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Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

DISCIPLINA DE LIBRAS COMO ELEMENTO CURRICULAR DO CURSO DE


EDUCAÇÃO ESPECIAL EM TEMPOS DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE

Mônica Zavacki de Morais


Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar os efeitos da disciplina de Língua


Brasileira de Sinais como componente curricular do Curso de Educação Especial da
Universidade Federal de Santa Maria, frente as atuais discussões sobre o ensino bilíngue
para surdos. A abordagem é feita em um sentido amplo, apontando suas conexões com
as atuais discussões sobre a inclusão dos surdos tanto no espaço pedagógico quanto
social. A partir da regulamentação da Lei de Libras pelo Decreto 5.626/05, a Libras
passou a ser disciplina obrigatória dos currículos de todos os cursos de Educação
Especial, Fonoaudiologia e Magistério em nível médio e superior. Como materialidade
de análise para esse trabalho, foram utilizados questionários direcionados a alunos do
curso de Educação Especial que se encontram em estágio curricular supervisionado na
área da surdez e que já cursaram a disciplina de Libras. As questões feitas assentaram-se
no interesse de compreender quais os efeitos que a disciplina de Língua Brasileira de
Sinais vem produzindo na formação de Educadores Especiais frente ao atual cenário das
discussões na educação de surdos. Para operar essa proposta, me aproximo da
perspectiva pós-estruturalista, mais especificamente da noção de discurso foucaultiana
para fazer um exercício de pensamento, para colocar junto certas ideias, para produzir
com isso novos efeitos e sentidos. Através das análises dos questionários foi possível
perceber que, tanto os professores da referida disciplina quanto as ementas não estão
condizentes com a necessidade que a formação em Educação Especial requer para estar
atendendo aos alunos surdos. As questões expostas demonstraram um ensino baseado
em um “manual rápido” da aprendizagem da Libras como L2 para os futuros
educadores, com isso, afetando possíveis mudanças estruturais na educação e na
construção de um ensino bilíngue.

Palavras-chave: Língua Brasileira de Sinais- Educação Especial- Educação Bilíngue

Introdução

Discutir a educação de surdos no Brasil implica necessariamente debater temas


da pauta do processo educativo: questões curriculares, políticas, linguísticas, formativas,
de gestão, etc. Dentre estes, a formação de professores para atuação com estudantes
surdos parece ter ocupado posição privilegiada no cenário nacional, demandando uma
(re)organização de espaços e modos nas formações profissionais nas Universidades de
todo o país.

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O reconhecimento da legal Língua Brasileira de Sinais através da lei 10.436/02


levou a um processo de discussões e movimentações que culminaram em determinações
políticas que viriam a impactar nos processos de formação de professores de todas as
áreas. A partir da regulamentação da Lei de Libras pelo Decreto 5.626/05, a Libras
passou a ser disciplina obrigatória dos currículos de todos os cursos de Educação
Especial, Fonoaudiologia e Magistério em nível médio e superior.
Sob um olhar aligeirado, é possível sugerir que os impactos certamente ficaram
localizados unicamente na inserção da disciplina de Libras como componente curricular
dos cursos de Magistério e de Fonoaudiologia, haja vista a novidade que aí se colocava.
Entretanto, os cursos de Educação Especial também sofreram deslocamentos
importantes, não apenas pela obrigatoriedade do ensino da Libras em si (que não
deveria ser propriamente uma novidade), mas também em razão de que a própria
formação desses professores de Educação Especial passou a ocorrer em um cenário de
Educação Bilíngue como política pública educacional, o que implica em outras
demandas de formação/atuação profissional.
Assim, no presente trabalho, será lançado um olhar específico sobre os efeitos
da disciplina de Língua Brasileira de Sinais como componente curricular do Curso de
Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), frente as atuais
discussões sobre o ensino bilíngue para surdos. Para realizar tal discussão, duas seções
serão apresentadas. Inicialmente, será apresentada a metodologia utilizada para
produção e análise dos dados produzidos. Na sequência, será contextualizado o curso de
Educação Especial da UFSM e feita a discussão sobre alguns elementos observáveis
que surgem a partir da disciplina de Libras ministrada no curso.

