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Resumo
Este trabalho busca analisar o tratamento dos fatos que envolveram a prisão do ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo jornal Extra, do Rio de Janeiro, tendo como
recorte metodológico as capas do jornal impresso dos dias 5, 6, 7 e 8 de abril de 2018.
Como referencial teórico, nos apoiamos nos estudos de Gomes (2004) sobre o panorama
das relações política x comunicação de massa. Consideramos essa estratégia como uma
espécie de afago ao leitor das classes B e C, para as quais o jornal é dirigido. Para análise
do material, utilizamos os conceitos de silenciamento de discursos, proposto por Pêcheux
(2014) e Orlandi (2003), na medida em que consideramos que a abordagem torna explícito
o posicionamento do jornal, silenciando, portanto, discursos contrários, sobre os quais
buscamos referências na mídia não hegemônica e hegemônica.
Introdução
“A poesia não pertence a quem escreve, mas àqueles que precisam dela”, diz um atônito
carteiro diante de um poeta com o qual fez amizade no filme The Postman – Il Postino
(Miramax Films, 1994), O Carteiro e o Poeta, título no Brasil, depois de roubar um de seus
poemas para conquistar a amada e ver-se em apuros pela reação da mãe da moça. A frase,
que no filme retrata como o indivíduo se utiliza da arte, nos parece possível ser transportada
para o uso que as pessoas fazem da mídia e, ainda, como a mídia se utiliza dessa premissa
para montar suas estratégias de relacionamento com o ouvinte/espectador/internauta/leitor.
Sob esse prisma, importa, aqui, afirmam os estudiosos da hipótese de Usos e Gratificações,
o que a pessoas fazem da mídia e não apenas as funções da mídia no tecido social, porque o
consumo é impulsionado pelas necessidades individuais. Katz, Gutevitch e Hass (1973)
1
Trabalho apresentado no GT História do Jornalismo integrante do 5º Encontro Nordeste de História da Mídia.
2
Jornalista, graduado pela UFRN, especialista em Gestão da Comunicação Institucional pela Universidade
Castelo Branco/ Instituto de Educação do Exército, mestrando em Estudos da Mídia pela UFRN, email:
rmoraes132@gmail.com
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apud Wolf (1999, p. 30), enumeram as necessidades que os meios de comunicação de
massa satisfazem, tomando como referência suas funções:
a) necessidades cognitivas (aquisição e reforço de conhecimentos e de
compreensão); b) necessidades afectivas e estéticas (reforço da experiência estética,
emotiva); c) necessidades de integração a nível da personalidade (segurança,
estabilidade emotiva, incremento da credibilidade e da posição social); d)
necessidades de integração a nível social (reforço dos contactos interpessoais, com a
família, os amigos, etc.); e) necessidades de evasão (abrandamento das tensões e dos
conflitos). (WOLF, 1999, p. 30).
Quais seriam, então, os verdadeiros donos da notícia? Dines (1986, p. 55) avalia que
um jornal pertence aos leitores e não as seus proprietários. Para a sociedade moderna, o
jornalismo é um serviço, enquanto a informação é uma necessidade: “o homem se informa
para sobreviver” (DINES, 1986, p. 68). Ao fazer circular a informação, as mídias se
inserem na agenda social por meio de discursos embarcados em mensagens textuais e
visuais. É com base nessas premissas que propomos uma análise da abordagem do jornal
Extra, do Rio de Janeiro, no tratamento de um fato-notícia: a prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Nosso recorte serão as primeiras páginas da versão impressa do
periódico, publicadas nos dias 5, 6, 7 e 8 de abril de 2018, que abordam desde a cobertura
da negativa de habeas corpus a Lula por parte do STF até a prisão, em São Paulo.
Consideramos o recorte uma síntese representativa da narrativa do jornal sobre o desfecho
de uma história que começa pela não concessão de habeas corpus a Lula pelo Supremo
Tribunal Federal até a prisão do político.
