Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LIBRAS
LUBI
CONHECIMENTO ALÉM DOS SINTA
e S
MARIA CRISTINA DA CUNHAPEREIRA
DANIEL CHO|
MARIA INÊS VIEIRA
PRISCILLA GASPAR
RICARDO NAKASATO
o E E
BN PA Ao LON ATA
| | |
JN
MARIA CRISTINA DA CUNHA PEREIRA
DANIEL CHOI
MARIA INÊS VIEIRA
PRISCILLA GASPAR
RICARDO NAKASATO
4º ptUTORI,ZA),a
E
ABRA
)
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS
h
à Mto l O pyreITO ns
EDITORA AFILIADA
O 2011 by Maria Cristina da CunhaPereira, Daniel Choi,
Maria Inês da S. Vieira, Priscilla Gaspar e Ricardo Nakasato
2011 mr e
4. ndice remissivo 1
Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à
Pearson Education do Brasil, uma empresa do grupo Pearson Education
1 Rua Nelson Francisco, 26, Limão 5 sa QE
CEP: 02712-100, São Paulo — SP + Er, UA hear, d
Fone: (11) 2178-8686 — Fax: (11) 2178-8688 ii k
“e-mail: vendasOpearson com geo nódoa vmb er
EA Gl Aiirh 41 MANR
| Prefácio
UC cos ouso sus as ue nto ssa aus usos esa cos sa toco ceara cao 0 O é
fatores que fundam essa identidade e que não são compreendi- ficuldades do ouvinte aprendiz. A meu ver, é mais do que uma
dos, de modo geral, inclusive pelos pais, em sua maioria ouvintes. listagem de exemplos: mostra-se como uma exposição de moti-
Neste capítulo, ressalto pontos-chave para o sucesso da integra- vos que introduzem possibilidades apresentadas no final do capí-
ção da pessoa surda e seu autorreconhecimento comoser psico- tulo. Não há uma elaboração de propostas, mas, com certeza, há
das comunidades Surdas. de ensino superior. Se ela [a proposta apresentada] puder ajudar
os professores a elaborarem suas propostas, já terá cumprido
Neste momento, vemos a aprendizagem da língua comofator professores. Seu público estende-se a todos os interessados pelo
de formação do próprio eu. No caso de Surdos, isso pode sig- tema surdez e sua identificação com o mundo: fonoaudiólogos,
nificar que a aprendizagem e o uso de Libras ajudam a consti- especialistas em surdez, pais, amigos e qualquer um quese inte-
tuir o sujeito Surdo cultural. resse pelo tema. Fico muito feliz por ter a oportunidade de ver
publicado este livro e sinto-me privilegiada por ter sido escolhida
Ao apresentar um cuidadoso relato sobre as línguas de sinais, para escrever este Prefácio. Parabéns a vocês, Cristina, Inês, Ri-
o Capítulo 3 contempla tanto o leitor conhecedor e especialista cardo, Daniel e Priscilla!
em surdez, como o leigo interessado em se beneficiar desse co- Sucesso mais do que merecido é o que desejo a este livro, sa-
nhecimento. À forma de exposição do temaé essencialmente di- bendo que meus votos já estão, de antemão, cumpridos.
dática,
As considerações feitas no Capítulo 4 trazem à tona as dificul- Eulalia Fernandes
Universidade do Estado do
dades encontradas no ensino-aprendizagem da língua de sinais,
Rio de Janeiro (UER]))
com parâmetros bem determinados em relação a umalíngua es-
wangeira, Destaco os exemplos apresentados, que mostram as di-
+
E: b Ej9% Br | g
E Fa
Es
professores e de fonoaudiologia. Algumas instituições já ofere-
cem disciplina e outras se preparam para fazê-lo, já que têmaté
e do 2015 paraisso. caiba ds
O Decreto estabelece a obrigatoriedade da disciplina,asi
ministrada preferencialmentepor professor surdo, mas não f
o"
LIBRAS APRESENTAÇÃO
referência a conteúdo ou carga horária. Cada instituição deve de- de graduação comporá, em muitos casos, a bagagem quelevarão
finir o conteúdo e a carga horária da disciplina emfunçãodos ob- para sua prática. Assim, sensibilizar os futuros professores e fono-
jetivos estabelecidos no curso. Para isso, há de se definir, então, audiólogos para as especificidades linguísticas desses alunos, pos-
'quais são esses objetivos. sibilitar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos
Qual é o objetivo da disciplina de Libras nos cursos de forma- alunos surdose acolher estes alunos interagindo com eles são al-
ção de professores e de fonoaudiologia? guns dos aspectos que consideramos fundamentais na disciplina
Responder a esta pergunta exige uma reflexão sobre nossa ex- de Libras.
pectativa em relação à contribuição que a disciplina pode trazer Sabe-se que o sucesso no aprendizado de uma língua depende
para a formação do professor e do fonoaudiólogo. fortemente da motivação. Assim, se os alunos estiverem motiva-
Sendo professores de Libras, surdos e ouvintes, defendemos dos, em pouco tempo terão condições de adquirir conhecimen-
que ela faça parte do currículo escolar desde a educação bási- to básico em Libras. Uma vez motivados, eles poderão ampliar
ca. Teríamos, assim, escolas bilíngues, com professores e alunos seu conhecimento da língua em cursos livres ou mesmo nainte-
usando a Libras nas salas de aula. Isso, no entanto, é o ideal. ração com interlocutores surdos, nas comunidades surdas. Lá vi-
O Decreto n. 5.626 torna a Libras disciplina obrigatória ape- venciarão o que aprenderam na teoria. Esta é a melhor forma de
nas nos cursos de graduação e, como não determina a carga horá- se aprender a Libras.
ria, ela é muito pequena na maioria das instituições. Compatível, A preocupação com possibilitar aos futuros professores e fo-
portanto, com duas outrês aulas semanais por um semestre, car- noaudiólogos uma base para o trabalho com alunos surdos além
ga horária adotada por grande parte dos cursos delicenciatura, o do aprendizado da Libras subsidiou a elaboração deste livro, cujo
que se pode esperar é que os futuros professores sejam capazes de objetivo é apresentar uma proposta para a disciplina nos cursos
estabelecer diálogos simples com os alunos surdos, conheçam os superiores, que não é a única possível, mas que procura contem-
aspectos gramaticais da Libras e seu papel na educação e na cons- plar aspectos considerados fundamentais pelos autores, professo-
tituição da cultura surda, que abandonem o paradigmasocial que res da línguabrasileira de sinais em instituição de ensino superior.
geralmente associa a surdez à incapacidade ou ao comprometi- Se ela puder ajudar os professores a elaborarem suas propostas já
mento intelectual e que percebam a especificidade linguística da terá cumprido seu objetivo.
pessoasurda, O Capítulo 1 apresenta uma perspectiva histórica sobre a sur-
Considerando-se que muitos dos futuros professores terão con- dez e sobre a educação de surdos no mundo e no Brasil. Nesta re-
tato com alunos surdos nas salas de aula comuns, incluídos com cuperação da história, são focalizados os primeiros estudos sobre
alunos ouvintes, o conhecimento que eles adquirirem nos cursos as línguas de sinais.
O Capítulo 2 aborda a importância da língua de sinais para a
constituição da identidade dos Surdos e de uma cultura que, por
ser eminentemente visual, apresenta várias diferenças em relação Agradecimentos
à cultura dos ouvintes. MEMO 0 coco sevosao nes ACAO DAGARAAC LOCADORA ALSO
prio
mma E que
“fesI2ATun 9 ejo onb à
SIBUIS ap enSuy euos aisixo onb ap ogssardtur e pp perasos ovô
-“BITUNUIOO PSSO Sspeuis ap ensuy e no epepey uoSenSure resn was
ojafgo tum no rossad tum WIDAMIsop o urezneweIp sepans seos
-sod se “epeypnzed enduy eum ey ogu onb wo sogdenas mo Ione
ouIsaur o opunsas "sexo senSuy] sojuszogrp wrepez onb sosuzano
seossad onb JoyIeorunuroo as ap soz
JessoJdxe as
-edeo OPS sajuaIoyIp sosyed op sopins
BJpdl 507596 so o odioo o Jesn :
WI ojsIsuoo euuojued y : “PÚWtuojued ap osn Op orou 107 “oyujano
aquefeia um onb opueasia raso anb sred
OU I9PUMNUS 1922 98 ID 9 JOPUSIVO UI Spepifoey sreuy uia) opins
oquefera um onb (0861) Z21MO%ITA EUIITE OUIOD “opepioa q
"SSjUSTaJIp SOAOd amuo ogórotunttoo + ajyursad anb o 1opuaide 2P
[OE Tessoatun 9 sreuis op engur e onb asuad as onb umuros q
"SOIQUISUI SNAS 2MU9 OpSLINUapI op ojoquirs
o “eping apeprunuroo e aun aonb vô1oy jedourid e H ““HPIp epra
eu “sopIns sop ejorew ejod epesn enSury e 9 sreuis op enSuy y
Pececceos ces 0 osasco pesa Dance OCA DDS DO secos
[Sopuns so eJed epuegoduu! ens
:sieuis ap senbui| sy
LIBRAS AS LÍNGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SURDOS
Embora, em certas situações, os Surdos recorram à pantomima | motivo, são denominadas línguas de modalidade gestual-visual
para se comunicar, e embora, também,a representação pantomí- | (ou visual-espacial), uma vez que a informação linguística é rece-
micaseja a fonte de muitos sinais, estudiososdas línguas desinais | bida pelos olhos e produzida no espaço, pelas mãos, pelo movi-
(Bellugi e Klima, 1979) enfatizam que, por meio de abreviação mento do corpo e pela expressão facial.
— movimentos condensados, simplificados —, o sinal se torna Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas
bem diferente da pantomima. orais, ambas seguem os mesmos princípios com relação ao fato
Cada país tem sua língua de sinais, como tem sua língua na de que têm um léxico,isto é, um conjunto de símbolos conven-
modalidade oral. As línguas de sinais são línguas naturais, ou cionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege
seja, nasceram “naturalmente” nas comunidades Surdas. Umavez o uso e a combinação desses símbolos em unidades maiores.
que não se pode falar em comunidade universal, tampouco está
Antes de aprofundar nossos estudos a respeito das línguas de
correto falar em língua universal.
sinais e de suas particularidades, vamos discutir um pouco o tra-
Outro aspecto a considerar é a relação estreita que existe entre
tamento dado ao surdo ao longo da história, as concepções de
língua e cultura. As línguas de sinais refletem a cultura dos dife-
surdez e a evolução das práticas educativas para esse grupo.
rentes países onde são usadas,e esse é mais um argumento contra
a ideia de uma línguadesinais universal.
Uma perspectiva histórica sobre a
Não existe uma língua natural universal. Existem línguas artifi-
surdez e a educação de surdos
ciais, criadas com um determinadofim, como,por exemplo,facili-
tar o processamento de dados de um computador. Ainda no grupo Uma retrospectiva histórica da educação de surdos permite
das línguas artificiais estão as línguas auxiliares internacionais, como constatar que, pelo prisma de misticismo da educação egípcia,
| meo e dk Ra
- O esperanto, criadas para facilitar a comunicação verbal entre in- pela filosofia grega, pela piedade cristá, pela necessidade de pre-
divíduos de línguas diversas, na esperança de contribuir para um servação e perpetuação da nobreza e do poder, pelo desejo de uni-
melhor relacionamento entre os povos.
duniaera ficação da língua pátria, pelos avanços da medicina, da ciência e
O gestuno é uma língua ar- Comocuriosidade, vale lembrara existên-
da tecnologia, ou pelos interesses políticos, diferentes concepções
tificial, criada com o objetivo cia do gestuno, criado para possibilitar
de possibilitar a comunica- de surdez e de sujeito surdo permearam a escolha das abordagens
a comunicação entre as pessoas surdas e,
qo entre as pessoas surdas usadas na educação do surdo.
muitas vezes, usado pelos Surdos em con-
de diferentes países.
ferências internacionais ou em viagens.
No Egito antigo, os surdos eram considerados pessoas espe-
As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais porque uti- cialmente escolhidas. Seusilêncio e seu comportamento peculiar q
lizam o canal visual-espacial em vez do sditivo, Por esse conferiame-lhes um ar de misticismo (Eriksson, 1998), ed
A
UISEpeZpIV|O9SS 198 P uIeressed sepins seSuerio sy"edosmy vp "sopans op ogóeonpo ep vLIoIsIy P “otIuo PSQUIOS "SOJ-VO | N
sosped soyuarogrp to sopins ered sejooso urIepuny “Is anus sop -npo ered odI1oyso UM EAIasgo as anb TAX Ojn5as op apxed t 4] "poa
-“PouoIsop “susto son opuenb TITAX ojnogs op [eum ou vô -Issodur eIooIed sopIns so Ieonpo ap erp E Biusostuay € dy
“sapeporidoid a sojmp reproy op sreSo] SON2Ip UIequ“sopnul 5
;
-9UIO9 SOpINS 9p ovdeonpa ep eLIoIsTy Ep oporsad opundas O
sopns esed sejooso — 099, e 0941 op :ese; epunbas ogu 9 “sopuns 9s uIeIo anb so “ope] onno 10d 'SOJUSUTEISAI JOADIOsO
usou sopeporidosd 193 “seumos Teproy ureIJopod ogu uIasseje otu
"opoj3ad asso a1qos àqes os oonod “uresesn anb sop anb sopinsso onb nouruIa3ap “eutopoui edoIng tu srega] seuuoasIs
-O)UI SO a1GOs Opalgas reprens urerxonb saxossagord so ouros sop EHOTeUI E pIrd aseq ? nooou1oy anb a TA ojnos ou “ouejumsn[
"STEUIS SO 9 Jenurur ojogey 1optJadurr Op Opturos OU Opepnursoy OUPIUASN[ 9p OsIpoo O
| -[e O “BILIOSS L “eres E UITALSN SIJOIMI SO “SS9IJUBUpOUIOS OoJmUI WEI “SIL OU OU sepedoye
SepIms SEÍUPLIO SEP OUTSUS OU SOprZzI[NN soporur s() “ornosa 10d UIaSSO] ONaJap UNS]e LIOS sedurepão anb wnuIoo vIo “UIIssy "sou
NO 9JUSUITLIO TESTUNUIOS aS E sOpIns so IEUIsUS op oAnalgo o uroo snas OP EPIA E DIgOS OMS] Ipod PIpuIey Ep tõoqro or opuoy
Sa103M3 SOprIENUOS UIPIS “OSSI eTeg “eIpruIey epod epefoued eso -UOo tIo (8661 UOSSYNY 2) BHOISIY E TIUOD OUIOS “JORIP 9
sepuns sedurrio sep otóronpo 2 TITAX 2 IAX sopnoos so omug -USUICUIIIXO PIS SOpINS sop EPpIA É “SOUTUIOI SO NU WoquieT
(9661 “Sa100) 09 “ToAIssodur
A ejoIe |
ao, |.
