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DESIGN E PRODUÇÃO GRÁFICA

Marcia Signorini
1 O fluxo de produção
O livro é o resultado material, palpável, concreto, de um complexo processo, constituído de uma série
de operações concatenadas e interdependentes. Os desvios do processo cristalizam-se no produto;
portanto, a chave do sucesso na empreitada da produção editorial está na precisa definição das etapas
e no controle de cada uma delas, identificando e corrigindo esses desvios que tendem a afastar o
resultado do objetivo perseguido.
No esquema abaixo temos uma representação esquemática das principais etapas do fluxo produção,
com a indicação dos pontos em que deve haver uma avaliação parcial para retroalimentação do pro-
cesso, corrigindo possíveis desvios.

PROVA CONTRATUAL

FOLHA DE MÁQUINA

PRODUTO ACABADO
ESPECIFICAÇÃO

ARTE FINAL
BONECO

PROJETO PROVA
LAY-OUT DIAGRAMAÇÃO FECHAMENTO IMPRESSÃO ACABAMENTO EXPEDIÇÃO
GRÁFICO PAGINADA

DIGITALIZAÇÃO PROVAS EM
PRODUÇÃO
TRATAMENTO DE BRUTO MANUSEIO
TEXTO / IMAGEM
IMAGENS

ESPECIFICAÇÃO BONECO PROTÓTIPO

ESTIMATIVA COTACÃO COM 3 ORÇAMENTO


DE CUSTOS FORNECEDORES DEFINITIVO

PROGRAMAÇÃO PRÉ-IMPRESSÃO IMPRESSÃO FINALIZAÇÃO

No atual estágio de desenvolvimento tecnológico do setor, ocorre uma fragmentação do processo as


etapas desenvolvem-se em tempos e espaços físicos diferentes, sendo realizadas por distintos profis-
sionais, das mais variadas formações e com os mais diversos níveis de capacitação, fazendo-se neces-
sário o estabelecimento de um fio condutor e integrador desse processo.
ESPECIFICAÇÃO, PLANEJAMENTO e CONTROLE são três momentos nesse trabalho de integração;
em todos eles, fazem-se escolhas e tomam-se decisões, que serão tanto mais acertadas quanto maior
for o conhecimento dos fundamentos do processo gráfico.

2 Especificação
Especificar significa projetar uma imagem mental do produto, definindo o maior número de detalhes
a partir da resposta a algumas questões básicas:
Por quê? Define a finalidade do produto.
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Por exemplo, discriminar a que faixa etária o livro se destina; para crianças ainda não alfabetizadas, as
imagens e as cores são o centro de interesse, daí a necessidade de impressão policromática. Elementos
táteis como cortes especiais e diferentes acabamentos superficiais do papel, ou olfativos, como aromas
relacionados com as imagens impressas, implicam recursos especiais de acabamento. A peça não pode
ser grande ou pesada, assim como a capa e o miolo devem ser suficientemente resistentes ao manu-
seio infantil.
Essa finalidade vai determinar, portanto, a tiragem, o formato e, principalmente, o tipo de acabamento
da peça.

O quê? Define se será uma peça isolada ou uma coleção.


Na coleção existem elementos de identificação que, ao mesmo tempo que individualizam o volume,
demonstram que o mesmo faz parte de uma série. Geralmente se adota um mesmo formato para todos
os livros, o mesmo layout da capa, algumas cores ou elementos gráficos que identificam a série. É
fundamental que essas características se mantenham em todos os itens da coleção.

Como? Define qual o sistema de produção.


Essa definição depende das questões anteriores, ou seja, trata-se de identificar, entre as várias alter-
nativas de mercado, o sistema mais indicado para atender ao “Por quê?” e o “O quê?” de determina-
da peça. Em geral, a tiragem é o fator principal a ser considerado nessa escolha.
Para tiragens menores, o sistema mais viável é o offset, em máquina plana, com alimentação por
folhas. O formato da chapa de impressão (folha inteira ou meia folha) condiciona a montagem dos
cadernos e esta determina o formato e o número de páginas do livro. Para tiragens maiores, o sistema
passa a ser offset, em rotativa, com alimentação por bobina. A largura da boca e o giro do cilindro
condicionam a montagem dos cadernos e esta determina o formato e o número de páginas do livro.

Quando? Define a periodicidade da peça e o prazo disponível para produção.


