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Vol. 43, Edição Especial: Avaliação de Impacto Ambiental, dezembro 2017. DOI: 10.5380/dma.v43i0.

54177

DESENVOLVIMENTO
E MEIO AMBIENTE

A descentralização do licenciamento ambiental na percepção


de partes interessadas de 84 municípios brasileiros

The Decentralization of Environmental Licensing as Perceived by


Stakeholders in 84 Brazilian Municipalities

Thiago NASCIMENTO1*, Alberto FONSECA1


1
Laboratório Interdisciplinar de Gestão Ambiental (LiGA), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (ProAmb), Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil.
*
E-mail de contato: tthiagorsn@gmail.com

Artigo recebido em 28 de julho de 2017, versão final aceita em 14 de novembro de 2017.

RESUMO: O licenciamento ambiental está sendo cada vez mais descentralizado para o nível dos municípios brasileiros,
especialmente após o incentivo da Lei Complementar 140/2011. Diversos estudos foram realizados sobre esse
fenômeno, mas poucos compararam as experiências de municipalização no território nacional, especialmente sob
diferentes óticas. Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que procurou entender a percepção que
diferentes partes interessadas têm sobre a municipalização do licenciamento ambiental no território brasileiro.
A pesquisa seguiu uma abordagem metodológica mista e sequencial. Os dados (quantitativos e qualitativos)
foram coletados por meio de um questionário on-line e, posteriormente, analisados com o uso de estatísticas
descritiva e inferencial. Foram obtidos 134 questionários válidos, que contemplaram 84 municípios de 20
estados do país. Os resultados corroboraram a existência de uma acentuada percepção de que os municípios
brasileiros têm baixa capacidade institucional, o que fica espelhado, sobretudo, na falta de recursos humanos
e financeiros nos órgãos ambientais municipais. Neste estudo, porém, foi identificado um acentuado contraste
de percepção em relação à eficiência do licenciamento municipal entre aqueles que atuam dentro e fora dos
órgãos ambientais municipais. De maneira geral, os resultados sugerem que a municipalização do licencia-
mento tem atribuído mais uma camada de responsabilidades aos municípios, que já se encontram fragilizados
no contexto federativo brasileiro. A municipalização corre o risco de reproduzir os problemas já existentes no
licenciamento estadual e federal no nível municipal. O artigo sugere estudos futuros.
Palavras-chave: licenciamento ambiental; municipalização; política ambiental; avaliação de impacto; fede-
ralismo.

ABSTRACT: The decentralization of environmental licensing to the municipal level has been growing steadily in Brazil,
especially after the incentives provided by Complementary Law 140/2011. This phenomenon is being
investigated by numerous scholars, but few studies have addressed the differences in decentralization experiences
across the Brazilian territory. This article presents the results of a study that aimed at understanding how

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different stakeholders perceive the decentralization of environmental licensing in Brazil. The study adopted a
mixed-method research approach. Data (quantitative and qualitative) was collected through an online survey
and then analyzed through descriptive and inferential statistics. A total of 134 valid questionnaires representing
84 municipalities in 20 states were analyzed. Findings corroborate existence of a strong perception that the
Brazilian municipalities have low institutional capacity, which shows mainly in the lack of human and financial
resources at local environmental agencies. The study, however, identified a sharp contrast of perception
related to the efficiency of the municipal licensing system between those who work inside and outside local
governments. Overall, findings suggest that the decentralization of environmental licensing is adding another
layer of responsibilities to local governments, whose management capacities are already jeopardized by
historical problems of the Brazilian federalism. Therefore, decentralization might be simply spreading the
already existing problems from the state and federal licensing processes to the municipal level. The article
suggests future studies.
Keywords: environmental licensing; decentralization; environmental policy; impact assessment; federalism;
Brazil.

1. Introdução o licenciamento ambiental com expectativas de


resolução de problemas que não lhe cabem (Bim,
O licenciamento ambiental tornou-se nas últi- 2015; Ribeiro, 2015).
mas décadas um dos mais importantes instrumentos Diante deste cenário, resta incontestável a ne-
da política ambiental brasileira. Seu crescente uso, cessidade de aperfeiçoamento do sistema de licen-
sobretudo quando vinculado à avaliação de impacto ciamento ambiental. O desafio, porém, é alcançar
ambiental, tem contribuído para o aperfeiçoamento um consenso sobre como promover esse aperfei-
socioambiental de projetos, tornando-os menos çoamento. Diversas propostas foram apresentadas
impactantes e potencializando, em alguma medida, nos últimos anos, mas desacompanhadas de avalia-
suas contribuições para a sustentabilidade das co- ções robustas sobre suas potenciais consequências,
munidades e ambientes impactados. Tais benefícios, sobretudo quando parcialmente implementadas
todavia, vieram acompanhados de controvérsias. O (Fonseca et al., 2017).
setor industrial frequentemente critica a lentidão e É importante frisar que a pressão para a
a burocracia das análises de pedidos de licenças melhoria do licenciamento não é exclusiva do
ambientais (CNI, 2007, 2013). Órgãos licenciadores Brasil. Em diversos países da América do Norte,
reclamam de dificuldades estruturais, técnicas e Oceania e União Europeia estão sendo discutidas
financeiras para lidar com uma quantidade cada vez e implementadas propostas de aprimoramento do
maior de processos (ABEMA, 2013). Especialistas licenciamento ambiental e da avaliação de impacto
questionam o volume e a quantidade dos estudos de (European Commission, 2009; Gibson, 2012;
impacto ambiental (MPF, 2004; Hofmann, 2015). Middle et al., 2013). O que parece ser peculiar ao
O sistema também tem sido marcado por conflitos Brasil é certa ênfase na necessidade de descentra-
judiciais em grandes empreendimentos (Scabin lizar o sistema.
et al., 2014; Fainguelernt, 2016) e pela lacuna de Descentralização é um termo que geralmente
aplicação de outros instrumentos da política am- refere-se ao processo de transferência de poder
biental, uma situação que acaba sobrecarregando político, fiscal e administrativo para unidades sub-

