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1. TERCEIRO SETOR
1.1. ORGA NIZA ÇÕES SOCIA IS E OSCIP’S
OSC IP ’s, é imperioso destacar mais uma distinção que é de suma importância para a
compreensão do tema.
O art. 24 da Lei de Licitações, Lei 8.666/1993 prevê no seu inciso XXIV que é dispensável a
licitação:
acrescentado pela Lei 9.648/1998, logo após o advento da Lei das OS’s (Lei 9.637/1998). Ao ser
editado, este dispositivo foi objeto das mais variadas críticas, pois questionou-se se o fato de um
particular se enquadrar como OS ou receber o adjetivo de organização social seria suficiente para
que ele pudesse ser contratado de forma direta pela Administração P ública.
P or outro lado, esta contratação é uma aproximação desinteressada sob a forma de uma
parceria. Reflitamos sobre como a Administração faria uma licitação para escolher um parceiro
que será incentivado pela Administração, que dela receberá um fomento e que desempenhará
atividades de colaboração.
Desse modo, existem argumentos tanto a favor, quanto contrários à contratação direta,
sendo importante saber que na famosa ADI 1. 923[1], o STF teve de se posicionar sobre a
de licitação para a contratação de organizações sociais. Assim, ainda que existam vários
particulares qualificados como OS’s, a Administração P ública tem a prerrogativa de escolher quem
Nota da monitoria:
[1]
ADI 1923/DF, Rel. Min. Ayres Britto, Rel. p/ Acórdão Min. Luiz Fux,
j.16/04/2015, Tribunal Pleno, pub.17-12-2015
Ementa: AÇ ÃO DIRETA DE INC ONSTITUC IONALIDADE. C ONSTITUC IONAL.
ADMINISTRATIVO. TERC EIRO SETOR. MARC O LEGAL DAS ORGANIZAÇ ÕES
SOC IAIS. LEI Nº 9.637/98 E NOVA REDAÇ ÃO, C ONFERIDA PELA LEI Nº 9.648/98,
AO ART. 24, XXIV, DA LEI Nº 8.666/93. MOLDURA C ONSTITUC IONAL DA
INTERVENÇ ÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO EC ONÔMIC O E SOC IAL. SERVIÇ OS
PÚBLIC OS SOC IAIS. SAÚDE (ART. 199, C APUT), EDUC AÇ ÃO (ART. 209, C APUT),
C ULTURA (ART. 215), DESPORTO E LAZER (ART. 217), C IÊNC IA E TEC NOLOGIA
(ART. 218) E MEIO AMBIENTE (ART. 225). ATIVIDADES C UJA TITULARIDADE É
C OMPARTILHADA ENTRE O PODER PÚBLIC O E A SOC IEDADE. DISC IPLINA DE
INSTRUMENTO DE C OLABORAÇ ÃO PÚBLIC O-PRIVADA. INTERVENÇ ÃO INDIRETA.
ATIVIDADE DE FOMENTO PÚBLIC O. INEXISTÊNC IA DE RENÚNC IA AOS DEVERES
ESTATAIS DE AGIR. MARGEM DE C ONFORMAÇ ÃO C ONSTITUC IONALMENTE
ATRIBUÍDA AOS AGENTES POLÍTIC OS DEMOC RATIC AMENTE ELEITOS.
PRINC ÍPIOS DA C ONSENSUALIDADE E DA PARTIC IPAÇ ÃO. INEXISTÊNC IA DE
VIOLAÇ ÃO AO ART. 175, C APUT, DA C ONSTITUIÇ ÃO. EXTINÇ ÃO PONTUAL DE
ENTIDADES PÚBLIC AS QUE APENAS C ONC RETIZA O NOVO MODELO.
INDIFERENÇ A DO FATOR TEMPORAL. INEXISTÊNC IA DE VIOLAÇ ÃO AO DEVER
C ONSTITUC IONAL DE LIC ITAÇ ÃO (C F, ART. 37, XXI). PROC EDIMENTO DE
QUALIFIC AÇ ÃO QUE C ONFIGURA HIPÓTESE DE C REDENC IAMENTO.
