Você está na página 1de 17

DESIGN DE EMBALAGEM E

PDV
AULA 3

Prof.ª Milena Maria Rodege Gogola


CONVERSA INICIAL

Anteriormente, falamos sobre a prática projetual, materiais e normas


aplicados na design de embalagens. Nesta aula, abordaremos a documentação
técnica que é gerada após o desenvolvimento do projeto, e como alguns
recursos gráficos e físicos aumentam o impacto da embalagem na prateleira e
melhoram a experiência de consumo. Em seguida, abordaremos como a
embalagem é um importante meio de comunicação da marca, e como os
consumidores recebem mensagens emitidas por meio da sua forma e grafismos
e, por fim, trataremos de estratégias para melhorar a perfomance visual na
prateleira.

CONTEXTUALIZANDO

Assim como existe a necessidade de especificar os materiais utilizados


em projeto de embalagens, outras informações são necessárias para que seu
processo fabril ocorra sem transtornos e atrasos. O designer precisa representar
todas as suas ideias utilizando desenhos, esquemas e textos para que todos os
envolvidos entendam com precisão o que precisa ser executado.
Quando o cliente aprova o projeto, muitas decisões importantes já foram
tomadas. São informações sobre o tipo de processo que será utilizado na
fabricação de todas as peças da embalagem, quantidade, material, acabamento,
montagem, envase, estoque etc. Se formos considerar uma embalagem primária
ou secundária, o designer ainda precisa informar como o arranjo ficará na
gôndola, qual material promocional irá acompanhar o produto, como será fixado
etc.
Ao término de um projeto de design, geram-se diversos tipos de
documentos, entre os quais, os de especificação técnica. Essa documentação
segue para os mais diversos atores envolvidos na produção da embalagem:
fornecedores, fabricantes, impressores etc., para que possam providenciar os
insumos, o maquinário e pessoal necessário para atender à demanda.
Em design de embalagens, normalmente se apresentam a arte final e os
desenhos técnicos acompanhados de textos e legendas, que contêm uma série
de informações essenciais para sua correta produção e entrega. Veremos a
seguir os componentes da arte final e do desenho técnico, a nomenclatura

2
padrão, como apresentar a área de cola e como fechar e enviar o arquivo
corretamente.
Trataremos primeiramente da documentação técnica necessária para a
produção da embalagem.

TEMA 1 – DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA PARA PRODUÇÃO DE EMBALAGENS

Seja em escala industrial, seja para uma tiragem em pequena quantidade,


a documentação técnica é essencial para o entendimento da proposta e para
verificar se a produção está em conformidade com o projeto. Ela é composta por
desenhos de 2 tipos: a arte final e o desenho técnico. Em se tratando de frascos,
garrafas, latas, o desenho técnico destas deve trazer o objeto em 3 vistas e uma
em perspectiva (3D). Já as embalagens de papel e plástico flexíveis, em geral,
precisam ser planificadas para a produção, portanto, deverão ser representadas
por meio da arte impressa em conjunto com o desenho técnico que, nesse caso,
chama-se faca corte e vinco. Usaremos um projeto de embalagem em papel
cartão de um produto fictício para exemplificar. Veja a Figura 1:

Figura 1 – Arte associada com faca de embalagem planificada para produção

Crédito: Gogola, 2021.

Os esquemas devem mostrar como é a combinação da parte impressa


com faca corte e vinco, o tamanho do material, cores e acabamentos
necessários.

3
Numa outra lâmina, o desenho técnico deve aparecer sozinho, pois será
enviado para produção da faca corte e vinco. Veja o exemplo na Figura 2, para
a mesma embalagem ilustrada anteriormente.

Figura 2 – Faca corte e vinco para embalagem de papel cartão

Crédito: Gogola, 2021.

Observe como estão presentes na legenda o nome do projeto, o cliente,


o tipo de papel, a escala e a unidade. Essas informações serão gravadas na
base de madeira da faca corte e vinco e permitirão otimizar o processo, por
exemplo, a localização da faca no almoxarifado da gráfica e a separação do
material no tamanho e gramatura corretas.

Figura 3 – Faca corte e vinco utilizada em gráficas

Créditos: 7th Son Studio/Shutterstock.

4
Na terceira lâmina o projetista deve expor a arte final somente, que será
encaminhada à gráfica. Veja na Figura 4:

Figura 4 – Arte final

Crédito: Gogola, 2021.

