Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
M u l t i c u l t u r a l i s m o e d i r e i t o s h u m a n o s
u m c o n f l i t o insolúvel?
5.1. Introdução
tários da Declaração.
Os autores da Declaração de 1948 rejeitavam, portanto, a possibilidade
de haver u m conjunto de direitos humanos universais, válidos, que fossem
independentes de sua consagração nos textos constitucionais dos diferen-
tes estados. Essa concepção teve como consequência reduzir o debate con-
mporâneo sobre o tema ao problema da sua eficácia, como pretende, por
xemplo, Norberto Bobbio. " O cerne da questão residiria para esse tipo de
4
MARITAIN, Jacques. "Introdução", In: Los Derechos dei Hombre. Barcelona: Editorial Laia, 1976.
P A R E K H , Bhikhu. "Non-ethnocentric universalism". In: Human Rights in Global Politics, E d . Tim Dunne
4 1 3
and Nicholas J. Wheeler. Cambridge: University Press, Cambridge, 1999, p. 128 e segs.
4 1 4
B E N H A B I B , Seyla. The Claims of Culture. Princeton and Oxford: Princeton University Press, 2002.
5
P A R E K H , Bhikhu. "Non-ethnocentric universalism". Op. cit., p. 140.
6
P E R R Y , Michael. The Idea of Human Rights. Oxford: Oxford University Press, 1998, p. 66.
4 1 7
PERRY, Michael. O p . cit., p. 66 e segs.
4 1 8
Ibidem, p. 76.
A P E L , Karl-Otto. " O problema do multiculturalismo à luz da ética do discurso", In: Ethica, Cadernos
4 1 9
tuto especial no direito interno das nações, sendo exigência básica para que
u m Estado possa integrar a comunidade internacional. Os direitos huma-
nos, para Rawls, diferenciam-se, assim, das garantias constitucionais ou
423
FINNIS, John. Natural Laxo and Natural Rights. Oxford: Clarendon Press, 1989, p. 198. R O M M E N , Hein-
4 2 0
rich A. The State in Catholic Thought. St. Louis, B. Herder Book, 1955, p. 624. M A R I T A I N , Jacques. Us
Droits de L'Homme et la Loi Naturel. Paris: Paul Hartmann Éditeur, 1947.
4 2 1
M E L L O , Celso D. de Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados, 1997, p. 5.
4 2 2
R A W L S , John. Le Droit des Cens. Op. cit., p. 74-75.
4 2 3
Ibidem, p. 79.
J E L L I N E K , Georg. La Declaration de los Derechos del Hombre y del Ciudadano. Trad. Adolfo Posada. Ma-
4 2 4
4 2 7
BOUTMY, Emile. Études Politiques. In: Droits de l'Homme et Philosophie. Presses Pocket. 1993, p. 437-443.
4 2 8
J E L L I N E K , Georg. Op. cit., p. 205.
429
A R E N D T , Hannah. The Origins ofTotalitarianism. Cleveland: Meridian Book, 1962, p. 290 e segs.
4 3 0
BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 25-26.
4 3 1
L A F E R , Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
4 3 2
F E R N A D E Z , Eusébio. Op. cit., p. 83-84.
4 3 3
D E L M A S - M A R T H Y , Mireille. Pour un droit comum. Paris: Seuil, 1994, p. 172 e segs.
H A B E R M A S , Jürgen. La Paix Perpétuelle. Trad. Rainer Rochlitz. Paris: Cerf, 1996, p. 87-88.
Ibidem, p. 89.
ras do ser humano como u m animal social. Somente o ser humano tem o
dom da palavra, o meio de comunicar-se e agregar-se, não existindo, assim,
indivíduo que fosse incapaz de estabelecer relações significantes com os ou-
tros e compartilhar a vida comunitária, a não ser que fosse menos ou mais do
que u m homem. N o segundo grupo identificador do homem, vamos encon-
trar diversas capacidades, a começar pelo d o m da palavra que será peculiar
ao ser humano e que lhe permite explicitar o conveniente e o inconveniente,
o justo e o injusto, o bem e o mal; dessa forma, o ser humano posiciona-se
4 3 6
P A R E K H , Bhikhu. Op. c i t , p. 144.
