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Drenagem de escavações

Technical Report · September 1999


DOI: 10.13140/RG.2.1.3206.7045

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Jorge de Brito
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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

MMESTRADO AVANÇADO EM CONSTRUÇÃO E


REABILITAÇÃO

CADEIRA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

DRENAGEM DE ESCAVAÇÕES

Jorge de Brito

Setembro de 1999
ÍNDICE

1. Introdução 1
2. Classificação das técnicas de drenagem de escavações 3
3. Retenção de águas superficiais 7
4. Captação directa 8
5. Rebaixamento do nível freático 11
5.1. Poços de bombagem 11
5.2. Agulhas filtrantes 15
5.3. Sistemas de ejecção 17
5.4. Electro-osmose 18
5.5. Captação horizontal 19
6. Métodos de exclusão 21
6.1. Congelação do solo 23
6.2. Paredes de lamas bentoníticas 25
6.3. Estacas-pranchas 27
6.4. Paredes moldadas 28
6.5. Cortinas de estacas 28
6.6. Jet grouting 31
6.7. Injection grouting 33
6.8 Cortinas horizontais 33
7. Bibliografia 36
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Drenagem de escavações por Jorge de Brito
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Drenagem de escavações por Jorge de Brito

DRENAGEM DE ESCAVAÇÕES

1. INTRODUÇÃO

A drenagem de escavações pode ser definida como o conjunto de trabalhos efectuados para
drenar a água existente no terreno ou que se infiltra neste junto a escavações com carácter
provisório ou definitivo. No caso dos métodos de exclusão, referidos no capítulo 6, a noção
pode ser estendida às situações em que se impede o acesso da água no solo ao interior da
escavação, através da criação de barreiras físicas a esse mesmo acesso.

A necessidade de efectuar este tipo de trabalho pode estar associada a várias aspectos:

 permitir trabalhar a seco no fundo da escavação (economia, facilidade e comodidade do


trabalho, suporte e deslocação do equipamento, melhoria das características mecânicas do
terreno de fundação por redução da pressão intersticial deste - tensão neutra);
 estabilizar os taludes e reduzir os impulsos em eventuais contenções provisórias;
 viabilizar determinadas técnicas construtivas (paredes tipo “Munique”);
 ter em conta fenómenos potenciais de instabilização do solo no fundo da escavação, tais
como o piping (arraste dos finos), o heaving (levantamento do solo) ou a liquefacção;
 escoar a água da chuva, de outras origens superficiais ou de aquíferos subterrâneos;
 prever situações de acidente (estabilidade de taludes, rebentamento de condutas) e garantir
a segurança dos trabalhadores e equipamento;

e dependerá não só da quantidade de água na escavação, mas também das características do


próprio solo (permeabilidade e disposição das camadas) e da geometria da escavação.

Para que a drenagem atinja os seus objectivos, deve ser garantido o cumprimento de
determinadas exigências funcionais [1]:

 a posição do nível freático deve ser continuamente controlada para evitar flutuações que
ponham em causa a estabilidade dos terrenos, não devendo baixar mais do que o

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necessário para a segurança da obra;


 o método escolhido deve garantir que a escavação se mantém estável durante todo o
período de execução da obra, não afectando estruturas ou serviços localizados nas
imediações;
 nos casos em que se proceda a bombagem, dever-se-á garantir que não haja um
arrastamento dos finos do solo, através do uso de filtros adequados;
 o dimensionamento dos sistemas deve ter em conta eventuais falhas de corrente ou outros
imprevistos;
 a água retirada do terreno deve ser depositada em locais que não afectem nem a escavação
(colectores de esgoto, cursos de água, etc.) nem os recursos freáticos existentes.

Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado às drenagens e impermeabilizações que, tal como
toda a restante matéria, se restringe fundamentalmente aos edifícios correntes.

O documento aborda fundamentalmente a classificação e descrição das técnicas de drenagem


de escavações, independentemente da maior ou menor frequência da sua utilização na
indústria da construção, nomeadamente em Portugal.

A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, na Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita
da informação nele contida poderá também ser encontrada nos seguintes textos, que não serão
citados ao longo do texto:

 Jorge Rocha, João Rosado, Bernardo Salavessa e Pedro Pinto, “Drenagem de


Escavações”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto
Superior Técnico, 1998, Lisboa;
 Mário Martinho, Emanuel Plácido, Pedro Matias e Luís Ribeiro, “Sapatas Isoladas,
Contínuas e Agrupadas”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil,
Instituto Superior Técnico, 1999, Lisboa.

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE DRENAGEM DE ESCAVAÇÕES

Para classificar as técnicas de drenagem de escavações, vários critérios poderiam ser


seguidos: permanentes ou provisórios, de baixa ou de alta tecnologia, em termos de custos, de
instalação ou de operação. Optou-se por seguir a proposta preconizada em [1], que considera
quatro grupos principais:

 Retenção de águas superficiais - métodos que impedem o acesso da água superficial à


escavação;
 Captação directa - métodos em que se procede à bombagem da água que aflui à
escavação;
 Rebaixamento do nível superficial - pré-drenagem do solo, através do rebaixamento do
nível freático;
 Métodos de exclusão - métodos que impedem o acesso da água subterrânea à escavação
(nos quais, portanto e de uma forma mais rigorosa, não há verdadeiramente drenagem).

A divisão nestes grupos principais é apresentada esquematicamente na Fig. 1, da qual também


constam de forma individualizada as diversas técnicas que se integram em cada grupo. A
descrição de todas estas técnicas será o objecto dos capítulos seguintes deste documento. O
Quadro 1 permite, de uma forma muito sintética, comparar as várias técnicas entre si,
nomeadamente em termos de vantagens e desvantagens relativas.

Antes de encerrar este capítulo, convém referir duas questões. A primeira é a de que estes
métodos não são exclusivos, ou seja, é possível, e por vezes desejável, a conjugação de mais
do que um método para se obter a solução mais adequada e económica caso a caso.

