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A Constituição de 1988 sob a ótica do Jornal Esquema em Frutal-MG1

PORTARI, Rodrigo (Doutor)2


PORTARI JUNIOR, Sérgio (Mestre)3
Universidade do Estado de Minas Gerais / MG

Resumo: O presente trabalho se propõe a discutir como se deu a notícia da promulgação da


Constituição Federal em 1988 a partir da ótica do Jornal Esquema, semanário que circulou no
município de Frutal e região entre 1973 e 1990. Ao longo de seus 20 anos a publicação passou
por pelo menos três diretores e, em 1988, era considerado um dos principais jornais do Baixo
Vale do Rio Grande, em especial pela cobertura política, seu principal foco de atuação. No
entanto, pesquisa realizada nos acervo do jornal no ano da promulgação da Constituição, em
especial entre as oito edições que compreendem os meses de setembro e outubro, encontrou-
se apenas três menções à Constituinte e à Constituição, todas em artigos de opinião que
criticavam o novo texto constitucional, demonstrando especial preocupação com as questões
econômicas do país e com a grande inflação registrada em 1987 e 1988. Desta forma, resgata-
se como o leitor do jornal em nível local e regional praticamente deixou de ser informado
sobre esse importante marco para a história do Brasil.
Palavras-chave: Notícias sobre a Constituição; Jornal Esquema; Frutal.

Introdução
Em 1988 o Brasil vivia mais um importante capítulo de sua história com a
promulgação da Constituição Federal, com seu texto aprovado em 22 de setembro daquele
ano, com a promulgação oficial ocorrida em 5 de outubro. Foram momentos de intensos
debates e, principalmente, elogios à aprovação do texto que retomava a democracia no Brasil
e, mais que isso, garantia aos cidadãos direitos que há muito eram apenas sonhados. Intitulada
como a “Constituição Cidadã” pelo presidente da Constituinte, Ulisses Guimarães, o título foi
dado pela participação da população na elaboração de seus termos, bem como pela previsão
de garantias e direitos políticos e civis que desde 1967 haviam sido tolhidos do povo
brasileiro.
Desta forma, é natural que tenha ocorrido grande interesse por parte da mídia em nível

1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo integrante do V Encontro Regional Sudeste de


História da Mídia – Alcar Sudeste, 2018.
2 Doutor em Comunicação pela UFMG. Coordenador do curso de Jornalismo da UEMG-Frutal. Contato:
rodrigo.portari@uemg.br
3
Professor da UEMG-Frutal. Mestre em TV Digital pela UNESP-Bauru. Contato: sergio.portari@uemg.br
nacional para dar cobertura a todos os detalhes sobre a aprovação do texto e sua entrada em
vigor. Notícias se espalhavam em redes de televisão, emissoras de rádio e grandes jornais
impressos.
Neste mesmo período, o município de Frutal, cidade do interior de Minas Gerais,
localizado na região do chamado Baixo Vale do Rio Grande, contava com uma imprensa
escrita atuante, principalmente quando o assunto era política. Um dos principais jornais da
época era o Jornal Esquema, semanário editado no município e que tinha circulação em
diversas cidades da região, como Planura, Fronteira, Comendador Gomes, Itapagipe, São
Francisco de Sales e Iturama. Todos estes localizados no que é chamado “pontal” do Baixo
Vale do Rio Grande.
O Jornal Esquema foi fundado em 1973 pelo jornalista Paulo Martins Goulart e que
tinha, conforme editoriais publicados nas primeiras edições, a missão de integrar toda a região
através de um meio de comunicação que defendia os interesses da comunidade. À época de
sua fundação a cidade já contava com outro jornal, o Folha de Frutal, que circulou até o início
da década de 1980.