153 NASCIMENTO, T.; FONSECA, A. A descentralização do licenciamento ambiental na percepção de partes interessadas...
nacionais de governo (Burki et al., 1999). Embora cios sinérgicos aos entes federados. Segundo esti-
a descentralização seja usada para descrever vários mativas da Confederação Nacional de Municípios
graus e formas de mudança no papel do governo (CNM), cerca de 70% dos pedidos que tramitavam
nacional, no Brasil o termo costuma ser entendido na década passada nos órgãos estaduais poderiam
como sinônimo de municipalização, fruto do pro- ser licenciados pelos municípios, dos quais boa
cesso de redemocratização do país que significou parte refere-se a empresas de pequeno porte e mi-
“essencialmente o fortalecimento dos governos croempresas (CNM, 2009). A municipalização, de
municipais” (Almeida, 2005, p. 36). Com a eleva- acordo com Barbosa et al. (2010), poderia contribuir
ção do município à categoria de ente federativo na para tornar o sistema mais ágil e deixar os órgãos
Constituição Federal de 1988, os governos locais estaduais concentrados em empreendimentos mais
passaram a compartilhar com a União e com os complexos, além de promover a gestão ambiental
estados diversas atribuições, inclusive a proteção compartilhada entre os órgãos do Sistema Nacional
ambiental. de Meio Ambiente (SISNAMA).
Dentre as medidas que têm sido propostas Todavia, os benefícios esperados com a mu-
para o aprimoramento do licenciamento ambiental nicipalização devem ser ponderados. A federação
brasileiro está o estímulo à sua municipalização, brasileira é marcada por grande heterogeneidade
tendo em vista as diretrizes da Lei Complementar e governos subnacionais possuem diferentes ca-
nº 140 de 2011 (Brasil, 2011). Esta lei representou pacidades de desempenhar suas atribuições, em
um importante marco regulatório na agenda am- função das “enormes desigualdades financeiras,
biental do país por ter aprimorado a definição de técnicas e de gestão existentes” (Souza, 2005, p.
competências entre os entes federativos nas ações 112). Na ausência de financiamento para a gestão
de proteção ao meio ambiente, regulamentando o ambiental, municípios são altamente dependentes
art. 23 da Constituição Federal. Antes da lei, era de cooperação intergovernamental para implemen-
mais frequente a ocorrência de conflitos quando tarem suas políticas ambientais (Neves, 2016), sem
entes federativos, sobretudo municipais, julga- a qual podem acabar desempenhando suas funções
vam-se competentes para realizar o licenciamento de forma precária.
ambiental (Farias, 2015). O fenômeno da municipalização está atraindo
Historicamente, a grande maioria dos proces- a atenção da comunidade científica brasileira, que
sos de licenciamento tem se concentrado no nível já acumula uma quantidade razoável de estudos. Na
estadual da federação brasileira. Essa realidade, recente dissertação de mestrado de Abreu (2016),
no entanto, vem mudando. Em 2015, aproximada- foram compiladas 41 publicações que analisaram
mente 30% dos municípios brasileiros declararam experiências de licenciamento ambiental municipal,
emitir licença ambiental prévia, de instalação e/ou das quais 15 foram publicadas entre os anos de 2000
de operação (IBGE, 2016). A municipalização do e 2010, e as demais entre 2011 e 2015. A maior con-
licenciamento poderia levar a uma redução da carga centração de estudos após 2011 é, provavelmente,
de processos que têm se acumulado em diversos um reflexo da Lei Complementar 140/2011, que
órgãos estaduais de meio ambiente, transferindo aos tem incentivado a municipalização.
municípios o licenciamento de atividades de menor Apesar de relativamente numerosos, esses
porte e potencial poluidor, trazendo, assim, benefí- estudos tendem a adotar procedimentos analíticos

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similares: i) metodologicamente, tendem a se basear da descentralização da gestão ambiental no Brasil
em estudos de caso de um município específico ou e/ou em outros países federativos.
de poucos municípios de uma determinada região,
e a coletar dados e informações por meio de entre- 2. Metodologia
vistas com representantes dos órgãos ambientais;
ii) tendem a ser predominantemente descritivos,
Este estudo seguiu uma abordagem metodo-
caracterizando o sistema de licenciamento dos
lógica mista, empregando técnicas quantitativas e
municípios; iii) tendem a avaliar as barreiras enfren-
qualitativas (Creswell, 2014). A coleta de dados
tadas pelos municípios que realizam ou pretendem
deu-se por meio do envio de questionários estru-
realizar o licenciamento; e iv) costumam fazer re-
turados a uma amostra não probabilística – isto é,
comendações genéricas para o fortalecimento dos
que não pretendia ter representatividade estatística
órgãos locais. Do ponto de vista do meio de divul-
e produzir resultados generalizáveis – de profis-
gação das pesquisas, a maioria ainda está restrita a
sionais que lidam com o licenciamento ambiental
dissertações, teses e anais de congressos, havendo
no nível municipal. O questionário foi aplicado na
poucas publicações em periódicos científicos de
plataforma SurveyMonkey e continha um total de
alto impacto. Ainda há muito para ser pesquisado
14 perguntas (nove fechadas e cinco abertas). O
em relação à municipalização do licenciamento
respondente foi orientado a responder o questionário
ambiental. Por exemplo, até a redação deste artigo,
baseando-se no município no qual teve experiência
a literatura ainda não contava com estudos pano-
com licenciamento municipal. As perguntas busca-
râmicos comparativos sobre a municipalização do
ram caracterizar o perfil do município (existência de
licenciamento que abrangessem diversas regiões e
convênio com a administração estadual, existência
municípios do Brasil. Também restavam pouco ex-
de legislação municipal sobre o licenciamento, ins-
ploradas as diferenças de percepção entre as partes
trumentos de gestão ambiental existentes, modali-
interessadas no licenciamento municipal.
dades de licenças emitidas, número de funcionários
O objetivo deste estudo foi realizar um le-
no setor responsável pelo licenciamento) e entender
vantamento amplo e comparado de experiências
a percepção do respondente sobre os principais
de municipalização do licenciamento ambiental no
problemas e aspectos positivos do licenciamento
território brasileiro por meio de pesquisa de opinião
naquele município. Cerca de três mil gestores e
com gestores e analistas ambientais atuantes em
analistas ambientais dos setores público e privado
municípios licenciadores. Mais especificamente,
receberam um link para acesso ao questionário, o
buscou-se identificar e comparar os principais
qual também foi divulgado em grupos relacionados
desafios e avanços do licenciamento ambiental mu-
à temática do licenciamento ambiental na rede so-
nicipal na ótica de dois dos seus principais atores:
cial LinkedIn, permitindo que outros profissionais
gestores públicos locais e usuários do sistema. Os
potencialmente envolvidos com o tema pudessem
resultados desta pesquisa poderão subsidiar análises
contribuir para a pesquisa.
específicas sobre temas que sejam mais claramente
A coleta de dados ocorreu durante os três pri-
prioritários. Tais resultados deverão interessar não
meiros meses de 2016, após um teste piloto realiza-
apenas pesquisadores, mas também gestores, legis-
do em dezembro de 2015 com alguns pesquisadores
ladores e analistas que trabalham com a temática