C OMPETÊNC IA DISC RIC IONÁRIA QUE DEVE SER SUBMETIDA AOS PRINC ÍPIOS
C ONSTITUC IONAIS DA PUBLIC IDADE, MORALIDADE, EFIC IÊNC IA E
IMPESSOALIDADE, À LUZ DE C RITÉRIOS OBJETIVOS (C F, ART. 37, C APUT).
INEXISTÊNC IA DE PERMISSIVO À ARBITRARIEDADE. C ONTRATO DE GESTÃO.
NATUREZA DE C ONVÊNIO. C ELEBRAÇ ÃO NEC ESSARIAMENTE SUBMETIDA A
PROC EDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL. C ONSTITUC IONALIDADE DA
DISPENSA DE LIC ITAÇ ÃO INSTITUÍDA PELA NOVA REDAÇ ÃO DO ART. 24, XXIV,
DA LEI DE LIC ITAÇ ÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº 9.637/98. FUNÇ ÃO
REGULATÓRIA DA LIC ITAÇ ÃO. OBSERVÂNC IA DOS PRINC ÍPIOS DA
IMPESSOALIDADE, DA PUBLIC IDADE, DA EFIC IÊNC IA E DA MOTIVAÇ ÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNC IA DE LIC ITAÇ ÃO PARA OS C ONTRATOS
C ELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇ ÕES SOC IAIS C OM TERC EIROS.
OBSERVÂNC IA DO NÚC LEO ESSENC IAL DOS PRINC ÍPIOS DA ADMINISTRAÇ ÃO
PÚBLIC A (C F, ART. 37, C APUT). REGULAMENTO PRÓPRIO PARA C ONTRATAÇ ÕES.
INEXISTÊNC IA DE DEVER DE REALIZAÇ ÃO DE C ONC URSO PÚBLIC O PARA
C ONTRATAÇ ÃO DE EMPREGADOS. INC IDÊNC IA DO PRINC ÍPIO
C ONSTITUC IONAL DA IMPESSOALIDADE, ATRAVÉS DE PROC EDIMENTO
de gestão firmado com uma entidade privada termina por excluir, por consequência,
a mesma pretensão veiculada pelos demais particulares em idêntica situação, todos
almejando a posição subjetiva de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público
conduza a celebração do contrato de gestão por um procedimento público impessoal
e pautado por critérios objetivos, por força da incidência direta dos princípios
constitucionais da impessoalidade, da publicidade e da eficiência na Administração
Pública (C F, art. 37, caput). 14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV,
da Lei nº 8.666/93 e no art. 12, §3º, da Lei nº 9.637/98 têm a finalidade que a
doutrina contemporânea denomina de função regulatória da licitação, através da
qual a licitação passa a ser também vista como mecanismo de indução de
determinadas práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de organizações
sociais que já ostentem, à época da contratação, o título de qualificação, e que por
isso sejam reconhecidamente colaboradoras do Poder Público no desempenho dos
deveres constitucionais no campo dos serviços sociais. O afastamento do certame
licitatório não exime, porém, o administrador público da observância dos princípios
constitucionais, de modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados.
15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do
conceito constitucional de Administração Pública, razão pela qual não se submetem,
em suas contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que consistiria em quebra
da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás de todo o marco
regulatório instituído pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens públicos e
servidores públicos, porém, seu regime jurídico tem de ser minimamente informado
pela incidência do núcleo essencial dos princípios da Administração Pública (C F, art.
37, caput), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo que
suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº
9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de
recursos públicos. 16. Os empregados das Organizações Sociais não são servidores
públicos, mas sim empregados privados, por isso que sua remuneração não deve ter
base em lei (C F, art. 37, X), mas nos contratos de trabalho firmados
consensualmente. Por identidade de razões, também não se aplica às Organizações
Sociais a exigência de concurso público (C F, art. 37, II), mas a seleção de pessoal, da
mesma forma como a contratação de obras e serviços, deve ser posta em prática
através de um procedimento objetivo e impessoal. 17. Inexiste violação aos direitos
dos servidores públicos cedidos às organizações sociais, na medida em que
preservado o paradigma com o cargo de origem, sendo desnecessária a previsão
em lei para que verbas de natureza privada sejam pagas pelas organizações sociais,
sob pena de afronta à própria lógica de eficiência e de flexibilidade que inspiraram a
criação do novo modelo. 18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a
ser exercido pelo Tribunal de C ontas da União (C F, arts. 70, 71 e 74) e pelo
entendimento, há uma alternativa melhor, capaz de gerar uma colaboração mais eficiente.