A segunda noção é a prática já estabelecida nas obras de pequena dimensão e com pequeno
caudal afluente de não drenar as águas das escavações, partindo-se do princípio de que o nível
freático não afectará o decurso da obra (a própria natureza, ao secar o solo por evaporação,
drena-o e consolida-o). Se se verifica a posteriori o contrário, recorre-se geralmente à
captação directa da água que se encontra dentro da escavação e procede-se à

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impermeabilização do local. Assim, as técnicas descritas aplicam-se geralmente em obras de


média e grande dimensão.
Retenção de águas Valetas, muros e
superficiais taludes

Captação directa Bombagem

Poços de bombagem
Drenagem de
escavações
Agulhas filtrantes

Sistemas de ejecção
Rebaixamento do
nível freático
Electro-osmose

Captação horizontal

Galerias de drenagem

Congelação do solo

Temporários Paredes de lamas


bentoníticas

Cortinas de estacas-
pranchas metálicas
Métodos de exclusão

Paredes moldadas

Cortinas de estacas

Permanentes
Jet grouting

Injection grouting

Cortinas horizontais

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Fig. 1 - Sistema classificativo das técnicas de drenagem de escavações

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Quadro 1 [1] - Análise comparativa das diversas técnicas de drenagem de escavações


Método Solos possíveis Usos Vantagens Desvantagens
Retenção de águas superficiais
Valetas Todo o tipo de solos Escavações a céu a-  simples  obstrução à circu-
Muros berto  baratos lação de equipamen-
Taludes to
Captação directa
Bombagem Areias e seixo Escavações a céu a-  simples e barato  possibilidade de
berto e superficiais  exige menor capa- arrastamento dos
finos (piping)
cidade de bomba-
 instabilidade da
gem
escavação (heaving)
Rebaixamento do nível freático
Poço de bomba- Seixos a areia fina; Solos em que a fil-  custos de funcio-  custo de instala-
gem Particularmente para tragem correcta é im- namento aceitáveis ção elevado
solos muito permeá- portante;  fácil controlo do  ruído de bomba-
Bombagens prolon- arrastamento dos fi- gem
veis
gadas nos do solo  limite de sucção:
4a5m
Poço de bomba- Seixos a areia fina Escavações profun-  sem limite de re-  custo de instala-
gem com bomba das baixamento ção elevado
submersível  possibilita a apli-
cação de vácuo
 sem ruído
Agulhas filtran- Seixos a areias silto- Escavação a céu a-  instalação fácil e  difícil instalação
tes (well-points) sas berto; rápida em solos com ro-
Bombagens para cur-  custo de instala- chas
to espaço de tempo ção baixo  ruído
 limite de sucção:
4a5m
Sistemas de e- Todo o tipo de solos Escavações profun-  sem limite de re-  implica o conhe-
jecção das baixamento cimento das cama-
das do solo a dre-
 custo de instala- nar
ção baixo
Electro-osmose Siltes, argilas e certas Escavações a céu a-  único método  custo de instala-
turfas berto; possível em solos ção e manutenção
Consolidação de so- alto
mais impermeáveis
los argilosos  pequeno rendi-
mento
Drenagem hori- Seixos a areia fina; Escavações com de-  menor caudal pa-  pequena profun-
zontal Solo estratificado senvolvimento em ra o mesmo rebai- didade de escava-
planta; xamento
ção
NF elevado  rápida colocação
Galeria de Solos com água Remoção de grande  (ver usos)  bastante caro
drenagem sobre camada quantidade de água  túneis podem ter
impermeável passível de ser betonados no
de executar túnel fim
Métodos de exclusão
Métodos temporários
Congelação do Todo o tipo de solo Sem restrição  confere resistên-  necessário tempo
solo ou rocha preferenci- cia mecânica ao so- para a refrigeração
almente saturados lo  custos de instala-
 efectivo para den- ção e da planta de
tro da face de esca- refrigeração eleva-
dos
vação
 requer controlo
estrito

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Quadro 1 [1] - Análise comparativa das diversas técnicas de drenagem de escavações


(continuação)
Método Solos possíveis Usos Vantagens Desvantagens
Cortina de ben- Solos granulares co- Sem restrição  instalação rápida  precisa de suporte
tonite ou cimen- mo seixos, areias ou  solução tipo pare- adequado
to-bentonite gravilhas de moldada, mas  custo aumenta
mais barata com profundidade
 pode ser introdu- e resistência do so-
zida em camada lo
impermeável
Cortina de esta- Todo o tipo de solo Sem restrição  método bem estu-  ruído e vibrações
cas-pranchas (sem obstruções à in- dado durante a instalação
metálicas trodução das estacas)  instalação rápida  caro caso não ha-
ja aproveitamento
das estacas (remo-
ção ou incorpora-
ção na estrutura)
 possibilidade de a
protecção não ser
estanque
Métodos permanentes
Paredes molda- Todo o tipo de solo Caves, estaciona-  pode ser incorpo-  custo muito ele-
das mentos subterrâneos, rado na estrutura vado (se não for
docas secas  baixo ruído e vi- incorporada na es-
bração trutura)
 pode ser colocado  equipamento re-
muito perto de fun- lativamente pesado
dações já existentes
Cortinas de es- Todo o tipo de solo Caves, estaciona-  baixo ruído e vi-  dificuldade de ga-
tacas mentos subterrâneos, bração rantir estanqueida-
docas secas  pode ser colocado de em todo o de-
muito perto de fun- senvolvimento
dações já existentes
Jet grouting Todo o tipo de solos; Sem restrição  instalação rápida  cara
Rochas fracas  solução tipo pare-
de moldada, mas
mais barata
 pode ser introdu-
zida em camada
impermeável
Injection grou- Areias e gravilhas Preenchimento de  equipamento sim-  requer uma bar-
ting Rochas fissuradas fissuras e vazios, pa- ples, com possibili- reira relativamente
ra formar barreiras à dade de uso em es- espessa para asse-
água; paços confinados gurar a continuida-
Cimento-bentonite a-  fácil controle de de
dequada quando se dimensões e uso de
pretende flexibilida- material
de a longo prazo
(núcleos de barra-
gens)
Cortinas hori- Todo o tipo de solos Piso térreo de caves,  podem ser incorpo-  caras
zontais estacionamentos sub- radas na estrutura
terrâneos, docas se-  podem funcionar
cas como fundações
(ensoleiramento
geral)

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3. RETENÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS

Quando só existe a possibilidade de a água aceder à escavação a partir da superfície do


terreno, bastará recorrer a dispositivos que captem a água ainda no exterior e a encaminhem
para fora da zona de escavação. Entre vários dispositivos possíveis, todos eles limitados nas
suas capacidades, encontram-se as valetas, muros e taludes. Qualquer deles terá de ser
executado a toda a periferia da zona de escavação de forma a ser eficiente.

No caso das valetas (ou valas), preenchidas com tubagem e filtro de material granular,
proceder-se-á à condução da água por gravidade até aos pontos de recolha (poços - Fig. 2), de
onde será afastada para um local de descarga adequado (colector de esgoto, curso de água,
etc.), quer por gravidade quer através de bombagem.

Fig. 2 [3] - Poço protegido com filtro em escavação em talude de areia

Quanto aos muros e taludes, estes não necessitam de ter uma grande altura. Ter-se-á, no
entanto, de ter o cuidado de não deixar a água acumular na face destas estruturas, sendo
necessário o seu afastamento para um local de descarga.

