Você está na página 1de 139

WBA0588_v1.

TENDÊNCIAS DIGITAIS
EM FINANÇAS
© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida
de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou
qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Ricken Barbosa
Priscila Pereira Silva
Coordenador
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Revisor
Kelly Cristiane Iarosz
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Andrade, Ricardo Selas Vieira de
A553t Tendências digitais em finanças/ Ricardo Selas Vieira de
Andrade – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2018.
130 p.

ISBN 978-85-522-1058-0

1. Administração financeira. 2. Finanças. I. Andrade,


Ricardo Selas Vieira de. Título.

CDD 300
Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
TENDÊNCIAS DIGITAIS EM FINANÇAS

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina............................................................................. 4

Tema 1 .............................................................................................................. 6
Finanças no último Século

Tema 2 ............................................................................................................ 20
Mobilidade e Cloud

Tema 3 ............................................................................................................ 34
Fintechs e um novo espaço no mercado

Tema 4 ............................................................................................................ 53
Blockchain como segurança e novo modelo em transações

Tema 5 ............................................................................................................ 70
Criptomoedas como moedas virtuais

Tema 6 ............................................................................................................ 86
Inteligência artificial aplicada a finanças

Tema 7 .......................................................................................................... 102


negócios cognitivos que modelam o mercado

Tema 8 .......................................................................................................... 118


Capital humano: o fator não lógico das finanças

Tendências Digitais em Finanças 3


Apresentação da disciplina

Durante o último século, as evoluções e o desenvolvimento da socieda-


de pautaram e estabeleceram o capital como a motriz da sociedade. Nos
dias atuais, esse capital, que outrora era apenas tangível, passou a se tor-
nar intangível e de extrema mobilidade dado, principalmente, o desenvol-
vimento das TICs (tecnologias da informação e comunicação). Tal fator,
dentre muitos outros, trarão ainda mais mudanças naquilo que conhece-
mos como finanças.

Nesta disciplina, abordaremos diversos elementos que têm sido funda-


mentais para moldar um novo modelo de mercado, paradigma, relações
e interações em finanças. Os dispositivos e recursos digitais, os novos sof-
twares com capacidade de coleta e processamento de dados cada vez
maiores, a conectividade cada vez em maior escala e velocidade associa-
dos ao uso de inteligência artificial aplicadas a finanças estão provocando
transformações significativas na forma como as famílias, empresas e os
governos realizam suas operações financeiras, controle, desenvolvimento
de negócios e regulamentação.

Na Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo, há muito tempo o pregão


presencial de negociações das ações, títulos e mercadorias (commodities1)
não existe mais, sendo substituído por uma nova forma de negociação
via internet, o home broker, que é um sistema oferecido por muitas em-
presas para conectar seus usuários ao pregão eletrônico no mercado de
capitais e no mercado de private equity2, permitindo o envio de ordens de
compra e venda. Este é apenas um dos exemplos das tendências digitais
em finanças.

As áreas de finanças e economia serão abordadas para que possamos


entender os efeitos dos ciclos econômicos, de crescimento, recessão e
estagnação, na dinâmica das decisões financeiras das famílias, empresas
e governos, nas finanças, esses agentes buscam o máximo de benefício

4 Tendências Digitais em Finanças


por um esforço menor possível; na economia, os fatores emocionais e
psicológicos daqueles que precisam tomar decisões, pelos fatos históri-
cos que observaremos, em maior frequência tomam decisões não lógicas,
não racionais, muitas vezes por não conhecer cientificamente como as
informações disponíveis em grande escala podem contribuir na tomada
de decisão, para minimizar os riscos e maximizar os ganhos ou resulta-
dos desejados. Podemos denominar estes últimos fatores como fatores
não lógicos.

Por fim, teremos um vislumbre das novas formas de negócios que emer-
gem rapidamente com o avanço da tecnologia, comunicação e do conhe-
cimento no século XXI.

Tendências Digitais em Finanças 5


TEMA 1
FINANÇAS NO ÚLTIMO SÉCULO

Objetivos

• Apresentar alguns cenários econômicos do século


XX, entender como tais cenários geraram transfor-
mações na sociedade, economia e finanças, com a
convergência das tecnologias digitais aplicadas aos
negócios, principalmente na segunda metade deste
mesmo século.

Tendências Digitais em Finanças 6


Introdução

Para entender as finanças no século XX, vamos avaliar as causas e os


efeitos das maiores crises econômicas ocorridas neste período, a Quinta-
Feira Negra (em inglês, Black Thursday), referente ao dia 24 de outubro
de 1929, quando ocorreu o crash3 da Bolsa de Valores de Nova York, que
desencadeou a mais devastadora crise econômica da história dos Estados
Unidos, do ponto de vista da abrangência e da duração dos seus efeitos.

Outros crashes4, os choques do petróleo na década de 1970, o fim do


regime de câmbio fixo e o rompimento do lastro em ouro pelos Estados
Unidos em 1971, a outra década perdida que afetou boa parte da América
Latina com grau elevado de endividamento nos anos 1980, a hiperinfla-
ção no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, a economia japonesa num
longo período de recessão, chamada a década perdida do Japão em 1991,
a crise do México, derivada de déficits em conta corrente em 1994, a crise
asiática, provocada pelo endividamento acelerado de vários países da-
quele continente em 1997, que foi seguida pela crise da dívida russa em
1998 e, por fim, a bolha nas ações de empresas de internet e tecnologia
em 2000 (BOTELHO, 2018, p. 3).

Esses eventos econômicos geraram uma série de transformações, ruptu-


ras na política monetária, na forma de controle e regulação dos bancos
centrais, na gestão das instituições financeiras privadas e públicas, bem
como nas teorias econômicas que pressupõem que os agentes econô-
micos são racionais e que, portanto, tomam decisões que maximizam os
resultados, ganhos e/ou benefícios. Provocando um movimento de apro-
ximação da ciência econômica com outras áreas dos saberes, como a psi-
cologia na busca de um entendimento mais aderente aos eventos obser-
vados no século XX e também do futuro.

3
Falência.
4
Choques econômicos.

Tendências Digitais em Finanças 7


1. Ciclos econômicos de crise no século XX e seus
efeitos financeiros

Os ciclos econômicos são períodos de tempo de longo prazo. No Brasil,


longo prazo são períodos acima de 12 meses; em economias desenvolvi-
das, pode chegar a cinco anos, em que ocorrem flutuações abruptas na
atividade econômica. Os ciclos podem ser de crescimento, recessão ou
estagnação, por meio dos efeitos no volume de investimentos do gover-
no, gastos das famílias, consumo, exportação e importação de serviços e
produtos. Essa atividade econômica é medida pelo PIB – Produto Interno
Bruto, que é a riqueza gerada por um país em 1 (um) ano.

O PIB – Produto Interno Bruto é calculado da seguinte forma:

PIB = C + I + G + (X – M)

C = Consumo das famílias e empresas privadas

I = Investimentos realizados no período

G = Gastos do governo

X = Volume de exportações

M = Volume de importações

O conjunto dessas variáveis indica o nível de atividade econômica de um


país. Para cada ciclo econômico de crise apresentado abaixo, uma ou
mais variáveis que compõem o PIB foram diretamente impactadas nega-
tivamente; como todas essas variáveis estão correlacionadas, a partir de
uma, o efeito negativo é multiplicador, afetando todas as demais variáveis
também, em menor ou maior grau.

Retomando, o crash5 da Bolsa de Nova York em 1929, conhecido também


como a Quinta-Feira Negra, foi marcado por uma forte desvalorização
das ações em mais de 10%, depois de longos períodos de valorização, em
5
Quebra.

8 Tendências Digitais em Finanças


virtude dos significativos investimentos no mercado de capitais realizados
pelos americanos na década de 1920.

O volume de empréstimos tomados pelos americanos para investir no


mercado de ações era equivalente a mais da metade do dinheiro em cir-
culação nos Estados Unidos naquela época. As empresas públicas e pri-
vadas fazem ofertas de ações para captação de recursos, uma forma de
captar recursos de terceiros a um custo bem mais baixo do que os tradi-
cionais empréstimos bancários. Havia um volume de oferta elevado de
ações e poucos demandantes, fazendo com que os preços das ações ca-
íssem fortemente.

Nesse sentido, os investidores viram o valor de suas ações virarem pó,


nada, e o pânico tomou conta das pessoas, instituições bancárias, várias
indústrias, levando até ao suicídio de alguns investidores por verem suas
economias virarem nada.

Bancos quebraram, a indústria demitiu muitas pessoas e reduziu seu nível de


atividade quase pela metade. Um dos problemas da indústria era o seu gran-
de estoque de mercadorias, pois a indústria aumentava a sua produção, mas
o poder aquisitivo da população não crescia no mesmo nível. Mercadoria em
estoque parado é capital imobilizado, o grande volume de estoque levou a
um problema de liquidez na indústria, que também não estava mais conse-
guindo captar recursos no mercado de ações. Com o desemprego, quebra
dos bancos e da indústria, houve forte queda no consumo das famílias e
empresas, nos investimentos e nos gastos do governo, pela ótica do PIB, re-
sultando em uma baixa atividade econômica nos Estados Unidos.

ASSIMILE
Produto Interno Bruto – PIB, a riqueza gerada em um país no período
de um ano, mensurado em moeda corrente do país ou em % de va-
riação. Também podemos dizer que esse indicador macroeconômico
mede o nível de atividade econômica.

Tendências Digitais em Finanças 9


O PIB é constituído pelo consumo das famílias e empresas, investi-
mentos realizados no período, gastos do governo, volume de impor-
tações e volume de exportações. Sempre que dizemos que o cenário
econômico é de crise, significa que essas variáveis estão em trajetó-
ria decrescente, levando a um nível de atividade econômica baixo ou
negativo.

Exemplificando: veja abaixo a equação que representa como o PIB é


constituído pela ótica da demanda. Também o efeito de uma variável
na outra.

PIB = C + I + G + (X – M)

C = Consumo das famílias e das empresas

I = Investimentos realizados no período

G = Gastos do governo

X = Volume de exportações

M = Volume de importações

Quando o volume de exportações (X) é menor que o volume de im-


portações (M), denominamos esse resultado como déficit na balança
comercial. O déficit na balança comercial gera desemprego e queda
na produção interna de um país. A desvalorização do câmbio favorece
um maior volume de exportações, mas também gera inflação. Na po-
lítica monetária, as medidas que podem gerar desvalorização cambial
e inflação, denominamos de situações decisórias de trade-off (conflito
de escolha), pois tais medidas podem gerar efeitos positivos e negati-
vos na economia.

Os valores das ações não refletiam o valor real das empresas, isso é co-
nhecido como bolha. Vimos que a crise no mercado financeiro afeta tam-
bém o mercado real (bens e serviços). A regulamentação desse mercado
foi alterada, tendo como um dos objetivos impedir a especulação sobre
os preços das ações, para evitar novas bolhas. Com pouca integração dos

10 Tendências Digitais em Finanças


mercados de capitais entre os países, os efeitos dessa crise foi quase que
totalmente observado nos Estados Unidos.

Os choques do petróleo na década de 1970, durante a crise política no Irã,


elevaram os preços do petróleo no mundo, fazendo o barril do petróleo
aumentar de US$ 13 para US$ 34. Sendo a principal fonte da matriz ener-
gética do mundo, fez os índices de inflação aumentarem significativamen-
te nas nações, fazendo cair o nível de consumo das famílias e empresas,
além de gerar forte instabilidade no sistema monetário, que também fez
as taxas de juros básicos subirem na tentativa de controlar os preços ao
custo de uma menor atividade econômica. Outras fontes de energia pas-
sam a ser estudadas mais fortemente após essa crise.

O fim do regime de câmbio fixo e o rompimento do lastro em ouro pelos


Estados Unidos em 1971 fez com que várias nações, inclusive o Brasil, ti-
vessem que realizar a desindexação do valor de câmbio ao valor do ouro.
O valor do dólar era indexado ao valor do ouro, muitos chamavam de
dólar-ouro, e muitos países tinham suas dívidas também indexadas ao va-
lor do ouro. Essa mudança criou uma instabilidade monetária em muitos
países, que passaram a adotar o crawling peg, que é um regime de flutua-
ção cambial, baseado na paridade do poder de compra entres as nações.
A desvalorização cambial gera inflação, portanto, nessa crise, instalou-se
um problema de instabilidade de preços. No Brasil, os índices de inflação
chegaram a 19% ao ano nesse período, gerando problema no nível de
consumo das famílias e das empresas e no sistema monetário.

Nas outras crises, observamos problemas em virtude dos altos níveis de


endividamentos, altos níveis de poupança, no caso do Japão, e de especu-
lação nos preços das ações que levaram a crises na economia real (bens e
serviços), a década perdida que afetou boa parte da América Latina com
grau elevado de endividamento nos anos 1980, a hiperinflação no Brasil
entre as décadas de 1980 e 1990, a economia japonesa num longo perío-
do de recessão, chamada a década perdida do Japão em 1991, a crise do
México, derivada de déficits em conta corrente em 1994, a crise asiática,

Tendências Digitais em Finanças 11


provocada pelo endividamento acelerado de vários países daquele conti-
nente em 1997, que foi seguida pela crise da dívida russa em 1998 e, por
fim, a crise ocasionada por uma bolha nas ações de empresas de internet
e tecnologia em 2000.

Altos níveis de endividamento significam um nível de emissão de moeda


do governo superior à realização dos preços de produtos e serviços, fazen-
do a população perder poder de compra. No Japão, por exemplo, ocorreu
uma bolha nos preços das ações, as taxas de juros eram próximas de zero,
gerando um problema de liquidez para os bancos, os preços das ações e
terras triplicaram e o nível de poupança era elevado. Novamente, o valor
das ações não refletia o valor real dos ativos das empresas. No México, na
Ásia e Rússia, são os mesmos efeitos já mencionados sobre o consumo, e
por fim, novamente em 2000, bolha no mercado de ações.

PARA SABER MAIS


O objetivo do texto indicado aqui é apontar que as frequentes crises
na economia mundial, desde a década de 1970, não são expressões
corriqueiras de uma instabilidade capitalista, mas sinal de um colapso
da própria formação social burguesa. O sistema econômico capitalista
pressupõe em sua essência o individualismo, tendo como efeitos a
concentração de renda e desequilíbrios sociais relevantes. Mas dizer
que esse sistema econômico é em si mesmo crise não é suficiente
para entender a conjuntura econômica cíclica de crise. Para tal funda-
mentação e compreensão, foram desenvolvidos teoricamente cinco
processos que elucidam a ruptura estrutural que estão gerando as
crises econômicas atuais.

Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maraca-


nan/article/view/31274>. Acesso em: 21 mai. 2018.

Em todos esses cenários de crise, podemos verificar que os agentes eco-


nômicos nem sempre tomam decisões racionais, muitas são de cunho

12 Tendências Digitais em Finanças


emocional e/ou psicológico. Boa parte também sem ter o conhecimento
científico necessário para tomar a melhor decisão.

Na segunda metade do século XX, os computadores, as informações mais


integradas, com um nível de integração maior entre os mercados de capi-
tais, produtos e serviços entre as nações, em virtude da globalização, fa-
zem com que os efeitos das crises de um país gerem impactos negativos
em diversas outras nações. Os dados macroeconômicos de outros países,
dos resultados das empresas que estão em outros países, passam a ser
relevantes para os profissionais de finanças para a tomada de decisão na
gestão dos negócios. Principalmente no entendimento das causas e dos
efeitos dos eventos econômicos, também dos efeitos emocionais e psico-
lógicos das notícias sobre os governos e empresas, que geram instabilida-
des nos mercados de capitais.

Os dados de desempenho real das empresas e dos governos são mais


relevantes que as notícias, mas podemos verificar que as notícias causam
especulações e efeitos na economia real.

LINK
Na primeira metade do século XX, podemos identificar três classes bá-
sicas na sociedade: a capitalista, trabalhadora e profissional. Nesse
tempo, vemos que os profissionais assumem os empresários na ad-
ministração das empresas; a partir da década de 1980 desse mesmo
século, os capitalistas rentistas substituem aqueles que detêm o di-
reito de propriedade, donos dos ativos imobilizados das empresas.
Logo após surge uma nova classe de profissionais jovens que assu-
me também o papel de estrategistas dos rentistas, tendo como pre-
missa para tal a aplicação de conhecimento científico na gestão dos
negócios, os financistas. Disponível em: <http://www.scielo.br/scie-
lo.php?pid=S0103-40142018000100017&script=sci_arttext&tlng=pt>.
Acesso em: 25 mai. 2018

Tendências Digitais em Finanças 13


1.1 Aversão ao risco

Nas decisões de investimentos, cada agente econômico tem um perfil,


que podemos denominar como sendo conservador, moderado ou agres-
sivo. Em cada um dos perfis o investidor tem um nível diferente de aver-
são ao risco. O conservador tende a tomar decisões para investimentos
com menor risco possível e que oferecem um ganho um pouco acima da
inflação, o moderado tende a assumir um nível de risco maior, na tenta-
tiva de obter ganhos bem superiores à inflação e o agressivo tem grande
disposição de assumir riscos com o objetivo de obter ganhos extraordi-
nários. Estamos aqui no campo das finanças comportamentais, em que a
racionalidade, as emoções e a parte psicológica são indissociáveis para a
maioria dos agentes econômicos na tomada de decisão.

PARA SABER MAIS


os estudos de Finanças Comportamentais emergiram como
opção ao estudo do universo das decisões econômicas, fir-
mando um debate entre psicologia e a economia. Enquanto o
lado psicológico busca incessantemente pela alternativa que
traga o maior prazer com o mínimo de esforço, a economia
se esforça para manter a racionalidade e gerir os recursos
escassos e limitados. Fato é que as emoções tendem a des-
truir o equilíbrio primordial à tomada de decisões, e o fato de
não entenderem de forma científica e clara com o que estão
se deparando cria limites ao conhecimento (molduras cogni-
tivas). Os estudos recentes sobre Finanças Comportamentais
revelaram ainda que as irracionalidades advindas das emo-
ções ocorrem também em escolhas de financistas, economis-
tas e demais profissionais do mercado financeiro. Baseado
no estudo de Kahneman e Tversky (1997) Prospect Theory: An
Analysis of Decision under Risk, este trabalho buscou verificar

14 Tendências Digitais em Finanças


entre um grupo escolhido aleatoriamente o grau de aver-
são às perdas. Disponível em: <http://revistapuca.estacio.br/
index.php/papirussantacatarina/article/viewArticle/4045>.
Acesso em: 21 mai. 2018.

No mercado, existe ainda uma assimetria de informações, o que signifi-


ca que cada agente econômico pode estar tomando decisões de investi-
mento com bases diferentes de informações. Somados a isso, nem todos
têm o conhecimento científico necessário para tomar a melhor decisão
possível. Na crise de 1929, mencionada anteriormente, muitos america-
nos passaram a investir todas as suas economias no mercado de ações e
também passaram a tomar empréstimos nos bancos para comprar mais
ações, que ao longo da década de 1920 tiveram uma valorização expres-
siva. Na quebra da Bolsa, esses mesmos agentes econômicos viram suas
economias e seus investimos realizados com empréstimos bancários vi-
rarem nada.

Hipoteticamente, podemos afirmar que parte da decisão desses agentes


se baseou em informações assimétricas sobre os valores das ações, e que
outra parte não se baseia na racionalidade, mas, muito provavelmente,
nas emoções e no efeito psicológico gerado pelas altas valorizações nos
preços das ações antes de 1929.

A economia comportamental, usada de forma mais ampla que as finan-


ças comportamentais, enxerga, contrapondo a visão tradicional, que a re-
alidade, uma vez formada por pessoas, além de levar em consideração a
teoria aprendida, decide, com base em hábitos, experiências em proble-
mas parecidos e história de vida. Kahneman e Tversky (1979) citam que
as pessoas, no geral, são imediatistas, aceitam soluções satisfatórias em
vez de ótimas, não visualizam o longo prazo e são influenciadas sobre-
maneira por fatores emocionais e psicológicos. Assim, os estudiosos do
campo comportamental procuram entender como essas manifestações

Tendências Digitais em Finanças 15


psicológicas e emocionais, tomadas de forma consciente ou inconsciente,
afetam o ser humano em geral (OLIVEIRA; MONTIBELER, 2017).

Os conceitos econômicos tradicionais sugerem que os investidores arris-


quem quando estão ganhando, fazendo suas posições serem mantidas,
e falam que sejam prevenidos, avessos ao risco quando estão em perda,
desfazendo assim suas posições. Contrariando essa lógica, pela ótica das
Finanças Comportamentais, o investidor é avesso às perdas em momen-
tos de prejuízo (OLIVEIRA; MONTIBELER, 2017).

Na crise de 1929, vemos claramente que os investidores tentavam vender


suas posições para realizar o menor prejuízo possível, demonstrando de
fato que os investidores são avessos às perdas em momentos de pre-
juízos. Mesmo que a possibilidade de ganho seja proporcional à chan-
ce de perda.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

[ Qual é o fator não lógico das finanças?

2. Considerações Finais
• Você aprendeu que em economia existem ciclos que são períodos de
tempo nos quais são observados estágios de crescimento, recessão
ou estagnação: no crescimento, a variação da atividade econômi-
ca é positiva; na recessão, é negativa; e na estagnação, podemos
observar uma variação negativa com os níveis de inflação altos,
denominado como estagflação.

• Mercado de capitais: títulos que representam parte do valor de uma


empresa, que seu preço varia de acordo com o valor da empresa, ou
seja, a partir dos resultados financeiros que a empresa apresenta.
Esse valor também pode ser especulativo, não refletindo o real valor
da empresa, nesse caso, chamamos essa situação de bolha.

16 Tendências Digitais em Finanças


• Agentes econômicos: nos cenários de crises econômicas do sécu-
lo XX, observamos que nem sempre os agentes econômicos são
racionais em suas tomadas de decisão, contraindo algumas teorias
econômicas de que os agentes econômicos são racionais e tomam
as decisões que maximizam seus ganhos.

• Aversão ao risco: cada investidor tem um grau diferente de dispo-


sição para assumir riscos de perder, que os investidores, mesmo
aqueles que são profissionais, tomam muitas decisões baseadas
nas emoções e nos efeitos psicológicos que as informações podem
criar. Baseando-se muitas vezes nas notícias a resultados reais das
empresas e governos.

Glossário

• PIB: Produto Interno Bruto.

• Trade-off: conflito de escolha.

• Finanças comportamentais: decisões com base em hábitos, ex-


periências, história de vida e emoções.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. O que é private equity?
a) Investimentos em participação no capital de giro.
b) Investimentos em participação no capital intangível
das empresas.
c) Investimentos em participação no capital humano
das empresas.

Tendências Digitais em Finanças 17


d) Investimentos em participação no capital privado das
empresas.
e) Todas estão corretas.

2. O que é PIB?
a) Produto Interno Bruno.
b) Produto Internacional Brics.
c) Produto Intervenção Brasileiro.
d) Produto Interno Brasil.
e) Parte Interna Bic.

3. O que é crawling peg?


a) É um regime de flutuação cambial baseado no preço
do ouro.
b) É um regime de flutuação cambial baseado na pari-
dade do poder de venda entres as nações.
c) É um regime de flutuação cambial baseado no mer-
cado de capitais.
d) É um regime de flutuação cambial baseado no poder
militar das nações.
e) É um regime de flutuação cambial baseado na pari-
dade do poder de compra entres as nações.

Referências Bibliográficas

BOTELHO, M. L. Entre as crises e o colapso: cinco notas sobre a falência estrutural do


capitalismo. Revista Maracanan, n. 18, 2018. Disponível em: <http://www.e-publi-
cacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/31274>. Acesso em: 21 mai. 2018.
OLIVEIRA, J. N.; MONTIBELER, E. E. Finanças comportamentais: um estudo sobre a aver-
são à perda na tomada de decisão. Revista Eletrônica Estácio Papirus, vol. 4, n. 2,
2017. Disponível em: <http://revistapuca.estacio.br/index.php/papirussantacatarina/

18 Tendências Digitais em Finanças


article/viewArticle/4045>. Acesso em: 21 mai. 2018.
PEREIRA, L. C. B. Capitalismo financeiro-rentista. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142018000100017&script=sci_arttext&tlng=pt>.
Acesso em: 25 mai. 2018.

Gabarito – Tema 01

Questão 1 – Alternativa D: é a compra de parte do capital privado


de uma empresa, que permite o direito de participação nas decisões
da administração e ganhos de capital baseados nos resultados da
empresa.

Questão 2 – Alternativa A: é o Produto Interno Bruto, a riqueza ge-


rada por uma nação, no período de 12 meses, medida em moeda lo-
cal ou em variação percentual. Esse é um indicador macroeconômico
de atividade econômica de um país.

Questão 3 – Alternativa E: é um regime de flutuação cambial base-


ado na paridade do poder de compra entres as nações. Conhecida
como PPC, a paridade do poder de compra se mede a partir da razão
entre os índices de inflação de duas nações, na mesma base de men-
suração, por exemplo, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) dos
Estados Unidos/ IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do Brasil, o
resultado chama-se paridade do poder de compra. Cada índice deste
tem uma cesta de produtos e serviços consumido por cada nação.
Seria como dizer que, com o valor de uma cesta de produtos e servi-
ços do Brasil, posso comprar uma cesta de produtos e serviços dos
Estados Unidos, assim o câmbio seria igual a 1,00.

Tendências Digitais em Finanças 19


TEMA 2
MOBILIDADE E CLOUD

Objetivos

• Observar as transformações na área de finanças


desde a segunda metade do século XX até os dias
atuais, como também olhar para o futuro dessa área
a partir das convergências de tecnologias digitais já
aplicáveis e, também, as emergentes. Essa disrupção
digital que possibilita o acesso a um volume de infor-
mações sem precedentes, cerca de 2,5 quintilhões de
bytes de dados todos os dias1, mas que tem o desafio
de estruturar os dados para que possam ser anali-
sados, de forma que seja possível a identificação de
oportunidades de novos negócios. Verificar como as
tecnologias digitais estão gerando mais mobilidade e
como a computação em nuvem (Cloud) está gerando
uma nova dinâmica de trabalho que exige um novo
perfil profissional de finanças, com o uso da ciência
de dados.

1
IBM. What is Big Data? Disponível em: <https://www-01. ibm.com/software/data/big-
data/what-is- big-data.html>. Acesso em: 7 jun. 2018.

20 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

Nas décadas de 1950 e 1960, o uso de mainframe2 dominou a área de


tecnologia da informação em grandes corporações. Esses computadores
de grande porte são capazes de oferecer serviços de processamento de
dados a milhares de usuários por meio de milhares de terminais conec-
tados diretamente ou por meio de uma rede. Também foram usados em
guerras, para realização de cálculos balísticos.

Como o mainframe exigia um grande espaço físico para ser instalado,


poucos anos depois, o avanço tecnológico trouxe o PC (do inglês, personal
computer), com servidores de menor porte, que começou a substituir es-
ses grandes computadores. Atualmente, o mainframe ainda é usado, mas
em versões fisicamente menores.

Nos anos de 1980 surge a internet, que é um sistema global de redes


de computadores interligados. Nesse período, a internet é usada mais
pela área acadêmica. Já na década de 1990, passa a ser comercializada de
forma ampla.