Essas 3 lâminas compõem um kit, que normalmente são encaminhados


para a produção no mesmo documento em pdf, garantindo assim a integridade
original das informações.

TEMA 2 – ESTILOS DE LINHA E ELEMENTOS BÁSICOS DE PRÉ-IMPRESSÃO

Existe uma linguagem padrão em desenho técnico para que todos os


elementos representativos sejam reconhecidos e interpretados corretamente.
Para cada tipo de contorno, vinco, picote, existe um tipo de linha associado. Na
Figura 5 estão indicados os estilos de linhas mais comuns em projeto de
embalagem de papel ou plástico flexível, e sua função no desenho técnico.

Figura 5 – Estilos de linha utilizada em desenho técnico de embalagens

5
2.1 Cruzeta de refile ou corte

Após a impressão, o material precisa ser refilado na guilhotina. O


refilamento é um processo que corta o impresso do tamanho planejado,
utilizando as cruzetas como guia. Apesar de as guilhotinas eletrônicas utilizarem
laser para melhorar a sua precisão, o corte pode sofrer uma variação de até
3mm. Por isso, a arte precisa utilizar sangria, que significa fazer as cores
ultrapassarem o limite do formato final. As cruzetas de refile devem estar
presentes nos 4 cantos da arte, alinhadas com suas extremidades. Veja detalhe
da representação de uma delas na Figura 6, e como a cor do fundo da
embalagem avança para fora dos limites:

Figura 6 – Detalhe das marcas de refile

Crédito: Gogola, 2021.

2.2 Sangria e margens

É quando os elementos que fazem contato com as bordas (limites do


material) o ultrapassam em 3mm, pelo menos. Pode ser a cor de fundo, ou algum
elemento gráfico, fotos, ilustrações, desde que não haja prejuízo para o
entendimento daquela informação. Da mesma forma, deve-se adicionar uma
margem de segurança interna de 3mm para impedir que informações
importantes, como textos e logos, por exemplo, sejam cortadas ou dobradas no
vinco.
6
2.3 Faca de corte e vinco

Usadas quando o impresso tem formatos especiais que não podem ser
feitos apenas usando cortes retos das guilhotinas. As facas de corte e vinco são
compostas por lâminas diferentes, que podem cortar, vincar e fazer meios-
cortes. Neste último caso, muito usado em papéis adesivos para rótulos, a lâmina
tem a capacidade de cortar somente a camada superficial do adesivo, sem cortar
totalmente a base de papel parafinado que serve de suporte para o adesivo.

TEMA 3 – RECURSOS VISUAIS, FORMAIS, TÁTEIS E ACESSÓRIOS

Neste tema iremos abordar alguns recursos utilizados em embalagens.


Eles podem ser visuais, formais, táteis ou a mistura destes. Falaremos
primeiramente da janela reveladora, que é um recurso que associa forma ao
grafismo da embalagem. Também chamadas de vitrines, é amplamente utilizada
em embalagens de brinquedos e alimentos e sugere aproximação do
consumidor para visualizar o conteúdo. Ela funciona tanto para emoldurar o
produto quanto para adicionar informações visuais. Se a janela reveladora for
formada por um espaço sem impressão numa embalagem plástica, por exemplo,
ela não traz custos adicionais de produção. Mas se ela tiver que agregar um
outro material, como uma película plástica em uma embalagem de papel cartão,
certamente encarecerá a produção.
É importante lembrar que assim como acontece em projetos gráficos de
rótulos para garrafas e frascos transparentes, a embalagem com uma janela
reveladora exterioriza as cores e formas, texturas do produto que está em seu
interior. Por isso o designer sempre deve considerar esses elementos quando
for desenvolver a arte impressa.
O mesmo ocorre quando a embalagem favorece a experimentação do
produto. Esse é um recurso formal que se associa ao tato humano. Trata-se de
uma parte do conteúdo ficar exposto ao consumidor ou aos dispositivos de
encaixe nas estações de teste. É o caso de embalagens de lâmpadas e
eletrônicos, que é um tipo de embalagem que deve ser versátil a ponto de
conservar íntegro o seu conteúdo ao mesmo tempo em que atrai o consumidor
para a compra.
Em um momento anterior, falamos da importância de considerar os
aspectos táteis das embalagens. Todos os dias, estamos em contato direto com

