça número 2556 (bico fundeiro de ânfora Haltern 70 de origem bética);
Desenho de Sónia Bombico (2008): Peça 204 (fragmento de bordo e parede de terra sigillata
itálica lisa – Consp.15)

Fig.5 – Mapa de distribuição de achados de ânforas Haltern 70. (Carreras/Morais 2004,


Fig.52, 94)

Fig.6 – Puerto e villa de Peniche (1634), folio 67, Atlas de Viena de Pedro Teixeira, Editorial
Nerea S.A, San Sebastian, 2002, Espanha, in www.arkeotavira.com

Fig.7 – Localização das evidências arqueológicas registadas no complexo portuário da


Estremadura.

Fig.8 – As Cidades Marítimas da Lusitânia (Mantas 1990, Fig.1, 153)


Pontos assinalados: Achados subaquáticos de ânforas (Alves e al 2005, Fig.8); Cepos de
âncora em chumbo (Alves/Reiner/Almeida/Veríssimo 1989, Fig.1, 116)

Fig.9 - Mapa de identificação de naufrágios e zonas portuárias com achados de ânforas


Haltern 70. (Garrote/Marimon 2004, Fig.46, 84)

34
Pontos referentes à fachada atlântica peninsular: 4-Cabo de Mar (Ria de Vigo, Galiza); 10-
Ilha de Corteagada (Pontevedra, Galiza); 14-Punta Udra (Pontevedra, Galiza); 40-Cabo
Sardão; 41-Fundeadouro da Ilha Berlenga e sítio dos Cortiçais (Peniche); 42-Meia-Praia
(Lagos); 43-Tavira (Algarve).

Fig.10 – Quadro Cronológico

35

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