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Todas as vezes que chupo laranja lembro do meu avô Balduino.

Ele gostava de duas espécies


da fruta, seleta e bahia, o vendedor de laranjas cruzava as ruas do I.A.P.I de Del Castilho
gritando para que todos descessem e comprassem e vovô comprava dúzias delas. Eu gostava
da bahia porque, na bundinha, tinha outra laranjinha que dizíamos que eram os filhinhos da
laranja. Balduino tinha uma faca específica para descascar a fruta, cujo o cabo ele mesmo
confeccionara. Sim, meu avô fazia os cabos de todas as suas ferramentas, ele era marceneiro.
Não só fez os cabos como desenhou e construiu alguns dos nossos móveis, um beliche bicama
(para cabermos nós três, eu e meus irmãos), uma sapateira incrível e um móvel onde ficava o
nosso telefone. Todos úteis, resistentes e sob medida. Além dessa habilidade, ele era hitech,
nos anos onde a tecnologia ainda era precária, sempre tinha uma lanterna que nos salvava,
nas nossas viagens, de ficarmos no escuro. Já bem idoso ele queria surfar e saltar de asa delta,
mas na época não existia esses voos duplos que tem hoje, uma pena! Mas para diminuir a
vontade, ele ia até onde acontecia o surfe e o voo e pedia para tirarmos a foto com ele ao
lado. Nós o apelidamos, carinhosamente de Vovô Camarada e o papai fez uma música e tudo
para ele e ensaiamos e cantamos no seu aniversário de 80 anos. É assim:

O vovô é um velhinho camarada


Camarada
Camarada
E olha aí
Ele sabe tudo
Ele sabe muito mais
Onde ele chega
Ele transmite muita paz
O vovô é nosso amigo
O vovô é nosso irmão
Esse velhinho mora no meu coração
Sabem por que ele é assim?
Porque gosto dele
Ele gosta de mim.

Ele era mesmo um velhinho camarada e quando descava laranjas não perdia o fia a casca saia
inteira, parecia uma cobrinha. E lá íamos nós brincar com aquele fio de casca rodando no ar e
fazendo um monte de cantoria. Como é bom ter avô. Eu tive o meu por muitos anos.

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