Uma nova fase do jornalismo impresso se iniciou em Frutal, a partir de junho de


1973. Foi lançado o jornal “O Esquema”, tendo como fundador o jornalista Paulo
Martins Goulart. Com oito páginas impressas e ilustradas este impresso esteve nas
ruas até 1989, quando já era dirigido pelo jornalista Narcio Rodrigues da Silveira.
(ARAUJO et. all, 2016, p.49)

A principal diferença do Esquema com seu concorrente estava na abordagem política,


mais pautada nas críticas às administrações municipais. A princípio o jornal circulava em oito
páginas, sempre aos sábados, e trazia em cada página uma divisão de assuntos: primeira
página, notícias de Frutal na página 2, opinião e carta dos leitores na página 3, notas e fotos de
coluna social na página 4, notícias de Frutal na página 5, notícias da região nas páginas 6 e 7,
notícias de Frutal na página 8.
Figura 1 – capa do Jornal Esquema em que é noticiada a morte de seu fundador
Fonte: Acervo dos autores

A principal preocupação temática do jornal era a atuação dos prefeitos e vereadores,


com matérias que teciam elogios ou críticas a depender da atuação. O espaço de opinião
mantinha colunas assinadas por jornalistas da cidade ou artigos de colaboradores esporádicos.
Na seção de cartas ao leitor, elogios à atuação do jornal, do jornalista, ou cobranças de
problemas que ocorriam na cidade.
Esta era a estrutura básica do Jornal Esquema durante cerca de uma década e meia.
Quando do falecimento de seu fundador, Paulo Goulart, o jornal foi adquirido por seu chefe
de redação, Narcio Rodrigues da Silveira, que manteve as mesmas características e interesses
do jornal. Com a mudança deste para Uberlândia, entre o início de 1988 e 1990 o jornal foi
arrendado pelo jornalista Sérgio Carlos Portari. E é justamente nesta época em que se tem a
instalação da Constituinte, aprovação do texto Constitucional e a consequente promulgação da
Constituição Federal.
No entanto, além disso, neste mesmo período estava em curso as eleições municipais
realizadas em 15 de novembro de 1988. E o grande escopo das matérias encontradas entre
setembro e outubro deste mês centra-se nos candidatos a prefeito e vereador do município e
da região, com divulgação de pesquisas e diversas orientações sobre colégio eleitoral e a
importância da população em participar do pleito.
Desta forma, o jornal, que tinha características local/regional, não dedica tanto espaço
para a Constituinte ou mesmo a promulgação da Constituição Federal e, quando o faz, é por
meio de artigos de opinião que não exaltam avanços da lei, mas exprimem especialmente a
preocupação com aspectos econômicos e tributários do país.

O Esquema e a Constituição de 88
Em nossa pesquisa histórica realizada no acervo do Jornal Esquema (que se encontra
sob os cuidados dos autores), centramos a atenção nos meses de setembro e outubro a fim de
verificar como o jornal abordaria o assunto. A expectativa, de início, era a de que haveria
reportagens específicas acerca da Constituição de 1988, especialmente pelo fato de se tratar
de um marco importante para a vida dos brasileiros. No entanto, as notícias sobre as eleições
municipais dominavam o assunto em todas as páginas, deixando essa informação de lado e,
possivelmente, fazendo com que os leitores do semanário buscassem informações em grandes
redes noticiosas.
A primeira menção que encontramos acerca da Constituinte está na edição de Nº 755
do Jornal Esquema, datada do dia 26 de setembro de 1988, ou seja, quatro dias após a
aprovação do texto da Constituinte.
Figura 2 – Capa da Edição 755
Fonte: Acervo dos autores

A primeira página da publicação, reproduzida na Figura 2, demonstra que ali já não


havia espaço para a Constituinte, fixando seus conteúdos principalmente no aniversário da
cidade (que se comemora em 4 de outubro), bem como notícias sobre política de Frutal e
Iturama e acontecimentos da sociedade. A menção à Constituinte só ocorrerá na página 3, em
artigo de opinião do jornalista Narcio Rodrigues que, na verdade, faz uma ponte entre a
aprovação da Constituição e as eleições municipais a partir daquilo que ele chama de
“desânimo” do brasileiro com a eleição municipal:

Nunca em tempo algum – nem mesmo no auge da ditadura – o País viveu


um clima tão morno em relação Às eleições municipais. A apatia é geral. A
população se mostra totalmente desinteressada da política, não aplaude nem vaia,
não elogia nem critica. Apenas espera o momento do voto. Talvez para, na urna,
colocar uma grande dose de sua frustração, com votos em branco e nulos. Teme-se
uma quantidade enorme no próximo pleito.
E está e uma situação geral, sem exceções. Nem mesmo a perspectiva das
eleições para presidente da República em 89 chega a motivar. Também, motivar
como e com quem? Os candidatos a presidente não trazem nada de novo. Ainda são
os mesmos de trinta anos atrás. Aí estão falando em suceder Sarney candidatos como
Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Aureliano Chaves. Lula e
Caiado – dois polos distantes – também foram citados como presidenciáveis – mas e
daí?
A verdade é que o País não encontrou na Constituinte o que esperava
encontrar. Ou seja, um momento de luz em que a Nação definisse rumos, fixasse
metas e começasse a se reconstruir, numa tarefa soberba, que exigiria esforços de
todos. A Constituinte foi o que não poderia deixar de ser: um momento de reflexão,
u momento em que se tirou a roupa e se pode ver, pelo espelho, que o País é um
amontoado de interesses conflitantes, uma Nação atrás de uma perspectiva, mas
entregue ainda a conflitos ideológicos que deveriam estar sepultados pelo tempo.
De certa forma, a Constituinte representou o fim da farsa, a queda do
disfarce. Durante anos, a Nação buscou no futebol, nas Copas do Mundo, em
eleições mal feitas, uma forma para sufocar toda sua frustração em relação ao País.
A Constituinte, depois da derrota da diretas-já, do Tancredo-já, era o desaguadouro
de todas expectativas. Por isto, houve quem a superestimasse, conferindo-lhe mais
valor do que realmente tem.
A frustração foi natural. A nova Constituição é, portanto, também um
momento em que a máscara do País está sendo retirada. O que há pela frente é um
País com dificuldades enormes para se viabilizar, com vícios em sua administração
pública, comprometido em dívidas e que não sabe se impor perante o mercado
internacional. Um País que tem uma nova carta, mas não sabe por onde começar.
É por isto que todos estão desencantados. Alguns querem fugir daqui, morar
noutro lugar, correr léguas desta inflação desenfreada. Não é uma atitude de
covardia; é, sobretudo, um gesto de sobrevivência. Eleições municipais, neste
contexto, já não representam solução nem rima. Alguém aí já escolheu seu candidato
a vereador? E o que um vereador vai mudar nisto tudo? Muito pouco, é certo. Pouco
mesmo. (RODRIGUES, 1988, p.3)

Como destacado anteriormente, este é o único texto publicado que faz menção direta à
Constituição logo após sua aprovação pelo Congresso Nacional. E o autor destaca, em seu
conteúdo, apenas pontos negativos da carta da Constituinte: a coloca como uma lei que frustra
o brasileiro e que não irá resolver os problemas do país, entre eles, expressamente a
superinflação que acometia o Brasil àquela época.
O texto vem assinado na coluna intitulada “Caro Leitor”, ou seja, trata-se de uma
mensagem direta do articulista (e do jornal) para seus receptores, como demonstrado na
Figura 2:
Figura 3 - Página 3 da Edição 775, de 26/09/1988
Fonte: Acervo dos autores