7
objetos e recebendo uma resposta instantânea, que vai sendo armazenada na
memória de curto prazo. Se a experiência for ruim ou muito prazerosa, ela ganha
espaço na memória de longo prazo, podendo ser acessada em outros
momentos, seja por uma recordação voluntária, seja por um gatilho emocional.
No caso das embalagens, essa experiência tátil associa-se à visão e pode se
tornar prazerosa, agregando-se ao material alguns acabamentos especiais,
como relevos secos, vernizes, áreas metalizadas, texturas etc.
São recursos que normalmente encarecem o valor unitário da
embalagem, por isso são utilizados em produtos de alto nível, como em caixas
de bombons recheados, perfumes, eletrônicos e rótulos de vinho.
Os produtos que apresentam alguma fragilidade ou que merecem uma
apresentação organizada ganham peças adicionais em sua embalagem: os
acessórios. São recursos formais que podem ser bem simples, como uma
divisória, até estruturas bem complexas envolvendo vários materiais. Esses itens
são muitas vezes indispensáveis para que o produto chegue íntegro até a fase
de consumo.
O mais popular pode ser chamado de berço e é um elemento rígido de
papel ou plástico que acomoda o produto segundo sua forma. Eles oferecem
organização espacial para objetos pequenos, proteção adicional contra impactos
e alocam adequadamente as peças de um produto que é embalado desmontado,
assim como seu manual de instruções e peças adicionais.
Podemos citar outros exemplos de acessórios, como alças plásticas para
sacolas, velcro para fechamento de caixas, fitas, cantoneiras etc. Existe uma
infinidade de acessórios prontos no mercado, e muitos ainda podem ser
inventados, pois são desenvolvidos à medida que um produto demanda uma
inovação em sua embalagem.

TEMA 4 – COMUNICAÇÃO EM EMBALAGENS

Como vimos anteriormente, as primeiras embalagens exerciam funções


limitadas ao armazenamento, conservação e adequação ao transporte de
mercadorias e produtos. Novas funções foram incorporadas à medida que as
mudanças no comércio e no consumo foram acontecendo. A primeira mudança
comercial que impactou as embalagens no século XX foi a transição do modelo
mercearia – que dependia de um vendedor para servir os clientes de produtos à
granel, ou para separar itens já embalados como cera e cerveja – para rede de
8
supermercados self-service, iniciada nos EUA em 1930. Neste momento, a
embalagem se tornou veículo de comunicação, marketing, propaganda e de
informações importantes, como a vemos atualmente.
Em muitas situações, é com base na embalagem de um produto que o
consumidor formará, pela primeira vez, uma opinião sobre a empresa que o
produziu. Neste caso, a embalagem se torna o principal instrumento de
construção da marca desta empresa. É o que afirma Mestriner (2002), quando
diz que uma das grandes forças da embalagem está no fato de o marketing ser
uma batalha de percepção e não de produtos. E por meio desse sentido que o
marketing tem a função de fazer com que o produto seja percebido de certa
maneira, agregando a ele novos valores e significados (Mestriner, 2002).
Ao criar a comunicação para embalagens, o designer deve pensar nos
três principais elementos que compõem a linguagem bi e tridimensional: cor,
texto e forma. A seguir, veremos um pouco mais sobre cada uma delas:

4.1 Cor

A comunicação visual baseia-se essencialmente em forma e cor.


Utilizando-se da combinação desses elementos podem-se criar estímulos
visuais interessantes, causando impacto, legibilidade, reconhecimento,
distinção, identificação de categorias de produtos, memorização etc.
A missão especial que a cor tem no projeto de embalagens é a de chamar
a atenção do consumidor para si diante de inúmeras escolhas à sua frente.
Primeiro ele é atraído, depois conservado atento à mensagem visual, por meio
de um significado interessante, de fácil assimilação. Muito antes de reconhecer
e ler um texto, a cor já comunicou muitas coisas (como o sabor de um suco, por
exemplo), pois ela supera as barreiras idiomáticas.
A legibilidade é um critério ergonômico delicado de ser conquistado no
design de embalagens; seja por ausência de espaço útil para as informações, ou
por fragilidades nos processos de impressão. Nesse caso, o estudo de aplicação
correta da cor é também uma das melhores formas de garantir que haja
legibilidade. É importante ressaltar que a percepção e a simbologia das cores e
dos elementos gráficos variam conforme a idade, classe social, aspectos
culturais, religiosos e sexo do público consumidor. Em se tratando da mesma
pessoa, essa percepção também muda, por conta do clima, da região de
consumo e da sazonalidade.
9
Saiba mais

A simbologia das cores é um assunto muito importante que pode ser


encontrado no livro a seguir:
FARINA, M.; PEREZ, C.; BASTOS, D. Psicodinâmica das cores em
comunicação. 6. ed. São Paulo: Blücher, 2011.