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4. CAPTAÇÃO DIRECTA

Nestes métodos, provavelmente os mais utilizados no nosso país em obras correntes, a água
aflui por gravidade a poços de recolha (poços de chamada), sendo daí bombada para o
exterior da escavação.

No caso de solos permeáveis, a recolha da água que aflui à escavação é feita por trincheiras
colocadas a todo o perímetro interior da escavação. Estas trincheiras deverão ter uma
pendente elevada e ser preenchidas com uma camada de material filtrante com mais de 20 cm
de espessura, de modo a minimizar as hipóteses de entupimento e, consequentemente, a
necessidade de controlo do sistema. A água recolhida é depois conduzida até um ou mais
poços de chamada, de onde é bombeada para o exterior. Estes poços terão uma profundidade
de 0,5 a 1,0 m e um diâmetro de 0,6 a 1,2 m (Fig. 3) e serão colocados em locais da escavação
que não interfiram com os trabalhos no seu interior. No que concerne à implantação deste
sistema no terreno, esta inicia-se pelos pontos de maior profundidade, a que correspondem os
poços de chamada, sendo logo de seguida colocadas as bombas submersíveis. A partir desses
pontos procede-se, das cotas mais baixas para as mais altas, à construção das trincheiras.

Fig. 3 - Captação directa e pormenor do poço de chamada

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No caso de solos impermeáveis, em substituição das trincheiras, pode ser usado simplesmente
um sistema de caleiras feitas com metades de tubos. Estas estarão embebidas em seixo e terão
uma pequena pendente, suficiente para que o escoamento se possa fazer por gravidade, não
existindo um risco tão grande de entupimento como no caso anterior. Dever-se-á ter o cuidado
de executar este sistema de caleiras, sempre que possível, fora da área de implantação da
estrutura para que esta não fique, depois de pronta, em contacto com zonas mais fracas devido
à existência de água. Para obviar a este inconveniente, é aconselhável tapá-las, assim que
deixem de ser necessárias, com argamassa não retráctil.

Estes métodos, sem recurso a tecnologia de ponta, permitem, em relação aos sistemas de
captação vertical ou horizontal, minimizar o caudal a bombear (cerca de 1/5 a 1/3) necessário
para manter, numa determinada área de escavação, o nível de água a uma cota fixa. Ao deixar
a água afluir à escavação, este sistema potencia problemas de erosão interna (piping) e de
levantamento / rotura do solo (heaving), sobretudo quando há necessidade de recorrer a
cortinas de estanqueidade (Fig. 4). No entanto, a maior limitação deste método é o facto de a
sua utilização se confinar a casos em que o nível freático não está muito acima do fundo da
escavação, devido à baixa capacidade de rebaixamento destas bombas, e em que a área seja
relativamente pequena, em termos de economia e eficiência.

Fig. 4 - Percolação da água sob uma cortina de estanqueidade para um poço de chamada

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O máximo caudal a bombear de um poço de chamada, após se ter estabelecido o nível de


equilíbrio pretendido, é dado pela seguinte fórmula (na hipótese de a camada impermeável se
encontrar a mais de 1 m do fundo da escavação):

L1 L1
Q = 2.5 k s2 (1 + R ) 3600 (válido se s < 2 m e L < 3) (1)
2

em que (ver Fig. 7):


Q - caudal a bombear (m3/h);
k - coeficiente de permeabilidade (m/s);
s - altura da coluna de água medida entre o nível freático e o fundo da escavação (m);
R - raio de influência do rebaixamento (m);
L 1 - comprimento da escavação (m);
L 2 - largura da escavação (m).

Para um caso concreto em que L 1 = l0.00 m, L 2 = 6.00 m e s = 1.00 m, obter-se-iam os


seguintes raios de influência R (ver equação 3) e caudais por captação Q:

k = 5 x10-3 (areia grossa): R= 212.1 m; Q = 47.1 m3/h;


k = 5 x10-4 (areia média): R = 67.1 m; Q = 5.2 m3/h.

Em relação ao número de bombas a instalar, é preferível ter pelo menos duas prontas a
funcionar, não só para obviar qualquer avaria numa delas, mas também devido a uma questão
de economia. Isto porque a potência necessária no início da obra, para retirar a água que se
encontra dentro da escavação, é superior à potência para a posterior manutenção do nível
freático, podendo assim ser desactivadas algumas das bombas, que podem ser úteis noutras
obras.

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5. REBAIXAMENTO DO NÍVEL FREÁTICO

Nos métodos de rebaixamento do nível freático, a água retirada do solo, por gravidade ou por
diferença de pressão, é depois bombeada para um local que não afecte o decorrer da
escavação. Na maioria dos casos, esse local é directamente a superfície do terreno. A
excepção são as galerias de drenagem, estruturas provisórias bastante dispendiosas, usadas em
obras de grande porte como barragens, onde a água á acumulada antes de ser retirada do
terreno.

A maioria dos restantes métodos de rebaixamento é constituída por captações verticais: os


poços de bombagem, as agulhas filtrantes, os sistemas de ejecção e a electro-osmose. São
apropriados para situações nas quais a profundidade da escavação seja significativamente
maior que a do nível freático, dependendo a técnica a utilizar da permeabilidade do solo.

5.1. POÇOS DE BOMBAGEM

Os poços de bombagem são normalmente usados em solos permeáveis (seixos e areias


grossas a médias) quando as profundidades a atingir são elevadas e o nível freático se
encontra perto da superfície. Nesta solução, são executados poços na periferia da escavação e
até à profundidade pretendida, nos quais se insere posteriormente uma tubagem envolta num
filtro adequado, podendo ser selados ou não junto à superfície. A selagem, normalmente feita
com bentonite ou argila, é usada quando se pretende a obtenção de vácuo no furo para
aumentar o rebaixamento conseguido. A bombagem, efectuada em contínuo, pode ser feita,
quer colocando uma bomba na superfície do terreno que fará a bombagem por sucção, quer
através de uma bomba submersível colocada no fundo do furo.

No caso de se usar uma bomba de sucção, a profundidade de escavação está limitada pela
própria capacidade de sucção da bomba, sendo raro atingirem-se profundidades superiores a 5
m a 8 m. Caso se pretenda um rebaixamento maior, terá de se conceber um sistema por
andares, do género do apresentado a seguir para os well-points. São uma solução interessante
para obras que tenham um tempo de execução relativamente longo. No entanto, se tiverem de
ser colocados furos muito próximos uns dos outros, o método pode não ser economicamente

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viável. No caso de sistemas por andares, há ainda uma limitação quanto à inclinação dos
taludes, sendo necessário criar patamares para a localização de cada nível de bombas. O
equipamento necessário à execução dos furos é também um condicionante, por necessitar de
uma razoável capacidade resistente do solo onde vai assentar.

