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A LEI DE OKUN PARA A ECONOMIA BRASILEIRA: 2002-2010

Lucas Lautert Dezordi

A relação entre crescimento econômico e taxa de desemprego é um dos aspectos


mais estudados na macroeconômica. Arthur Okun, economista da Brookings Institution
demonstrou empiricamente um comportamento inverso entre as variações nas taxas de

desemprego e de crescimento do produto em relação ao incremento do produto

potencial . Matematicamente, pode-se descrevê-la como:

(1)

O parâmetro mensura a sensibilidade do desemprego aos desvios do Produto


Interno Bruto (PIB) frente à tendência de longo prazo, ou seja, o hiato do produto. Pela
análise empírica, seu valor tende a ser negativo. A Lei de Okun, como ficou conhecida,
estabelece uma regularidade empírica, como evidenciam Dornbusch & Fischer1.
Ela torna-se importante nas orientações de políticas econômicas, pois pode
determinar econometricamente o impacto de uma meta de crescimento econômico na
taxa de desemprego ao longo do tempo.
Nessa perspectiva, é possível determinar, a partir de dados trimestrais, a validade
dessa relação para a economia brasileira. Para tanto, utilizou-se dados do PIB trimestral
(em índice) e, a partir do filtro de Hodrick-Prescott (HP), estimou-se o produto potencial
para calcular o hiato2. A variação na taxa de desemprego foi obtida pela diferença
trimestral entre a média do País e das regiões metropolitanas acompanhadas.
O Gráfico 1 descreve, a partir de um diagrama de dispersão, a relação entre a
variação na taxa de desemprego (eixo vertical) e o hiato do produto (eixo horizontal),
tornando-se claro o comportamento inverso entre as variáveis. Entretanto, utilizou-se a
regressão linear para determinar a validade estatística dessa argumentação.

1Ver em especial DORNBUSH, R. e FISCHER, S. Macroeconomia. Editora Makron Books. 5 ed. 1991.
2Para uma análise mais detalhada do cálculo do hiato do produto, consultar o artigo de Lucas L. Dezordi no Vitrine de Economia da edição de junho de 2010.
Este artigo utilizou os mesmos dados da edição passada, ou seja: HIATO = 100.(PIB real – PIB potencial)/PIB potencial.

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Gráfico 1 – A Lei de Okun Estimada para a Economia Brasileira – 2002/T1- 2010/T4.

1,5
Variação na taxa de desemprego

1,0

0,5

0,0

-0,5
y = -0,136x
-1,0

-1,5
-5,00 -4,00 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
Hiato do Produto
FONTE: IBGE – Cálculo do Autor no E-Views.

A equação foi estimada sem a constante e seus resultados são mostrados a seguir:

(2)

Os dados demonstram que o hiato do produto é estatisticamente significativo para


explicar a variação da taxa de desemprego trimestral ao nível de significância de 5%
(p-valor < 0,0500).
Apesar do R2 ser baixo, o modelo em questão não apresenta autocorrelação dos

resíduos, pois a estatística Durbin-Watson está próxima de 2. O procedimento indica


que se o produto crescer a 1 ponto percentual acima de sua tendência de longo prazo,
a taxa de desemprego cairá em média 0,14 pontos percentuais, por trimestre.

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Se o governo quiser reduzir a taxa de desemprego em 1 ponto percentual, por
exemplo, de 8% para 7%, em 1 ano, a taxa de desemprego trimestral deverá cair em
média 0,25 pontos. Substituindo esse valor na equação 2 estimada, tem-se que:

Ou seja, a economia deverá crescer em torno de 1,84% acima de sua tendência de


longo prazo durante quatro trimestres consecutivos, o que representa expansão

anualizada de 7,56% ao ano acima da tendência: .


Foi o que ocorreu na economia brasileira em 2010. O PIB cresceu a uma taxa de
7,49% e a taxa de desemprego caiu de 7,2% para 6,1% da força de trabalho entre os
meses de janeiro de 2010 a janeiro de 2011.

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