Na segunda metade do século XX e também início do século XXI, os siste-


mas de gestão das empresas públicas e privadas ainda continuam sendo
legados, ou seja, exigem grandes estruturas de hardware locais, compra
do sistema de fornecedores exclusivos para mantê-los funcionando e su-
porte de manutenção e desenvolvimento de novas versões que atendem
às necessidades do negócio. Em outras palavras, exigem grande volume
de investimentos em hardware, software e serviços de suporte presencial
e a distância.

Nesta primeira metade do século XXI, surge a computação na nuvem


(cloud), que são serviços de processamento de dados, sistemas de ges-
tão, ofertados por provedores que podem ser privados ou públicos, que
permitem o acesso de qualquer lugar, via internet. Esse serviço torna as
2
Computador de grande porte.

Tendências Digitais em Finanças 21


operações das empresas mais baratas, possibilitando a mobilidade dos
profissionais, como, por exemplo, o trabalho home office (escritório em
casa), além de armazenamento de grande volume de dados.

Esse grande volume de dados e informações disponibilizado diariamente


traz um grande desafio aos profissionais de finanças e de tecnologia: es-
truturação para análise científica, de modo a gerar novas oportunidades e
desenvolvimento de negócios. Antes, novos produtos e serviços lançados
tinham vida útil de meses ou anos; atualmente, muitos surgem e acabam
em algumas horas. Fatores emocionais e psicológicos dos consumidores
são cada vez mais estudados em economia e finanças para geração e es-
tabelecimento de negócios perenes.

1. Mobilidade

Mobilidade é a característica do que é móvel, que tem a capacidade de


se movimentar. Para os objetivos propostos aqui, a mobilidade que será
abordada é aquela gerada pela tecnologia e dispositivos digitais com foco
na área de finanças. Quando um comerciante sumério registrou pela pri-
meira vez a venda de gado em uma tábua de argila, nasceu a primeira
tecnologia voltada aos negócios. Hoje, 5 mil anos depois, essa antiga tec-
nologia evoluiu para uma nova classe de ferramentas digitais que estão
redefinindo quase todos os aspectos do negócio3.

As tecnologias disruptivas, como cloud e outras, é uma das tendências


digitais que estão mudando o modo como os negócios são feitos, tam-
bém o que passa a ser exigido e como os profissionais de diversas áreas
devem atuar para manter sua empregabilidade e os negócios perenes.
Todos os profissionais de finanças precisam entender que o mundo con-
tinuará a se mover com maior velocidade, preparando-se para atender a
3
DELOITTE. Hora decisiva – finanças em um mundo digital. Disponível em: <http://www.deloitte.com.br/pu-
blicacoes/2007/CFO-crunch_time-livreto.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018.

22 Tendências Digitais em Finanças


demandas de negócios que ainda não existem. Os líderes de outras áre-
as podem não entender tudo sobre finanças, contabilidade e economia,
mas sabem que precisam gerar caixa, entender os indicadores-chaves do
negócio, cumprir metas, etc., e a área financeira precisa estar preparada
para atender a essas demandas, com informações e contribuições que
possam criar valor para o negócio.

Os ativos fixos das empresas no século XX eram considerados uma das


principais fontes de valor para os negócios. Já na segunda metade do sé-
culo XX, percebe-se que o conhecimento gera valor tangível e valor intan-
gível para as organizações. O valor intangível pode ser gerado a partir da
proposta de valor (não monetário) para os produtos e serviços ofertados
pelas empresas; essa proposta de valor, criada a partir das necessidades
dos consumidores, gera, por sua vez, valor real/monetário. As necessi-
dades dos clientes precisam ser identificadas por meio de pesquisas, in-
clusive empíricas, também de dados históricos, que possam evidenciar
padrões de consumo.

Para exemplificar, vamos nos lembrar das propagandas dos achocolatados


Nescau e Toddy. A proposta de valor do Nescau é “energia que dá gosto”,
“muita força para sua energia”, com imagens de um jovem andando de ska-
te e fazendo manobras radicais. Para pensar nessa propaganda, mães fo-
ram entrevistadas para saber delas o que achavam desse achocolatado, se
era a marca preferida e por que, quantas vezes ao dia seus filhos tomavam
leite com achocolatado e também entender que esporte pelo qual os jo-
vens tinham preferência. O skate foi escolhido, pois acreditava-se que a as-
sociação com o produto daria muito certo entre os jovens. Já a propaganda
do Toddy era “todo herói sabe o que faz”, Toddy “sabor que alimenta”, com
imagens de vacas trazendo a mensagem que tomando o leite da vaca mais
um pó mágico, o indivíduo iria crescer. As duas vacas aparecem tomando
Toddy e caindo no rock. A mensagem trazia a ideia cool para os jovens. As
mães também foram fontes da pesquisa, esta nova propaganda foi criada
para trazer o valor de modernidade para o produto.

Tendências Digitais em Finanças 23


Mas o Nescau sempre era líder de mercado e a área de publicidade e propa-
ganda da Toddy não estava conseguindo identificar o que fazia o Nescau ser
o líder, mesmo com preço mais elevado. O Toddy se tornou mais caro, para
enviar a mensagem de que também era/é um produto de qualidade. Mas
essa estratégia não estava funcionando, nem a propaganda e nem o preço.

Com base nas pesquisas com as mães, identificaram que as mães compra-
vam o Nescau porque tomaram na infância e repassavam aos filhos que
o Nescau era o melhor achocolatado, comprando esse produto mesmo
sendo mais caro. Decidiram então avaliar a posição e o volume de Toddy
expostos nas gôndolas dos mercados. Perceberam que o Toddy era pouco
encontrado nos mercados e demais pontos de vendas dos achocolatados.
Passaram, então, a adotar uma nova estratégia de distribuição nas gôn-
dolas dos mercados, mantendo um preço mais caro e criaram também
uma nova propaganda, pois as vacas para os jovens das grandes cidades
era algo distante, o que não criava uma boa associação com o produto,
mesmo sendo de boa qualidade.

A ideia da distribuição era a de usar a mesma estratégia da exposição de


pilhas, que são encontradas em diversos lugares e pontos estratégicos
que fazem as pessoas lembrarem da necessidade de compra ou criam
a necessidade de compra. Os achocolatados em latas maiores fazem as
pessoas consumirem mais rapidamente, assim como o requeijão, pois
quando temos bastante, passamos em quantidades maiores sobre as bo-
lachas e os pães. Produzir em latas maiores também foi uma das medidas
estratégicas para vender um volume maior de achocolatado, com base
nesse padrão de consumo.

Enfim, com essas mudanças estratégicas, o achocolatado Toddy passou a


ser líder de mercado por muito tempo4. Veja como as pesquisas, a estru-
turação de dados, a pesquisa empírica e a ciência de dados foram utiliza-
dos para que um produto possa se tornar líder de mercado.

4
Executivo da Toddy que trabalhou na área de marketing, contribuiu com essas informações, mas não auto-
rizou a divulgação de seu nome.

24 Tendências Digitais em Finanças


Nesse exemplo, ainda não foi considerada a possibilidade de compras
on-line, sem a necessidade de ir ao mercado. O que anula o efeito das
gôndolas para quem compra sempre on-line.

2. A inteligência aplicada aos dados e o novo perfil do


profissional de finanças

A explosão no volume de dados inunda o mundo dos negócios pelas mí-


dias sociais, big data e internet, com avaliação de consumidores que antes
eram apenas presentes nas gôndolas do mercado, única ocasião em que
pedíamos uma opinião para a compra de um produto não consumido an-
tes ou não preferido. Os 2,5 quintilhões de bytes de dados todos os dias,
em imagens, textos e vídeos, trazem o desafio de estruturação e entendi-
mento desses dados para identificar oportunidades de negócios.

Um dos modelos estatísticos mais usados para esse fim é o modelo do


método de mínimos quadrados ordinários (regressão). Um modelo es-
tatístico que, a partir de dados históricos, permite entender o passado e
projetar o futuro, podendo ser usado para o fluxo de caixa, padrões de
consumo das famílias, etc. Nesse modelo, uma variável dependente é de-
finida e algumas variáveis independentes são selecionadas também para
compor os cálculos realizados por esse modelo. A projeção é sempre óti-
ma nesse método, ou seja, a que mais se aproxima da realidade.

PARA SABER MAIS


Neste artigo, explica-se o método de mínimos quadrados ordinários,
utilizado amplamente em estudos de econometria e outras áreas do
conhecimento. Os médicos foram os principais profissionais que con-
tribuíram para o desenvolvimento desse método de análise do passa-
do e para construção de projeções de diversos tipos de dados.

Tendências Digitais em Finanças 25


É o método que melhor se ajusta aos dados reais, tendo como resul-
tados a menor variância ou termo de erro em relação aos dados reais.
Quando aplicado para estudos nas áreas de ciências humanas, o grau
de acerto em relação ao futuro torna-se desafiador, ou com margens
de acerto menores, sendo necessária a integração de outras ciências
para melhor entender e projetar os fenômenos ou eventos objetos
da pesquisa. Disponível em: <http://repositorio.ufba.br/ri/handle/
ri/25329>. Acesso em: 8 jun. 2018.

ASSIMILE
Método de mínimos quadrados ordinários: modelo estatístico que
permite avaliar o passado e projetar o futuro, com base em dados ma-
croeconômicos, quando aplicado em econometria, permitindo uma
projeção ótima, ou seja, a projeção mais próxima da realidade. Usado
também em medicina, marketing, publicidade e psicologia. É conheci-
do também como regressão.

EXEMPLIFICANDO
Método de mínimos quadrados ordinários: onde Y é a variável depen-
dente, B1, B2 e B3 são as variáveis independentes e e é o termo de
erro (diferença entre a projeção e o dado real). As variáveis indepen-
dentes explicam a variação da variável dependente Y. O grau de expli-
cação do modelo para a variável Y é representado pelo R2. Exemplo:
as variáveis B1, B2 e B3 explicam 95% das variações ocorridas em Y.
Então o R2 é igual a 95%. Y aqui poderia ser o consumo das famílias e
B1 = taxa básica de juros, B2 = renda e B3 = investimentos do governo.

Como exemplo, veja o modelo abaixo:

Y = B1 + B2 + B3 – e

26 Tendências Digitais em Finanças


Y = Consumo das famílias

B1 = Taxa básica de juros

B2 = Renda

B3 = Investimentos do governo

e = Termo de erro (diferença entre o dado real e o dado projetado)

Para esta análise, é necessária uma amostra mínima de 30 dados de cada


variável, pode ser de 30 dias, dados mensais de 2 anos e 6 meses, etc.,
para que as distribuições dos dados tendam a ter uma distribuição de
probabilidade normal, evitando vieses na pesquisa. Neste modelo, a va-
riável Y é a variável dependente, e B1, B2 e B3, as variáveis independen-
tes modelo. Ou seja, Y depende das variações ocorridas em B1, B2 e B3.
Essas variáveis foram selecionadas com base em conhecimento das ciên-
cias econômicas.

Esse modelo permite entender os padrões de consumo das famílias no


passado e projetar o consumo das famílias no futuro, a partir de dados
macroeconômicos, que resulta em dados quantitativos. Mas também é
possível inserir uma variável binária para captar informações qualitativas,
por exemplo, para a pergunta: “Você gosta de azul ou verde?”, no modelo,
podemos considerar 0 para azul e 1 para verde. Na pesquisa para a com-
pra de carros, pode-se usar essa variável binária.

Atualmente, o quanto as equipes de finanças estão preparadas para utili-


zar esse tipo de ferramenta, entender e contribuir com as demais áreas da
empresa, para projetar o orçamento, fluxo de caixa, vendas, investimen-
tos, etc.? Em bancos, isso tem maior concentração nos departamentos de
pesquisa macroeconômica. A Ambev é um exemplo considerado outlier,
pois, recentemente, criou um departamento para estudo da elasticidade
da demanda, que usa o método apresentado acima.

Vejam que com a mobilidade criada pelas tecnologias digitais na área de


finanças e no mundo dos negócios, um novo perfil profissional de finanças

Tendências Digitais em Finanças 27


surge, que exige novas habilidades, uso da ciência de dados e parceria
com todas as áreas da empresa. Os treinamentos podem ajudar, mas
pode haver a necessidade de recrutar novos talentos.

LINK
a construção global de estilos de vida que correspondem aos trabalha-
dores produziu uma identidade e condições específicas dessa classe
social, que podem corresponder ao atual cenário do sistema econômi-
co capitalista, resultando em pressupostos de habilidades que geram
uma reivindicação ao nomadismo (MAFFESOLI, 2001).

Disponível em: <http://revistacomsoc.pt/index.php/cecs_ebooks/arti-


cle/view/2878>. Acesso em: 8 jun. 2018.

2.1 Cloud (computação na nuvem)

Retomando a discussão acerca da mobilidade, a tecnologia cloud pode


ser ofertada por provedores privados ou públicos, são serviços de proces-
samento de dados, podendo ser acessado por qualquer dispositivo digi-
tal conectado à internet. Deixando de ser necessário uma empresa fazer
investimentos em estruturas de hardware e software legados, ou seja, de
fornecedores exclusivos, que exigem a compra de licenças e que realizam
manutenções, atualizações, suporte e desenvolvimento de novos relató-
rios e processos para atender às necessidades do negócio.

Com a computação na nuvem, os investimentos são menores e a mobili-


dade para o negócio e para os profissionais são viabilizadas. Permitindo,
por exemplo, à empresa fazer um manejo desses investimentos em co-
nhecimento e treinamento de seus profissionais na busca de geração de
valor para o negócio.

A familiaridade dos CFOs (executivos de finanças) pesquisados com essa tecno-


logia é baixa, apenas 4% dizem utilizar essas tecnologias digitais emergentes5.
5
The CFO program CFO Signals TM

28 Tendências Digitais em Finanças


PARA SABER MAIS
Neste artigo, são abordados tópicos de segurança na cloud e alguns
problemas que podem ser encontrados para sua implementação, com
uma pequena introdução ao que é cloud computing, com foco na se-
gurança de dados. Ao final, são colocados exemplos de problemas
que a cloud pode gerar em uma cadeia de serviços, na migração para
essa nova tecnologia.

Disponível em: <http://www.dcomp.sor.ufscar.br/verdi/topicosCloud/


Artigo-Seguranca-Cloud.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2018.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


• Como deve ser o novo profissional de finanças?

• O que a mobilidade e cloud geram nos negócios?

• A ciência de dados nos negócios é importante? Por quê?

3. Considerações Finais

• Mobilidade é a característica do que é móvel, que tem a capacidade de


se movimentar. O registro contábil em fichas de papel, com as colunas
de débito e crédito, foi uma das tecnologias recentes utilizadas que
evoluiu para uma nova classe de ferramentas digitais que estão redefi-
nindo quase todos os aspectos do negócio, permitindo esses registros
de forma automática pelos sistemas de gestão, a partir de cada opera-
ção de venda, compra, etc., da empresa. E ainda com possibilidade de
realização desses registros por computação em nuvem, pela prestação
de serviços de provedores públicos e privados, extinguindo a necessi-
dade de vários tipos de negócios terem um local físico para existir.

Tendências Digitais em Finanças 29


• A tecnologia cloud pode ser ofertada por provedores privados ou
públicos, são serviços de processamento de dados, podendo ser
acessados por qualquer dispositivo digital conectado à internet.
Deixando de ser necessário uma empresa fazer investimentos em
estruturas de hardware e software legados, ou seja, de fornece-
dores exclusivos, que exigem a compra de licenças e que realizam
manutenções, atualizações, suporte e desenvolvimento de novos
relatórios e processos para atender às necessidades do negócio.

• A ciência de dados, uma competência essencial para os novos pro-


fissionais de finanças e negócios, possibilitando aos profissionais a
estruturação de dados, análise e identificação de novas oportunida-
des para o negócio. O uso da econometria ou método de mínimos
quadrados ordinários é um exemplo de ferramenta para esse fim.

• As tecnologias digitais, como o cloud (computação na nuvem), permi-


te a mobilidade nos negócios para os profissionais e consumidores. A
internet das coisas também. Gera a possibilidade de a empresa atuar
em uma extensão de mercado muitas vezes maior que os negócios
em locais físicos exclusivamente. Com essas tecnologias, vemos sur-
girem muitas empresas híbridas que têm um local físico e também
realizam os mesmos negócios via web. Até mesmo roupas são vendi-
das pela web, o que recentemente não se imaginava que daria certo.

Glossário

• Mobilidade: característica do que é móvel, que tem a capacidade


de se movimentar. Com o uso de dispositivos e recursos digitais.

• Cloud: computação em nuvem.

• Regressão: modelo estatístico para realizar projeções e avaliar o


passado. Exemplo: consumo das famílias.

30 Tendências Digitais em Finanças


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. O que é a ciência de dados?
a) É o conhecimento e a capacidade de estruturar dados
dos negócios, analisar e identificar oportunidades de
novos negócios.
b) É saber o que são dados.
c) É a ciência de todos os saberes.
d) É analisar o clima organizacional.
e) É saber tudo sobre uma empresa.

2. O que é cloud?
a) É um computador gigante.
b) Tecnologia analógica.
c) É um investimento em Bolsa de Valores.
d) Computação em nuvem.
e) É perenizar um negócio.

3. O que é mobilidade?
a) Um lugar físico.

b) Um costume.

c) Um grupo de coisas úteis.

d) Uma espécie de animal.

e) Característica do que é móvel, com capacidade de se


movimentar.

Tendências Digitais em Finanças 31


Referências Bibliográficas

DELOITTE. Hora decisiva – finanças em um mundo digital. Disponível em: <http://


www.deloitte.com.br/publicacoes/2007/CFO-crunch_time-livreto.pdf>. Acesso em: 9
mai. 2018.
MATOS, P. Nómadas digitais e a era dos sujeitos móveis: questões de mobilidade,
comunicação e trabalho num estilo de vida location independent. 2018. In: ARAÚJO,
E.;, RIBEIRO, R.; ANDRADE, P.; COSTA, R. (Ed.). Viver em/a mobilidade: rumo a novas
culturas de tempo, espaço e distância. Livro de atas (p. 36-48). Braga: CECS.
SANTOS, L. A. N. dos. Mínimos quadrados ordinários (MQO) na produção cientí-
fica brasileira: a interdisciplinaridade entre a econometria e as metrias da informa-
ção (bibliometria, informetria e cientometria). Dissertação (doutorado em Ciência da
Informação) – Repositório Institucional da UFBA. 2018. Disponível em: <http://reposi-
torio.ufba.br/ri/handle/ri/25329>. Acesso em: 8 jun. 2018.
ZANUTO, B. G. Segurança em Cloud Computing. Disponível em: <http://www.
dcomp.sor.ufscar.br/verdi/topicosCloud/Artigo-Seguranca-Cloud.pdf>. Acesso em: 8
jun. 2018.

Gabarito – Tema 02

Questão 1 – Alternativa A: usar as ferramentas, como o modelo de


regressão (estatístico), de forma aplicada aos negócios. Com base
no conhecimento científico nas áreas de economia, contabilidade, fi-
nanças, marketing, medicina, etc., com o objetivo de identificar novas
oportunidades de negócios, no caso da medicina, avaliar a condição
respiratória do paciente com a espirometria (regressão); em marke-
ting, para análise de viabilidade de novos investimentos nessa área
da empresa, etc. Realizando antes pesquisas quantitativas e qualita-
tivas para coleta de dados para inserir no modelo de regressão.

Questão 2 – Alternativa D: provedores públicos ou privados que,

32 Tendências Digitais em Finanças


conectados à internet, oferecem serviços de processamento de da-
dos a um custo mais baixo para as empresas, eliminando parte dos
investimentos em hardware e software. Além de gerar mobilidade
para o negócio e ampliar a extensão de mercado que atua, via web.

Questão 3 – Alternativa E: mobilidade é a característica do que é mó-


vel, que tem a capacidade de se movimentar. Com o uso de dispositivo
digital conectado à internet aplicado aos negócios. Em finanças, pode-
mos citar o home broker, sistema conectado à internet para a compra e
venda de ações. Permite que um investidor no Brasil compre, via web,
um título de empresa americana na bolsa de Nova York.

Tendências Digitais em Finanças 33


TEMA 3
FINTECHS E UM NOVO ESPAÇO NO
MERCADO

Objetivos

• Entender as transformações que ocorrem na presta-


ção dos serviços financeiros, a partir da evolução do
setor bancário e financeiro, do comportamento do
consumidor e também do avanço tecnológico; obser-
var o surgimento das fintechs, a quebra de paradigmas
na nova forma de prestação de serviços financeiros e
as características dos nativos digitais e geração millen-
nials, que não tem mais a percepção acerca do valor
de ir a uma agência bancária para demandar servi-
ços financeiros; e, por último, discutir um modelo de
negócio que possa atender aos desejos dos consumi-
dores, com base em pesquisa de comportamento.

34 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

Com o fim do padrão-ouro, em que o dólar e grande parte das transações


financeiras no mundo tinham suas operações indexadas e lastreadas ao
preço do ouro e também ao padrão libra-ouro, as operações financeiras
no mundo passaram a ser feitas com base em diversas moedas (mas ain-
da com a liderança do dólar).

Principalmente a partir de 1970, em diversos países, e posteriormente o


acordo de Basileia de 1988 – que passou a exigir um capital mínimo para
as instituições operarem, o menor grau de regulamentação do mercado
financeiro tinha como objetivos diminuir a concentração bancária, equa-
lizando a competição entre os bancos e reduzir os riscos de crédito. Mas
Allen e Gale (2003) afirmam que os efeitos da regulação da concorrência
e na estabilidade financeira é complexo e multifacetado.

Não obstante, as barreiras à entrada no mercado financeiro diminuíram


em função dos avanços tecnológicos, regulatórios e institucionais. Tais
avanços possibilitam o surgimento de fontes alternativas de financiamen-
to e liberdade no trânsito de capitais, reduzindo o monopólio da informa-
ção e criando novos canais entre credores e devedores. Em contrapartida,
o surgimento de grandes conglomerados financeiros pode alterar o nível
de competição do setor bancário, dado que os ganhos de escala e esco-
po, a representatividade dentro do mercado e sua interdependência com
todo o sistema acarretam uma consistente barreira de entrada a novos
agentes no mercado (MARTINS, 2011).

Entretanto, alguns fatores vêm possibilitando que algumas característi-


cas do setor bancário se alterem. O principal deles é a popularização dos
smartphones. O dispositivo criou um novo paradigma de pagamento, in-
vestimentos, consultas, segurança, etc., e possibilitou a personalização do
serviço ao cliente. A vantagem competitiva dos bancos da presença física
da rede de agências foi completamente reduzida.

Tendências Digitais em Finanças 35


As melhores redes de dados móveis possibilitaram ao mercado desen-
volver novas plataformas de negócios para seus clientes. As facilidades e
vantagens percebidas pelos clientes criaram um processo de desenvolvi-
mento acelerado e de concorrência no ambiente de negócios das institui-
ções bancárias e financeiras. As novas empresas de tecnologia aplicadas
aos serviços financeiros, as fintechs, propõem um novo modelo de negó-
cio, com custos operacionais baixos e taxas de serviços mais baratas aos
clientes, com o uso de alta tecnologia digital em grande escala.

Esse novo modelo de negócio tem como base a tecnologia disponível e


iniciativas fundamentadas no comportamento e desejos dos clientes,
com foco em uma melhor experiência dos clientes e não em produtos
e serviços ofertados pelos bancos. As fintechs têm um papel importante
nesse processo de desenvolvimento de um novo modelo de negócio em
serviços financeiros, em parceria com os bancos.

Os bancos que não implementarem essas mudanças inovadoras estarão


com alto risco de perderem participação de mercado para a concorrên-
cia. Um dos principais fatores de concorrência nesse mercado é o preço
(tarifas e juros), já que a implementação dessas tecnologias permite ope-
rações com baixo custo aos clientes e sem a necessidade de agências físi-
cas, que também produz o efeito de menores custos e despesas para as
instituições financeiras.

1. Fintechs

A disrupção gerada pelo avanço das tecnologias digitais está desconstruin-


do o modelo tradicional de prestação de serviços financeiros. Nesse mo-
mento de transição, é possível ainda observar um modelo híbrido em di-
versas instituições financeiras, operando o tradicional com o novo modelo.

Vamos entender o que é uma fintech, também como se está desenhan-


do esse novo modelo de negócio, com a aplicação de novas tecnologias

36 Tendências Digitais em Finanças


digitais aos serviços financeiros. Baseado em desejos e características de
uma geração que não acredita em instituições, mas acredita em pessoas,
e que são nativos digitais, ou a geração millennials1.

Segundo o FintechLab (2016, s/p.) fintechs são definidas como:


São iniciativas que aliam tecnologia e serviços financeiros trazendo inova-
ções para pessoas e empresas. Isso se reflete em: melhores jornadas de
utilização de produtos e serviços que trazem melhores experiências de uso;
geração de inteligência a partir de volumes inimagináveis de dados e do
conhecimento coletivo para otimizar as decisões; e integração dos diferen-
tes elos do mercado de maneira muito mais eficiente, com menos falhas
operacionais aumentando a velocidade de transações e reduzindo custos.

A associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), em sua definição de fin-


techs, considera que empresas, para serem denominadas dessa forma,
necessitam ter as seguintes características: base tecnológica intensiva,
modelo de negócio altamente escalável e oferecer produtos na área fi-
nanceira (BARBOSA, 2018).

ASSIMILE
Fintechs: uma nova tecnologia aplicada inicialmente para serviços fi-
nanceiros, que proporciona uma experiência inovadora para pesso-
as e empresas. Além de melhor experiência de consumo, é capaz de
estruturar um volume de dados sem precedentes com inteligência
artificial que resulta em menores custos de transações e com menos
falhas operacionais.

Segundo Menat (2017, p.10), “[...] o nascimento e a ascensão das finte-


chs estão profundamente enraizados na crise financeira e na erosão da
confiança que ela gerou [...]”. E o crescimento dessas empresas é muito
expressivo. Segundo a revista britânica The Economist (2015), entre 2013 e
2014, o valor investido em empresas de tecnologia direcionadas ao setor
1
Geração milênio, jovens de 18 a 34 anos.

Tendências Digitais em Finanças 37


financeiro aumentou de aproximadamente US$ 4 bilhões para próximo
de US$ 12 bilhões no mundo inteiro.

O crescimento elevado dos investimentos do fundo de capital de risco


nesse novo setor de tecnologia demonstra que uma nova revolução pode
estar em curso, assim como ocorreram em outros setores. Algumas em-
presas deixaram de ser startups e já estão listadas em bolsa de valores e
atingiram valores de mercado superiores a US$ 1 bilhão (BARBOSA, 2018).

Esse crescimento exponencial dos investimentos nesse novo setor de tec-


nologia indica certamente que é um negócio com projeções de fluxo de
caixa positivo e com taxas de retorno atrativas para os investidores. Visto
empresas que deixaram de ser startups e passaram a ser listadas em Bolsa
de Valores. Também indica que uma das estratégias dos bancos deve ser
de implementação dessas novas tecnologias, na direção de construir um
novo modelo de negócio ou se aliarem às fintechs para essa implementa-
ção e desenvolvimento.

O modelo tradicional desse negócio está sendo superado, está em rápida


transformação, provavelmente já com seus dias contados. A populariza-
ção dos smartphones e o uso crescente dos serviços bancários com o uso
de app (application)2 são indicadores dessa tendência, eliminando a ne-
cessidade também de agências físicas num futuro breve.

