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Contexto Histórico

Lançado em dezembro de 1997, Mano Brown tinha 27 anos e se declarava um


sobrevivente no inferno da periferia de São Paulo de um país que
sistematicamente extermina sua população negra há séculos, dando voz a
muitos outros negros que sobrevivem na selva urbana, cujo maior vilão é o
Estado e o racismo estrutural.

” Eu tinha 15 anos quando o álbum foi lançado e “Sobrevivendo no Inferno” foi


meu primeiro contato com o rap – meu e de muitos garotos e garotas daquela
época.”

Mais que expor o racismo e a violência, o grupo devolveu à população negra


brasileira a voz, o grito sufocado por tanta opressão e medo. Na época, muitas
pessoas passaram a circular com camisetas que traziam estampadas como, o
logo do álbum, uma cruz com o salmo 23, ou com a frase “orgulho de ser
negro”. Essas mesmas pessoas eram os principais alvos das revistas policiais
feitas nas portas das escolas públicas ou nas entradas dos bailes de black
music. Essas mesmas pessoas se viam representadas nas letras do grupo rap.

Em 1997, o Brasil era então governado pelo presidente Fernando Henrique


Cardoso e com sua política de privatização de empresas públicas e estatais.
Sua política neoliberal andava de mãos dadas com a premissa ideológica da
democracia racial, que buscava afirmar a inexistência do racismo, negando a
própria paisagem social que escancarava que a democracia racial ainda não
havia chegado para os negros, pois estes ainda são minoria nas profissões
mais remuneradas, nas posições de maior reconhecimento ou melhor renda,
principalmente a mulher negra que ainda ocupa uma posição econômica e
social extremamente desvantajosa.

Adicionalmente, nas escolas públicas da periferia mal se ouvia falar em


racismo, exclusão social ou violência policial. Na sala de aula havia uma
dissonância entre aquilo que estava no discurso dos livros ou dos professores
e aquilo que muitos alunos e alunas de fato viviam nas quebradas. E era
justamente nas músicas dos Racionais que esses jovens se reconheciam;
reconheciam a realidade árdua que enfrentavam dia a dia. Não era o ambiente
escolar conteudista que aproximava o aluno da realidade dele, eram as
músicas de quatro jovens negros e pobres, que com suas batidas e letras
traziam esperança à uma camada da população esquecida das políticas
públicas.

Conforme Mano Brown um dos quatro integrantes dos Racionas Mc’s, em uma
entrevista feita pela revista ” Le Monde, Diplomatique “, alega que o sistema
nas periferias em São Paulo no final da década de 1990 mudou totalmente,
onde as ”quebradas” deixaram de lado as rinchas entre si e começaram a ter
conscientização em que o problema estava ligado na transparência em que o
governo passava, fazendo com que crie reflexões nas favelas e pregando o
respeito, consequentemente.

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