Alguns destes inconvenientes podem ser obviados caso se considere a colocação de uma
bomba submersível no poço de bombagem (Fig. 5). Neste caso, conseguem-se atingir maiores
profundidades, oscilando entre os 15 e os 30 m, ao não se estar condicionado pela capacidade
de sucção da bomba. Suprime-se também o ruído produzido pela bomba, desde que haja ener-
gia eléctrica disponível (caso contrário, a alimentação terá de ser assegurada por um gerador).

Fig. 5 [2] - Esquema de poço de bombagem em captação completa e incompleta

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Um factor bastante condicionante neste tipo de solução, é a permeabilidade do solo a drenar,


uma vez que a quantidade de água bombeada e a sua área de abrangência são muito afectadas
por este parâmetro. A título indicativo, as areias grossas, médias e finas têm coeficientes de
permeabilidade da ordem respectivamente de 5 x 10-3, 5 x 10-4 e 5 x 10-5 m/s. No caso de
solos menos permeáveis (siltes, por exemplo), a simples bombagem não é suficiente para se
obter uma drenagem eficaz. Pode neste caso recorrer-se a métodos do tipo apresentado desde
que se aplique vácuo no interior do furo, conjugado com a existência duma bomba
submersível. Os poços de grande diâmetro sob vácuo (Fig. 6), que se utilizam também em
solos de permeabilidade média, consistem na execução de:
- perfuração de um furo com 30 a 60 cm de diâmetro;
- colocação de um tubo com 15 a 20 cm no interior do furo;
- preenchimento do espaço intermédio com areia e areão de granulometria apropriada;
- vedação com bentonite do espaço entre o tubo e a furação para colmatação da zona
filtrante.

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Fig. 6 [2] - Esquema de uma captação de grande diâmetro sob vácuo


O caudal de cada poço de bombagem, Q (em m3/h), é dado pela fórmula de Dupuit / Thiem (o
valor é aumentado em 15 a 30 % para captações incompletas) para captações isoladas (Fig.
7):

H2 - h2
Q = k ln R - ln r 3600 (2)

em que:
H - altura da coluna de água acima da camada impermeável (camada completa) (m);
h - altura da co1una da água na captação depois de conseguido o rebaixamento (m);
s - altura do rebaixamento na captação (m);
R - raio de influência do rebaixamento (m);
r - raio da captação = ½ do diâmetro da secção perfurada (m);
k - coeficiente de permeabilidade do solo (m/s).

Por sua vez, o raio de influência do rebaixamento R (em m) é dado por:

R = 3000 s k (3)

Fig. 7 - Medição do caudal de poço de bombagem isolado

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Para um caso concreto em que H= l0.00 m, h = 6.00 m, s = 4.00 m e r = 0.50 m, obter-se-iam


os seguintes raios de influência R e caudais por captação Q:
areias grossas: R= 848.5 m; Q = 154.9 m3/h;
areias médias: R = 268.3 m; Q = 18.3 m3/h;
areias finas: R= 84.85 m; Q = 2.24 m3/h.

Nos casos em que existe um aquífero parcialmente cheio a uma cota inferior ao rebaixamento
pretendido, poderá não ser necessário recorrer à bombagem. Nesta situação, a construção de
poços de alívio (drenos verticais preenchidos com filtros granulares) pode ser suficiente para
fazer a transferência da água do solo para o aquífero, rebaixando assim o nível freático.

5.2. AGULHAS FILTRANTES

Nos casos de obras pequenas e/ou de curta duração, em que a solução dos poços de
bombagem se torna “pesada”, ou quando os solos são pouco permeáveis (areias finas, siltes e
argilas), em que o escoamento de água por gravidade é insuficiente, pode-se recorrer à
solução das agulhas filtrantes, também designada por well-points.

As agulhas filtrantes (Fig. 8) consistem em tubos de ferro ou PVC com diâmetro de 1.5 a 2
polegadas, com comprimentos de 3 a 7 metros, introduzidos no terreno com injecção de água
(Fig. 9) e, em seguida, ligados por mangueiras flexíveis a um tubo colector (header pipe),
sendo este, por seu turno, ligado a um conjunto de bombas de água e vácuo. A velocidade de
inserção é bastante elevada, uma vez que os jactos de água, ao saírem pela ponta da agulha,
afastam as partículas do solo, deixando o caminho livre para que o tubo desça.

Tal como para os poços de bombagem, poderá ser tida em consideração a criação de vácuo
para aumentar o caudal bombeado, especialmente no caso de solos mais finos. O vácuo pode
ainda ser usado em solos mais grossos (desde que não contenham grandes calhaus), para se
iniciar o rebaixamento e reduzir a sua duração, deixando de ser utilizado a partir do momento
em que se consegue uma estabilização do caudal bombeado (“ferragem” da canalização) e a
drenagem se passa a fazer apenas por gravidade. Refira-se ainda que o vácuo pode inclusive

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fornecer ao solo na vizinhança da instalação uma coesão artificial que possibilita que a
escavação se faça com uma maior inclinação do talude, por vezes sem entivação.

Fig. 8 - Esquema de um rebaixamento do nível freático numa vala através de agulha filtrante

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Fig. 9 - Colocação de uma agulha filtrante no 3º nível de uma escavação junto ao mar
Este sistema é limitado a uma altura de rebaixamento de 5 a 6 m, sendo possível aumentá-la
através da criação de vários níveis de colocação das agulhas (Foto da capa e Fig. 9). Esta
hipótese é normalmente usada na execução de escavações em que se vai fazendo um
rebaixamento progressivo, à medida que se atingem maiores profundidades. Tem no entanto o
inconveniente de exigir um espaço para taludes cada vez maior à medida que se progride na
escavação.

O número e afastamento de agulhas filtrantes a utilizar em cada caso depende dos mesmos
factores do método anterior e pode ser calculado através de expressões que indiquem o caudal
a bombear para o rebaixamento pretendido.

5.3. SISTEMAS DE EJECÇÃO

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Os ejectores podem ser compostos por um ou dois tubos, consoante o caudal de ejecção
circule no espaço anelar por fora do tubo de subida ou em tubo próprio (Fig. 10, à esquerda),
respectivamente. Em qualquer dos casos é necessário colocar um filtro de protecção a
envolver a tubagem, dentro do furo aberto.

O método em si tem o seguinte processo de funcionamento. Da superfície, é bombeada água


pelo tubo de ejecção para o fundo do furo. Aqui é conduzida através de um estreitamento
gradual da secção que lhe aumenta a velocidade, resultando, pelo Teorema de Bernoulli,
numa diminuição da pressão. Consequentemente, o vácuo criado suga a água do solo para a
câmara de sucção, juntando-a à água ejectada. De seguida, os dois caudais passam através de
um alargamento gradual da secção (câmara de Venturi), onde diminuem de velocidade e
aumentam a pressão. Esta pressão deverá ser suficiente para que o caudal resultante atinja a
superfície, sendo então encaminhado para um ponto de descarga.