-SEPA, equi epd SOPIAJOAU9SIP sop o OTDU9TS op 9 t gos UICIA eum ordeonpo ens rAeuIo) onb o “ogzes op soprAoIdsap sopeIapIs |
“IA onb sounIpatag soguour sopad sopesn sreurs sop ov5un( eum -UOD UIPIS SOPINS SO “UISTIANO OBU IOq (9661 “S2I00]N pnde “pur] )
bIZEJ 9 SOBUI SENP SE UIOD [enueur ojqpype O eAeZInN afy “rduri -2(1) soufruu siop 10d eruUpIOuSI EU OPINS O ISJUPUI Sp opesnor
103 SIPIOISIIY eroUgSIaIUT é exed ayuri1odulr sreur [euro o otóIp.
-Bago nos “ejoyuedso ezorqou ep sopans op oursuo ou nosvIsap -ne e OprIopISUOD 19) 2 OLÍNNSUI OP OBBIQ O OUJOD OPIANO O Op
as anb saxoma sop um 107 (G8CI-OZSI) LOST ap ouog oIPaJ -PIP[P9P 199 J0q “sepepnone sessejed sep orou 10d OprquO? 128
"SOSOISI[2I NO SODTpour “juatupesas — sozoim10d eLIopod os oyuauesuad o onb urearIpore sOB218 SOJOSOTU SO)
/ 9WYUSUITENPIATPUI sepeujsuo wreio sepeasege serprurey sep sepins sed 'SOprUTUIISIXS UIPIS APeparDos E eIed osod un eh A
-UBIIO se “SOPINS SOP OtóroNpa Ep PIIQISIY EP asey tITouITId EN -J0j eum3pe op “uassoz anb sonprarpu! so sopo) “urissy "ozoIdsop |
0944 21º :asej esownd UIOD OJSIA 2SSOJ OIASAP O NO tINIoy E onb eIzey soga18 sop 09N2189
01508 O “OSSIP UI9]Y “[EIDUASSO PONISLIJOLIPO EPLISPISUOO EIS EINA
“sopims 9P ogôronpo tp ELIOISTY -21Q E “SOPEUITE SOJNUOD LD SEPIAJOAUO NO eIJonB wo JUotIur)
BU SasE SoM AJojol *0d9ns opins 1opesmbsad (9661) UOSsSy -SUOD TIDIEISO SOPÉPOIDOS SE 9Pp 03º] OJod PÊNUL PIDZIS)
J T . “o Í
PU P
Í
P s
BOGUIAS SO VaVd VIDNYLHOdIAL VANS ISIVNIS JA SYNDNHT SY sv
LIBRAS AS LÍNGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SURDOS
vez de individualmente, como antes. A educação formal tem, seuprogressonafala. Nasceu, assim, uma nova corrente na edu-
então, seu início com três diferentes princípios e propostas no cação de surdos, chamada “a escola alemã”.
que diz respeito à língua usada. Heinicke acreditava que era somente aprendendo a fala arti-
Na França, o abade Charles-Michel de LEpée, fundador da culada que a pessoa surda conseguiria uma posição na sociedade
primeira escola para surdos no mundo, privilegiava a Língua de ouvinte. Usava máquinas de fala para demonstrar a posição apro-
Sinais Francesa (LSF), que havia aprendido com os Surdos nas priada dos órgãos vocais para a articulação e associava a pronún-
ruas de Paris. Teve o mérito de reconhecê-la comolíngua, divul- cia de vários sons vocálicos com certos sabores.
| gá-la e valorizá-la, bem como mostrar que, mesmo sem falar, os O oralismo de Heinicke recusava à eee
, Sa : a O oralismo def cr
' surdos eram humanos. Outra grande contribuição de LEpée foi línguade sinais, a gesticulação ou o alfa- ende qua
comunicação com e pelos
'o fato de passar a educação do surdo de individual para coletiva, beto manual. surdos se dêA exclusivamente
'não maisprivilegiandoosaristocratas, mas estendendoa possibi- Como se pode observar, o abade de : pela fala, sendo ossinais e o
lidade de educação para surdos de todas as classes sociais (Moo- LEpée defendia o método visual, en- alfabeto manual proibidos.
| res, 1996). Os surdos educados por LEpée formaram-se e foram quanto Heinicke defendia o método iii
no! seus multiplicadores, fundando escolas para surdos pelo mundo,
o :]
É
I
y Ens a 3 no uso dos gestos, dossinais
inclusive no Brasil. polêmica em relação à melhorlíngua a 9
do alfabeto manual e da escri
Com DEpée, teve início o período conhecido como a “Epoca ser usada na educação de surdos. fama educação dos sul
| de ouro da educação de surdos”, de 1780 até 1880, quando os No século XIX, o oralismo foi domi-
|
/ surdos formados em seu Instituto de Surdos de Paris atingiram nandoas escolas para surdos, inclusive na: Ométodo oral :ousavaliadio
1 Ex 1
|
|
|
cargos que anteriormente eram ocupados apenas por ouvintes. França (Eriksson, 1998). Mesmo reco- : baseia-se no acessoà língua
|
Já as escolas fundadas por Thomas Braidwood, na Inglaterra, e nhecendo que, no método oral, os alunos : falada por meio da leitura la
! ] bial (ou leitura orofacial) e da
Samuel Heinicke, na Alemanha, privilegiavam a língua majori- surdos recebiam uma educação inferior, sd a
amplificação do som e na ex
| tária na modalidade oral. Braidwood usava a escrita e o alfabeto os defensores do oralismo acreditavam pressão por meio da fala.
| digital; ensinava seus alunos primeiro por meio daescrita, depois que, sendo a surdez medicamente incurá-
|
]
| articulando asletras do alfabeto e passava, posteriormente, para a vel, as pessoas surdas deveriam falar a fim de se tornarem normais.
V pronúncia de palavras inteiras. | A preferência pelo oralismofoi reconhecida no II Congresso In-
Samuel Heinicke acreditava que a única ferramenta a ser usada ternacional de Educação do Surdo, ocorrido em Milão, na Itália,
na educação de surdosdeveria ser a palavra falada. Argumentava em 1880, quando ficou decidido que a educação dossurdos deve-
que permitir aos estudantes surdos usara língua desinais inibiria ria se darexclusivamente pelo métodooral.
AS LÍNGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SURDOS
LIBRAS
/ Com aprovação do métodooral, os professores surdos foram uso da fala. Dependendo do canal que é priorizado na recepção
| o li md di
destituídos de seu papel de educadores e a língua de sinais foi da linguagem, denomina-se abordagem unissensorial, que utiliza
| proibida de ser usada pelos professores na educação e na comuni- apenas a audição residual e o treinamento de fala, não contem-
Á, plando o uso da visão, ou abordagem multissensorial, que, além
cação com seus alunos surdos.
Dr
de toda a Europa — o que, segundo Lane (1989), se explica pela por mais de cem anos trouxe como consequências baixo rendi- |
: do nacionalismo
confluência mal) :
vigente é
na época — e estendeu-se
, p
mento escolar e a impossibilidade de o surdo prosseg
prosseguir seus es- ||
por todo o mundo permanecendo por quase cem anos.
>
tudos em nível médio e superior. As expectativas de normalização | 1
De acordo com Marchesi (1991), durante o século XX, até os do surdo, por meio de treinamento de audição e fala, transformou
anos 1960, o método oral manteve uma posição dominante na o espaço escolar em terapêutico, descaracterizando a escola como |
, pe espaço
|
Europa e na América. paç de ensino, , troca e ampliação
pliação d de conheci
ecimento. : O ensino
ino |
Apesar da proibição da língua de sinais na educação, ela con- da fala tirava da escola para surdos um tempo precioso que deve- |
: ria ser ggasto com conhecimento de mundo e conteúdos escolares, É|
tinuava a ser usada por adultos Surdos e pelos estudantes das es ,
colas residenciais especiais. Criaram-se associações de Surdos, nas entre outros. Por outro lado,a falta da oralização restringia as pos- )
quais eram realizadasatividades diversas que serviam de ponto de sibilidades de integração dos surdos nas escolas de ouvintes.
Na década de 1960, os resultados insatisfatórios obtidos pelo
L . . , a .
melhor aproveitamento dos resíduos auditivos, e, com isso, mui- (ASL, do inglês American Sign Language) : A comunicação total defende
que os surdos tenham acesso
tos passaram a acreditar na “cura” da surdez, o que eliminaria de — desenvolvidas por Stokoe, que tinham
ca o, ) à linguagem oral por meio da
vez o uso desinais. Surgiram,então, dentro da abordagem oralis- como objetivo atribuir-lhe estatuto lin- leitura orofacial, da amplificar
ta, diferentes formas de trabalho que se baseavam na necessidade | Buístico (Moores, 1996) — levaram à : ção, dos sinais e doalfabeto
de oralizar o surdo, não permitindo o uso desinais. adoção de uma abordagem que contem- | manual e que se expressem
' à : pedro x por meio da fala, dossinais 0
ERRÇE -onhecidas
As abordagens orais, também conhecidas comcomo “métodos orais- sinais na educação de surdos, a
plasse osva dr
“aurals”, caracterizam-se pela ênfase na amplificação do som e no comunicação total.
LIBRAS AS LÍNGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SURDOS
Embora a comunicação total tenha sido concebida como filo- O bilinguismo, como abordagem de educação para surdos, |
sofia que encorajava o uso de todas as formas de comunicação, propõe que os alunos sejam expostos a duas línguas: a primeira, a
incluindo sinais da língua de sinais americana, pantomima, de- língua de sinais, e a segunda, a língua majoritária da comunida-|
senho e alfabeto digital, entre outras, na prática, ela se tornou de ouvinte, de preferência na modalidade escrita.
| , . x à :
| um método simultâneo que se caracterizava pelo uso concomi-
tante da fala e da sinalização na ordem sintática da língua da co- Pequeno histórico da educação dos surdos no Brasil
E ossadas red - munidade ouvinte (Lane, Hoffmeister e À primeira escola para surdos no Brasil foi fundada em 1857,
O bimodalismo refere-se à Bahan, 1996). Tratava-se do uso de uma no Rio de Janeiro, por D. Pedro II, que solicitou o encaminha-
exposição ou ao uso de uma
só língua produzida em duas modalida- mento de um professor surdo ao ministro da República France-
só língua, produzida em duas
modalidades: oral e gestual. des, o que Schlesinger (1978) chamou
sa. O professor recomendado foi E. Huet,? que havia sido aluno
de bimodalismo.
do Instituto Nacional de Paris e trouxe para o Brasil a língua de
Nadécada de 1980, os Surdos, na condição de minoria, pas-
sinais francesa (Lane, op. cit.).
| saram a exigir o reconhecimento da língua de sinais como válida
Inicialmente denominado Imperial Instituto de Surdos-Mudos,
e passível de ser usada na educação de crianças surdas, a reivin-
a escola para surdos no Rio de Janeiro recebeu, posteriormente, o
dicar o direito de ter reconhecida sua cultura e de transmitir essa
nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
* cultura às crianças surdas. Saíram de umasituação de passivida-
Segundo Ciccone (1996), surdos brasileiros de várias regiões
d | , | de, em que tinham suavida decidida pelos ouvintes, e iniciaram
do país, que para lá se dirigiam em busca de ensino, foram edu-
Y [um movimento que exigia respeito a seus direitos de cidadãos
cados por meio de linguagem estas do alfabeto digital e dossi-
(Lane, 1992).
nais. Assim, a língua desinais e o alfabeto digital utilizados por
O movimento de reconhecimento da cultura, comunidade e
identidade dos Surdos, além de afirmar Huet na educação do surdo passaram a ser usados e conhecidos
O bilinguismo refere-se ao a sua autenticidade por meio de traba- em todo o Brasil, uma vez que esses estudantes retornavam para
ensino de duas línguas para
lhos científicos, movimentos de protes- suas cidades de origem e os divulgavam. Nesse sentido, Huet é
os surdos: a primeira, a lín-
gua de sinais, dá o arcabou- to e ações culturais, conseguiu mobilizar considerado o introdutor da língua de sinais no Brasil: trouxe,
ço para o aprendizado da alguns responsáveis por sua educação inicialmente, a língua de sinais francesa, que se mesclou com a
segunda, a língua majoritária
para que esta fosse reformulada. A nova
— preferencialmente na mo-
dalidade escrita.
proposta de trabalho recebeu o nome de 2 Há controvérsias sobre o primeiro nome de Huet. Apenas à guisa de exemplo,
Rocha(1997) refere-se a Ernest, enquanto Moura (2000) usa Edward, e Vieira (2000),
bilinguismo. Edouard
LIBRAS AS LÍNGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SURDOS
língua de sinais utilizada pelos surdos brasileiros e acabou for- Bilinguismo na educação de Surdos
mando a Língua Brasileira de Sinais.
Às crianças surdas que têm pais surdos, usuários da língua de
Ao longo do tempo, como aconteceu com todas as escolas
sinais, geralmente a aprendem na interação com eles de forma se-
para surdos no mundo, as abordagens adotadas na educação de
melhante e na mesma época em queas crianças ouvintes adqui-
surdos foram acompanhando as tendências mundiais. Assim,
rem a língua majoritária. Além da língua de sinais, as crianças
por influência do Congresso de Milão, o Instituto Nacional de
surdas filhas de pais surdos adquirem com a família aspectos da
Educação de Surdos adotou o oralismo, depois a comunicação
cultura Surda e identificam-se com a comunidade de Surdos.
total, e, hoje, tem uma proposta de educação bilíngue para os
/ Quando chegam à escola, essas crianças já contam com uma
alunos surdos.
uz
/
A aquisição da língua de sinais pelas crianças surdas filhas de tiveram como objetivo mostrar queos sinais poderiam ser vistos
[/
[
pais ouvintes só poderá ocorrer na interação com adultos Surdos como mais do que gestos holísticos aos quais faltava uma estru-
1
| queas insiram no funcionamentolinguístico da língua de sinais tura interna (Stokoe, 1960). Ao contrário do que se poderia pen-
|
por meio de atividades discursivas que envolvam seu uso, como sar à primeira vista, eles poderiam ser descritos em termos de um
| diálogos e relatos de histórias; isto é, em atividades semelhan- conjunto limitado de elementos formacionais que se combina-
/
/
/
tes às vivenciadas por crianças ouvintes ou surdas filhas de pais vam para formar ossinais.
