De Madalena, cantada (forçada) durante a ditadura cívico-militar, até
o pedido de desculpas ao Henfil com o Bêbado e a equilibrista.
O som que saia da janela do primeiro andar do terceiro bloco da Rua
São Brás no bairro de Todos os Santos, não pedia licença e interrompia a leitura diária. A voz de Elis Regina, vinda da vitrola da Kátia Marina, penetrava nos ouvidos, uma voz mais que deslumbrante. Nunca tive chance de agradecê-la por formar o meu gosto musical. Os discos que nunca pude comprar eram os de Kátia, eles também eram meus e ela nem sabia, os emprestava para mim mesma. Ou tinha os livros do colégio/faculdade ou discos, a grana era curta para tudo. Chinelos de pneu, fabricados, de modo artesanal, pelo papai, bata hippie, calça de pijama ou cocota, cabelos sem pentear (a la carneirinho) e a voz de Elis a me dizer que amar valia a pena desde que fosse uma entrega completa e intensa ainda que pura.
“Eu ein Rosa!
Só vale a jura secreta que não fiz? Mas chora tanto de prazer e agonia Num tapete atrás da porta, reclamei baixinho. E agora me aperta a aflição de chorar... Se de repente combina da gente se cruzar Porque as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam Perdoem a falta de abraços, os dias eram assim...”
De Madalena ao Bêbado existem duas mulheres no meu caminho, no
som que entrava pela janela da sala, dos meus discos de vinil emprestados, Elis e Kátia, me fizeram sentir, sofrer, amar e entender que ser feliz é importante, mas do meu jeito. Ah! Ia esquecendo “Black is beatiful”