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– que sugeriram ajustes nas questões e verificaram o Existe associação entre o grupo de respondentes e
tempo gasto para respondê-las. Em janeiro de 2016 a percepção sobre a eficiência do licenciamento
também foi divulgado o endereço eletrônico do ambiental municipal.
questionário no LinkedIn, estratégia que propiciou Após o encerramento do link do questionário
um aumento do número de respondentes. on-line, foram contabilizados 398 questionários
As respostas das questões abertas foram ana- parcial ou integralmente respondidos. Deste total,
lisadas por meio de análise de conteúdo (Krippen- 126 respondentes afirmaram nunca ter trabalhado
dorff, 2004), identificando temas emergentes a partir com licenciamento ambiental municipal e, portan-
do conteúdo das respostas fornecidas pelos respon- to, não foram considerados aptos a participar da
dentes. Cada resposta foi analisada individualmente pesquisa. Dos 272 questionários restantes, em 101
a fim de identificar aspectos que pudessem ser agre- houve resposta somente para a primeira pergunta,
gados em categorias. Respostas como, por exemplo, resultando 171 questionários para análise. Este
“falta de corpo técnico”, “carência de profissionais” montante passou por um processo de apuração para
e “equipe técnica em número reduzido” foram verificar a consistência das respostas, que resultou
agrupadas em uma mesma categoria, uma vez que na eliminação de mais 37 questionários, que apre-
remetem ao mesmo problema. Procedimento similar sentavam indícios de preenchimento aleatório e/ou
foi feito para outros temas, cabendo ressaltar que não intencional.
muitas respostas continham mais de um tema. As Por fim, foram alcançados 134 questionários
questões fechadas produziram dados nominais, isto válidos que contemplaram 84 municípios, haven-
é, dados gerados a partir da contagem do número do, portanto, municípios apontados por mais de
de vezes que uma condição ou evento particular um respondente. Para evitar múltiplas contagens
ocorre (Corder & Foreman, 2009). Suas respostas durante a etapa de caracterização dos municípios,
foram analisadas por meio de estatística descritiva os casos repetidos foram analisados separadamente,
e apresentadas na forma de gráficos de distribuição levando-se em conta as respostas mais recorrentes
de frequências. Estatística inferencial foi utilizada para cada pergunta, além da experiência e do cargo
para verificar se havia diferenças significativas de ocupado pelos respondentes.
percepções de eficiência do licenciamento munici-
pal entre dois grupos de respondentes: A) gestores 3. Resultados e discussões
e analistas de órgãos ambientais municipais; e B)
consultores e empreendedores. Essa verificação Os 134 questionários refletem diversos con-
foi feita por meio do teste Qui-Quadrado, que é textos no território nacional, contemplando 84
indicado para verificar se duas ou mais variáveis municípios distribuídos em 20 estados das cinco
contendo dados nominais são estatisticamente regiões brasileiras. A Figura 1 mostra a distribuição
independentes (Lachenicht, 2004; Corder & Fo- do número de municípios contemplados na pesqui-
reman, 2009). O teste, realizado no software IBM sa, por estado e por região. A maior concentração
SPSS, foi orientado pelas seguintes hipóteses: a) de municípios do Sudeste é explicada pelo fato de
Hipótese nula (H0): A percepção de eficiência sobre que a base de contatos utilizada nesta pesquisa era
o licenciamento ambiental municipal independe do composta, sobretudo, por profissionais que atuam
grupo de respondentes; b) Hipótese alternativa (HA): nesta região.

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16
14

10

6 6
5
4 4
3 3
2 2 2
1 1 1 1 1 1 1

AC AM RO TO BA CE MA PB PE PI RN GO MT ES MG RJ SP PR RS SC
Norte (4) Nordeste (23) Centro- Sudeste (42) Sul (12)
Oeste (3)

FIGURA 1 – Distribuição do número de municípios contemplados na pesquisa, por estado e por região.
FONTE: Elaborada pelos autores.

A seguir, os resultados obtidos são descritos de meio ambiente, consultores ambientais e fun-
e analisados ao longo de quatro blocos: i) perfil cionários do setor ambiental de empresas privadas.
dos respondentes da pesquisa; ii) caracterização Estes participantes tiveram a maior expressividade
dos municípios contemplados na pesquisa; iii) na pesquisa e contemplaram, inclusive, cargos de
diferenças de percepção sobre o licenciamento liderança em suas instituições, como secretários de
ambiental municipal entre grupos de respondentes; meio ambiente e diretores e gerentes de empresas
e iv) principais problemas e aspectos positivos do de consultoria.
licenciamento ambiental municipal que emergiram Os respondentes também foram caracterizados
das questões abertas. quanto ao seu tempo de atuação no licenciamento
ambiental de âmbito municipal. Esta informação,
3.1. Perfil dos respondentes da pesquisa além de ter sido útil para indicar o nível de expe-
riência dos participantes, mostrou-se condizente
com o tempo decorrido desde que o fenômeno da
A pesquisa contemplou diversos atores en-
municipalização começou a se intensificar no ce-
volvidos com licenciamento ambiental no âmbito
nário nacional, a partir da publicação da Lei Com-
municipal. A Figura 2 sintetiza o perfil dos res-
plementar nº 140 em 2011. Conforme indicado na
pondentes de acordo com a natureza jurídica da
Figura 3, a maior parte dos respondentes trabalha ou
instituição em que trabalharam com licenciamento
trabalhou com licenciamento no âmbito municipal
municipal. Entre os 134 respondentes válidos, par-
por pelo menos três anos e por até sete anos.
ticiparam gestores e analistas de órgãos municipais