A
culturais. Uma vez que não existe comunidade nem cultu- convencionalizada, e não motivada pela semelhança entre o /
[
ra universais, não é correto dizer que as línguas de sinais são objeto e a palavra usada para se referir a ele. -
universais. Apesar da relação icônica que grande parte dossinais tem
com seu referente, as modificações que sofrem ao longo do
e Mito 2 — A realidade deve basear-se na palavra
tempo e na combinação com outrossinais resultam em perda
Aslínguas de sinais foram muito criticadas por serem
da iconicidade, o que os torna arbitrários.
“conceituais” em vez de “baseadas na palavra”. Markowicz
alerta para o fato de que a principal função daslínguas de si- * Mito 5 — As línguas de sinais só expressam conceitos
As línguas de sinais, em geral, não apresentam preposições, fle- do-se aparelho de amplificação sonora individual ou fazendo-se
xões e artigos, e poucas são as conjunções. No entanto, por meio implante coclear e procedendo-se a treinamento auditivo intensi-
do uso do espaço, é possível expressar as mesmas relações comu- vo. O aproveitamento dos restos auditivos conduziria a umafala
mente expressas por meio das preposições nas línguasorais. Dessa melhore afastaria o surdo do grupo dosdeficientes (Skliar, 1997).
forma, pode-se afirmar queas línguas de sinais não são empobre- ; Todo um investimento é feito para diminuir o déficit auditivo.
cidas em relação às línguas orais, mas sim que elas expressam com Nessa concepção de surdez, a linguagem oral é vista como im-
outros recursos as mesmas ideias. Como qualquerlíngua natural, prescindível para o desenvolvimento cognitivo, social, afetivo-
as línguas de sinais não têm limite para expressar quaisquer con- -emocional e linguístico do surdo. A educação converte-se em
ceitos, assim como apresentam formas diferentes de expressão. terapêutica (reparadora e corretiva), e o objetivo do currículo es-
Osaspectos daslínguas desinais serão mais explorados no Capí- colar passa a ser dar ao sujeito o que lhe falta — a audição — e
tulo 3, em que a Libras será abordada mais detalhadamente. sua consequência mais visível — a fala.
Durante quase cem anosas línguas de sinais foram proibidas Além disso, observa-se, como aponta Skliar (1997), um círcu-
nasescolas para surdos, sendo usadas de forma escondida nasas- lo vicioso: o educador parte da ideia de que seus alunos possuem
sociações e em pontos de encontro dos Surdos. Nos últimos anos, um limite natural em seu processo de conhecimento — o queo
no entanto, com a mudança na concepção de surdez, e comore- leva a planejar o ensino de maneira aquém da capacidade do alu-
sultado das lutas dos Surdos, elas vêm assumindo um papel im- no —, obtém resultados que estão de acordo com essa percepção
portante em todosos espaços, o que tem resultado em ampliação e atribui o fracasso ao aluno. Já o aluno elabora uma identidade
significativa de seu vocabulário. deficitária em relação aos ouvintes, o que contribui para os bai-
xos resultados de seu desenvolvimento global. Uma vez que es-
Concepções de surdez e de surdos ses alunos são concebidos comodeficientes, não há investimento
por parte dos profissionais e nem mesmo da família; como resul-
Constatam-se, ao longo da história da educação de surdos,
tado, a maior parte dos alunossurdos sai da escola sem ter apren-
duas concepções de surdez que respondem por diferentes pontos
dido quase nada.
de vista em relação ao sujeito surdo: a concepção clínico-patoló-
gica e a socioantropatológica.
Concepção socioantropológica
A surdez não é concebida como uma deficiência que impõe |
Concepção clínico-patológica
inúmeras restrições ao aluno, mas como umadiferença na forma
| “A surdez é vista como patologia, como deficiência, e o surdo,
como o indivíduo terá acesso às informações do mundo, Nesta
| como deficiente. Sendo uma patologia, devesertratada, colocan-
LIBRAS
enfatiza-se o seu caráter instrumental. De fato, não existe uma prejudica a constituição de conhecimento de mundo e de lín-
identidade exclusiva e única, como a identidade Surda. Ela é cons- gua, disponível comumente às crianças ouvintes antes da escola-
truída por papéis sociais diferentes (pode-se ser surdo, rico, hete- rização (São Paulo, 2007, p. 8). Comoresultado, embora possam
rossexual, branco, professor, pai etc.) e também pela língua que contar com uma linguagem constituída na interação com os fa-
constrói a subjetividade. miliares ouvintes, as crianças surdas de pais ouvintes dificilmen-
A identidade é construída sempre em relação ao grupo a quese te chegam à escola com umalíngua desenvolvida, seja a de sinais,
pertence em oposição a outro, com o qual se estabelece uma re- seja a majoritária — a língua portuguesa, no caso dos surdos bra-
lação de caráter negativo. A identidade é, assim, constituída por sileiros. Se as crianças surdas filhas de pais ouvintes forem para
diferentes papéis sociais que assumimos e que, vale salientar, não uma escola para Surdos, poderão adquirir a língua de sinais na
são homogêneos. Podem serreligiosos (católicos, evangélicosetc.), interação com adultos Surdos que, ao usar e interpretar os movi-
políticos (de direita, de esquerda, socialistas, sociais democratas mentos e enunciados das crianças surdas, as insiram no funcio-
etc.), funcionais (metalúrgicos, vendedores, médicosetc.), estéticos namento linguístico-discursivo dessa língua (Pereira e Nakasato,
(clubbers, punks, hippies etc.), de gênero (homens, mulheres), e as- 2002). A língua de sinais tem as mesmas funções que a língua
sim por diante. Veremos, ao longo deste capítulo, aspectos relacio- portuguesa falada desempenha para os ouvintes.
nados à identidade, à cultura e a algumas conquistas dos Surdos. Muitas famílias ouvintes que têm filhos surdos, no entanto,
não aceitam que eles frequentem uma escola para Surdos, e, as-
A interação do Surdo com o mundo sim,as crianças crescem sem contato com pessoas Surdas.
Strobel (2008) destaca a importância de trazer as crianças sur-
A maior parte das crianças surdas nasce em famílias ouvintes,
das para o contato com Surdos adultos com o intuito de comparti-
que desconhecem a língua de sinais, têm dificuldade de aceitá-la
lhar o sentimento identificatório cultural. Isso evita a constituição
e, por consequência, de usá-la com seus filhos. Nassuas intera-
ções familiares, as famílias privilegiam a linguagem oral, inacessí-
de um “olhar” limitado, futuras angústias e ansiedades. Laborit
(1994, p. 49), autora surda francesa, ao relatar seu primeiro en-
vel aos filhos surdos, o queresulta na exclusão deles das conversas,
e, finalmente, no seu isolamento nafamília.
contro com um adulto Surdo, usuário da língua de sinais fran-
cesa, lembra:
Por não terem acesso à linguagem oralusada pelas famílias e
pelo fato de as famílias não usarem língua de sinais, as crian-
[rs] compreendi imediatamente que não estava sozinha no
ças surdas filhas de pais ouvintes são privadas das conversas, as-
sim como, muitas vezes, de atividades prazerosas, como contação mundo, Uma revelação imprevista. Um deslumbramento, Eu,
de histórias, por exemplo. A não participação em tais atividades que me acreditava única e destinada a morrer criança, como
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
costumam imaginar que aconteceria às crianças surdas, acaba- dar ao mesmo tempo em que escrevem a mensagem no celular, dife-
va de descobrir que existia um futuro possível, já que Alfredo rentemente dos ouvintes. Os ouvintes se esquecem de colocar avisos
era adulto e surdo! visuais, como o número da fila no médico ou no banco, por exem-
plo, para que os Surdos possam visualizar o número que está sendo
E continua: chamadoe se apresentar quando chegar sua vez de ser atendido.
Perlin e Miranda, autores Surdos, citados por Karin Strobel
Essa lógica cruel permanece enquanto as crianças surdas não se (2008, p. 39), explicam a experiência visual como sendo
encontram com um adulto. Elas têm necessidade dessa identi-
ficação com os adultos, uma necessidade crucial.
[...] a utilização da visão, (em substituição total à audição),
como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a
Na interação com adultos Surdos, as crianças terão oportu-
cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo di-
nidade não só de aprender a língua de sinais, como também de
ferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar
construir umaidentidade Surda por meio do acesso à cultura das
nas artes, no conhecimento científico e acadêmico.
comunidades Surdas.
Diferentemente das crianças surdas que têm contato com adul-
Quadros (2006), ao discutir as políticas linguísticas, destaca
tos Surdos desde pequenas, é comum queo contato com a língua
que os valores políticos marcam a educação de surdos e que, no
e com a cultura Surda aconteça com muitos Surdos quando já es-
Brasil, ainda se acredita que haja uma única língua. Salienta que
tão adultos, ou seja, com muitoatraso, o que compromete não só
“os surdos brasileiros resistiram à tirania do poder que tentou si-
a aquisição da língua desinais, comoa constituição de umaiden-
tidade Surda. Quando convivem na comunidade Surda, os Sur- lenciar as mãos dos surdos, mas que, felizmente, fracassou nesse
dos se sentem mais motivadosa valorizar a condição cultural de empreendimento autoritário”. Continua com a defesa do uso da
ser Surdo, ficam mais orgulhosos e autoconfiantes, estabelecem línguadesinais: “A línguadesinais brasileira é visual-espacial, re-
relações interculturais, entendem as diferenças dos outros mun- presentando porsi só as possibilidades que traduzem as experiên-
dos e das culturas, veem-se como sujeitos “diferentes” e não acei- cias surdas, ou seja, as experiências visuais”. A autora deixa clara
tam ser chamados de “deficientes”. a importância dessa língua para os Surdos em todos ossentidos,
As pessoas Surdas percebem o mundo de maneira diferente dos derrubando a ideia de que se trata de umalíngualimitada e des-
ouvintes. Utilizam a visão, enquanto os ouvintes utilizam a audição, tacando o quantoa língua contribuipara a formação da identidade
Comoexemplo, Strobel (2008) refere que os Surdos conseguem an- Surda, Para ela, “existe umarelação de poderinstituída entre as
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
línguas que reforça a dicotomia língua desinais e língua portu- Ão se referirem à língua como ferramenta de poder, Cecílio e
guesa”, destacando que, para os Surdos, a língua desinais é vista Souza (2009) afirmam que existe um peso ideológico portrás do
como o primeiro elemento, ou seja, o mais importante. uso de umalíngua como forma de comunicação. Esse peso, hoje
Martins (2004, p. 204-205) afirma que: “Sem língua não exis- dado ao português, foi historicamente construído, visto que esta
tem nem os surdos nem o modo de ser, cultural, surdo. Existiriam nãoera a língua de comunicação do Brasil Colônia (como muitos
pensam). Assim como o português foi sendo imposto como domí-
apenas deficientes auditivos” E segue com uma boa afirmação
nio e acabou por dar identidade ao povo brasileiro, a Libras hoje é
em defesa da língua: “[...] não é simplesmente o nível de audição
umalíngua que precisa ser construída diariamente por seus usuá-
que vai definir quem é surdo ou deficiente auditivo” (op. cit.).
rios, que enfrentam difícil tarefa de dar visibilidade e importância
Atualmente, no Brasil, muitos Surdos se apropriam da própria
a ela. Mesmo sabendo que é usada pela grande maioria dos sujeitos
língua e fazem um movimento intenso para garantir seus direitos
Surdos no Brasil, essa língua ainda enfrenta barreiras para ser aceita
de acesso a ela. Os próprios Surdos tomam frente dos movimen- pela sociedade ouvinte, pois dar visibilidade a ela é dar significado a
tos para o seu reconhecimento legal. Eles reivindicam a presença tudo queela representa, o que, em termos de poder, discurso e ideo-
de intérpretes de língua de sinais em diferentes espaços, incluindo logia, não é bem aceito por muitos ouvintes em nossa sociedade.
os espaços de negociação com os ouvintes para pensarem e defini- De acordo com essa perspectiva, conhecimento é poder: domi-
rem aspectos relacionados com sua própria vida (Quadros, 2006). nare utilizar umalíngua é ter acesso a esse poder. O queparte do
Além da defesa da Libras, busca-se relacionar a língua com po- mundo ouvinte tenta fazer é limitar esse acesso ao mundo Surdo
der e conhecimento. Ladd (2003) recolocaas prioridades em rela- por preconceito, falta de informações ou domínio do considera-
ção aos estudos das línguas de sinais a partir da perspectiva Surda. do diferente. A línguae a linguagem são elementos fundamentais
nos discursos, na ideologia, na sociedade e na formação de uma
Os Surdos querem entender suas origens, buscar explicações de
identidade,seja ela coletiva ou individualizada.
comosua língua se constituiu. Como afirma Ladd (2003,p. 14),
Conformeafirma Hall (1997, p. 261) em seu texto O espeidcu-
lo do outro, referindo-se a Gramsci e Foucault:
[...] se entendemos que um povo se torna descolonializado
quando estabelece seus próprios interesses e planeja seu pró-
O poder envolve conhecimento,representação, ideias, liderança
prio futuro, precisamos nos perguntar quais são as priorida- e autoridade cultural, bem como constrangimento econômico e
des que estamos apresentando para as nossas investigações. Os coerçãofísica. Eles teriam concordado que o poder não pode ser
Surdos querem saber sobre a própria língua para desvendar sua capturado pelo pensar exclusivamente em termos deforça e coer-
constituição no passado e no presente. ção: o poder seduz,solicita, induz, conquista o consenso,
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
Pode-se entender, então, que ter poder tem a ver com tervisibili- ficar que a aprendizagem e o uso de Libras ajudam a constituir o |
dade, obter, mesmo que nãode formatotalitária, o consenso de um sujeito Surdo cultural.
discurso. Representar aquilo que se quer, da forma como se deseja Na história, constata-se que os Surdos sofreram perseguições
apresentar: esse parece ser um dos “nós” quandoserelaciona poder pelas pessoas ouvintes, que não aceitavam as diferenças e exigiam
e representação. Ainda que o podercircule e possa ser encontrado uma cultura única por meio do modelo
em todaparte, a forma comoas relações sociais são envolvidas por ouvintista ou ouvintismo. São muitas O ouvintismo é um termo
usado por Skliar (1998, p. 15)
ele se reflete em comoas pessoas atuam em suas comunidades, ora as lutas e histórias nas comunidades Sur-
para se referir a um conjunto
representadas como dominantes, ora como dominadas. das, em que o povo Surdo se une contra de representaçõesdos cui
/” Essas relações de poder são determinantes para se compreender as práticas dos ouvintes que não respei- tes, a partir do qual o surdo
| . x és g
está obrigado a olhar-se e nar-
| melhor comoa educação,as relações sociais, o trabalho, o uso de tam a cultura Surda (Strobel, 2008).