Tendo em vista que o discurso do jornal reflete uma opção político-ideológica, nos
apoiamos na análise de Gomes (2004) sobre a relação política x comunicação de massa.
Como ferramenta metodológica, optamos pela escola francesa de Análise de Discurso, que
atrela o discurso à ideologia, que encontramos em Pêcheux (2014) e Orlandi (2003), para
quem um discurso sempre silencia outros discursos.
O Extra, integrante do Grupo Globo, é um jornal com sede na cidade do Rio de Janeiro,
editado nas versões impresso (desde 1988) e digital (a partir de 2007), direcionado às
classes B e C. A primeira edição foi impressa no dia 5 de abril de 1988. O preço de banca
era R$ 0,25, de segunda a sábado; e R$ 0,50 aos domingos. De acordo com o Grupo Globo,
seus leitores estão distribuídos pelas classes C (57%), B (24%), D e E (16%) e A (3%),
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Atualmente, custa R$ 1,50 de segunda a sábado e R$ 3,00 aos domingos. Desde o início, ao
contrário dos jornais populares que buscaram no erotismo, no humor e no sensacionalismo
o atrativo ao leitor, o Extra apostou no jornalismo de prestação de serviços, prioritariamente
com notícias de economia, incluindo a participação do leitor em cupons de desconto e
sorteio impressos em suas páginas. O Extra ainda mantém a linha editorial voltada para a
economia e os assuntos do cotidiano da cidade e do país (que inclui a questão da violência
urbana e serviços públicos). De acordo com Kneipp e Moraes (2018, p. 4), “na trajetória de
19 anos3 do jornal, consideradas as manchetes principais de capa, em 13 anos houve
predominância dos assuntos de Economia, em seis dos de Polícia e em um ano dos temas
relacionados à editoria de Cidades”, conforme gráfico 1:
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O jornal completou 20 anos no dia 5 de abril de 2018.
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Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/extra
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Segundo dados do IVC, em novembro de 2006, o Extra chegou à tiragem mensal de 10.199.590 milhões de exemplares
vendidos ao mês, alcançando o primeiro lugar no Brasil em circulação, à frente da Folha de São Paulo (9.324.981) e de O
Globo (8.500.554). (PREVEDELO, 2008, p. 23)
3
A política no cotidiano
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nacional, seja adotando estratégias discursivas para atrelar a política local aos problemas
urbanos, particularmente a violência6, conforme, respectivamente, figuras 1 e 2.
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A partir de 16 de agosto de 2016, o Extra cria a editoria Guerra do Rio. De acordo com o veículo, um espaço para
veiculação de “notícias que não cabem mais nas páginas que tratam de crimes do dia a dia” (KNEIPP e MORAES, 2018,
p. 3)
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pauta, apuração e edição para controlar a esfera política, favorecendo os grupos e
indivíduos que quer, perseguindo os que desejam. [...] O terceiro tipo consiste no
fato de um grupo político ou sujeito de interesses do campo político controlar os
direitos de emissão de rádio e/ou televisão ou possuir jornais para, através desses
meios, obter vantagens na arena política. (GOMES, 2004, p. 177).
Mediação e midiatização
Para compreender o papel do leitor nesse universo midiático, recorremos aos conceitos de
mediação e midiatização de dois autores. Das práticas governamentais que influenciam o
cotidiano do cidadão às disputas pelo voto direto, a política se inseriu de forma definitiva
nos meios de comunicação de massa, segundo Gomes (2004). Isso leva a posicionamentos,
tanto de um lado quanto de outro. No caso dos meios, um posicionamento articulado por
formadores de opinião, na medida em que
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quase toda instituição social e cultural, como a família, o trabalho, a política e a
religião. (HJARVARD, 2014, p. 23, grifos do autor).
As mídias falam. E um jornal fala através de texto e imagem que, como signos adquirem
significados em contextos específicos. Onde há texto e representações simbólicas há
discurso. A noção de discurso, explica Orlandi (2003, p. 21), se distancia do esquema linear
de comunicação em que há um emissor, receptor, um código, o referente e mensagem.