Caminhos da pesquisa

Como materialidade de análise para este trabalho, foram utilizados questionários


direcionados a alunos do curso de Educação Especial que se encontram em estágio
curricular supervisionado na área da surdez e que já cursaram a disciplina de Libras. As
questões feitas assentaram-se no interesse de compreender quais os efeitos que a
disciplina de Língua Brasileira de Sinais vem produzindo na formação de Educadores
Especiais frente ao atual cenário das discussões na educação de surdos.

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Através das questões feitas aos estudantes, se buscou compreender cinco


aspectos:

 Fluência possibilitada pelas disciplinas de Libras e capacidade de comunicação


alcançada no estágio;
 Abordagem feita pelos professores durante as disciplinas (relação entre aspectos
práticos e conceituais/teóricos) e a relevância/utilidade de tal abordagem na
prática de estágio;
 (Des)continuidade dos conteúdos abordados em cada uma das quatro disciplinas
de Libras presentes no curso de Educação Especial;
 Necessidade de complementar os estudos da Libras além das disciplinas
oferecidas como elemento curricular.
 Abordagens metodológicas utilizadas pelos professores durante o ensino da
Libras (ênfase em vocabulário ou em práticas de conversação).

Para realizar a análise aqui proposta, me aproximo da perspectiva pós-


estruturalista, com inspiração na análise de discurso foucaultiana para fazer um
exercício de pensamento, para colocar junto certas ideias, para produzir com isso novos
efeitos e sentidos. Com a contribuição desse campo de estudo, pude entender a relação
que se estabelece com os Estudos Surdos, por se tratar de concepções teóricas que
tomam como centralidade as questões linguísticas, culturais e políticas por perceber que
se trata de um campo contestado e conflituoso, atrelado a relações de poder.
O sujeito entendido no referencial pós-estruturalista rompe a ideia de um sujeito
autônomo e reflexivo para viver em uma zona de crises e instabilidades. Nessa
perspectiva o sujeito passa a ser entendido como fragmentado e não mais unificado,
fixo.
É um olhar diferente - o olhar daqueles que se inspiram no pensamento do
filósofo - que faz emergir das exterioridades selvagens novos saberes que, ao
serem trazidos à luz, transformam-se em novos problemas, em novas
perguntas até então impensadas. Aí está, sem dúvida, uma evidência do
caráter edificante da perspectiva foucaultiana. (VEIGA-NETO, 1995, p. 42)

Diante desse contexto, tomo também os discursos políticos contidos no Decreto


5.626/05. Como promotor do reconhecimento da Língua de Sinais Brasileira como
língua oficial da comunidade surda, existem atravessamentos sociais que demandam
dele ações políticas. No quesito específico que oficializa as mudanças curriculares como

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ponto de partida, é possível problematizar a racionalidade de governo neoliberal para


uma sociedade inclusiva e seus efeitos em termos de condução do sujeito surdo.
Como última materialidade utilizada para compor este estudo, está o Projeto
Político Pedagógico do curso de Educação Especial. A atenção se voltou para as formas
pelas quais a temática e a disciplina de Língua Brasileira de Sinais estão inseridas em tal
documento.
Diante do quadro que ora se apresenta é imprescindível à inserção, em nosso
Curso, de disciplinas teórico-práticas que contemplem, entre tantos outros
conteúdos, o aprendizado da Língua de Sinais, que deverá ser ministrada, por
um instrutor de Língua de Sinais, apresentando os pressupostos da educação
bilíngue e da legislação vigente. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO,
2007, p. 14)

Postos os objetos de análise e as opções teóricas feitas para a análise, passo à


discussão a qual se propõe este artigo. Através de um olhar para o curso de Educação
Especial da UFSM e das disciplinas de Libras presentes em seu currículo, a atenção se
volta para a compreensão dos seus efeitos na formação de Educadores Especiais frente
ao atual cenário das discussões na educação de surdos.