]| : rar-se comose fosse ouvinte,
/ umalíngua, as relações afetivas etc. estão em constante disputa, Ainda hoje, muitos ouvintes tentam
/
|| tensão e negociações. E tanto o Surdo como o ouvinte se encon- diminuir os Surdos para que vivam isolados e tendo de assumir a
| g . , .. : ps j e a
tram engrenados nesse sistema e nesse jogo de representativida- cultura ouvinte, como seesta fosse uma cultura única; ser “nor-
| de. Por isso, a disputa pelo poder envolve tanto a formação de mal? para a sociedade significa ouvir e falar oralmente. Os ou-
discursos coesos quanto a tentativa de usar a língua como instru- vintes não prestam atenção aos Surdos que se comunicam por
| mentos para alcançá-lo. meio da Libras. Consequentemente, não acreditam que os Sur-
Quando se analisa o sujeito cultural Surdo, é preciso discutir a dos sejam capazes de estudar em faculdade ou realizar mestradoe
importância da língua como marcador de uma cultura. De acor- doutorado, por exemplo. “Os sujeitos ouvintes veem ossujeitos
do com Lacan,citado por Hall (2006,p. 37), surdos com curiosidade e, às vezes, z2mbam poreles serem dife-
rentes” (Strobel, 2008, p. 22).
A formação do eu no “olhar do Outro [...] inicia a relação da A luta dos Surdos tem conduzido a várias vitórias, como o re-
criança com os sistemas simbólicos fora dela mesmae é, as- conhecimento da Libras, o direito a tradutores e intérpretes da
sim, o momento da sua entrada nos vários sistemas de re- língua brasileira de sinais-língua portuguesa e a uma educação
presentação simbólica — incluindo a língua, a cultura e a bilíngue para as crianças Surdas, que contemple a Libras e o portu-
diferença sexual. guês, este na modalidadeescrita, entre muitas outras conquistas.
Outra conquista dos Surdos foi a de comemoração do “Dia do
| “Neste momento, vemos a aprendizagem dalíngua comofator E Surdo”, que, no Brasil, é o dia 26 de setembro, dia da fundação da
||| de formação do próprio eu. No caso de Surdos, isso pode signi- primeira escola para surdos no Brasil, Trata-se do atual Instituto
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEI ROS
Nacional de Educação dos Surdos (INES), fundado no Rio deJa- símbolo da identidade social, é um meio de interação social e é
neiro no dia 26 de setembro de 1857. um depositário de conhecimento cultural. esa
7 Os Surdos constituem uma comunidadelinguística minoritá- os Surdos, em parte por causa da luta para encontrar sua identi-
/ ã .
en ços “dos Surdos” são associações e clubes de Surdos onde desen- Meio de interação social
x
W
| volvem suasprópriasatividades. Constituem refúgios naturais da Esta é uma das razões, segundo Lane, Hoffmeister e Bahan
lingua de sinais e da identidade Surda (Strobel, 2008, p. 45).
Diante da comunidade majoritariamente ouvinte, as comuni- de. Os autores ressaltam que falta à maior parte das crianças sur-
das um meio efetivo de interação social até que elas encontrem a
dades Surdas apresentam suas próprias condutas linguísticas e seus
língua desinais. Esse encontro não só fornece a base paraa iden-
valores culturais. A comunidade Surda tem uma atitude diferen-
tificação com os membros da cultura, transformando um indi-
te diante do déficit auditivo, já que não leva em conta o grau de
víduo rejeitado em um membro participante de uma sociedade,
perda auditiva de seus membros. Pertencer à comunidade Sur-
como também possibilita a comunicação completa e fácil.
da podeser definido pelo domínio dalíngua desinais e pelos sen-
O conhecimento de vida e de mundo de muitas pessoas Sur-
timentos de identidade grupal, fatores que consideram a surdez
das foi-lhes passado por outros Surdos. Comoadesinais | y
como umadiferença, e não como uma deficiência.
é o princi io
interação social para maioria das pessoas é
* Como ocorre com qualquer outra cultura, os membros das co-
surdas, é por costumamacessoaoconhecimento de |
2
| :
A língua de sinais, uma língua visual-espacial com gramática surdos comofilhos ouvintes crescemem umambientenoquala | j
própria, é uma das maiores produções culturais dos Surdos (Per- língua de sinais é a língua dafamília. Os pais surdos conversam
t . . z 4 MM: x .
ma
lin, 2006). Lane, Hoffmeister e Bahan (1996) referem que a lín- com seus filhos em língua de sinais, usam estratégias visuais para 7
; |
gua de sinais tem basicamente três papéis para os Surdos: ela é | chamar a atenção de seus filhos desde o nascimento e convivem
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS — LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
LIBRAS
Hall (apud Wilcox e Wilcox, 2005) identifica diversas caracte- compreender o que está acontecendo. Nesse sentido,as pes-
soas sempre procuram confirmar se todos estão entendendo.
rísticas do comportamento comunicativo das pessoas Surdas du-
rante suas interações: Compartilhar informação
e Início de conversa Talvez pelo fato de a informaçãoser tão difícil de ser con-
seguida por um Surdo em um mundo ouvinte, este é um
Parainiciar uma conversa, é preciso chamara atenção do
item altamente valorizado pela cultura Surda.
interlocutor. É comum o uso do toque; não há restrições
ao contato físico. Quando a Pesa está distante, são usa- e Virar as costas
O contato visual é essencial para a interação, para o com-
a mão ou o braço dentro deseucampovisual. Pisar fonçê partilhamento de informações, e por isso é muito valorizado
ata nochão ou apagar e acender a luz também são for- pelos Surdos. Em suas interações com os ouvintes, frequen-
bas de começar uma comunicação, porém, dependendo do temente, estes não se mostram capazes de manter o contato
lugar e dasituação, não é aconselhável, uma vez que distrai- visual apropriado, distraem-se visual ou auditivamente,tal-
rá as outras pessoas. vez por nãoser confortável para a maioria dos ouvintes a ma-
Í
O toque como forma de chamara atenção de uma pessoa nutenção do contato visual por longo período. A menosque|
surda que está próxima é também ressaltado por Strnadová esteja acostumada com esses estranhos hábitos dos ouvintes,
a pessoa Surda pode sentir-se ignorada ou achar que o ou-
(2000). Segundo a autora, pode-setocarlevementeoseuan-
vinte não está interessado em continuar a conversa. Virar as
tebraçoouoobraço. Nãoé recomendado tocaroutrapartedo
costas é um insulto. Quando é necessário desviar o olhar ou
corpo que:nãosejaobraço ouo antebraço e nuncasedeve
virar as costas, deve-se informar o interlocutor sobre o que
tocar a cabeça. Como as pessoas surdas não ouvem os passos
acontecerá e por quê.
sabemquealguém estáse aproximandopara
atrás desi, não
e Despedida
rr
tido os
um Biasusto. Pode-se tocar a coxa Tanto a chegada quanto a partida, na cultura Surda, é
tores estiverem sentados, sempre feita de modo formal e demorado. Ao se despedir, os
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
LIBRAS
interlocutores explicam aonde vão e o que farão. Combinam Strnadová, autora surda tcheca, afirma que os Surdos não con-
o próximo encontro e repetem data e horário diversas vezes. sideram a surdez a maior infelicidade do mundo, principalmente
Pimenta e Quadros (2007) comentam que a despedida quando os problemas de comunicação e a possibilidade de viver
longa reflete o desejo dos Surdos de continuarem juntos, de umavida independente e plena são resolvidos. Eles se orgulham
continuarem a conversa em língua desinais, de continuarem de conseguir aceitara surdez, possuir uma língua e umacultura
a troca. Além disso, eles precisam deixar as coisas bem orga- próprias. Formam seu próprio mundo e consideram-se uma mi-
nizadas e combinadas, já que os meios de comunicação nun- noria
ctsaççãE
linguística e cultural em umasociedade majoritária de ou-
ca os favoreceram. vintes. Nessa comunidade, podem comunicar-se sem problemas )
N Y/
(Abandonar os locais rapidamente pode ser mal interpre- e organizam suas competições esportivas e culturais, inclusive de Y
“L
/
/ tado, bem comoretirar-se silenciosamente de uma conver- âmbito internacional. Não têm vergonha da surdez. Não evitam
] sa com Surdos, pois eles acharão que a pessoa fugiu porestar contato com os ouvintes, apesar de esse contato ser cansativo por
mas falar e pensar como ouvinte é depreciado, assim como os participantes aproximam-se mais, e os sinais são menores.
movimentos da boca enquanto se sinaliza (a menos que esses mo- Pimenta e Quadros (2007) chamam atenção para o fato de
vimentos sejam requeridos pelos sinais). que as pessoas Surdas, quando estão em grupo, podem conver-
A informalidade é valorizada, assim como a percepção visual e sar entre si entrecruzando as conversas sem que estas interfiram
a língua visual dos Surdos. umas nas outras, diferentemente dos ouvintes, Isso só é possível
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
LIBRAS
enfatizam que a conversa direta não é rude, mas partidas repenti- º O que a pessoa gosta de fazer, como beber, comer, passear,
nas, conversas particulares e quebra de contato visual são. jogarfutebol, nadar, andar de skate e tocar uminstrumen-
É costume das comunidades Surdasa atribuição desinal pessoal to. Para esse tipo desinal ser atribuído, também é necessário
para seus novos membros. Crianças surdas de famílias ouvintes “um contato maisíntimo com a pessoa ou ela, ao ser apresen-
frequentemente chegam à escola para Surdos sem um sinal pessoal tada, informar ao seu interlocutor.
ce quando uma pessoa surda ou ouvinte passa a ter contato com mo que o sinal da pessoa faça referência aocortede cabelo ou aos
pessoas Surdas. óculos que ela não usa mais, por exemplo. Ou seja, se uma pes-
O sinal pessoal podeser atribuído tendo como referência: soa recebe um sinal e suacaracterística pessoal muda,o sinalper-
manece o mesmo.
É necessáriolembrar que,atualmente, ossinais nãosão atribuí-
bochechas, sobrancelhas, lábios, marcas de nascença (pinta),
dos com letrainicial do nome da pessoa em alfabeto digital.
tatuagem, orelhas, nariz, pernas, mãos, pés etc. Não é consi-
Esse tipo de escolha deveu-se à influência da língua majoritá-
deradofalta de educação receber ou dar um sinal pessoal que
ria oral na abordagem bimodal de educação de surdos, quando o
marque, por exemplo, orelha ou nariz grande.
professor ministrava aula usando o português acompanhado de
e Uso constante de objetos: colares, brincos, broches, pier- sinais, em uma época em que não se reconhecia a Libras como
cings, fivelas, microfone, óculos, cinto, mala, bolsa etc. Um uma língua — e nem mesmoa cultura Surda.
exemploé o sinal deSilvio Santos, queé a referência ao gran-
de microfone queele usa. Grupos e pontos de encontro
e Comportamento constante, como mexer no cabelo de deter- Os Surdos estão espalhados por toda a cidade, mas encontram
minada forma, colocar a mãonorosto, apoiar a cabeça na mão formascriativas de se encontrar. Uma delas é o ponto de encontro.
ou no dedo, cruzar as pernas, as mãos, coçar a cabeça, rubori- Em várias cidades brasileiras, os Surdos têm pelo menos um pon-
zar, sorrir, e assim por diante. Para que o Surdo possa atribuir to de encontro. Esses pontos de encontro se espalham pelo país, e
sinal pessoal com essa referência, necessita de maior contato os Surdos sabem que eles existem em cada cidade grande. Assim,
com a pessoa. Pode-secitar o sinal de Jô Soares, quese refere tornam-se referências para os Surdos da cidade e de fora dela para
ao beijo que ele costumeiramente manda aos telespectadores, se encontrarem e conversarem sobre os mais diferentes assuntos,
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
LIBRAS
Na cidade de São Paulo, alguns shopping centers são pontos de Informação cultural
encontro dos Surdos. O conhecimento cultural específico da comunidade Surda
Os pontos de encontro fazem parte das estratégias que os Sur- inclui não só os valores e os costumes, mas também ainforma-
dos criaram para manter uma grande rede de contatos. Atualmen- ção cultural.
te, muitos Surdos brasileiros usam o celular e a Internet, mas, há O conhecimento específico do mundo Surdo inclui vários as-
I
]
* pouco tempo, essa realidade era diferente. Os Surdos consegui- suntos, como notícias do mundo, acontecimentos importantes,
| tam manter suastradições, sua línguae suas histórias por meio matérias de jornal, nomes de líderes Surdos, figuras da história dos
Wi) . po. 5
|,/ | desse tipo de estratégia. Os pontos de encontro foram e são ain-
k
Surdos, a forma de usar o serviço de telefone — atualmente,fa-
| da espaçosde lazer e de cultura. la-se também sobre o Sistema de Intermediação Surdo-Ouvinte
” AsassociaçõesdeSurdostambém sãolugares ondeeles-se en- (Siso), e sobre o celular—, a campainhavisual,telefonelumino- |
s, contram para bater papo,desenvolverrelações políticas e sociaise so €o relógio vibratório, e a formadelidar com pessoas ouvintes.
X realizar atividades esportivas e de lazer. Elas estão espalhadas pelo Por exemplo, quando seu carro é parado por um policial, não se
Brasil e resultam dointeresse dos Surdos de criar um espaço de en- explique com movimentos rápidos e nunca abaixe as mãos; elas
contro assim como os pontos de encontro, mas de forma mais or- devem ser mantidas levantadas. Em lugar público, se o Surdo
ganizada e institucionalizada (Pimenta e Quadros, 2007, 2009). precisa dirigir-se a uma pessoa ouvinte ou perguntar algo a ela,
Asassociações de Surdos são lideradas pelos próprios Surdos, deve primeiro entrar no campovisual dela; caso não tenha como
podendo haver até mesmo restrições quanto à entrada de ouvin- fazê-lo, como em uma fila, pode tocá-la levemente, avisando de
tes na diretoria. Isso acontece para se preservarem os interesses imediato que é surdo (apontando o ouvido).
dos Surdos, uma vez que, durante anos, eles foram reprimidos Informação partilhada é altamente valorizada no mundo Sur-
pela sociedade em geral, principalmente na educação. do. É costume das pessoas Surdas passar a informação adiante.
