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Marcia Signorini
1 O fluxo de produção
O livro é o resultado material, palpável, concreto, de um complexo processo, constituído de uma série
de operações concatenadas e interdependentes. Os desvios do processo cristalizam-se no produto;
portanto, a chave do sucesso na empreitada da produção editorial está na precisa definição das etapas
e no controle de cada uma delas, identificando e corrigindo esses desvios que tendem a afastar o
resultado do objetivo perseguido.
No esquema abaixo temos uma representação esquemática das principais etapas do fluxo produção,
com a indicação dos pontos em que deve haver uma avaliação parcial para retroalimentação do pro-
cesso, corrigindo possíveis desvios.
PROVA CONTRATUAL
FOLHA DE MÁQUINA
PRODUTO ACABADO
ESPECIFICAÇÃO
ARTE FINAL
BONECO
PROJETO PROVA
LAY-OUT DIAGRAMAÇÃO FECHAMENTO IMPRESSÃO ACABAMENTO EXPEDIÇÃO
GRÁFICO PAGINADA
DIGITALIZAÇÃO PROVAS EM
PRODUÇÃO
TRATAMENTO DE BRUTO MANUSEIO
TEXTO / IMAGEM
IMAGENS
2 Especificação
Especificar significa projetar uma imagem mental do produto, definindo o maior número de detalhes
a partir da resposta a algumas questões básicas:
Por quê? Define a finalidade do produto.
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Por exemplo, discriminar a que faixa etária o livro se destina; para crianças ainda não alfabetizadas, as
imagens e as cores são o centro de interesse, daí a necessidade de impressão policromática. Elementos
táteis como cortes especiais e diferentes acabamentos superficiais do papel, ou olfativos, como aromas
relacionados com as imagens impressas, implicam recursos especiais de acabamento. A peça não pode
ser grande ou pesada, assim como a capa e o miolo devem ser suficientemente resistentes ao manu-
seio infantil.
Essa finalidade vai determinar, portanto, a tiragem, o formato e, principalmente, o tipo de acabamento
da peça.
Quanto? Define a ordem de grandeza dos recursos que se pretende investir no produto.
Essa estimativa é fundamental para evitar desperdício de tempo e energia. Custos altos nem sempre
são sinônimo de qualidade, porém, há uma forte relação de interdependência entre esses dois concei-
tos e o tempo. Na imensa maioria dos trabalhos, essa relação pode ser resumida assim:
Um exemplo de especificação
Na especificação devem estar descritos todos os detalhes do produto:
Título
Tiragem
Formato: largura e altura fechado e aberto; número de páginas
Material: tipo de papel e gramatura do miolo e da capa
Tipo de acabamento: refile, corte/vinco, vernizes, laminações, relevo seco, hotstamping, outros
Tipo de encadernação: grampeado, brochura, capa flexível, capa dura, guardas, tipo de lombada, cabeceado, marcador de
fita, outros
Descrição do manuseio: inserção de encartes, CDs, dobras especiais etc
Acondicionamento: empacotamento coletivo em papel ou plástico (shrink), colocação em caixas, quantidade por caixa,
pallets etc
Transporte e entrega: locais de entrega, detalhes de recebimento etc
Detalhes de pré-impressão: Número e tamanho das imagens (cromos, fotos PB, ilustrações originais etc.); tipo de trata-
mento a ser dado (reprodução em PB, 4 cores, recortes, fusões etc.); tipo de prova contratual
Prazo de entrega
3 Planejamento
O que observar
Bureau de pré-impressão: Capacidade e experiência na produção de determinado produto. Pla-
taforma de trabalho (Mac/PC). Marca e tipo de escaneadores (plano, cilíndrico, velocidade de esca-
neamento etc.). Marcas e tipos de equipamentos de provas. Formatos de saída de filmes, provas e
escaneamento. Número de máquinas disponíveis. Serviços de estúdio oferecidos (tratamento de ima-
gens, fusões, correções etc). Capacitação profissional dos técnicos. Qualidade e agilidade do atendi-
mento. Horário e turnos de trabalho. Serviços de motoboy. Localização geográfica.
Gráfica: Capacidade e experiência na produção de determinado produto. Tipo de sistema de impressão
(offset, rotogravura, serigrafia, tipografia, flexografia, sistemas digitais). Marcas, formato, número de
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cores e sistema de alimentação das máquinas. Quantidade de unidades de cada equipamento.