A repetibilidade é fundamental nas decisões referentes às peças de edição em série ou de substituição
periódica. Assim, a especificação de material deve necessariamente considerar a disponibilidade no
mercado em edições futuras; papéis importados, por exemplo, são contra-indicados nesse tipo de pro-
dução, pois sua oferta depende de fatores externos, incontroláveis.
Garantir que a cor que personaliza a coleção seja a mesma na reimpressão, daqui a um ano ou mais
tempo, exige padronização e controle. Aqui cabe esclarecer que estabelecer um padrão de cor é muito
mais que simplesmente “indicar o Pantone”. É muito comum que a escala de amostras Pantone do
designer seja diferente da mesma escala do impressor, porque não se observa a necessidade da troca
periódica, programada, dos mostruários, conforme indica o fabricante. A luz é energia e atua sobre a
cor, alterando-a ao longo do tempo. Assim, o exemplar antigo também não serve como referência,
porque já se modificou pela ação da luz. Os padrões devem ser objetivamente estabelecidos, bem
como a faixa de tolerância em relação a essa referência, de forma que a qualquer momento se possam
reproduzir os resultados esperados.
O prazo disponível para a produção também direciona a decisão entre as alternativas de produção. Há
atualmente no mercado inúmeros sistemas digitais de impressão que atendem a baixas tiragens em
prazos bem curtos, porém com custo unitário elevado.
Peças mais sofisticadas e diferenciadas exigem maior tempo de execução porque, em geral, a sofisti-
cação vem da agregação de operações (facas especiais, colagens, aplicação de vernizes, acabamentos
especiais, detalhes em materiais não usuais, etc.), muitas delas artesanais.

Quanto? Define a ordem de grandeza dos recursos que se pretende investir no produto.
Essa estimativa é fundamental para evitar desperdício de tempo e energia. Custos altos nem sempre
são sinônimo de qualidade, porém, há uma forte relação de interdependência entre esses dois concei-
tos e o tempo. Na imensa maioria dos trabalhos, essa relação pode ser resumida assim:

PREÇO • PRAZO • QUALIDADE


ESCOLHA DOIS !
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É importante ter sempre presente que todos esses fatores Por quê • O quê • Como • Quando •
Quanto são interligados e interdependentes. Deve ficar bem claro, desde o início do processo, se
algum deles precisará ter preponderância sobre os demais.

Um exemplo de especificação
Na especificação devem estar descritos todos os detalhes do produto:

ƒƒ Título
ƒƒ Tiragem
ƒƒ Formato: largura e altura fechado e aberto; número de páginas
ƒƒ Material: tipo de papel e gramatura do miolo e da capa
ƒƒ Tipo de acabamento: refile, corte/vinco, vernizes, laminações, relevo seco, hotstamping, outros
ƒƒ Tipo de encadernação: grampeado, brochura, capa flexível, capa dura, guardas, tipo de lombada, cabeceado, marcador de
fita, outros
ƒƒ Descrição do manuseio: inserção de encartes, CDs, dobras especiais etc
ƒƒ Acondicionamento: empacotamento coletivo em papel ou plástico (shrink), colocação em caixas, quantidade por caixa,
pallets etc
ƒƒ Transporte e entrega: locais de entrega, detalhes de recebimento etc
ƒƒ Detalhes de pré-impressão: Número e tamanho das imagens (cromos, fotos PB, ilustrações originais etc.); tipo de trata-
mento a ser dado (reprodução em PB, 4 cores, recortes, fusões etc.); tipo de prova contratual
ƒƒ Prazo de entrega

3 Planejamento

3. 1 Escolha dos fornecedores


Para a maior parte dos trabalhos, existe uma enorme gama de fornecedores disponíveis; a escolha do
mais adequado para a peça em questão pode evitar muitos dissabores futuros.
Tomando como exemplo um livro projetado a 5 cores: será melhor escolher um fornecedor que dispo-
nha de impressora a 5 cores, o que evita que o material tenha de ser recolocado em máquina para
aplicação da cor especial; isso implica menor tempo de produção e minimiza problemas de registro
no impresso. O mesmo fornecedor talvez não seja o mais indicado para a produção de um livro de texto
a 1 ou 2 cores; nesse caso, devem-se buscar fornecedores que disponham de máquinas mono ou bico-
lores, que poderão oferecer melhores condições de preços e prazos para o mesmo trabalho.
A regra geral é que as etapas devem ser executadas no menor número possível de estabelecimentos.
Quando a gráfica possui departamento de pré-impressão próprio, uma mínima integração do processo
já está garantida (tratamento de cores balanceado para a saída de impressão, possibilidade de corre-
ções mais imediatas, preços por pacote, maior objetividade na apuração das responsabilidades por
eventuais desvios etc.). Gráficas especializadas na produção de livros, por exemplo, geralmente já
possuem, em linha, os equipamentos de acabamento — vernizes, laminações, hotstamping, relevo
seco etc. — e encadernação, o que diminui o tempo de produção.