A disciplina de Libras na formação do educador especial: alguns tensionamentos

Desde 1962, a UFSM vem formando profissionais para atuar na Educação


Especial. Os estudantes que ingressaram no curso até o ano de 2003 tinham uma
formação inicial genérica e, posteriormente, aprofundavam estudos em uma das duas
habilitações oferecidas pelo curso: Deficientes Mentais ou Deficientes da
Audiocomunicação. Com as reformulações curriculares ocorridas a partir do ingresso de
2004, o curso passou a formar um profissional genérico que pode atuar nos processos
educacionais envolvendo as áreas da surdez, deficiência mental e dificuldades de
aprendizagem. Nesse novo cenário, para que o educador especial esteja “apto” a
ingressar no mercado de trabalho e atender alunos surdos, a aprendizagem da Língua de
Sinais é imprescindível.
Além das mudanças em relação às habilitações, a reorganização curricular
também trouxe importantes atualizações de componentes curriculares. O currículo que
permaneceu vigente entre os anos de 1985 e 2003 privilegiava a formação de
profissionais de Educação Especial para atuar em contextos eminentemente

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reabilitadores. Na área da surdez, não era diferente. Embora a prática cotidiana dos
docentes do curso já vinha apontando para uma abordagem da educação de surdos
baseada em preceitos culturais e linguísticos, a organização do Projeto Político
Pedagógico naquela ocasião possuía caráter clínico e de reabilitação.
Com isso, a Língua Brasileira de Sinais não se fazia presente como elemento
curricular do curso. Portanto, até meados de 2004, não havia professores para atuar no
ensino da Língua de Sinais no curso. Era preciso que os alunos procurassem cursos
oferecidos pela comunidade local de Santa Maria. Tal formação geralmente ocorria no
espaço da Associação de Surdos da cidade, na Escola de Surdos ou através de aulas
particulares com instrutores surdos da comunidade local.
A partir da reformulação curricular, então, o Curso de Educação Especial passou
a ter a disciplina de Língua de Sinais como componente curricular. A formação do
Educador Especial requer conhecimentos na área para que os futuros professores
possam atuar na educação de surdos.

Conforme o disposto nas Diretrizes Nacionais da Educação Especial na


Educação Básica, em seu artigo 12, §2° que assegura o direito do aluno surdo
ter acesso aos conteúdos curriculares através da Língua de Sinais, torna-se
imprescindível que o professor egresso do curso, o qual irá atuar na Educação
Básica, obrigatoriamente necessita adquirir tais conhecimentos em seu
processo de formação. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2007, p.14)

Para dar conta das disciplinas de Libras no curso, vieram os primeiros


professores surdos. Eles eram professores substitutos, ou seja, eram contratados por um
período de dois anos para atender somente o Curso de Educação Especial. Foi em 2009
o primeiro concurso para provimento de vaga de professor efetivo na área do ensino de
Libras, que viria a atuar no ensino da Língua de Sinais no curso de Educação Especial.
Importantes fatores foram responsáveis por essas conquistas. A oficialização da
Libras, a oferta de cursos de formação de professores e intérpretes, pesquisas na área da
educação de surdos, implantação da disciplina nos currículos das licenciaturas e
Fonoaudiologia e a criação do Curso de Letras Libras - licenciatura e bacharelado são
alguns dos movimentos que impactaram na área da educação de surdos e que
provocaram mudanças na formação dos educadores especiais.
Com base nesses movimentos de lutas políticas e linguísticas, é relevante
pontuar que a partir da legislação houve uma maior movimentação e visibilidade de
surdos circulantes na academia. Aumentou o número de professores surdos que