Os aniversários das associações de Surdos são muito impor- Segredo é considerado rude, e as conversas são normalmente bas-
tantes, pois constituem a história da comunidade Surda de tante visíveis. Conversas particulares devem ser feitas em lugares
determinado local. Assim, essa data é amplamente festejada com a privados. Nas conversas com amigos, os Surdos frequentemente
de sinais têm papel importante na transmissão da cultura e da À literatura Surda também envolve as piadas Surdas, que ex
história de geração a geração de pessoas Surdas. ploram a expressão facial e corporal, o domínio da língua desi- |
A literatura popular Surda americana possui história longa e nais e a maneira de contar piada naturalmente. Na maioria das | >
rica. Grande parte dela tem sido gravada em vídeo ou DVD. Es- vezes, as piadas envolvem a temática das situações engraçadasso-
ses trabalhos devem ser reconhecidos, pois oferecem exemplos do bre a incompreensãodas comunidades ouvintes acercadacultu-
uso literário da língua de sinais e podem servir como testemu- ra Surda e vice-versa (Strobel, 2008).
nho eloquente da identidade Surda e de perspectivas individuais
e culturais da pessoa Surda.
Pimentae Quadros (2007) referem que as histórias, as brinca-
deiras e as piadas geralmente tratam de temáticas que envolvem
| a
Assim como a americana, a literatura Surda brasileira traduz a língua de sinais, o uso das mãos e do corpoe expressões visuais. |
a memória das vivências Surdas ao longo das várias gerações dos Algumaspiadas satirizam as relações sociais entre surdos e ouvin-
Surdos. Ela se multiplica em diferentes gêneros: poesia, histórias tes, entre os surdos e os intérpretes de língua de sinais e a condi-
de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, contos, ro-
ção de ser Surdo.
mances, lendas e outras manifestações culturais. Refere-se às vá-
Às brincadeiras são feitas no espaço de lazer com diferentes ati-
rias experiências pessoais do povo Surdo. Muitas vezes, expõe as
vidades envolvendo língua de sinais, o uso da visão e do corpo.
dificuldades e/ou vitórias sobre as opressões dos ouvintes e como
Lane, Hoffmeister e Bahan (1996) afirmam que as regras da
os Surdos se saem em diversas situações inesperadas, testemunha
/ | língua de sinais podem ser violadas, e as localizações e os movi-
as ações de grandeslíderes e militantes Surdos,e trata da valori-
mentosdossinais, alterados, para efeito artístico ou humorístico.|
zação de suas identidades Surdas (Strobel, 2008).
Outra possibilidade é sinalizar com as duas mãos simultanea-
“ No Brasil, encontra-se uma vasta e diversificadaliteratura po-
mente, cada umarealizando um sinal.
pular na Libras, presente em associações de Surdos, escolas e pon-
O uso artístico da língua desinais pode ser observado também
tos de encontro da comunidade Surda (Karnopp, 2006).
na poesia. Lane, Hoffmeister e Bahan (1996) afirmam que, assim
A comunidade Surda vem-se preocupando, nos últimos anos,
como a poesia em inglês é ditada pelo som da linha poética —
em elaborare registrar histórias de pessoas Surdas, a história dos
padrão de tonicidade, rima etc. —, a forma da poesia nalíngua
Surdos nas diferentes fases da história, histórias de vida, piadas,
poesias, lendas, contos etc. Grande parte dessa literatura tem sido desinaisé ditada pela semelhança e diferença fonética e pelas re-
registrada em fitas de vídeonaLibrasou traduzidaparaa língua laçõesentreasduasmãos. Outros recursos, como movimento do
corpo e expressãofacial,também têm importante papel. /
|
portuguesa. Segundo Karnopp (2006), as narrativas, os poemas,
as piadas e os mitos produzidos servem como evidências da iden- Para os mesmos autores, falar em rima naslínguas faladas im- |
, E |
| tidade e da cultura Surdas. plica pensar em padrões de som. Quando os componentes dos |
LIBRAS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
“sinais — configurações de mãos, movimentos, orientaçõese lo- e significados que se fortalecem pela instrução, pela inspiração
K ) calização — são organizados em um poema, o efeito é também ou pela celebração.
É esteticamente agradável ao falante nativo. Umadas contribuições principais da poesia em línguadesinais
* Sutton-Spence e Quadros (2006) analisaram como os temas e a para o empoderamento do povo Surdo é a maneira comoos poe-
à linguagem usados na poesia em línguadesinais se constituem para mas retratam a experiência das pessoas Surdas como experiência
b/| criar e traduzir a cultura Surda e a identidade das pessoas Surdas. visual, o lugar das pessoas Surdas no mundo e a experiência bi-
Segundo as autoras, a poesia em língua de sinais, assim como língue de pessoas Surdas.
a poesia em qualquerlíngua, usa uma formaintensificada delin- A repetição é uma característica de quase todos os poemas, in-
guagem (“sinal arte”) para efeito estético. À linguagem, nos poe- cluindo os poemas em línguas de sinais, e pode ser vista em di-
mas, podeser projetada de forma regular, uma vez que o poeta ferentes níveis da linguagem — sincronismo rítmico dos sinais,
| usa recursose sinais já existentes na língua com excepcional regu-
parâmetros sublexicais dos sinais, os próprios sinais, a sintaxe das
Y| laridade, ou pode ser projetada de formairregular, uma vez que
linhas ou no nível estrutural maior do poema, como em estrofes.
/ [as formas originais e criativas do poeta trazem a linguagem para
Y é Em língua desinais, a repetição de padrões sublexicais podeser
o primeiro plano.
vista nas repetições de quaisquer parâmetros que compõem todos
A linguagem no primeiro plano pode trazer consigo signifi-
os sinais: configuração de mão, localização, movimento,orienta-
cado adicional, para criar múltiplas interpretações do poema. O
ção e determinadas características não manuais. A repetição pode
conteúdo de um poema pode ser novo, mas o método de com-
simplesmente ter a apelação estética, e pode-se apreciar os padrões
posição, o desempenho e a transmissão, assim como a forma, o
criados pela repetição e admirar a habilidade do poeta em selecio-
tema e a função, estão firmemente dentro da tradição folclórica,
nar ou criar Os sinais que determinam certos padrões. Entretanto,
entendida, por Sutton-Spence e Quadros, comoo conjunto cul-
a repetição das partes dos sinais pode também servir para destacar
tural de conhecimentos transmitidos oralmente (ou visualmente)
em uma comunidade. relacionamentos incomuns entre sinais e ideias, criando um maior
O prazer é, segundo Sutton-Spence e Quadros (2006), um significado para o poema (Sutton-Spence e Quadros, 2006).
elemento muito importante nas línguas de sinais. No entanto, Como poesia, também o humor Surdo é criativo em relação
as autoras lembram que muito da poesia representa, em algum ao uso da língua. O humor Surdo desenvolveu-se na comunidade
nível, empoderamento dos povos Surdos, fortalecimento para Surda parcialmente comoforma de expressar a opressão que as pes-
essa comunidade linguística. Esse empoderamento pode ocor- soas Surdas enfrentam no mundo ouvinte. Inclui histórias diverti-
rer pelo uso dalíngua oupela expressão de determinadas ideias das, piadas, cenas cômicas e outras formas que fazem com que as
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
e podiam dar vazão aos seus talentos em agir e usar de forma ex-
pessoas riam. Pode ser encontrado não só em histórias engraçadas,
pressiva a língua desinais americana.
caricaturas e imagens absurdas, como também nos cartoons.
No Brasil, atualmente há muitos atoressurdos, como Nelson
São várias as peculiaridades do humor Surdo. Uma das princi-
Pimenta,Rimar Romano,Reinaldo Pólo, Sandrodos Santos Pe- |
pais, segundo Curiel e Astrada (2000), é a predominância do vi-
reira, Celso Badin, entreoutros.
sual. Os Surdos percebem a maior parte das coisas pelos olhos. O
Amúsica, como lembra Strobel (2008), não faz parte da cul-
visual é, portanto, fundamental em todos os aspectos de suavida.
tura Surda, embora os Surdos possam conhecê-la comoinforma-
Outro aspecto do humor Surdo, para os mesmos autores, é a refe-
ção e relação intercultural.
rência recorrente à falta de audição. Há muitas histórias passadas
de umageração a outra queilustram a perspectiva Surda acerca da
Tecnologia: adaptações culturais
impossibilidade de ouvir. Esta é apresentada como uma conve-
como Para atender à especificidade das pessoas surdas, as indústrias
niência ou comoalgo que gera estratégias alternativas, e não
têm criado recursostecnológicos, desde simples até altamente so-
um impedimento ou umaincapacidade. Outro componente, ain-
fisticados, alguns dos quais são apresentadosa seguir.
da, do humor Surdo podeser categorizado comolinguístico. A
produção correta e incorreta dos sinais é uma forma de provocar
Campainhas luminosas
riso nas línguas desinais.
Surdo Enquanto os ouvintes têm campainhasonora em casa, os sur-
Lane, Hoffmeister e Bahan (1996) destacam queo teatro
dos têm campainha luminosa. Assim, quando alguém chega à re-
é a melhor oportunidade queas pessoas ouvintes têm de vislum-
sidência de uma família surda, ao tocar a campainha, em vez de
brar a riqueza da experiência visual dos Surdos. Para os autores,
acionar um som, é acionada umaluz. Essa campainha, normal-
uma linha de história dramática consiste no uso simultâneo de
mente, é ativada em diferentes partes da casa, pois depende do
acesso visual para ser percebida.
da cultura e do teatro Surdo. Para um espectador que consegue
As campainhas luminosas são co-
processar tantos níveis de significados concorrentes, o teatro Sur-
mumente encontradas também
do é um espetáculo deslumbrante.
em escolas especiais para crian-
As primeiraspeçasde atores Surdos nos Estados Unidos prova-
n- ças surdas. Nesse caso, ao acio-
velmente surgiram na metade do século XIX,nas escolas reside
nar a campainha, uma lâmpada
ciais, e tinham comotemaa vida nas escolas de Surdos,a história
se acende em cada sala de aula e
dos Surdos e as situações dos Surdos nas famílias. Nessas peças,
em outros espaços da escola,
os estudantes|nãoeram limitados pelas suas habilidades no inglês
Campainha luminosa, (Cortesia da Koller.)
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS: DIREITO DOS SURDOS BRASILEIROS
LIBRAS
BRs
de texto para aquele que estiver
usando um T'T'S e por voz para
aquele queestiver em um apare-
lho convencional (ouvinte).
Serviços de mensagem de texto via celular que pode ser muito barulhenta, os surdos produzem barulhos ao
Além da possibilidade de comunicação por meio de torpedos, conversar ou chamar a atenção do outro, arrastam os móveis pro-
existem atualmente programas gratuitos que, instalados no ce- vocando ruídos, e assim pordiante.
lular, permitem receber e enviar mensagensnalíngua desinais. O
programa também permite que uma mensagem enviada em lín- A Libras e a constituição da identidade
gua portuguesa seja convertida em Libras, possibilitando, assim, a e da cultura Surda
comunicação em duas língua:a língua portuguesae a Libras.
Como vimos anteriormente, por quasecemanos as línguas de q
sinais foram proibidas naeducação. Os surdos eram considerados
Aplicativos de tradução
deficientes, e as línguas de sinais eram vistas como mímica, sem pr
qualquervalor linguístico.
língua para outra, existem aplicativos que, se disponíveis em um
Este capítulo nos mostrou que, acreditando na importância
site da Internet, permitem aos usuários selecionar com o mouse
das línguas desinais, grupos de Surdos em todo o mundo come-
um texto da página e ver sua traduçãopara Libras.
çaram a organizar movimentos de reivindicação sobre o direito
de uso dessas línguas.
Legenda oculta (closed caption)
No Brasil, assim como em outros países, tais movimentos re-
A legenda oculta (closed caption) permite o acesso por escri-
sultaram no reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais, na |
to à informação veiculada oralmente na televisão. Para isso, o
contratação de intérpretes e, mais recentemente, na implantação
televisor do telespectador deve possuir a tecla ClosedCaption
de educação bilíngue para Surdos, na qual a Libras é a primeira |
ouCC. língua e a língua portuguesa, na modalidadeescrita, a segunda. )
A legenda oculta descreve, além dasfalas dos atores ou perso-
As línguas de sinais permitem aos surdos se identificarem, ]
nagens, qualquer outro som presente na cena, como palmas, pas-
comosujeitos capazes, participantes de uma cultura própria, cuja (
sos, trovões, música, risos etc.
característica principal é ser visual. Entenderemos, no capítulo
seguinte, um pouco mais sobre o funcionamentoe as caracterís-
Pimenta e Quadros (2007) lembram que todas essas adap-
ticas da língua desinais usada no Brasil, a Libras.
tações não resultam necessariamente em uma casa silenciosa, e
acrescentam que, justamente pelo fato de os surdos não ouvirem,
a casa deles pode ser muito ruidosa:às vezes, o volume da TV fica
muito alto, a campainha luminosa ativa uma campainha sonora
Aspectoslinguísticos
da língua brasileira de sinais
PESC CC CR RC RC RR Drococ cross coca sus ocaso us usares ca ls
| sinal particular: configuração das mãos, localização e movimento. Diferentemente das línguas orais, os articuladores primários
( Um quarto parâmetro — orientação —, que se refere à orienta- /
/
A
)
das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no espaço
ção das palmas das mãos,foi acrescentado por Battison (1974).
fE
em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas localiza-
Estudos posteriores, como os de Baker e Padden (1978), in-. ções nesse espaço. A seguir, entenderemos melhor essa diferença
outros, que tiveram como objetoaslínguas de sinais usadas pelas tação das palmas das mãos e traços não manuais. . /
comunidades de surdos em diferentes países, como França,Itália,
/
Uruguai, Argentina, Suécia, Brasil e muitos outros. Essas línguas Configuração das mãos
são diferentes umas das outras, e independem das línguas orais- Refere-se às formas que as mãos assumem na produção dossi-
“auditivas utilizadas nesses países. Apesar das diferenças, as lín- nais, que podem ser da datilologia (alfabeto digital/manual) ou
/| guas de sinais possuem algumas semelhanças que as identificam outras formas feitas pela mão dominante (mão direita para os |
comolíngua, e não apenas como umalinguagem. destros) ou pelas duas mãos. )
A Libras é a língua utilizada pelos Surdos que vivem em cida- NaLibras, foram identificadas, até o momen-
des do Brasil onde existem comunidades Surdas, mas, além dela, to, sessenta e três configurações de mãos(Lira e
y há registros de outra línguade sinais,utilizada pelos índios Uru- Souza, 2006; Pimenta e Quadros, 2007). Cada
bu-Kaapor na floresta amazônica (Brito, 1985). configuração das mãos responde por um nú-
| A Libras, comoaslínguas de sinais usadas em diferentes países, mero de sinais. A configuração das mãos em F,
lapresenta regras que respondem pela formação dos sinais e por por exemplo, é usada na produção dos sinais de
sua organização nas estruturas frasais e no discurso. FAMÍLIA, FELIZ e FÉRIAS.