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Secretaria do Poder Executivo Municipal 63 (47%)

Departamento do Poder Executivo Municipal 7 (5%)

Órgão Público Autônomo Municipal 4 (3%) Gestores e analistas


de órgãos ambientais
Fundação Municipal 3 (2%) municipais

Autarquia Municipal 3 (2%)

Consultoria Ambiental 34 (25%) Consultores e


empreendedores
Setor Ambiental de Empresa Privada 8 (6%)

Organização Não Governamental ou OSCIP 2 (1%)

Outro 10 (7%)

0 20 40 60 80
Número de respondentes

FIGURA 2 – Natureza jurídica das instituições onde os respondentes trabalharam com licenciamento ambiental municipal.
FONTE: Elaborada pelos autores.

de requisitos que atestem sua capacidade, tais como


Menos de 1 ano 8
possuir órgão ambiental capacitado e conselho
Entre 1 e 3 anos 41 municipal de meio ambiente (MMA, 2016). Dos 84
Entre 3 e 7 anos 46 municípios contemplados na pesquisa, 70 possuem
Mais de 7 anos 39 um convênio formal com a administração estadual
0 10 20 30 40 50
para realizar o licenciamento, 11 não contam com
este instrumento e em três municípios os respon-
Número de respondentes
FIGURA 3 – Experiência dos respondentes com o licenciamento dentes não souberam informar.
ambiental de âmbito municipal. Enquanto entes federativos autônomos, os
FONTE: Elaborada pelos autores.
municípios possuem competência para licenciar
sem necessariamente se submeterem às exigências
3.2. Caracterização dos municípios do estado (CNM, 2012; Farias, 2015), desde que
contemplados na pesquisa as atividades não sejam passíveis de licenciamento
por outro ente federado. Porém, os órgãos estaduais
A habilitação dos municípios para realizar o de meio ambiente têm exigido requisitos para a
licenciamento ambiental tem sido operacionaliza- habilitação dos municípios que desejam assumir o
da, sobretudo, na forma de convênios ou termos licenciamento, buscando assegurar a existência de
de habilitação. Neste procedimento, o município uma capacidade minimamente satisfatória nos ór-
interessado em assumir o licenciamento de ativi- gãos locais. Conforme lembram Burki et al. (1999),
dades com impacto local deve atender a uma série em um sistema de governo descentralizado, além

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da importância de se demarcar claramente as res- A existência de conselho de meio ambiente
ponsabilidades de cada nível de governo, é preciso nos municípios pode estar relacionada à existência
garantir a capacidade para cumprir suas funções, o de convênio, uma vez que tal conselho é um requi-
que significa que não basta existir uma atribuição sito comumente exigido pelos estados para que os
legal de responsabilidades, mas também os recursos municípios exerçam o licenciamento, conforme
para executá-las. identificado em levantamento do Ministério do
Diversos outros instrumentos de gestão e Meio Ambiente (MMA, 2016). Contudo, não é pos-
planejamento ambiental podem ser utilizados pelo sível concluir que necessariamente há uma relação
poder público na implementação de uma política entre o convênio e os instrumentos, visto que estes
ambiental, inclusive de forma articulada com o podem existir como fruto de outras demandas de
licenciamento, de modo a dar suporte aos processos planejamento e gestão ambiental no município. Os
decisórios. Esta pesquisa questionou aos participan- dados da Figura 4 estão razoavelmente alinhados
tes quais os instrumentos existentes nos municípios com os dados mais recentes sobre conselhos e
onde trabalharam com licenciamento ambiental. Os fundos municipais de meio ambiente divulgados
resultados são mostrados na Figura 4. na Pesquisa de Informações Básicas Municipais

Conselho de Meio Ambiente 73 (87%)

Lei de Uso e Ocupação do Solo 72 (86%)

Plano Diretor 72 (86%)

Fundo Municipal de Meio Ambiente 51 (61%)

Zoneamento Ambiental 47 (56%)

Plano de Saneamento Básico 43 (51%)

Unidades de Conservação de Domínio Municipal 37 (44%)

Estudo de Impacto na Vizinhança 36 (43%)

Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental 33 (39%)

Sistema de Informação Ambiental Municipal 25 (30%)


Isenção ou Desconto de Impostos Municipais para
10 (12%)
Práticas Ambientalmente Corretas
0 20 40 60 80

Número de municípios
FIGURA 4 – Instrumentos de gestão e planejamento ambiental, existentes nos municípios apontados na pesquisa.
FONTE: Elaborada pelos autores.

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(MUNIC) de 2014, com informações referentes ao equipe técnica responsável pelo licenciamento no
ano de 2013. Nesta edição da pesquisa, o Instituto órgão ambiental do município. A Figura 5 revela
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consta- que, entre os municípios contemplados na pesquisa,
tou que 67,9% dos municípios brasileiros possuíam predominam aqueles que contam com menos de
um conselho de meio ambiente instituído, dos cinco pessoas diretamente envolvidas com licencia-
quais 75,9% encontravam-se ativos, e que 42,8% mento no órgão de meio ambiente, enquanto uma
dos municípios do Brasil dispunham de um fundo minoria conta com mais de 20 pessoas.
ambiental, com maior expressividade nas regiões Os resultados podem sugerir que existe um
Sul e Centro-Oeste (IBGE, 2014). baixo número de profissionais diretamente envol-
Um total de 71 municípios contemplados vidos com licenciamento no órgão ambiental dos
na pesquisa, ou 85% do total, possui legislação e municípios. A falta de recursos humanos nos órgãos
normas específicas sobre licenciamento ambiental. municipais de meio ambiente tem sido, de fato, uma
Em relação ao universo de municípios brasileiros, o queixa recorrente nas pesquisas sobre a municipali-
IBGE constatou que, em 2013, 65% possuíam legis- zação do licenciamento e que foi fortemente corro-
lação ambiental (IBGE, 2014). Embora nesta edição borada neste estudo, conforme será descrito adiante.
a MUNIC tenha verificado somente a existência de No entanto, o número de funcionários, se analisado
legislação ambiental em termos genéricos, e não de maneira isolada, não permite fazer inferências
uma legislação específica sobre licenciamento, o sobre a real capacidade do município para análise
relatório destaca que, com a melhor delimitação dos processos de licenciamento, o que também
de competências trazida pela Lei Complementar nº depende de fatores como a capacitação técnica dos
140/2011, “há um maior estímulo para o município analistas e o volume de atividades desenvolvidas
atuar na área de licenciamento e de ter esse tema em seu território que tenham sido recepcionadas
inserido na sua legislação ambiental” (p. 55). pelo licenciamento municipal.
Os participantes da pesquisa foram questio- Ainda no contexto de caracterização dos
nados sobre o número de pessoas que compõem a municípios envolvidos na pesquisa, os responden-

