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e Eletrônica Embarcada
João Paulo de Souza e Waldemar de Castro Leite Filho
Resumo- Os testes de um sistema de navegação inercial nas leis de movimento de Newton. Os sensores de um sistema
seguem uma conhecida sequência: caracterização dos sensores, de navegação inercial do tipo solidário (strapdown),
calibração da unidade de medida inercial (UMI) e teste dinâmico acelerômetros e girômetros, são montados em forma de tríades
do conjunto completo. A primeira fase deste teste dinâmico chamados de unidades de medida inercial (em inglês: Inertial
ocorre em simuladores rotativos de 3 graus de liberdade, após o Measurements Units, IMU’s). Um sistema de navegação
que são necessários testes de campo. Estes testes de campo, inercial (em inglês: Inertial Navigation System, INS) é
normalmente são feitos em viaturas terrestres ou em aeronaves.
Modernamente, foi proposto o uso de montanha-russa para o composto, em geral, por: (a) uma IMU; a plataforma em que
teste dinâmico de um sistema de navegação inercial. Tal aparato são montados, incluindo os mecanismos de estabilização caso
traz diversas vantagens em relação aos testes convencionais. A existam, e (b) um computador de plataforma [1]. O
principal delas é a repetibilidade. A trajetória percorrida será computador realiza os cálculos necessários para transformar as
sempre a mesma com precisão milimétrica e os perfis de informações obtidas a partir dos sensores em informações de
velocidade e aceleração também serão os mesmos com boa navegação: posição, velocidade e atitude.
precisão. Os níveis de aceleração e velocidade alcançados são
Atualmente, o Brasil está tentando resolver um dos
compatíveis com os testes em aeronaves, porém tendo baixo
custo. Este trabalho descreve o segundo e último teste em principais desafios tecnológicos impostos, há quase três
montanha-russa realizado com o sistema de navegação inercial décadas, ao seu programa de lançadores de satélites:
SISNAV em desenvolvimento no IAE o qual foi chamado de desenvolver e fabricar seu próprio sistema de navegação
Operação Parque II. O projeto do SISNAV, desenvolvimento e inercial, utilizado na estabilização de satélites em órbita e na
estratégia de teste são abordados e, finalmente, os resultados orientação da trajetória de um foguete no espaço. O projeto
obtidos. SIA (Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial) tem
Palavras-Chave - Sistema de Navegação Inercial, INS, IMU, como objetivo disponibilizar protótipos de centrais inerciais
SISNAV, Sensores Inerciais, Montanha-Russa. para o guiamento do veículo lançador de satélites a partir de
Abstract- Tests of an inertial navigation system follow a girômetros a fibra óptica e acelerômetros. Desta forma, será
known sequence: the characterization of sensors, calibration of possível dotar o Brasil de capacidade de produzir um sistema
inertial measurement unit (IMU) and dynamic testing of the de navegação inercial com o mínimo de dependência de
complete set. The first phase in this dynamic test occurs in three fornecedores estrangeiros.
degrees of freedom rotary simulators, after this are necessary O SISNAV (Sistema de Navegação) é um protótipo do que
field tests. These field tests are usually done on land vehicles or
aircrafts. Nowadays, research proposes the use of roller coaster deverá ser utilizado na estabilização de satélites em órbita e na
for the dynamic testing of an inertial navigation system. This orientação da trajetória de um foguete no espaço. Os testes de
apparatus provides several advantages over conventional tests. um sistema de navegação inercial seguem uma conhecida
The main one is the repeatability. The trajectory is always the sequência: caracterização dos sensores; calibração da unidade
same with pinpoint accuracy and profiles of velocity and de medida inercial (UMI) e teste dinâmico do conjunto
acceleration are also the same with good accuracy. The levels of completo. Alguns componentes do sistema também já foram
acceleration and velocity achieved are consistent with the aircraft
testados com sucesso em ambiente espacial de microgravidade
tests, but having a low cost. This paper describes the second and
final test on a roller coaster realized with the Inertial Navigation durante a Missão Cumã II, em julho de 2007.