Segundo Rosov (2016), há três condições que caracterizam uma ruptura:


(1) a entrada em mercado onde os produtos estão saturados ou a en-
trada em um segmento não consumidor do mercado; (II) um núcleo tec-
nológico que permita ao desafiante melhorar rapidamente a sua oferta
para que ele siga uma trajetória relativamente íngreme de melhoria; e
(III) assimetria de motivação, em que o desafiante tem mais a ganhar com
o ataque do que o desafiado possui de defesa. Conforme o especialista,
as três condições são atendidas quando o assunto é a utilização de inte-
ligência estatística utilizada por algumas fintechs, realizando o trabalho

2
Aplicativos ou aplicações.

38 Tendências Digitais em Finanças


de especialistas em investimentos. Corroborando a ideia de que, sim, as
fintechs vão promover a ruptura dos modelos de negócios financeiros tra-
dicionais (BARBOSA, 2018, p. 33).

A geração millennials, que é composta por consumidores entre 18 a 34


anos, é o principal real consumidor de serviços ofertados pelas fintechs,
pois não gosta de ir a agências bancárias, tem grande acesso a ferramen-
tas tecnológicas e já está habituada a utilizar diversos serviços com o uso
de smartphones, tendo como meio os app e internet.

Segundo Gulamhuseinwala, Bull e Lewis (2015), um a cada 5 jovens entre


25 e 34 anos já utilizou pelo menos dois serviços por meio de fintechs.
Além do que, em relação à aceitação e adoção dos serviços das fintechs,
os autores se debruçaram sobre as razões de não utilização dos serviços
e os resultados da pesquisa com algumas pessoas que nunca utilizaram
nenhum serviço de fintechs confere que o desconhecimento da existência
dos serviços é o principal motivo (com 53,2%), seguido pela falta de neces-
sidade (32,3%), preferência por serviços tradicionais (27,7%), ignorância
do funcionamento (21,3%) e não confiam nos serviços (11,2%). Ou seja,
ainda há uma grande parte da população que desconhece os serviços, o
que indica um grande campo de atuação.

Os bancos surgiram a partir das necessidades de poupadores e tomado-


res, tendo como função principal captar e remunerar o capital dos pou-
padores e emprestar aos tomadores ou pessoas e empresas deficitárias,
a uma taxa de juros superior ao que será remunerado o capital dos pou-
padores. A diferença entre a remuneração do capital dos poupadores e
a taxa de juros paga pelos tomadores é o spread bancário, de forma sim-
plificada. O spread bancário é composto por impostos diretos, indiretos,
custos e despesas operacionais e lucro. No sistema capitalista, a existên-
cia dos bancos é fundamental para amenizar os desequilíbrios inerentes
a esse sistema econômico, entre poupadores e tomadores de recursos
financeiros.

Tendências Digitais em Finanças 39


EXEMPLIFICANDO
Operação de empréstimo: uma fintech pode conectar um poupador,
que pode ser uma pessoa física, com um tomador pessoa física, dis-
ponibilizando dados para o poupador avaliar e decidir emprestar seus
recursos financeiros ou não. Esses dados podem ser de renda, histó-
rico de pagamento, do sistema de proteção ao crédito, dados cadas-
trais, etc., do tomador. O tomador também tem acesso à taxa de juros
que será cobrada e prazo para o empréstimo, bem como se é exigida
garantia real. Nessa operação, o risco de inadimplência é assumido
pelo poupador, a fintech cobrará uma taxa pelo serviço prestado de
conectar o poupador ao tomador e pelas informações fornecidas para
ambos realizarem o negócio ou não, com uma taxa de serviço menor
que os bancos cobram.

As fintechs precisam entender bem o modelo tradicional dos bancos para


não cometerem os mesmos erros que principalmente os bancos america-
nos cometeram na crise imobiliária de 2008. Entender e inovar, fazer di-
ferente. Os bancos têm a necessidade de demonstrarem constantemen-
te excelentes resultados financeiros para que seus clientes e as agências
de classificação de risco possam fazer uma boa avaliação e para que as
pessoas sintam segurança em manter seus recursos financeiros nessas
instituições, além de remunerar seus acionistas segundo a taxa de retor-
no exigida.

Além dessa característica necessária, as fintechs podem rapidamente ga-


nhar mercado por oferecerem serviços semelhantes, mas com uma expe-
riência de consumo diferente, com despesas para os clientes bem mais
baixas em relação aos bancos. Com risco de crédito inclusive menor, ao
conectar poupadores e tomadores diretamente, em que o credor assume
diretamente o risco de inadimplência da operação.

Conforme o Fintechlab (2016), dentre essas novas empresas, há pro-


postas divididas nas seguintes categorias: pagamentos, gerenciamento

40 Tendências Digitais em Finanças


financeiro, empréstimos e negociação de dívidas, investimento, funding,
seguros, eficiência financeira, segurança, conectividade e bitcoin/block-
chain. Cabe destacar que a literatura relacionada segmenta de diversas
formas as fintechs. A segmentação das fintechs, segundo a Finnovista, por
exemplo, é dividida em 16 segmentos:

1. pagamento e remessas;

2. criptografia de pagamentos;

3. Performance Management Form (PMF);

4. personal financial management;

5. Loans: Peer-to-Peer (P2P)3;

6. Loans;

7. Weath Management and Investments;

8. Wealth Management: Robo-Advisors;

9. Financial Education & Savings;

10. Enterprise Financial Management;

11. Enterprise Feedback Managment: Collection;

12. Trading & Markets;

13. Scoring, Identy & Fraud;

14. Digital Banking;

15. seguros;

16. crowfunding (financiamento coletivo).

3
Modelo descentralizado em que dois agentes transacionam para comprar ou vender produtos ou serviços
diretamente, sem a intermediação de uma terceira parte, ou seja, a transação é realizada diretamente entre o
comprador e o vendedor.

Tendências Digitais em Finanças 41


LINK
Este estudo procura analisar, sob o enfoque crítico-reflexivo, o impac-
to do surgimento das fintechs e do blockchain no sistema financei-
ro, com base em relatórios e na literatura acadêmica. Os resultados
desse levantamento bibliográfico revelam que a evolução das fintechs
esboça grandes mudanças no cenário financeiro. O desenvolvimento
de novas tecnologias, como o blockchain, e consumidores ávidos por
melhores serviços impulsionam o crescimento de novas empresas.
Ao mesmo tempo que instituições financeiras vislumbram reduções
de custos, consumidores alertam que suas insatisfações podem dimi-
nuir o ritmo de geração de lucros. Habituados à receita fácil, as insti-
tuições financeiras precisam se adequar ao novo cenário em que se
encontram, com novos competidores. Da mesma forma, reguladores
precisam desenvolver regulações mais flexíveis que proporcionem um
ambiente propício para o crescimento das novas empresas, sem pre-
judicar a estabilidade do sistema financeiro. Disponível em: <http://
bdm.unb.br/handle/10483/19517>. Acesso em: 19 jun. 2018.

Kashyap e Weber (2017) afirmam que o setor de serviços financeiros está


em seu estágio inicial de disrupção digital. Todos os serviços financeiros
são uma resposta às ações de trocar dinheiro, poupar, investir ou com-
prar seguros contra o risco. O papel das novas tecnologias surge para tra-
zer conveniência, velocidade e volume dessas transações em um volume
nunca imaginado a um preço reduzido. A penetração das empresas orien-
tadas para a tecnologia no setor financeiro está direcionada a se apro-
fundar, uma vez que a área de finanças está repleta de oportunidades
(BARBOSA, 2018, p. 35).

O desenvolvimento das plataformas digitais está relacionado a diversos


fatores de sucesso. Embora o modelo de banco digital pareça único, é
importante identificar o valor agregado pela plataforma digital por cada
banco. As características de cada mercado (regulação, comportamento
dos clientes, etc.) e de cada banco (base e perfil de clientes, segmentos e

42 Tendências Digitais em Finanças


produtos, etc.) devem ser identificadas para adoção do melhor modelo
digital (DELOITTE, 2016).

É necessária a constante redefiniçao e testes sobre a experiência do con-


sumidor devem ser realizados a fim de identificar problemas e atender a
expectativas dos consumidores permanentemente. A criação de estrutu-
ras organizacionais que possibilitem a criatividade, flexibilidade e veloci-
dade dos processos por meio de equipes especializadas e gestores com
larga experiência em projetos de grande escala. Destaca-se a importância
da construção de dois modelos operacionais de IT distintos, um deles de-
nominado como tradicional (prudente, seguro e estável, direcionado para
estrutura interna) e outro direcionado para as soluções do cliente (rápido
e flexível) (DELOITTE, 2016).

A combinação de iniciativas e novas tecnologias gerou esse fenômeno


inovador que são as fintechs em diversos países e está ocorrendo também
no Brasil. O sistema financeiro bancário é relevante nas economias capi-
talistas e está em um novo estágio de evolução, com o surgimento das
fintechs. Direcionadas a oferecer uma nova experiência aos clientes, com
alto grau de automatização e baixos custos para as empresas e pessoas,
ofertando serviços e produtos semelhantes aos que os bancos já ofertam,
com o potencial de não ser mais necessário existir intermediação nas ope-
rações – o que depende de alterações significativas na atual regulamenta-
ção imposta pelos Bancos Centrais dos países capitalistas principalmente.

PARA SABER MAIS


O objetivo do artigo é entender como ocorre o processo de inovação
em fintechs brasileiras que buscam gerar vantagem competitiva frente
aos concorrentes. O estudo é qualitativo e de caso, e foi operaciona-
lizado em três empresas: i) Nubank – plataforma digital de cartão de
crédito; ii) Warren – plataforma on-line de investimentos; e iii) Tá Pago
– plataforma digital de meio de pagamento. A coleta de dados foi feita

Tendências Digitais em Finanças 43


mediante entrevistas, e os resultados obtidos sinalizaram que essas
empresas decidiram operar no mercado brasileiro pela percepção da
carência por serviços customizados no segmento bancário. Em outras
palavras, os clientes desejavam um serviço mais dinâmico, com trans-
parência e baixo custo.

As fintechs proporcionam esse serviço por meio de um capital intelec-


tual centrado em desenvolver tecnologias baseadas nos desejos dos
clientes, que otimizam processos custosos e burocráticos. As empre-
sas possuem um perfil diferente das empresas tradicionais, tanto em
relação ao preço do serviço ofertado quanto em características intrín-
secas (idade média dos colaboradores é baixa, ausência de vestimen-
ta formal, entre outras). Também foi aferido que existem fatores que
engessam o processo de inovação (órgãos reguladores, por exemplo),
e que ao mesmo tempo funcionam como barreira de entrada a novas
empresas. No entanto, a competição foi vista como saudável, pois es-
timula o processo de inovação. Disponível em: <http://rit.faculdadefla-
mingo.com.br/index.php/publicacoes/article/view/2>. Acesso em: 18
jun. 2018.

1.1 Comportamento do consumidor

O comportamento principalmente da geração millennials e da sociedade


em geral tem grande influência no processo de transformação do setor
bancário e financeiro. O uso em grande escala dos smartphones no Brasil
e no mundo, que podemos denominar como o novo “normal”, e as melho-
res redes de dados móveis gerou a possibilidade de criação de platafor-
mas novas para a prestação de serviços financeiros.

A mobilidade, a velocidade, a conveniência, os menores custos, a expe-


riência e percepção que os clientes identificam está gerando um desen-
volvimento acelerado e de mais concorrência no setor bancário e finan-
ceiro de modo geral. O consumidor está determinando o ritmo dessa

44 Tendências Digitais em Finanças


evolução, a partir de seus desejos e suas exigências para novas experiên-
cias de compras.

Os nativos digitais têm uma percepção de valor diferente da geração de


imigrantes digitais. Os líderes das instituições bancárias financeiras devem
pensar e implementar práticas de gestão e de posicionamento no merca-
do de modo que possam influenciar todos os clientes. Personalização e
experiência de compra dos produtos e serviços são pontos-chave para
que os consumidores tenham aderência com a oferta. Os nativos digitais,
como dito anteriormente, não percebem mais valor em ir até uma agên-
cia bancária.

No omni-channel, que é um conceito de atendimento e vendas integrados,


seja on-line ou off-line, o cliente pode ter suas demandas atendidas de
forma simplificada e rápida. Em virtude da integração, os canais de aten-
dimento e venda aos clientes normalmente fazem o cliente ficar satisfeito,
por conta da praticidade e rapidez proporcionada por novas plataformas
digitais integradas.

Em um de seus artigos, a consultoria Accenture Corporation4 aponta que


a indústria bancária, historicamente, sempre foi um setor da economia
resistente a disrupção tecnológica. Os fatores para essa conclusão orbi-
tam em aspectos decorrentes de sua alta robustez, concentração e im-
portância. Além disso, o comportamento dos consumidores, no que tan-
ge serviços bancários, mostrou-se, via de regra, muito avesso a mudanças
rápidas de provedores de serviços. Esses fatores resultam em um setor
bancário com ações de ordem econômica defensiva e um modelo de ne-
gócios bastante resiliente.

Os dados históricos de consumo, as pesquisas sobre o comportamento


do consumidor, sobre o funcionamento do cérebro na hora de decidir por
uma compra, as emoções, os fatores psicológicos, hábitos e costumes,
são elementos cada vez mais importantes para investigação qualitativa

4
MIKLOS et al., 2016.

Tendências Digitais em Finanças 45


e quantitativa. Muitas empresas utilizam estes dados para treinar seus
times de vendedores, visto que grande parte dos consumidores tomam
decisões de consumo que não maximizam sua utilidade. Essa constatação
contraria a racionalidade prevista pela teoria econômica, de acordo com
diversos estudos da área de neurociência, de como seres humanos são
seres completos/inteiros, nas decisões e reações, estão sempre presentes
a racionalidade e as emoções, ou seja, ambos são aspectos inerentes ao
ser humano e não podem ser dissociados. Na racionalidade existe emo-
ção, na emoção existe racionalidade.

Gianiodis, Ettlie e Urbina (2014), em estudo sobre inovação em serviços


no setor bancário global, evidenciaram as inovações desenvolvidas pelo
usuário como parte importante no processo de inovação de serviços ban-
cários. Segundo os autores, 55% dos serviços comerciais computadoriza-
dos utilizados atualmente foram desenvolvidos e implementados primei-
ramente por empresas não bancárias para seu próprio uso e 44% do total
de sistemas bancários direcionados para o varejo foram desenvolvidos e
implementados inicialmente por usuários individuais em vez de empresas
financeiras. Esses dados indicam que os precursores de diversos serviços
foram criados pelos próprios usuários para sua própria utilização. Dessa
maneira, isso demostra, segundo os autores, uma clara mudança no pro-
cesso de inovação no setor bancário e que as empresas capacitadas em
gerenciar tais circunstâncias terão mais sucesso.

As pesquisas macroeconômicas muito bem realizadas pelos departamen-


tos de pesquisas dos bancos são relevantes para o negócio, mas a estru-
turação de dados históricos e atuais sobre o comportamento dos consu-
midores estão ganhando cada vez mais importância para o desenvolvi-
mento e a transformação no setor bancário financeiro. Os investimentos
em novas tecnologias e a parceria com as fintechs são ingredientes funda-
mentais para a perpetuação dos bancos que ainda estão no modelo tradi-
cional. Em um futuro breve, vamos conhecer um modelo de negócio que

46 Tendências Digitais em Finanças


ainda não visualizamos e os consumidores terão participação significativa
nesse processo, especialmente aqueles entres 18 a 34 anos.

No passado recente, o serviço de táxi era um mercado concentrado e cheio


de barreiras à entrada, e se manteve assim por pelo menos nos últimos
120 anos. Um novo modelo de negócio, aliado ao uso de app, provocou
uma ruptura em um negócio que por décadas era concentrado e muito
lucrativo. E rapidamente evoluiu não somente para transporte urbano,
mas para entrega de comida, transporte de animais das casas para o pet
shop e do pet shop para as casas, etc., com custos mais baixos para os
consumidores e ainda criando a percepção nos clientes de que o serviço
é de melhor qualidade em relação aos serviços prestados pelo táxi. Esse
novo modelo de negócio precisou contar com uma maior flexibilidade re-
gulatória governamental para sua implementação e seu êxito.

O setor bancário financeiro está em um processo semelhante de ruptu-


ra de seu modelo tradicional para a prestação de serviços bancários e
financeiros, que também passará pela necessidade de mudanças regu-
latórias governamentais por meio dos bancos centrais. A intermediação
é uma das partes ameaçadas, pois as novas tecnologias tendem a gerar
negócios de pessoa (poupadores) para pessoa (tomadores). A iniciativa
das pessoas aliadas ao uso de novas tecnologias criam novos negócios,
criaram as fintechs.

PARA SABER MAIS


as fintechs estão gerando uma disrupção inovadora em modelos de
negócios em todo o mundo, seja pela nova tecnologia ou por sua nova
concepção de serviços, especialmente para os bancos e demais áreas
financeiras. A importância da pesquisa é um dos temas de alta rele-
vância dentre aqueles que foram abordados, visto que as instituições
financeiras bancárias realizam no atual sistema econômico.

Tendências Digitais em Finanças 47


No estudo apresentado, o método utilizado foi qualitativo exploratório
a partir de informações secundárias e também por meio de entrevistas,
para estudo de viabilidade da implementação de fintechs no mercado.
Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/178364>.
Acesso em: 18 jun. 2018.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


• Qual será o novo papel dos bancos centrais nesse novo modelo
de negócio, com as fintechs?

• Como serão controladas as operações para garantir um nível


aceitável de risco de crédito na economia?

• A taxa básica de juros da economia, a Selic, continuará sendo a


base para as taxas de juros cobradas pelos poupadores?

• O fundo garantidor de crédito continuará existindo?

2. Considerações Finais

• Fintechs: uma nova tecnologia que, aliada às iniciativas de pessoas,


produz inovações para os serviços financeiros com melhor experi-
ência de consumo e operacionalização para as empresas.

• Geração milênio: pessoas entre 18 a 34 anos, com acesso a ferra-


mentas tecnológicas digitais, com o uso de smartphone, não têm a
percepção de valor ao ir a uma agência bancária; são nativos digi-
tais, não acreditam em instituições, tendem a acreditar mais nas
pessoas; já consumem muitos produtos e serviços por meio de app;
valorizam a liberdade de escolha, querem coisas personalizadas;
são colaboradores espontâneos; analisam criteriosamente pessoas

48 Tendências Digitais em Finanças


e organizações; querem se divertir no trabalho e na escola, ser rápi-
do é normal, inovação faz parte da vida; nunca antes, em toda a
história, uma geração sucessora tem mais informação que sua ante-
cessora. O modelo de negócio precisa atender a essas características
para permanecer no mercado.

• Regulação governamental: é uma das barreiras para a inovação em


prestação de serviços bancários e financeiros. Mantém um sistema
de impostos e tributos complexo, financiando grande parte de suas
dívidas por meio de instituições financeiras privadas. Não estimu-
la a concorrência. Visto a concentração bancária no Brasil, aplica
um modelo de regulação considerado como um dos melhores do
mundo, mas ainda muito burocratizado e com custos elevados
para todo o sistema. Sem uma flexibilização dessa regulação, as
inovações serão restringidas no futuro breve, com as fintechs mais
consolidadas.

• Comportamento do consumidor: realizar pesquisas sobre o compor-


tamento dos consumidores de seus produtos e serviços é vital para a
perpetuação e transformação constante dos negócios. Atualmente,
alguns produtos e serviços lançados têm apenas alguns minutos de
existência. Esse fenômeno precisa ser investigado para que o negó-
cio possa se ajustar às novas exigências de experiência de compra,
não mais centrada no produto ou serviço, mas sim na experiência
do usuário.

Glossário

• Loans Peer-to-Peer (P2P): modelo descentralizado em que dois


agentes transacionam para comprar ou vender produtos ou ser-
viços diretamente, sem a intermediação de uma terceira parte, ou

Tendências Digitais em Finanças 49


seja, a transação é realizada diretamente entre o comprador e o
vendedor.

• Fintechs: empresas de tecnologia que prestam serviços financei-


ros ou implementam novas tecnologias para a prestação de servi-
ços financeiros.

• Crowfunding: do inglês, financiamento colaborativo.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. O que é uma fintech?
a) Empresa de tecnologia para serviços financeiros de
baixa escala.
b) Empresa de tecnologia para serviços financeiros de
média escala.
c) Empresa de tecnologia para serviços financeiros de
pequena escala.
d) Empresa de tecnologia para serviços financeiros de
escala mínima.
e) Empresa de tecnologia para serviços financeiros em
alta escala.

2. O que é um modelo de negócio Peer-to-Peer?


a) Um negócio realizado de pessoa para pessoa, sem
intermediação de terceiros.
b) Um negócio realizado de pessoa para pessoa, com
intermediação de terceiros.
c) Um negócio realizado de pessoa para pessoa somen-
te no Brasil.
d) Um negócio realizado de pessoa para pessoa nos

50 Tendências Digitais em Finanças


paraísos fiscais.
e) Um negócio realizado de pessoa para pessoa no con-
gresso nacional.

3. O que as novas tecnologias digitais estão causando no se-


tor bancário?
a) Transformação, por causa da corrupção.
b) Transformação, por causa do volume de números.
c) Transformação, por causa da disrupção digital.
d) Transformação, por causa da queda do PIB.
e) Transformação, por causa da produção industrial.

Referências Bibliográficas

ALLEN, F.; GALE, D. Competition and Financial Stability. Cambridge, MA: MIT, 2003.
Disponível em: <http://archive.nyu.edu/bitstream/2451/27019/3/S-FI-03-06.pdf.txt >.
Acesso em: 19 jun. 2018.
BARBOSA, R. R. Fintechs: a atuação das empresas de tecnologia de serviço finan-
ceiro no setor bancário e financeiro brasileiro. Porto Alegre: Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 2018. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/hand-
le/10183/178364>. Acesso em: 18 jun. 2018.
FINTECHLAB. Report FintechLab. 2016. São Paulo. Disponível em: <https://confirm-
subscription.com/h/i/6CC85594AB4D31B3>. Acesso em: 19 jun. 2018.
MARTINS, B. S. Estrutura de mercado local e competição bancária: evidências no
mercado de financiamento de veículos. In: BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório
de economia bancária e crédito 2011. Brasília: BACEN, 2011, cap. 6, p. 106-130.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pec/depep/spread/REBC_2011.pdf>. Acesso
em: 19 jun. 2018.

Tendências Digitais em Finanças 51


MENAT, R. Por que estamos tão animados com fintech. In: CHISHTI, S.; BARBERIS, J.
(Coord.). A revolução FINTECH: o manual das startups financeiras. Rio de Janeiro:
Alta Books, 2017, p. 10-12.
ROSOV, S. Fintech’s Disruptive Potential. 2016. Disponível em: <https://blogs.
cfainstitute.org/investor/2016/04/28/fintechs-disruptive-potential/>. Acesso em: 19
jun. 2018.

Gabarito – Tema 03

Questão 1 – Alternativa E: empresa de tecnologia para serviços fi-


nanceiros em alta escala. No mundo, hoje, são gerados 2,5 quinti-
lhões de bytes por dia, com textos, imagens, vídeos, etc.; as fintechs
precisam ter a capacidade de processamento de dados em alta escala
para atender às demandas do setor bancário no Brasil e no mundo.

Questão 2 – Alternativa A: um negócio realizado de pessoa para


pessoa, sem intermediação de terceiros. É um modelo de negócio
que possibilita às pessoas fazerem negócio diretamente, sem inter-
mediação de banco, corretora, etc.

Questão 3 – Alternativa C: transformação, por causa da disrupção


digital. De forma simplificada, é a interrupção no curso de um pro-
cesso normal. Aqui estamos nos referindo ao modelo tradicional de
negócio dos bancos, que está sendo gradualmente substituído por
um novo modelo de negócio, que atenda especialmente às deman-
das da geração milênio, ou que tem grande influência dessa gera-
ção nesse processo de transformação e inovação do setor bancário.
Nesse novo modelo de negócio, as agências deixam de existir, o ser-
viço é personalizado, tem foco na experiência de consumo e não no
produto ou serviço, os custos de operação são menores, etc.

52 Tendências Digitais em Finanças


TEMA 4
BLOCKCHAIN COMO SEGURANÇA E
NOVO MODELO EM TRANSAÇÕES

Objetivos

• O blockchain é uma nova tecnologia utilizada para


armazenamento e registro de dados. Como exemplo,
registros contábeis das operações de uma empre-
sa, sendo imutáveis, permitem auditorias em menor
espaço de tempo e frequência. Funciona como uma
rede entre pessoas que estão dispersas, unindo
interesses e gerando uma rede de confiança para a
realização de negócios sem intermediação de tercei-
ros, são negócios diretos de peer-to-peer (pessoa para
pessoa). Ainda sem uma regulamentação no Brasil,
mas que apresenta o potencial de substituir entidades
certificadoras e centralizadoras de transações, com
custos menores. Com essa tecnologia, é possível tam-
bém auditar de forma independente. Este texto tem
como objetivo apresentar os principais elementos,
propriedades e desafios para o uso e a implantação
em larga escala da tecnologia de blockchain.

53 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

A nova tecnologia chamada blockchain teve início em 2008, a partir de


um protocolo utilizado para o sistema Bitcoin, de autoria de Satoshi
Nakamoto, que iniciou as transações em 2009. Nesse sistema, é proposta
uma rede de operações realizadas peer-to-peer com a criptomoeda bitcoin.
As demandas dos consumidores são recepcionadas por servidores (com
precisão, mineradores), com base no protocolo de consenso bizantino e
armazenamento imutável definido por servidores em corrente de blocos.

A experiência real desse conceito oferecido pelo Bitcoin gerou uma gran-
de adesão à rede digital descentralizada criada. A grande inovação nesse
processo foi eliminar os intermediários das transações financeiras, trazen-
do uma ruptura nas transações de negócios e incentivando o uso de me-
canismos digitais para a criação de moedas eletrônicas e o acordo entre
partes dispersas e desconhecidas na rede, levando-as a firmar negócios.
É possível denominar esse movimento de transações de smart contracts
(contratos inteligentes), a partir dos acordos peer-to-peer gerados na rede.

O blockchain introduz um sistema de estados replicados para a garantia de


consistência de um estado global compartilhado por um grupo de pares
distribuídos numa rede peer-to-peer. Todos os elos possuem e mantêm
uma cópia do registro de transações realizadas, concretizado na forma
de um livro-razão (ledger) distribuído, que é seguro e imutável, podendo
realizar-se auditoria independente a qualquer tempo.

O grupo e a ordem em que as operações são executadas são acordados


por todos os participantes da rede por meio da formulação de um proto-
colo de consenso bizantino1, tolerante a ações de elos maliciosos, passíveis
de prejudicar o sistema. O consenso é um elemento essencial para o de-
senvolvimento de sistemas seguros, pois possibilita que os participantes

1
O objetivo básico é atingir um consenso entre os nós defeituosos sobre os valores corretos. Cada nó deve
tomar uma decisão baseada nos valores recebidos dos outros nós, e todos os nós não defeituosos devem to-
mar a mesma decisão.

54 Tendências Digitais em Finanças


de uma computação concordem com as transações que serão realizadas,
com o objetivo de manter a consistência do sistema e de fazê-lo progredir.
Regras de criptografia são aplicadas para garantir a autoridade, autentici-
dade, não repúdio, integridade das transações, bem como os requisitos
de segurança de todo o sistema (GREVE; SAMPAIO; ABIJAUDE; COUTINHO;
VALCY; QUEIROZ, 2018).

