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UM CAMINHO MAIS EXCELENTE

Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um


caminho mais excelente. (I Coríntios 12:31)

O apóstolo Paulo era um homem dominado pelo propósito, não só de


pregar o evangelho ao máximo de pessoas que pudesse, mas de
levantar uma igreja digna do seu Senhor. Não o seduzia apenas ver
uma multidão professando a fé em Jesus. Ardia em seu coração o zelo
por levar aquele povo a uma vida de excelência para Deus.

Isso o fazia sofrer. No capítulo 11 de II Coríntios, após listar tantos


desafios que tivera que enfrentar no ministério (perigos, naufrágios,
fome, nudez, açoites, prisões, etc...), ele diz: “Além das coisas
exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (vs. 28).
No começo do mesmo capítulo, Paulo revela a origem de sua aflição:
“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho
preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a
saber, a Cristo” (vs. 2).

Eu vivo essas angústias todos os dias da minha vida. Quem está no


ministério por vocação e não por conveniência, quem compreendeu a
extrema responsabilidade que representa pastorear o rebanho de
Deus ou, nas palavras do apóstolo, preparar a noiva para entregá-la ao
seu Amado, Cristo, nunca tem descanso completo em sua alma.

A igreja de Corinto havia sido gerada sob o ministério de Paulo.


Embora a obra apostólica não o permitisse parar por longo tempo num
lugar, mesmo de longe ele tentava formar a mentalidade de seus filhos
na fé, influenciá-los para que vivessem conforme o coração de Deus.
Uma dura tarefa! A carnalidade tão comum onde existe gente parecia
estar sempre levantando trincheiras contra esse propósito.

Quando fazemos uma leitura panorâmica da primeira carta de Paulo


aos coríntios, podemos acompanhá-lo nessa extenuante busca por
levar a igreja a uma vida conforme o coração de Deus.

Nos primeiros três capítulos, assim como no sexto, o apóstolo tem que
atacar o tema da divisão na igreja. Inimizades, contendas, disputas,
preferências ministeriais e coisas do tipo estavam rachando aquela
comunidade tão amada e era preciso ministrar ao coração do povo
para que todos deixassem a soberba do individualismo e se voltassem
para o objetivo comum de honrar a Cristo.

No capítulo 4, Paulo se ocupa de afirmar sua autoridade espiritual,


como pai daquele rebanho, já que havia entre eles quem confundisse a
liberdade cristã com o direito de fazer da igreja uma anarquia, um
corpo sem comando.
No capítulo 5, a mira é apontada para o problema do pecado. Havia
gente vivendo uma imoralidade absurda no meio do rebanho e
ninguém tomava providência. Cheio de zelo, o apóstolo, ordena que
“os que se dizem irmãos”, mas vivem uma vida de incontinência sejam
expulsos da igreja e evitados por aqueles que querem andar em
seriedade com Deus. Neste ponto, a exortação torna-se muito dura,
fechando qualquer porta para a cumplicidade na casa do Senhor.

As questões familiares são o foco do capítulo 7, em especial o litígio


conjugal, que até os dias dia hoje enfraquece o testemunho cristão.
Paulo afirma a santidade do casamento, seu caráter inquebrável, mas
tenta orientar situações mais complexas. Ele também enfatiza a
maravilhosa oportunidade que os solteiros têm de servir a Deus com
toda a intensidade do coração.
Após ministrar sobre diferenças de usos e costumes no capítulo 8, e de
como devemos respeitar e amar os que divergem de nós em coisas
secundárias, do 9 ao 12 Paulo se dedica a orientar a igreja no exercício
dos dons espirituais e em suas experiências com o Espírito Santo. Se
havia uma virtude naquela comunidade, era a sua intensidade
carismática e o seu mover no sobrenatural. O problema a falta de
ordem e, muitas vezes, de propósito em suas práticas, pois o
misticismo acabava sendo dirigido pelo emocionalismo e não por
princípios. Todos profetizavam ao mesmo tempo ou falavam em
línguas freneticamente nos cultos, mesmo que não houvesse
interpretação. O resultado era improdutividade e escândalo, pois os
que chegavam de fora se chocavam pela falta de “ordem e decência”.

Lendo todas as palavras de Paulo e imaginando sua luta em mudar


tantas situações inconvenientes na Casa de Deus, dá até canseira, não
o mesmo? O ministério pastoral não é fácil... Mas, o último versículo do
capítulo 12, parece um raio de sol na mente desse líder zeloso. Numa
guinada radical, parece que uma revelação ilumina o entendimento de
Paulo e ele anuncia: “Agora passo a mostrar-vos um caminho ainda
mais excelente...” E, então, começa a falar sobre o amor, no clássico e
poético capítulo 13.

A grande verdade é que podemos nos esforçar para deter a nossa


carnalidade, podemos estar instruídos no que é certo e podemos até
viver experiências sobrenaturais com o Espírito Santo, mas os
resultados nunca serão consistentes, a não ser que estejamos
dominados pelo amor, primeiramente a Deus, e também ao nosso
irmão.

Só há uma explicação para nossas divisões e mágoas, para nossa


rebeldia diante das autoridades de Deus, para nossos litígios familiares
e eclesiásticos, para nossa imoralidade, pecado e cumplicidade, para
nossas experiências egoístas e sem respeito aos outros: não amamos
ainda o suficiente para viver segundo o coração de Deus.

Não é que não tenhamos o amor dentro de nós. Se nascemos de novo,


se somos de Cristo, “o amor de Deus já está derramado em nossos
corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5:5). A questão é que
não nos submetemos a ele, não decidimos ainda viver sob a
perspectiva e o argumento do amor.

Há um caminho sobremodo excelente para trilharmos. Precisamos nos


esforçar para andar nele. Precisamos decidir que esta será a nossa
rota. Precisamos buscar esse batismo no ágape de Deus. Se isso
acontecer, andar como Ele quer será uma simples consequência... E a
vida dos pastores e líderes zelosos, como Paulo, será bem menos
árdua.

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