O que observar
Bureau de pré-impressão: Capacidade e experiência na produção de determinado produto. Pla-
taforma de trabalho (Mac/PC). Marca e tipo de escaneadores (plano, cilíndrico, velocidade de esca-
neamento etc.). Marcas e tipos de equipamentos de provas. Formatos de saída de filmes, provas e
escaneamento. Número de máquinas disponíveis. Serviços de estúdio oferecidos (tratamento de ima-
gens, fusões, correções etc). Capacitação profissional dos técnicos. Qualidade e agilidade do atendi-
mento. Horário e turnos de trabalho. Serviços de motoboy. Localização geográfica.
Gráfica: Capacidade e experiência na produção de determinado produto. Tipo de sistema de impressão
(offset, rotogravura, serigrafia, tipografia, flexografia, sistemas digitais). Marcas, formato, número de

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cores e sistema de alimentação das máquinas. Quantidade de unidades de cada equipamento.
Equipamentos de acabamento: gui-lhotinas, máquinas de corte/vinco, dobradeiras, aplicadoras de
vernizes e acabamentos especiais. Capacitação profissional dos técnicos. Qualidade e agilidade do
atendimento. Horário e turnos de trabalho. Serviços de motoboy. Localização geográfica.

3.2 Estimativas de custo e orçamentos


Embora seja uma prática comum, é muito perigoso estimar custos sem o layout do produto. Os forne-
cedores sempre mencionam por escrito a necessidade de confirmar os preços orçados no momento da
produção e a experiên­cia mostra que, uma vez estabelecido um valor, é muito difícil alterá-lo ao longo
do processo.
Inúmeros fatores podem influir na composição dos custos: disponibilidade de material, capacidade
ociosa do estabelecimento no momento da cotação, contingências de mercado – como a tentativa de
introduzir um novo sistema ou novo tipo de suporte – além das características do produto orçado.
É importante fazer essa estimativa com três fornecedores no mínimo, todos do mesmo nível, usando
como refe­rência o preço médio. Uma vez aprovado o layout final, esse orçamento deverá ser refeito,
dessa vez de forma definitiva, podendo haver alterações significativas no custo anteriormente apresen-
tado, para mais ou para menos.
Quanto mais detalhada a especificação da peça, mais corretos serão os orçamentos. Essas especifica-
ções devem ser transmitidas sempre por escrito, com a maior objetividade possível; uma vez recebidos
os orçamentos, estes devem ser cuidadosamente checados, conferindo-se item por tem da especifica-
ção. Esses orçamentos gráficos geram, posteriormente, as fichas de produção que acompanharão o
material dentro da gráfica até o acabamento; se o material foi solicitado em papel "cuchê fosco" e no
orçamento constava apenas "cuchê", no final do processo, todo o material estará impresso em papel
brilhante!
Todas as discrepâncias entre o que foi especificado e o que consta no orçamento têm de ser esclareci-
das e depois adicionadas por escrito ao orçamento final; acertos verbais não são confiáveis e provocam
conflitos posteriores.
Os serviços de pré-impressão, principalmente digitalização e tratamento de imagens, são os que geram
maiores pro­blemas, pois muitos aspectos são subjetivos e não ficam claros na solicitação do orçamen-
to. Quando se especifica, por exemplo, o número de imagens com recorte, é dificil determinar a com-
plexidade desse recorte, pois esta depende da imagem recortada. Assim, é importante prever sempre
um adicional para tratamento de imagens, que é cobrado pela maioria dos fornecedores como “hora
de sistema”, uma vez que esse serviço pode tornar-se necessário.
É também interessante acrescentar aos custos de pré-impressão o valor de alguns testes e provas
prévias para orientação da arte-finalização das peças. Esse pequeno adicional previne surpresas desa-
gradáveis, como problemas de legibilidade e inadequação das gamas de cores utilizadas, por exemplo.
Sem essas provas, tais problemas só serão percebidos na prova contratual, gerando portanto despesas
extras para correção.
É uma prática comum a introdução de “bonificações” nos valores dos orçamentos para o pagamento
dos serviços de produção gráfica, a famosa “BV”. Essa prática causa prejuízos ao desenvolvimento do
trabalho. Acarreta aumento do valor total acima da porcentagem de bonificação, impossibilitando a
avaliação dos preços reais dos serviços. Dificulta a comparação entre as cotações dos diversos forne-
cedores, pois cada um tem seu critério na atribuição da BV. Prejudica a imparcialidade no momento de
reivindicar que se refaçam trabalhos quando necessário. Provoca, enfim, a preponderância do aspecto
comercial das relações em detrimento do apuro técnico dos serviços prestados. Acima de tudo, dá a
falsa impressão de que o serviço de produção gráfica não existe ou é desnecessário.
O mais indicado é que o custo desse serviço, conste separadamente do orçamento, seja como percen-
tual do custo total da produção (taxa de 10 a 15%), seja como valor fixo pré-estipulado.