O projeto Ethereum, idealizado por Vitalik Buterin (2014), adota o concei-


to de contratos inteligentes para refletir as demandas das pessoas na rede
com uma lógica mais inteligente, dando para as operações maior flexibi-
lidade e mais possibilidades de negócios em condições inovadoras. Tudo
de forma descentralizada e autônoma, contemplando uma diversidade
de escopos.

A tecnologia blockchain muda a forma como os serviços são prestados,


como as partes firmam negócios, etc., de forma inovadora por meio do
desenvolvimento de aplicações e sistemas. Eliminando, adicionalmente, a
parte terceira dos negócios, o que ainda depende de regulamentação go-
vernamental e mais adesão dessa tecnologia por parte das organizações,
pessoas e famílias. Segundo pesquisa realizada pela Deloitte em 2018,
apenas 4% dos CFOs utilizam essa tecnologia2.

1. Propriedades da blockchain

O blockchain, na prática, tem potencial de substituir em parte ou total-


mente as funções essenciais dos bancos centrais de todo o mundo, que
são as de regulamentação, controle e segurança, relacionadas a moeda,
transações financeiras, taxa de câmbio, garantias de crédito, solvência
das instituições financeiras públicas e privadas, etc. Os riscos associados
à inexistência de regulação, controle e segurança resulta ainda em uma

2
The CFO Program, CFO Signals™.

Tendências Digitais em Finanças 55


baixa adesão ao uso de tecnologias de blockchain (The CFO Program, CFO
SignalsTM).

Mas as principais propriedades da tecnologia blockchain, que contribuem


de forma inovadora para o desenvolvimento de aplicações e sistemas,
motiva e gera um crescente interesse por investimentos e uso dessa tec-
nologia em diversas áreas.

As sete (7) principais propriedades do blockchain são (GREVE; SAMPAIO;


ABIJAUDE; COUTINHO; VALCY; QUEIROZ, 2018, p. 4):

1. Descentralização: as transações desse sistema são realizadas de for-


ma distribuída, por meio do estabelecimento de confiança entre
as pessoas, sem a intermediação e confiança gerada por terceiros.
Essa é a principal inovação motivadora para o crescente uso da
blockchain. Principalmente entre as pessoas entre 18 e 34 anos, a
geração milênio, que tendem a não acreditar em instituições e acre-
ditar mais nas pessoas.

PARA SABER MAIS


A blockchain introduz o novo desafio do consenso sob demanda, onde
o grupo de elos da rede P2P concorda com a ordem em que blocos
de operações vão sendo unidos à corrente de blocos, proporcionando
um ambiente distribuído confiável, seguro, escalável e imutável para
a realização e o armazenamento de operações na internet. A block-
chain elimina a necessidade de uma terceira parte confiável e cria di-
gitalmente uma rede de confiança descentralizada. O caráter disrup-
tivo da tecnologia é imenso e aplicações estão surgindo em diversas
áreas: finanças, saúde, artes, governo, etc., além da própria computa-
ção. Diversos problemas estão postos e envolvem segurança, priva-
cidade, armazenamento, disponibilidade, melhoria de desempenho,
crescimento em escala, sustentabilidade, etc. Este texto apresenta a
blockchain, seus principais elementos, propriedades, modelos, algorit-
mos e problemas. Especial foco será dado aos protocolos de consenso

56 Tendências Digitais em Finanças


distribuído para manutenção da máquina de estados copiada, além
do uso da tecnologia no contexto de redes de computadores, compu-
tação em nuvem. Disponível em: <http://portaldeconteudo.sbc.org.br/
index.php/sbrcminicursos/article/view/2330>. Acesso em: 7 jun. 2018.

2. Disponibilidade e integridade: todo o volume de dados e operações


são gerados em diferentes elos de maneira segura, de forma que
mantém o sistema disponível e seguro.

PARA SABER MAIS


Este texto tem como objetivo realizar uma análise simples da eficiên-
cia e da segurança da tecnologia blockchain. Para esse objetivo, um
estudo teórico das estruturas de informações e algoritmos utilizados
para armazenar dados é inicialmente realizado, buscando determinar
as complexidades de tempo e espaço para a execução das transações
de busca. Em seguida, por meio de modelagem analítica e simulação,
diferentes conjunturas são examinadas para avaliar o nível de segu-
rança em termos de inviolabilidade de dados. Em maior relevância, os
resultados finais mostram que as transações de pesquisa têm custo
logarítmico em função do número de operações dentro de cada bloco
de dados e que a segurança do sistema depende principalmente do
tempo de registro de dados. Nesse contexto, a principal contribuição
deste artigo é, portanto, prover a literatura com resultados de quão
eficiente e segura é a tecnologia blockchain. Por fim, conclusões gerais
e trabalhos futuros encerram o mesmo. Disponível em: <http://reposi-
torio.uniceub.br/handle/235/11373>. Acesso em: 7 jun. 2018.

3. Transparência e auditabilidade: todas as operações registradas no


livro-razão são públicas, podendo ser checadas e auditadas. Além
dos códigos-fontes da tecnologia serem abertos, passíveis de
verificação.

Tendências Digitais em Finanças 57


4. Imutabilidade e irrefutabilidade: as operações registradas no livro-ra-
zão são imutáveis. Uma vez registradas, não podem ser alteradas.
Atualizações são possíveis a partir da geração de novas operações e
realização de novo acordo.

5. Privacidade e anonimidade: a privacidade aos usuários é garantida


sem que terceiros possam ter acesso ou controle de seus dados.
Na tecnologia, cada usuário gerencia de forma autônoma suas pró-
prias chaves e cada elo do servidor armazena apenas fragmentos
criptografados de informações do usuário. Operações são, até certo
ponto, anônimas, com base no endereço eletrônico dos participan-
tes na blockchain.

6. Desintermediação: a blockchain serve como um conector de diversos


sistemas complexos, eliminando totalmente a necessidade de inter-
mediários, o que torna mais simples os projetos de novos sistemas
e de processos (XU et al., 2016).

7. Cooperação e incentivos: com base na teoria de jogos, o modelo


de negócios oferece incentivos aos participantes. Além de cons-
truir consensos a partir das demandas, oferecendo uma variedade
de escopos.

Nos últimos três anos, observamos um crescimento exponencial na cria-


ção de serviços bancários digitais, ou bancos digitais, com possibilidade
de atendimento presencial nas agências. Trata-se de um modelo híbrido
de prestar serviços bancários, com forte tendência de migração total para
o digital.

As empresas e especialmente a indústria de serviços financeiros já calcu-


lam uma economia financeira3 relevante no médio e longo prazo, a partir
da implementação do banco digital e também com o potencial de amplia-

3
World Economic Forum. The future of financial infrastructure: An ambitious look at how blockchain can re-
shape financial services. Publicado em: ago. 2016. Disponível em: <http://www3. weforum.org/docs/WEF_The_
future_of_ financial_infrastructure.pdf>. Acesso em: mai. 2018.

58 Tendências Digitais em Finanças


ção de tipos de transações com o uso da tecnologia blockchain. Inclusive,
os bancos já oferecem aos clientes vários tipos de transações em grande
escala, com grau de segurança alto usando app (application), para vários
tipos de dispositivos digitais.

As companhias puderam estimar uma economia de US$ 20 bilhões por


ano até 20224. As estimativas do mercado indicaram que 80% dos maio-
res bancos do mundo teriam iniciado projetos de blockchain até o final
de 2016, mas somente 4% dos CFOs pesquisados dizem usar tecnologias
de blockchain. O costume com essa tecnologia ainda parece relativamen-
te baixo, sendo que os atuais problemas de regulamentação, controle e
segurança tendem a ser resolvidos para efetivar, cada vez mais, a imple-
mentação dessa tecnologia blockchain.

LINK
A velocidade nas mudanças que a indústria 4.0 está gerando coloca
novas pressões para que a área de finanças se adapte. Isso é fato.
Contudo, o que concretamente isso significa para o departamento de
finanças de sua empresa é uma questão diferente. E é essa a pergunta
que você deve se fazer.

Esta pesquisa mostra, em contrapartida, que a maioria das áreas fi-


nanceiras que pesquisamos já está em sua jornada digital, mesmo
que seus planos de ação não sejam claros. Os CFOs não estão apenas
fazendo investimentos em cloud, analytics e robótica; estão também
repensando talentos, em antecipação às crescentes expectativas do
negócio em perspectivas de valor agregado.

Felizmente, os CFOs não estão sozinhos. Outras partes do negócio


também já lideram iniciativas digitais, e há muito a aprender com
as suas experiências. Converse com seus colegas. Descubra como a

4
Santander InnoVentures. The Fintech 2.0 Paper: Rebooting Financial Services. 2015. Disponível em: <http://
santanderinnoventures.com/wp- content/uploads/2015/06/The-Fintech-2-0- Paper.pdf>. Acesso em: 10 mai.
2018.

Tendências Digitais em Finanças 59


transformação digital tem remodelado seus talentos e seus modelos
de operação. Aprenda com os sucessos que tiveram, mas também
com seus fracassos.

Então, comece analisando holisticamente uma transformação finan-


ceira, concentrando-se primeiramente em recursos que já se prova-
ram vencedores em outras companhias. Tenha um plano principal em
mente, mas execute uma fase de cada vez. As coisas estão mudando
rapidamente. Não faça grandes apostas até que você se sinta prepa-
rado e entenda os potenciais riscos.

Não é relevante o futuro que você vê para o seu próprio departamen-


to financeiro. Uma coisa é certa, se os líderes de negócios ao seu re-
dor pretendem competir no mundo digital, eles precisarão processar
mais informações mais rapidamente e transformar essas informações
em insights mais profundos mais rapidamente do que nunca. Isso irá
exigir novas tecnologias e um grupo de talentos com curiosidade e
habilidades para utilizá-las.

Disponível em: <https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/us/


Documents/finance-transformation/us-ft-crunch-time-finance-in-a-di-
gital-world.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018.

Um levantamento da Deloitte5 revelou que a Geração Y será 75% da força


de trabalho em 2025 (mostrando que querem aprender, crescer e ino-
var). Sendo nativos digitais, eles desejam que as mesmas tecnologias dis-
poníveis ao consumidor possam fazer parte de suas vidas também no
ambiente corporativo. Vejam abaixo dois exemplos de uso do blockchain
na prática.

Uma companhia mundial de e-commerce6 faz uma abordagem diferente


de varejo on-line, conectando diretamente compradores e vendedores. A
5
DELOITTE. The Millennial Survey 2014. Disponível em: <https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/
global/Documents/About-Deloitte/gx-dttl-2014-millennial-survey-report.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2018.
6
WORLD ECONOMIC FORUM. The future of financial infrastructure: an ambitious look at how blockchain
can reshape financial services. Publicado em: mai. 2018. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_
The_future_of_financial_infrastructure.pdf>. Acesso em: mai. 2018.

60 Tendências Digitais em Finanças


iniciativa desse projeto de código aberto está gerando uma rede descen-
tralizada de comércio peer-to-peer. No lugar de uma visita no site, os con-
sumidores baixam e instalam um programa que os conecta diretamente,
possibilitando a busca por comprar e vender bens e serviços, eliminando
totalmente a necessidade de intermediários. A intermediação entre pou-
padores e tomadores, realizadas por bancos, deixaria de existir nesse mo-
delo de negócio.

Um banco no Japão7 completou um teste de três meses da aplicação mijin


(uma plataforma para criar blockchains) no sistema de contabilidade em
um ambiente real de produção. Na demonstração, foram criados 2,5 mi-
lhões de contas bancárias virtuais e um ambiente com capacidade para
processar 90.000 transações a cada hora, com risco significativamente re-
duzido de falhas e fraudes.

Instituições financeiras globais estão usando blockchain para pagamentos


transacionais, operando quase em tempo real e por uma fração do custo
das plataformas atuais.

Esse cenário deixa claro que os bancos precisam mudar seu modelo atual
de negócio, bem como outras áreas da economia. Ainda é um tempo de
transição, mas, em um futuro breve, conheceremos novas formas de ne-
gócio considerados tradicionais e intransponíveis.

1.1 Elementos fundamentais

Segundo Greve, Sampaio, Abijaude, Coutinho, Valcy e Queiroz (2018, p. 5),


os principais aspectos da blockchain, que inclusive as caracterizam com
elementos de imutabilidade, integridade, atualidade, transparência, dis-
ponibilidade, descentralização e desintermediação, são:

1. criptografia;

2. consenso;
7
MIJIN. SBI Sumishin Net Bank succeeds in using blockchain for their mission-critical systems; using “mijin” by
Tech Bureau Corp. Disponível em: <http://mijin.io/en/599.html>. Acesso em: 10 mai. 2018.

Tendências Digitais em Finanças 61


3. livro-razão.

A blockchain fundamenta-se fortemente na criptografia para atender às


exigências de segurança do sistema e das aplicações. Dentre os recursos
mais utilizados, os resumos criptográficos e as assinaturas digitais são
relevantes. Para mais informações, o leitor deve reportar-se ao livro de
Narayanan et al. (2016), indicado nas referências deste capítulo.

O consenso é um desafio fundamental em computação distribuída con-


fiável, pois possibilita que participantes distribuídos façam a gestão das
suas ações, de forma a gerar decisões comuns, e assim garantir a segu-
rança e consistência dos seus estados (segurança) e o desenvolvimento
do sistema (ativo), mesmo com a existência de falhas (GREVE, 2005). O
consenso vetoriza a classe de desafios em que existe necessidade de
acordo. Portanto, o consenso é seminal para a tecnologia blockchain,
pois permite a obtenção do acordo sobre o próximo bloco a ser agrega-
do à blockchain.

Sobre as falhas bizantinas, na blockchain, o consenso deve ser atingido


apesar da existência de processos maliciosos que podem agir aleatoria-
mente de maneira a subverter o sistema. Considera-se o modelo de fa-
lhas bizantinas (LAMPORT et al., 1982), no qual, diferentemente de um
processo correto, um processo falho pode exibir qualquer comportamen-
to, podendo parar, omitir envios e entregas de mensagens ou desviar ale-
atoriamente de seu propósito.

O livro-razão (ledger) é a estrutura de dados imutável, em que operações


são registradas e o estado global do sistema é mantido. O ledger mantém-
-se completamente copiado em todos os elos da rede peer-to-peer, sendo
o livro-razão distribuído, copiado e imutável. As transações devem obede-
cer às mesmas propriedades ACID de banco de dados (FRANK et al., 2014).
Nesse sentido, a criptografia e o consenso são as qualidades-chaves para
manutenção da autenticidade, integridade, consistência e disponibilidade
do livro-razão (NARAYANAN et al., 2016; ANTONOPOULOS, 2017).

62 Tendências Digitais em Finanças


Os problemas para a consolidação e melhoria da blockchain, tanto cien-
tíficos quanto tecnológicos, são inúmeros e diversos. Os mais relevantes
envolvem sustentabilidade, escalabilidade (EYAL et al., 2016), desempe-
nho (DINH et al., 2017b), adaptabilidade, armazenamento (DINH et al.,
2017a), segurança, privacidade, regulação, ordenação das transações
(NATOLIAND; GRAMOLI, 2016), etc. Alguns problemas foram apresenta-
dos ao longo deste texto.

ASSIMILE
O blockchain oferece armazenamento de registros de transações imu-
táveis de operações por meio de redes descentralizadas. Essa tecnolo-
gia mantém o histórico completo de operações, o que as torna verifi-
cáveis e auditáveis de forma independente.

O blockchain também permite transferência de recursos financeiros


peertopeer, potencialmente eliminando a necessidade de intermedi-
ários. Além disso, contratos inteligentes acionados por eventos, tam-
bém conhecidos como smart contracts (contratos inteligentes), podem
ser gravados e executados no blockchain (ANDRADE, 2018).

EXEMPLIFICANDO
O blockchain é uma tecnologia nova que faz armazenamento de regis-
tros de dados imutáveis de operações por meio de redes descentrali-
zadas. Tem um suporte distribuído confiável e seguro para a realiza-
ção de transações entre participantes que não necessariamente têm
confiança entre si e que estão dispersos em larga escala numa rede
peer-to-peer (P2P – pessoa para pessoa), podendo eliminar entidades
certificadoras e centralizadoras de operações, tais como bancos, go-
vernos, cartórios, etc.

Essa nova tecnologia digital está gerando uma disrupção no modelo


atual de negócios em diversas áreas, finanças, saúde, artes, governo,

Tendências Digitais em Finanças 63


além da própria computação. Essa nova tecnologia mantém o históri-
co completo de operações, o que as torna verificáveis e auditáveis de
forma independente. Os registros são imutáveis. Em uma operação de
empréstimo, o risco de crédito deixa de ser uma instituição intermedi-
ária e passa a ser da pessoa, do poupador. Para implementação dessa
tecnologia, os desafios relacionados a regulação, controle, segurança
e gestão dos serviços ainda precisam ser superados, mas isso já está
em curso e, em longo prazo, certamente estará resolvido.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


• Como a tecnologia blockchain está gerando uma disrupção nos
modelos atuais de negócios? Por quê?

• Qual será a função dos bancos centrais e dos bancos comerciais


a partir da implementação em grande escala do blockchain?

• Como será feita a análise e a gestão do risco de crédito a partir


de um modelo de negócio peer-to-peer?

• O fundo garantidor de crédito continuará existindo? Como e


quem fará essa gestão?

2. Considerações Finais

• Blockchain: o blockchain teve início em 2008, a partir de um protoco-


lo utilizado para o sistema Bitcoin, de autoria de Satoshi Nakamoto,
que iniciou as transações em 2009, em que é proposta uma rede
de operações realizadas peertopeer com a criptomoeda bitcoin. As
demandas dos consumidores são recepcionadas por servidores (com
precisão, mineradores), com base no protocolo de consenso bizanti-
no e armazenamento imutável definido por servidores em corrente
de blocos. A grande inovação nesse processo foi a de eliminar os

64 Tendências Digitais em Finanças


intermediários nas transações financeiras, trazendo uma ruptura
nas transações de negócios e incentivando o uso de mecanismos
digitais para a criação de moedas eletrônicas e o acordo entre par-
tes dispersas e desconhecidas na rede, a firmar negócios, o que
podemos denominar de smart contracts (contratos inteligentes), a
partir dos acordos peer-to-peer gerados na rede.

• Geração milênio: pessoas entre 18 a 34 anos, com acesso a ferra-


mentas tecnológicas digitais, com o uso de smartphone, não têm a
percepção de valor ao ir a uma agência bancária, são nativos digi-
tais, não acreditam em instituições, tendem a acreditar mais nas
pessoas, já consomem muitos produtos e serviços por meio de app,
valorizam a liberdade de escolha, querem coisas personalizadas,
são colaboradores espontâneos, analisam criteriosamente pessoas
e organizações, querem se divertir no trabalho e na escola, ser rápi-
do é normal, inovação faz parte da vida, nunca antes na história,
uma geração sucessora tem mais informação que sua antecessora.
O modelo de negócio precisa atender a essas características para
permanecer no mercado.

• Principais propriedades e elementos do blockchain: as sete (7) princi-


pais propriedades são descentralização, disponibilidade e integridade,
transparência e auditabilidade, imutabilidade e irrefutabilidade, priva-
cidade e anonimidade, desintermediação e cooperação e incentivos. Os
principais elementos são a criptografia, o consenso e o livro-razão.
Essas propriedades e esses elementos são essenciais para atender
às demandas atuais do mercado, dos grupos de interesse por essa
tecnologia. E estão alinhadas com as características da geração milê-
nio, que é a geração que mais está influenciando o desenvolvimento
de um novo modelo de negócio com o uso de tecnologia digital.

• Os desafios: os problemas para o estabelecimento e a melhoria


da blockchain, tanto científicos quanto tecnológicos, são muitos e
diversos. Os principais envolvem sustentabilidade, escalabilidade

Tendências Digitais em Finanças 65


(EYAL et al., 2016), desempenho (DINH et al., 2017b), adaptabilidade,
armazenamento (DINH et al., 2017a), segurança, privacidade, regu-
lação, ordenação das transações (NATOLIAND; GRAMOLI, 2016),
etc. Alguns exemplos desses desafios foram apresentados ao longo
do texto.

Glossário

• Blockchain: o blockchain é uma nova tecnologia emergente que


faz armazenamento de registros de dados imutáveis de transa-
ção por meio de redes descentralizadas. Tem um suporte distri-
buído confiável e seguro para a realização de operações entre
participantes que não necessariamente têm confiança entre si e
que estão dispersos em larga escala numa rede peer-to-peer (P2P
– pessoa para pessoa).

• Livro-razão (ledger): é a estrutura dos registros de dados imutá-


vel, em que operações são registradas e o estado global do siste-
ma é mantido. O ledger se mantém completamente copiado em
todos os elos da rede peer-to-peer. Logo, o livrorazão distribuído
é copiado e imutável. Por sua vez, as transações devem obedecer
às mesmas propriedades ACID de banco de dados (FRANK et al.,
2014). Nesse sentido, a criptografia e o consenso são as proprie-
dades fundamentais para manutenção da autenticidade, integri-
dade, consistência e disponibilidade do livrorazão (NARAYANAN et
al., 2016; ANTOPOULOS, 2017).

• Smart contracts: do inglês, contratos inteligentes; acordos peer-to-


-peer gerados na rede.

66 Tendências Digitais em Finanças


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 04
1. Considerando a tecnologia blockchain, o que é consenso?
I. É um problema fundamental em computação.

II. É um problema fundamental em computação distri-


buída confiável.

III. Uma forma de alcançar decisões comuns.

IV. Uma ação coletiva coordenada.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas a alternativa I está correta.
b) Apenas a alternativa II está correta.
c) Alternativas II, III e IV estão corretas.
d) Alternativas II e III estão corretas.

e) Todas as alternativas estão corretas.

2. O que é o livro-razão (ledger) na blockchain?


a) É um registro somente de dados macroeconômicos.
b) É um registro exclusivo de dados fiscais.
c) É a estrutura de dados imutável, em que opera-
ções são registradas e o estado global do sistema é
mantido.
d) Um sistema de partidas dobradas, somente de dados
do fluxo de caixa.
e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Atualmente, quais são as áreas que estão passando por


transformações em virtude do blockchain?

Tendências Digitais em Finanças 67


a) Somente o setor bancário.
b) Exclusivamente a área de computação.
c) Todas as áreas do saber.
d) Somente áreas relacionadas às Bolsas de Valores.
e) Essa tecnologia digital está gerando uma disrupção
no modelo corrente de negócios de diversas áreas.

Referências Bibliográficas

BUTERIN, V. (2014). A next-generation smart contract and decentralized application


platform. Technical report, Ethereum White Paper. Disponível em: <https://github.
com/ethereum/White-Paper>. Acesso em 09 maio 2018
DELOITTE. Hora decisiva – finanças em um mundo digital. Disponível em: <https://
www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/br/Documents/finance/cfo/crunchtime.
pdf>. Acesso em: 9 mai. 2018.
DINH, T. T. A.; LIU, R.; ZHANG, M.; CHEN, G.; OOI, B. C.; WANG, J. (2017a). Untangling
blockchain: a data processing view of blockchain systems. IEEE Transactions on
Knowledge and Data Engineering, pages 99–.
EYAL, I., GENCER, A. E., SIRER, E. G., VAN RENESSE, R. (2016). BitcoinNG: a scalable blo-
ckchain protocol. In: Proc. of the 13th Usenix Conf. on Networked Systems Design
and Implementation (NSDI), pages 45-59.
GREVE, F. Protocolos fundamentais para o desenvolvimento de aplicações robustas.
2005. In Minicursos do Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas
Distribuídos, chapter 5, pages 330-398. SBC.
GREVE, F.; SAMPAIO, L.; ABIJAUDE, J.; COUTINHO, A.; VALCY, Í.; QUEIROZ, S. Blockchain
e a revolução do consenso sob demanda. Disponível em: <http://portaldeconteu-
do.sbc.org.br/index.php/sbrcminicursos/article/view/2330>. Acesso em: 7 jun. 2018.
LAMPORT, L.; SHOSTAK, R., PEASE, M. The Byzantine generals problem. 1982). ACM
Trans. on Programing Languages and Systems, v. 4, n. 3, p. 382–401.
NAKAMOTO, S. Bitcoin: a peer-to-peer electronic cash system. Technical report,
Bitcoin Org, 2008.

68 Tendências Digitais em Finanças


NATOLI, C.; GRAMOLI, V. The blockchain anomaly. IEEE 15th Int. Symp. on Network
Computing and Applications (NCA), p. 310-317, 2016.
RODRIGUES, C. K. S. Uma análise simples de eficiência e segurança da tecnologia
blockchain. 2017. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/handle/235/11373>.
Acesso em: 7 jun. 2018.

Gabarito – Tema 04

Questão 1 – Alternativa E: segundo Greve (2005), consenso é um


problema fundamental em computação distribuída confiável, pois
possibilita que os participantes distribuídos coordenem as suas
ações, de forma a alcançar decisões comuns, e assim garantir a ma-
nutenção da consistência dos seus estados (segurança) e o progres-
so do sistema (ativo), apesar da existência de falhas.

Questão 2 – Alternativa C: é a estrutura de dados imutável, em que


transações são registradas e o estado global do sistema é mantido. O
ledger se mantém completamente replicado em todos os nós da rede
peer-to-peer. Logo, o livro-razão distribuído é replicado e imutável.

Questão 3 – Alternativa E: essa tecnologia digital está gerando uma


disrupção no modelo corrente de negócios de diversas áreas, finan-
ças, saúde, artes, governo, além da própria computação.

Tendências Digitais em Finanças 69


TEMA 5
CRIPTOMOEDAS COMO MOEDAS
VIRTUAIS

Objetivos

• O objetivo deste texto é, portanto, entender como


funciona a Bitcoin, que é a criptomoeda mais popular
atualmente, e os limites econômicos e jurídicos para
a sua implementação em grande escala e nas econo-
mias mundiais.

70 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

Historicamente, os seres humanos utilizaram diversos instrumentos como


meio de troca, desde metais até mercadorias com os quais somos fami-
liarizados. Mas o avanço tecnológico excluiu grande parte do substrato
físico do meio de troca, tornando-o virtual e mantendo a parte que mais
importa: o valor que a sociedade atribui a esse meio.

Com isso, essa disrupção gerada pela tecnologia digital criou vários tipos
de meios de troca, incluindo a Bitcoin e as outras criptomoedas. Na eco-
nomia americana, a criptomoeda foi reconhecida recentemente como um
bem e passa a fazer parte dos meios de troca dessa economia, sem a ex-
tinção do papel-moeda.

Contudo, em diversos países, inclusive no Brasil, ainda não foi reconhe-


cida e, portanto, não existe regulamentação, controle e segurança defini-
dos para esse fim.

Nesse sentido, é inegável que as tecnologias digitais e a conexão em rede


com alta capacidade de tráfego de dados e velocidade na internet possi-
bilitou uma integração e mobilidade nas operações financeiras sem pre-
cedente entre as economias e os mercados.

