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A Ansiedade Numa Visão Lacaniana José FIRMO de Andrade

Psicanalista Clínico
e Institucional
ACAP 11958
(27) 996 880 701
Questões básicas do Ser Humano

Que queres?
ESTOU AQUI.
... e daí?
Para onde vou?
Os Golpes na Humanidade Narcísica

• Copérnico (universo);

• Darwin (evolução das espécies);

• Freud (psicanálise).
Lacan e “seu invento”:

o objeto a
“alcançar em seu horizonte
a subjetividade de sua época”

Isto, segundo Lacan, implica


em retomar o caminho de
Freud em uma época na qual
este percurso se encontrava
embaçado quanto aos seus
fundamentos e seu poder de
subverter o já-dado

Este é o ‘retorno a Freud’ pelo qual


Lacan ficou bastante conhecido
„Quem quiser ser lacaniano que seja.
Eu sou freudiano.“ — Jacques Lacan
“Jamais, em nossa experiência concreta da
teoria analítica, podemos prescindir de
uma noção da falta de objeto como central.
Não é um negativo, mas a própria mola da
relação do sujeito com o mundo.”
(Lacan. Seminário 4, p. 35)
A Ansiedade Numa Visão Lacaniana

Ansiedad
ALFREDO SADEL
Ansiedad de tenerte en mis brazos
musitando palabras de amor
Ansiedad de tener tus encantos
y en la boca volverte a besar (bis)
Tal vez esté llorando al recordarte,
tus lágrimas son perlas que caen al mar
hace que estés presente en mi soñar
Quizás esté llorando tu pensamiento,
estreches mi retrato con frenesí
y hasta tu oído llegue la melodía salvaje
y el eco de la pena de estar sin ti.
Interl. musical
Tal vez esté llorando al recordarte...
Por la ansiedad de tenerte en mis brazos
y el eco de la pena de estar sin ti.
Compositores: JOSE ENRIQUE SARABIA
Letra de Ansiedad © S.I.A.E. Direzione Generale, Vander Music O/B/o Brambila Editora,
EDITORA MUSICAL MUSART, SA DE CV (EDIMUSA), VANDER MUSIC INC
A Ansiedade Numa Visão Lacaniana

En la actualidad, es difícil mantener dichas


diferencias, ya que dentro del concepto de
ansiedad agrupamos tanto los síntomas psíquicos
o cognitivos como los conductuales y físicos.
Não soubemos nos
antecipar ao poder dos
laboratórios de criar
novas doenças
Os seres humanos sobrevivem
há milhões de anos graças à
capacidade de confrontar a
adversidade
MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE
TRANSTORNOS MENTAIS DSM-5 (CID-11 /2022)
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION

Seção II Critérios Diagnósticos e Códigos


Transtornos do Neurodesenvolvimento ...................................................................... 31
Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos ......................................... 87
Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados ........................................................ 123
Transtornos Depressivos .................................................................................. ........ 155
Transtornos de Ansiedade......................................................................................... 189
Transtorno Obsessivo-compulsivo e Transtornos Relacionados ................................ 235
Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores ................................................. 265
Transtornos Dissociativos ......................................................................................... 291
Transtorno de Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados ............................... 309
Transtornos Alimentares ........................................................................................... 329
Transtornos da Eliminação ......................................................................................... 355
Transtornos do Sono-Vigília ....................................................................................... 361
Disfunções Sexuais .................................................................................................... 423
Disforia de Gênero .............. ...................................................................................... 451
Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta ............................... 461
Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos ................................ 481
Transtornos Neurocognitivos ..................................................................................... 591
Classificação CID-10
F40.0 Agorafobia
F40.1 Fobias sociais
F40.2 Fobias específicas (isoladas)
F40.8 Outros transtornos fóbico-ansiosos
F40.9 Transtorno fóbico-ansioso não especificado
F41.0 Transtorno de pânico [ansiedade paroxística episódica]
F41.1 Ansiedade generalizada
F41.2 Transtorno misto ansioso e depressivo
F41.3 Outros transtornos ansiosos mistos
F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados
F41.9 Transtorno ansioso não especificado
F42.0 Com predominância de idéias ou de ruminações obsessivas
F42.1 Com predominância de comportamentos compulsivos [rituais obsessivos]
F42.2 Forma mista, com idéias obsessivas e comportamentos compulsivos
F42.8 Outros transtornos obsessivo-compulsivos
F42.9 Transtorno obsessivo-compulsivo não especificado
F43.0 Reação aguda ao "stress"
F43.1 Estado de "stress" pós-traumático
F43.2 Transtornos de adaptação
F43.8 Outras reações ao "stress" grave
F43.9 Reação não especificada a um "stress" grave
F44.0 Amnésia dissociativa
F44.1 Fuga dissociativa
F44.2 Estupor dissociativo
F44.3 Estados de transe e de possessão
F44.4 Transtornos dissociativos do movimento
F44.5 Convulsões dissociativas
F44.6 Anestesia e perda sensorial dissociativas
F44.7 Transtorno dissociativo misto [de conversão]
F44.8 Outros transtornos dissociativos [de conversão]
F44.9 Transtorno dissociativo [de conversão] não especificado
F45.0 Transtorno de somatização
F45.1 Transtorno somatoforme indiferenciado
F45.2 Transtorno hipocondríaco
F45.3 Transtorno neurovegetativo somatoforme
F45.4 Transtorno doloroso somatoforme persistente
F45.8 Outros transtornos somatoformes
F45.9 Transtorno somatoforme não especificado
F48.0 Neurastenia
F48.1 Síndrome de despersonalização desrealização
F48.8 Outros transtornos neuróticos especificados
F48.9 Transtorno neurótico não especificado
F50.0 Anorexia nervosa
F50.1 Anorexia nervosa atípica
F50.2 Bulimia nervosa
F50.3 Bulimia nervosa atípica
F50.4 Hiperfagia associada a outros distúrbios psicológicos
F50.5 Vômitos associados a outros distúrbios psicológicos
F50.8 Outros transtornos da alimentação
F50.9 Transtorno de alimentação não especificado
F51.0 Insônia não-orgânica
F51.1 Hipersônia não-orgânica
F51.2 Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores nãoorgânicos
F51.3 Sonambulismo
F51.4 Terrores noturnos
F51.5 Pesadelos
F51.8 Outros transtornos do sono devidos a fatores não-orgânicos
F51.9 Transtorno do sono devido a fatores não-orgânicos não especificados
O que é a ansiedade?