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3.3 Cronogramas de produção
A elaboração de um cronograma é fundamental para o gerenciamento do processo de produção. Ele é
um guia que permite acompanhar passo a passo o desenvolvimento do trabalho, sem perder de vista
o objetivo final. A realidade é sempre diferente do que se planejou... Essas diferenças, porém, não
chegam a comprometer o resultado se esse plano prévio estiver orientando as ações e decisões.
O cronograma deve partir da data-limite e dali retroceder até ao início do trabalho. Estimar com pre-
cisão a duração de cada etapa exige profundo conhecimento do processo e do fornecedor. É importan-
te lembrar que, no final da cadeia, o tempo aparece como uma realidade objetiva — quanto demora
o acerto de chapa, quantas folhas por hora a máquina imprime, quantas horas são necessárias para
a secagem da tinta — que é diferente para cada tipo de papel etc. E não há como alterar as leis da
física. O tempo que falta no final é aquele que foi inadvertidamente desperdiçado no início, quando
etapas mais subjetivas estavam em desenvolvimento.
Uma chave para a elaboração de um cronograma real é prever sempre o imprevisto, ou seja deixar
alguma margem para fatores imponderáveis, como uma enchente que paralisa a cidade, uma queda
de energia, pane nos equipamentos, um motoboy que erra o local de retirada do material etc.
As diferentes etapas do processo não se desenvolvem linearmente. Por isso, é necessário simular men-
talmente a realização de cada uma delas, verificando as superposições e identificando a linha crítica,
ou seja, a seqüência de operações que levará mais tempo para ser concluída. Ela será o fio condutor
do cronograma e qualquer atraso nas operações dessa linha incidirá diretamente sobre o prazo final
do trabalho.
Na produção de um livro de arte, por exemplo, dispende-se um tempo considerável na etapa de digi-
talização e tratamento de imagens, pois muitas provas são necessárias até que a reprodução seja
suficientemente fiel ao original. Assim que o primeiro layout do livro esteja aprovado, já se pode iniciar
esse serviço, desenvolvendo-o paralelamente às provas de revisão de texto, de forma que, quando o
arquivo final esteja liberado, as imagens também já estejam corrigidas, prontas para aplicação.
Outro aspecto prático importante no cronograma é a identificação dos feriados e finais de semana
entre o início e o final da produção. Os fornecedores geralmente trabalham 24 horas, mas nas vésperas
de feriado e finais de semana ocorre um acúmulo de serviços que, naturalmente, aumenta a incidência
de erros e diminui a produtividade.
Os cronogramas podem ser elaborados manualmente, em planilhas do tipo Excell, por exemplo ou a
partir de softwares de gerenciamento específicos, por exemplo o Fast Track Schedule, o Microsoft
Project, o Open Project.
Abaixo temos um exemplo de cronograma de produção elaborado em Excell:

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3 Controle

3.1 Bonecos gráficos e protótipos


Bonecos de produção em branco, já nos formatos finais e papéis especificados, são fundamentais
para orientar a arte-finalização das peças. Um boneco gráfico deve ser atentamente observado e ava-
liado antes de passar à etapa da arte-final. Nele pode-se checar se a gramatura dos papéis está ade-
quada, se o manuseio do produto corresponde ao idealizado, se a opção pelo tipo de encadernação foi
acertada, se as dobras e encaixes projetados funcionam, se a peça está bem estruturada etc. Nesse
boneco serão tomadas todas as medidas, a partir das quais se definirão os formatos dos documentos
nos softwares gráficos para arte-finalização.
Embora existam fórmulas para o cálculo aproximado de algumas dessas dimensões — por exemplo a
espessura da lombada de um livro em função do número de páginas e da gramatura do papel do miolo
(lombada em mm = nº págs x gm2 / 24.400), o boneco vai nos fornecer medidas muito mais exatas,
sobretudo porque cada fornecedor dispõe de determinado tipo de equipamento, o que refletirá nas
dimensões finais das peças.
Esses bonecos gráficos devem ser vistos e aprovados por todos os envolvdos, pois geralmente não se
consegue visualizar um produto sem sentir a sua tridimensionalidade. A aprovação previne surpresas
no final do processo, quando recebemos um produto totalmente diverso daquele imaginado, embora
este corresponda totalmente às especificações constantes no orçamento aprovado.
A diagramação feita com base nessas medidas finais também deve ser verificada. Bonecos gráficos 1:1
permitem corrigir problemas de adequação do desenho à tridimensionalidade da peça. Muitas vezes a
planificação na tela esconde problemas que só aparecem na peça montada. Nos produtos editoriais, a
encadernação pode trazer problemas invisíveis na diagramação em spreads ou facing pages (páginas
duplas abertas na tela); um volume com miolo grampeado, encadernado com lombada quadrada, por
exemplo, não pode ser aberto completamente, por isso as imagens espelhadas devem ser evitadas.
Mesmo para miolos costurados, nas páginas em que se juntam dois cadernos não se consegue uma
abertura total. É importante, por isso, confirmar se aquela maravilhosa fotografia, sangrada em página
dupla, não caiu exatamente numa dessas junções!
É comum que alguns recursos de acabamento alterem muito o resultado obtido na impressão. A aplicação
de laminação fosca, por exemplo, implica considerável perda de contraste das imagens, por isso, é
importante que na prova de prelo seja aplicada essa laminação para a correta visualização do produto.

3.2 Fichas de avaliação


O controle é muito facilitado com a utilização de checklists ou fichas de avaliação para as etapas do
processo, uma a uma. Como cada trabalho tem determinados pontos específicos para serem checados,
embora existam alguns em comum, seria impossível elaborar um checklist que se adaptasse a todos os
produtos. A cada produção, portanto, o ideal é elaborar uma lista, o mais completa possível, de todos
os detalhes envolvidos em cada peça, sempre tendo como referência sua especificação. Quem está
diretamente envolvido na produção é o mais indicado para elaborar o checklist, mas não para utilizá-lo.
Um terceiro fará o trabalho de verificação com mais objetividade, desde que o cheklist seja também
suficientemente objetivo.
Seguem alguns exemplos dos detalhes que devem ser avaliados em cada etapa de controle do proces-
so: boneco de produção, arte-final, prova contratual, folha de máquina.

Ficha de avaliação | Boneco de produção


ƒƒ Formato: miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo etc.
ƒƒ Estrutura: Quantidade de páginas, montagem dos cadernos, Posicionamento de encartes, costuras e colagens.
ƒƒ Material: Papel de miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo; tipo, cor, gramatura, sentido da fibra.
ƒƒ Detalhes de acabamento: Empastamento, lombada quadrada ou redonda, cabeceado, marcador de fita
ƒƒ Manuseio: facilidade de manuseio, resistência ao manuseio, abertura e fechamento
ƒƒ Outros detalhes

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Ficha de avaliação | Arte-final
ƒƒ Formato: miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo etc.
ƒƒ Número de páginas
ƒƒ Numeração das páginas, cabeços, rodapés, padrões gráficos etc.
ƒƒ Cores: CMYK, cores especiais
ƒƒ Overprints e trappings
ƒƒ Imagens: links, cortes, modo (CMYK / RGB), resolução, sangria
ƒƒ Padronização de estilos de texto e elementos gráficos: fios, vinhetas, cores
ƒƒ Grides de posicionamento de textos e imagens
ƒƒ Outros detalhes