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passaram a lecionar a disciplina de Libras, e de outro lado, aumentou também o índice


de estudantes surdos nas variadas instituições, fator agregado à presença legal de
intérpretes de Libras nas instituições.
Após o reconhecimento linguístico internacional das línguas de sinais na década
de 60, em âmbito nacional, somente em 2002, com a Lei 10.436, a Língua Brasileira de
Sinais foi reconhecida como língua da comunidade surda do Brasil e surgem as
primeiras políticas linguísticas considerando a língua e a cultura surda (BRASIL, 2002).
A Lei de Libras reconhece a Língua Brasileira de Sinais como a língua dos
surdos brasileiros. Nesse sentido, a ela reconhece os direitos linguísticos da comunidade
surda, que passa a ter o direito de uma educação na sua própria língua. Destaca-se que a
Libras é uma língua nacional, não estrangeira. Ou seja, ela não pode ser comparada
simplesmente ao ensino de línguas estrangeiras, pois é uma das línguas nacionais e
conta com uma comunidade que a utiliza sistematicamente dentro do Brasil – a
comunidade surda brasileira; portanto, deve ser garantido o ensino desta língua entre os
membros de sua comunidade e com professores de sua comunidade.
De acordo com o Decreto 5626/2005, a Libras passou a fazer parte dos
currículos dos cursos de Licenciatura, Educação Especial e Fonoaudiologia,
mobilizando a militância surda pelo reconhecimento da diferença. Isso ocorreu dentro
de um contexto de efetivação das ações inclusivas, cenário esse em que as políticas de
inclusão, em suas diferentes esferas, acabaram constituindo e produzindo a inclusão
como obrigatória, como um imperativo na vida de todos.
No entanto, algo que deve ser mencionado com cautela é a forma como vem se
constituindo a Língua de Sinais nessa lógica, tomando uma única disciplina semestral,
como manual de inclusão dos surdos na escola e na sociedade. Bem sabemos que o
aprendizado de uma língua transcende a sala de aula, exigindo um contexto e contato
com a cultura em questão. Além disso, uma educação bilíngue pede ao professor a
fluência na língua e a circulação justa das línguas envolvidas na escola de modo que
ambas tenham o mesmo prestígio e rigor (SOUZA, 2006).
Para compreender melhor essa discussão sobre os conhecimentos aprendidos na
disciplina de Língua de Sinais nos diferentes cursos de formação de professores, trago
os objetivos da disciplina de Libras no curso de Educação Especial. Trago também um
comparativo com outra licenciatura para entender que dentro do referido curso precisa
haver um outro enfoque no ensino da Libras. As disciplinas de Língua de Sinais no

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curso de Educação Especial dividem-se em quatro disciplinas de 30 horas, tendo como


objetivos:

 Proporcionar o conhecimento da história surda e o aprendizado básico


da Língua de Sinais – LS;
 Adquirir conhecimentos linguísticos sobre a LIBRAS, sendo capaz de
usá-los nas interações comunicativas com as comunidades surdas;
 Conhecer a Comunidade, Identidades e Culturas surda e o aprendizado
da LIBRAS, sendo capaz de realizar interações comunicativas com a
comunidade surda;
 Aprofundar os conhecimentos sobre as organizações e práticas sociais
(educação, cultura, identidade), e o aprendizado da LIBRAS sendo
proficiente nas interações comunicativas junto à comunidade surda.
(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2007)

Para o curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Espanhola, o


objetivo é o seguinte:

Adquirir o conhecimento da história surda, do estudo linguístico da LIBRAS,


das representações do ser surdo (língua, identidade e comunidade surda) e
das organizações e práticas sociais (educação, cultura e identidade
linguística), e o aprendizado básico da LIBRAS. (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA, 2014)