Menos de 5 pessoas 31 (37%)


Entre 5 e 10 pessoas 24 (29%)
Entre 11 e 20 pessoas 12 (14%)
Mais de 20 pessoas 10 (12%)
Não sei 7 (8%)

0 10 20 30 40

Número de municípios
FIGURA 5 – Tamanho da equipe responsável pelo licenciamento no órgão ambiental dos municípios.
FONTE: Elaborada pelos autores.

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tes puderam indicar, dentre uma série de opções, licenças prévia, de instalação e/ou de operação
quais modalidades de licenças e autorizações eram (IBGE, 2016).
emitidas nos municípios onde trabalharam com Contudo, a reprodução do modelo trifásico
licenciamento ambiental municipal. Conforme de licenciamento na esfera local pode representar
indicado na Figura 6, o modelo de licenciamento uma prática desproporcional. O licenciamento de
trifásico, usualmente praticado nas esferas federal âmbito municipal é voltado, em geral, para ativi-
e estadual, tem, em alguma medida, se reproduzido dades de pequeno porte e com impactos ambientais
no licenciamento de âmbito municipal. A pesquisa mais restritos. Atividades com estas características
mais recente do IBGE com informações sobre podem ser licenciadas por meio de processos mais
os municípios brasileiros mostrou que, em 2015, simplificados de licenciamento, que dispensam a
30,4% dos municípios do país estavam emitindo avaliação de impacto ambiental como subsídio para

Licença de Instalação (LI) 74 (88%)

Licença Prévia (LP) 74 (88%)

Licença de Operação (LO) 74 (88%)

Licença Simplificada (LS) 58 (69%)

Autorização de Supressão Vegetal 54 (64%)

Autorização para transporte de resíduos 21 (25%)

Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) 20 (23%)

Licença Ambiental Única (LAU) 18 (21%)

Licença de Operação Corretiva (LOC) 15 (17%)

Licença de Instalação Corretiva (LIC) 12 (14%)

Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos 8 9%)

Autorização para transporte de produtos perigosos 7 (8%)

Autorização para utilização de matéria-prima florestal 6 (7%)

Outros 27 (32%)

0 20 40 60 80
Número de municípios

FIGURA 6 – Modalidades de licenças e autorizações ambientais emitidas pelos municípios apontados na pesquisa.
FONTE: Elaborada pelos autores.

161 NASCIMENTO, T.; FONSECA, A. A descentralização do licenciamento ambiental na percepção de partes interessadas...
o processo decisório, o que geralmente não ocorre palização do licenciamento é ainda incipiente e tem
no modelo trifásico (Fonseca & Rodrigues, 2017). sido academicamente explorado, sobretudo, a partir
A avaliação de impacto ambiental, frequentemente da perspectiva de técnicos e analistas de órgãos
vinculada a processos de licenciamento de três municipais de meio ambiente em estudos de casos
fases (Oliveira et al., 2016), deveria estar mais re- de municípios licenciadores. Para complementar
lacionada a atividades capazes de causar impactos esta abordagem, o presente estudo também sondou
ambientais significativos (Sánchez, 2013). Portanto, a opinião de profissionais que atuam em empresas
se os órgãos municipais estão reproduzindo a mesma de consultoria e no setor ambiental de empresas
lógica do licenciamento federal e estadual, emitindo privadas. Assim, para a análise dos dados de percep-
licença prévia, de instalação e de operação, pode- ção sobre a eficiência do licenciamento municipal,
riam estar adotando um grau desproporcionalmente os respondentes foram divididos em dois grupos
alto de precaução no licenciamento municipal. Tal (ver Figura 2): A) gestores e analistas que atuam
afirmação precisaria ser confirmada em estudos dentro dos órgãos ambientais municipais; e B)
futuros, afinal, os resultados também realçaram um consultores e empreendedores. Somados, estes dois
índice expressivo de administrações municipais que grupos representam mais de 90% dos participantes
emitem Licença Simplificada (LS). Podem ser desta- da pesquisa. Os demais respondentes (12 no total)
cadas, ainda, as modalidades Autorização Ambiental contemplam diversos atores, incluindo membros
de Funcionamento (um modelo autodeclaratório do de colegiados, representantes de organizações não
Estado de Minas Gerais) e Licença Ambiental Única governamentais e outros profissionais. Este último
(LAU), que, apesar da nomenclatura distinta e me- grupo, em função de sua baixa representatividade
nor frequência em relação à LS, também envolvem no montante total de respostas, não foi utilizado nas
procedimentos mais simplificados de licenciamento. análises comparativas a seguir.
Os participantes da pesquisa foram ques-
3.3. Diferenças de percepção sobre o tionados sobre o quão eficiente consideram o
licenciamento ambiental municipal entre licenciamento ambiental realizado no município.
grupos de respondentes Evidentemente, o entendimento sobre o que é um
licenciamento ambiental “eficiente” pode gerar
controvérsias, havendo diferentes julgamentos de
O interesse em entender a percepção de di-
acordo com a perspectiva que se analisa a questão.
ferentes partes interessadas sobre o licenciamento
Porém, este estudo optou por não esclarecer aos
ambiental municipal constituiu um dos objetivos
participantes um significado estrito para o termo
centrais deste levantamento. Alguns estudos inter-
“eficiente”. A intenção com esta estratégia foi tentar
nacionais já mostraram que a forma como a avalia-
captar e comparar posicionamentos mais positivos
ção de impacto é percebida varia entre os diferentes
ou negativos sobre o licenciamento municipal que
grupos de profissionais que a praticam, especial-
eventualmente emergissem dos diferentes grupos
mente a equipe técnica das agências ambientais
participantes da pesquisa. Assim, conforme mostra a
e os consultores responsáveis pela elaboração de
Figura 7, os dois principais grupos de respondentes
estudos ambientais (Morrison-Saunders & Bailey,
demonstram percepções distintas sobre a eficiência
2009; Morgan et al., 2012). O fenômeno da munici-
do licenciamento municipal.