João Antonio Zuffo (2003, p. 315) define o atual momento como Infoera:
um tempo no qual as informações são transferidas com grande velocida-
de e estão instantaneamente disponíveis a todos aqueles conectados à
internet,
[...] mas não só as informações e dados: por meio do uso cada vez mais
corrente da moeda eletrônica e do dinheiro virtual, também recursos finan-
ceiros podem ser facilmente transferidos, sem aparentes barreiras e sem
aparentes controles.1

1
ZUFFO, J. A. A sociedade e a economia no novo milênio: os empregos e as empresas no turbulento alvorecer
do século XX. Barueri: Manole, 2003, p. 315. LIVRO I – A TECNOLOGIA E A INFOSOCIEDADE.

Tendências Digitais em Finanças 71


O substrato e suporte físico, que recentemente eram necessários para a rea-
lização de transações bancárias e na sociedade em geral, foram substituídos
pelos meios digitais. Segundo um levantamento realizado pela FEBRABAN2,3
sobre tecnologia bancária, o volume de transações pela internet cresce ano
após ano, assumindo um protagonismo no setor financeiro brasileiro.

Assim sendo, vale citar as lições de Nelson Abrahão4 (2016, p. 650):


Vivemos num tempo de desmaterialização dos meios documentais e ingres-
samos sem retorno na progressiva dimensão do horizonte plasmado na
tecnologia, em que os contornos das operações bancárias são instrumen-
talizados em poucos segundos, com alto grau de certeza e confiabilidade.

Nas últimas décadas, verificamos que o ser humano mudou a maneira


como lida com o dinheiro, sendo que a ampla utilização da moeda fidu-
ciária5, em substituição ao papel-moeda ou à moeda metálica, é uma das
mais relevantes.

EXEMPLIFICANDO
Nos Estados Unidos, a criptomoeda foi reconhecida em 2018 como
um bem na economia, ou seja, não substitui o papel-moeda emitido
pelo governo federal.

O sistema que usa como base um critério matemático para a emis-


são da criptomoeda passa a ser reconhecido oficialmente nos Estados
Unidos, mas ainda não está inserido no sistema monetário oficial do
governo. A criptomoeda passa a ser reconhecida como moeda virtual,
mas sem as garantias de conversão, controle e lastro comparativa-
mente ao papel-moeda.

2
FEBRABAN. Pesquisa FEBRABAN de tecnologia bancária. 2013. Disponível em: <http://www.febraban.org.
br/7Rof7SWg6qmyvwJcFwF710aSDf9jyV/sitefebraban/Pesquisa%20FEBRABAN%20de%20Tecnologia%20Ban-
c%E1ria_2013.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018.
3
Id., 2014. Disponível em: <http://www.febraban.org.br/7Rof7SWg6qmyvwJcFwF710aSDf9jyV/sitefebraban/
Pesquisa%20FEBRABAN%20de%20Tecnologia%20Banc%E1ria%202014.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018
4
ABRAHÃO, N. Direito bancário. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 650.
5
“Como o próprio nome indica, a moeda escritural é uma moeda que não existe materialmente senão nos
livros de contabilidade do banco; existe apenas na forma escrita. (...). Os dígitos de nossas contas bancárias são
as moedas escriturais modernas; a moeda escritural moderna é totalmente digital.” In: ULRICH, F. Aspectos

72 Tendências Digitais em Finanças


Especialmente a geração milênio, conforme apontado anteriormente, cujas
pessoas entre 25 e 34 anos de idade não veem valor em ir à agência ban-
cária para realizar operações financeiras e resolver problemas bancários.

Mesmo o Brasil sendo um país com alto grau de desigualdade social, o


smartphone popularizou-se e o uso em grande escala desse dispositivo
digital possibilitou que grande parte das operações financeiras fossem
realizadas com a utilização de app (application, em português, aplicativo).
Em outras palavras, realizadas de qualquer lugar que tenha conexão com
a internet, de forma rápida e com alto grau de confiabilidade e precisão.

Em 2018, o Banco Central Brasileiro reconheceu e autorizou que os cor-


rentistas com contas salário possam transferir o salário para uma conta
de banco virtual. Esse movimento mostra uma forte tendência de virtuali-
zação da moeda e das instituições bancárias. Adicionalmente, com oferta
de tarifas mais baixas e com atendimentos eletrônicos com uso de inteli-
gência artificial.

Atualmente não existe qualquer tipo de regulamentação específica no di-


reito pátrio a respeito do uso de criptomoedas por qualquer tipo de ente
público ou privado em qualquer tipo de atividade, exceto nos Estados
Unidos – que já reconheceram em 2018 a criptomoeda como um bem a
ser incluído no sistema econômico. Mas outros países já estão dando os
primeiros passos em busca de compreender esse tipo de tecnologia e os
efeitos jurídicos gerados pelo seu uso. É necessário verificar como essa
inovadora ferramenta deve ser vista sob a ótica da legislação nacional e
da autorregulação setorial (SILVA, 2017, p. 3).

LINK
este artigo elucida aspectos jurídicos e regulatórios do  bitcoin  (BTC)
com objetivo de reduzir a insegurança jurídica em que se encontram
as operações realizadas com a moeda virtual no Brasil. Essa pesquisa
descritiva de cunho qualitativo e método dedutivo verifica, por meio

Tendências Digitais em Finanças 73


do estudo da legislação e doutrinas pertinentes, a quais órgãos re-
guladores do Sistema Financeiro Nacional (SFN) as operações com o
BTC estão submetidas. Para isso, são introduzidas as funcionalidades,
potencialidades e limitações do  blockchain, tecnologia subjacente à
criptomoeda. Após, são destacados aspectos relevantes do Sistema
Financeiro Nacional. Em seguida, busca-se a classificação conceitual
jurídica adequada ao Bitcoin. Findas essas etapas, o trabalho sugere
que, em razão da natureza jurídica do  bitcoin  como bem intangível,
no atual aparato legal, não há previsão regulatória sobre o BTC, mo-
tivo pelo qual, no momento, operações com a moeda virtual não es-
tão submetidas a qualquer órgão do SFN. O Banco Central do Brasil e
outros pelo mundo ainda não formularam ou aprovaram regulamen-
tações para esse fim. Esse processo tende a um novo sistema mo-
netário mundial, com viabilidade para uma moeda única. Disponível
em: <https://revistas.utfpr.edu.br/rts/article/view/7432>. Acesso em:
7 jul. 2018.

1. Conceito de criptomoeda

Para o entendimento adequado do tema, faz-se necessário explanar so-


bre o conceito de criptomoeda de forma bastante clara. Para tanto, será
indicado como funciona e quais são as características que as diferenciam
de todos os outros meios de pagamento e custódia.

Cabe destacar que esta surge e é operada somente por meio digital, sem
qualquer tipo de substrato físico. Sua emissão baseia-se em um critério
matemático, diferenciando-se do critério subjetivo para a emissão do pa-
pel-moeda, que se baseia em análise de indicadores macroeconômicos e
do conhecimento da ciência econômica.

Existe, atualmente, uma grande quantidade de criptomoedas em circu-


lação, cada uma delas com suas próprias características (SILVA, 2017, p.
15). Dentre elas, é possível citar a Litecoin, que conta com a vantagem de

74 Tendências Digitais em Finanças


realizar transações com alta velocidade6, a Dogecoin7, que possui grande
popularidade, e a Novacoin8.

ASSIMILE
as chamadas criptomoedas não são emitidas nem garantidas por uma
entidade monetária governamental. Algumas são emitidas e interme-
diadas por entidades não financeiras e outras não têm sequer uma
entidade responsável por sua emissão. Em ambos os casos, as enti-
dades e pessoas que emitem ou fazem a intermediação desses ativos
virtuais não são reguladas nem controladas por autoridades monetá-
rias de qualquer país.

As moedas virtuais não têm garantia de conversão para a moeda ofi-


cial, tampouco são garantidas por ativo real de qualquer espécie. O
valor de conversão de um ativo conhecido como moeda virtual para
moedas emitidas por autoridades monetárias depende da credibilida-
de e da confiança que os agentes de mercado possuam na aceitação
da chamada moeda virtual como meio de troca e das expectativas de
sua valorização.

Essas moedas virtuais foram projetadas e implementadas com base em


um único sistema: a Bitcoin, criada por Satoshi Nakamoto, e disseminada
por meio de seu artigo intitulado Bitcoin: a Peer-to-Peer Electronic
Cash System9.

Esse artigo apresentou, pela primeira vez, “uma versão puramente peer-
-to-peer de dinheiro eletrônico, que permite transações de uma par-
te para a outra parte sem a intermediação de instituições financeiras”10
(NAKAMOTO, 2009, p. 1).

6
LITECOIN PROJECT. About. 2016. Disponível em: <https://litecoin.org/pt/>. Acesso em: 6 jul. 2018.
7
PROJECT. The Dogecoin. About. Disponível em: <http://dogecoin.com/>. Acesso em 6 jul. 2018.
8
NOVACOIN FOUNDATION. About. Disponível em: <http://novacoin.org/>. Acesso em: 6 jul. 2018.
9
NAKAMOTO, S. Bitcoin: a Peer-to-Peer Electronic Cash System. 2009. Disponível em: <https://bitcoin.org/bit-
coin.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2018.
10
Ibidem.

Tendências Digitais em Finanças 75


Segundo Satoshi Nakamoto11 (ibidem):
O comércio na internet passou a depender quase exclusivamente de insti-
tuições financeiras exercendo o papel de terceiros confiáveis para proces-
sar pagamentos eletrônicos. Embora o sistema funcione bem na maioria
das transações, ainda sofre com fraquezas inerentes ao modelo baseado
em confiança. Transações completamente não reversíveis não são real-
mente possíveis, uma vez que as instituições financeiras não podem evitar
mediação de disputas. O custo da mediação aumenta os custos de transa-
ção, limitando a tamanho mínimo de transações e cortando a possibilidade
de pequenas transações casuais (...). Com a possibilidade de reversão, a ne-
cessidade de confiança se espalha. Os comerciantes devem ser cautelosos
com relação a seus clientes, devendo para obter mais informações do que
de outro necessário. (...) Assim, um sistema de pagamento eletrônico base-
ado em prova criptográfica em vez de confiança, permitindo que quaisquer
duas partes dispostas negociem diretamente entre si sem a necessidade de
um terceiro de confiança.

As moedas virtuais surgiram também para contestar a estrutura atual-


mente estabelecida, oferecendo uma opção acessível a todos aqueles que
não tiverem interesse em utilizar o sistema bancário tradicional, esses
mantidos fundamentalmente pela relação de confiança.

PARA SABER MAIS


o objetivo do artigo consiste em responder ao seguinte problema de
pesquisa: a falta de regulamentação específica para as moedas virtu-
ais possui relação com a expansão das modalidades criminosas? Para
responder ao referido desafio, é necessário abordar o conceito de
criptomoedas, sua expansão, o papel das instituições de controle e os
limites jurídicos que reconhecem a existência dessa nova modalidade
de tecnologia. Partimos da premissa de que o advento das moedas vir-
tuais em si não consiste em uma atividade criminosa pela ausência de
regulamentação pelo Banco Central, mas sim, pode vir a se encaixar

11
Ibidem.

76 Tendências Digitais em Finanças


em tipos penais pelo mau uso dos softwares. A abordagem é qualitati-
va, com suporte em revisão de literatura e análise descritiva dos even-
tos pesquisados, além da consulta sobre a legislação sobre o tema. A
contribuição é relevante pelo ineditismo e pela importância do tema
no contexto financeiro e jurídico das transações realizadas em moda-
lidade virtual. Conclui-se que não é possível associar diretamente o
uso de moedas virtuais com a expansão das modalidades criminosas,
entretanto, resta evidência que há relação subjacente entre a falta de
regulamentação e a especialização de práticas criminosas que usam
o ciberespaço como meio para suas ações. Disponível em: <https://
www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/4897>.
Acesso em: 7 jul. 2018.

Quando as pessoas e organizações depositarem a confiança em outro


sistema capaz de realizar as mesmas atividades, mas gerido pelas pró-
prias pessoas e organizações, sem custo, o atual sistema bancário sofre-
rá transformações irreversíveis, em virtude dessa nova tecnologia digital
disruptiva.

No atual modelo de negócio dos bancos, a intermediação gera uma série


de transações, custos e atores. Quando uma pessoa compra com cartão
de crédito, exige-se uma série de operações, entre um banco intermediá-
rio, operadora do cartão, as partes que compram e vendem os produtos e
serviços, etc. É um sistema complexo e que gera maior custo de transação.

Com o uso de moedas virtuais, somente as partes que compram e ven-


dem os produtos e serviços e partes verificadoras da transação estão en-
volvidas, gerando eficiência de mercado.

Observe o conceito de criptomoedas a partir da publicação feita pelo


BACEN, em 19 de fevereiro de 2014, com o Comunicado 25.30612:

12
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Comunicado nº 25.306, de 19 de fevereiro de 2014. Esclarece sobre os riscos
decorrentes da aquisição das chamadas “moedas virtuais” ou “moedas criptografadas” e da realização de tran-
sações com elas... Brasília, DF. Disponível em <https://www3.bcb.gov.br/normativo/detalharNormativo.do?me-
thod=detalharNormativo&N=114009277>. Acesso em: 7 jul. 2018.

Tendências Digitais em Finanças 77


3. As chamadas moedas virtuais não são emitidas nem garantidas por uma
autoridade monetária. Algumas são emitidas e intermediadas por entida-
des não financeiras e outras não têm sequer uma entidade responsável por
sua emissão. Em ambos os casos, as entidades e pessoas que emitem ou
fazem a intermediação desses ativos virtuais não são reguladas nem super-
visionadas por autoridades monetárias de qualquer país.

4. Essas chamadas moedas virtuais não têm garantia de conversão para a


moeda oficial, tampouco são garantidas por ativo real de qualquer espécie.
O valor de conversão de um ativo conhecido como moeda virtual para mo-
edas emitidas por autoridades monetárias depende da credibilidade e da
confiança que os agentes de mercado possuam na aceitação da chamada
moeda virtual como meio de troca e das expectativas de sua valorização.

Assim, tal instituição esclareceu a diferenciação entre as criptomoedas


e as moedas digitais, indicando que as criptomoedas não têm diversas
características inerentes às moedas tradicionais, representadas em meio
digital pelas moedas digitais (SILVA, 2017).

O FATF, órgão intergovernamental independente que desenvolve e pro-


move políticas para proteger o sistema financeiro global contra o crime
de lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e o financiamento
da proliferação de armas de destruição em massa, emitiu documento in-
dicando o seu próprio conceito de moeda virtual. Para este órgão:
Moeda virtual é um representativo digital do valor que pode ser digitalmen-
te negociadas e funciona como (1) um meio de troca; e/ou (2) uma unidade
de conta; e/ou (3) uma reserva de valor, mas não faz e não têm curso legal
(isto é, quando oferecido a um credor, é uma oferta válida e legal de paga-
mento) em qualquer jurisdição. Não é emitido nem garantidas por qualquer
jurisdição, e cumpre as funções acima apenas por acordo no seio da comu-
nidade de utilizadores da moeda virtual13.

Para o FATF, para ser considerada uma criptomoeda, elas devem ser fidu-
ciárias, baseadas em critério matemático para emissão, em código aberto,
13
FATF – FINANCIAL ACTION TASK FORCE. Virtual Currencies: Key Definitions and Potential AML/CFT Risks.
2014. Disponível em: <http://www.fatf-gafi.org/media/fatf/documents/reports/Virtual-currency-key-defini-
tions-and-potential-aml-cft-risks.pdf> Acesso em: 7 jul. 2018.

78 Tendências Digitais em Finanças


funcionando peer-to-peer, sem administração de uma autoridade central,
sem monitoramento e supervisão centrais. Esta última definição asseme-
lha-se à definição do BACEN (Banco Central do Brasil).

Com base nas definições mencionadas por órgãos reguladores nacional e


internacional, podemos definir a criptomoeda como um bem digital gera-
do com base na tecnologia blockchain, baseada em criptografia, algoritmos
distribuídos e uma rede descentralizada de participantes, independente-
mente de qualquer país soberano, divisível, com conteúdo personalizável,
tendo o seu valor definido não por lastro, como outras moedas, mas sim
pelo interesse do mercado na sua utilização (SILVA, 2017).

PARA SABER MAIS


os seres humanos utilizaram diversos instrumentos como meio de tro-
ca durante a sua história, desde metais até os pedações de papel com
os quais somos familiares. Mas o desenvolvimento tecnológico excluiu
grande parte da necessidade de substrato físico do meio de troca, tor-
nando-o virtual e preservando apenas a parte mais importante: a in-
formação e o valor atribuído a esse instrumento pela sociedade.

Assim, esse movimento gerou muitas formas de meio de troca, incluin-


do a Bitcoin e as outras criptomoedas. Esses bens, criados e mantido
por grupos sociais específicos, expandem-se dia após dia na medida
em que o mercado passa a perceber as grandes oportunidades gera-
das por essa nova tecnologia.

Contudo, tal disrupção gera grandes questionamentos na esfera jurí-


dica, vez que o sistema legal atualmente em vigor encontra dificuldade
ao lidar com a criptomoeda, dadas as suas características únicas.

Assim, o presente trabalho busca verificar como a criptomoeda se en-


caixa no Sistema Jurídico Brasileiro e, dada a ausência de regulação
específica a respeito do tema, como o regramento da utilização de
criptomoedas pode se dar em âmbito nacional.

Tendências Digitais em Finanças 79


Assim, por meio da análise da doutrina e jurisprudência nacional e es-
trangeira, análise de dados empíricos e legislação, esta pesquisa apre-
senta o funcionamento da criptomoeda, utilizando a Bitcoin, dado o
fato de que esta é a criptomoeda mais popular atualmente, indica a
essência jurídica desta (o que faz com que a sua utilização e tutela
jurídica possam ser mais bem definidas) e como a regulação e autor-
regulação da sua utilização, apontando como essa questão foi aborda-
da em outros países e como estruturas e mercados similares lidaram
com questões relacionadas a novas tecnologias.

Disponível em: <http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/3358>.


Acesso em: 7 jul. 2018.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


• Como a sociedade terá confiança em uma moeda sem o subs-
trato físico e garantias do governo?

• No sistema Bitcoin, as operações são feitas peer-to-peer, sem


intermediação. Como a assimetria de informações entre com-
pradores e vendedores serão resolvidas?

• Se a criptomoeda for reconhecida como moeda oficial do país,


como será implementada uma política monetária, visto que a
emissão é por critério matemático e não subjetivo?

• Para a compra e venda de criptomoedas, não existe um inter-


mediário. Quem garante os fundos das transações?

2. Considerações Finais
• Criptomoedas: existem vários tipos de criptomoedas em circula-
ção, cada uma delas com suas próprias características e aceitação,
segundo Silva (2017). Dentre tais moedas virtuais, podemos citar
a Litecoin, que conta com a vantagem de realizar transações com

80 Tendências Digitais em Finanças


alta velocidade, a Dogecoin que possui grande popularidade e
a Novacoin.

• Geração milênio: pessoas entre 18 a 34 anos, com acesso a ferra-


mentas tecnológicas digitais, com o uso de smartphone, não têm a
percepção de valor ao ir a uma agência bancária, são nativos digi-
tais, não acreditam em instituições, tendem a acreditar mais nas
pessoas, já consomem muitos produtos e serviços por meio de app,
valorizam a liberdade de escolha, querem coisas personalizadas,
são colaboradores espontâneos, analisam criteriosamente pessoas
e organizações, querem se divertir no trabalho e na escola, ser rápi-
do é normal, inovação faz parte da vida, nunca antes na história,
uma geração sucessora tem mais informação que sua antecessora.
O modelo de negócio precisa atender estas características para per-
manecer no mercado.

• Principais características da moeda virtual: segundo o FATF 2014,


moeda virtual é um substrato digital do valor que pode ser digital-
mente negociada e funciona como (1) um meio de troca; e/ou (2) uma
unidade de conta; e/ou (3) uma reserva de valor, mas não faz e não tem
curso legal (isso é, quando oferecida a um credor, é uma oferta váli-
da e legal de pagamento) em qualquer jurisdição. Não é emitida nem
garantida por qualquer jurisdição, e cumpre as funções acima apenas
por acordo no seio da comunidade de utilizadores da moeda virtual14.
Para o FATF, para ser considerada uma criptomoeda, elas devem
ser fiduciárias, baseadas em critério matemático para emissão, em
código aberto, funcionando peer-to-peer, sem administração de uma
autoridade central, sem monitoramento e supervisão centrais.

• Bem digital: a moeda virtual é um bem digital gerado com base na


tecnologia Blockchain, baseada em criptografia, são algoritmos distri-
buídos e uma rede descentralizada de usuários, independentemente
14
FATF – FINANCIAL ACTION TASK FORCE. Virtual Currencies: Key Definitions and Potential AML/CFT Risks.
2014. Disponível em: <http://www.fatf-gafi.org/media/fatf/documents/reports/Virtual-currency-key-defini-
tions-and-potential-aml-cft-risks.pdf> Acesso em: 7 jul. 2018.

Tendências Digitais em Finanças 81


de qualquer país soberano, divisível, com conteúdo personalizável,
tendo o seu valor definido não por lastro como outras moedas, mas
sim pelo interesse do mercado na sua utilização (SILVA, 2017, p. 22).

Glossário

• Peer-to-Peer: transações realizadas diretamente de pessoa para


pessoa.

• Características da criptomoeda: para ser considerada uma crip-


tomoeda, elas devem ser fiduciárias, baseadas em critério mate-
mático para emissão, em código aberto, funcionando peer-to-peer,
sem administração de uma autoridade central, sem monitoramen-
to e supervisão centrais.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 05
1. Além da Bitcoin, quais são as outras três criptomoedas tra-
tadas neste capítulo?
a) A Litecoin, a Nakamoto e a Dogecoin.
b) A Bitcoin, Satoshi Nakamoto e a Peer-to-Peer.
c) A Dogecoin, a Satoshi e a Novacoin.
d) A Bitcoin, Litecoin e a Novacoin.
e) A Litecoin, a Dogecoin e a Novacoin.

2. Como o Banco Central do Brasil define o que é moeda virtual?


a) As chamadas moedas virtuais não são emitidas nem
garantidas por uma autoridade monetária. Algumas

82 Tendências Digitais em Finanças


são emitidas e intermediadas por entidades não
financeiras e outras não têm sequer uma entidade
responsável por sua emissão. Em ambos os casos, as
entidades e pessoas que emitem ou fazem a inter-
mediação desses ativos virtuais não são reguladas
nem supervisionadas por autoridades monetárias de
qualquer país.
b) O valor de conversão de um ativo conhecido como
moeda virtual para moedas emitidas por autoridades
monetárias depende da credibilidade e da confiança
dos agentes de mercado.
c) Essas chamadas moedas virtuais não têm garantia
de conversão para a moeda oficial, tampouco são
garantidas por ativo real de qualquer espécie. O valor
de conversão de um ativo conhecido como moeda
virtual para moedas emitidas por autoridades mone-
tárias depende da credibilidade e da confiança que
os agentes de mercado possuam na aceitação da
chamada moeda virtual como meio de troca e das
expectativas de sua valorização.
d) Algumas são emitidas e intermediadas por entidades
não financeiras e outras não têm sequer uma entida-
de responsável por sua emissão.
e) São moedas digitais, emitidas por um critério
matemático.

3. Qual país reconheceu a criptomoeda, em 2018?


a) O Brasil já reconheceu em 2018 a criptomoeda como
um bem a ser incluído no sistema econômico.

b) O México e Peru já reconheceram em 2018 a criptomoe-


da como um bem a ser incluído no sistema econômico.

c) A Espanha e Rússia já reconheceram em 2018 a criptomo-


eda como um bem a ser incluído no sistema econômico.

Tendências Digitais em Finanças 83


d) A Coreia do Norte já reconheceu em 2018 a crip-
tomoeda como um bem a ser incluído no sistema
econômico.

e) Os Estados Unidos já reconheceram em 2018 a crip-


tomoeda como um bem a ser incluído no sistema
econômico.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, M. D. de. Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmi-


ca dos Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro. Disponível em: <ht-
tps://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/4897>.
Acesso em: 7 jul. 2018.

RIBEIRO, R. M. L. Bitcoin no sistema financeiro nacional. Disponível


em: <https://revistas.utfpr.edu.br/rts/article/view/7432>. Acesso em: 7
jul. 2018.

SILVA, L. G. D. A regulação do uso de criptomoedas no Brasil. Dissertação


(Mestrado em Direito Político e Econômico) – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2017.

Gabarito – Tema 05

Questão 1 – Alternativa E: além da Bitcoin, que é a mais popular atu-


almente, outras criptomoedas que podemos citar são: a Litecoin, que
conta com a vantagem de realizar transações com alta velocidade, a
Dogecoin, que tem grande popularidade, e a Novacoin. Tais moedas
virtuais foram criadas e implementadas com base em um único siste-
ma: a Bitcoin, criada por Satoshi Nakamoto e disseminada por meio

84 Tendências Digitais em Finanças


de seu artigo intitulado Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System.

Questão 2 – Alternativa C: as moedas virtuais não têm garantia de


conversão para a moeda oficial, também não são garantidas por ati-
vo real de qualquer espécie. O valor de conversão de um ativo co-
nhecido como moeda virtual para moedas emitidas por autoridades
monetárias depende da credibilidade e da confiança que os agentes
de mercado possuam na aceitação da chamada moeda virtual como
meio de troca e das expectativas de sua valorização.

Questão 3 – Alternativa E: os Estados Unidos já reconheceram em


2018 a criptomoeda como um bem a ser incluído no sistema econômico.

Tendências Digitais em Finanças 85


TEMA 6
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL APLICADA
A FINANÇAS

Objetivos

• Apesar dos grandes avanços nesta grande área de


inteligência artificial, comparativamente à inteligência
humana, as limitações ainda são grandes. Este texto
tem como objetivo descrever a viabilidade de reali-
zar precificação de investimentos e ativos de forma
automatizada, que chamo aqui de analista digital e
autônomo de investimentos (ADAI).

86 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

Em 2017, uma notícia percorreu o mundo, sobre um robô humanoide


desenvolvido pela empresa Hanson Robotics, de Hong Kong, capaz de re-
produzir 62 expressões faciais, e que se chamava Sophia. Além de repro-
duzir expressões faciais, esse robô foi projetado para aprender ao longo
do tempo, por meio das interações com os seres humanos, além de ter a
capacidade de adaptar-se ao comportamento humano e a trabalhar com
seres humanos.

Dentre as definições de inteligência, para o objetivo deste texto, vamos


partir da definição de que a inteligência é todas as características intelec-
tuais de um ser humano, ou seja, a faculdade de conhecer, compreender,
raciocinar, pensar e interpretar. A inteligência é uma das principais distin-
ções entre os seres humanos e os outros animais. Portanto, a inteligência
artificial é semelhante à inteligência humana, acionada por meio mecâni-
co, com uso de software e hardware.

Nessa esteira, muitos de nós já fizemos a seguinte pergunta: “Quando as


máquinas irão realizar as tarefas que até o presente somente os seres hu-
manos podem fazer?” Os carros autônomos são provas recentes do avan-
ço da inteligência artificial aplicada, ou seja, dirigir um carro já não é mais
uma tarefa impossível para as máquinas realizarem. Não estamos muito
longe do tempo em que as máquinas passarão a realizar ainda mais tare-
fas com eficiência.