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
LIBRAS
Localização
É o lugar, no corpo ouno espaço, em que o sinal é articulado, |
podendo a mão tocar alguma parte do corpo ou estar em um es- ,
paço neutro. Os sinais BRINCAR e TRABALHAR são feitos no |
espaço neutro (em frente ao corpo), e os sinais PENSAR, DIFÍCIL e
ESQUECER sãofeitos na testa, comoilustram as figuras a seguir.
ams ==
curvo paraa frente; já no sinal de CERÂMICA as mãos se movem Envolvem expressãofacial, movimentocorporal e olhar. É o
para o lado direito do corpo. caso dossinais LINDO, LINDINHO e LINDÍSSIMO, no qual o si-
nal é o mesmo, mudando apenasa expressão facial.
S)
/ EB ça
OUVINTE VACA
APRENDER
SABADO
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
LIBRAS
FÁBRICA
EVITAR Se, no entanto, a configuração das mãosfor diferente, aplica-
Assim comonalíngua portuguesa há restrições na combinação se a condição de dominância, ou seja, apenas uma mão, a ativa,
das consoantes e das vogais para formar um vocábulo, também a se move, enquanto a outra serve de apoio. Exemplos: ÁRVORE,
( Libras apresenta regras que estabelecem combinações possíveis e PAPEL e AJUDAR.
E
LIBRAS
Aspectos morfológicos
/ ; ; x
GE)
( Comoa língua portuguesa, a Libras conta com um léxico e
com recursos que permitem a criação de novos sinais. Contu-
do, diferentemente das línguas orais, em quepalavras complexas
são, muitas vezes, formadas pela adição de um prefixo ou sufixo a
OUVIR OUVINTE
umaraiz, nas línguasdesinais a raiz é frequentemente enriqueci-
da com vários movimentos e contornos no espaço desinalização
(Klima e Bellugi, 1979). Outro processo bastante usado na Libras, na criação de novos
Um processo bastante comum naLibras para a criação de no- sinais, é a composição. Nesse processo, dois sinais se combinam,
“vossinais é o que deriva nomes de verbos, e vice-versa, por meio dando origem a um novo sinal, como se pode observar em ESCOLA
' da mudança no movimento. O movimento dos nomes repete e e IGREJA.
encurta o movimento dos verbos (Quadros e Karnopp, 2004).
* Exemplos: os sinais de SENTAR e CADEIRA tém a mesma confi-
| guração das mãos, a mesmalocalização e a mesmaorientação das
|
| palmas das mãos. O movimento, no entanto, é diferente: mais
Y longo em SENTARe mais curto e repetido em CADEIRA.
Gi)»
SENTAR CADEIRA
IGR
E
Processo semelhante é observado em OUVIR e OUVINTE. O
movimento de fechar as mãos próximo ao ouvido é mais curto e O sinal de ESCOLA é compostopelos sinais de CASA e ESTUDAR,
repetido em OUVINTE. enquanto o de IGREJA é composto pelo sinais de CASA e CRUZ.
sd
Ga
LAVAR ROUPA
Q
|
A incorporação da negação é outro processo bastante produ- |
tivo na Libras e pode dar-se pela alteração do movimento do si- |
[E nal, caracterizada por mudança de direção, para fora, na maioria |
Por esses exemplos, percebemosque o verbo LAVARse modifi- y das vezes, com a palma da mão também parafora (Brito, 1995). |
ca e se adapta ao objeto que sofre a ação. Cabe lembrar que, nos verbos, as formas negativas são acompa- |
A incorporação de um numeral caracteriza-se pela mudança na nhadas de meneio negativo de cabeça e expressão facial de nega- |
configuração de mão dosinal para expressar a quantidade. Assim, ção, como se pode observar nos exemplos a seguir.
por exemplo, pela mudança na configuração de mão, de 1 para 2 Na produção de NÃO QUERER, há mudança na direção das |
| oupara 3, o número de meses, dias ou horas referidos muda. À palmas das mãos. Em QUERER,as palmas estão voltadas para
|
7 Í
| localização, a orientação e os traços não manuais permanecem Os cima, e em NÃO QUERER, elas iniciam o movimento com as |
]
“| mesmos (Quadros e Karnopp, 2004). palmas para cima e se voltam para baixo,
ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
LIBRAS
ENTENDER
Ao incorporar a negação, a mão, que se fechava na altura do
peito, passa a aberta sobre o peito, e a palma da mão se volta
para fora. so
fo
Nesses exemplos, as formas negativas também podem ser se- * Verbos direcionais (com concordância) — são verbos
guidas do movimento NÃO com o dedo indicador. que se flexionam em pessoa, número e aspecto, mas não in-
corporam afixoslocativos.
Categorias gramaticais Exemplos: PERGUNTAR, DAR e RESPONDER.
<=
Az Lt
CAMISETA DE CAMISETA
SA BOLINHAS LISTRADA
CAMISETA XADREZ
CHEGAR
Pronomes IO
Adjetivos
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Pessoais
Libras e estão sempre na forma neutra, não recebendo marcação Os pronomes pessoais são expressos por meio dos si- J
para gênero (masculino e feminino) nem para número (singu- nais de apontar com o dedo indicador. Quandoo enun-
lar e plural). Muitosadjetivos, por serem descritivos e classifica- ciador (pessoa que fala) aponta para (UMA
dores, expressam a qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou si (olhando para o receptor), esse si-
mostrando-a no objeto ou no corpo do emissor (Felipe, 2001). nal é interpretado como EU. £U
Assim, para dizer que “uma pessoa está vestindo uma blusa de O apontar para o interlocutor (olhando
bolinhas, listrada ou xadrez”, o locutor desenhará no seu cor- para o receptor) é interpretado como TU ou
po bolinhas,listras ou xadrez. Os exemplosa seguir ilustram os VOCÊ.
sinais de CAMISETA, CAMISETA DE BOLINHAS, CAMISETA Pe
O apontar para outra pessoa que não está
LISTRADA e CAMISETA XADREZ. TU ou VOCE conversa, olhando para o receptor ou para
LIBRAS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
O
o) |
Como na sequência anterior, os exemplos a seguir se referem ad pessoas, animais ou objetos; em C, para qualquer tipo de objeto
NOSSO, SEUS e DELES/DELAS. cilíndrico, e em B, para superfícies planas, por exemplo.
A seguir, vê-se o classificador usado para COPO,que, associa-
do ao movimento de CAIR,é interpretado como COPO CAIR.
vo
Os classificadores são formas que, substituindo o nome queas
precedem, podem vir junto com o verbo paraclassificar o sujeito ou
o objeto queestá ligado à ação do verbo (Felipe, 2001). Para Brito
(1995), os classificadores funcionam, em umasentença, como par-
tes dos verbos de movimento ou de localização. O sistema de clas-
sificadores fornece um campo de representações de categoriais que
DUAS PESSOAS DUAS PESSOAS ANDAM
revelam o tamanho e a forma de um objeto, a animação corporal
de um personagem ou como um instrumento é manipulado (Ray-
4 man, 1999). Morgan (2005) refere que, nas narrativas, um classi-
ficador é, muitas vezes, usado para manter a referência a objeto ou
personagem previamente mencionado por meio de um sinal.
Em relação às formas dos classificadores, Brito (1995) refere
que a configuração de mão em V' pode ser usadapara se referir a DUAS PESSOAS DUAS PESSOAS CAEM
LIBRAS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Flexões verbal e nominal na Libras em “ele falou” (pontual) e “ele fala sem parar” (continuativo);
“«
a y
FICAR OLHANDO/
TO DAR PARA UMA OBSERVANDO
o PESSOA
AS
OLHAR DE CIMA
DAR PARA DUAS DAR PARA TRÊS A BAIXO
PESSOAS PESSOAS
A flexão de aspecto está relacionada com as formase a duração A Libras apresenta, ainda, em suas formas verbais, a marca de
dos movimentos. tempo de forma diferente de como acontece na língua portu-
Osaspectos pontual, continuativo, durativoe iterativo são ob- guesa. O tempo é marcado por meio de advérbios de tempo que
tidos por meio de alterações do movimento e/ou da configura- indicam se a ação está ocorrendo no presente (hoje, agora), se
ção da mão (Brito, 1995). Exemploscitados porBrito são: falar, ocorreu no passado (ontem, anteontem), ou se ocorrerá no futuro
LIBRAS ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Flexão nominal
Diferentemente da língua portuguesa na modalidade oral, que
apresenta flexão de gênero modificando os nomes, a indicação de
sexo na Libras é marcada por um sinal que indica marca de gêne-
ro feminino ou masculino, antecedendo o nome.
TIO ) )
CASA CASAS
Aspectos sintáticos
Assim como na fonologia, na morfologia e na sintaxe, o espa- tre objetos descritos (Emmorey, 1993).
ço tem papel fundamental na construção de narrativas nas lín-
. !
O uso do espaço nas línguas de sinais estende-se também para
guas de sinais. marcar e distinguir eventos temporais. Os sinalizadores podem
LIBRAS
como disciplina obrigatória nos cursos de graduação em fono- do Distrito Federal devem garantir a inclusão da Libras nos cur-
audiologia e de formação de professores. Vale esclarecer que a sos de formação de educação especial, de fonoaudiologia e de
proposta aqui exposta não é a única possível, mas a que conside- magistério, em seus níveis médio e superior, como parte dos Pa-
ramos que melhoratingirá o objetivo de propiciar aos aprendizes râmetros Curriculares Nacionais — PCNSs, conforme legislação
ouvintes um conhecimento básico da Libras. vigente.
O reconhecimento, pela Lei Federal n. 10.436, em 24 deabril
Oficialização da Libras de 2002, da Libras comolínguaoficial das comunidades Surdas do
Brasil traz mudançassignificativas para a educação dos Surdos.
Ao longo de anos de luta sistemática e persistente, as comuni-
Considerada língua oficial, seu uso passou a ser um direito dos
dades Surdas brasileiras têm conseguido conquistas significativas
Surdos. As instituições de ensino começaram a contratar tradu-
em relação ao direito de uso da Libras.
tores-intérpretes, o que possibilitou a muitos Surdos ingressarem
A Lei Federal n. 10.098, aprovada em 19 de dezembro de
no ensino superior. Hoje, há no Brasil um número grande de
2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promo-
Surdos graduados e um número crescente de pós-graduados —
ção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou
mestres e doutores.
com mobilidade reduzida. No Capítulo 18, o documento prevê
O Decreto n. 5.626, de 20 de dezembro de 2005, regulamen-
a formação e a atuação de intérpretes de língua portuguesa-lín-
ta a Lei de Librase o artigo 18 da Lei n. 10.098, de 19 de dezem-
gua brasileira de sinais para possibilitar o acesso das pessoas Sur-
bro de 2000.
das à informação.
Nesse documento, chama a atenção o uso do termo “surdo” em
A Lei Federal n. 10.436, aprovada em 24 de abril de 2002, re-
lugar de “deficiente auditivo”, presente nos documentos anterio-
conhece a Libras comolínguaoficial das comunidades de Surdos.
res. À pessoa surda é definida como aquela que, por ter perda
Essa lei é também conhecida comoa Lei de Libras, e é um marco
auditiva, compreende o mundo interage com ele por meio de
histórico na trajetória de construção da identidade Surdae luta
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelos direitos humanos dos Surdos no Brasil.
pelo uso da Libras. O mesmo documento reconhece o direito
No documento, a Libras é definida como a forma de comuni-
dos surdos a uma educação bilíngue, na qual a língua de sinais
cação de natureza visual-motora, com estrutura gramatical pró-
é a primeira língua,e a língua portuguesa, preferencialmente na
pria, oriunda de comunidades de pessoas Surdas do Brasil, que se
traduz como forma de expressão do Surdo e sualíngua natural. modalidade escrita, é a segunda. A modalidade oral da língua
Noartigo 4º, o documento estabelece que o sistema educa- portuguesa é uma possibilidade, mas deve ser trabalhada fora do
e do uso e da difusão da Libras e da língua portuguesa para O Dificuldades comuns aos aprendizes de Libras
acesso das pessoas surdas à educação;
O fato de fazer uso da modalidade visual-espacial requer que
e da formação do tradutor e intérprete de Libras-língua por- os aprendizes ouvintes da Libras entrem em um mundoao qual
tuguesa; nunca foram expostos antes: o mundo davisão (Jacobs, 1996).
Esses documentos foram muito importantes para o reconheci- vintes têm no aprendizado da Libras é o alfabeto manual ou
mento dos Surdosbrasileiros como uma comunidade social e lin- digital. No alfabeto manual, cadaletra do alfabeto da língua por-
guística. A educação de Surdos tem melhorado significativamente tuguesa é representada por uma configuração de mãos, como se
com a regulamentação dalíngua brasileira de sinais, pois garan- pode observar na ilustração a seguir. A mão é mantida em frente
te o direito linguístico dos Surdos de terem acesso à educação e à ao peito as letras são representadas por diferentes configurações
sociedade na sua língua. de mãos. O ritmo de apresentação é equivalente ao dafala.
LIBRAS ENSINO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Diferença entre le Y
Visualmente, não parece haver dificuldade em diferenciar o I,
produzido com o dedo mínimo esticado para cima e os demais
dobrados e seguros pelo polegar, e o Y, produzido com os dedos
mínimo e polegar esticados e os demais dobrados. No entanto,
muitos aprendizes da Libras apresentam dificuldades narecepção
e na produção dessas duasletras.
Diferença entre Ge O polegar — ao lado dos outros dedos no caso do A, sobre os de-
Asletras G e Q são produzidas com a mesma configuração das dos indicador, médio e anular no caso do S, e muito próximo
mãos, sendo a única diferençao sentido para ondese volta o dedo ou mesmo encostando nas pontas dos dedos indicador, médio e
indicador: para cima no G,e para baixo no Q. No entanto, ao anular no caso do E. Trata-se de uma dificuldade muito comum
produzir umadas letras, é comum que o aprendiz ouvinte a tro- entre os aprendizes ouvintes da Libras.
que pela outra.
Diferença entre H, Ke P
As letras H, K e P são produzidas com a mesma configuração
Diferença entre Çe C das mãos, com diferença na posição e no movimento dos dedos.
A diferença entre Ç e C consiste em um movimento de tremu- Na letra H, as pontas dos dedos polegar, indicador e médio estão
lar a mão na produção do Ç. Trata-se de uma sutileza, muitas ve- voltadas para cima e a mão faz um movimento de rotação com o
zes não percebida pelo aprendiz ouvinte de Libras. pulso para a direita; na letra K, as pontas dos dedos polegar, indi-
cador e médio estão inicialmente voltadas para a frente e o mo-
vimento é de voltar as pontas dos dedos para cima. Narealização
do P os dedosestão na posição horizontal e não há movimento.