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 43, Edição Especial: Avaliação de Impacto Ambiental, p. 152-170, dezembro 2017. 162
60% 55%

Percentual de respondentes
50%
39%
40%
30% 24% 25%

20% 17% 15%


10% 9%
10% 5%
1%
0%
Muito eficiente Eficiente Neutro Pouco Nada eficiente
eficiente
Percepção dos respondentes sobre a eficiência do licenciamento ambiental municipal

Gestores e analistas de órgãos ambientais municipais Consultores e empreendedores


FIGURA 7 – Opinião dos respondentes sobre a eficiência do licenciamento ambiental municipal.
FONTE: Elaborada pelos autores.

Estes números sugerem que aqueles que atuam é de 20% e, caso esta fração seja excedida, uma
dentro dos órgãos ambientais municipais têm uma possível solução é unir duas categorias semelhantes
percepção mais positiva sobre o licenciamento e somar suas frequências (Lachenicht, 2004; Corder
ambiental municipal, enquanto consultores e & Foreman, 2009). Deste modo, foi necessário unir
empreendedores externos posicionam-se de forma as respostas “muito eficiente” e “eficiente” e as
mais negativa. Entretanto, não era possível concluir respostas “pouco eficiente” e “nada eficiente” a fim
se havia uma diferença estatisticamente significativa de atender aos requisitos para a realização do teste.
de percepção entre os dois grupos. O teste estatístico O número de graus de liberdade (gl) foi calculado
Qui-Quadrado (χ²) foi utilizado para verificar se pela fórmula gl = (nº de linhas – 1)*(nº de colunas
havia associação entre as duas variáveis nominais – 1). A tabela possuía duas linhas (uma para cada
analisadas (grupo de respondentes e percepção grupo de respondentes) e três colunas (uma para a
sobre a eficiência do licenciamento municipal), junção das respostas “muito eficiente” e “eficiente”,
baseando-se nas hipóteses construídas na seção de uma para a junção das respostas “pouco eficiente” e
metodologia. “nada eficiente” e outra para as respostas “neutro”),
Durante a execução das análises no software resultando, portanto, em dois graus de liberdade.
IBM SPSS, foi identificado que uma das premissas O teste foi executado e retornou o valor de 13,897
para realização do teste estava sendo violada – na para a estatística Qui-Quadrado (χ²calc.=13,897), ex-
tabela de distribuição de frequências esperadas, cedendo o valor crítico tabelado (χ²crit.=5,99), a um
40% das células apresentaram valores menores que nível de significância de 5% (α = 0,05). Portanto,
cinco. A literatura aponta que o maior percentual concluiu-se que existe uma associação estatistica-
admitido para estes casos no teste Qui-Quadrado mente significativa entre as variáveis analisadas e

163 NASCIMENTO, T.; FONSECA, A. A descentralização do licenciamento ambiental na percepção de partes interessadas...
a hipótese nula (de que a percepção de eficiência 14% das respostas dos consultores e empreendedo-
sobre o licenciamento ambiental municipal indepen- res. A diferença de percepção observada pode ser
de do grupo de respondentes) foi rejeitada. Embora explicada pelo fato de que profissionais do primeiro
pesquisas qualitativas possam trazer explicações grupo tendem a ter mais conhecimento sobre os
mais aprofundadas para a diferença de posiciona- recursos disponíveis nos órgãos ambientais do que
mento entre os dois grupos, os resultados da análise aqueles do segundo grupo, levando-os a perceber
de conteúdo das questões abertas, relatados a seguir, o problema de forma mais pronunciada.
reforçam o contraste de percepção aqui identificado. A fragilidade institucional dos órgãos mu-
nicipais de meio ambiente, expressa em diver-
3.4. Principais problemas e aspectos positivos sas respostas obtidas no questionário, tem sido
do licenciamento ambiental municipal que constantemente apontada em estudos de caso de
emergiram das questões abertas municípios que realizam ou pretendem realizar o
licenciamento. Marconi et al. (2012) identificaram
uma série de limitações na administração municipal
As respostas das questões abertas do questio-
de Londrina (Paraná) que a impediam de assumir o
nário revelaram uma rica diversidade de opiniões,
licenciamento ambiental, sobretudo a falta de corpo
permitindo conhecer e explorar a experiência de
técnico e de recursos financeiros, situação também
trabalho dos respondentes com o licenciamento
encontrada por Chiesa (2009) em municípios do
ambiental no nível local. A Tabela 1 sintetiza as
Espírito Santo.
transcrições de respostas fornecidas pelos partici-
Cetrulo et al. (2013) investigaram o muni-
pantes da pesquisa. Em relação aos problemas do
cípio de Cacoal (Rondônia), onde a possibilidade
licenciamento nos municípios, foram identificadas
de assumir o licenciamento de atividades de baixo
questões técnicas, administrativas e políticas. O
impacto esbarrava em grandes lacunas operacionais
principal problema apontado pelos participantes
e estruturais existentes no município. Guilherme &
refere-se à falta de pessoal na equipe técnica do
Henkes (2013) analisaram o município de Itaguaí
órgão ambiental municipal, mencionado por cerca
(Rio de Janeiro), que já realizava o licenciamento,
de 40% dos respondentes de cada grupo. A falta
mas demonstrava muitas necessidades de melhoria
de capacitação e treinamento da equipe foi outro
nas estruturas material, técnica, legal e procedi-
problema recorrente nos relatos dos profissionais
mental. Machado & Krieger (2014) analisaram as
que responderam à pesquisa, sendo mencionada por
condições de municípios licenciadores no Estado do
aproximadamente 30% de cada grupo.
Rio Grande do Sul e verificaram que muitos deles
Na opinião dos participantes, os órgãos
assumiram o licenciamento sem estarem devida-
ambientais dos municípios também carecem de
mente estruturados. Abreu (2016) identificou a falta
recursos materiais e operacionais para executar
de recursos humanos e materiais como as principais
suas ações, tais como equipamentos, veículos e
dificuldades vivenciadas pelos órgãos ambientais
sistemas informatizados. Porém, tal problema não
dos municípios contemplados em sua pesquisa,
foi apontado na mesma proporção entre os dois
especialmente os pertencentes ao Estado do Piauí.
grupos, figurando em 26% das respostas de gestores
Os dois grupos manifestaram críticas quanto
e analistas de órgãos ambientais municipais e em
às interferências de interesses econômicos e políti-