Este sistema permite atingir profundidades na ordem dos 25 m, tornando desnecessária a


construção de vários níveis de bombagem e é aplicável em solos finos, uma vez que não se
limita a efectuar um escoamento por gravidade. É ainda de referir que é, no entanto, reduzida a
eficiência de um único ejector. Quando o ejector não se encontra dentro do aquífero, dá-se a
ocorrência de cavitação no sistema. Assim, quando não se consegue garantir o conhecimento
das camadas de solo a drenar durante toda a execução da obra, é usual a escolha de poços
profundos.

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Fig. 10 - À esquerda, sistemas de [2] ejecção de um tubo (à esquerda) ou dois tubos (à direita)
e, à direita, esquema da electro-osmose

5.4. ELECTRO-OSMOSE

Em solos muito pouco permeáveis (certas argilas), o escoamento pode ser obtido pela instala-
ção de uma diferença de potencial entre dois pólos. São colocados cátodos (pólo positivo) -
tubos de ferro ou cobre em captações verticais do tipo agulha filtrante - espaçados entre si de
8 a 11 m, com um ânodo (pólo negativo) no espaço intermédio, ambos a cerca de 1,5 m do
nível do fundo da escavação (Fig. 10, à direita). Cria-se assim uma diferença de potencial que
provoca o deslocamento das partículas de água para os cátodos, que são depois bombeadas
para um local adequado.

Este método tem débitos bastante baixos, na casa dos 15 a 750 litros/dia. Daí que seja usado
principalmente como método de consolidação de solos argilosos (em Portugal, junto a linhas
férreas importantes), onde a sua rapidez, em comparação com outros métodos usados para o
mesmo fim, é determinante.

Repare-se que, se é verdade que, à medida que a permeabilidade dos solos vai diminuindo, se
vai tornando progressivamente mais difícil e oneroso drená-los, também se verifica que o
volume de água que aflui à escavação se torna muito menor, podendo mesmo chegar a

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acontecer que seja suficiente lançar uma camada de material filtrante no fundo da escavação
para se poder trabalhar praticamente a seco.

5.5. CAPTAÇÃO HORIZONTAL

Quando as escavações a drenar se desenvolvem por longos trechos de pequena profundidade


(como na colocação de condutas, por exemplo) e a permeabilidade horizontal é superior à
vertical (solos estratificados), pode ser usada uma drenagem horizontal para o rebaixar.

Como alternativa à utilização de trincheiras drenantes, cheias de material granular como


filtro, pode-se utilizar neste tipo de drenagem tubos flexíveis perfurados colocados
mecanicamente num meio com solos granulares homogéneos (2.5 a 6 m de profundidade). A
drenagem propriamente dita pode ser feita graviticamente, quando existir uma pendente
suficiente, ou através de bombagem. Neste caso, existem bombas centrífugas à superfície
colocadas a intervalos regulares (25 a 100 m) que extraem a água para locais que não
influenciam o decorrer das obras (Fig. 11).

Fig. 11 - Esquema de captação horizontal na escavação para uma conduta

Na situação de as permeabilidades horizontal e vertical não serem muito diferentes, é ainda


possível recorrer ao método das agulhas filtrantes, para o rebaixamento do nível freático
durante a execução de obras com grande desenvolvimento. A bombagem é, nestes casos, feita
por troços de cerca de 100 m, sempre com um avanço em relação à frente de obra. Após a

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execução da obra em parte de um dado troço, as agulhas que garantem o rebaixamento nessa
zona são retiradas e colocadas noutro local mais à frente da obra.

É necessário ainda referir que os métodos atrás mencionados não têm utilidade para solos
com um coeficiente de permeabilidade k < 10-8 cm/s, uma vez que não se consegue
estabelecer qualquer regime de escoamento por bombagem, nem sequer com recurso a vácuo.
Nestes casos, uma solução possível é a execução da escavação sem alterar o nível freático,
lançando posteriormente uma camada de material filtrante para o fundo do terreno para
mantê-lo seco.

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6. MÉTODOS DE EXCLUSÃO

Sob determinadas condições, o processo de bombagem de água pode resultar em efeitos even-
tualmente prejudiciais ao edifício em construção, às estruturas vizinhas ou ao meio ambiente.
Um destes problemas, o assentamento do solo, provoca danos cuja gravidade depende da
espessura e do estado de consolidação do depósito compressível, da profundidade e duração
da bombagem, das fundações das estruturas na zona afectada e do tipo de construções. Refira-
se também o atrito negativo nas estacas, com perda de capacidade resistente destas.

No caso de estacas de madeira não tratada (ou qualquer outro tipo de estrutura deste material
enterrada abaixo do nível freático), podem surgir danos se o processo de extracção de água as
expuser a oxigénio. Outro problema é a possibilidade de serem afectadas as reservas dos
aquíferos nas proximidades da obra, o que se reflecte numa redução temporária do
fornecimento e da qualidade da água nos poços da região, através por exemplo da intrusão de
água salgada ou expansão de contaminantes. Recomenda-se também um certo cuidado com as
descargas da água extraída (Fig. 12), podendo causar erosão.

Fig. 12 - Descarga de água extraída de uma escavação

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É neste contexto que surgem os chamados métodos de exclusão, ou seja, aqueles em que, não
havendo acesso da água à escavação, através da execução de barreiras estanques verticais (e
horizontais), não chega também a haver extracção da primeira.

A situação mais desejável será obter uma solução economicamente viável, na qual se
prolonga a estrutura de contenção até atingir um estrato impermeável, abaixo do fundo da
escavação, devendo a cortina penetrar até uma profundidade suficiente para garantir o
tamponamento horizontal da escavação (Fig. 13, à esquerda). Nestas circunstâncias, o fluxo
de água que passa por debaixo da cortina é normalmente pequeno e, desde que as aberturas que
nela possam existir (abaixo do fundo da escavação) não tenham dimensões relevantes, não
deverá haver o risco de ocorrer rotura ou levantamento do solo do fundo da escavação. O
volume de água a bombear será igualmente baixo, correspondendo ao caudal que atravessa
esta superfície.