Ficha de avaliação | Provas de pré-impressão


ƒƒ Formato: miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo etc.
ƒƒ Seqüência das páginas
ƒƒ Cores: CMYK, cores especiais
ƒƒ Texto: Fontes e quebras de linha
ƒƒ Imagens: links, cortes, modo (CMYK / RGB), resolução, sangria, correção de cor, tratamentos especiais
ƒƒ Padronização de estilos de texto e elementos gráficos: fios, vinhetas, cores
ƒƒ Logotipos e logomarcas: posicionamento, resolução, cores
ƒƒ Grides de posicionamento de textos e imagens.
ƒƒ Registro, Overprint, trapping
ƒƒ Defeitos: manchas, riscos, marcas
ƒƒ Outros detalhes.

Ficha de avaliação | Folha de máquina


ƒƒ Papel: tipo, cor, gramatura, sentido da fibra
ƒƒ Cores: CMYK, cores especiais
ƒƒ Acerto de cor
ƒƒ Registro
ƒƒ Carga de tinta
ƒƒ Defeitos: manchas, riscos, marcas, etc
ƒƒ Espelhos
ƒƒ Dobra do caderno
ƒƒ Outros detalhes

Ficha de avaliação | Produto acabado


ƒƒ Formato: miolo, capa, sobrecapa, guardas, luva, estojo etc.
ƒƒ Sequência das páginas, posição de encartes
ƒƒ Estrutura: Dobra de encartes, esquadros
ƒƒ Regularidade da costura, colagem, Abertura e fechamento
ƒƒ Qualidade do empastamento
ƒƒ Resistência da lombada, centralização de texto na lombada
ƒƒ Detalhes de acabamento: Cabeceado, marcador de fita
ƒƒ Qualidade da impressão, defeitos: manchas, marcas, riscos
ƒƒ Outros detalhes

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3.3 Ficha de produção
A ficha de produção deve acompanhar a solicitação de serviços quando os originais são encaminhados
ao fornecedor e conter o maior número de detalhes sobre a peça: especificações finais, cores especiais
(amostras ou códigos), número do orçamento correspondente, dados completos para faturamento e
entrega do material, nome e telefones para contato etc.
É imprescindível enviar, acompanhando a ficha, o boneco ou o protótipo do material a ser produzido.
Esse boneco deve ser completo, principalmente tratando-se de peças que requerem manuseio, como
por exemplo folderes encartados, aplicação de EVA para encarte de CDs, bolsas etc.

3.4 Histórico de produção


Manter um registro de todas as ocorrências, desde a aprovação do orçamento, também é muito impor-
tante, pois a dinâmica da produção é muito intensa, às vezes caótica, em virtude do grande número
de alterações sofridas pelo produto ao longo do processo.
Nessa fase, muitas informações são verbais — correções de arquivos, mudança de prioridades, aumen-
to ou diminuição de tiragens, detalhes incluídos de última hora, alteração de local de entrega etc. Tudo
isso implica em alterações tanto no cronograma quanto nos orçamentos aprovados. O histórico, então,
permite justificar objetivamente essas alterações, diminuindo a possibilidade de conflitos, além de
auxiliar na confrontação do planejamento com a realidade, o que acabará por aperfeiçoar a própria
capacidade de planejar.
Essas fichas serão guardadas como registro da produção, facilitando a repetição futura do mesmo
trabalho.

3.5 Devolução de material e protocolos


Um serviço não está terminado enquanto não for entregue e cobrado. O controle cuidadoso dos prazos,
locais de entrega e emissão de notas fiscais é fundamental. Dificuldades nesses aspectos sempre
geram problemas e acabam por ofuscar a qualidade do produto.
É preciso um controle de todo o material que transita de um ponto a outro à medida que as etapas do
processo vão se sucedendo. Deve-se manter todo o material — cromos, originais, arquivos, imagens
digitalizadas, orçamentos, bonecos, bonecos gráficos e protótipos, instruções escritas etc. — reunido e
organizado até a conclusão dos serviços. A qualquer momento poderá ser necessário reescanear uma
imagem, checar uma medida ou confirmar uma especificação. Depois dos serviços concluídos, o ideal
é que os fotolitos e/ou arquivos finais digitais sejam devolvidos ao cliente junto com os originais, sem-
pre protocolados, facilitando sua localização quando for necessário repetir a produção.

4 Bibliografia
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