Todos os avanços que hoje, 30 anos depois, se colocam em debate, são ignorados pela
publicação da época. A conquista do direito ao voto, a cidadania, garantia de direitos e
detalhamento de deveres são colocados de lado por aquilo que o articulista chama de
“frustração”. Sendo ele um colaborador fixo da publicação e, mais que isso, à época
proprietário da empresa que estava arrendada, o texto quase assume ares de “editorial” do
jornal local, transmitindo uma mensagem para a população de total falta de aprovação com a
nova Constituição Federal, então recém-aprovada.
Esse mesmo posicionamento de descrédito em relação à Constituição também é
verificado em outras duas oportunidades em artigos assinados por um colaborador esporádico
do jornal, Luiz Ferreira de Lima, jornalista e diretor da Agência Planalto, que submetia artigos
de opinião para a publicação. Foram dois textos publicados em semanas alternadas, sendo um
no dia 3 de outubro e o outro, duas semanas mais tarde. Ambos trazem o mesmo mote na
preocupação do articulista: as questões econômicas e financeiras de prefeituras e do país a
partir do novo texto.
Municípios e reforma tributária
Faz muito tempo que nos incluímos entre aqueles brasileiros que se
insurgiam contra a excessiva concentração tributária em mãos da União, o que não
só contribuía para arrebentar com o princípio federativo, praticamente anulando a
autonomia político-administrativa de Estados e municípios, cujos poderes
Executivos não dispunham de recursos financeiros para administrar, como, ao
mesmo tempo, humilhava governadores e prefeitos, transformando-os em eternos
pedintes do poder central, do qual dependiam para a consecução de qualquer verba
que pudesse contribuir para melhorar a qualidade de vida dos municípios.
Os constituintes decidiram, então, efetuar uma reforma tributária em
profundidade de modo a dar aos Estados e municípios uma parte bem maior do bolo
tributário. Os Estados terão suas arrecadações aumentadas em até 15% e os
municípios em até 30%, o que provocará uma queda de cerca de 17% na receita da
União, a qual já montou uma chamada “operação desmonte”, com o objetivo de
transferir aos governantes e prefeitos certos encargos que atualmente são de
exclusiva responsabilidade da União.
Poderíamos aplaudir com entusiasmo essa reforma. Todavia, nos
arreceiamos do que possam vir a fazer em alguns municípios deste vasto País alguns
dos prefeitos que serão eleitos em 15 de novembro. Dispondo de recursos
financeiros, nem sempre dispõem de um plano administrativo ou de ideias que sejam
transformadas em realidade depois que os administradores municipais, mais do que
os governadores de Estado, cujos problemas são maiores e mais conhecidos até
nacionalmente, dependendo do Estado, elaborem seus planos administrativos e
elejam as prioridades a serem executadas. E estas não poderão fugir muito de umas
poucas áreas, como educação, transporte coletivo, saneamento básico, saúde. A
moradia deve ficar a cargo da iniciativa privada, cuja indústria da construção civil é
forte e poderosa, devendo o poder municipal cuidar para que as plantas aprovadas
não se voltem, tempos depois, contra a população, dificultando-lhe a vida por falta
de um plano diretor da cidade.
Além de tudo isso, será preciso que a comunidade esteja atenta para que a
fartura do dinheiro nos cofres municipais não seja utilizada para a construção de
fontes luminosas ou de cristos redentores esculpidos sobre qualquer elevação em
torno da cidade, nem para continuar o empreguismo público que já é, presentemente,
uma grande vergonha nacional. (LIMA, 1988a, p.3)

O mais emblemático dos dois textos faz menções diretas à Constituição e a sua
promulgação. O artigo foi publicado em 17 de outubro de 1988 na seção “Fatos e Ideias”, e
único texto que menciona de forma expressa a aprovação da Carta Constitucional.
No artigo do jornalista, não são feitas exaltações aos direitos civis, mas ponderações
sobre lacunas apresentadas na nova Carta Magna, em especial, a preocupação da necessidade
excessiva de leis complementares:

Enfim, a Constituição
O Brasil está de Constituição nova. Não adianta, agora, discutir se ela é boa
ou se é má; se representa o Brasil real ou o Brasil resultante da confusão
estabelecida pelos constituintes entre os seus desejos e a realidade objetiva. A todos
se impõe o dever de cumprir a nova Carta. Ela é a nossa Lei Maior, embora careça
de grande quantidade de leis complementares e ordinárias, que deverão ser
elaboradas e votados por deputados e senadores, para que tenhamos efetivas
condições de realizar a tarefa de cumpri-la.
Tarefa ainda difícil, sem dúvida. Primeiro, porque 28%, ou mais, de
patrícios nossos são analfabetos e jamais lerão o que na Carta está escrito; segundo,
porque nem tudo que nela se contém é auto-aplicável; terceiro, porque no seu texto
estão contidos os meios que, de início, impedirão o seu cumprimento sem que a
sociedade, como um todo, seja prejudicada. Por exemplo: a declaração do mercado
brasileiro como patrimônio nacional, o que leva a crer que os negócios serão feitos
só entre nacionais; a exploração das riquezas mineiras proibida a empresas
estrangeiras; a xenofobia na definição do que é empresa nacional; a discriminação
da origem da empresa e do capital.
Há outros dispositivos “avançados”, que países como a França estão
anulando por força de lei de sua Assembleia Nacional, como o caráter irrestrito de
greve, sem ressalva dos serviços essenciais à população, como os de saúde,
transporte coletivo, bancos e outros. E há a limitação dos juros em 12% ao ano,
quando o governo lança papeis no mercado que rendem, às vezes, 20% ao mês.
As dificuldades da nova Carta, podem contribuir para ampliar o diálogo
entre empregados e empregadores na iniciativa privada, o que já vem acontecendo,
como é fácil verificar pelo número de greves eclodidas no decorrer deste ano. Foram
poucas no setor privado, sendo a grande maioria realizada no setor público, nas
deficitárias e mal-administradas empresas estatais, onde o prejuízo é socializado
pelo Tesouro Nacional. Os 18 meses de elaboração da nova Constituição deixaram
lições, principalmente entre os empresários que, quando da elaboração das leis
complementares e ordinárias, hão de deixar de lado as vaidades mal-feridas e os
interesses menores, para unirem-se e oferecerem colaboração que resultem em
benefício geral, a fim de que so brasileiros possam, efetivamente, cumprir e
orgulharem-se da sua Constituição que, então, poderá ser chamada de Constituição
Cidadã. (LIMA, 1988, p.3)

Se em 2018 comemoramos os 30 anos de promulgação da Constituição Cidadã, para a


época, a nova carta não carregava este status na opinião do autor do texto. Ele demonstra
insatisfação com as brechas deixadas no texto original que levariam à criação de leis
complementares e ordinárias e, assim como no texto de Narcio Rodrigues da Silveira, aponta
descontentamento com a questão econômica prevista na nova lei.
Figura 4 – Página 3 da Edição 778 do Jornal Esquema, de 17/10/1988
Fonte: Acervo dos autores

A economia brasileira é a preocupação mais evidente em ambos os textos e,


considerando se tratarem de praticamente as únicas menções feitas à nova lei maior do país,
há de se supor que a empresa jornalística também corroborava com esse pensamento. Não há,
em qualquer outra página das edições de setembro e outubro, qualquer comemoração ou
elogios à Constituinte ou à Constituição Federal. Pelo menos, para os leitores do Jornal
Esquema da cidade de Frutal e dos municípios por onde este circulava, tratava-se de mais uma
lei que não atenderia de fato as demandas e anseios do povo brasileiro.
Ao se voltar para o contexto econômico àquela época, é possível compreender a
preocupação dos articulistas com a nova Constituição. Em 1987 o país atravessou período
intenso de recessão, fechando o ano com uma inflação acumulada de 366%. No final de 1988,
a inflação chegou a 933%, com o Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento negativo de
0,2%. O resultado desse desastre econômico foi a eleição de grande número de prefeitos de
partidos de oposição, uma forma de protesto dos eleitores nas urnas.
Com a nova Constituição, segundo Edson Pereira Bueno Leal, as finanças públicas
ficaram ainda mais agravadas.