Com base nesse “mapeamento” sobre a situação da disciplina de Língua de


Sinais no Curso de Educação Especial, foi realizado um questionário com os alunos que
se encontram na disciplina Estágio Supervisionado na área da surdez. Esses alunos já
cursaram as disciplinas de Libras e, neste momento, estão “colocando em prática”, o
aprendizado dessa língua.
Sendo assim, foi procurado apontar alguns elementos da formação de
professores que são indispensáveis para atuação com alunos surdos. Quando
perguntados: "no curso de Educação Especial você teve 4 disciplinas de Língua de
Sinais. Na sua opinião, essas disciplinas tiveram uma continuidade, ou cada disciplina
apresentava um enfoque diferente?" algumas respostas foram interessantes:

Na verdade, de quatro semestres que nos são disponibilizados, apenas em um


tivemos uma base sobre alguns desses temas. No restante tivemos vocabulário apenas!
O que tivemos sobre a educação de surdos e desenvolvimento esteve ligado sempre a
outras disciplinas, especificas. (Aluno 11)

Não teve continuidade, cada disciplina apresentava um enfoque diferente e por


vezes repetido. (Aluno 4)

1
Os trechos em itálico são excertos das respostas dos alunos entrevistados.

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Para o curso de Educação Especial, a disciplina de Língua de Sinais, precisa ter


outro enfoque, não calcado simplesmente em ensino de vocabulário, ou conhecimentos
sobre a comunidade surda (não que isso não seja importante, mas dentro do curso, essas
questões são discutidas dentro de outras disciplinas específicas da área da surdez), pois
estes professores atuarão no ensino de alunos surdos.
Com relação a fluência possibilitada pelas disciplinas de Libras e capacidade de
comunicação alcançada no estágio, um número significativo de alunos que apontou ter
uma comunicação média, ou seja, conseguem estabelecer um diálogo com os alunos,
mas quando precisam ensinar um conteúdo através da Língua de Sinais, mostraram-se
fragilizados.

O meu estágio não tem sido na escola de surdos. Como minha aluna estuda no
ensino fundamental e não tem muito adquirida a LIBRAS, o nível de comunicação é
básico, bem básico. Porém quando encontro com algum professor surdo, consigo
estabelecer uma comunicação de nível médio. (Aluna 4)

Sim, a comunicação flui, mas com fragilidades, pois saí das turmas de Libras
sabendo sinais, sinais e sinais e agora preciso organizar e ter diálogos para poder
explicar conteúdos e interagir com os alunos surdos. Acredito que nível médio, pois
procuro aprender o máximo estando inserida na escola de surdos e busquei curso por
fora de Libras. (Aluna 2)

Como meus alunos não tem apropriação da língua, estou tentando ensiná-los,
como também não tenho uma língua fluente estou aprendendo com eles. Estou no nível
médio. (Aluna 6)

Nesses argumentos, a língua de sinais acaba sendo banalizada, ou seja, a língua


de sinais passa a atuar muito mais como um suporte metodológico, do que reconhecida
como a primeira língua do surdo. Dessa forma, entender que a diferença é a produção de
um coletivo, que é o fruto de composições das forças que constituem um determinado
contexto sociocultural, mostra-nos ainda que se abrir para a diferença implica se deixar
afetar pelas forças de seu tempo. Trata-se de uma política que não consiste
simplesmente em reconhecer o outro, respeitá-lo, preocupar-se com os efeitos que nossa
conduta possa ter sobre ele; ela vai mais além, assumindo as consequências de sermos
permanentemente atravessados pelo outro.
Quando questionados sobre as abordagens metodológicas utilizadas pelos
professores durante o ensino da Libras as respostas foram praticamente unânimes.

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Na maioria das vezes estava focado em vocabulário, o que é muito prejudicial


para ensinarmos com alunos surdos, pois agora no estágio precisamos planejar os mais
diferentes conteúdos e estamos com dificuldade para passar esses conteúdos para os
alunos. ( Aluno 7)

Tirando apenas um semestre, os outros foram apenas vocabulário, palavras


soltas sem o contexto por vezes ficando apenas no português sinalizado. (Aluno 5)