System SISNAV being developed in IAE which was called A Figura 1 apresenta um diagrama de blocos das etapas a
Operação Parque II. The design of the SISNAV, development serem percorridas para se desenvolver um sistema de
and strategy test are discussed and, finally, the results obtained. navegação inercial.
Keywords- Inertial Navigation System, INS, IMU, SISNAV,
Inertial Sensors, Roller-Coaster.
I. INTRODUÇÃO
O SISNAV deve ser capaz de fornecer, ao longo do tempo: B. Computador de Plataforma PC/104
• Atitude (ângulos de Euler com relação ao triedro de
navegação); O computador de plataforma do SISNAV é exatamente o
mesmo utilizado na Operação Parque I, ou seja, um
• Vetor velocidade angular ao qual o equipamento esteja
computador industrial PC/104 com processador de 800 MHz e
submetido;
4 Gb de memória flash embarcada. Uma placa serial realiza a
• Vetores de posição e velocidade referentes ao triedro de
leitura de dados dos girômetros e uma placa chamada módulo
navegação;
de digitalização de acelerômetros (MDAN-02) realiza a leitura
dos acelerômetros. O computador de plataforma utilizado é
mostrado na Figura 3 a seguir:
A. Antena GPS
(a) (b)
Fig 11. MCCE do SISNAV: a) vista explodida e; b) montagem.
O segundo passo para qualificação de um sistema de O quarto passo para qualificação de um sistema de
navegação inercial do tipo strapdown é calibração do berço navegação inercial do tipo strapdown é a realização de testes
sensor, no que se refere ao seu desalinhamento com o triedro em veículo terrestre ou aeronáutico, neste caso, substituído por
de navegação. Isto porque os modelos matemáticos obtidos a montanha-russa, como mostra a Figura 14.
partir desta calibração expressam os erros devido ao
desalinhamento dos conjuntos de sensores.
O modelo matemático exprime os erros incluídos em uma
matriz de forma. A matriz de forma é uma transformação de
coordenadas que transfere vetores de uma base ortogonal
perfeita para a base formada pelos eixos de medida dos
sensores. A matriz de alinhamento é a inversa da matriz de
forma. Outros parâmetros, tais como o fator de escala e bias,
são também representados devido à necessidade de obtenção
destes para a estimação da matriz de alinhamento.
A. Procedimento de Calibração
A. Procedimentos
O carrinho partiu da plataforma e realizou sua primeira E. Operação Parque II – Terceiro Ensaio
volta. Em seguida houve uma parada programada de 1 minuto.
Durante esta parada também foi feita uma verificação dos Outro ensaio de 4 voltas do experimento na montanha-russa
parafusos de fixação do experimento. Sem haver qualquer estava programado sem que houvesse qualquer alteração no
problema detectado, o ensaio prosseguiu normalmente com o experimento e com o mesmo partindo da plataforma de
carrinho partindo para mais uma volta. No total, foram embarque. Contudo, após a observação da má qualidade dos
programadas e realizadas 4 voltas completas na montanha- dados obtidos durante os 2 ensaios anteriores, optou-se por
russa com intervalos de espera de 1 minuto entre cada uma das fazer uma única mudança técnica para o segundo ensaio: a
voltas. Ao final destas 4 voltas houve uma parada programada troca dos amortecedores de vibração. Os amortecedores
de 30 minutos para coleta e análise dos dados obtidos durante foram substituídos por espumas de alta densidade. Estas
este ensaio. Para isto, foi necessária a conexão dos cabos espumas também possuem a finalidade de absorver choques,
umbilicais e em seguida o chaveamento do experimento para o pois as mesmas foram utilizadas durante o transporte de
modo externo. A Figura 17 apresenta a estação de solo ligada equipamentos pesados, tais como mesas rotativas de 3 eixos.
ao experimento para coleta e visualização dos dados A Figura 18 apresenta o experimento montado sobre estas
armazenados nos computadores de plataforma. espumas. Comparando-se esta figura com a Figura 17 é
possível notar a substituição.
Fig 17. Estação de solo e laptops de campo conectados ao experimento via Todo o procedimento de nivelamento do experimento
cabos umbilicais. durante sua fixação na interface com o vagão foi repetido.