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 43, Edição Especial: Avaliação de Impacto Ambiental, p. 152-170, dezembro 2017. 164
TABELA 1 – Síntese das principais respostas qualitativas fornecidas pelos respondentes da pesquisa

Principais temas opinados


 Equipe técnica reduzida e pouco capacitada
 Falta de infraestrutura ou infraestrutura inadequada
 Interferências de políticos e empreendedores nos processos de licenciamento
Problemas do licenciamento
 Baixos salários do órgão ambiental municipal
ambiental municipal
 Falta de acompanhamento de condicionantes ambientais
 Demora e excesso de burocracia na análise dos processos
 Falta de padronização nos processos
 Agilidade na análise dos processos
 Conhecimento da realidade local
Aspectos positivos do  Proximidade entre poder público, comunidade e empreendimentos
licenciamento ambiental
municipal  Empenho e comprometimento da equipe técnica
 Geração de receita para a administração municipal
 Não existem aspectos positivos no licenciamento municipal
 Formar a equipe técnica com profissionais concursados, de formações multidisciplinares e em
número compatível com a demanda de processos
 Fornecer treinamento e capacitação à equipe técnica do órgão ambiental
Recomendações para as  Criar e revisar leis para disciplinar o sistema de licenciamento do município
prefeituras que pretendem
 Fornecer infraestrutura para o órgão ambiental (e.g. equipamentos, veículos, sistema informatizado)
implantar o licenciamento
 Dar autonomia ao conselho municipal de meio ambiente
 Implantar e garantir recursos para o Fundo Municipal de Meio Ambiente
 Assumir o licenciamento de forma gradativa, começando por atividades mais simples
() temas opinados pelos dois grupos; () temas opinados somente por gestores e analistas de órgãos municipais; () temas opinados
somente por consultores e empreendedores.
FONTE: Elaborada pelos autores.

cos nos processos de licenciamento. Tal problema ciais, acarretando maior corrupção e clientelismo”
foi apontado por 18% e 24% dos respondentes do (p. 14) como uma das limitações empiricamente
primeiro e do segundo grupos, respectivamente. percebidas em experiências de descentralização.
A possibilidade de que governos municipais se- Baseando-se em evidências provindas de diversos
jam cooptados por elites locais é frequentemente países do mundo, Fan et al. (2009) concluíram
lembrada como um dos riscos do processo de que práticas de corrupção são mais frequentes em
descentralização. Azevedo et al. (2007) frisam nações com maior número de camadas de governo
que “a realidade da descentralização é distante ou administração. Oosterveer & Van Vliet (2010)
da maioria dos municípios brasileiros, sobretudo constataram que interesses políticos podem preva-
em estados onde a preocupação ambiental ainda é lecer sobre interesses ambientais quando governos
vista por muitos políticos locais como entrave ao locais entendem que certas medidas de proteção
desenvolvimento econômico” (p. 46). Melo (1996), ambiental podem desagradar seus eleitores e colocar
há mais de duas décadas, já apontava a “porosidade em risco sua reeleição.
do governo local em relação a elites locais e provin-

165 NASCIMENTO, T.; FONSECA, A. A descentralização do licenciamento ambiental na percepção de partes interessadas...
Curiosamente, consultores e empreendedores em 8% e 2% dos respondentes do primeiro e do
foram os únicos a reclamar da demora na análi- segundo grupos, respectivamente. Os números,
se (17%) e do excesso de burocracia (12%) nos embora pouco expressivos, reforçam o contraste
processos de licenciamento nos municípios, não de percepção identificado neste levantamento. Tal
havendo nenhuma resposta dessa natureza entre contraste também ficou evidenciado no fato de
os questionários respondidos pelos profissionais que 20% dos consultores e empreendedores foram
ligados aos órgãos ambientais municipais. Estas taxativos ao afirmar que não identificam nenhum
observações parecem corroborar os resultados do aspecto positivo no licenciamento realizado pelos
teste Qui-Quadrado em relação ao posicionamento municípios, enquanto nenhuma resposta dessa natu-
negativo de consultores e empreendedores. Queixas reza foi identificada no grupo de gestores e analistas
como morosidade e burocracia também são recor- de órgãos ambientais municipais.
rentes nos outros âmbitos do licenciamento (CNI, A última pergunta do questionário solicitava
2007; 2013; Hofmann, 2015). O recente estudo de aos respondentes que fizessem recomendações
Fonseca & Rodrigues (2017) sobre a percepção para as administrações municipais que pretendem
do empreendedor industrial sobre o licenciamento assumir o licenciamento ambiental. Recomendações
ambiental em Minas Gerais também ilustra este relacionadas à estruturação do corpo técnico do ór-
cenário. gão ambiental foram as mais recorrentes, figurando
Os respondentes também foram solicitados a em 51% das respostas dos gestores e analistas de
dar sua opinião sobre quais os principais aspectos órgãos ambientais municipais e em 43% das res-
positivos do licenciamento ambiental municipal. postas dos consultores e empreendedores. Os dois
As respostas evidenciaram divergências entre os grupos concordam quanto à necessidade de formar
dois grupos. Uma exceção refere-se à agilidade uma equipe técnica composta por profissionais
na análise dos processos de licenciamento, aspec- com formações multidisciplinares e em número
to mencionado por 30% dos gestores e analistas compatível com as demandas de licenciamento e
de órgãos ambientais municipais e por 33% dos fiscalização ambiental.
consultores e empreendedores. Portanto, embora Para 16% dos respondentes do primeiro grupo
17% dos consultores e empreendedores tenham e 7% do segundo seria importante a realização de
manifestado insatisfação com a demora na análi- concursos públicos para contratação de profis-
se dos processos, uma parcela maior deste grupo sionais para os órgãos ambientais. Neste cenário,
considera a agilidade como um aspecto positivo do Leme (2010) destacou que, “apesar dos esforços
licenciamento municipal. de alguns municípios na realização de concurso e
De acordo com 18% dos respondentes do contratação de servidores, um percentual significa-
primeiro grupo, a qualificação da equipe técnica tivo mantém uma relação trabalhista precária, não
dos órgãos municipais é um aspecto positivo do condizente com os desafios postos para políticas
licenciamento municipal, opinião expressa por públicas ambientais” (p. 40). Ávila & Malheiros
apenas 5% dos respondentes do segundo grupo. (2012) reiteram essa afirmação salientando que,
Situação similar foi observada em respostas que “na maior parte dos Municípios, os funcionários
mencionaram o empenho e o comprometimento sem vínculo são, em média, mais numerosos que os
da equipe como um aspecto positivo, figurando com vínculo empregatício”, e que “muitos cargos