A ansiedade é gerada por qualquer


situação que ameace a identidade ou a
autoestima do indivíduo, ou faz com que
se sinta desamparado, isolado e inseguro.
A ansiedade decorre de medos pessoais e
não de um perigo real.
Transtornos de Ansiedade
Incluem transtornos que compartilham características de medo e
ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados.
Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida,
enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura. Obviamente,
esses dois estados se sobrepõem, mas também se diferenciam, com o
medo sendo com mais frequência associado a períodos de excitabilidade
autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de
perigo imediato e comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo mais
frequentemente associada a tensão muscular e vigilância em
preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou
esquiva. As vezes, o nível de medo ou ansiedade é reduzido por
comportamentos constantes de esquiva. Os ataques de pânico se
destacam dentro dos transtornos de ansiedade como um tipo particular
de resposta ao medo. Não estão limitados aos transtornos de ansiedade
e também podem ser vistos em outros transtornos mentais.
Os transtornos de ansiedade diferem entre si nos tipos de objetos
ou situações que induzem medo, ansiedade ou comportamento de
esquiva e na ideação cognitiva associada. Assim, embora os
transtornos de ansiedade tendam a ser altamente comórbidos
entre si, podem ser diferenciados pelo exame detalhado dos tipos
de situações que são temidos ou evitados e pelo conteúdo dos
pensamentos ou crenças associados.

Os transtornos de ansiedade se diferenciam do medo ou da


ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além
de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento. Eles diferem
do medo ou da ansiedade provisórios, com frequência induzidos
por estresse, por serem persistentes (p. ex., em geral durando seis
meses ou mais), embora o critério para a duração seja tido como
um guia geral, com a possibilidade de algum grau de flexibilidade,
sendo às vezes de duração mais curta em crianças (como no
transtorno de ansiedade de separação e no mutismo seletivo).
FATORES PREDISPONENTES
Visão Psicanalítica - é o conflito emocional que ocorre entre
dois elementos da personalidade: o id e o superego.
Visão Interpessoal - origina-se do medo da desaprovação
interpessoal e da rejeição. Ela também está relacionada com
os traumas do desenvolvimento, como as separações e
perdas, que levam a vulnerabilidades específicas.
As pessoas com autoestima baixa estão particularmente
vulneráveis ao desenvolvimento da ansiedade elevada.

Visão Comportamental - produto da frustração, que interfere


com a capacidade de uma pessoa alcançar um objetivo
desejado.
A Ansiedade Numa Visão Lacaniana ou
A angústia – Seminário X
O seminário da angústia de Lacan seria
melhor classificado como obra literária.
Jacques-Alain Miller
Para Lacan ([1962-63]), a angústia não é a manifestação de um perigo
interno ou externo. É o afeto que toma o sujeito, numa vacilação, quando ele está
confrontado ao desejo do Outro. Para Freud, a angústia é causada pela falta do
objeto – separação da mãe ou do falo – e, para Lacan, ela não é ligada à falta
de objeto, mas a certa relação entre o sujeito e o objeto perdido. Para ele, esse
objeto não é tão perdido quanto se crê, pois dele encontramos vestígios sob forma
de sintoma ou formações do inconsciente.
Para Lacan, não há imagem possível da falta. Não há angústia sem a
presença do objeto que ele chamou de a, objeto causa do desejo. O aparecimento
da angústia denuncia que qualquer coisa, não importa qual, aparece no lugar que
ocupa o objeto causa do desejo. Miller (2008) salienta a importância que Lacan deu
à angústia como via de acesso ao objeto a e de como a angústia lacaniana é uma
angústia ativa, produtiva. Não tenho dúvida de que continuamos, a dupla analítica,
na atualidade, a retirar da angústia a certeza ou a verdade do sujeito em análise.
“No discurso de Inibição, sintoma e angústia, fala-se de tudo, graças a Deus,
exceto da angústia. Será que isso quer dizer que não se pode falar dela?”
(Seminário 10, p. 18)