LINK
Considerada um ramo da computação, a inteligência artificial se ca-
racteriza por simular a capacidade humana de raciocinar, perceber,
resolver e tomar decisões. Sendo fortemente impulsionada com os
rápidos avanços da informática e computação, inovando e criando no-
vas tecnologias. Seu início se deu em 1940, sem ser brevemente dita

Tendências Digitais em Finanças 87


“artificial”, isso porque o princípio era criar novas funcionalidades para
o computador advento da Segunda Guerra Mundial, buscando maio-
res alternativas no setor bélico. Somente em 1960 começaram a surgir
vertentes nas linhas de estudo da “IA” (sigla para inteligência artificial),
iniciando-se na área biológica. O intuito era criar máquinas que pode-
riam imitar as redes neurais humanas. Disponível em: <http://reeed.
com.br/index.php/reeed/article/view/25>. Acesso em: 20 jul. 2018

Existe esforço de pesquisa para que a atividade de análise de investimen-


to, por exemplo, seja uma das atividades que as máquinas possam reali-
zar com eficiência.

Para fins de compreensão do potencial e limitações da inteligência arti-


ficial aplicada em análise de investimento e ativos automatizada, vamos
inicialmente conhecer os modelos de análise CAPM – Capital Asset Pricing
Model e Black-Scholes, amplamente utilizados pelos analistas de investi-
mentos e ativos do mercado de capitais.

Em análise de investimentos e ativos, um dos principais desafios para o


ADAI e analistas humanos é o fato de que as variáveis são estocásticas,
ou seja, que mantêm uma trajetória indeterminada e que estão correla-
cionadas a eventos aleatórios. Não se trata de variáveis estacionárias ou
estanques, o que dificulta a previsibilidade segura e margens de acerto.

Porém, no robô Sophia, foi aplicado um algoritmo que permite o apren-


dizado ao longo do tempo, mediante interações com os seres humanos,
que representa um grande avanço na área de inteligência artificial. Isso
denota avanço tecnológico e reforça a superioridade da inteligência natu-
ral, a inteligência humana.

Outro destaque recente é o sistema da IBM Watson, uma plataforma de


serviços cognitivos que está sendo aplicada em grande escala nas centrais
de atendimento aos clientes de grandes organizações. Com a inteligência
artificial, o Watson pode aprender a partir de interações com os seres

88 Tendências Digitais em Finanças


humanos, por meio da cognição, que é o processo que a mente humana
tem para aprender a partir de informações recebidas. Em fase inicial de
implantação, o Watson passa um período somente recebendo informa-
ções, a partir dos atendimentos realizados pelos profissionais dessa área.
Após esse período de coleta de informações, o Watson passa a atender
as ligações telefônicas em substituição aos atendimentos realizados por
profissionais dessa área. Esse tipo de tarefa já é realizado com eficiência
pelas máquinas.

Na área de finanças, já é possível verificar a aplicação de diversas tecno-


logias que estão transformando o modelo de negócio e gerando a neces-
sidade de um novo perfil para os profissionais de finanças, com conhe-
cimento e habilidade em ciência de dados. Como, por exemplo, a block-
chain, fintech, criptomoeda, os bancos digitais, o home broker para compra
e venda de ações, mobilidade e cloud.

Por fim, a partir dos modelos CAPM e Black-Sholes, você irá verificar as
capacidades e limitações do ADAI, em relação aos analistas de mercado.

1. CAPM – Capital Asset Pricing Model

O CAPM é um dos principais modelos utilizados por profissionais de mer-


cado financeiro. Foi criado por Treynor, Sharpe, Litner e Mossin com base
nos trabalhos anteriores de Markowitz e pode ser visto como caso parti-
cular da APT1. No CAPM, o retorno de um ativo poderia ser expresso em
termos de um fator de risco que seria o próprio portfólio de mercado,
como na equação abaixo (CASTRO; JUNIOR; SICHMAN, 2018, p. 27):

E (Rx) = r f + β * (Rm - r f)
Onde Rm é o retorno do mercado e E (Rx) o valor esperado do retorno de
um determinado ativo x. A expressão (Rm - r f) é frequentemente chamada

1
DAMODARAN, A. Applied Corporate Finance. 4. ed., v. 1. New York: Wiley, 2010.

Tendências Digitais em Finanças 89


de prêmio de risco e corresponde ao retorno acima do ativo livre de ris-
co, pago pelo mercado. O coeficiente β pode ser estimado por regressão
e quanto maior for, maior o retorno específico pago pelo ativo x. (CASTRO;
JUNIOR; SICHMAN, 2018, p. 27)

Os dois principais pilares da teoria de finanças dizem respeito à hipótese


de eficiência de mercado e ao Capital Asset Pricing Model. Em mercados
eficientes, o retorno esperado de um ativo deve ser igual ao retorno de um
ativo livre de risco, mais um prêmio pelo risco corrido, por sua vez, função
do risco sistemático, não diversificável, do ativo (BRUNI; FAMÁ., 2015).

PARA SABER MAIS


Os dois dos principais fundamentos da teoria de finanças dizem res-
peito à hipótese de eficiência de mercados e ao Capital Asset Pricing
Model. Em mercados eficientes, o retorno esperado de um ativo deve
ser igual ao retorno de um ativo livre de risco, mais um prêmio pelo
risco corrido, por sua vez, função do risco sistemático, não diversificá-
vel, do ativo. Enquanto estudos preliminares ao modelo ajudaram na
sua afirmação, não sendo capaz de rejeitar suas premissas e a hipó-
tese de eficiência dos mercados, outros autores apresentaram estu-
dos nos quais outras variáveis mostraram-se significativamente asso-
ciadas aos retornos, permitindo a obtenção de retornos anormais. O
objetivo deste artigo foi analisar quais seriam os fatores significativos
associados aos retornos das ações de empresas não financeiras nego-
ciadas na Bolsa de Valores de São Paulo entre os anos de 1988 e 1996.
Os resultados encontrados não permitiram evidenciar relação signifi-
cativa entre retornos betas. Por outro prisma, fatores como o endivi-
damento ou a relação entre valor contábil e de mercado revelaram-se
significativos. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publi-
cation/238668944_MERCADOS_EFICIENTES_CAPM_E_ANOMALIAS_
UMA_ANALISE_DAS_ACOES_NEGOCIADAS_NA_BOVESPA_1988-1996>.
Acesso em: 19 jul. 2018.

90 Tendências Digitais em Finanças


Em mercados eficientes, os preços dos ativos refletem todas as informa-
ções disponíveis, a partir também de uma convergência consensual entre
os agentes desse mercado. Portanto, os preços se ajustam de acordo com
o cenário econômico, resultados das empresas que negociam títulos em
Bolsa de Valores e mercado financeiro.

Mesmo com testes preliminares favoráveis ao CAPM e à hipótese de mer-


cados eficientes, contribuindo e popularizando esses conceitos em finan-
ças, outros estudos mais atuais apresentaram outros fatores associados
ao retorno e que estão ausentes no modelo.

Alguns dos fatores que estão ligados ao retorno e que estão ausentes no
modelo CAPM são: as imperfeições do mercado, assimetria de informa-
ções, custos de transações, custos corporativos e até pessoais. Assim a
liquidez, os dividendos distribuídos e sua rentabilidade, a variância dos
ativos, também seriam fatores correlacionados aos retornos dos ativos.

Outro aspecto que podemos deliberar aqui seria o conceito de taxa livre
de risco. Em um cenário com taxa básica de juros da economia, a SELIC no
Brasil, sendo 6,5% a.a., para um investimento em título federal que é emi-
tido pelo Tesouro Nacional para captação de recursos e pagamento de dí-
vidas e investimentos do governo, é considerado como um investimento
livre de risco, pois ao final do período de investimento será recebido pelo
investidor exatamente 6,5% a.a. de retorno.

Mas em uma conjuntura econômica em que a taxa de inflação está sob


controle, em cenários de alta nos índices de inflação, essa taxa de 6,5%
passa a não ser uma taxa livre de risco. O risco de crédito desse investi-
mento é o risco de crédito do governo e o risco associado aos índices de
inflação. Portanto, sempre existe algum grau de risco associado à taxa
considerada livre de risco. O que podemos afirmar é que o risco associa-
do à taxa livre de risco (título do governo) é muito baixo, comparativa-
mente a outros ativos.

Tendências Digitais em Finanças 91


Talvez uma solução para essas limitações do modelo CAPM seria a pesqui-
sa e o desenvolvimento de um algoritmo que fosse capaz de considerar
a análise fundamentalista dentro do modelo. A análise fundamentalista
se baseia nos indicadores macroeconômicos, microeconômicos do país e
das empresas, variáveis exógenas e variáveis endógenas, em virtude da
integração das economias no mundo. O conhecimento da ciência econô-
mica e da ciência de dados são essenciais para a realização de análise fun-
damentalista. Nesse tipo de análise, as variáveis consideradas são reais,
da economia de governos e empresas públicas e privadas.

ASSIMILE
variável estocástica endógena e exógena são variáveis que mantêm
uma trajetória indeterminada e que estão correlacionadas a eventos
aleatórios. Não se trata de variáveis estacionárias ou estanques, o que
dificulta a previsibilidade segura e margens de acerto.

• Endógena é quando estamos tratando de variáveis, por exemplo,


econômicas do Brasil, de nossa economia. Mas que afetam econo-
mias de outros países.

• Exógena é quando estamos tratando de variáveis, por exemplo, econômi-


cas de economias fora do Brasil. Mas que afetam a economia brasileira.

Exemplificando: taxa de câmbio – variável estocástica.

A taxa de câmbio é constituída a partir da PPC do Brasil e PPC dos


Estados Unidos, quando estamos falando da taxa de câmbio do real
em relação ao dólar dos Estados Unidos. A PPC é a paridade do po-
der de compra, para este exemplo, podemos definir como PPC o
IPC – Índice de Preços ao Consumidor do Brasil em relação ao IPC –
Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos, assim a taxa de
câmbio seria:

IPC Brasil 370 / IPC EUA 100 (Base 100) = taxa de câmbio do real em
relação ao dólar americano R$ 3,70

92 Tendências Digitais em Finanças


O IPC é composto por uma cesta de produtos e serviços consumida
em todo o território nacional.

Além de ser uma variável que não segue uma trajetória determinada,
dentro de sua composição de variáveis endógenas e exógenas, não é
possível fazer previsões com boas margens de acerto para a taxa de
câmbio. Alguns bancos centrais no mundo fazem intervenções para
manter a taxa de câmbio em nível desejado, comprando e vendendo
moeda estrangeira.

Podemos também perceber que esses algoritmos possuem alguns parâ-


metros. No entanto, não há uma boa compreensão de como o valor de
cada parâmetro afeta o desempenho do algoritmo e como a mudança de
valor de parâmetro afeta a configuração de outros parâmetros. Isso torna
a definição desses valores muito difícil, mesmo para um pequeno conjun-
to de parâmetros.
Além disso, os mercados financeiros são ambientes não estacionários,
ou seja, a distribuição de probabilidades pode mudar ao longo do tempo.
Portanto, um algoritmo específico pode apresentar um ótimo desempenho
em um determinado período de tempo, mas um desempenho terrível no
próximo período. Além disso, diferentes ativos podem exigir informações
e algoritmos diferentes. Por exemplo, se as companhias de petróleo são
muito sensíveis à mudança dos preços da gasolina, não podemos dizer o
mesmo sobre os bancos. (CASTRO; JUNIOR; SICHMAN, 2018, p. 25)

As condições conjunturais enfrentadas pelo analista digital e autônomo de


investimentos (ADAI) é parcialmente observável, sequencial, estocástico,
dinâmico, contínuo e multiagente, mas isso não representa toda a com-
plexidade do desafio. Além de estocástico, esse ambiente também tem
um processo não estacionário (a distribuição de probabilidades muda ao
longo do tempo), é também estratégico, pois existe competição entre os
investidores para que suas avaliações sejam as mais precisas em relação

Tendências Digitais em Finanças 93


aos preços dos ativos, e as ações desses investidores podem afetar a de-
cisão de outros agentes do mercado.

Mesmo utilizando os métodos mais consagrados para análise de investi-


mentos e precificação de ativos, em um determinado período de tempo,
pode apresentar resultados extraordinários, e em outro período de tem-
po, péssimos resultados, em função da não estacionaridade.

Provavelmente, com os avanços recentes nessa grande área da inteligên-


cia artificial, os robôs possam, pelo processo de cognição, receber infor-
mações por um período de tempo, a partir das interações realizadas pe-
los analistas de mercado, aprender a realizar análises de investimentos
e precificação de ativos com eficiência. Somente os modelos e métodos
mais consagrados não são isoladamente suficientes para solucionar os
problemas no ambiente econômico financeiro.

Para exemplificar, o risco é sempre mensurável, mas a incerteza não é


possível mensurar objetivamente. A subjetividade, que também compõe
parte das análises de investimentos e precificação de ativos, precisaria ser
contemplada nos algoritmos e modelos de análise existentes. Quando se
lê notícias que falam de humor do mercado, aqui existe um aspecto emo-
cional e psicológico importante, representado de forma ainda incipiente
nos modelos e técnicas.

2. Modelo Black-Scholes

Vale trazer a explicação abaixo para inaugurar a discussão sobre o mode-


lo Black-Scholes neste capítulo:
O modelo Black-Scholes é um dos mais consagrados no mercado financei-
ro, para precificação de ativos.

Antes deste modelo, não havia um método unificado para calcular os pre-
ços de derivativos e existia uma grande discussão sobre a legalidade desta

94 Tendências Digitais em Finanças


precificação. O fornecimento de tabelas de cálculo (já que os instrumentos
de cálculo da década de 1970 eram muito rudimentares em relação aos de
hoje) foi fundamental, pois providenciavam uma forma de simplificar os
cálculos do modelo de equações diferenciais. Eram próteses sociocogniti-
vas em sentido mais puro, pois permitiam simplificar cálculos complexos
e assim fazer com que seus usuários tivessem um resultado mais rápido
e, num mundo onde “tempo é dinheiro”, elas podiam dar uma vantagem
fundamental na busca por arbitragem. (FUCIDJI; ALMEIDA; NERIS, 2016, p. 6)

E complementam:
Com o tempo, foi observado que o preço calculado pelo modelo previu com to-
tal precisão o preço observado no pregão (Rubinstein, 1985)2. Tal fenômeno in-
trigou os analistas, já que modelos, especialmente em ciências sociais, servem
para dar uma ideia de como o sistema funciona, não dar previsões cem por
cento precisas. Stephen Ross escreveu no verbete sobre finanças da edição
do Palgrave Dictionary of Economics de 1987: “Dado que uma teoria funcione
tão bem, o melhor trabalho empírico será usado mais como uma ferramenta
do que como um teste... quando julgada por sua habilidade em explicar dados
empíricos, a teoria de precificação de opções é a teoria mais bem-sucedida não
só em finanças, como também em toda a ciência econômica” (Ross, 1987, p.
332). Meses depois, no mesmo ano em que o Palgrave foi lançado, veio o crash
de 19 de outubro de 1987, a ‘Segunda-feira Negra’: o índice S&P 500 caiu 20 por
cento, aliado a quedas simultâneas em mercados internacionais (Kindleberger
e Aliber, 2005, p. 99). Tal evento também terminou a correspondência entre o
modelo BlackScholes e a realidade, e a correlação observada por Rubinstein
nunca mais se repetiu. (FUCIDJI; ALMEIDA; NERIS, 2016, p. 7)

Assim como foi citado no item anterior sobre o modelo CAPM, o ambien-
te não estacionário, as variáveis exógenas e endógenas estocásticas, a
assimetria de informações disponíveis, as ações dos analistas em bus-
ca na melhor precisão e os desdobramentos dessas ações sobre outros
agentes do mercado, os excelentes resultados em um período de tempo
e os péssimos resultados em outro período de tempo, a partir do uso de
2
MacKenzie cita uma entrevista feita com Rubinstein, em que ele disse: “Eu caminhei [até a parte mais ativa
da bolsa] e olhei para a tela [de preços de mercado] e vi que tinha preços idênticos à folha [de preços Black-S-
choles]. Eu disse a mim mesmo ‘a academia triunfou’!” (MACKENZIE, 2007, p. 62).

Tendências Digitais em Finanças 95


diversas técnicas e modelos, as diferentes distribuições de probabilidades
ao longo do tempo, a incerteza em relação ao futuro, etc., são elementos
que desafiam os analistas e a construção de modelos, algoritmos que via-
bilizem a implementação e eficiência dos analistas digitais e autônomo de
investimentos (ADAIs). Em um futuro breve, pode ser uma excelente fer-
ramenta, visto que em ciências sociais os modelos e a inteligência artificial
são apenas ferramentas para auxiliar nas decisões.

Este texto não tem como objetivo aprofundar tecnicamente sobre os mo-
delos citados. Para conhecer mais, segue abaixo indicação de texto que
pode atender a essa necessidade.

PARA SABER MAIS


A ideologia de que a ciência econômica molda a realidade mais do que
apenas a descreve é o entendimento geral do significado da “tese de
performatividade”. Este texto busca discutir, à luz dessa tese, a prá-
tica e as proposições dos economistas teóricos. Os economistas fa-
zem modelos que procuram captar a realidade, mas ao mesmo tempo
buscam moldar o comportamento dos indivíduos (inclusive de manei-
ra profunda) e das instituições. Ao mesmo tempo, as instituições e
o comportamento individual interagem entre si coerentemente por
meio dessas mesmas teorias econômicas. Enfim, o artigo explana tam-
bém a relação entre estrutura social e teoria econômica. Disponível
em: <https://www.researchgate.net/publication/268925050_A_tese_
de_performatividade_e_o_ambiente_das_ideias_o_papel_dos_mode-
los_formais_em_economia>. Acesso em: 19 jul. 2018.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Como as tecnologias com inteligência artificial podem também con-
templar as avaliações subjetivas realizadas por diferentes analistas
de investimentos e de precificação de ativos?

96 Tendências Digitais em Finanças


Visto que os diferentes graus de incerteza em relação ao futuro dos
preços dos ativos não são mensuráveis, como podem ser conside-
rados no algoritmo de novos modelos e nos modelos existentes de
avaliação e precificação, CAPM e BlackScholes?

As variáveis do mercado financeiro são estocásticas. Como deveriam


ser os novos modelos de análise, para captar melhor os movimentos
estocásticos e antecipar tendências com maior precisão?

Que variável poderia refletir o humor de mercado nos modelos


de análise?

3. Considerações Finais

• Este texto é uma introdução sobre o uso da inteligência artificial


aplicada em análise de investimentos e precificação de ativos a par-
tir de dois modelos consagrados no mercado financeiro, o CAPM
Capital Asset Pricing Model e BlackScholes. A área de inteligência
artificial é ampla e está gerando uma disrupção em diversas áreas
do saber, em finanças, na saúde, computação, gestão pública e pri-
vada, e muitas outras.

• O grande desafio é o uso da inteligência artificial para a análise de


investimentos e precificação de ativos, visto que a ciência econômi-
ca financeira é uma ciência humana, não exata.

• A pesquisa e o desenvolvimento de um algoritmo que faça uma aná-


lise fundamentalista talvez seja o próximo grande avanço para que
as máquinas possam realizar essa tarefa com eficiência.

Tendências Digitais em Finanças 97


Glossário

• CAPM: Capital Asset Pricing Model é um modelo de precificação de


ativo.

• Black-Scholes: um dos modelos mais consagrados no mercado fi-


nanceiro para precificação de ativos.

• Inteligência artificial: a inteligência é todas as características in-


telectuais de um ser humano, ou seja, a faculdade de conhecer,
compreender, raciocinar, pensar e interpretar.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 06
1. O que são variáveis estocásticas? Cite uma.
a) São variáveis que têm uma trajetória determinada
no tempo e que estão correlacionadas a eventos pre-
visíveis. Por exemplo, a taxa de câmbio.
b) São variáveis que têm uma trajetória exponencial
no tempo e que estão correlacionadas a eventos do
agronegócio. Por exemplo, a safra.
c) São variáveis que têm uma trajetória indeterminada
no tempo e que estão correlacionadas a eventos ale-
atórios. Por exemplo, a taxa de câmbio.
d) São variáveis que têm uma trajetória de probabilida-
de normal no tempo e que estão correlacionadas a
eventos da Bolsa de Valores. Por exemplo, o preço
das ações da Petrobras.
e) São variáveis que têm uma trajetória determinada no
tempo e que estão correlacionadas a eventos espe-
rados pelo mercado. Por exemplo, a valorização do
índice Ibovespa.

98 Tendências Digitais em Finanças


2. O que são variáveis endógenas? Cite uma.
a) Endógena é quando estamos tratando de variáveis,
por exemplo, econômica do México. Mas que afetam
economias de outros países. Por exemplo, o PIB –
Produto Interno Bruto do México.
b) Endógena é quando estamos tratando de variáveis,
por exemplo, econômicas da Argentina. Mas que afe-
tam economias de outros países. Por exemplo, o PIB
– Produto Interno Bruto da Argentina.
c) Endógena é quando estamos tratando de variáveis,
por exemplo, econômicas do Chile. Mas que afetam
economias de outros países. Por exemplo, o PIB –
Produto Interno Bruto do Chile.
d) Endógena é quando estamos tratando de variáveis,
por exemplo, econômicas dos Estados Unidos. Mas
que afetam economias de outros países. Por exem-
plo, o PIB – Produto Interno Bruto dos Estados Unidos.
e) Endógena é quando estamos tratando de variáveis,
por exemplo, econômicas do Brasil, de nossa econo-
mia. Mas que afetam economias de outros países.
Por exemplo, o PIB – Produto Interno Bruto do Brasil.

3. O que são variáveis exógenas? Cite uma.


a) Exógena é quando estamos tratando de variáveis, por
exemplo, econômicas de economias fora do Brasil.
Mas que afetam a economia brasileira. Por exemplo,
o IPC – Índice de Preços ao Consumidor dos Estados
Unidos.
b) Exógena é quando estamos tratando de variáveis, por
exemplo, indicadores macroeconômicos do Brasil.
Mas que afetam outras economias. Por exemplo, o
IPC – Índice de Preços ao Consumidor do Brasil.

c) Exógena é quando estamos tratando de variáveis,

Tendências Digitais em Finanças 99


por exemplo, econômicas de economias fora do
Brasil. Mas que não afetam a economia brasileira. Por
exemplo, o Saldo da Balança Comercial da Argentina.

d) Exógena é quando estamos tratando de variáveis, por


exemplo, econômicas de economias fora do Brasil. Mas
que afetam a economia somente daquele país. Por
exemplo, o volume de venda de veículos na Venezuela.

e) Exógena é quando estamos tratando de variáveis,


por exemplo, econômicas do Brasil. Mas que afetam
somente a economia brasileira. Por exemplo, a forma-
ção bruta do capital fixo ou investimentos do governo.

Referências Bibliográficas

BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Mercados Eficientes, CAPM e anomalias: uma análise das
ações negociadas na Bovespa (1988-1996). In: Seminários em Administração FEA/
USPSEMEAD III, 1998, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 1998.
CASTRO, P. A. L. de; JUNIOR, R. A.; SICHMAN, J. S. Análise autônoma de investimento:
uma abordagem probabilística discreta. Revista de Informática Teórica e Aplicada
– RITA, v. 25, n. 1, p. 23-38, 2018.
FERNANDES, J. G. L.; SILVA, N. A. M. da; BROCK, T. R.; QUEIROGA, A. P. G. de; RODRIGUES,
L. C. Inteligência artificial: uma visão geral. Revista Eletrônica Reeed – Engenharia
Estudos e Debates, v. 1, 2018. Disponível em: <http://reeed.com.br/index.php/ree-
ed/article/view/25>. Acesso em: 20 jul. 2018.
FUCIDJI, J. R.; ALMEIDA, R. G.; NERIS JR., C. Performatividade da Ciência Econômica: es-
clarecendo os termos e estabelecendo pontes. XLIV Encontro Nacional de Economia,
2018. Anais...

100 Tendências Digitais em Finanças


Gabarito – Tema 06

Questão 1 – Alternativa C: são variáveis que têm uma trajetória in-


determinada no tempo e que estão correlacionadas a eventos alea-
tórios. Por exemplo, a taxa de câmbio. Na economia e nas finanças,
quase todas as variáveis são estocásticas.

Questão 2 – Alternativa E: endógena é quando estamos tratando


de variáveis, por exemplo, econômicas do Brasil, de nossa economia.
Mas que afetam economias de outros países. Por exemplo, o PIB –
Produto Interno Bruto do Brasil. De forma simplificada são variáveis
de dentro de uma economia nacional.

Questão 3 – Alternativa A: exógena é quando estamos tratando


de variáveis, por exemplo, econômicas de economias fora do Brasil.
Mas que afetam a economia brasileira. Por exemplo, o IPC – Índice
de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos. De forma simplifica-
da, são variáveis de economias que estão fora do território nacional.

Tendências Digitais em Finanças 101


TEMA 7
NEGÓCIOS COGNITIVOS QUE
MODELAM O MERCADO

Objetivos

• Este texto tem como objetivo descrever e deliberar


sobre o uso da cognição em práticas estratégicas. E
identificar que tipo de transformação tem gerado os
modelos atuais de negócio.

102 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

A gestão estratégica de negócios não é mais considerada uma área que


simplesmente faz análises de dados, suportada também por especialistas
em ciência de dados. Hoje, essa área está sendo estudada como um pro-
cesso que envolve outras relevantes fontes de conhecimento e capacida-
des. Mais especificamente, passou a ser considerada como um processo
em que outros elementos também são fundamentais, tais como a criativi-
dade, a percepção, a intuição, as hipóteses e o insight (KICH, 2016).

Ainda incipientes, os estudos sobre a cognição têm se tornado cada vez


mais presentes também na área de pensamento, formulação, análise e
gestão de estratégia dos negócios. A cognição é a capacidade e habilida-
de de processar informações e transformá-las em conhecimento. Tendo
como base um conjunto de habilidades mentais, a saber: a percepção, a
atenção, a associação, a imaginação, o juízo, o raciocínio e a memória.

Como as pessoas responsáveis por criar a estratégia nas organizações


pensam? Quais são os pilares da construção de estratégias voltados para
os negócios? Essas são questões relevantes para reflexão e busca de res-
postas que possam contribuir para os estudos sobre o uso da cognição
na área de estratégia.

Nesse sentido, as organizações precisam cada vez mais de pessoas com a


capacidade de resolver problemas complexos em qualquer tipo de cenário.
Algumas das capacidades fundamentais tocam a inteligência emocional,
criatividade e, como já mencionado, a solução de problemas complexos.

Segundo Bastos (2004), sempre que se observa, mesmo que superficial-


mente, o dia a dia das organizações, é inevitável se deparar com mui-
tos fenômenos atinentes a como pessoas pensam, raciocinam, tomam
decisões, fazem previsões, analisam e visam soluções, aprendem coisas
novas, dão ordens, e uma série de outras ações, sem as quais, todavia, a
organização não funcionaria.

Tendências Digitais em Finanças 103


Somente com essa pequena amostra é possível perceber a importância
que o pensamento, a linguagem, o manejo de símbolos, de conceitos e
de regras desempenham nesse complexo cotidiano de pessoas que pre-
cisam articular suas ações em torno de um ou múltiplos objetivos organi-
zacionais (KICH, 2015).

As capacidades mencionadas são objeto de estudos também da área de


psicologia cognitiva, podendo contribuir para o entendimento das carac-
terísticas, dos processos e dinâmica típicos das organizações. Como ele-
mentos importantes para tal entendimento, é possível citar o conheci-
mento, o pensamento e os processos, que geram e transformam as orga-
nizações e os modelos de negócios.