Segundo autora, não há essa separação, mas um processo de significação contínuo. “O
discurso é o efeito de sentido entre locutores”. Para a escola francesa de Análise de
Discurso, o pesquisador não deve buscar tão somente o que um determinado texto quer
dizer, mas como ele significa num determinado contexto sociocultural e histórico, conforme
Orlandi (2003). Diante de um texto, prossegue a autora, o analista o remete a um discurso.
Nesse sentido, discurso e ideologia estão intimamente ligados, pois não há discurso sem
sujeito e não há sujeito sem ideologia, adverte Pêcheux (2014).
“Não há uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que o
constituem e que o analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender”, afirma
Orlandi (2003, p. 26). Esses gestos de interpretação dizem respeito às marcas do sujeito no
discurso, deixadas sob determinadas condições de produção e fruto das formações
discursivas dos sujeitos. Uma dessas marcas é silenciamento, divido em dois. “Uma palavra
apaga outras palavras (para dizer é preciso não dizer: se digo „sem medo‟ não digo „com
coragem‟) e o silêncio total, que é a censura, aquilo que é proibido dizer numa certa
conjuntura” ... (ORLANDI, 2003, p. 83, grifos da autora). Dadas as condições de poder na
sociedade moderna que sempre produzem a censura, conclui, haverá sempre o que não foi
dito e o que não pode ser dito. Mas há limites metodológicos, adverte: trata-se apenas do
“não dito relevante pra aquela situação significativa” (ORLANDI, 2003, p. 83). De posse
desses conceitos básicos em Análise de Discurso, passamos à análise das primeiras páginas
do Extra dos dias 5, 6, 7 e 8 de abril de 2018.
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O foco no STF. Na manhã do dia 5 de abril de 2018, a negativa do habeas corpus
impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto ao Supremo
Tribunal Federal, na noite anterior, compunha a manchete de capa do Extra (figura 3).
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180405
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180405
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Na afirmativa “Lula quase lá”, pode-se considerar um silenciamento aos discursos
antagônicos do Lula inocente, perseguido pela Justiça. Lula quase lá silencia o discurso do
Lula Livre9, presente na mídia não hegemônica. Prosseguindo na mesma linha, a afirmação
de que “Mesmo assim, defesa de petista ainda acredita em candidatura à presidência”
silencia o discurso dos que querem ver Lula presidente. Silencia, ainda, o discurso de que a
possibilidade de Lula candidatar-se, mesmo após a condenação, não é questão ainda
decretada pela Justiça.
Seguindo adiante, no dia 6 de abril de 2018, após a decretação da prisão do ex-
presidente, o Extra estampa em primeira página (figura 4) a determinação do Judiciário, o
terceiro convidado do jogo político citado por Gomes (2004, p. 153).
A manchete aponta: “Álbum de figurões. Juiz Sergio Moro manda prender Lula, que
tem até as 17 horas de hoje para se apresentar. Coleção da Lava-Jato ganha cromo especial
e está perto de ficar completa10”. O Extra estampa como outras figurinhas do álbum as
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No dia 2 de abril de 2018, o site DCM publica notícia de manifestação no Cristo Redentor com objetivo de despertar a
atenção internacional para a causa. “Lula inocente e livre: o recado aos turistas do Cristo Redentor”. (DCM, 2018).
Disponível em https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/lula-inocente-e-livre-o-recado-aos-turistas-do-
cristo-redentor/
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180406
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imagens do ex-governador Sergio Cabral; do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha; do
ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró e do ex-ministro do governo Lula, Antonio Palocci,
conforme a figura 4. Mais uma vez, o jornal recorre a uma retórica do universo popular para
comparar a prisão de Lula a um jogo de figurinhas onde o leitor poderia completar o álbum
de figurões, como se refere. Assim, compartilha com o leitor a possibilidade, ainda que de
modo simbólico, participar do jogo político, da resolução do problema. Ao noticiar a prisão
do ex-presidente como uma espécie de símbolo do objetivo principal da Operação Lava-
Jato, o discurso aqui silenciado nos parece ser o de que há mais pessoas envolvidas na
operação ainda não presas, ou mesmo com prisão decretada, sequer julgadas ou indiciadas,
conforme encontramos em Pires (2017).