Inclusive foi realizada novamente a medida de desalinhamento
Durante a parada programada de 30 minutos também foi de azimute antes do início do terceiro ensaio.
realizada novamente a medida de desalinhamento de azimute. Novamente todas as porcas dos parafusos de fixação do
experimento tiveram suas posições marcadas com um
marcador industrial para verificar qualquer possível
D. Operação Parque II – Segundo Ensaio deslocamento das porcas durante o ensaio. Em seguida, houve
uma espera de 15 minutos para secagem do marcador
Um segundo ensaio de apenas 1 volta do experimento na industrial.
montanha-russa foi realizado, sendo que este ensaio não estava O carrinho partiu da plataforma e realizou sua primeira
programado. A única mudança em relação ao primeiro ensaio volta, com uma parada de 1 minuto antes da segunda volta.
foi que o carrinho da montanha-russa partiu de um ponto fora Durante esta parada também foi feita uma verificação dos
da plataforma de embarque. Isto para que a antena GPS parafusos de fixação do experimento. Houve um deslocamento
pudesse captar um sinal de satélite de melhor qualidade e sem das porcas considerado desprezível por parte da equipe de
obstáculos. mecânica. Desta forma, o ensaio prosseguiu normalmente com
Após a análise dos dados coletados no primeiro e segundo o carrinho partindo para mais uma volta. Ao final da segunda
ensaio, observou-se a ocorrência de saturação dos volta, durante a parada de 1 minuto, houve uma nova inspeção
acelerômetros do SISNAV nos eixos Y e Z. Isto porque das porcas dos parafusos de fixação do experimento. Desta vez
houve um deslocamento maior das porcas e a equipe de
mecânica sugeriu uma parada no ensaio. Optou-se por houve uma parada programada de 30 minutos para coleta e
finalizar o terceiro ensaio, totalizando 2 voltas completas na análise dos dados obtidos durante este ensaio.
montanha-russa com intervalos de espera de 1 minuto entre Nas análises preliminares feitas pela equipe de software,
cada uma das voltas. constatou-se que houve uma melhoria na qualidade dos sinais
Ao final destas 2 voltas houve uma parada para coleta e medidos pelos acelerômetros do SISNAV, porém as leituras
análise dos dados obtidos durante este ensaio. Não foi dos sensores do sistema de navegação inercial de referência se
observada nenhuma melhoria na qualidade dos sinais medidos apresentaram incoerentes com o esperado para todos os
pelos acelerômetros com a troca dos amortecedores. Pelo ensaios. Desta forma, os trabalhos de teste dinâmico do
contrário, os sinais medidos pelos acelerômetros quando SISNAV foram encerrados.
utilizados os amortecedores de vibração dos 2 primeiros Posteriormente, em laboratório, foi detectado um erro no
ensaios apresentaram uma melhor qualidade. programa de leitura dos dados armazenados. Este erro, porém,
só poderia ser detectado se o sistema de navegação inercial de
F. Operação Parque II – Quarto Ensaio referência fosse estimulado nos níveis de aceleração impostos
pela montanha-russa. O programa foi corrigido sem que
Como não houve melhorias após a alteração realizada no houvesse perda das informações primárias provenientes dos
terceiro ensaio, optou-se por fazer uma única mudança técnica sensores e, consequentemente, os dados obtidos após a
para o quarto ensaio em relação ao terceiro: comprimir mais correção foram bastante satisfatórios.
a espuma de alta densidade. A espuma foi comprimida de
modo que a mesma apresentasse características de
amortecimento próximas às oferecidas pelos amortecedores de IX. DISCUSSÃO E RESULTADOS
vibração, esperando-se um resultado melhor, como mostra a
Figura 19 abaixo.
Um fator importante que deve ser mencionado foi a
experiência adquirida durante a Operação Parque I pelos
funcionários e colaboradores. Com a experiência adquirida foi
possível planejar melhor o experimento e as atividades a
serem realizadas. O envio de uma equipe no dia anterior
permitiu que os ensaios realizados na Operação Parque II
fossem iniciados mais rapidamente, dando inclusive margem
de tempo para a realização de alguns ensaios adicionais. Os
colaboradores, especializados em mecânica e sensores
inerciais foram essenciais durante as etapas de especificação
de projeto mecânico, desenho técnico, escolha de material,
criação e realização de procedimentos de calibração, dentre
outros.