As associações simbólicas das cores têm um caráter psicossocial e podem


ser utilizadas como referências para a utilização de cores em embalagens. Já
existe uma convecção no uso de cores para determinado segmento de produtos,
instalada ao longo das décadas de mercado. O consumidor se acostumou, por
exemplo, a ver café em pó em embalagens de cores quentes, como marrom,
vermelho e amarelo. Se o mesmo café for embalado em um pacote azul ou roxo,
a percepção acerca do produto irá mudar de forma negativa, afetando, inclusive,
a memória do produto associada aos demais sentidos, como olfato e paladar.
Celso Negrão e Eleida Camargo (2008) relacionaram em seu livro Design
de embalagem – Do marketing à produção, algumas categorias de produtos e
as cores mais associadas a cada um deles:

• Café – marrom-escuro com toque de laranja, amarelo, verde, vermelho ou


areia;
• Chocolate – marrom-claro ou escuro, vermelho-alaranjado, laranja,
amarelo ocre, rosa;
• Leite – azul e verde, em vários tons, às vezes com um toque de vermelho;
• Gorduras vegetais – verde-claro e amarelo não muito forte;
• Carnes enlatadas – cor do produto em fundo vermelho;
• Leite em pó – azul e vermelho, amarelo e verde com toque de vermelho;
• Doces em geral – vermelho-alaranjado;
• Óleos e azeites – verde, vermelho e toques de azul;
• Iogurte – branco e azul;
• Cerveja – amarelo-ouro, vermelho e branco;
• Desodorantes – verde, branco, azul com toques de vermelho ou roxo;
• Perfumes – roxo, amarelo-ouro, prateado, rosa para as mulheres;
• Cigarros – branco e vermelho, branco e azul com toque de amarelo ouro,
branco e verde, branco e ouro, preto e ouro.

10
Recomenda-se o uso dessa relação para iniciar o desenvolvimento do
projeto, mas nada impede que outras cores sejam utilizadas, desde que haja
pesquisa e uma boa conceituação que sustente a escolha.

4.2 Texto

Para um bom texto ser apresentado ao consumidor, houve anteriormente


uma combinação planejada entre a redação e a tipografia, que funciona tanto no
sentido da legibilidade quanto da publicidade. Portanto, toda a editoração de
texto precisa ser construída ao redor desse princípio, preservando o conforto da
leitura e passando a informação de forma atraente e objetiva. Em se tratando
somente de legibilidade, o designer de embalagens deve considerar as cinco
características mais importantes à editoração de um texto: espaço entre as
letras, espaço entre as linhas, tipo com ou sem serifa, peso do tipo e cor.
Quando necessário o uso de várias tipografias num mesmo layout,
devem-se priorizar aquelas que são da mesma família. Por exemplo, usar a
tipografia Helvetica na versão bold para uma chamada curta e títulos; e a versão
light para textos longos, tabelas e informações técnicas. É importante salientar
que os tipos convencionais são mais recomendados para uso em textos longos,
pois o conteúdo deve sobressair à forma da letra. Ou seja, a boa tipografia não
é diferenciada pelo leitor enquanto este lê o texto.
Em se tratando de embalagens, principalmente as de formato cilíndrico,
deve-se atentar à amplitude ou extensão do campo visual. Veja a Figura 7.

11
Figura 7 – Extensão do campo visual em rótulos de frascos cilíndricos

Créditos: Vector Expertz/Shutterstock.

Quando elaboramos o layout dessas embalagens, temos que ter em


mente que a área visível ao consumidor é um pouco maior que a 1/3 do
comprimento da circunferência da base do cilindro. Ou seja, o texto precisa estar
encaixado com as imagens, tabelas e outra informações de modo que num
mesmo campo visual o leitor consiga escanear e entender todo o conteúdo.
Sabemos que não é o designer que define a quantidade e qualidade das
informações contidas em uma embalagem, pois isso faz parte da estratégia de
marketing e de obrigações legais (por exemplo, suas características, quantidade,
composição, prazos de validade e origem. Veremos isso num capítulo à parte
ainda nesta aula), devendo ser definida pela empresa juntamente com seus
especialistas em comunicação. O design colabora por meio da diagramação,
12
hierarquizando informações. Ou seja, dando destaque aos textos que
contribuem para a venda do produto e à informação ao consumidor e menos
destaques para dados secundários. Isso é obtido visualmente com a mudança
da tipos da família tipográfica (bold, itálico, regular) e utilizando recursos gráficos
como splashes, imagens, variação de cores etc.