Mintzberg, Lampel e Ahlstrand (2010) declaram que essa forma de investi-


gação pode vir a transformar a prática e o ensino de estratégia como atu-
almente são vivenciados. No próximo item, portanto, os principais concei-
tos da estratégia e da cognição são apresentados.

1. Estratégia e a cognição nos negócios

Segundo Juliane Ines Di Francesco Kich (2016, p. 1):


Dentro das organizações, o interesse pela estratégia se deu devido ao reco-
nhecimento cada vez maior de que o ambiente externo das empresas foi se
tornando mais mutável e descontínuo em relação ao passado, e até os dias de
hoje, o processo da estratégia, ao passo que foi sendo utilizado, sofreu uma
série de transformações. Atualmente, se reconhece que para além de um pro-
cesso formal de planejamento estratégico, a estratégia envolve além de análise
de dados, também percepção, insight, intuição, criatividade, síntese e a capaci-
dade de interconexão de processos complexos de observação que ocorrem na
mente, formando obviamente uma rede intrincada de pensamento.

Os profissionais responsáveis pela estratégia, com base no parágrafo


anterior, precisam exercitar o pensamento linear, não linear, avaliar o

104 Tendências Digitais em Finanças


ambiente interno, o ambiente externo, bem como o pensamento coletivo
de seus pares e liderados para a formulação e implementação de uma es-
tratégia alinhada com os objetivos da organização. Em um mundo mutá-
vel e descontínuo, esse processo de criação da estratégia não é estanque,
precisa ser reavaliado ao longo do tempo e ajustado também às variações
de cenários econômicos, políticos e da concorrência. Aos profissionais da
área de estratégia, é dada muita ênfase ao modo como pensam, ao fun-
cionamento da mente.

PARA SABER MAIS


a criação de estratégias deixou de ser vista como uma área de pro-
cesso de análise de dados e passou a ser estudada como um pro-
cesso que envolve também percepção, insight, intuição e criatividade.
Assim sendo, o estudo da cognição tem se tornado presente na área
da gestão estratégica, e esse trabalho tem por objetivo entender como
o seu uso contribui com a literatura científica nessa área. Denota-se
que essa linha de investigação tem contribuído para a compreensão
da formação da estratégia, e pode vir a transformar a prática e o ensi-
no de estratégia como atualmente são vivenciados, embora ainda es-
teja incipiente (ALMEIDA, ANTONIALLI; GOMES, 2011). Disponível em:
<http://periodicos.estacio.br/index.php/papirussantacatarina/article/
viewArticle/2420>. Acesso em: 25 jul. 2018.

De modo geral, as pessoas responsáveis pela área de estratégia e por sua


implementação são da alta administração nas organizações. O que é tam-
bém objeto de estudos, se realmente é necessária essa centralização na
alta administração. Em muitas organizações, fala-se muito de autonomia
e de um organograma, ou seja, de relações cada vez mais matriciais, me-
nos hierarquizadas para a tomada de decisões. Nessa visão, o trabalho se
desenvolve coletivamente e por projetos, entregas. Com ênfase no pensa-
mento coletivo, no conhecimento, nas habilidades e atitudes das pessoas

Tendências Digitais em Finanças 105


de todas as instâncias da organização. Valorizando o pensamento, a expe-
riência, o conhecimento e a criatividade coletiva.

A prática de uma relação mais matricial e do pensamento coletivo depen-


de também do tipo de comportamento dos gestores da organização.

No que se refere ao comportamento dos estrategistas, Milles e Snow


(1978) apresentam basicamente quatro tipos de comportamentos estra-
tégicos que envolvem esses profissionais:
a) prospector: este profissional tende a ser um líder precursor de
inovações;
b) defensivo: este dificilmente propõe novidades tecnológicas em
sua organização, procura competir em dimensões como preço ou
qualidade dos produtos atuais;
c) analítico: este ao mesmo tempo em que se envolve na proposi-
tura de novos produtos e mercados também procura manter um
domínio estável de produtos e clientes a partir de suas competên-
cias e habilidades centrais;
d) reativo: este não é congruente com a postura de resposta ao
ambiente, devido à ausência de uma orientação consistente, faz
com que ele reaja às pressões ambientais apenas quando forçado.

LINK
A mutabilidade e dinâmica do ambiente em que atuam as empresas
possui uma resultante importante no novo ambiente empresarial. Do
empresário e do executivo, é exigido maior preparo para o estabe-
lecimento de estratégias e de tomadas de decisões. A utilização de
jogos de empresas computadorizados permite a identificação das
competências necessárias a essa nova ordem empresarial, sendo um
instrumento efetivo no desenvolvimento de habilidades cognitivas
fundamentais para a gestão de negócios. Quando bem escolhidos,
estruturados adequadamente e aplicados por profissionais prepara-
dos para avaliar potencial, facilitam a observação objetiva de diversos

106 Tendências Digitais em Finanças


recursos cognitivos: pensar por hipóteses, usar várias fontes de in-
formação, exercitar planejamento, tomar decisões, criar novas formas
de resolver desafios, exercer liderança no grupo, demonstrar habilida-
des em geral.

Este trabalho pretende mostrar que é possível modelar o comporta-


mento dos indivíduos em computador, criando um ambiente simula-
do (jogo de empresa) onde se praticam as principais situações do dia
a dia empresarial em forma de desafio e problemas (ANDLER, 1998).
Disponível em: <http://www.convibra.org/2004/pdf/66.pdf>. Acesso
em: 25 jul. 2018

Esses tipos de comportamentos estratégicos, propostos por Milles e Snow


(1978), também são uma das bases para estudos na área de estratégia, na
busca pelo conhecimento do comportamento dos estrategistas. Às vezes
baseadas também na cognição desses profissionais.

Ao tratar-se do tema “cognição”, a ideia mais fortemente defendida ca-


racteriza-se pela noção restrita, leiga e difundida da atividade racional,
intelectual e consciente. Porém, ao longo do tempo, uma série de trans-
formações marca o desenvolvimento da ciência cognitiva, rompendo o
limite que circunscrevia cognição a pensamento inteligente (KICH, 2016).

ASSIMILE
Apoiada na hipótese de que o pensamento e o conhecimento gerados
no cotidiano refletem um importante papel nas ações e interações hu-
manas, as abordagens cognitivistas têm sido amplamente utilizadas
para analisar e explicar fenômenos e processos organizacionais, de
forma congruente com a tendência que domina a investigação em ou-
tros campos da psicologia, principalmente nos estudos sobre estraté-
gia (BASTOS, 2004).

Tendências Digitais em Finanças 107


Quando falamos de negócios cognitivos que modelam o mercado, são ser-
viços e produtos desenvolvidos a partir de uma concepção estratégica, que
considera a cognição um elemento fundamental, mas que também avalia
fatores psicológicos e do comportamento de consumidores para atender
às necessidades dos clientes e para criar oportunidades de novos negócios.

Segundo estudos neurocientíficos, o pressuposto da teoria econômica de


que todos os agentes econômicos são sempre racionais, e que tomam
sempre decisões que maximizam seu benefício, não tem aderência com
a realidade. Todo ser humano é constituído por inteiro, aquela frase po-
pular que muitos de nós já falamos em algum momento, “quando che-
go ao trabalho, deixo meus problemas particulares do lado de fora e na
empresa sou integralmente profissional”, não se sustenta. Em todas as
decisões, há um pouco de emoção, razão, racionalidade, experiência ou
inexperiência, aspectos psicológicos, etc. Cada um desses fatores está in-
fluenciando voluntariamente ou involuntariamente as decisões e demais
ações tomadas.

EXEMPLIFICANDO
Muitos financistas, mesmo tendo o conhecimento científico, tomam
decisões no mercado de capitais que muitas vezes não maximizam os
seus benefícios, ou seja, não são decisões puramente racionais.

Um exemplo clássico é o efeito manada, que ocorre quando um ou al-


guns agentes econômicos tomam determinada decisão, e outros acabam
tomando a mesma decisão por causa dos primeiros, sem avaliar racio-
nalmente se é a melhor decisão. Nas Bolsas de Valores pelo mundo, exis-
tem inúmeros exemplos desse efeito nas decisões sobre compra e venda
das ações.

Segundo Fernando Antonio Prado Gimenez (1998, p. 31):

108 Tendências Digitais em Finanças


Kirton (1976) propôs que os indivíduos adotem estilos preferidos de criati-
vidade, solução de problemas e tomada de decisão. Esta teoria define um
continuum com dois polos distintos de tomada de decisão e solução de pro-
blemas, indicando uma preferência por fazer as coisas melhor ou fazer
as coisas diferentemente. Os extremos deste continuum foram denomi-
nados preferências de comportamento adaptativo ou inovativo, respectiva-
mente. Indivíduos que têm estilo adaptativo enfatizam precisão, eficiência,
disciplina e atenção às normas. Eles tentam resolver problemas através da
aplicação de soluções que derivam de métodos conhecidos e já testados. O
estilo inovador, por outro lado, é caracterizado como sendo indisciplinado,
desafiador de regras, e que procura maneiras novas e diferentes de resol-
ver problemas.

A preferência individual por um estilo cognitivo é medida através de um


instrumento desenvolvido por Kirton (1976). Este instrumento já foi am-
plamente testado e validado (GOLDSMITH, 1984; KIRTON, 1987; FOXALL e
HACKETT, 1992), bem como a teoria de adaptação e inovação tem sido ob-
jeto de atenção por crescente número de estudiosos, com mais de 150 pu-
blicações entre 1980 e 1990. Essa preferência por um estilo pode ser asso-
ciada a diversas características de personalidade (KIRTON e CIANTIS, 1986),
o que indica estabilidade ao longo do tempo no comportamento adaptativo
ou inovativo. (GIMENEZ, 1998, p. 31)

Não obstante, os esquemas cognitivos e os diagramas cognitivos são os


instrumentos mais utilizados para a pesquisa da mente dos estrategistas,
explicados por Bastos (2004), conforme segue:

• Esquema cognitivo: tem sido usado para entender a própria natu-


reza dos fenômenos organizacionais. Pode-se se referir a eles como
“pacotes de conhecimento”, que constituem os blocos de construção
da cognição, reunindo os conhecimentos e as experiências que as
pessoas possuem em relação a um ambiente da realidade. Atua de
modo vinculado aos processos de atenção e ao sistema emocional.

• Mapa cognitivo: tornou-se, além de uma ferramenta teó-


rica e conceitual, um objeto de intervenção em realidades

Tendências Digitais em Finanças 109


organizacionais. Tem uma função explanatória de como os indivídu-
os estruturam e organizam as suas cognições e, simultaneamente,
como uma ferramenta de intervenção em realidades organizacionais.
O “grid de repertório”, graças ao trabalho de G. Kelly, é uma técnica
utilizada para fazer emergir essa estrutura de constructos pessoais.
Tem sido particularmente usado nos estudos de estratégia (KICH,
2016, p. 9).

Quanto aos diagramas cognitivos, De-Wit e Meyer (2004) o definem como


representações da mente das pessoas de como o mundo funciona. O
mapa cognitivo de uma determinada situação reflete as crenças da pes-
soa sobre a importância das questões e sobre as relações de causa e efei-
to entre elas. Segundo os autores, os mapas cognitivos são formados ao
longo do tempo por meio da educação, experiência e interações com os
outros. O mapa cognitivo de uma pessoa focará atenção em um fenôme-
no particular enquanto bloqueia outros, como barulho, e rapidamente faz
clarear como a situação deve ser percebida.

Ainda, os diagramas cognitivos das pessoas não se desenvolvem inde-


pendentemente, mas sim em interação com outros, ou seja, as pessoas
tendem a construir e compartilhar entendimentos do mundo e intera-
ção de cada um com um grupo ao longo do tempo. Tal visão de mundo
compartilhada pode existir dentro de uma pequena unidade social, como
uma firma ou família, mas também dentro de largas unidades, como uma
indústria ou uma nação. Por exemplo, os integrantes de uma cultura na-
cional, com seus mapas cognitivos sendo influenciados pelas crenças pre-
dominantes nessa nação; os funcionários de uma empresa terão seus
diagramas cognitivos afetados pelas crenças comuns dentro da firma e
da indústria (DE-WIT; MEYER, 2004).

Os diagramas também têm um alto nível de rigidez, as pessoas geralmen-


te não se inclinam a mudar suas mentes, o que, para os estrategistas, é
um erro particular, pois eles devem estar à frente de desenvolvimento de
mercados, identificar circunstâncias de mudança e novas oportunidades

110 Tendências Digitais em Finanças


antes dos competidores. O pensamento estratégico é, por sua própria
natureza, focado a entender a formação do futuro, portanto, os estrate-
gistas devem ter habilidade para desafiar crenças atuais e mudar suas
mentes, eles precisam ser capazes de inovar. O diagrama cognitivo de um
estrategista é um lugar extraordinário, uma vez que ele precisa ser capaz
de superar as limitações do seu mapa cognitivo e desenvolver novas com-
preensões do mundo (DE-WIT; MEYER, 2004).

O “grid de repertório” de Kelly (1955) foi utilizado por Dalla, Gonçalves e


Muniz (2009) em uma pesquisa para entender o comportamento dos es-
trategistas, por meio de um estudo de caso em Minas Gerais. Os resul-
tados dos autores identificaram os fatores de atenção dos agentes na
elaboração de estratégias, as quais centralizam a decisão no dirigente e
em seus sócios. Baseando-se em resultados financeiros, avaliam tanto as
questões internas atuais quanto as externas de mercado e conduzem um
processo emergente pouco formalizado.

O estudo da cognição pode contribuir para a compreensão do trabalho


realizado pelos estrategistas nas organizações. Pelos estudos citados
neste texto, percebe-se que os estrategistas são influenciados tanto pela
cognição individual como pela social, e que os tipos cognitivos e fatores
do ambiente também influenciam na formação da estratégia de negócios
(KICH, 2016).

PARA SABER MAIS


Este estudo teve como objetivo descrever as estruturas cognitivas
adotadas por dirigentes de pequenas empresas na administração es-
tratégica de seus negócios. A influência dos estilos cognitivos dos di-
rigentes sobre suas decisões estratégicas foi analisada, bem como o
papel da turbulência ambiental na escolha de estratégias. Uma análise
cautelosa dos modelos de Miles e Snow (1978) e Kirton (1976) sugeriu
que a estratégia prospectora pode ser preferida por indivíduos cujas

Tendências Digitais em Finanças 111


características psicológicas indiquem uma preferência por inovação.
Por outro lado, a estratégia defensiva parece ser mais atraente a in-
divíduos que prefiram um estilo adaptativo de solução de problemas.
O método de pesquisa envolveu um conjunto de 19 entrevistas com
líderes de pequenas empresas em dois tipos de ambientes: um al-
tamente competitivo e dinâmico, em termos de tecnologia, e outro
um pouco menos turbulento. Uma amostra adicional de 14 empreen-
dedores permitiu explorar com mais detalhes a relação entre estilos
cognitivos, turbulência ambiental e escolhas estratégicas. Os resulta-
dos indicaram que há boas razões para acreditar que diferenças am-
bientais foram associadas a diferentes escolhas estratégicas, enquan-
to preferências cognitivas não parecem estar fortemente associadas
à formação da estratégia (AMOROSO, 2002). Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65551998000100003&script=s-
ci_arttext>. Acesso em: 25 jul. 2018.

Vale ressaltar que os estudos sobre o uso da cognição na área de estra-


tégia de negócios ainda são incipientes, apesar das habilidades cognitivas
para a área de estratégia e desenvolvimento de novos negócios ter se
revelado como uma parte relevante para os profissionais e organizações.

As organizações já testam as habilidades cognitivas como ponto de ava-


liação para determinadas posições. Grande parte das organizações, que
buscam oferecer serviços e produtos com uma melhor experiência de
consumo para os clientes, demandará profissionais para estudos de com-
portamento dos consumidores a partir também de avaliação da cognição
individual e coletiva dos clientes, com o objetivo de melhorar os resulta-
dos das organizações.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


De forma pragmática, como a cognição dos profissionais da área
de estratégia, contribui para a criação de estratégias assertivas? Os

112 Tendências Digitais em Finanças


responsáveis pela formulação e implementação da estratégia de ne-
gócios devem avaliar somente dados quantitativos? Que relevância
têm os dados qualitativos para a criação de uma estratégia eficaz?
Somente a alta administração deve ser responsável pela criação e
implementação de estratégias para gerar novos negócios?

2. Considerações Finais

• O conhecimento técnico, os dados quantitativos e as formulações


de estratégias realizadas somente pela alta administração parece
não mais ser suficiente para atingir os resultados esperados nos
negócios. Em um mundo mutável e cada vez mais descontínuo, o
pensamento coletivo, o trabalho por projetos, as relações mais matri-
ciais e a autonomia parecem ser pontos cada vez mais importantes
para a criação de estratégias aderentes aos objetivos da organiza-
ção e para uma melhor experiência de consumo dos clientes.

• Alguns estudos citados neste texto mostram a importância do uso da


cognição na área de estratégia, mesmo que de forma introdutória.

• A subjetividade na criação de estratégia de negócios está sendo um


pouco mais reconhecida como parte relevante. Um dos desafios é
conhecer como funciona a mente dos estrategistas, que geralmente
são autodidatas. Muitas organizações, e cada vez em maior volume,
já colocam como pré-requisito a exigência de que o candidato tenha
habilidade de criar hipóteses, cenários, dentre outras habilidades
que possam contribuir com os objetivos da organização.

• Este debate sobre o uso da cognição na área de estratégia ainda


é incipiente, além de críticas que alguns autores fazem. Mas é um
tema relevante a ser estudado pelos profissionais de todas as áreas
de uma organização e quem interessar.

Tendências Digitais em Finanças 113


Glossário

• Cognição: a cognição é a capacidade e habilidade de processar in-


formações e transformá-las em conhecimento. Tendo como base
um conjunto de habilidades mentais, como a percepção, a aten-
ção, a associação, a imaginação, o juízo, o raciocínio e a memória.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 07
1. Por que a estratégia de negócios deixou de ser considera-
da apenas um processo de análise de dados, suportada
também por especialistas em ciência de dados?
a) Porque está sendo estudada como um processo
que envolve outras importantes fontes de conheci-
mento e capacidades. Passou a ser considerado um
processo em que o tempo e o espaço também são
fundamentais.
b) Porque está sendo estudada como um processo que
envolve outras importantes fontes de conhecimento
híbrido e capacidades. Passou a ser considerado um
processo em que a subjetividade e a descontinuida-
de de cenário também são fundamentais.
c) Porque está sendo estudada como um processo que
envolve outras importantes variáveis independentes.
Passou a ser considerado um processo em que a cria-
tividade e a percepção também são fundamentais.
d) Porque está sendo estudada como um processo que
envolve outras importantes fontes de conhecimento
e capacidades. Passou a ser considerado um proces-
so em que a instituição e as hipóteses também são
fundamentais.

114 Tendências Digitais em Finanças


e) Porque está sendo estudada como um processo que
envolve outras importantes fontes de conhecimento
e capacidades. Passou a ser considerado um proces-
so em que os elementos listados a seguir também são
fundamentais: a criatividade, a percepção, a intuição,
as hipóteses e o insight.

2. Quais são, basicamente, os quatro tipos de comportamen-


tos estratégicos que envolvem os profissionais da área?
a) Dinâmico, defensivo, analítico e reativo.
b) Prospector, defensivo, analítico e reativo.
c) Prospector, defensivo, subjetivo e reativo.
d) Agressivo, defensivo, analítico e reativo.
e) Moderado, conservador, agressivo e ponderado.

3. O que pesquisas da área de neurociência dizem a respei-


to da racionalidade, contrariando a teoria econômica de
que todos os agentes econômicos são racionais em suas
decisões?
a) Em todas as decisões que tomamos, há um pouco de
emoção e inexperiência.
b) Em todas as decisões que tomamos, há um pouco de
razão e racionalidade.
c) Em todas as decisões que tomamos, há um pouco de
experiência ou inexperiência.
d) Em todas as decisões que tomamos, há um pouco de
aspectos psicológicos voltados para a racionalidade.
e) Em todas as decisões que tomamos, há um pouco de
emoção e razão, experiência ou inexperiência, aspec-
tos psicológicos.

Tendências Digitais em Finanças 115


Referências Bibliográficas

ALMEIDA, I. C.; ANTONIALLI, L.M.; GOMES. A. F. Comportamento estratégico de mu-


lheres empresárias: estudo baseado na tipologia de Miles e Snow. Revista Ibero-
Americana de Estratégia, v. 10, n. 1, p. 102-127, jan./abr. 2011.
AMOROSO, R. Lidando com o pensamento estratégico. In: COSTA, B. K.; ALMEIDA, M.
I. R. (Coord.). Estratégia: perspectivas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2002.
ANDLER, D. Introdução às ciências cognitivas. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1998.
BASTOS, A. V. B. Cognição nas organizações de trabalho. In: ZANELLI, J. C.; ANDRADE,
J. E. B.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
BERTO, A. R. Jogos de empresas: avaliação da cognição em relação ao processo de
tomada de decisão e formação de estratégia. 4º Congresso Virtual Brasileiro de
Administração. Disponível em: <http://www.convibra.org/2004/pdf/66.pdf>. Acesso
em: 25 jul. 2018.
DALLA, W. D.; GONÇALVES, C. A.; MUNIZ, R. M. O pensamento do estrategista: fatores
que asseguram a tomada de decisões estratégicas nas pequenas e médias empre-
sas. Revista Ibero-Americana de Estratégia, v. 8, n. 2, p. 80-106, 2009.
DE-WIT, B.; MEYER, R. Strategy: process, content, context – An international perspec-
tive. 3. ed. Italy: Thomson, 2004.
GIMENEZ, F. A. P. Escolhas estratégicas e estilo cognitivo: um estudo com peque-
nas empresas. RAC, v. 2, n. 1, jan./abr. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?pid=S1415-65551998000100003&script=sci_arttext>. Acesso em: 25
jul. 2018.
______ . Escolhas estratégicas e estilo cognitivo: um estudo com pequenas empresas.
Revista de Administração Contemporânea, v. 2, n. 1, Curitiba, jan./abr. 1998.
KICH, J. I. F. Estratégia organizacional através do estudo da cognição. Revista Eletrônica
Estácio Papirus, jul./dez. 2016. Disponível em: <http://periodicos.estacio.br/index.
php/papirussantacatarina/article/viewArticle/2420>. Acesso em: 25 jul. 2018.
MILES, R. E.; SNOW, C. C. Organizational strategy, structure and process. New
York: McGraw-Hill, 1978.

116 Tendências Digitais em Finanças


MINTZBERG, H. Ascensão e queda do planejamento estratégico. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
______ . Managing: desvendando o dia a dia da gestão. Porto Alegre: Bookman, 2010.

Gabarito – Tema 07

Questão 1 – Alternativa E: porque está sendo estudada como um


processo que envolve outras importantes fontes de conhecimento e
capacidades. Passou a ser considerado um processo em que os se-
guintes elementos são também fundamentais, a criatividade, a per-
cepção, a intuição, as hipóteses e o insight. Existe uma valoração de
aspectos subjetivos também na criação de estratégia nos negócios,
em virtude também de um mundo mutável e descontínuo.

Questão 2 – Alternativa B: prospector, defensivo, analítico e reativo.

Questão 3 – Alternativa E: em todas as decisões que tomamos, há


um pouco de emoção, razão, racionalidade, experiência ou inexpe-
riência, aspectos psicológicos. Cada um desses fatores está influen-
ciando voluntariamente ou involuntariamente as decisões e demais
ações que tomamos, refutando a teoria econômica de que todos os
agentes econômicos são racionais e que a todo momento tomam
decisões que maximizam seu benefício.

Tendências Digitais em Finanças 117


TEMA 8
CAPITAL HUMANO: O FATOR NÃO
LÓGICO DAS FINANÇAS

Objetivos

• Este texto tem como objetivo descrever como o capi-


tal humano é fundamental para as organizações e no
mundo das finanças, que é uma ciência humana, por-
tanto uma ciência que intrinsecamente tem fatores
não lógicos que afetam as decisões de agentes eco-
nômicos no mercado financeiro.

118 Tendências Digitais em Finanças


Introdução

Há muito tempo, o valor das organizações deixou de estar vinculado ao


seu ativo fixo, tais como máquinas e equipamentos. Nesse sentido, o va-
lor das organizações passou a estar vinculado ao que é intangível, nas
pessoas, principalmente associado a conhecimento, habilidades e atitu-
des, sendo o conhecimento um dos pontos-chave para a criação de valor
econômico, chamado de capital humano.

O capital humano é o conjunto de conhecimento, habilidades, atitudes


e experiências que contribuem para gerar valor econômico e inovação.
São propriamente as capacidades de uma pessoa, adquiridas por meio da
educação, investigação e experiência.

Em contrapartida, grande parte das organizações tem implementado alta


tecnologia, utilizada em grande escala para automatizar processos que
antes eram manuais, aumentando a segurança das informações e dos
processos, ampliando a velocidade e o armazenamento de dados, dimi-
nuindo custos e despesas, dentre muitas outras vantagens competitivas
para os negócios.

O alto nível tecnológico aplicado aos negócios traz vantagens competiti-


vas e os riscos em virtude do alto nível de automatização nos processos,
inclusive em muitos casos, automatização de análises e resultados, o que
pode desestimular o pensamento analítico e crítico.

Não obstante, a experiência dos consumidores também é uma fonte de


captação do valor intangível, que resulta em valor econômico para o ne-
gócio. Portanto, o conhecimento, as habilidades e atitudes dos profissio-
nais e dos consumidores são fontes de criação de valor econômico.

Tendências Digitais em Finanças 119


1. O impacto das inovações tecnológicas para o
mercado de trabalho

O mundo está imerso em um tempo de mudanças significativas para o


trabalho e os negócios, potencializadas principalmente pelo avanço tec-
nológico que está mudando modelos de negócios nas áreas de finanças,
saúde, educação, medicina e outras. Para exemplificar, projeta-se o fim
de muitas atividades realizadas atualmente pelos advogados, com o uso
de uma grande base de dados e inteligência artificial que permitirá auto-
matizar formulações de petições iniciais, defesas, etc.

Em contrapartida, novas profissões estão surgindo, por exemplo, o jar-


dineiro da web, profissional que trabalha para manter o site de uma em-
presa com design adequado e monitorando para eliminar poluição de
informações.

ASSIMILE
a atual conjuntura promove o desenvolvimento de atividades intelec-
tuais, afastando a esfera manual, braçal do trabalho. Ou seja, o capi-
tal intelectual é cada vez mais reconhecido como um dos elementos
mais importantes das organizações, sendo um dos fatores de diferen-
ciação que corroboram para o desempenho do negócio e para e li-
derança do mercado, com vistas à diferenciação (DAVEY; SCHNEIDER;
DAVEY, 2009).