Fig. 13 - À esquerda, cortinas estanques penetrando em estrato impermeável a pequena


profundidade e, à direita, cortinas enterradas de forma a controlar a carga hidrostática

Obviamente, a situação de o estrato impermeável estar a uma profundidade aceitável não


ocorre sempre, recorrendo-se então em alternativa à execução de uma cortina horizontal de
argamassa ou betão, sempre que a permeabilidade do solo o permitir, como forma de obter o
tamponamento desejado. Se esta última solução não for económica ou fisicamente viável,
estabelece-se no solo, segundo o princípio dos vasos comunicantes, um escoamento de
sentido descendente na face exterior da cortina e ascendente em direcção ao interior da

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escavação. Pode-se reduzir o caudal que aí aflui e simultaneamente controlar o perigo de


levantamento e de erosão interna do fundo da escavação, descendo a cortina o estritamente
necessário para que, do aumento do percurso seguido pela água, resulte, de acordo com a
fórmula de Caquot (h 3 > h 2 / 2 + h 1 / 50, em que o 2º termo é em geral desprezável - ver Fig.
13, à direita) uma diminuição temporária da carga hidrostática na base da escavação. Se o
volume de água que aflui é superior à capacidade de drenagem por captação directa (Fig. 4),
torna-se necessário recorrer a outros métodos de captação, usualmente poços de bombagem
junto à base da cortina.

Os métodos de exclusão de cortinas verticais podem ser divididos em temporários


(congelação do solo, paredes de lamas bentoníticas e estacas-pranchas) e permanentes
(paredes moldadas, cortinas de estacas, jet grouting e injection grouting), consoante se
asseguram a estanqueidade (relativa) da escavação apenas durante o período de construção ou
garantem essa função a longo prazo (mesmo que complementados com sistemas de
impermeabilização), respectivamente.

Por outro lado, torna-se evidente que todos estes sistemas se constituem também como
contenções periféricas, nomeadamente com funções de suporte de terras. Uma vez que, no
âmbito da cadeira de Processos de Construção, existe um capítulo explicitamente dedicado a
esse tipo de estruturas, apenas será dado relevo no documento actual aos sistemas que não
sejam tratados com um mínimo de profundidade nesse mesmo capítulo.

6.1. CONGELAÇÃO DO SOLO

Este método, sem grande tradição em Portugal em virtude do nosso clima relativamente
quente, da alta tecnologia que exige e do seu custo elevado, resume-se à extracção do calor do
solo através de tubos de refrigeração até que a água intersticial congele, formando uma
cortina de solo congelado à volta da escavação que simultaneamente veda a passagem de água
e suporta o solo envolvente (Fig. 14). O solo não precisa de estar saturado em água.

O sistema de refrigeração consiste em fazer circular amónio ou água salgada (solução mais
habitual designada por salmoura) a baixas temperaturas pelo interior de tubos previamente

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cravados em redor da escavação dispostos em série ou em paralelo. Quando as isotérmicas de


0ºC entre tubos vizinhos se interceptam, o solo entre eles congela, resultando da acção
conjunta dos vários tubos uma parede de solo congelado. Esta congelação é continuada até
que se atinja a espessura estabelecida em projecto para a parede. A congelação do solo é
mantida durante a escavação e o sistema de refrigeração só é desligado quando esta terminar,
garantindo sempre uma eficaz protecção das paredes de solo, para o que poderá ser necessário
instalar telas isolantes para protecção.

Fig. 14 - Aplicação do método de congelação do solo em Bruxelas

O espaçamento entre tubos deverá estar entre 1.2 e 1.8 m de modo a se obter a espessura de
projecto dentro de um intervalo de tempo razoável. É fundamental o controlo de qualidade de
todo o processo, nomeadamente ao nível da verticalidade dos tubos (inclinómetros), evitando
fugas de líquido refrigerante e controlando a percolação da água no tardoz da cortina. Uma
consequência curiosa do método é um ligeiro empolamento do solo.

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É possível realizar este método com nitrogénio líquido como o líquido refrigerador ainda que
com custos por unidade de calor extraído ainda bastante mais elevados, pelo que só se torna
competitivo em pequenos empreendimentos de curta duração ou em que se exija uma
congelação rápida. Numa instalação de nitrogénio líquido, os diâmetros dos tubos de
congelação são mais pequenos e menos espaçados. O gás não é tóxico, mas devem ser
tomados cuidados especiais para prevenir a sua acumulação em espaços fechados.

6.2. PAREDES DE LAMAS BENTONÍTICAS

Este é um método de impermeabilização (slurry trench cut-off) que consiste na materialização


de paredes de lama em redor de escavações a céu aberto, sendo o seu uso especialmente
adequado a solos granulares como siltes, areias, gravilhas, e godos. As lamas usadas podem
ser as de bentonite ou as de cimento-bentonite (betão plástico), sendo escolhida uma solução
ou a outra consoante as profundidades a atingir, a espessura disponível para a trincheira e,
obviamente, a relação funcionalidade / custo.

Para as lamas bentoníticas, o processo de execução consiste em bombear a lama para o


interior da trincheira simultaneamente com o avançar da escavação, de forma a suster as
paredes escavadas. Terminada a escavação, parte do solo retirado é reposto, passando a
bentonite a exercer uma função de impermeabilização, isto é, a bentonite mais o solo reposto
formam uma mistura que vai impedir o afluxo de água ao interior da escavação, sendo este
efeito reforçado pelo filtro resultante da acumulação, durante a escavação, de uma massa de
solo-bentonite ao longo das paredes da trincheira. É importante misturar bem os componentes
da lama pois isso afecta significativamente o seu grau de estanqueidade.

Em termos de profundidade, com esta solução é possível atingir 30 m ou mais, com


espessuras que vão até aos 3 m (em casos especiais). No entanto, a aplicação de barreiras de
solo-bentonite com grandes profundidades e larguras poderá ser substituída, com vantagens
em escavações profundas, por membranas de cimento-bentonite (eventualmente com cinzas
volantes ou escórias da indústria em vez de cimento, argilas em vez de bentonite e/ou
contendo solo, sempre que a qualidade exigida não seja muito grande e para economizar).

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Este tipo de barreira é mais estreito que o anterior (variando a sua espessura entre 0,6 e 1 m),
é feita por painéis alternados e apresenta como principal característica o facto de endurecer
por si só, perdendo as suas propriedades tixotrópicas provenientes da parcela de bentonite.
Existe uma variante a este processo usando calda de cimento, que exerce a função dupla da
lama (conter as terras durante a escavação) e do betão plástico (endurecer e funcionar como
cortina).

Quanto ao equipamento utilizado neste processo, tem-se as ferramentas de corte do solo como
o balde da retro-escavadora, caso a profundidade vá até aos 10 m, enquanto que, para maiores
profundidades, já se recorre a equipamento convencional de execução de paredes moldadas
(balde de maxilas - Fig. 17) ou a uma combinação dos vários equipamentos referidos. É
também necessária uma estação de preparação da mistura solo-bentonite ou cimento-
bentonite.