No dia seguinte, 7 de abril de 2018, a pauta foi a negociação de Lula e Polícia
Federal no cumprimento do mandado de prisão do ex-presidente. Novamente o jornal
recorre a um dito popular para informar ao leitor que “Lula dá PT saudações e adia prisão.
Ex-presidente ignora prazo por Moro, se entrincheira no Sindicato dos Metalúrgicos
cercado por militantes e negocia novo prazo para se entregar”11. Texto de apoio da
manchete principal informa que “acompanhado de sindicalistas se políticos, Lula passou o
dia de ontem no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Hoje,
ele pretende acompanhar uma missa a Dona Marisa Letícia, que completaria 68 anos12”.
Há outra submanchete na página: “Federal não pretende usar de força 13”. Sob esse
texto, outro assunto relacionado à prisão de Lula: “Manifestantes atacam prédio de Carmen
Lúcia14”. A foto principal da manchete é uma imagem de Lula na janela do sindicato
acenando para os manifestantes. Sob a foto principal, duas outras, uma dos manifestantes
no pátio do sindicato e outra do prédio onde mora a ministra do STF, Carmen Lúcia,
manchado de tinta vermelha e com os dizeres Lula Livre na calçada, conforme a figura 5.
O jornal estampa um discurso de um Lula desobediente à lei, em cenário de guerra,
cercado por militantes, entrincheirado no local onde construiu sua carreira de sindicalista.
Ao mesmo tempo, mostra até onde esses manifestantes podem chegar ao dividir o espaço da
notícia do Lula pronto para guerra com o episódio da reação de manifestantes contra a
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180407
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presidente do STF em forma de pichação do prédio onde mora a magistrada, em Belo
Horizonte. O prédio coberto de vermelho, a cor do sangue, a cor da guerra, compõe o
cenário descrito pelo jornal como uma trincheira, conforme a figura 5.
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No dia 6 de abril de 2018, Mídia Ninja publica no twitter post em que utiliza o termo solidariedade sobre a presença de
simpatizantes de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos. “Mulheres na vigília. Mulheres na luta em solidariedade a Lula! A
vigília do MTST no sindicato dos metalúrgicos, em São Bernardo do Campo segue forte, com muita resistência!” (MIDIA
NINJA, 2018). Disponível em https://twitter.com/MidiaNINJA/status/982249132461969408.
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O desfecho. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o Sindicato dos Metalúrgicos
em direção à sede da Polícia Federal em São Paulo por volta das 18h30 do sábado, dia 7.
De lá seguiria para o aeroporto, de onde seguiria para Curitiba em avião da Policia Federal.
No domingo, dia 8, o Extra (figura 6) destaca em sua primeira página: Lula é preso.
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180408
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Disponível em http://extra-globo.pressreader.com/extra/20180408
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com mais uma recorrência ao imaginário popular quando o jornal cita uma das várias
expressões atribuídas ao ex-presidente: “nunca antes na história desse país”. Lula está preso
silencia todos os demais discursos em torno da questão, mas talvez o principal deles seja o
de que Lula já havia sido condenado com apoio da mídia hegemônica, conforme Mieli
(2017).
Considerações
O Extra, objeto deste estudo, não é apenas um veículo que se presta como fonte de
informação. Assim como outros meios de comunicação, um jornal faz circular os sentidos
no tecido social, um terreno onde ocorrem as disputas pelos significados, na medida em que
eles retratam uma realidade construída. Por isso consideramos a estratégia do Extra como
uma resposta ao seu público leitor e aos seus clientes, posto que a capa funciona como um
símbolo, um atrativo visual, o primeiro contato entre o veículo e o receptor.