Imagine, por exemplo, que haja cerca de 10 particulares dispostos a serem contratados pela
Administração em regime de colaboração e nenhum deles tem finalidade lucrativa. Qual seria o
da moralidade. Não se está afirmando que se deva fazer licitação, a solução não transita por esta
via. C ontudo, reconhece-se que este extremo com a contratação direta pode gerar algumas
O professor registra, neste ponto, que não está insinuando que o Terceiro Setor não
funciona.
P orém, registra que a Lei 9.790/1999, que trata das OSC IP ’s, não obriga à realização de
uma licitação. P ortanto, em relação às OSC IP ’s também não há previsão de dispensa de licitação,
tendo em vista que o art. 24 da Lei 8.666/1993 nada prevê sobre essas entidades.
contexto, cuidando basicamente da mesma ideia (parceria com a Administração P ública), sendo
que para uma admite-se a contratação direta, através da dispensa de licitação (art. 24, XXIV da
Lei 8.666/1993 - sendo certo que o STF entendeu como válida essa contratação direta), já para as
O decreto que regulamenta as OSC IP ’s, Decreto 3.100/1999, prevê, em seu art. 23, a
Na visão do professor, esta é uma saída muito mais salutar, inclusive, refletindo a
tendência do plano normativo. Ressalta-se que a Lei 13.019/2014, mais recente do que a Lei
9.637/1998 e do que a Lei 9.790/1999, trata bastante do instituto do chamamento público para a
escolha da organização da sociedade civil que será contratada pela Administração. Note-se que ela
não fala de licitação, na forma do previsto pela Lei 8.666/1993. Todavia, prevê uma competição
entre aqueles que serão escolhidos para colaborar com a Administração P ública.
Desse modo, enxerga-se como muito mais saudável o caminho da competição entre as
entidades do Terceiro Setor que pretendem ser contratadas pela Administração P ública.
C ontudo, deve-se registrar que, como o STF entendeu como constitucional o art. 24, XXIV,
da Lei 8.666/1993, temos hoje uma situação até inusitada em que, para a Administração P ública
contratar uma OS, poderá fazê-lo sem licitação, já para contratar uma OSC IP , ela precisa fazer
um concurso de projetos e para contratar uma Organização da Sociedade C ivil – OSC , nos termos
da lei 13.019/2014, deverá, na medida do possível, respeitando as exceções contidas na própria lei,
fazer um chamamento público, uma competição entre as pessoas que querem ser contratadas
pela Administração.
OSC IP ’s, deve-se atentar, ainda no terreno das diferenças, para o art. 18 da Lei 9.637/1998,
Art. 18. A organização social que absorver atividades de entidade federal extinta no âmbito
da área de saúde deverá considerar no contrato de gestão, quanto ao atendimento da
comunidade, os princípios do Sistema Único de Saúde, expressos no art. 198 da C onstituição
Federal e no art. 7º da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Esta previsão diz basicamente que se o ente da federação pretender extinguir um hospital
público, neste caso um hospital federal, ele poderá fazê-lo e permitir que a gestão daquele serviço
seja assumida por uma organização social. Todavia, esta organização social atuará sob o regime
jurídico previsto na Lei do SUS, portanto, prestará um serviço público sob profunda influência do
Não há um artigo com teor semelhante na Lei 9.790/1999, ela não prevê a possibilidade de
uma OSC IP absorver as atividades de um hospital público. Além disso, a jurisprudência não tem
admitido que haja uma absorção total, então se o ente da federação tiver vários hospitais, vários
podem ser extintos, mas precisa ter um que continue como hospital público, pois não se permite a
substituição total dos serviços prestados pelo Estado, por organizações sociais.
Em verdade, a Lei das OSC IP ’s não prevê o que está escrito no mencionado art. 18. Isso
faz com que nas provas de concurso, inclusive na Magistratura e MP F, façam-se assertivas do
tipo: “enquanto a OS pode absorver um serviço público na área de saúde e atuar sob influência do
SUS, a OSC IP não poderia”. A questão estaria correta, pois a Lei 9.790/1999 não prevê esta
possibilidade para as OSC IP ’s.
