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Toda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda a escolha, visam
a um bem qualquer; é por isso que o bem é aquilo a que as coisas tendem. Mas
entre os fins observa-se uma certa diversidade: alguns são atividades, outros
são produtos distintos das atividades das quais resultam; e onde há fins
distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais excelentes do que as
últimas.
Se existe para as coisas que fazemos, algum fim que desejamos por si
mesmo e tudo o mais é desejado por causa dele, evidentemente tal fim deve
ser o bem, ou melhor, o sumo bem. Esse bem é objeto da ciência mais
prestigiosa e que prevalece sobre tudo. Esta é a ciência política, pois é ela que
determina quais as ciências que devem ser estudadas em uma cidade-estado.
A finalidade dessa ciência deve abranger a finalidade das outras, de maneira
que essa finalidade deverá ser o bem humano.
Quem quiser ouvir com proveito as exposições sobre o que é nobre e justo,
é preciso ter sido educado nos bons hábitos. O fato é o princípio, ou ponto de
partida, ele deve ser claro para o ouvinte, sem ter necessidade de explicar
porque é assim.
Pode-se dizer com efeito, que existem três tipos principais de vida: a vida
agradável, a vida política e a vida contemplativa.
Os bens têm sido divididos em três classes; alguns foram descritos como
exteriores, e outros como relativos à alma ou ao corpo. Consideramos os bens
que se relacionam com a alma como bens no mais próprio e verdadeiro sentido
do termo, e como tais classificaram as ações e atividades psíquicas. O homem
feliz vive bem e age bem, visto que definimos a felicidade como uma espécie de
boa vida e boa ação.
Os prazeres estão em conflito uns com os outros porque não são aprazíveis
por natureza. O homem não se compraz com as ações nobres não é sequer
bom; e ninguém chamaria de justo o homem que não sente prazer em agir
justamente, nem liberal o que não sente prazer nas ações liberais e do mesmo
modo com todas as outras virtudes.
Das coisas, a mais nobre e mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais
doce é ter o que amamos. A melhor atividade é a felicidade. A felicidade
necessita igualmente dos bens exteriores. A definição de felicidade é: certa
atividade da alma conforme a virtude. A felicidade é inerente ao homem. Para a
felicidade é preciso não apenas virtude completa, mas também uma vida
completa. O que consiste a felicidade são as atividades virtuosas, e as
atividades viciosas nos conduzem a situação oposta. Pensamos que o homem
verdadeiramente bom e sábio suporta com dignidade todas as contingências da
vida e sempre tira o maior proveito das circunstâncias.
O prazer ou a dor que sobrevêem aos atos devem ser tomados como sinais
indicativos de nossas disposições morais. A excelência moral relaciona-se com
prazer e sofrimento; é por causa do prazer que praticamos más ações, e por
causa do sofrimento que deixamos de praticar ações nobres.
O desejo tem por objetivo o fim, algumas pessoas pensam que esse fim é o
bem. No sentido absoluto e verdadeiro o objeto de desejo é o bem, mas para
cada pessoa em particular é o bem aparente. Escolhemos o agradável como
um bem e evitamos o sofrimento como um mal. Os fins aquilo que desejamos, e
os meios aquilo sobre o que deliberamos e que escolhemos as ações relativas
aos meios devem concordar com a escolha e ser voluntárias.
É preciso ter nascido com uma visão moral. Dessa qualidade é a excelência
perfeita no que tange aos dotes naturais.
Uma vez que a vida é feita não só de atividade, mas também de repouso, e
este inclui o lazer e o entretenimento, parece haver aqui também uma espécie
de intercâmbio que se relaciona com o bom gosto.
Livro V:
No que diz respeito a justiça e a injustiça devemos indagar com que espécie
de ações se relacionam elas, que espécie de meio-termo é a justiça. Justiça é a
virtude completa, por isso, a justiça é muitas vezes considerada a maior das
virtudes. Justiça é a virtude completa no mais próprio e pleno sentido do termo,
porque é o exercício atual da virtude completa. Ela é completa porque a pessoa
que a possui pode exercer sua virtude não só em relação a si mesmo, como
também em relação ao próximo.
Então, não é possível ser bom, no sentido estrito da palavra, sem sabedoria
prática, nem é possível ter essa sabedoria sem ter a virtude moral.
Livro VII:
Nos versos de Homero que fala sobre o cinto bordado de Afrodite: E ali
estão os sussurros de amor, tão sutis que roubam a razão aos mais sábios
espíritos. O seu apetite por Afrodite venda a sua razão, e ele age pela emoção.
Como diz Eveno, o hábito é tão-somente uma longa prática que por fim faz-
se natureza.
As pessoas amam por três motivos. Para o amor dos objetos inanimados
não empregamos a palavra “amizade”, visto que não ocorre neste caso
reciprocidade de afeição. É em espécie também que diferem as
correspondentes formas de amor e amizade.
A amizade perfeita é aquela que existe entre os homens que são bons e
semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo
idêntico, e são bons em si mesmos. O amor e amizade, portanto, ocorrem
principalmente e em sua melhor forma entre homens desta espécie. Uma
amizade desta espécie exige tempo e intimidade. O mesmo vale para a
amizade que busca a utilidade, pois as pessoas boas também são úteis
reciprocamente.
Uma vez que a amizade divide-se em duas espécies, os maus serão amigos
visando à utilidade ou ao prazer, pois com relação a esse aspecto se
assemelharão um ao outro; entretanto, os bons serão amigos por eles mesmos,
isto é, por causa da sua bondade. Eles, portanto, são amigos no sentido
absoluto da palavra.
Não se pode ser amigo de muitas pessoas no sentido de ter com elas uma
amizade perfeita, da mesma maneira que não se podem amar muitas pessoas
ao mesmo tempo. Pois não passam juntos os seus dias, nem se comprazem na
companhia uma da outra; e estas são consideradas as características
marcantes da amizade e do amor. É preciso, para uma amizade perfeita, que as
duas partes adquiram experiência recíproca e se tornem intimas, e isso custa
muito esforço.
A amizade e a justiça parecem se relacionar com os mesmos objetos e
manifestar-se entre as mesmas pessoas.
Alguns pensam que por natureza nos tornamos bons, outros pelo hábito, e
outros pelo ensino, mas em decorrência de alguma causa divina.
Apenas em Esparta, ou quase exclusivamente nessa cidade, o legislador
parece ter-se detido nas questões de educação e de trabalho.
Todas essas qualidades fazem com que o filósofo seja o mais feliz dos
homens. O ser humano tem que se realizar virtuosamente naquilo que lhe é
natural, a sua razão. Viver bem é viver de acordo com o bom desenvolvimento
do espírito racional.