4.3 Forma

Podemos definir que forma é aparência externa do objeto. Ou seja,


chamamos de forma a silhueta de uma embalagem. Um produto pode muitas
vezes ser reconhecido apenas por meio da sua silhueta, e até se tornar ícone,
como é o caso da garrafa de um refrigerante famoso (veja a Figura 8).

Figura 8 – Embalagens que ligam a forma ao produto – garrafa de refrigerante

Créditos: K2 Photo Projects/Shutterstock.


Pelo seu enorme poder de impacto e diferenciação entre as demais
garrafas, o desenho da garrafa foi patenteado, sendo, a partir daí, de uso
exclusivo da marca, fortalecendo ainda mais a associação da embalagem com
a empresa na mente do consumidor.
Uma silhueta também pode sugerir que o produto pertence a uma
categoria de produtos, por exemplo, frascos de perfume ou potes de margarina.
Se adicionarmos algo do contexto, algumas embalagens podem ser
discriminadas entre si – por exemplo, embalagem cartonadas para sucos de fruta
prontos para beber ou leite, que utilizam o mesmo sistema de embalagem.
Essa associação entre produto e embalagem acontece desde os
primórdios da embalagem, como afirma Fábio Mestriner (2002):

13
As primeiras embalagens eram identificadas exclusivamente por sua
forma, uma vez que não existiam recursos técnicos para a inclusão de
imagens ou códigos visuais mais elaborados. A forma da ânfora ou do
jarro indicava se o conteúdo era vinho ou azeite. O formato do saco e
a amarração do fardo indicavam aos comerciantes antigos o que
estavam transportando.

Diferente da maioria dos projetos gráficos, as embalagens precisam ser


pensadas em três dimensões, pois é nessa particularidade que se expressam os
requisitos mais técnicos e concretos. A forma não contém apenas os significados
estéticos e simbólicos (transmitindo-lhe ideias e sensações), mas envolve
aspectos ergonômicos e funcionais, facilitando a utilização de seu conteúdo,
preservando as características químicas e físicas durante o uso continuado. Por
isso, ao projetar a forma, o designer deve considerar o sistema de uso do
produto, o local, quem é e como será a ação do usuário, seu estado emocional
etc. Por exemplo, uma cartela de remédios para dor de cabeça normalmente é
manipulada por alguém que sofre fisicamente, e por isso não apresenta as
faculdades cognitivas em ordem. Diferentemente de uma criança que abre uma
caixa de brinquedos no Natal, ou ainda de um cabelereiro que interage com
frascos tinta para cabelo com as mãos enluvadas.
Os diferenciais da forma também podem estar em um manejo que cative
o consumidor. Um fecho de caixa, um jeito mais fácil de segurar ou abrir, por
exemplo. São detalhes que podem fazer toda a diferença na experiência de uso.
Ao analisarmos as demandas específicas de cada possível utilização,
saberemos quais requisitos a forma precisará contemplar. Essa mesma forma
deve apresentar a estabilidade necessária ao armazenamento e uma exposição
atraente nas gôndolas do mercado, além de, quando agrupadas para transporte,
ocupar o espaço da melhor maneira possível, minimizando os custos logísticos.
Conhecendo um pouco mais os três elementos que compõem a
linguagem bi e tridimensional, entendemos que a embalagem integra o grupo de
itens gráficos que interagem com os consumidores de uma marca por meio de
uma linguagem única e poderosa, pois mesmo sem existir a compra, a
embalagem tem presença e comunica no ponto de venda, além de poder ser
utilizada como mídia para a propagandas de produtos similares da mesma
empresa, sem que haja grandes investimentos.