Diferença entre Fe T
Outras dificuldades com o alfabeto manual
Talvez a maior dificuldade dos aprendizes ouvintes da Libras Ainda em relação ao uso do alfabeto manual, outras dificulda-
esteja na diferenciação entre o Fe o T. des comumente cometidas por aprendizes ouvintes ganham des-
Emboraa configuração das mãos seja a mesma,a diferença en- taque. Por exemplo, os aprendizes ouvintes tendem realizar as
tre as duas letras está no dedo polegar, quefica à frente do dedo letras com a palma da mão voltada para si, em vez de fazê-lo
indicador no caso do E, e atrás no caso do T. Na recepção e na com ela virada para o interlocutor, como é o correto. Além disso,
produção das duasletras, é muito comum queos aprendizes ou- a passagem de umaletra para outra se dá de forma brusca, dando a
vintes errem a localização do polegar, confundindo-as.
impressão de que o usuário está dando socos no ar.
Na produção de algumas letras, observa-se confusão no uso
dos dedos. Ao produzir a letra I, por exemplo, é frequente que os
aprendizes ouvintes usem o dedo indicador em vez do mínimo.
A letra M é, muitas vezes, produzida com os dedos médio, anelar
e mínimo, em vez de com os dedos indicador, médio e anelar. O
mesmo acontece com o N,que, erroneamente, é feito com o ane-
lar e o mínimo, em vez de com o indicador e o médio.
Realização do D
Na produção das letras do alfabeto, provoca riso dos Surdos
Dificuldades com traços não manuais
as dificuldades que os aprendizes ouvintes apresentam na produ-
ção do D. Devendo ser produzido com os dedos polegar e médio Outro aspecto da Libras que se mostra muito difícil aos apren-
unidos e o indicador esticado para cima, o D, muitas vezes, acaba dizes ouvintes é o uso dos traços não manuais, que incluem ex-
sendo realizado pelos aprendizes com os dedos polegar e indica- pressões faciais, movimento com a cabeça e o olhar. Segundo
dor unidos, o que resulta em gesto obsceno paraos brasileiros. Leite e McCleary (2009), o vício de focalizar o olhar nas mãos do
interlocutor resulta na perda de informações faciais e corporais
potencialmente relevantes.
O exemplo a seguir ilustra um dos usos da expressão facial
como traço distintivo na Libras. Nele, a diferença entre TRISTE,
UM POUCO TRISTE e MUITO TRISTE está na expressão facial,
Forma correta Forma incorreta
uma vez que o sinal é o mesmo.
LIBRAS ENSINO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
TRISTE UM POUCO
TRISTE
MUTTO TRISTE
; a =
200LÓGICO vocÊ IR?
NaLibras, assim como nalínguade sinais americana, a expres-
são facial acrescentada a uma sentença pode torná-la uma per- A expressão facial também é usada para diferenciar afirmação
gunta, uma exclamação ou uma negação. Sem o marcador facial, e negação, como no exemplo a seguir, em que a negação (GOS-
a oração é umaafirmação (Wilcox e Wilcox, 2005).
TAR/NÃO GOSTAR) é marcada tanto no sinal como na expres-
Os exemplosa seguir ilustram o uso daexpressão facial na dife- são facial e no movimento da cabeça (meneio negativo).
renciação entre uma frase afirmativa e uma interrogativa.
A primeira oração apresentada corresponde, na Libras, à ora-
ção afirmativa, em português, “EU VOU AO ZOOLÓGICO”.
Nela, não se observa nenhuma alteração na expressão facial na
produção dos sinais.
ordem predominante, principalmente nos Surdos menosoraliza- A mesma ordem dossinais pode ser observada em orações afir-
dos, é tópico-comentário. mativas e negativas, como nos exemplos que se seguem. A dife-
Naoração “VOCÊ VAI AO ZOOLÓGICO?”, por exemplo,o si- rença está na expressão facial e no movimento da cabeça, no caso
nal de ZOOLÓGICO vem em primeiro lugar na Libras, seguido da negativa.
do sujeito e do verbo. O DR
f o
É o
Mer CS
CARRO EU TENHO
ZOOLÓGICO vocÊ TR? Dificuldades com a orientação e o movimento das mãos
Neste exemplo, a ordem é determinada pelo fato de que, naLi- Outras dificuldades geralmente enfrentadas pelos aprendizes
o ouvintes dizem respeito à orientação das palmas das mãos.
bras, o marcador de espaço vem geralmente em primeiro lugar.
ia ns No exemplo a seguir, a palma da mão quesinaliza está volta-
A ordem tópico-comentário pode ser observada também na P outb P d
a É : da para a pessoa à qual se refere o sinal de NOME. Se merefiro
oração a seguir, uma interrogativa.
ao MEU NOME, a palma da mão está voltada para mim, mas, se
a
(o) a é merefiro ao nome do meu interlocutor (SEU NOME), a palm
E - É está voltadaparaele.
AN AN
A direção do movimento apresenta, para os aprendizes ouvin- À aprendizagem dalíngua estrangeira era vista como umaativi-
tes, dificuldades semelhantes às observadas na orientação das pal- dade intelectual em que o aprendiz deveria aprender e memorizar
mas das mãos, como se pode observar nos exemplos a seguir. as regras e os exemplos, com o propósito de dominar a morfolo-
No primeiro deles, o sinal de PERGUNTAR,partindo da pes- gia e a sintaxe. Os alunos recebiam e elaboravam listas exaustivas
soa que sinaliza na direção do interlocutor, refere-se a EU PER- de vocabulário. As atividades propostas consistiam em exercícios de
GUNTO PARA VOCÊ, enquanto a direção contrária se refere a aplicação das regras de gramática. Submetiam-se os alunosao en-
VOCÊ PERGUNTA PARA MIM. sino gradual de estruturas frasais por meio de exercícios estru-
turais. Os alunos repetiam as estruturas apresentadas na sala de
aula, visando à memorização e ao uso.
O professor controlava e dirigia o comportamento linguístico
dos alunos. Com base nos princípios da teoria comportamen-
talista, a aquisição de uma língua era considerada um processo
mecânico de formação de hábitos. Ao aluno não era permiti-
do errar.
EU PERGUNTO PARA VOCÊ PERGUNTA PARA
vocÊ MIM, Nos últimos anos, observam-se tentativas de mudança na con-
cepção de língua no ensino de línguas estrangeiras.
Ao fazer referência aos verbos direcionais, no Capítulo 3, obser- O foco no ensino passaa ser o uso da língua, o que deu origem
vou-se que, neles, a origem do movimento refere-se ao sujeito da ao método comunicativo, cujo objetivo é ensinar o aluno a se co-
oração, enquanto o destino do movimento se refere ao interlocutor. municar (Martins-Cestaro, 1999). Saber se comunicar significa,
como lembra Martinez (2009), ser capaz de produzir enuncia-
Metodologias de ensino da Libras dos linguísticos de acordo com intenção de comunicação (pedir
Para tratar de metodologias de ensino da Libras, parece interes- permissão, por exemplo), e conformea situação de comunicação
sante conhecer antes um pouco sobre as metodologias geralmen- (status, escala social do interlocutor etc.). Os exercícios formais e
te usadas no ensino delínguas estrangeiras. repetitivos deram lugar, na metodologia comunicativa, aos exerci-
Martins-Cestaro (1999) apresenta uma retrospectiva das me- cios de comunicação real ou simulada, mais interativos. As ativi-
todologias comumente empregadas no ensino do francês como dades gramaticais estão a serviço da comunicação.
língua estrangeira. Nela fica evidente que, até a década de 1980, Nesse sentido, a tarefa do professor não é corrigir o aluno vi-
discursivas nas quais ele seja exposto à língua, e não a vocábulos pode aplicar adequadamente em situações específicas. Eles des-
isolados. tacam quea visibilidade é essencial nas aulas de língua desinais
O professor deixa de ocupar o papelprincipal no processo en- — daí a necessidade de atenção para o arranjo das cadeiras. As
sino-aprendizagem, de detentor do conhecimento, para assumir o cadeiras em semicírculo possibilitam aos alunosvisualizar e inte-
papel de “orientador”, “facilitador”, “organizador” dasatividades ragir com os colegas, e todos com o professor.
de classe. Se, como sugere o Decreto n. 5.626, os professores forem Sur-
Passando para as metodologias de ensino das línguas de sinais, dos, os alunos terão a oportunidade de ter contato com pessoas
os primeiros cursos para ensino da língua de sinais americana Surdas, podendo,assim familiarizar-se com aspectos culturais das
consistiam na apresentação de um vocabulário básico de sinais, comunidades de Surdos.
sendo a orientação relativa aos traços não manuais a de usar mui- Wilcox e Wilcox referem que as aulas do curso básico da língua
ta expressão facial, como relatam Wilcox e Wilcox (2005). de sinais Americana não oferecem espaço adequado para questões
Em relação ao ensino da Libras, a ênfase no vocabulário ainda que os ouvintes frequentemente têm em relação à comunidade
é bastante comum. Os aprendizes são expostos a listas de sinais; Surda. Essas questões, segundo Wilcox e Wilcox, precisam ser le-
esses sinais são, depois, combinados em orações propostas pelo vantadas e respondidas provavelmente nalínguanativa dos alunos.
professor, as quais seguem uma ordem de complexidade crescen- Assim, os autores sugerem que sejam oferecidas aulas nas quais os
te, das mais simples para as mais complexas. O objetivo é que alunos estejam livres para fazer perguntas em sualíngua oral. Nes-
os aprendizes memorizem as estruturas trabalhadas e as usem. ses cursos, os alunos poderão discutir suas dúvidas sobre a surdez e
Como foi referido, essa forma de ensino predominou até recen- as pessoas Surdas, assim como sobre a línguadesinais.
temente também nas aulas de línguas estrangeiras. Caberessaltar que um curso básico da Libras deve possibilitar
Mais recentemente, observam-se propostasde ensino da Libras aos alunos não apenas o aprendizado da Libras, mas também um
que enfatizam o uso da língua de sinais em diálogos. O objetivo panorama que contemple o percurso histórico daslínguas desinais
é que os aprendizes aprendam a se comunicar. Ao usar a Libras, na educação de Surdos, aspectos culturais das comunidades Surdas
os aprendizes terão a oportunidade não só de entender e produ- e aspectoslinguísticos da Libras. Outros aspectos poderiam ser in-
cluídos, dependendo da carga horária destinadaà disciplina.
zir Os sinais, mas também de combiná-los em estruturas frasais e
em pequenosrelatos.
O ensino da Libras
Wilcox e Wilcox lembram que, enquanto ambientes naturais
aceleram a aquisição de habilidades comunicativas, os ambientes Este capítulo focalizou as dificuldades comumente enfrentadas
formais permitem o aprendizado de regras explícitas que o aluno por aprendizes ouvintes no aprendizado da Libras. Visando ao
LIBRAS
-
Ram Rs
Urubu-Kaaporsign languages.”In: Proceedings ofthe III International Sym-
posium on Sign Language Research 83. Roma: Linstok Press, Inc. Istituto di
Ete Psicologia, 1985, p. 262-268.
- Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tem-
po Brasileiro, 1995.
uno
. Aprendiendo a comunicarse em Lenguade Sefias. Argentina. LEITE, T. A. e MCCLEARY, L. “Estudo em diário: fatores complicadores
Cuaderno de Trabajo 2. Associación de Sordos de Lomas de Zamora, 2000. e facilitadores no processo de aprendizagem da Língua de Sinais Brasilei-
EMMOREY, K. “Processing a dynamic visual-spatial language: psycholin- ra por um adulto ouvinte”. In: QUADROS, R. M. de e STUMPE M. R.
guistic studies on American Sign Language.” Journal ofPsycholinguistic Re- (orgs.). Estudos Surdos IV: Petrópolis, Rio de Janeiro: Arara Azul, 2009,
search, n. 2, v. 22. p. 153-187, 1993. p. 241-276.
ERIKSSON, P. The history ofdeafpeople. Suécia: TRYCKMAKARNA, Ore- LIRA, G. A. e SOUZA, T. A. E Dicionário da Língua Brasileira de Sinais —
bro AB, 1998. LIBRAS. Versão 2.0, 2006. Realização do projeto: Acessibilidade Brasil,
FELIPE, T. A. “Introdução à gramática da LIBRAS”. In: Brasil, Educação disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br>. Acesso em 2 mai. 2006.
Especial — Língua Brasileira de Sinais. Volume IIT. Brasília: Secretaria de MAIS produtos para deficientes auditivos. In: jorwiki.usp.br. Disponível
Educação Especial, SEESP, 1997, p. 81-116. em: <http:/Avww.jorwiki.usp.br/gdmat08/index.php/Maisprodutose|
. “Libras em contexto: curso básico”. Livro do estudante cur- serviWC3%ATosparadeficientesauditivos>. Acesso em: 1 dez. 2010.
sista. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos. MEC, MARCHESL A. El desarollo cognitivo y lingiiístico de los niãos sordos: perspec-
SEESZ 2001. tivas educativas. Madri: Alianza, 1991.
HALL, Stuart. “The spectacle of the other” In: Representation. Cultural MARKOWICZ, H. “Myths about ASL”. In: LANE, H. e GROSJEAN, E
representations and signifying practices. Londres: Thousand Oaks, 1997, (eds.). Recent Perspectives on American Sign Language. Hillsdale, New Jer-
p. 223-290. sey: Lawrence Erlbaum Associates, Publishers, 1980, p. 1-6.
. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: MARTINEZ, P. Didática de línguas estrangeiras. São Paulo: Parábola Edito-
DP&A editora, 2006. rial, 2009.
JACOBS, R. “Just how hard is it to learn ASL? The case for ASL as a tru- MARTINS,Ricardo Vianna. “Identificação, exclusão e Língua deSinais”. In:
Iy foreign language”. In: LUCAS, C. (ed.). Multicultural aspects ofsocio- THOMA, Adriana da Silva e LOPES, Maura Corcini (orgs.). A invenção
linguistics in deaf communities. Washington: Gallaudet University Press, da Surdez: cultura, identidade e diferença no campo da educação. Santa
1996, p. 183-217. Cruz do Sul: Edunisc, 2004, p. 191-207.
KARNOPL L. “Literatura Surda” Revista ETD — Educação Temática Digi- MARTINS-CESTARO,S. “O ensino da Língua Estrangeira — história e
tal. Campinas, n. 2, v. 7, p. 98-109, 2006. metodologia”. Videtur (USP), v. 6, p. 45-56, 1999.