Durante a fase de caracterização e calibração dos sensores e
da IMU do SISNAV foi possível analisar a influência térmica
da eletrônica de aquisição de dados dos acelerômetros. Desta
Fig 19. Experimento montado sobre a interface com a espuma de alta forma, foi iniciado um teste preliminar de caracterização
densidade comprimida. térmica desta eletrônica. Os testes realizados não foram
suficientes, porém, indicaram o caminho que deve ser seguido
Todo o procedimento de nivelamento do experimento para os ensaios de caracterização da eletrônica.
durante sua fixação na interface com o vagão foi repetido. Do ponto de vista operacional no dia dos ensaios, a
Inclusive foi realizada novamente a medida de desalinhamento Operação Parque II foi bem sucedida. A organização das
de azimute antes do início do quarto ensaio. Todas as porcas equipes durante os procedimentos de montagem e ensaios
dos parafusos de fixação do experimento tiveram suas ocorreu como programado e não houve quaisquer imprevistos
posições marcadas com um marcador industrial e, em seguida, que paralisassem os ensaios. Exceto ensaios adicionais para
houve uma espera para secagem do marcador industrial. obter um sinal de satélite GPS de melhor qualidade e testes
O carrinho partiu da plataforma e realizou sua primeira visando um melhor amortecimento das vibrações impostas
volta, com uma parada de 1 minuto antes da segunda volta. pelo carrinho na montanha-russa.
Durante esta parada também foi feita a verificação dos Como dito anteriormente, observou-se a ocorrência de
parafusos de fixação do experimento e desta vez não houve saturação dos acelerômetros do SISNAV devido aos choques
deslocamento das porcas. Desta forma, o ensaio prosseguiu laterais no carrinho durante o trajeto. Isto comprometeu as
normalmente com o carrinho partindo para mais uma volta. Ao leituras dos sensores do SISNAV.
final da segunda volta, durante a parada de 1 minuto, houve Durante os ensaios na montanha-russa, as leituras dos
uma nova inspeção das porcas dos parafusos de fixação do sensores do sistema de referência PR se mostraram bastante
experimento. Sem haver qualquer problema detectado, o satisfatórios, permitindo seu uso na qualificação dos
ensaio prosseguiu normalmente com o carrinho partindo para algoritmos de atitude e navegação.
mais uma volta. No total, foram programadas e realizadas 4 O desenvolvimento e qualificação do algoritmo de
voltas completas na montanha-russa com intervalos de espera navegação inercial e do algoritmo de auto-alinhamento fazem
de 1 minuto entre cada uma das voltas. Ao final destas 4 voltas
parte das etapas de desenvolvimento de uma INS (vide Figura
1), e os dados coletados na Operação Parque II serão
utilizados como entrada nestes algoritmos.
É importante também atentar para o fato de que os níveis de
vibração e choque medidos durante os ensaios se assemelham
a aplicações como as do veículo PIG (em inglês: Pipeline
Inspection Gauge) utilizado pela Petrobrás que emprega um
dispositivo inercial. Portanto, o tipo de ensaio empregado na
Operação Parque II pode ser utilizado para testes neste tipo de
aplicação.
O quinto e último passo para qualificação de um sistema
de navegação inercial do tipo strapdown é a realização de
testes em voo real. Estes testes estão previstos e somente será
possível realizá-los após a qualificação dos algoritmos de
navegação e auto-alinhamento e a definição do protótipo de
voo.
X. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
[1] Christopher Jekeli, Inertial Navigation Systems. W. de
Gruyter, N.Y., 2001.
[2] Niklas Hjortsmarker, Experimental System for Validating
GPS/INS Integration Algorithms, Master’s Thesis, Luleå
University of Technology, 2005.
[3] J. P. Souza, A. G. Brito, Sistema de Navegação Inercial:
Eletrônica Embarcada, VI Simpósio Brasileiro de
Engenharia Inercial – SBEIN, 2010.