As despesas com pessoal foram aumentadas, em função de mudanças da


Constituição.
Os benefícios previdenciários foram aumentados e os pagamentos das
aposentadorias. Só a despesa com previdência passou de 4,8% do PIB e, 1988, para
6,3% em 1989 e 10,1% em 1990.
Houve uma redistribuição da receita do governo federal para os Estados ainda maior
do que a ocorrida antes, com o aumento das transferências.
A União perdeu alguns tributos, incorporados ao ICMS, como o IUM, IUEE, IST,
IUCLGL, onde participava de 10 a 100%. A distribuição do ICMS alterou-se nos
Estados de 80 para 75% e dos municípios de 20 para 25%.
Estas alterações provocaram mudanças estruturais na economia. Os Estados e
Municípios passaram a se recusar a assumir parcelas de despesas da União,
aumentando os gastos desta. A União passou a ter dificuldade de tocar grandes
projetos. Os investimentos em Estados e Municípios são de menor porte, por
mobilizarem recursos menores e terem interesses diferentes e mais localizados.
(LEAL, 2013)

Neste contexto todo, as preocupações quanto a direitos civis, conquista do voto direto,
ou quaisquer outros benefícios trazidos na nova Carta Magna são deixadas de lado pela
publicação. Alta de preços, diminuição do poder aquisitivo e os problemas tributários do país
e das prefeituras tomam o primeiro lugar nas preocupações do semanário, deixando todo o
resto de lado.

Considerações Finais
A pesquisa realizada com base nas edições dos meses de setembro e outubro de 1988
no Jornal Esquema demonstrara uma interessante realidade para o público leitor do município
de Frutal e região: a falta de abordagens da Constituinte ou da Constituição em si em matérias
de cunho noticioso. De certa forma, enquanto o país atravessava um importante momento para
sua redemocratização, o jornal semanário passava a impressão de estar alheio ao fato, com
exceção, nos artigos de opinião assinados por seus colaboradores.
Possivelmente a falta de notícias sobre a Carta se deve ao fato da publicação ser
semanária e a distância entre uma edição e outra, ou mesmo entre o fechamento e sua
circulação nas ruas, pudesse atrapalhar o acompanhamento mais próximo do que acontecia em
Brasília naquele momento. No entanto, quando se trata das opiniões dos articulistas, o que se
vê é a falta de empolgação com aquele momento, com textos que chegam a beirar o
negativismo sobre o real impacto da Constituição Federal na vida dos brasileiros e moradores
da região de circulação do jornal.
A preocupação com os quesitos econômicos tratados nos artigos é evidente. Desde a
questão tributária, que impacta diretamente a vida financeira dos municípios e do Estado, ao
caráter irrestrito das greves tal como constava em seu texto original, são alvos de
questionamentos por parte dos articulistas.
Partindo da perspectiva do Jornal Esquema, considerando o fato de que possa ter
existido àquela época leitores que só se informavam exclusivamente por esse meio de
comunicação, a leitura que se pode fazer daquele momento para a publicação é de que a nova
Constituição não resolveria os problemas imediatos de ordem inflacionária e, de certa forma,
até mesmo o direito ao voto, e demais direitos civis, são deixados em segundo plano, como se
fossem apenas acessórios da Carta Constitucional e que sequer mereceram abordagem ou
destaque para a mídia impressa.
Por seu caráter documental, o jornal impresso é uma fonte importante de leitura e
observação para se entender como determinadas comunidades encaravam fatos e notícias à
época de suas ocorrências e, diante do que vimos, essa era uma questão que, localmente ou
regionalmente, não havia relevância para esse impresso.

Referências bibliográficas

ARAUJO JUNIOR, Antônio; GUILHERME, Clarissa; FERREIRA, Lienay. A história da


imprensa de Frutal: um passado presente. Frutal-MG: Prospectiva, 2016.
LEAL, Bruno Silva. Economia Brasileira- Década de 1980. Disponível em:
http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/economia-brasileira-decada-
de-1980/69426/ . Acesso em 22/04/2016.
LIMA, Luís Ferreira. Municípios e a reforma tributária. Jornal Esquema, Frutal, v. 1, n 776,
pp. 3, 1988b.
LIMA, Luís Ferreira. Enfim, a Constituição. Jornal Esquema, Frutal, v. 1, n 778, pp. 3,
1988b.
SILVEIRA, Narcio Rodrigues. Caro Leitor. Jornal Esquema, Frutal, v. 1, n 775, pp. 3, 1988.

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