KLIMA,E. S. e BELLUGI, U. The signs of language. Cambridge: Harward METZGER, M. “Constructed dialogue and constructed acion in American
University Press, 1979. Sign Language”. In: LUCAS, C.(ed.) Socio-linguistics in Deaf Communi-
LABORIT, E.O voo da gaivota. São Paulo: Best Seller, 1994. ties. Washington: Gallaudet University Press, 1995, p. 255-271.
LADD, P Time to locate the big picture? In: Cross-linguisticperspective in sign MOORES,D. F. Educating the deaf: psychology, principles andpractices. 4. ed.
language research. Selected papers from TISLR 2000. 2003. Boston: Houghton Mifflin, 1996.
LANE, H. When the mind hears — a history of the Deaf. Nova York: Vintage MORGAN, G. “The developmentof narrative in British Sign Language”. In:
Books, 1989. SCHICK, B., MARSCHARK, M. e SPENCER P (eds.). Advances in Sign
« The mask ofbenevolence. Nova York: Vintage Books, 1992. Language Development in DeafChildren. Oxford University Press, 2005.
LANE, H., HOFFMEISTER, R. e BAHAN, B. 4 journey into the Deaf- MOURA, M. C. O Surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Ja-
World. Califórnia: DawnSign Press, 1996, neiro: Revinter, 2000.
REFERÊNCIAS
LIBRAS
PEREIRA, M. C. C. Aquisição da Língua Portuguesa por aprendizes surdos. dos alunossurdos. São Paulo: Secretaria Municipal de Educação/Diretoria
Anais do Seminário Desafios para o próximo milênio. Rio de Janeiro: INES, de Orientação Técnica, 2007.
2000,p. 95-100. - Diretoria de Orientação Técnica. Orientações curriculares e
. Leitura, escrita e surdez. Secretaria da Educação, CENP/ proposição de expectativas de aprendizagem para a Educação Infantil e Ensino
CAPE. São Paulo: FDE, 2005. Fundamental: Língua Brasileira de Sinais. São Paulo: Secretaria Municipal
PEREIRA, M. C. C. é NAKASATO, R. “A Língua de Sinais em funciona- de Educação/Diretoria de Orientação Técnica, 2008.
mento”. Revista Intercâmbio, v. XI. São Paulo: Programa de Estudos Pós- SCHLESINGER, H. e MEADOW, K. “The acquisition of bimodal lan-
-graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LÃEL), guage”. In: 1. M. SCHLESINGER e NAMIR,L. (orgs.). Sign Language of
PUC-SP 2002, p. 69-76. the deaf. Nova York: Academic Press, 1978.
PERLIN, G. ETD — Educação Temática Digital. Campinas, n. 2, v. 7, SKLIAR, C. “Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educa-
p. 135-146, jun. 2006. ção dos surdos”. In: Educação & Exclusão: Abordagens sócio-antropológi-
PIMENTA, N. e QUADROS, R. M. Curso de LIBRAS1. 2. ed. Rio de Ja- cas em educação especial. SKLIAR,C. (org.) Porto Alegre: Editora, 1997,
neiro: LSB Vídeo, 2007. p. 106-153.
. Curso de LIBRAS 2. Rio de Janeiro: LSB Vídeo, 2009. - “Problematizando los conceptos y las didácticas de la lengua
QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: aquisição da linguagem. Porto escrita en la educación para sordos”. Anais do VI Congreso Latinoamerica-
Alegre: Artes Médicas, 1997. no de educación bilíngiie-bicultural para sordos. Publicado em CD. Santia-
. “Phrase structure ofBrazilian Sign Language”. (Tese de douto- go de Chile, jul. 2001.
rado.) Porto Alegre: PUC-RS, 1999. - “Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferen-
QUADROS, R. M. e KARNOPPL. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos 1
ças”. In: SKLIAR,C. (org). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto
linguísticos. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2004. Alegre: Mediação, 1998, p. 7-32.
QUADROS, Ronice Miiller de. Políticas linguísticas: as representações das STOKOE, W. Sign Language Structure. Silver Springs, Maryland: Linstok
línguas para os surdos e a educação de surdos no Brasil. Instituto de inves- Press, 1960.
tigação e desenvolvimento em política linguística. Disponível em: <http:// STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Edi-
wwwipol.org.br/imprimir.php?cod=382>. Acesso em: 2 maio 2006. tora da UFSC,2008.
RAYMAN,J. “Storytelling in the Visual Mode: A comparison of ASL and STRNADOVÁ, V. Comoé ser surdo. Petrópolis: Babel, 2000.
English” In: WINSTON,E.(ed.). Storytelling & Conversation. Discourse SUT'TON-SPENCE, R. e QUADROS, R. M. “Poesia em Língua de Sinais:
in Deaf Communities. Washington, DC: Gallauder University Press, 1999,
traços da identidade surda”. In: QUADROS,R. M. de (org.). Estudos Sur-
p. 59-82.
dos 1. Petrópolis: Arara Azul, 2006, p. 110-165.
ROCHA,S. Revista Espaço: Edição Comemorativa 140 anos. Belo Horizone:
VALLI, €. e LUCAS, €. “Linguistics of American Sign Language: An intro-
Littera, 1997.
duction”. 3 ed. Washington: Gallaudet University Press, 2000.
SANTANA,A. P e BÉRGAMO, A. “Culturae identidadesurda: encruzilhada
VIEIRA, M. 1.8. O efeito do uso de sinais na aquisição de linguagem por crianças
de lutassociaise teóricas”. Revista Educação e Sociedade, n. 91, p. 565-582,
surdas, filhas de pais ouvintes. (Dissertação de Mestrado.) PUC-SP, 2000.
v. 26, 2005.
WILCOX, S. e WILCOX, P P. Aprendendo a ver: o ensino de ASL comose-
SÃO PAULO(SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orienta-
gunda língua. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.
ção Técnica, Projeto Toda Força ao 1º ano: contemplandoas especificidades
WINSTON, E. “Spatial referencing and cohesion in na American Sign Lan-
guage text”. Sign Language Studies, n. 73, p. 397-410, 1991.
WOODWARD,]. Howyou gonna get to heaven if'you cant talk withJesus — on
depathologizing deafness. Maryland: T. J. Publishers, 1982. | Indice remissivo
A c
A,Se E, 102-103 com o alfabeto manual, 99-101 Instituto Educacional São Paulo
Método
E 61 com traços não manuais, 105-107 (TESP), 14
oral, 9, 10
FeT, 104 comuns aos aprendizes de Libras, Instituto Nacional de Educação de
oral-aural, 9
H, Ke 103 99-110 Surdos (INES), 13, 14
outras, com o alfabeto manual, 105 visual, 9
TeY, 101 Instituto Santa Terezinha, 14
Metodologias de ensino da Libras, 110-
PD 62 Interação do Surdo com o mundo,
Constituição da identidade e da cultura 113
26-34
Surda, 55-56 Mitos sobre as línguas desinais
E. Huet, 13
Constituintes da cultura Surda, 38 1- A língua de sinais é universal,
Educação de surdos, 5-14, 15-16, 20,
costumes, 39-45 17-18
22, 29, 43, 98, 113
expressão artística, 45-51 Legenda oculta, 54-55 2- A realidade deve basear-se no
Ensino da língua brasileira de sinais,
valores, 38-39 Leitura orofacial, 9, 11 vocábulo, 18
95-114, 113-114
Criação de novossinais Libras, 14, 20, 25-56, 60, 61, 65, 66, 3 — Ossinais são gestos glorificados, 18
Escolas para surdos, 7, 8, 9, 14, 20
composição, 48, 71, 95 68, 69, 70, 71, 72, 73, 76, 78, 81, 4 — Às línguas desinais são icônicas,
Esperanto, 4
derivação, 70, 71 84-88, 90-92, 95, 96-99, 101, 102, 18-19
incorporação de negação, 73-75 103, 105, 106, 107, 108, 110-113, 114 5 — As línguas desinais só expressam
incorporação de numeral, 73 Língua Brasileira de Sinais (Língua de conceitos concretos, 19
incorporação do argumento, 72 Flexão nominal na Libras, 87-88
Sinais Brasileira), 14, 25-56, 29, 59- 6 — As línguas desinais são
Cultura Surda, 15, 22, 28, 29, 34-55, 114 Flexão verbal, 84-87
92, 95-114 agramaticais, 19-20
Formação dossinais na Libras, 61-65
Línguas de sinais, 3-22, 30, 45, 49, Modalidade visual-espacial, 99
50, 55, 56, 59, 60, 61, 70, 90, 91, 95, Modelo ouvintista, 33
Datilologia, 61 112, 113 Mudança de papel na formação dos
Deficientes auditivos, 30 Gesticulação, 9 Língua de sinais três papéis para os sinais, 91
Déficit auditivo, 21, 34 Gestuno, 4 Surdos Mudança no movimento na formação
Depositário de conhecimento cultural, Grupos e pontos de encontro, 43-44 depositário de conhecimento de sinais, 70
35, 38-51 cultural, 35, 39-43
costumes, 39-43
meio de interação social, 35-38
expressão artística, 45-51
História da educação de surdos, 6, 7, 20 símbolo de identidade, 35
história, 45
primeira fase: até 1760, 7 Língua de Sinais Americana, 11, 12,
valores, 38-39
segunda fase: até 1760 a 1880, 7-10 16, 17,51, 59, 60, 106, 112, 113
Despertador vibratório, 52
terceira fase: depois de 1880, 10 Língua de Sinais Francesa (LSF), 8,
Dia do Surdo, 33
Humor Surdo, 50 13,27 Oficialização da Libras
Dificuldades comuns no aprendizado
da Libras Línguas naturais, 4, 17, 19 Lei Federal n. 10.098, 96
com a orientação e o movimento das Línguas orais-auditivas, 60 Lei Federal n. 10.436, 96
mãos, 109-110 Identidade Surda, 26, 28, 34, 38, 46, 96 Literatura Surda brasileira, 46 Lei de Libras, 96
A
taori
Oralismo, 9, 11, 14 Serviços de mensagem de texto via
Ouvintismo, 33 celular, 54
Sinal pessoal — critérios para atribuição
aparência física da pessoa, 42 Sobre os autores
comportamento constante, 42 eee. 0000 000 00 0 00 A 00 RCA AAA ARCADA ADA CEGA
Palavra falada, 8
o que a pessoa gosta de fazer, 43
Pantomima,3, 4, 12
uso constante de objetos, 42
Paramêtros para formação dossinais
Siso (Sistema de Intermediação
na Libras
Surdo-Ouvinte), 45, 53
configuração das mãos, 61-62
Sistema de
localização, 63
videoconferência, 54
movimento, 64
orientação das palmas das mãos, 65
Surdez,5, 9, 10, 20-28, 34, 39, 41, 113 Maria Cristina da Cunha Pereira
traços não manuais, 65 É graduada em letras (português-inglês) pela Uni-
Pedro Ponce de Leon, 7 versidade Mackenzie, tem mestrado em linguística
Pequeno histórico da educação dos Teatro Surdo, 50
aplicada ao ensino de línguas pela Pontifícia Univer-
surdos no Brasil, 13-14 Tecnologia: adaptações culturais, 51-55
Primeiros estudos sobre as línguas de Telefone para surdos, 53 sidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutorado
sinais, 16-20 Terminal Telefônico para Surdos em linguística pela Universidade Estadual de Campinas
Pronomes na Libras (TTS), 53
(Campinas). Atualmente, é professora titular da PUC-SP e lin-
pessoais, 79-81 Thomas Braidwood, 8
possessivos, 81-82 Traçosdistintos da Libras, 66-69 guista da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da
Comunicação na mesma instituição. É professora da parte teó-
rica da disciplina de Libras, da PUC-SP, pesquisadora na área da
Verbos surdez e tem publicações na área de aquisição da Libras e da lín-
direcionais, 76, 77
gua portuguesa por crianças surdas.
espaciais, 76, 78
simples, 76
Samuel Heinicke, 8
Daniel Choi
É formado em design industrial e graduado em letras/ a
Libras, com habilitação em licenciatura em Libras, :
pela Universidade Federal de Santa Catarina, com i
polo na Universidade de São Paulo (USP). É profes-
, aa de ç ui '
sor do ensino fundamental da Divisão de Educação e - Ro
LIBRAS SOBRE OS AUTORES
Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC)e pro- cador pelo MEC/Federação Nacional de Educação e Integração
fessor de Libras, certificado pelo Exame Nacional de Certificação dos Surdos (FENEIS). É professora do Ensino Fundamental da
de Proficiência em Língua Brasileira de Sinais, na categoria Usuá- DERDICe professora da Libras, certificada pelo Exame Nacio-
rios da Libras, surdos, com escolaridade de nível superior. É profes- nal de Certificação de Proficiência em Língua Brasileira de Sinais,
sor da parte prática de Libras da PUC-SP. Além deter formação na na categoria Usuários da Libras, surdos, com escolaridade de ní-
área da surdez, Daniel é surdo e envolvido na comunidade Surda. vel superior. Além de ter formação na área da surdez, Priscilla é
surda e muito envolvida na comunidade Surda. Por ter uma fa-
mília com 28 membros surdos, vivencia a cultura surda desde o
Maria Inês da S. Vieira nascimento, tendo a língua de sinais como primeira língua, além
É graduada em pedagogia, com habilitação em Educa- de ser fluente na língua portuguesa, sua segunda língua.
ção dos Deficientes da Audio-comunicação (EDAC),
pela PUC-SP e tem mestrado em educação: dis-
túrbios da comunicação, pela mesma instituição. Ricardo Nakasato
.
“É tradutora-intérprete de nível superior da Libras, É graduado em pedagogia, habilitação em EDAC, .
o
É
Proficiência em Língua Brasileira de Sinais, do Ministério da ção licenciatura em Libras, pela UFSC, com polo na
Educação (MEC). É coordenadora do programa de acessibili- USP É professor do Ensino Fundamental da DER-
dade/Libras e professora dos cursos e das oficinas de Libras da DIC e da Libras. É também professor da parte práti-
DERDIC. Tem experiência na área de educação, com ênfase em ca de Libras da PUC-SP e coordena a parte prática dos cursos
surdez, e é envolvida na comunidade Surda. de Libras, níveis básico, intermediário e avançado, ministrados
na DERDIC. É colaborador em pesquisas sobre a Libras e tem
vários trabalhos publicados. Além de ter formação na área da
Priscilla Roberta Gaspar surdez, Ricardo é surdo, muito envolvido e respeitado na comu-
É graduada em pedagogia, com habilitação em nidade Surda. Participa ativamente dos movimentos em favor de
EDAC, PUC-SP, graduada em letras-Libras, com legislação para melhores condições de educação, de vida e de for-
habilitação em licenciatura em Libras, pela Uni- mação das pessoas surdas.
'. versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com
2 AS pot
polo na USP. Écertificada como agente multipli-