Uma técnica semelhante às aqui descritas é a da parede delgada (espessura menor que 10 cm),
executada por introdução no terreno de um perfil metálico, em forma de H, e posterior
extracção com preenchimento simultâneo, através de um tubo solidário com o perfil, do vazio
criado com calda apropriada para impermeabilização (bentonite tratada ou argila e cimento).
A continuidade da parede é obtida pelo deslocamento do perfil, entre cada operação, de uma
distância calculada para que haja sobreposição com o painel anterior (Fig. 15). A introdução
do perfil pode fazer-se por cravação, vibração e com ou sem injecção lançage.

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Fig. 15 [3] - Esquema de execução da parede delgada


6.3. ESTACAS-PRANCHAS

As estacas-pranchas são painéis metálicos (também podem ser em madeira ou betão armado),
ancorados /escorados ou não, justapostos verticalmente por forma a formar uma cortina prati-
camente estanque. Para conferir maior rigidez à flexão às cortinas, os painéis não são planos,
mas têm sim uma forma composta (Fig. 16). A garantia da estanqueidade, que geralmente não
é total, é dada pelo engate das estacas umas nas outras, complementado com a selagem das
juntas. Quando utilizadas em local aquático (leito de rio ou mar), adoptam o nome de enseca-
deiras. Existe uma outra solução de contenção periférica semelhante, também susceptível de
ser considerada um método de exclusão temporário, que são os painéis pré-fabricados em
betão armado, também justapostos uns aos outros formando uma cortina mais ou menos
estanque.

CORTE A-A

A A

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Fig. 16 - Alçado e corte transversal de uma cortina de estacas-pranchas

Para engatar as estacas-pranchas, apontá-las e cravá-las na execução da cortina, é necessário


preparar dispositivos de guiamento a um ou mais níveis. Estes desempenham o duplo papel de
materializar a implantação da cortina e guiá-la durante a cravação. Os processos correntes de
cravação destes elementos são a percussão (grandes blocos e rochas duras), a vibração (solos
granulares e certos solos coerentes) e a injecção lançage (solos incoerentes finos), sendo a
vibro-flutuação e a penetração estática com macaco de uso excepcional [3]. A selecção da
técnica de cravação deverá ter em conta os seguintes factores: natureza dos terrenos a
atravessar, características das estacas-pranchas utilizadas, natureza e importância da obra a
construir, condições adjacentes à obra, condições de acesso ao estaleiro, prazos de execução e
disponibilidade do equipamento.

Entre os problemas que podem ocorrer na execução das estacas-pranchas, referem-se os


seguintes: defeitos de verticalidade, existência de obstáculos, nega prematura, deformação das
estacas-pranchas, desligamento, rasgos ou enrolamentos das estacas-pranchas e, finalmente,
rotura das estacas-pranchas. Quanto às vantagens e desvantagens deste método de exclusão,
eles encontram-se expressos no Quadro 1.

6.4. PAREDES MOLDADAS

As paredes moldadas são elementos em betão armado de grande rigidez perpendicularmente


ao seu plano (espessuras entre 0.40 m e 1.50 m), podendo ser ancoradas / escoradas (numa
fase provisória) ou não. São utilizadas quando existem estruturas de grande importância muito
susceptíveis a deformações perto da nova construção, quando se pretende incorporar a parede
na estrutura definitiva ou quando se pretende que a parede seja praticamente estanque per si
(sobretudo em terrenos arenosos ou pouco consistentes com nível freático elevado).

O seu faseamento construtivo compreende as seguintes etapas: escavação da vala para os mu-
ros-guia; construção dos muros-guia; montagem do sistema de preparação, distribuição e
recuperação da lama bentonítica (Fig. 17); escavação dos painéis primários; colocação dos
tubos-junta (painéis primários); colocação das armaduras nos painéis primários; betonagem e

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recuperação da bentonite nos painéis primários; execução dos painéis secundários (quando
existem) com os mesmos passos dos painéis primários; saneamento da parte superior da
parede; execução da viga de coroamento; escavação do terreno; execução das ancoragens
(quando existem); desactivação das ancoragens (à medida que a estrutura dos pisos enterrados
vai subindo).

As vantagens e desvantagens das paredes moldadas, na perspectiva da sua utilização como


método de exclusão, são apresentadas no Quadro 1.

6.5. CORTINAS DE ESTACAS

As estacas moldadas no solo, uma solução corrente de fundações profundas, podem ser
executadas de forma a se constituírem como uma cortina praticamente estanque à passagem
das águas, ao mesmo tempo que asseguram o suporte das terras no tardoz a título definitivo.
As estacas poderão ou não ser ancoradas / escoradas, consoante os cálculos de estabilidade
assim o determinarem. São utilizadas quando existem estruturas de médio a grande porte
situadas perto na nova construção enterrada mas não excessivamente sensíveis a deformações
e tornam-se uma solução particularmente eficaz em túneis em zonas urbanas. A Fig. 18 ilustra
as várias formas de execução destas cortinas.

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Fig. 17 - Execução de parede moldada convencional (vala ocupada por lama bentonítica) e
balde de maxilas

A execução de cortinas de estacas moldadas apresenta alguns problemas directamente


relacionados com a qualidade e o seu controle, nomeadamente:
 torna-se difícil garantir a efectiva verticalidade das estacas;
 no caso das estacas separadas, é necessário, quando as estacas não estão muito próximas,
o que aliás é pouco usual, prever incorporadas nas próprias estacas armaduras de espera
para empalmar as armaduras das abóbadas de betão armado;
 como na generalidade das estruturas enterradas, é muito difícil garantir com algum rigor o
recobrimento das armaduras preconizado no projecto, pelo que é conveniente que este seja
elevado (do lado da segurança).

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Estacas executadas mediante injecção Estacas de betão normal moldada in-


de argamassa desagregável, colocada situ em furo aberto de forma a
em torno de um perfil previamente interessar parte do espaço ocupado
introduzido no furo respectivo pelas estacas anteriores; só estas
estacas são ancoradas (se necessário)

Abóbadas de
Estacas moldadas betão armado
ancoradas
A
Fig. 18 - De cima para baixo, cortinas de estacas constituídas por estacas tangentes (de muito
difícil execução), secantes (com indicação do seu processo construtivo) e espaçadas

Tal como a anterior, esta é uma solução “pesada” cuja selecção não tem a ver com a resolução
do problemas da drenagem, mas sim com dificuldades de carácter macro-estrutural na
execução de pisos enterrados.
6.6. JET GROUTING

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Este método, também designado por jet-mix e que consiste essencialmente na construção de
barreiras estanques através de jactos de argamassa não retráctil, é extremamente abrangente,
quer quanto aos tipos de solos a tratar (sendo particularmente eficaz em areias e siltes sem
coesão), quer pela grande variedade de formas de aplicação, embora tenha elevados custos
associados. Deve ser considerado em termos de génese e principal utilização como um
sistema de melhoramento de solos.