Equipamentos de acabamento: gui-lhotinas, máquinas de corte/vinco, dobradeiras, aplicadoras de
vernizes e acabamentos especiais. Capacitação profissional dos técnicos. Qualidade e agilidade do
atendimento. Horário e turnos de trabalho. Serviços de motoboy. Localização geográfica.
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3.3 Cronogramas de produção
A elaboração de um cronograma é fundamental para o gerenciamento do processo de produção. Ele é
um guia que permite acompanhar passo a passo o desenvolvimento do trabalho, sem perder de vista
o objetivo final. A realidade é sempre diferente do que se planejou... Essas diferenças, porém, não
chegam a comprometer o resultado se esse plano prévio estiver orientando as ações e decisões.
O cronograma deve partir da data-limite e dali retroceder até ao início do trabalho. Estimar com pre-
cisão a duração de cada etapa exige profundo conhecimento do processo e do fornecedor. É importan-
te lembrar que, no final da cadeia, o tempo aparece como uma realidade objetiva — quanto demora
o acerto de chapa, quantas folhas por hora a máquina imprime, quantas horas são necessárias para
a secagem da tinta — que é diferente para cada tipo de papel etc. E não há como alterar as leis da
física. O tempo que falta no final é aquele que foi inadvertidamente desperdiçado no início, quando
etapas mais subjetivas estavam em desenvolvimento.
Uma chave para a elaboração de um cronograma real é prever sempre o imprevisto, ou seja deixar
alguma margem para fatores imponderáveis, como uma enchente que paralisa a cidade, uma queda
de energia, pane nos equipamentos, um motoboy que erra o local de retirada do material etc.
As diferentes etapas do processo não se desenvolvem linearmente. Por isso, é necessário simular men-
talmente a realização de cada uma delas, verificando as superposições e identificando a linha crítica,
ou seja, a seqüência de operações que levará mais tempo para ser concluída. Ela será o fio condutor
do cronograma e qualquer atraso nas operações dessa linha incidirá diretamente sobre o prazo final
do trabalho.
Na produção de um livro de arte, por exemplo, dispende-se um tempo considerável na etapa de digi-
talização e tratamento de imagens, pois muitas provas são necessárias até que a reprodução seja
suficientemente fiel ao original. Assim que o primeiro layout do livro esteja aprovado, já se pode iniciar
esse serviço, desenvolvendo-o paralelamente às provas de revisão de texto, de forma que, quando o
arquivo final esteja liberado, as imagens também já estejam corrigidas, prontas para aplicação.
Outro aspecto prático importante no cronograma é a identificação dos feriados e finais de semana
entre o início e o final da produção. Os fornecedores geralmente trabalham 24 horas, mas nas vésperas
de feriado e finais de semana ocorre um acúmulo de serviços que, naturalmente, aumenta a incidência
de erros e diminui a produtividade.
Os cronogramas podem ser elaborados manualmente, em planilhas do tipo Excell, por exemplo ou a
partir de softwares de gerenciamento específicos, por exemplo o Fast Track Schedule, o Microsoft
Project, o Open Project.
Abaixo temos um exemplo de cronograma de produção elaborado em Excell:
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3 Controle
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Ficha de avaliação | Arte-final
Formato: miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo etc.
Número de páginas
Numeração das páginas, cabeços, rodapés, padrões gráficos etc.
Cores: CMYK, cores especiais
Overprints e trappings
Imagens: links, cortes, modo (CMYK / RGB), resolução, sangria
Padronização de estilos de texto e elementos gráficos: fios, vinhetas, cores
Grides de posicionamento de textos e imagens
Outros detalhes
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3.3 Ficha de produção
A ficha de produção deve acompanhar a solicitação de serviços quando os originais são encaminhados
ao fornecedor e conter o maior número de detalhes sobre a peça: especificações finais, cores especiais
(amostras ou códigos), número do orçamento correspondente, dados completos para faturamento e
entrega do material, nome e telefones para contato etc.
É imprescindível enviar, acompanhando a ficha, o boneco ou o protótipo do material a ser produzido.
Esse boneco deve ser completo, principalmente tratando-se de peças que requerem manuseio, como
por exemplo folderes encartados, aplicação de EVA para encarte de CDs, bolsas etc.
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