Entretanto tal abordagem, é digna de críticas, uma vez que, por mais que a Lei 9.790/1999
não preveja expressamente isso, ela prevê que uma OSC IP pode atuar em um serviço gratuito na
área de saúde. Nada impede que esta OSC IP que atua no serviço de saúde esteja sob influência
do regime do SUS. Entende-se que termo de parceria com o P oder P úblico poderia estipular isso.
Todavia, muitas vezes, as bancas são muito legalistas e estando na Lei 9.637/1998 que as
OS’s podem absorver as atividades de um hospital público, sob a influência do SUS, então é isso
que irá acontecer. Desse modo, a OS serve a este propósito, enquanto a OSC IP não.
Na prática, a grande verdade é que hospitais públicos passaram a ser geridos por OS’s e
não por OSC IP ’s, em razão especificamente deste art. 18, da Lei 9.637/1998 que não encontra
Saindo dessa distinção entre estas duas entidades, vamos passar a mais uma questão
Imagine, por exemplo, que a União irá construir um hospital federal usando 50 milhões de
reais. Ela pode contratar uma empreiteira, por meio de licitação, e entregar este dinheiro à
empreiteira por meio de um contrato administrativo. Em outro cenário, a União quer contratar
uma OS para construir o hospital e, portanto, entregará a esta o valor referente ao projeto.
Sabe-se que se a União quiser construir o hospital ela terá de seguir a legislação federal em
matéria de licitações. No caso do Terceiro Setor, devemos começar a desvendar esta questão pela
...
Este artigo somente obriga a Administração P ública direta e indireta a observar a legislação
federal em matéria de licitações. Não há esta obrigação para particulares, ainda que colaborem
A Lei de Licitações também não traz uma exigência de que particulares sigam a legislação
federal em matéria de licitações. Logo, no início da Lei 8.666/1993, no art. 2º, temos a seguinte
disposição:
Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Diante destas regras, fica difícil obrigar um particular a seguir a legislação federal em
matéria de licitações. Mesmo com o recebimento da verba pública, deve-se entender que o P oder
Dito isso, foi publicado, em 2005, o Decreto 5.504, que no seu art. 1º previa o seguinte:
P ortanto, o Decreto 5.504/2005, de modo até inesperado na época, passou a exigir que o
particular (OS’s, OSC IP ’s, etc) que recebesse recursos federais, observasse a legislação federal
P assados dois anos, em 2007, foi publicado um novo decreto (atentando-se que todas
estas modificações estão sendo processadas em nível de decreto, pois nem a C onstituição nem a
legislação exigem isso), Decreto 6.170, que afasta a exigência do art. 1º do art. 5.504 e no seu
Art. 11. Para efeito do disposto no art. 116 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a
aquisição de produtos e a contratação de serviços com recursos da União transferidos a entidades
privadas sem fins lucrativos deverão observar os princípios da impessoalidade, moralidade e
economicidade, sendo necessária, no mínimo, a realização de cotação prévia de preços no
mercado antes da celebração do contrato. (Vigência)
Observe-se que o art. 166 da Lei 8.666/1993 é aquele que prevê a aplicação da Lei de
Licitações aos convênios ou ajustes congêneres, no que couber. Enquanto a Lei 8.666/1993 é
aplicável, em regra, aos contratos, ela não é, em geral, aplicada aos convênios.
pela Administração P ública e por particulares que recebem recursos e, além disso, que façam uma
cotação prévia de preços. C ontudo, o Decreto 6.170/2007 não exige a observância da legislação
P ortanto, hoje em dia, as OS’s e OSC IP ’s não precisam obedecer às normas federais de
É necessário entender que uma coisa é a escolha da OS ou OSC IP pelo P oder P úblico,
outra coisa é como estas entidades do Terceiro Setor vão contratar. De todo modo, já sabemos
que elas não precisarão observar o regramento federal de licitações, por se tratarem de
particulares.
Esta são as principais considerações em relação ao Terceiro Setor, um tema que cai muito
em prova, uma matéria importante para quem irá se tornar P rocurador da República, pois o MP F
recursos, se há fraudes, ou um funcionamento voltado para o desvio dos recursos públicos que
foram repassados, por isso é importante conhecer muito bem o Terceiro Setor. Além do que foi