As mídias de informação, analisa Charaudeau (2010, p. 20), funcionam na lógica
empresarial (econômica) e simbólica, em que participam de uma arquitetura da opinião
pública. Em ambas, pesam a ideologia de anunciantes (o que inclui o poder público) e do
público leitor. “As mídias não transmitem o que ocorre na realidade social, elas impõem o
que constroem do espaço público”. (CHARAUDEAU, 2010, p. 19).
A cobertura do Extra, considerando as manchetes de capa do jornal nos dias 5, 6, 7 e
8 de abril, recheada de artifícios afetivos e simbólicos para conquistar o leitor, mostra um
discurso favorável à prisão do ex-presidente. A posição ideológica do jornal reverbera uma
tendência que os grandes veículos de comunicação adotaram desde o início da apuração das
denúncias envolvendo Lula. O jornal silencia uma série de discursos, mas os discursos que
consideramos essenciais são os da mídia não hegemônica ou contra hegemônica. Silencia
também discursos isolados, mas nas relações de poder consideramos que é essa mídia
alternativa seu principal adversário na luta por mentes e corações. Assim, o jornal do Grupo
Globo se insere no ambiente político com uma mensagem característica da mídia
hegemônica brasileira, demonstrada em episódios anteriores, a exemplo do impeachment de
Dilma Rousseff e o início da chamada Operação Lava-Jato.
O Extra está estabelecido num ambiente de sensibilidades, que envolve mensagens
inseridas num contexto de informação e entretenimento. As ironias, as alusões ao
imaginário popular em relação a Lula ratificam essa disposição. Como nos lembra Sodré
13
(2006, p.11), “é verdade que a mídia e a propaganda têm mostrado como estratégias
racionais não espontâneas podem instrumentalizar o sensível, manipulando os afetos”.
Identificamos, ainda, o silêncio oriundo da censura proposto por Orlandi (2003). O
Extra silencia e censura o discurso antagônico ao Lula condenado e preso, pois Lula livre
não pode ser dito nessa conjuntura na qual o Extra está inserido. Nesse caso, aqui podemos
considerar outra censura, relatada por Charaudeau (2010, p. 18): a autocensura. “As mídias
manipulam tanto quanto manipulam a si mesmas”. Assim, baseado no histórico de
cobertura do fato e na ideologia do veículo quanto às questões políticas do problema, não
restava ao Extra outro tipo de abordagem que não fosse a retratada nesse estudo. Uma
eventual mudança de posição do Extra certamente acarretaria em consequências de ordem
econômico-financeira.
REFERÊNCIAS
DCM. O Essencial. Lula inocente e livre: o recado aos turistas do Cristo Redentor. Disponível
em https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/lula-inocente-e-livre-o-recado-aos-
turistas-do-cristo-redentor/. Acesso em 20.04.2018
DINES, Alberto. O papel do jornal: uma releitura. 4. Ed. São Paulo: Summus, 1986.
GRUPO GLOBO. Empresas do Grupo Globo. Jornal Extra completa 20 anos. Disponível em
http://www.grupoglobo.globo.com/noticias/extra_completa_20_anos.php. Acesso em 14 de abril de
2018.
KNEIPP, Valquíria Aparecida Passos e MORAES, Renato Ferreira de. (em preparação) Guerra do
Rio, guerra do Extra ... guerra de quem?
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LIMA, Venício A. de. Mídia - Teoria e Política. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2001.
MIELI, Renata. A mídia monopolizada também condenou Lula. Mídia Ninja, jul. 2017. Disponível
em http://midianinja.org/renatamielli/a-midia-monopolizada-tambem-condenou-lula/. Acesso em
20.04.2018.
PIRES, Breno. Blogs. Fausto Macedo. EXCLUSIVO: A lista de Fachin. Estadão, abr. 2017.
Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/exclusivo-a-lista-de-fachin/.
Acesso em: 17 abr 2018
SODRÉ, Muniz. As Estratégias Sensíveis. Afeto, mídia e política. Petrópolis: Vozes, 2006.
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