14
TEMA 5 – IMPACTO NA PRATELEIRA

Para um designer, o maior desafio no mercado varejo é fazer com que


seu produto tenha destaque entre seus concorrentes. Essa disputa se dá
principalmente na prateleira, onde se encontram lado a lado.
Além dos acessórios e dos elementos da comunicação visual da
embalagem que estudamos nesta aula, devemos levar em conta o fato de que
as embalagens raramente aparecem sem par em uma gôndola. Dependendo do
espaço reservado na prateleira, o produto pode apresentar-se em grupos de 3,
4 ou mais unidades.
Uma estratégia muito interessante é aproveitar o agrupamento de
embalagens iguais e unir visualmente a face dessas unidades, criando-se uma
área maior para comunicação da marca.

Saiba mais

Um exemplo de utilização desse conceito é a arte desenvolvida pela


designer Vera Zvereva para a linha Milgrad de laticínios da marca russa Bryansk
Dairy Plant’s. Acesse o link a seguir para conhecer a solução apresentada por
Zvereva, numa criação que considera as laterais da embalagem de leite para
criar um desenho maior. Para conhecer as imagens, acesse o link a seguir:
DESIGNER russa cria embalagens que se unem formando simpáticos
gatos. Pequenas Empresas & Grandes Negócios, 5 set. 2020. Disponível em:
<https://revistapegn.globo.com/Banco-de-
ideias/Varejo/noticia/2020/09/designer-russa-cria-embalagens-que-se-unem-
formando-simpaticos-gatos.html>. Acesso em: 4 jun. 2021.

O recurso foi tão bem sucedido que o personagem ganhou espaço nas
mídias além do supermercado, tornando-se popular em várias redes sociais,
impactando outros tipos de consumidores.
Por meio do uso criativo do espaço nas gôndolas, pode-se contar uma
história ou transmitir uma mensagem melhor do que seria possível utilizando
somente uma das laterais da embalagem. Atrair a atenção do consumidor
fascinando-o é a melhor estratégia para um produto ser reconhecido pelo
consumidor entre os concorrentes, conquistá-lo e fidelizá-lo para compras
futuras.

15
TROCANDO IDEIAS

Nesta aula, aprendemos como o planejamento das estruturas físicas e


visuais das embalagens podem estabelecer uma relação positiva com o
consumidor. Tendo isso em mente, compartilhe no fórum com seus colegas as
experiências positivas ou negativa que você já teve com produtos e qual foi a
participação da embalagem neste caso. Comente a participação dos colegas.

NA PRÁTICA

Escolha uma embalagem de papel que você tenha à sua disposição e


desmonte-a cuidadosamente, para obter a sua forma planificada. Verifique suas
formas especiais e tente redesenhá-la à mão ou em algum software vetorial,
reproduzindo suas medidas com maior fidelidade possível, utilizando o código
técnico para representação das linhas e das cotas. Perceba a sutil diferença de
medidas entre as laterais e reflita por que há essa diferença.

FINALIZANDO

Nesta aula conhecemos como se procede à reunião de informações para


produção das embalagens através da documentação técnica e como é
importante utilizar as convenções de desenho para que todos os agentes de
produção interpretem corretamente os dados.
Também estudamos estratégias para melhor comunicar e impactar o
consumidor diante da gôndola, utilizando os recursos táteis, gráficos, físicos e
os acessórios, que também melhoram o transporte e a experiência de consumo
do produto.
Percebemos que a embalagem é parte de um sistema complexo,
envolvendo design, marketing, produção, logística, meio ambiente e consumidor.
Quanto melhor conhecermos cada parte desse sistema, melhores soluções em
embalagens poderemos oferecer.

16
REFERÊNCIAS

DESIGNER russa cria embalagens que se unem formando simpáticos gatos.


Revista Pegn, 5 set. 2020. Disponível em: < https://glo.bo/3ckCVE8>. Acesso
em: 5 jun. 2021.

FARINA, M.; PEREZ, C.; BASTOS, D. Psicodinâmica das cores em


comunicação. 6. ed. São Paulo: Blücher, 2011.

FUENTES. R. A prática do design gráfico: uma metodologia criativa. São


Paulo: Rosan, 2006

MESTRINER, F. Design de embalagem – curso básico. 2. ed. São Paulo:


Pearson Makron Books, 2002.

NEGRÃO, C.; CAMARGO, E. Design de embalagem: do marketing à produção.


São Paulo. Novacec, 2008.

RONCARELLI, S.; ELLICOTT, C. Design de embalagem: 100 fundamentos de


projeto e aplicação. São Paulo. Blücher, 2011.

17

Você também pode gostar