Teve apenas duas disciplinas de Libras que teve conversação as demais focavam
em ensino de vocabulário. Mas saliento que é extremamente precário o ensino que o
curso de Educação Especial traz referente a Libras, pois chego ao estágio sabendo o
necessário para a comunicação e assim com fragilidades, mesmo buscando curso fora
sinto fragilidades. O curso oferece quatro Libras e deveria dar o mínimo de fluência
para futuros professores de alunos surdos e infelizmente não é o que acontece. (Aluno
2)

Bem sabemos que o ensino de uma segunda língua transcende unicamente o


ensino de vocabulário. No curso de Educação Especial, no qual os alunos atuarão com
ensino de conteúdos e disciplinas, o ensino que foca unicamente no ensino de
vocabulário torna-se muito precário, prejudicando a atuação dos alunos no seu campo
de estágio.

Considerações finais

Procurou-se através deste trabalho, problematizar o ensino da Língua Brasileira


de Sinais dentro do curso de Educação Especial da Universidade Federal de Santa
Maria. De maneira geral, foi possível perceber que tanto os professores da referida
disciplina quanto as ementas não estão condizentes com a necessidade que a formação
em Educação Especial requer para a atuação profissional com alunos surdos
O processo de ensino-aprendizagem de uma segunda língua, não pode estar
calcado exclusivamente em ensino de vocabulário. É necessário que o professor tenha
formação e prática e domine os processos discursivos e enunciativos de ambas as
línguas, no caso, a Língua Portuguesa e a Língua de Sinais. As questões expostas
demonstraram um ensino baseado em um “manual rápido” da aprendizagem da Libras

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como L2 para os futuros educadores, o que pode afetar possíveis mudanças estruturais
na educação e na construção de um ensino bilíngue.
Desse modo, a formação de Educadores Especiais, precisa urgentemente
dialogar no que diz respeito ao ensino da Língua de Sinais para futuros professores que
atuarão em escolas de surdos ou escolas inclusivas. É necessário que se garanta a
apropriação dessa língua, investir na formação desses educadores para que se apropriem
de conhecimentos específicos da Língua de Sinais, metodologias e didáticas para o
ensino.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do
Brasil], Brasília.

BRASIL. Decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005. Brasília: Presidência da


República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível
em:http://www.presidencia.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE EDUCAÇÃO


ESPECIAL.2007

SOUZA, R. M de. Língua de sinais e escola: considerações a partir do texto de


regulamentação da língua brasileira de sinais. In: Revista ETD (Educação Temática
Digital). Vol. 7. Nº. 2, 2006, p. 263-278.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Ementário do Curso de


Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Espanhola. Disponível em:
http://portal.ufsm.br/ementario/disciplina.html?disciplina=63195. Acesso em maio
de 2014.

VEIGA-NETO, Alfredo(org). Crítica pós- estruturalista e educação. Porto


Alegre:Sulina, 1995.

Anexo2
1 – Você considera importante a disciplina de LIBRAS na estrutura curricular do seu
curso de formação? Por quê? O que isso possibilita?

2 - Após a formação, você teve oportunidade de utilizar seus conhecimentos da língua?

2
Perguntas realizadas pelas alunas

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3 – Caso você tenha um aluno surdo nesse momento, conseguiria comunicar-se com
ele? Em que nível? Básico, médio, fluentemente?

4 – Na sua disciplina, foram tratados aspectos teóricos referentes à Educação de Surdos?


(Currículo, avaliação, desenvolvimento linguístico, ILS, história, cultura, comunidade e
identidade surda, etc)

4.1 – Caso sim, como você hierarquiza os conhecimentos referentes ao ensino da


LIBRAS e os elementos teóricos? Atualmente, qual dos dois parece mais relevante para
a sua atuação profissional?

5 – O ensino da LIBRAS nos cursos de licenciatura tornou-se obrigatório a partir da


proposta de difusão da LIBRAS e de possibilitar que professores de escolas regulares
possam receber alunos surdos. A partir da sua experiência do aprendizado da LIBRAS,
você acha que a disciplina curricular de LIBRAS dá conta desta demanda?

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