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JORNALISMO POLICIAL EM FRUTAL: ANÁLISE DAS PRÁTICAS JORNALÍSTICAS1

Rodrigo Daniel Levoti PORTARI2


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GT3 – Indústrias Midiáticas
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Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG, rodrigo.portari@uemg.br

RESUMO
O presente estudo propõe uma análise da prática do jornalismo policial a partir dos programas
de radiojornalismo veiculados diariamente no município mineiro de Frutal. Trata-se de uma
pesquisa acerca da prática jornalista adotada pelas emissoras Rádio 97FM e Rádio 102FM no que
tange à divulgação de notícias de cunho policial. Em ambos os casos as notícias policiais são
apresentadas por policiais militares da ativa, ou seja, estes não atuam apenas como comentadores
dos fatos, mas sim como apresentadores da programação jornalística das emissoras.
Tal fato chama a atenção a partir do momento em que todo o conteúdo apresentado baseia-se
somente na leitura do histórico descrito nas ocorrências policiais registradas pela PMMG. O ouvinte
tem acesso apenas a uma versão dos fatos – normalmente à daquela pessoa que registrou a
ocorrência, sem qualquer outra entrevista ou complemento.
Questionamos, então, a prática jornalística adotada por estas emissoras, uma vez que, o
mínimo esperado do jornalismo é que todos os lados envolvidos sejam ouvidos antes de colocar
uma notícia em circulação. O fato de haver dois policiais militares exercendo o papel de
apresentadores/jornalistas faz com que essa prática não exista, deixando de lado o papel ético do
jornalismo. Além desta situação, constatou-se que em diversas oportunidades há o uso do humor por
parte dos policiais ao relatar as informações, transformando o quadro em uma seção de
entretenimento.
Acompanhamos durante uma semana a programação das rádios, em especial o noticiário
policial. Desta forma, a pesquisa tem como principal objetivo a discussão das práticas jornalísticas e
a ausência dos princípios básicos de apuração, que são deixados de lado em busca de aumento nos
índices de audiência dos programas. Como referencial teórico utilizamos autores que pesquisam o
jornalismo policial bem como as funções esperadas do jornalismo, tais como AMARAL (2007),
CORREIA (2009), FUCCIA (2008), RAMOS (2012) e REGINATO (2016).
Mesmo com a pesquisa em andamento, constatamos resultados interessantes acerca da forma
como as notícias policiais são veiculadas: ambos policiais militares criaram “bordões” que utilizam
com frequência durante a leitura das ocorrências. Sargento Cleuder Nunes, apresentador da Rádio
102FM, tem como bordão a frase “se não quiser aparecer, é só não deixar acontecer”, enquanto que
Cabo Lélio, apresentador da Rádio 97FM, usa a expressão “benção mãe” para chamar a atenção dos
envolvidos nas ocorrências policiais, em especial os apontados como autores de delitos. Ambos
apresentadores continuam a assumir a postura de policiais militares mesmo durante suas
participações nas rádios, tecendo comentários de repreensão aos ouvintes após noticiar os fatos
policiais. E, ainda, nomes de possíveis autores e vítimas, bem como endereços residenciais, são
lidos no noticiário sem qualquer tipo de preocupação em preservar a identidade dos possíveis
suspeitos, sendo eles culpados ou não, o que pode gerar, além de medidas judiciais,
constrangimento social quando se trata de inocentes. De todo esse quadro, detecta-se que a prática
do jornalismo é deixada de lado em função de noticiar, de forma indiscriminada, os fatos policiais,
possivelmente em busca de maiores índices de audiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, M. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2007.


CORREIA, J. O ethos jornalístico: da técnica à reflexão crítica. Verso e Reverso, V.23, n.54, p.10-
30, 2009.
FUCCIA, E. Reportagem Policial: um jornalismo peculiar. Santos: Editora Realejo, 2008.
RAMOS, R. Os sensacionalismos do sensacionalismo: uma leitura dos discursos midiáticos. Porto
Alegre: Editora Sulina, 2012.
REGINATO, G. As finalidades do jornalismo: o que dizem veículos, jornalistas e leitores. 2016.
230f. Tese de doutorado defendida junto ao PPG-COM da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre.

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