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Jogue o currículo fora, ele não serve para mais nada

Mauro Segura - Executivo de marketing, autor do blog A Quinta Onda

Publicado: 16/03/2014 13:42

Luiz é recrutador da empresa XYZ. Ele estava com a responsabilidade de contratar um determinado
especialista para a empresa e, de repente, após 6 meses de longa busca no mercado, chegou em suas mãos
um currículo que parecia ser a salvação da lavoura.

O candidato se chamava Eduardo. O currículo mostrava um nível super adequado de formação. Ele
tinha experiência internacional, tendo atuado em duas empresas na Europa. Eram experiências curtas, é
verdade, mas significativas. Eduardo se dizia autodidata, com disponibilidade para viajar bastante,
capacidade para liderar times multifuncionais, sólido conhecimento em planejamento e perfil
empreendedor.

Luiz pensou: "Ótimo, agora só falta uma coisa". E seguiu para o passo seguinte que era verificar a
presença do candidato na internet. Isso agora é rotina na empresa de Luiz. Ele constatou que Eduardo era
contribuidor de dois blogs nos quais escrevia sobre as áreas em que atua, sempre com boas e inteligentes
colocações. Luiz sorriu, o candidato parecia perfeito. Porém, em questão de minutos, ele também descobriu
que Eduardo tinha presença em vários outros meios na web. No Facebook, Eduardo contava as suas
aventuras nas baladas da noite surgindo em algumas fotos com bebida alcoólica nas mãos, algumas delas em
que ele parecia estar bêbado. No Twitter ele escrevia sobre qualquer coisa, muitas vezes usando palavrões e
satirizando o comportamento de pessoas públicas, como artistas e políticos. Vasculhando um pouco mais,
Luiz encontrou citações dele em alguns blogs e fóruns onde ele falava mal do empregador, inclusive
contando alguns fatos internos das empresas onde trabalhou.

Luiz apresentou na empresa o currículo e o que achou na internet sobre o candidato. Aconteceram
três reuniões sobre o caso, com discussões acaloradas, cuja conclusão foi a seguinte: "apesar do candidato
ter o perfil profissional desejado, ele não atende ao perfil de pessoas que queremos ter dentro da empresa.
Vamos continuar procurando outros candidatos".

Luiz telefonou ao candidato e explicou o ocorrido, falando com todo o tato possível. Eduardo alegou
que a empresa investigou sua vida particular e que isso não havia sido legal. Luiz disse que ele estava
enganado, que tudo que a empresa havia levantado era público, afinal tinha por base os registros e rastros
que o próprio candidato havia deixado na web. O candidato se sentiu punido injustamente, dizendo que
concordava que escreveu algumas coisas inadequadas na rede, mas que estava o tempo todo tentando
apenas ser engraçado. Para ele, nada daquilo deveria ser levado a sério, pois havia sido apenas uma
brincadeira.

O caso é complexo, apesar de simples. Existe uma distância enorme de percepção entre o que a
empresa e Eduardo pensam. Para a companhia o caso é grave, pois Eduardo é bom profissional, porém com
questionável comportamento pessoal. Para o candidato, aquilo tudo na web era só uma brincadeira sem
importância. O caso acima é verdadeiro. Obviamente que todos os nomes foram trocados. Situações como
essa devem estar ocorrendo aos montes dentro das empresas.

Uma pesquisa conduzida pela Robert Half há dois anos mostrou que 44% das empresas brasileiras
usavam redes sociais para avaliar candidatos. 39% delas afirmaram que falariam com o candidato antes de
decidir sobre a contratação. Mas, o dado que mais me chamou a atenção foi saber que 17% das empresas
brasileiras disseram que não deixariam de contratar um candidato com ótimo currículo devido a alguma
informação negativa ou foto inadequada em seu perfil no Facebook, Twitter ou Orkut. Essa pesquisa ouviu
2.525 profissionais de 10 países. O Brasil e a Itália aparecem na pesquisas como as nações em que os
empregadores são mais influenciados pelas redes sociais na hora da contratação. A pesquisa já tem um
tempo, portanto se extrapolarmos para os tempos atuais alguns números vão mudar. Certamente o número
de empresas que usam redes sociais para buscar e avaliar candidatos aumentou muito. Todas fazem isso.

Acredito fortemente que os currículos, como conhecemos hoje, estão com os dias contados. Num
curto espaço de tempo os recrutadores vão obter os perfis dos candidatos diretamente na web, analisando
os rastros e comportamento deles na internet de maneira muito mais rigorosa e profissional do que
fazemos hoje. Sistemas e ferramentas de análises de dados cada vez mais sofisticados estão ficando
disponíveis e serão usados para isso. Aliás, isso já está acontecendo, mas o processo vai se acelerar e será
dominante nos próximos anos. Não tem como escapar. Portanto, cada um de nós deveria traçar uma
estratégia de presença na rede, ali é um arquivo vivo de nossas preferências, valores e crenças. Pense na
forma como você se expõe, especialmente para aqueles que não conhecem você pessoalmente. E, atenção,
tudo que a internet capturar não dá para apagar.

Pense no currículo como uma peça de propaganda individual. É você falando sobre você mesmo,
exaltando as suas qualidades e omitindo as suas fraquezas e/ou debilidades. Ele funciona exatamente como
uma peça publicitária de um produto ou serviço. Em que você acredita mais? Na propaganda que você vê na
revista e na TV ou na opinião de seus amigos publicadas nas redes sociais e nas conversas de fim de dia?
Pesquisas mostram que as pessoas acreditam muito mais no feedback das pessoas do que no marketing das
empresas. Aplique este mesmo conceito para o seu currículo. Você acha que o recrutador de uma empresa
vai acreditar mais no que você escreveu sobre si mesmo ou no que os outros escrevem sobre você?

Ahhhh, mas tem um outro lado da moeda também. Você também pode pesquisar e descobrir coisas
interessantes sobre as empresas nas redes sociais. Tem alguma empresa contratando e com vagas abertas?
Ela é uma boa empregadora? É uma empresa cidadã? A sua marca é respeitada? Os funcionários se sentem
orgulhosos de trabalhar em tal empresa? Ou seja, o mundo das redes sociais funciona para ambos os lados.
É por conta disso que aparecem sites como o Glassdoor que permite que as pessoas avaliem seus
empregadores, publicando até a lista anual Glassdoor das melhores empresas para se trabalhar, conforme
o feedback dos próprios trabalhadores.

Num mundo transparente, aberto e em "real time", as redes sociais se tornaram um território aberto
para as empresas e para as pessoas, sejam como cidadãos, consumidores e trabalhadores. Saber navegar e
se beneficiar desses novos tempos é uma responsabilidade individual. Não delegue a sua carreira a própria
sorte, trace uma estratégia de exposição de suas competências e seus gostos na web. Não acredite mais no
poder do currículo bem feito e bonitinho, ele já era.

Seguir Mauro Segura no Twitter: www.twitter.com/maurosegura

http://www.brasilpost.com.br/mauro-segura/jogue-o-curriculo-fora_b_4912654.html

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