“...Freud diz muito bem que a angústia é


ALÉM DA ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO
‘angústia diante de algo’ ”
O objeto como peça avulsa (Seminário 10, p. 191)
O objeto hoffmaniano
O objeto a postiço
O objeto-demanda O desejo é sempre conflituoso, na medida
O objeto que não falta em que seus primeiros objetos são proibidos.
Daí decorre que todos os objetos substitutivos
de nosso desejo comportem também algo de
conflituoso. Dito de outra forma, o desejo
pode provocar angústia, pois todo desejo
comporta na sua origem algo recusado
pelo sujeito.
Dois tempos de localização da angústia em Freud
Primeiro momento: angústia como efeito do recalque
(como transformação da libido)
Segundo momento: angústia como aquilo que é prévio ao recalque

“Ela [a angústia como sinal] não resulta nem de um


abandono de suas primeiras posições, que faziam da
angústia o fruto do metabolismo energético, nem de
uma nova conquista, pois, na época em que Freud
fazia da angústia a transformação da libido, já
encontramos a indicação de que ela podia funcionar
como sinal.”
(Seminário 10, p. 57)
A angústia como um afeto que não engana
(fora da dúvida, fora da ambiguidade):

quando o sujeito está afetado pela


angústia, esta é uma constatação visceral
“Na angústia, o sujeito é premido, afetado,
implicado no mais íntimo de si mesmo”
(Seminário 10, p. 191)

A) “o desejo do homem é o desejo do outro”


(fórmula já exposta desde o Seminário 1, vide pp. 172, 205)

B) “o inconsciente é o discurso do outro”


(Seminário 2, p. 176)
Em Análise :
Usualmente, a angústia do analisando toca de
uma forma que não é qualquer ao psicanalista.

Vale sempre considerar sob que condições e


até que ponto o psicanalista pode suportar a
angústia do analisando.

Igualmente, é válido manter bem próxima de


nós uma recomendação de Lacan:
a angústia do analisando deve ser dosada pelo
analista
Lacan parte de uma distinção bastante elementar:

ansiedade angústia medo

Para chegar a uma localização que embaralha


o esquema anterior:

a angústia não é sem objeto


O “não é sem”:
Indica-nos a condição obscura, imprecisa, tateante do objeto.
O objeto para o qual a angústia aponta se mostra como algo
muito distante de ser óbvio ou evidente

Lacan e “seu invento”: o objeto a


é o objeto a que está em jogo na angústia, é a ele que se
refere o sujeito angustiado imerso em sua condição de ser
pela linguagem.
Além disto, este objeto manterá uma duplicidade
considerável:
ao mesmo tempo que ele será tomado como
objeto relacionado ao desejo, será apreendido
também como objeto da angústia
Para que o sujeito seja desejante, diz
Lacan ([1962-63]), é preciso que um
objetocausa do seu desejo possa lhe faltar.
Mas quando esse objeto ameaça não faltar,
o sujeito está jogado numa situação de
estranheza, dando lugar ao aparecimento da
angústia. Então, se para Freud ([1925] 1969)
a angústia estava descrita como a ameaça
da falta, da perda do objeto, para Lacan a
angústia é o sinal de ameaça que pode
faltar a falta.
O homem que sofre antes de ser necessário, sofre
mais que o necessário.
Sêneca
O que será (À flor da pele) No plano dos bandidos dos desvalidos
Chico Buarque Em todos os sentidos...
Será, que será?
O que será, que será? O que não tem decência nem nunca terá
Que andam suspirando pelas alcovas O que não tem censura nem nunca terá
Que andam sussurrando em versos e trovas O que não faz sentido...
Que andam combinando no breu das tocas O que será, que será?
Que anda nas cabeças anda nas bocas Que todos os avisos não vão evitar
Que andam acendendo velas nos becos Por que todos os risos vão desafiar
Que estão falando alto pelos botecos Por que todos os sinos irão repicar
E gritam nos mercados que com certeza Por que todos os hinos irão consagrar
Está na natureza E todos os meninos vão desembestar
Será, que será? E todos os destinos irão se encontrar
O que não tem certeza nem nunca terá E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
O que não tem conserto nem nunca terá Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem tamanho... O que não tem governo nem nunca terá
O que será, que será? O que não tem vergonha nem nunca terá
Que vive nas idéias desses amantes O que não tem juízo...
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados Compositores: CHICO BUARQUE DE
Que está na romaria dos mutilados HOLLANDA
Que está na fantasia dos infelizes Letra de O que será (À flor da pele) © S D R
Que está no dia a dia das meretrizes M, Cara Nova Editora Musical Ltda
Se não sei prá que serve o que eu sei,
...
Prof. Firmo.
VAMOS AO DEBATE! OBRIGADO!

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