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 43, Edição Especial: Avaliação de Impacto Ambiental, p. 152-170, dezembro 2017. 166
de confiança são preenchidos com técnicos que fi- que foi corroborada nas respostas qualitativas do
cam durante apenas uma administração, criando-se questionário. O levantamento alinhou-se a estudos
uma alta rotatividade de funcionários” (p. 41). Em prévios e permitiu concluir que a fragilidade insti-
uma investigação empírica, o estudo de Morrison- tucional dos municípios ainda é o principal gargalo
-Saunders & Bailey (2009) revelou uma grande da municipalização do licenciamento, refletida
preocupação de consultores e analistas ambientais na escassez de recursos humanos, financeiros e
quanto à rotatividade de funcionários na agência materiais dos órgãos licenciadores municipais.
ambiental australiana, que vinha constantemente A análise das opiniões dos respondentes so-
perdendo profissionais para a indústria e contando bre o licenciamento ambiental municipal realçou
com poucos profissionais experientes em seu corpo preocupações específicas de cada grupo de partes
técnico. Ou seja, as fragilidades de recursos huma- interessadas. Enquanto aqueles que atuam den-
nos nos órgãos ambientais, que foram identificadas tro dos órgãos ambientais municipais estão mais
aqui no nível municipal, também estão presentes preocupados com a estruturação técnica e material
em outros países. dessas instituições, consultores e empreendedores
estão mais preocupados com questões de agilidade,
4. Considerações finais burocracia e padronização de procedimentos.
Parece difícil discordar sobre a necessidade
de fortalecer a capacidade institucional dos entes
O objetivo deste estudo foi realizar um le-
locais para executar o licenciamento. No entanto, é
vantamento amplo e comparado de experiências
essencial destacar que as fragilidades aqui identifi-
de municipalização do licenciamento ambiental no
cadas não estão restritas somente à área ambiental.
território brasileiro por meio de pesquisa de opinião
Os municípios têm sido frequentemente apontados
com gestores e analistas ambientais atuantes em mu-
como o ente federativo mais prejudicado na federa-
nicípios licenciadores. Buscou-se, mais especifica-
ção brasileira (Santos, 2011; Soares, 2011; Senado
mente, identificar e comparar os principais desafios
Federal, 2015). O processo de descentralização po-
e avanços do licenciamento ambiental municipal na
lítica iniciado com a Constituição Federal de 1988
ótica de dois dos seus principais atores.
transferiu aos entes locais uma série de atribuições
A pesquisa obteve 134 questionários válidos
que não foram acompanhadas de igual modo pela
que contemplaram 84 municípios brasileiros, dos
transferência de recursos financeiros (Bremaeker,
quais: 83% possuem convênio com a administração
2006; Caetano, 2012; CNM, 2015; Senado Federal,
estadual para realizar licenciamento; 87% possuem
2015), discrepância que colocou os governos locais
conselho municipal de meio ambiente; 65% pos-
em situação desfavorável, com dificuldade para
suem legislação municipal sobre licenciamento;
executar suas competências. O cenário é ainda mais
88% praticam o modelo trifásico de licenciamento;
crítico nos municípios de menor porte populacional,
e mais de 60% emitem algum modelo simplificado
que representam 70% dos municípios brasileiros e
de licença ambiental. O teste Qui-Quadrado identi-
dependem majoritariamente de transferências inter-
ficou uma diferença estatisticamente significativa de
governamentais (Clementino, 2000; Santos, 2011).
percepção entre gestores de órgãos ambientais mu-
A Confederação Nacional de Municípios
nicipais e consultores e empreendedores, diferença
destaca que, desde a Constituição de 1988, prati-

167 NASCIMENTO, T.; FONSECA, A. A descentralização do licenciamento ambiental na percepção de partes interessadas...
camente nenhuma fonte de recurso significativa e mento dos órgãos locais de meio ambiente sem antes
exclusiva para a gestão ambiental foi destinada aos pensar em soluções políticas, fiscais e institucionais
municípios, forçando-os a se adequar ao máximo para as assimetrias de poder orçamentário entre os
aos critérios estabelecidos por cada Estado. Tais entes da federação. Sugere-se, portanto, que estudos
critérios frequentemente são difíceis de serem futuros avancem para a investigação de soluções pa-
alcançados e, sem apoio técnico e financeiro, os ra a municipalização do licenciamento em contexto
municípios acabam custeando, com dificuldade, de severas restrições orçamentárias.
uma gestão ambiental simplória (CNM, 2016).
Portanto, o precário quadro institucional do Agradecimentos
licenciamento municipal é compreensível na reali-
dade brasileira. A descentralização do licenciamento
Os autores agradecem à Fundação de Amparo
ambiental aporta nos municípios mais uma respon-
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)
sabilidade que se mistura a atribuições de políticas
pelo apoio financeiro concedido, por meio do Proje-
básicas, como saúde e educação, que, mesmo dis-
to APQ-01640-14, para as pesquisas que resultaram
pondo de recursos assegurados constitucionalmente,
neste artigo. Os autores também agradecem aos
encontram dificuldades de implementação. Nesse
entrevistados e a todas instituições que, de alguma
contexto, de pouco adiantará discutir o fortaleci-
forma, auxiliaram na coleta de dados.

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