4 3 7
T O D O R O V , Tzvetan. A Conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ARISTÓTELES. "Política", In: Obras, Trad. e notas de Francisco de P. Samaranch. Madrid: Aguilar,
4 3 8
1253 a 1964.
virá como limite ordenador de ação humana. Kant chama esse parâmetro de
imperativo categórico, que pode ser formulado sob duas formas: a primeira,
referida à ação moral nela própria; a segunda, levando-se em conta a huma-
nidade considerada como tendo em si mesma u m valor moral. Dessa forma,
escreve Kant, o imperativo supremo da moralidade exige que o homem tra-
te a humanidade, seja na sua própria pessoa ou na de outra pessoa, nunca
como u m meio, mas sempre como u m f i m . 441
S A R L E T , Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, p. 60.
4 4 0
P A R E K H , Bhikhu. O p . cit., p. 149.
4 4 1
K A N T , Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Op. cit., p. 91.
4 4 2
H A R T , H . L . A. The Concept ofLaw. Oxford: Clarendon Press, 1972.
4 4 3
W A L Z E R , Michael. Thickand Thin. Notre Dame/London: University of Notre Dame Press, 1994.
4 4 4
R A W L S , op. cit.
4 4 5
A P E L , Karl-Otto. " O problema do multiculturalismo à luz da ética do discurso", op. cit.
4 4 6
P A R E K H , Bhikhu. Op. cit., p. 152.
leis morais são fruto da razão do homem, sendo universais, não dependendo
da vontade circunstancial do legislador. Essa releitura processa-se através
da identificação dos argumentos racionais, que possibilitem a construção da
fundamentação dos direitos humanos em torno, também, de princípios u n i -
versais, frutos da razão humana.
A necessidade da determinação de normas de caráter universal, que
fundamentassem a ordem jurídica, fez com que se recorresse, na primeira
etapa dessa investigação, aos princípios gerais do direito a serem legitima-
dos pelo consenso da humanidade dita civilizada - mais ou menos o modelo
proposto por Rawls. Mas a relatividade das experiências jurídicas, afasta-
ram a possibilidade de dotar-se os princípios gerais do direito de u m con-
teúdo comum. Tornou-se evidente que os desafios colocados pelo processo
histórico à ordem jurídica, obrigavam à recuperação teórica da questão dos
fundamentos dos direitos humanos, como condição para se obter uma expli-
cação funcional e não uma fundamentação normativa do direito. Por essa ra-
zão, a construção dessa matriz conceptual não poderá consistir "na dedução
de u m dever-ser a partir de u m ser, de u m sollen a partir de u m sein, mas na
estruturação dessas normas a partir de uma visão do real indissociável de
4 5 0
P E R E L M A N , Chaim. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 395.
4 5 1
HÕFFE, Otfried. Príncipes du Droit. Op. cit, p. 91 e segs.
4 5 2
K A N T , Immanuel. Metaphysique des Moeurs, Ed.cit.. § B.
4 5 3
Ibidem. § C e conclusão da Ha. Parte.
4 5 4
Ibidem. § C .
4 5 5
N I N O , Carlos S. Ética y Derechos Humanos. Barcelona: Ariel, 1989, p. 45.
4 5 6
H A B E R M A S , Jürgen. La Paix Perpétuelle. O p . cit, p. 80.
H A B E R M A S , Jürgen. Droit et Démocratie, entre faits et norms Trad. Reiner Rochlitz. Paris: Gallimard.
4 5 7
p. 122. íjfl*.
4 5 8
Ibidem, p. 123.
5.9. Conclusões
J U L I E N , François. O Diálogo entre as Culturas. Do universal ao multiculturalismo. Trad. André Telles. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.
4 6 0
Ibidem, p. 15.
humano.
Mas, antes de adquirir esse caráter operacional, os direitos humanos,
considerados como conceito lógico, revelam a radicalidade que se encontra
presente em todas as culturas, e especificamente nas sociedades democráti-
cas, onde essa categoria de direitos revela dimensões originárias da pessoa.
Trata-se da expressão do homem naquilo que ele tem de mais essencial: des-
de o momento em que se considera o indivíduo como uma pessoa humana,
em todas as suas múltiplas inserções sociais e culturais, irrompe de forma
radical o dever-ser, como condição de possibilidade para a existência da pró-
pria sociedade. Por essa razão, os direitos humanos encontram-se presentes
em todas as manifestações humanas e com isto se constituem nos parâme-
tros unificadores, implícitos ou explícitos, dos temas abordados nas páginas
desse livro.
Vide a propósito da relação entre religião e direitos humanos, o instigante livro de PERRY, Michael J.
4 6 1