O processo de introdução da argamassa por jactos sob pressão baseia-se na destruição


deliberada da estrutura do solo, substituindo-a por uma mistura solo-argamassa, que adopta
uma forma aproximadamente cilíndrica (Fig. 19). Para este efeito, existem dois métodos de
execução, um que consiste na mistura local da argamassa directamente com o solo e o outro
em que é substituído o solo escavado por argamassa misturada com solo.

No sistema de mistura local, um único jacto de argamassa, à pressão de 300 a 500 bar, gira
em torno do eixo do furo previamente escavado, à medida que se extrai a vara de escavação.
Esta deverá girar a uma velocidade entre as 10 e as 20 rpm e o ritmo de extracção terá que ser
suficientemente lento, cerca de 100 a 150 mm/min, por forma a garantir uma boa mistura da
argamassa com o solo. Para reduzir as perdas de argamassa o furo deverá ser estreito,
permitindo que o solo desprendido e excedentes de argamassa afluam facilmente à superfície.
Estes materiais são recolhidos e imediatamente reconduzidos para o interior do solo, após
serem devidamente misturados com nova argamassa. As colunas assim obtidas têm diâmetros
inferiores a 400 mm para solos coesivos, entre 400 e 800 mm para areias e superiores a 800
mm para areias grosseiras.

Quanto ao método de substituição de solo escavado por argamassa, é utilizada uma vara de
escavação de tubo triplo para a introdução da argamassa, que se insere no solo após a abertura
inicial do furo. O processo consiste em disparar um jacto de água a elevada pressão (400 a
500 bar) que literalmente destrói internamente o solo na periferia do furo, levando de seguida
este solo em direcção à superfície. Para melhorar a acção de corte do solo poderá ser usada
uma lâmina de ar comprimido (a uma pressão de 5 a 7 bar) de forma a envolver o jacto de
água, aumentando também a eficácia do transporte do solo até à superfície. A argamassa é
então introduzida através de um terceiro jacto com uma pressão de 5 a 7 bar, entrando por

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baixo do jacto de corte. O sistema, à medida que vai cortando o solo e injectando a
argamassa, é girado e deslocado simultaneamente na vertical à velocidade de 5 rpm e 50
mm/min, respectivamente.

Fig. 19 - Aspecto de colunas executadas por jet grouting

Fig. 20 [3] - Execução de colunas e de painéis pelo método do jet grouting

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É de referir ainda que estes sistemas, para além de executarem colunas, também podem ser
utilizados para fazer painéis, deixando de rodar, para o efeito, a ferramenta de corte (Fig. 20).

6.7. INJECTION GROUTING

Este método é especialmente indicado para colmatar fissuras em rochas e em elementos


estruturais, ou ainda para criar membranas relativamente impermeáveis, procurando evitar o
mais possível o afluxo de água ao interior da escavação.

A argamassa é injectada sob baixa pressão (entre 5 e 7 bar) à medida que é assimilada pelo
solo. No entanto, quando a permeabilidade deste é insuficiente, a argamassa penetra no solo
como um todo e não através da colmatação dos espaços entre os grãos deste. Este efeito
negativo é conhecido por claquagem ou hidrofractura do solo. A base do processo de
compactação é a extrusão plástica da argamassa.

6.8. CORTINAS HORIZONTAIS

Em escavações profundas, torna-se por vezes necessário reduzir o afluxo vertical de água a
partir de um estrato permeável situado abaixo do plano de formação. Esta situação ocorre em
geral quando é economicamente inviável prolongar as barreiras estanques até atingirem o
maciço rochoso ou um estrato impermeável. Assim, a solução alternativa ou complementar
será implementar uma cortina horizontal de argamassa ou betão de forma a selar a base da
escavação, obtendo uma caixa estanque. Existem três opções de materialização destas
cortinas, consistindo a primeira na técnica do betão imerso (Fig. 21), a segunda na construção
de uma cortina horizontal pouco profunda através de jactos de argamassa (ou betão,
eventualmente armado) complementada com elementos funcionando à tracção (Fig. 22, à
esquerda) e a terceira na construção de uma cortina mais profunda concretizada por injecção
de argamassa no solo (Fig. 22, à direita).

O primeiro caso consiste na escavação até ao nível das fundações sem extracção da água.
Betona-se então sob a água uma camada de betão de espessura h, tal h > H /  (Fig. 21), em
que  é o peso específico do betão. Para esta betonagem utiliza-se a técnica designada por

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betão imerso, que consta, resumidamente, em aplicar-se o betão conduzindo-o através de um


funil e mantendo a saída deste sempre no interior do betão já aplicado. Consegue-se assim
evitar que o betão fresco atravesse a camada aquífera, o que levaria ao risco de lavagem dos
inertes. Uma vez que este tenha adquirido resistência, pode fazer-se a bombagem da água
acima da camada de betão, sem risco deste se deslocar e executar-se a seco a fundação.

Fig. 21 - Camada de betão imerso equilibrando as sub-pressões

Fig. 22 - À esquerda, camada de argamassa / betão ancorada a elementos verticais


traccionados e, à direita, injecção do solo abaixo da fundação

Relativamente ao segundo caso, é habitual proceder-se à ancoragem da cortina com micro-


estacas ou com colunas mais profundas feitas com jactos de argamassa (Fig. 22, à esquerda),

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por forma a reduzir a sua deformação e melhorar a resistência aos impulsos hidrostáticos
verticais. Um aspecto positivo na implementação destas colunas de argamassa reside numa
melhoria da capacidade de absorção da carga por parte do subsolo abaixo da cortina e num
aumento de resistência passiva deste, o que ajuda a suportar as paredes periféricas.

No que diz respeito ao terceiro caso indicado, tem-se uma cortina mais profunda, que só
poderá ser aplicada quando as paredes estanques forem também de profundidade superior. O
processo de execução desta cortina por injecção de argamassa é mais económico que o
método por jactos, só podendo, no entanto, ser usado, quando a permeabilidade do solo o
permitir. Estas cortinas, ao serem mais profundas (porque h’ > H / ’, peso específico do
terreno, e ’ <  - ver Fig. 22, à direita), beneficiam do peso do solo acima para resistir à
pressão hidrostática vertical, evitando, provavelmente, ter que se recorrer a ancoragens.

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7. BIBLIOGRAFIA

Nota: as referências bibliográficas indicadas de seguida não incluem as referidas no capítulo


de introdução a este documento.

[1] Puller, Malcolm “Deep Excavations - A Practical Manual”, Thomas Telford, London,
1996.
[2] Silva Pereira, “Escavações em Terrenos com o Nível Freático Instalado: Processos de
Bombagem. Água Subterrânea. Algumas Recomendações Práticas”, 1º Simpósio
Nacional de Materiais e Tecnologias na Construção de Edifícios - SIMATEC, Lisboa,
1985.
[3] Coelho, Silvério “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.

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