PARA SABER MAIS


Os caminhos da área de recursos humanos no ponto de vista histórico
foram bastante modificados nos últimos anos. Visando analisar essas
modificações, este artigo foi desenvolvido por meio de pesquisas bi-
bliográficas (livros, artigos, etc.) objetivando alcançar resultados mais

120 Tendências Digitais em Finanças


coerentes a respeito da temática investigada. Atualmente, observa-se
um grande número de campanhas em que a área de RH cumpre o
seu papel de valorizar o funcionário e ao mesmo tempo se mantém
em sincronia com a realidade dos negócios, em que acredita-se que o
capital humano é a diferença. Essa pesquisa revela que suas práticas
administrativas com o avanço tecnológico alcançaram significativos
progressos que têm um papel fundamental como objetivo gerencial
que visa a importância das pessoas que atuam nas organizações, vi-
sando também a mudança da cultura da empresa quando necessária
para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais,
na administração de recursos humanos e de sua evolução, que vêm
surgindo de acordo com a necessidade de melhoria da estrutura or-
ganizacional e da empresa. Disponível em: <https://www.eumed.net/
rev/oel/2018/05/rh-empresas-brasil.html>. Acesso em: 30 jul. 2018.

O conhecimento, a capacidade de desenvolver novos talentos, as atitu-


des das pessoas nas organizações são as principais fontes de criação de
valor econômico para os negócios. Em países em desenvolvimento, onde
o grau de instrução da população é baixo, tende a ter um exército de
reservas grande, que na teoria econômica denomina-se como exército
industrial de reserva, que são pessoas com baixa instrução educacional
em busca de um emprego. Esse cenário resulta em ofertas com baixos
salários, acompanhadas de desequilíbrios sociais.

Frente a importância do capital humano, o cenário supracitado o fragili-


za, não o desenvolve. Relembrando, capital humano é o conjunto de co-
nhecimento, habilidades e atitudes que favorecem o trabalho e que gera
valor econômico para os negócios. Segundo Chiavenato (2004), o capital
humano é constituído das pessoas que fazem parte de uma organização,
ou seja, significa talentos que precisam ser mantidos e desenvolvidos.

Tendências Digitais em Finanças 121


PARA SABER MAIS
A maneira que se fazia gestão na época da revolução industrial não
tem mais aderência, com o crescimento econômico, a pressão e a in-
fluência do ambiente externo sobre as organizações exigiram mudan-
ças em seu comportamento para que se mantenham competitivas no
mercado. A nova maneira de fazer gestão de pessoas tem se tornado
um diferencial nas empresas, que tendem a valorizar seu capital intan-
gível, suas pessoas. O capital humano tornou-se um ativo estratégico
que deve ser considerado na tomada de decisões, como um novo fa-
tor de competitividade.

Gerir pessoas vai muito além de designar funções, devem-se explo-


rar as habilidades, propor melhorias e potencializar as capacidades
individuais de cada colaborador para que se desenvolvam de acordo
com as necessidades da organização que, por sua vez, constantemen-
te, deve entregar motivação para reter talentos empenhados em bus-
car os objetivos em comum das partes. As organizações precisam de
líderes capazes de reconhecer e valorizar o capital humano, captando
novas ideias e desenvolvendo equipes comprometidas e felizes. Todas
as empresas têm acesso às altas tecnologias e inovações do mercado,
o que as diferenciam são os talentos que nelas desempenham seu tra-
balho em busca do sucesso, daí se encontra a vantagem competitiva e
estratégica do capital humano. Disponível em: <http://www.biblioteca-
digital.funvicpinda.org.br:8080/jspui/handle/123456789/553>. Acesso
em: 30 jul. 2018.

Nas finanças, o capital humano aplicado nem sempre gera os resultados


esperados, mas isso não invalida a fundamental importância do conheci-
mento científico aplicado.

Em finanças, as variáveis são estocásticas, ou seja, não têm um padrão no


tempo e estão associadas a eventos aleatórios, como a taxa de câmbio,
os preços das ações nas Bolsas de Valores. Embora a ciência de dados e a

122 Tendências Digitais em Finanças


ciência econômica financeira sejam conhecimentos que contribuem para
um direcionamento das decisões, os fatores não lógicos estarão sempre
presentes. De outro modo, as emoções, o humor do mercado, fatores psi-
cológicos a todo momento estão influenciando a precificação dos ativos e
investimentos.

2. Capital humano e fatores não lógicos nas finanças

O mercado de trabalho apresenta cada vez mais desafios de forma per-


manente aos atuais líderes, gestores e colaboradores, para que estejam
estrategicamente preparados para atingirem resultados extraordinários
e para a construção de organizações que possam perenizar no tempo.

A busca constante por valor monetário faz com que muitas organizações
ainda não tenham foco na gestão de pessoas, como vantagem competiti-
va, e que resulta também na criação de valor econômico monetário para
os acionistas e colaboradores. Parte dessas decisões de valorar mais o ca-
pital de pessoas, o capital humano, também estão ligadas às expectativas
em relação ao futuro dos negócios. Para essa compreensão, abordarei
quatro conceitos econômicos sobre expectativas, expectativas adaptati-
vas, expectativas homogêneas e expectativas racionais.

Expectativas:

Segundo Sandroni (2002, p. 230), expectativas refere-se a um:


Conceito usado por Keynes para designar o grau de incerteza em relação ao
futuro. Um indivíduo fará um investimento, dependendo da taxa de juros
e das expectativas. Se as expectativas, por exemplo, forem boas (otimista),
ele provavelmente investirá. Esse conceito, considerado uma das grandes
contribuições de Keynes à economia, foi também desenvolvido pela es-
cola sueca. As expectativas são importantes para a teoria da preferência
pela liquidez. A demanda de dinheiro para satisfazer o motivo especulativo

Tendências Digitais em Finanças 123


depende das expectativas sobre as mudanças da taxa corrente de juros. Se,
por exemplo, a taxa corrente é baixa e os preços das ações são altos, é de
esperar que os preços das ações caiam. Diante dessa perspectiva, as pesso-
as preferirão ter dinheiro a ações, porque seu custo de manutenção é baixo
e, dessa forma, evitarão perdas de capital, se caírem – como se espera – os
preços das ações.

Expectativas adaptativas: expressão que significa a formação de expec-


tativas sobre o comportamento futuro de uma variável, ou de um pro-
cesso econômico, ou de uma economia que se baseia apenas no com-
portamento passado dessa mesma variável, processo econômico ou
economia. Em outras palavras, os agentes econômicos adaptariam seu
comportamento futuro ao desempenho de um processo econômico ba-
seando-se apenas na evolução passada e recente desse mesmo processo.
Foi Milton Friedman quem introduziu esse conceito no debate travado
entre os defensores das expectativas racionais (monetaristas) e os neoke-
ynesianos, argumentando que os indivíduos ajustam suas expectativas
correntes para corrigir erros de previsão cometidos em períodos prece-
dentes (SANDRONI, 2002, p. 230).

Expectativas homogêneas: concepção de que todos os indivíduos


(que atuam no mercado financeiro) têm as mesmas crenças no que
se refere a investimentos futuros, lucros e dividendos (SANDRONI,
2002, p. 230).

Expectativas racionais: conceito da corrente monetarista que interpreta


a ação dos agentes econômicos como racional, no sentido de que tais
agentes formam suas expectativas (e agem de acordo com elas) sobre
o desenvolvimento futuro da economia, não apenas examinando o pas-
sado, mas também o presente, ao levar em consideração todas as ações
governamentais e do mundo dos negócios (nacionais e internacionais)
que possam influir, por exemplo, sobre a taxa de inflação (SANDRONI,
2002, p. 230).

124 Tendências Digitais em Finanças


PARA SABER MAIS
No início dos anos 1960, o economista John Muth afirmou que as ex-
pectativas dos indivíduos (no contexto de um modelo) são racionais
quando são idênticas às predições desse modelo. No final da mesma
década, as ideias de Muth apareceram num artigo de Robert Lucas e
Leonard Rapping. As conclusões apoiavam a ideia monetarista da exis-
tência de uma taxa natural de desemprego. Leonard Rapping abando-
nou essa linha de pesquisa rejeitando esse enfoque da economia ne-
oclássica em favor de um enfoque neokeynesiano. Lucas, no entanto,
prosseguiu e, em conjunto com Edward Prescott, escreveu, em 1971,
um artigo utilizando o conceito explorando as consequências das ex-
pectativas racionais sobre o comportamento dos investimentos. As
conclusões coincidiram com as da economia clássica: a moeda é neu-
tra e a política governamental intervencionista é ineficaz. Por essa ra-
zão, essa corrente também é denominada nova economia clássica.
Essa corrente de pensamento econômico colidiu frontalmente com as
concepções dos neokeynesianos, e os principais representantes nes-
se debate, do lado da nova economia clássica, são: Thomas Sargent,
Neil Wallace, Bennett McCallum, Robert Barro e Robert Towsend
(SANDRONI, 2002, p. 230).

EXEMPLIFICANDO
Capital humano e manejo das expectativas como fonte de geração de
valor econômico

Em meados de 2002, projetava-se que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva


seria o vencedor nas eleições presidenciais. Nessa época, eu, prof.
Ricardo Selas, trabalhava no mercado de capitais, na Tesouraria da
Owens Corning. O diretor financeiro, meu gerente e eu avaliamos jun-
tos que seria urgente e fundamental aplicar os recursos da companhia
em hedge cambial.

Tendências Digitais em Finanças 125


Projetávamos que, se o Lula realmente fosse eleito, ocorreria uma
grande desvalorização cambial, em virtude de seu posicionamento
ideológico e plano de governo. Ocorreu exatamente o que o mercado
e nós previmos: com a eleição de Lula como Presidente do Brasil em
2002, a taxa de câmbio partiu de R$ 2,8595 para R$ 3,9228, uma desva-
lorização de 37,1848%. Em virtude da decisão que tomamos, com base
nas expectativas, no conhecimento e na experiência, com a desvalori-
zação cambial, geramos US$ 2,5 milhões de caixa para a companhia.
Sendo vencedores do prêmio global de finanças Owens Corning 2003.

Esse é um exemplo real, realizado em equipe, a partir do capital huma-


no coletivo, no mercado de capitais em 2002. As organizações espe-
ram que o conhecimento, as habilidades e atitudes dos colaboradores
possam gerar valor monetário para os acionistas e para os próprios
colaboradores ao participarem dos lucros e resultados. Também que
o conhecimento seja transformado em inovação.

A partir desses conceitos de expectativas em relação ao futuro, pode-se


concluir que cada agente econômico terá sua própria expectativa em re-
lação ao futuro de uma variável, processo econômico, ou grupos de agen-
tes econômicos terão expectativas próprias, que afetarão os preços dos
ativos, investimentos, atividade econômica.

A expectativa em relação ao futuro de cada agente ou grupo econômico


gera efeitos na economia real, este é um dos fatores não necessariamen-
te lógicos das finanças e economia. Provavelmente, a expectativa é uma
das variáveis estocásticas mais importantes da economia financeira.

Os analistas grafistas se baseiam apenas em análise gráfica passada dos


preços das ações para formar sua expectativa em relação ao futuro dos
preços das ações. Diferentemente de outros tipos de análise e/ou concei-
to, geralmente o passado não explica muito o futuro.

Os analistas fundamentalistas avaliam o futuro, com base em dados reais


das empresas e economia, projetam o fluxo de caixa das organizações e

126 Tendências Digitais em Finanças


calculam o valor presente do caixa para formar a expectativa técnica, se
as ações irão se valorizar ou desvalorizar.

Existe, ao longo do tempo, uma curva de aprendizagem com distribuição


de probabilidade normal. O capital humano é constituído também da ex-
periência. Analistas que estão em um mercado específico, por exemplo, da
construção civil, tendem, ao longo do tempo, melhorar os níveis de acer-
to em suas projeções. As informações obtidas a partir de análise técnica
(quantitativa), as informações qualitativas e as informações de mercado,
avaliadas constantemente, tendem, em seu conjunto, a indicar ao analis-
ta características específicas daquele mercado e do comportamento dos
preços das ações, que contribuem para um melhor ajuste nas projeções
realizadas. Nesse caso, define-se um analista especialista em um deter-
minado mercado. Normalmente, esse analista faz parte do departamento
de relacionamento com investidores de uma determinada empresa do
segmento específico.

Desde as primícias da história, o capital humano vem se adaptando de


acordo com as necessidades de cada época, com interesses mercantilis-
tas. Charles Davenant reconhece a importância da mão de obra humana
dizendo, no século XVII: “Os corpos dos homens são, sem dúvida, o mais
valioso tesouro de um país” (MARSHALL, 1988, p. 504).

3. A relação entre o capital humano e a educação

O capital humano se torna objeto de debate, discursado em várias pers-


pectivas por vários filósofos, como, por exemplo, Adam Smith, Alfred
Marshall e Marx; porém a teoria somente é formalizada por Schultz (SILVA;
MARCELINO; SILVA. 2017, p. 11).

Com a era industrial, o impacto dos processos sociais e econômicos


nos Estados Unidos de 1950 influenciaram o pensamento de inúmeros

Tendências Digitais em Finanças 127


cientistas e profissionais. Inauguralmente, o professor e especialista em
economia agrária da Universidade de Chicago, Theodore Willian Schultz,
formulou a disciplina calcada na preocupação em compreender a econo-
mia dos países pobres e a motivação das famílias em melhorar de vida,
explicando os ganhos da produtividade gerados pelo fator humano. Por
isso, Schultz é considerado o pai do capital humano e principal formula-
dor dessa ideia (CAMPELO, 2004).

A maior responsável por grande parte da melhoria na qualidade de vida


da população é a educação. Adicionalmente, no contexto empresarial, “o
capital humano é a fonte de inovação e renovação dentro da empresa”
(STEWART, 1998, p. 68).
Capital humano: é o capital de gente, talentos e competências. A compe-
tência de uma pessoa envolve a capacidade de agir em diversas situações,
tanto para criar ativos tangíveis como intangíveis. Não basta ter pessoas.
Torna-se necessário uma plataforma que sirva de base e um clima que
impulsione as pessoas e utilize os talentos existentes. Assim, o capital hu-
mano é basicamente constituído de talentos e competências das pessoas.
(CHIAVENATO, 2009, p. 38)

O conhecimento e a experiência, dentre todos os outros elementos que


constituem o capital humano, são as principais forças motrizes do capital
humano. A experiência, no entanto, não se refere somente a experiência
profissional, mas também a experiência em todas as áreas da vida.

LINK
Este artigo apresenta um estudo que tem como objetivo caracte-
rizar os elementos de capital humano evidenciados no Relatório da
Administração (RA) das melhores empresas para trabalhar listadas no
Brasil Bolsa Balcão (B3). Para tal, caracteriza-se como uma pesquisa
descritiva com abordagem quali-quantitativa. Para a discussão dos da-
dos, fez uso de análises categóricas a partir de uma pesquisa documen-
tal, tendo como foco os Relatórios da Administração das empresas. Os

128 Tendências Digitais em Finanças


resultados indicam que a preocupação das organizações analisadas,
por meio da linguagem e dos dados expostos, é legitimar suas ações
frente à sociedade e investir em práticas voltadas ao capital humano,
com o intuito de tornar seu valor ótimo e atingir seus objetivos estra-
tégico-operacionais. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.unisul.
br/index.php/EeN/article/view/5428>. Acesso em: 30 jul. 2018.

Em um futuro próximo, os processos de recrutamento e seleção estarão


mais focados nas capacidades das pessoas, considerando seu projeto
de vida e experiência, inclusive experiências fora do mundo corporativo,
como esforço de compatibilizar a necessidade de criação de valor econô-
mico para os acionistas e colaboradores com os interesses profissionais e
da própria vida das pessoas. Na educação formal, os cursos tendem a ter
um currículo flexível, alinhado com o projeto de vida dos estudantes e em
menor tempo.

Por fim, todo profissional de finanças precisa buscar o máximo de conhe-


cimento possível, aliado às habilidades e atitudes que gerem valor econô-
mico para as organizações e para si. As capacidades cognitivas são cada
vez mais valorizadas para a criação de valor econômico, e talvez possam
ser sintetizadas em habilidades objetivas e subjetivas que cada indivíduo
tem, além de considerar o potencial de desenvolvimento dessas esfe-
ras a partir da busca pelo conhecimento e pelas experiências ao longo
do tempo.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

As novas tecnologias digitais aplicadas em finanças estão transforman-


do o modelo de negócio dessa área e de muitas outras. O atual profis-
sional de finanças precisa ser um cientista de dados em virtude do alto
nível de automatização nos sistemas de gestão das empresas, o fluxo
de caixa, os balancetes, os demonstrativos de resultados do exercício,

Tendências Digitais em Finanças 129


o lucro ou prejuízo, a posição da carteira de investimentos na tesoura-
ria e muitos outros dados e relatórios, disponíveis nos sistemas e para
todos os gestores da empresa analisarem, todos os meses. Cabe ao
profissional de finanças, portanto, contribuir para a correta interpreta-
ção dos dados e resultados disponíveis.

Como um cientista de dados, exige-se cada vez mais que os profis-


sionais de finanças sejam capazes de realizar estudos baseados não
só em dados contábeis e financeiros, mas também a partir de dados
existentes em todas as áreas da empresa e fora da empresa, de modo
a contribuir com insights, imaginação, percepções, criatividade, técni-
ca, etc., que possam indicar novas oportunidades de negócio, anali-
sando dados passados e realizando projeções.

Você realizou um estudo sobre elasticidade, crescimento econômi-


co do país e impacto desse crescimento na demanda pelos produtos
da empresa que trabalha, como coordenador(a) de FP&A (Financial
Planning and Analysis). Neste estudo, você concluiu que, se o país cres-
cer 6% no próximo ano, o faturamento da empresa crescerá 40%, exi-
gindo novos aportes de investimentos em produção para atender a
essa demanda por produtos.

Seu CFO – Chief Financial Officer solicitou que você realizasse um novo
estudo, utilizando o método de mínimos quadrados ordinários (re-
gressão múltipla), para verificar se realmente o PIB – Produto Interno
Bruto do Brasil irá crescer pelo menos 6% no ano que vem. Ele lem-
brou a você sobre a fórmula do PIB e informou alguns dados para a
realização do cálculo de projeção. O PIB do ano anterior foi igual a R$
2.625 trilhões.

Fórmula do PIB, pra projeção:

PIB = C * (β0) + I * (β1) + G * (β3) + [(X – M) * (β4)] – e * (β5)

130 Tendências Digitais em Finanças


C = Consumo das famílias

I = Investimentos do governo

G = Gastos do governo

X = Exportação

M = Importação

e = Termo de erro da projeção

R2 = 70%

Os β (betas) são coeficientes gerados pelo modelo para multipli-


cação e projeção de cada dado que compõe a previsão do PIB. O
R quadrado, R2, explica quando as variáveis consideradas no mo-
delo explicam as variações no PIB. O objetivo do modelo não é ter
o maior R2 possível.

Os seguintes dados foram fornecidos para que você realize a proje-


ção em R$ do PIB Brasil do ano que vem. Você deverá informar em
termos percentuais ao CFO, ou seja, a taxa % de crescimento do PIB
para o próximo ano. Sendo que esse modelo lhe garante 95% de mar-
gem de acerto.

C = R$ 750 bilhões

I = R$ 650 bilhões

G = R$ 500 bilhões

X - M = R$ 850 bilhões

e = R$ 100 bilhões

β0 = 1,1

β1 = 1

Tendências Digitais em Finanças 131


β3 = 1

β4 = 1

β5 = -0,5

Qual é o valor em R$ do PIB projetado para o ano que vem?

Qual é o percentual % de crescimento em reação ao ano anterior?

A empresa deve realizar um novo aporte de investimentos para au-


mentar a produção?

Qual é a margem total de erro dessa projeção?

Qual é a margem de acerto dessa projeção?

O quanto esse modelo explica as variações do PIB?

Como coordenador(a) de FP&A da companhia, você recomendaria


um novo investimento na produção para atender à demanda do ano
seguinte? O PIB é uma variável estocástica. Explique ao CFO sobre os
riscos dessa projeção em relação ao futuro.

Glossário da situação-problema

• FP&A (Financial Planning and Analysis): profissional ou área que


faz planejamento financeiro e análises de negócio.

• CFO – Chief Financial Officer: presidente de finanças da companhia.

• Variável estocástica: variável macroeconômica que segue uma tra-


jetória não determinada no tempo, associada a eventos aleatórios.

• PIB – Produto Interno Bruto: riqueza gerada por uma nação em

132 Tendências Digitais em Finanças


um ano, normalmente medida em moeda local. Por exemplo, o PIB
do Brasil é medido em R$ (reais).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


• Como posso avaliar meu capital humano?

• O que o valor econômico representa para os acionistas e para o


futuro das organizações?

• O capital humano é constituído somente de conhecimento,


habilidades e atitudes?

• Por que o valor intangível dos produtos e serviços são tão


importantes?

4. Considerações Finais

• Principalmente no século XXI, o conhecimento cada vez mais tem


sido considerado não só como um dos principais elementos do
capital humano, mas o que mais gera vantagem competitiva para
os produtos e serviços ofertados pelas organizações.

• As decisões que os líderes, gestores e colaboradores precisam dia-


riamente tomar, exige-se que sejam baseadas em um conjunto de
conhecimento, habilidades, atitudes e experiências, que possam
gerar inovação e valor econômico para os negócios.

• Na ciência econômica financeira não existe exatidão, pois trata-se


de uma ciência humana. Portanto, no centro de seus processos,
técnicas, eventos, etc., estão as pessoas, com todas as suas capaci-
dades, erros, falhas e potencialidades. Os números que avaliamos
nos demonstrativos de resultados das empresas são os resultados

Tendências Digitais em Finanças 133


das ações das pessoas que fazem parte da organização e efeito tam-
bém de ações de pessoas que estão fora da empresa. A empresa é
um organismo vivo, constituído de pessoas, o maior e melhor ativo
de qualquer empresa.

• Por fim, em um mundo mutável e descontínuo, não confie somente


no alicerce das técnicas e dos modelos, ative suas capacidades cog-
nitivas em suas avaliações, decisões e relações.

Glossário

• Capital humano: o capital humano é o conjunto de conhecimen-


to, habilidades e atitudes que favorecem a realização do trabalho
de modo a produzir inovação e valor econômico.

• Capacidades cognitivas: a cognição é a capacidade de proces-


sar informações e transformá-las em conhecimento. Tendo como
base um conjunto de habilidades mentais, como a percepção,
a atenção, a associação, a imaginação, o juízo, o raciocínio e a
memória.

• Ciência econômica: ciência que estuda a atividade produtiva. Para


alocação ótima dos recursos escassos, ou seja, considera que to-
dos os recursos são finitos.

• Finanças: área da economia que engloba os ramos de atividade


e os processos relacionados com a gestão dos recursos públi-
cos, privados, dinheiro, crédito, títulos, ações e obrigações per-
tencentes ao Estado, às empresas e aos indivíduos (SANDRONI,
2002, p. 240)

134 Tendências Digitais em Finanças


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 08
1. O que é capital humano?
a) O capital humano é o conjunto de conhecimento,
habilidades e atitudes que favorecem a realização do
trabalho somente na indústria química.
b) O capital humano é o que favorece a realização da
empresa de modo a produzir em maior escala.
c) O capital humano é o conjunto de conhecimento,
habilidades e atitudes que favorecem a realização
do trabalho de modo a produzir inovação e valor
econômico.
d) O capital humano é o conjunto ações da Bolsa, que
favorecem a realização dos resultados econômicos.
e) O capital humano é o conjunto de conhecimento,
habilidades e atitudes que favorecem o controle do
ativo fixo.

2. O que é ciência econômica?


a) Ciência que estuda somente o PIB – Produto Interno
Bruto para alocação ótima dos recursos escassos, ou
seja, considera que alguns recursos são finitos.
b) Ciência que estuda a atividade na Bolsa de Valores
para alocação ótima dos recursos escassos, ou seja,
considera que todos os recursos são infinitos.
c) Ciência que estuda a atividade de um país para
alocação ótima dos recursos abundantes, ou seja,
considera que todos os recursos são infinitos.
d) Ciência que estuda a atividade produtiva para aloca-
ção rápida dos recursos, ou seja, considera que todos
os recursos são importantes.

Tendências Digitais em Finanças 135


e) Ciência que estuda a atividade produtiva para aloca-
ção ótima dos recursos escassos, ou seja, considera
que todos os recursos são finitos.

3. O valor das empresas deixou de estar totalmente vincula-


do ao ativo fixo. Por quê?
a) Porque o conhecimento, as habilidades, atitudes e
experiências das pessoas são as principais fontes de
geração do valor econômico e de inovação.
b) Porque imobiliza o capital, não tem remuneração
sobre o ativo fixo.
c) Por causa da computação na nuvem.
d) Porque as relações de negócio se tornaram virtuais.
e) Porque o ativo fixo está exposto a diversos riscos
constantemente.

Referências Bibliográficas

CAMPELO, S. L. M. Capital intelectual. 2004.


CHIAVENATO, I. Administração de recursos humanos: fundamentos básicos. São
Paulo: Atlas S.A, 2003.
______ . Gestão de pessoas. 2. ed. Rio de Janeiro: Manole, 2005.
______ . Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2000.
______ . Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
______ . Recursos humanos: o capital das organizações. 9. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
DAVENPORT, T. Capital humano: o que é e por que as pessoas investem nele. São
Paulo: Nobel, 2001.
DRUCKER, P. F. Administrando em tempos de grandes mudanças. São Paulo:
Pioneira, 1998.

136 Tendências Digitais em Finanças


DYE, R. A. Na evaluation of “essays on disclosure” and the disclosure literature in ac-
counting. Journal of Accounting and Economics, v. 32, n. 1-3, p. 135-181, 2001.
FREITAS, C. N. P.; ASSUNÇÃO, D. S. A.; NUNES, J. M.; GOMES, R. L. R. Os Novos Rumos do
RH nas empresas. [Artigo científico.] Publicado em: mai. 2018. Revista Observatorio
de La Economía Latinoamericana Disponível em: <https://www.eumed.net/rev/
oel/2018/05/rh-empresas-brasil.html> Acesso em: 30 jul. 2018
KOETZ, L. S. Fundamentos de administração: São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2009.
MARSHAL. A. Princípios de economia. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
MEURER, A. M.; LOPES, I. F.; MUSIAL, N. T. K. Evidenciação de investimentos em capi-
tal humano nos relatórios da administração das melhores empresas para trabalhar.
[Artigo científico.] Publicado em: 30 dez. 2017.Revista Eletrônica de Estratégia &
Negócios. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/EeN/arti-
cle/view/5428>. Acesso em: 30 jul. 2018.
SILVA, B. A. M.; MARCELINO, M. Z.; SILVA, M. P. N. da. Gestão estratégica do capital hu-
mano para potencialização dos resultados nas organizações. [Monografia.] Fundação
Universitária Vida Cristã – Brasil. Pindamonhangaba: 2017. Disponível em: <http://
www.bibliotecadigital.funvicpinda.org.br:8080/jspui/handle/123456789/553>.
Acesso em: 30 jul. 2018.
STEWART, T. A., Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. 11.
ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

Gabarito – Tema 08

Questão 1 – Alternativa C: o capital humano é o conjunto de co-


nhecimento, habilidades e atitudes que favorecem a realização do
trabalho de modo a produzir inovação e valor econômico.

Questão 2 – Alternativa E: ciência que estuda a atividade produtiva


para alocação ótima dos recursos escassos, ou seja, considera que
todos os recursos são finitos.

Tendências Digitais em Finanças 137


Questão 3 – Alternativa A: porque o conhecimento, as habilidades,
atitudes e experiências das pessoas são as principais fontes de gera-
ção do valor econômico e de inovação.

138 Tendências Digitais em Finanças


Bons estudos!

Você também pode gostar